O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

Há no homem um desejo imenso pela liberdade, mas um medo ainda maior de vivê-la. Algo parecido disse Dostoiévski, ou talvez eu esteja dizendo algo parecido com o dito pelo escritor russo.

No entanto, como seres significantes que somos, analisamos as coisas sempre a partir de uma determinada perspectiva e, assim, passamos a atribuir-lhes valor. Dessa maneira, até conceitos completamente opostos, como liberdade e escravidão, podem se confundir ou de acordo com o prisma de quem analisa, tornarem-se expressões sinônimas, como acontece no mundo distópico de George Orwell, 1984, em que um dos lemas do partido – “Escravidão é Liberdade” – é repetido à exaustão.

Não à toa, as boas distopias têm como grande valor predizer o futuro. E em todas elas – 1984, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451, Laranja Mecânica – há um ponto em comum: a liberdade dos indivíduos é tolhida e, consequentemente, convertida em escravidão. No entanto, através de mecanismos sócio-políticos a escravidão é ressignificada como liberdade, de modo que mesmo tendo a sua liberdade cerceada, os indivíduos entendem gozarem plenamente desta.

Nas histórias supracitadas, embora a maior parte da população esteja acomodada e aceite com enorme facilidade absurdos, existem indivíduos que se permitem compreender as suas reais situações e ousam lutar contra a ordem estabelecida. Esse processo é, todavia, extremamente doloroso, uma vez que é muito mais fácil se acomodar a enfrentar a realidade e todas as consequências dolorosas que enfrentamos invariavelmente quando decidimos sair da caverna, para lembrar Platão.

Posto isso, há de se considerar que ser verdadeiramente livre requer a responsabilidade de encarar o mundo sem fantasias, ou seja, tal como ele é. Dessa forma, existe no homem grande suscetibilidade a aceitar o irreal como real, a fantasia como verdade, a Matrix como o mundo real. Sim, Matrix é um grande exemplo do medo que possuímos de encarar a realidade.

No personagem de Cypher (Joe Pantoliano) encontramos o maior expoente desse comodismo, já que sendo a realidade um mundo destruído, um caos constante, é muito melhor viver na Matrix, onde ele “pode ser o que quiser”, ainda que não passe de uma grande mentira.

Em outras palavras, Cypher representa a ideia de que sendo a realidade algo tão assustador, a ignorância é uma benção, pois sendo ignorante, pode-se comprar mentiras como verdades facilmente, bem como, aceitar a Matrix como realidade e a escravidão como liberdade.

As realidades apresentadas no mundo das artes (ficções, que ironia), refletem a nossa própria realidade, em que, assim como Cypher, temos preferido viver vidas fantasiosas, cercadas de superficialidade e aparências, determinadas pelo hedonismo da sociedade de consumo e, consequentemente, o nosso egoísmo ganancioso buscando galopantemente realizar todos os desejos que impedem de acordarmos de um sonho ridículo.

Apesar de tudo isso, pode-se considerar que de fato é melhor ser um escravo feliz do que um ser livre, triste, inconformado e amedrontado. No entanto, a problemática ganha corpo na medida em que se entende que há coisas que só podem ser feitas sendo o sujeito livre, uma vez que a gaiola é sempre limitadora, sobretudo, aos desejos mais intrínsecos e, portanto, mais latentes e verdadeiros no ser.

Assim, por mais que a escravidão seja ressignificada, fantasiada e “transformada” em liberdade, sempre haverá pontos em que o indivíduo sentirá necessidade de alçar voos mais altos, os quais, obviamente, não poderão ser realizados, haja vista a limitação das gaiolas, o que implica a insatisfação, ainda que tardia, da condição escrava em que o indivíduo se encontra.

Sendo assim, constatamos que “O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo”*, posto que para gozar a liberdade é preciso coragem para se arriscar no terreno das incertezas e da luta. E, assim, temos preferido permanecer na caverna, orgulhosos das nossas sombras, já que lembrando outra vez Dostoiévski – “As gaiolas são o lugar onde as certezas moram”. Entretanto, como disse, mais hora, menos hora, nos enxergamos e percebemos que o que nos circunda é falso, de tal maneira que desejamos sair, correr, voar, ser livres.

O grande problema nisso é que quando se acostuma a viver em uma gaiola, quando se é livre perde-se a capacidade de voar, pois as correntes que nos prendem são criadas pelas nossas mentes, de forma que mesmo fora da caverna, continuamos prisioneiros de uma mente que se acostumou a ser covarde e preferiu acreditar na contradição de que ser escravo era o maior ato de liberdade.

*A frase que dá título ao texto é de autoria desconhecida. Se alguém souber a real autoria, por favor, avise-nos.

O seu lado sombrio

O seu lado sombrio

Imagem : Copyright Alexander Trinitatov/Shutterstock

Todos temos um lado sombrio, que pode ser cheio de medos, mágoas, ressentimentos, sapos engolidos, invejas, pensamentos e sentimentos ruins. Reconhecer e explorar a parte não positiva da nossa personalidade possibilita nos libertarmos do que não nos faz bem, sermos menos limitados e perfeccionistas, compreendermos melhor as pessoas e evoluirmos como seres humanos.

