A filosofia do não pensar

A filosofia do não pensar

Imagem de capa: Luis Molinero, Shutterstock

Assim como o pensamento positivo pode provocar revoluções interiores, o pensamento vazio, negativo ou excessivo/obsessivo pode ser um tanto prejudicial. Gastar o tempo “divagando” pode não ser a melhor forma de resolver problemas ou de conduzir a vida. Ser mais instintivo, muitas vezes, é bem mais assertivo.

Com o perdão do trocadilho, se pararmos para pensar, veremos que, no geral, vivemos muito melhor se pensarmos menos…

O pensamento cria monstros imaginários, nos leva para horrendos lugares inexistentes, cria lamentáveis situações que não tem a menor probabilidade de vir a ocorrer e faz nascer sentimentos negativos totalmente desnecessários.

Pensar demais, por exemplo, nos permite deixar a tristeza entrar no peito em razão das centenas de atrocidades que estão ao nosso redor (corrupção, desordens climáticas, fome mundial, criminalidade exacerbada, etc.), mas sobre as quais não temos o menor controle.

Pensar demais permite que encontremos inúmeros argumentos para não adotar comportamentos que nos beneficiariam sobremaneira, tais como começar a se exercitar, começar a efetivamente pensar em si e a ter uma vida mais leve (como “não tenho tempo”, “demanda muito esforço” ou “tenho coisas mais importantes para fazer nesse momento”).

Pensar demais nos faz considerar plausíveis inúmeras graves doenças para, por exemplo, um pequeno cisto que apareceu nas suas costas, uma tosse persistente no seu filho ou uma tontura que acometeu a sua mãe, que, no fundo, são besteirinhas de fácil resolução.

Pensar demais abre caminho para acharmos que tudo é nossa culpa, como aquele amigo que nunca mais nos procurou ou aquele pretendente que sumiu de uma hora para outra. Afinal, “o que é mesmo que eu fiz pra eles terem esse comportamento?”

Pensar demais permite cogitarmos e nos assustarmos com as milhares de hipóteses desastrosas que o curso da vida de qualquer um, em tese, pode tomar (perdas de emprego, traições, acidentes, etc.).
Pensar demais, em suma, pode fazer com que nos percamos em medos de males que nunca ocorrerão, ou que nos acomodemos numa vida insatisfatória.

Devemos ser mais instintivos.

Não temos dúvidas de que é necessário nos cuidarmos e que a única pessoa que realmente se importa conosco somos nós mesmos. Então, comecemos uma academia, larguemos o cigarro, vamos comer de forma mais saudável e descansar direito. Assim, direto, sem parar para pensar.

Sabemos que a grande maioria das pessoas não será acometida por doenças terminais, acidentes fatais e graves crimes. Acreditemos, então, que fazemos parte desse grupo e ponto. Sem divagações.

Temos ciência de que, indiscutivelmente, é preciso cuidar das emoções. Então, respiremos fundo frequentemente, vamos buscar atividades que aliviem o stress, não internalizemos sofrimentos que não são nossos e fujamos de discussões de qualquer espécie. Não precisamos de nada que maltrate o nosso coração.

Sabemos que é preciso se autoconhecer, amadurecer, evoluir. Então, vamos em busca de meios para tanto, tais como cursos, livros e até mesmo textos e vídeos da internet. Há um vasto material à disposição de todos, muitas vezes gratuito, basta a predisposição para conhecê-lo.

Nos sentiremos muito melhores se pararmos de buscar desculpas ou cogitar hipóteses ruins. Sabemos o que precisamos, o que nos faz bem e o que é certo. Basta agir.

Ah, em tempo: se for parar e ficar pensando, divagando e cogitando coisas boas, positivas e energizantes, tá liberado!

Egos inflados: Cheios de si e vazios de gente

Egos inflados: Cheios de si e vazios de gente

Imagem de capa: gephoto, Shutterstock

De repente, um sujeito dirigindo com o celular na mão, o que já é errado, para na esquina de um cruzamento para poder ver melhor a sua conversa no “Whats” ou uma foto que achou legal no “Insta”, e demora cerca de um ou dois minutos, tempo suficiente para formar um congestionamento de carros, com pessoas esperando a benevolência do motorista hi-tech para poderem adentrar na avenida e chegarem aos seus rumos. Bom, o que poderia ser uma descrição fictícia, é real e tenho certeza que compartilhada por todos.

O que leva um indivíduo a ter uma atitude como essa? Sem dúvida, poderemos encontrar a resposta no egocentrismo, aquele velho ego inflado, que se acha o dono do pedaço e não está nem aí para ninguém, além de si próprio, é claro. Pessoas egocêntricas acreditam que tudo gira em seus entornos, portanto, pode-se fazer de tudo, inclusive, prejudicar outras pessoas com o comportamento praticado, afinal, todos estão ali para servir “o reizinho”.

Há nesses indivíduos total incapacidade de perceber-se como parte todo e de que não vivem em um conto de fadas onde todos estão ali para servi-los. Não existe senso de comunidade, em que o sujeito compreende que nas suas ações há relações de causa e efeito que atingem a todos. Dessa maneira, não importa se posso causar um acidente por agir de forma imprudente ou se estou impedindo o fluxo normal do trânsito, com pessoas que, com certeza, possuem afazeres mais urgentes que ficar vendo alguma barafunda no celular.

Os exemplos, no entanto, não se esgotam com o dado e, como disse, todos já vivenciaram situações em que o ego inflado se faz presente. Esse tipo de comportamento se acentua em uma sociedade baseada no individualismo, em que cada um só enxerga o seu próprio umbigo e é incapaz de perceber o outro como um sujeito autônomo. É como se os outros fossem meras extensões dos nossos desejos, planetas girando em torno do sol, instrumentos guiados ao nosso bel-prazer.

O egocêntrico jamais percebe que errou, uma vez que sequer se reconhece como possuidor de defeitos e imperfeições. E como se não bastasse, ainda ficam putos quando alguém surge com uma agulha e estoura a sua bolhinha. É uma afronta impedir os desmandos do césar. Todos devem aceitar de bom grado ser pisados e utilizados como fantoches, a fim de manter em constância a realização de todas as vontades de pessoas cheias delas.

O que falta para o egocêntrico é entender que ele não é o centro das atenções, que nem tudo diz respeito a ele, tampouco, deve subjugar outras pessoas, a fim de atender aos seus apetites. É preciso saber que o outro também merece ser respeitado e cuidado em sua singularidade e humanidade, que ao agir, outras pessoas também serão afetadas, de forma que é imprescindível pensar naqueles que estão ao nosso redor ao tomar uma atitude. