Paparazzi de nós mesmos

Tem gente que cisma em fazer biquinho ou franzir a testa para todas as fotos que tira.

Tem gente que pisca um olho, abre a boca para sorrir; tem gente que não sorri nunca, que sorri sempre, que está sempre de óculos escuros ou de perfil. Mas nem sempre foi assim!

Dia desses revisitei alguns álbuns antigos de fotografias impressas, da época da minha adolescência, quando não havia ainda rede social e as máquinas não eram digitais.

Bateu uma saudade daquele tempo em que eu chegava de uma viagem e ficava louca para ver as fotos! Buscar as fotos na Kodak e sentar num café para organizar o álbum era quase como que viajar de novo.

Adorava selecionar as mais bonitas para serem as primeiras do álbum e depois marcar encontrinhos com as amigas para partilhar os cliques das férias. Todas nós levávamos nossos álbuns nesses encontrinhos e de fato só via nossas fotos quem a gente convidava.

Não sou nostálgica de carteirinha, não! Não tenho como mantra de vida a frase “antigamente as coisas eram melhores”. Pelo contrário, adoro as novas tecnologias e as redes sociais apesar dos seus defeitos colaterais.

Ocorre que, olhando as fotos dos álbuns antiguinhos, por exemplo, percebi que ninguém, absolutamente ninguém, estava preocupado em estar bonito na foto – nem eu, ó céus!

As pessoas se abraçavam de verdade, se jogavam na situação. Se estavam bêbadas pareciam bêbadas, se estavam dançando pareciam que estavam dançando, se estavam rolando no chão de rir estavam rolando no chão de rir. O nome disso seria espontaneidade? Não sei…

Garrafas de coca-cola, restos de comida em pratos, copos feiosos, guardanapos amassados, toalhas manchadas de molho: ninguém se ocupava em preparar o cenário mais bonito depois de um almoço entre amigos antes de disparar o flash.

Ok, hoje estamos mais bonitos nas fotos e nossos cenários mais caprichados, porém fico pensando: será que as fotos não deixaram de cumprir sua função: registrar, eternizar momentos? Afinal, todo mundo se sente (e se comporta como!) meio diretor de arte, fotógrafo, modelo ou artista e altera “o momento” para que ele fique melhor e “mais apresentável”.

A ironia disso tudo é que acabamos nos tornando paparazzi de nós mesmos e de certa forma nos obrigamos a estar bonitos, finos, criativos, descolados, elegantes (com a pele e o cabelo OK!) até quando vamos à padaria! – vai que lá tem um doce diferente, maravilhoso e colorido, e a gente invente de fazer uma foto dando uma mordida para o Instagram!!?? Nham…

Certa vez a poeta portuguesa Sofia de Mello Breyner, do alto dos seus 80 anos, ao olhar uma foto de sua juventude, comentou: “como o tempo nos muda”.

Se fosse da minha geração, talvez ela dissesse: “como as novas tecnologias nos mudam”.

Sobre nossa necessidade de postar tudo o que vivemos, falei no texto Posto, logo existo.







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.