Todos temos um lado sombrio. Ele pode ser cheio de medos, de mágoas e ressentimentos, de sapos engolidos que foram se acumulando, de invejas e de pensamentos ou sentimentos ruins.

Para alguns, ele é grande e assombroso, para outros, pequeno e facilmente administrável. Todavia, ele precisa ser visto, reconhecido, explorado e constantemente trabalhado.

Ignorá-lo significa conviver conosco sem nos conhecermos por completo, sem conseguirmos nos compreender efetivamente e coordenar de modo eficiente nossas ações, até mesmo sem saber do que somos capazes em momentos adversos.

Necessitamos, primeiramente, aceitar que temos uma sombra. Após, precisamos olhá-la de frente e desvendar suas nuances. Examinar cada detalhe, cada razão, cada efeito. Provavelmente, esta não é uma tarefa rápida, nem simples, por isso precisamos estar dispostos a nos autoconhecer verdadeiramente.

Carecemos nos dedicar a nós mesmos e olhar efetiva e amorosamente para dentro. Não para nos julgamos ou punirmos, mas para nos compreendermos e crescermos.

Especialistas garantem que a simples ciência da situação já possui um efeito terapêutico considerável. Melhor ainda se conseguirmos ir liberando, aos poucos, os excessos do nosso lado sombrio. Para isso, há diversos meios que podem ser adotados, tanto sozinhos como com o auxílio de terapeutas.

Conseguir nomear nossos sentimentos e tomar conhecimento da natureza da nossa sombra nos ajudará, indubitavelmente, a nos tornarmos seres melhores. Poderemos perceber, por exemplo, que a nossa implicância com aquela determina pessoa, na verdade, é uma bela invejinha. Que uma mágoa boba do passado com um familiar, esquecida mas não superada, impede que com ele nos relacionemos de modo harmonioso.

Constatar que certos pensamentos obsessivos e medos sem fundamento só nos fazem sofrer, possibilita que procuremos nos libertar deles. Assim, vamos nos trabalhando para mudar a perspectiva sobre o que não nos faz bem.

Assumir e explorar a parte não positiva da nossa personalidade pode significar, afinal, rendição. Reconheceremos que não somos perfeitos e que precisamos, diuturnamente, buscar meios de nos autodescobrir e, consequentemente, nos aperfeiçoar.

Além de permitir nossa evolução, a assunção do nosso lado sombrio faz com que sejamos seres menos limitados, que compreendem, também, o lado sombrio dos outros.

Sem ser tão perfeccionistas, pois, seremos pessoas mais livres e iluminadas.

“A próxima fronteira não está somente à sua frente, ela está dentro de você.”
(Robert K. Cooper)

Nada como um dia após o outro

Nada como um dia após o outro

Uma das maiores provas de que somos seres gregários e não conseguimos viver isolados de tudo e de todos vem a ser a dor que sentimos quando vemos alguém que amamos sofrendo, seja um amigo, um familiar, o parceiro, seja o filho, mesmo que nada tenha a ver conosco aquela tristeza. Passamos o dia nos lembrando da pessoa, mesmo de longe, torcendo para que aquilo termine. Difícil estarmos felizes quando alguém sofre ali ao lado.

Nesses momentos, queremos ajudar, tentar animar, desejamos ter o poder de tirar aquela dor de dentro do coração de quem chora baixinho na nossa frente. É duro ter que esperar o tempo passar e fazer o que ele tão bem faz: ensinar, acalmar, curar, iluminar. Temos pressa, lutamos contra a tristeza, pois é assim que sobrevivemos. No entanto, muitas vezes, basta ficarmos ali ao lado, em silêncio, confortando com nossa presença, que já vale muito.

Inevitavelmente nos sentiremos impotentes, incapazes de ajudar, pois o reerguimento demora, leva muito tempo, o que nos impacienta. As escuridões que adentramos nos momentos de dor são densas, visto que carregadas de remorso, culpa e aniquilamento da autoestima. Dissipar essas nuvens requer, sobretudo, o enfrentamento de si mesmo, no sentido de se conscientizar da própria responsabilidade sobre o que acontece, pois a vida cobra cada atitude que tomamos, tanto as certas quanto as equivocadas. E como dói.

Enquanto nossos queridos colhem o sabor amargo das escolhas erradas, assistimos alquebrados, solidarizando com a sua dor, pois não conseguimos ficar tranquilos nesses casos. Isso muitas vezes nos leva a querer impedir quem amamos de errar, antecipando-nos às lições que a vida traz, o que raramente significa resultado de imediato. As pessoas devem passar pelas consequências de suas atitudes, pois assim é que aprendem, na prática, na dificuldade, na dor.

E embora seja muito difícil, teremos que deixá-los errar, para que possam refletir sobre o que vêm fazendo de suas vidas. Principalmente quando se trata de um filho, queremos a todo custo poupar-lhe os dissabores e as tristezas, mas também os filhos terão que sofrer, que penar, que levar tombos, porque dessa forma é que se tornarão pessoas melhores e mais fortes. Aos pais, será uma árdua tarefa, mas, com exceção de situações em que os filhos estejam entrando em terrenos antiéticos e violentos, como drogas ou crime, por exemplo, terão que deixá-los fazer a escolha menos acertada, para que a colheita lhes esclareça quanto ao que é digno e correto.

Tudo tem seu lado bom e ruim, assim é com a vida de todos nós. Desfrutarmos de todas as benesses que nos são ofertadas diariamente depende apenas de cada um de nós. Os caminhos que se abrem são infinitos e saber escolher fará toda a diferença na qualidade de nosso viver. Errar, assim como a dor que isso traz, será inevitável, mas aprender com tudo isso será necessário e vital.

Porque ninguém foge à colheita do se plantou, do que se fez ou se deixou de fazer. É assim que a vida pune, presenteia, machuca e cura. É assim que construímos uma vida digna. É assim que o bem acaba por prevalecer sobre o mal de cada dia.

Imagem de capa:  eakkaluktemwanich/Shutterstock

Desde que você foi embora eu não penso em outra coisa que não seja sua ausência

Desde que você foi embora eu não penso em outra coisa que não seja sua ausência

Imagem de capa Kseniia Perminova/ Shutterstock

Desde o dia em que você foi embora, as coisas não são mais as mesmas. Eu tiro do lugar as coisas, com um movimento pincelo a cor da parede, mudo a posição dos quadros. Eu tiro o lugar das coisas, mas elas não mudam. Essa coisa do território é algo que marca, e parece que, elas sabem disso porque me olham com aquele olhar parado de coisa, enquanto eu transfiro do lugar mais um objeto pra ver se a sua ausência fica menos pesada. Há dias, que não é o mesmo café, filtrado naquele coador de pano, com aquelas bordas espichadas. Coloco a dose certa, mas não é o mesmo gosto de quando tomava com você, olhando seus olhos através da xícara e vendo as imagens distorcidas do outro lado. Eu gosto das imagens distorcidas, da estranheza que elas causam, mas você nunca foi estranho pra mim… até aquele dia. Você sempre foi tão quieto, mas o seu silêncio nunca me incomodou… até aquele dia. Eu tento apagar aquele dia, mas eu não sei me desfazer de uma memória tão recente. Ainda tenho na minha pele o seu cheiro e o desenho dos seus lábios margeando os meus poros. Desde o dia em que você foi embora eu não sei pensar em outra coisa que não seja essa que me partiu e espalhou por todo canto. E me junto às coisas pra ver se me importo menos, pra ver se pego essa imparcialidade calada que as coisas têm, mas é só um jeito de sentir mais fundo, de tocar a superfície das coisas que você tocava, com um jeito meu, que é só mais uma forma de lembrar você. Junto as coisas pra sentir que ainda podem ser íntegras e ter alguma serventia, mas estão com uma fissura enorme do lado de dentro. E eu fico nessa de fingir que não vejo que as coisas ocas reverberam um som triste que se liquefaz no vazio da tarde, mas eu sinto tudo gritando, o que é bem pior. Penso em te ligar pra dizer que eu sinto muito, mas você deixou bem claro que foi tudo que era pra ser, como se já soubesse que o futuro omitia o nosso nome de todas as coisas.

Se for amar, não cobre e nem espere recompensas. Voe!

Se for amar, não cobre e nem espere recompensas. Voe!

Imagem de capa:  Alena Ozerova/Shutterstock

Se for amar, ame na presença, derrame-se no instante, não espere recompensas, não projete planos em outra alma, não cobre na mesma moeda, não ostente mais do que o momento.

Se quiser, faça um belo café da manhã e ofereça para o seu bem. Se quiser, ouça o que ele tem a contar. Se quiser, cuide, beije, presenteie, passeie, curta, aproxime-se. Se quiser, receba o choro, o silêncio, os desencontros, a tristeza.

Se quiser fique perto, fique dentro de um amor, fique na sintonia bonita que tocou seu coração. Fique o tempo que quiser, à vontade, sem pressa, intensamente sentindo.

Se quiser se entregue. Entre de cabeça nisso que lhe invade a alma, deixe que afete seus sentidos, deixe que se quebre o controle. Se quiser se jogue no precipício. Ame. Caia. Voe.

Se for amar, faça o que quiser, dê o que quiser, ofereça-se o quanto quiser. Mas não cobre nada! Não espere nada, não calcule as dívidas, não equilibre os sentimentos dados e não recebidos. Não se sinta em prejuízo. Não dê nem um simples sorriso buscando amarrar uma alma, buscando aprisionar uma realidade.

Não faça o café da manhã para outra pessoa, se amanhã você sentir que investiu e não recebeu, que cuidou e não conquistou, que ofereceu o mundo e viu no outro ser os olhos inflados de liberdade.

Não faça o café da manhã, se amanhã você for a vítima do seu próprio sentimento. Se a atitude não foi gratuita, se não foi apenas para celebrar o momento. Se foi pensando em merecer atenção, se foi querendo chantagear e criar culpa.

Não faça nada se por trás do ato houver um jogo de poder querendo controlar e fazer do outro propriedade da sua insegurança. Não faça promessas e não as espere serem feitas.

Você pode se compartilhar, você pode compartilhar seu amor, sua felicidade. Você pode fazer o café da manhã com gratuidade e desprendimento. Você pode entregar-se inteiramente àquele momento. Você pode receber um sorriso e ficar feliz com isso, e nutrir-se do que dois corpos e almas sem segundas ou terceiras intenções são capazes de produzir juntos.

Você pode fazer a eternidade durar alguns minutos. Você pode aprender a amar o passageiro, aprender a desapegar do medo de não ter, de não viver mais, de não possuir. Curtir as visitas que surgem como beija-flores pousando na floreira de sua janela. Deixar as delicadas surpresas colorirem a sua rotina sem aventuras.

Você pode amar, enfim, sozinho ou acompanhado, gratuitamente, livremente, sem medos e sem cuidados. Amar sem escravizar e querer ser escravizado. Perder o medo da chuva e aprender o segredo da vida.

Vem, segura a sua xícara de café fresco enquanto eu seguro a minha. Senta ao meu lado na varanda, respira sem pensar em nada. Somos apenas duas crianças brincando sem culpa.

Talvez a gente deva ficar junto

Talvez a gente deva ficar junto

Não porque precisamos, mas porque sentimos. Não somos a maioria líquida que fica por conveniência. Temos a paciência e a cumplicidade que faltam aos desesperados. Nem mesmo medimos carinhos para saber quem ama mais. Passamos longe no quesito “estou com saudade, mas não posso dizer”. Nada disso funciona para nós. Talvez sejamos inteiros demais, amantes demais.

Não estamos juntos para escancararmos afetos para multidões. Escolhemos, no nosso tempo, onde e como dedicaremos tantas carícias, conversas e afinidades. Somos maduros o suficiente para sabermos que, na maioria das vezes, amar nada mais é do que um encontro de dispostos. Para saber ouvir, falar, receber e doar. Pulamos fora do barco chamado ego. Admiramos silêncios, sorrimos sons. Temos essa habilidade incomum de contemplar momentos ao acaso. Não brincamos com o destino, mas o entrelaçamos em nossas mãos.

Não queremos um relacionamento perfeito. Daqueles que fazem vista para o mundo com muitas fotos, declarações e presentes grandiosos. Para nós, uma relação é pautada na simplicidade. Nos instantes compartilhados em sinceridades, tudo torna-se verdade e inesquecível. É fazer o possível sem uma balança que meça certo e errado. Quando estamos, apenas estamos. Não importa o dia, a hora e o lugar. Nós dois é gosto de quero mais sem querer a toda urgência.

Não brigamos por ausências. Enquanto alguns discutem os simbolismos do amor cabível, dedicamos beijos e transas para o nosso amar visível. Permitimos, durante vários abraços, a vontade de existirmos. Nosso querer é desses capítulos literários nos quais versos riscam pele, coração e alma. Caímos de cabeça. Sem medos. Sem traumas. Com calma. Talvez a gente deva ficar junto, não?

Fotografia por Phil Chester

Não me peça pra ser forte quando eu estiver chorando

Não me peça pra ser forte quando eu estiver chorando

Imagem de capa:  eldar nurkovic/Shutterstock

Não me peça pra ser forte quando eu estiver chorando. Não peça pra que eu segure a lágrima e mantenha a pose quando eu estiver triste. Se não é capaz de aguentar um minuto ao meu lado, em silêncio, enquanto desabo, já não pode me acompanhar. Se for assim, o seu abraço não me cabe. A sua companhia será apenas um vulto breve que não aquece. No mínimo, espero que sinta tanto quanto eu.

Que demonstre a sua loucura quando eu estiver séria demais. Que seja fraco, se for considerado fraco chorar no meu ombro e me abraçar longamente, assim com os cílios sobrepostos, as mãos coladas, como quem faz uma prece dentro do meu coração.

Não me peça postura, quando o que mais quero é me descabelar e me pôr nua, como louca ao pé da cama a reclamar dos seus defeitos. O que espero, é que faça graça e solte o riso debochado de quem tem a louca mais louca e feroz. Não me peça pra ter cuidado quando o que quero é avançar, saltar e correr riscos. O mínimo que você pode fazer, é se aventurar também e desafiar o perigo. E dizer que eu vou chegar lá, e que se por acaso, não der certo, terá uma outra vez. E terá sempre uma próxima vez porque você nunca vai me abandonar.

Não me peça pra ficar quando o que mais quero é ir, desbravar, conhecer o mundo, viajar… o que espero é que me encoraje, e fale que eu vá mesmo pro lugar que eu quiser, e que vai comigo, que topa, que vá fundo, que já é.

Não me peça pra acordar do sonho de ser feliz, mesmo sabendo, que muitas vezes, ser feliz é longe e cansa. Porque ser feliz é perder a hora pra ganhar o instante. Ser feliz, é alcançar o sonho que está lá adiante, na outra estrada. Ser feliz custa, esfola, e às vezes, é preciso andar a pé no deserto. O que espero é que, você não faça tantas perguntas. Apenas fique ao lado, me olhando como quem me admira e confia no que penso. O que espero é que, ao olhar de volta, eu saiba exatamente o motivo pelo qual o seu olho brilha e a próxima palavra que vai dizer, me fará sorrir. Que vai me dizer que o tempo ao meu lado é o melhor vivido. E vai me beijar os olhos e a boca, demoradamente.

Não me peça pra mudar coisa alguma em mim, porque não quero ser de ninguém o espelho, a face de reflexo, molde, ou qualquer outra coisa que o valha, e que pretenda alterar a essência, as coisas de dentro. O que mais espero, é que, me receba sempre como sou, sabendo que posso mudar a qualquer instante, e que a cada mudança, será capaz de me amar pelas diferenças, pelo que descobrir de novo. E que sempre tenha o desejo de descobrir-me pelos detalhes, pelas bordas, pelos flancos, por dentro e por fora, pelo que não falo e mesmo me sabendo pelo avesso, reconheças que tens em mim várias outras que não conhecias, e que, sou àquela, a que você sempre quis.

Brigar com quem a gente gosta é necessário; brigar com quem a gente não gosta é perda de tempo

Brigar com quem a gente gosta é necessário; brigar com quem a gente não gosta é perda de tempo

Muita gente confunde aquilo que sentimos em relação a elas, baseando-se tão somente no que esperam receber dos outros, sem refletir sobre o que vem a ser a causa da forma como estamos nos comportando. Não gostar de alguém não significa que o trataremos mal, da mesma forma que não sorriremos o tempo todo às pessoas que nos são queridas.

Quando gostamos realmente de uma pessoa, estaremos querendo sempre o seu bem, torcendo para que ela alcance sucesso na vida, desejando o seu melhor em tudo. Por isso mesmo, então nos sentiremos na obrigação de alertar-lhe quando estiver caminhando por trilhas perigosas, por trajetos errados. Muitas vezes, inclusive, teremos que ser antipáticos, dizendo-lhe as verdades de uma maneira nada agradável, para que caia em si e se recomponha.

No entanto, essa pessoa poderá nos entender de forma errada, assimilando nossas advertências como se fossem implicâncias, como se não gostássemos dela. Muito pelo contrário, quanto mais amamos alguém, mais estaremos torcendo pela sua felicidade, o que requer que tenhamos que chamar a sua atenção, quando percebermos que seu comportamento a desviará da serenidade que desejaremos a ele.

Normalmente, tendemos a tentar ignorar as pessoas de quem não gostamos, de quem queremos distância. Como se nos preservássemos da maldade alheia, como um instinto de sobrevivência, somos levados a nos afastar daqueles que nos fazem mal, daqueles que nos ferem, não trazem nada de bom, não sabem o que é sorrir e não admitem ver ninguém sorrindo. Gastar energia e tempo com quem não merece equivale a masoquismo, além de ser inútil.

Sim, nós brigamos com as pessoas de quem gostamos, pois é assim que aparamos as arestas, é assim que o relacionamento se torna cada vez mais transparente e verdadeiro. Lutarmos para manter as pessoas queridas por perto requer discutir o que incomoda, o que atrapalha, pois é dessa forma que demoramos perto de quem a gente ama. Por isso é inútil brigar com os desafetos, simplesmente porque com eles não queremos ficar nem melhorar nada, e dificilmente conseguiremos, por mais que tentemos.

Não dá para explicar muito bem as razões de gostarmos ou não das pessoas, ou seja, cabe-nos sorrir sempre junto a quem traz verdade e, na medida do possível, bem longe de quem é atraso de vida.

Imagem:  klublu/Shutterstock

Guardar mágoas equivale a armazenar lixo dentro de casa

Guardar mágoas equivale a armazenar lixo dentro de casa

Se o mega superior diretor da companhia que recolhe o lixo resolver ficar “de boa” na casa dele por três dias, isso não vai fazer nenhuma diferença na minha vida, na sua vida, na vida de ninguém.

Mas imagine se os valorosos garotos e garotas que fazem o importantíssimo trabalho de recolher o que jogamos fora, para fora de nossa casa, resolvessem fazer o mesmo… Três dias de acumulação de coisas que entraram na categoria de descartáveis…

O lixo acumulado não ocupa apenas espaço. Ocupa o ar que respiramos. Torna-o pesado, desagradável e mau cheiroso. Ninguém guarda lixo dentro de casa – a menos que seja um acumulador patológico, é claro!

Então… Por que cargas d’água nos permitimos guardar mágoas. Originada do latim “macula”, mágoa retém o antigo significado de “mancha”, “nódoa”. Um coração magoado deixa a gente maculado por dentro; ficamos marcados pelo mal que nos fizeram.

O pior de tudo é que isso pode vir a ser um vício. Há gente que coleciona mágoas. Guarda-as com todo desvelo em caixinhas bem forradas e protegidas. Oferecem a elas um lugar de honra no próprio peito. Concedem a elas audiências regulares. Visitam-nas. Revivem-nas.

Viver magoado é dispor-se a carregar dentro de si, as consequências de situações que geraram sofrimento. É como viver num vale entre montanhas, prisioneiros de um eterno ecoar de uma dor que já devia ter parado de doer.

É preciso aprender urgentemente um jeito de liberar espaço na alma. Ninguém pode experimentar a alegria, quando vive a ruminar tristeza. Ninguém pode ver graça na vida, enquanto ficar perpetuando as inevitáveis desgraças.

Por outro lado, ninguém pode ser tão tolo a ponto de não perceber que se uma coisa lhe pesa demasiado nos braços, depende de sua própria escolha continuar a carregá-la ou simplesmente livrar-se dela.

Façamos escolhas mais amorosas sobre o que vamos levar conosco na bagagem dos dias. O que nos fez sofrer fará parte da nossa história, não há como escapar disso. As maldades alheias nos transformam mesmo.

O que está feito, está feito. No entanto, depende apenas de nós o lugar que vamos destinar ao reflexo dessa dor. Guardar mágoas no peito, equivale a armazenar lixo dentro de casa. Isso vai apodrecer, contaminar todo o resto. O resto que inclui as coisas lindas que a gente deixa de viver porque ficou apegado demais naquilo que nos fez doer.

Feche os olhos por um instante. Uns minutinhos apenas. Escolha uma mágoa ou duas e dê a elas a alforria. Coloque-as com todo seu amor dentro de balões coloridos de gás e deixe-as ganhar o céu. E faça um esforço para nunca mais chamá-las de volta. Mágoas são bichinhos domesticados. Se você lembrar delas, elas são bem capazes de achar o caminho de volta.

O amor é um risco. Quem quer garantia faz um seguro.

O amor é um risco. Quem quer garantia faz um seguro.

Imagem  AS Inc/Shutterstock

A gente sabe. Sentir amor é trabalho de alto risco. Sempre foi. Feito chuva de vento, molha quem estiver debaixo. Você se encapota, usa galochas, tecidos isolantes, cobre os pés com sacos plásticos, veste capas e gorros tentando evitar o menor pingo, escolhe um guarda-chuva enorme, de cabo reforçado, mas não tem jeito: sempre sai com alguma parte do corpo encharcada. É do jogo. Quem não quer se molhar que se esconda em lugar fechado e espere abrir o tempo.

Eu ando pensando no amor assim, sabe? Como a chuva e os incidentes de toda sorte. Um risco. No fundo, tudo tem um risco. Todo trabalho é arriscado, todo esporte é temeroso, toda aventura é perigosa. E esse negócio de fugir de toda ameaça, sei não, vira doença feia, abrevia nosso tempo, elimina possibilidades. Enfia a gente num pavoroso estado de morte em vida. Deus nos livre desse mal!

Quem pula de um avião num pára-quedas sabe bem o que está fazendo. Na hora certa, puxa a cordinha e pronto. Espera chegar o chão, curte a paisagem, pensa na vida, no mundo lá embaixo, no próximo salto. Menos na possibilidade do pára-quedas não abrir, o que, cá entre nós, de vez em quando acontece. Mas a gente salta assim mesmo. Toma precauções, segue as regras de segurança e vai. Mesmo sem garantia absoluta de que tudo vai dar certo, a gente vai. Porque a vida é um risco e só vive quem se dispõe a arriscar.

Tem gente que arrisca muito, tem gente que arrisca menos. Mas todo mundo arrisca. E quem disse que no amor ia ser diferente?

Sentir amor é arriscado mesmo. Sempre foi. Quem abre o coração não tem garantia de nada. Mesmo fazendo tudo direitinho. Você obedece os procedimentos, segue as regras de segurança e continua na mesma: nunca sabe o que vai acontecer. Se vai “dar certo” ou se vai se arrebentar lá embaixo, é um mistério. Logo, qualquer preocupação nesse caso é falta de ocupação. E quem não se ocupa é desocupado, não trabalha pelo amor, acomoda-se, recosta-se, folga, vacila, contribui para o pior sempre.

O amor é um risco. Não dá garantia de nada. Quem quer garantia faz um seguro. Amantes são seres dotados de coragem para aceitar o incerto, viver seu sentimento honestamente, querer e fazer o melhor pelo outro e por si mesmo. Enfrentar e vencer seus medos, inclusive o medo de se ferrar de novo.

Sim, porque com o tempo a gente aprende que o amor não é o contrário do medo coisa nenhuma, como querem os papagaios repetidores de clichês. O amor e o medo são irmãos inseparáveis. Quem tem amor tem medo, sim. Tem a humildade de assumir que sente medo como toda gente sensível. Mas também tem uma coragem imensa de enfrentá-lo e de seguir em frente apesar de seus pavores.

Daqui a pouco aparece um ser perfeito tagarelando: “quem tem amor não tem medo, você está confundindo amor com apego”. Será mesmo? Eu acho que não. “Apego” é justamente coisa de quem exige garantia pra tudo, os amantes não têm garantia de nada. E nós seguimos discordando.

Sei lá. Eu só ando pensando. Mas pensar no amor não leva a gente a lugar nenhum, né? Quem pensa demais também corre um risco enorme, pior do que aquele outro. Risco de não amar nem ser amado. Eu prefiro me arriscar do outro jeito. Vou amando como posso, como quero. E depois a gente vê o que faz.

Eu não consigo odiar ninguém

Eu não consigo odiar ninguém

Fotografia por Phil Chester

Ainda que os cansados julguem, que os maldosos apontem e que os desafetos sintam inveja, eu não consigo odiar ninguém. Não é porque sou melhor do que eles ou porque não me permito ficar chateado e incomodado com as suas atitudes, mas é que, para mim, nada de bom acontece quando deixo o ódio tomar conta.

Algumas pessoas confundem ódio com raiva e talvez não exista nenhuma diferença clara entre eles. Contudo, tanto um quanto outro são nocivos ao bem-estar de quem quer levar a vida na simplicidade, na gentileza na ponta dos lábios. Vivemos em tempos calorosos demais para afetos de menos. Nada pode ser bom quando damos voz para gestos e sentimentos tão desastrosos e diminutos. Raiva não é justiça, ódio não é equilíbrio. Não me permito nutrir nenhum dos dois porque é exaustivo carregá-los, mantê-los. O ódio é entrave para qualquer amor. Perda alguma justifica tantas doses expressivas de querer o mal do outro.

Mágoas não podem, em momento algum, serem pontos de partida para um estado maldito de covardia. Existe uma grande diferença no que diz respeito ao estar descontente e estar com ódio. Tristezas não podem ser previstas e manipuladas, mas o ódio pode tudo isso. E a troco de quê? Ser melhor, fazer melhor? Não, sem chances.

Enquanto uns procuram adentrar nessa trilha entorpecente e desagregadora por questões políticas, opiniões racistas e outros assuntos que nos cabem mais uma falta de maturidade do que de vontade, escolho o respeito como o primeiro sentimento. Não deixo, digam o que quiserem, que o meu sorriso dê cambalhota em lágrimas.

Ainda que tirem-me de louco, ingênuo e tolo, eu não consigo odiar ninguém. Não consigo. É direito de todos escolherem os próprios descaminhos, mas isso não significa que deva ser arrastado por eles. Ódio não é escolha, raiva não é moral. Nada disso merece entrada para os que querem somar.

Certas pessoas não merecem nem ser um problema em nossa vida

Certas pessoas não merecem nem ser um problema em nossa vida

Quanto mais vivermos, mais nos decepcionaremos com as pessoas com quem encontramos pelo caminho, mais nos conscientizaremos de que serão bem poucos aqueles com quem poderemos realmente contar. Portanto, sabermos em quem depositarmos nossa confiança e quais serão os encontros em que deveremos nos demorar nos ajudará a não gastar tempo e energia com gente ruim e de coração vazio.

Da mesma forma, sermos alguém em quem poderão confiar, alguém cujo coração não se escureça com carga negativa de ódio, rancor e inveja, acabará por nos aproximar de pessoas melhores. Atraímos energias afins, ou seja, não poderemos nos deixar contaminar pelas negatividades que nos rodeiam, ou seremos nós quem decepcionará, quem machucará, quem não será digno de consideração.

Existem pessoas que vivem para criticar o outro, no ambiente de trabalho, à procura de supostas falhas e defeitos de quem os rodeia, tentando sempre diminuir quem estiver por perto. Nunca elogiam ninguém, embora tenham severas críticas ao trabalho dos demais, não se furtando de expor as fragilidades que encontra no serviço dos companheiros, às vezes de forma sutil. Parece que se alimentam de ferrar a vida dos outros, tendo prazer em apontar erros – muitos deles imaginários, diga-se de passagem.

Há indivíduos que vivem metidos em confusão, em fofocas, sempre enrolados em meio a algum mal entendido. Onde quer que estejam, seja qual for o círculo de amizades, eles conseguem espalhar algum boato, alguma notícia desagradável, não poupando ninguém de seus enredos venenosos. As personagens de suas fofocas variam, mas eles serão sempre os roteiristas narradores das maledicências que estragam qualquer amizade.

Encontraremos, também, aqueles que tornam todo e qualquer ambiente pesado e carregado, como se as energias estivessem sendo drenadas inexplicavelmente. Mesmo que eles sorriam, tenham a voz doce e aparentem tranquilidade, carregam somente negatividade dentro de si, invejando qualquer um, infelizes que são por culparem a todos, menos a si mesmos, pela vida desprezível que acham que possuem. E quando não estão presentes, a gente sente um alívio imensurável.

O perigo de viver em meio a tanta falsidade é nos impregnarmos com a maldade alheia, tornando-nos tão desprezíveis quanto essas pessoas que nos desagradam no dia-a-dia. Mantermos as nossas verdades e nosso coração limpo e leve então será essencial para que não deixemos nunca de acreditar na força do bem e do amor. É dessa forma que poderemos descansar em paz ao fim de cada dia, na certeza de que fomos o melhor que poderíamos.

Imagem de capa:  ZoneCreative/Shutterstock

Antes de qualquer coisa, seja livre

Antes de qualquer coisa, seja livre

Fotografia de Thomas Lodin

Não adianta esperar que o mundo traga – de braços abertos, possibilidades e esperanças para dias melhores. Assim como também não serve ficar imaginando os porquês de certos sorrisos não terem sido concretizados. Momentos únicos chegam para quem não sente medo de arriscar, para quem não sente medo de viver. Antes de qualquer coisa, seja livre. Faça-se livre.

Nada de estipular sabores e encarar caminhos, como quem julga ter a certeza imutável das escolhas. Um dia você erra, noutro acerta. A vida é esse pêndulo de quedas e saltos, onde sempre nos é permitida a escolha. Sobre o que sentimos e sobre como lidamos com o que sentimos. Vitimismos pesam, cansam. Quanto mais você restringe o seu potencial e o seu querer, mais aprisionado e suscetível aos agouros você se encontra. Felicidade é muito mais do que isso. É aceitar, conhecer e reconhecer que, antes de estar pronto para depositar bondades, gentilezas e amores ao léu, você necessita despir-se de receios e outras amarras emocionais que te impedem de residir em qualquer inteiro. Porque sem coragem para viver inteiro, tudo o que resta são metades. Suas e de outro alguém.

Abrace instantes. Receba o agora. Não fuja da maior responsabilidade que é ser você para você. Autoconhecimento não é conversa de autoajuda, mas o princípio do amor em sua quintessência. É quando janelas e portas se fecham e você consegue encontrar fôlego para desconstruir-se e elevar-se frente novos desafios. É não esmorecer quando a reciprocidade tornar-se ausente. É amor de um tudo mesmo sendo pouco.

Antes de qualquer coisa, seja livre. Porque a liberdade acompanha os despretensiosos e sonhadores. Não estagna, desestimula ou inveja o ganhar alheio. Empatia é liberdade. Amor é liberdade. Amizade é liberdade. Livres são os indivíduos que não buscam respostas a todo tempo. Felizes são os que caminham, em seus próprios passos, para novos e acolhedores horizontes de serem e estarem. Por infinitos instantes, por presentes fragmentos.

Relações baseadas na propaganda! A gente compra o apelo, não o produto.

Relações baseadas na propaganda! A gente compra o apelo, não o produto.

Imagem de capa Dean Drobot/Shutterstock

Aquele velho bordão do comercial de margarina. A cena perfeita, os sorrisos impecáveis, a felicidade que sequer cabe na tela por onde a gente assiste, comenta, crítica, procura defeitos, enfim, inveja.

Desconfie das relações baseadas na propaganda, na exposição maciça de virtudes e vitórias, são geralmente tão frágeis e ilusórias, que desaparecem de uma hora para outra, sem deixar vestígios, lembranças, saudades nem história.

Não existe vida dentro de um comercial de margarina! Não existe um cartão de crédito que compre a estabilidade de um sentimento, nem uma câmera que consiga registrar as angústias represadas por detrás de uma fotografia perfeita. Nem em Paris!

A exposição em si não é ruim se não se dá importância à privacidade. Tem gente que não gosta mesmo, e tudo bem. Ruim para mim é o marketing pesado, agressivo, vendedor, que não sossega enquanto não convencer a plateia de sua posse e direito sobre a felicidade do mundo.

São as relações tolas que a gente tem que aturar, bater palminha e repetir que o amor é lindo, ainda em nada pareçam com a realidade.

E, com isso, o perigo de nos iludirmos, de nos tornarmos consumidores do modelo perfeito, de olharmos para o nosso modelo e concluirmos que temos pouco, que merecemos mais, que a vida que construímos vale menos, não tem projeção, não é modelo de admiração de ninguém… Aí é que mora o grande perigo.

O apelo é tanto que a gente se confunde.
– Quer a parceria perfeita;
– Sofre para alcançar o padrão imposto;
– Persegue a ideia de ser modelo de admiração…

E, por fim,

– Esquece de quem está junto, na luta, na batalha, na vida fora da tela;
– Desvaloriza o que já alcançou;
– Ignora a maior das lições…

Quanto maior o apelo, menos vale o que está em oferta.
O que tem valor, dispensa propaganda.

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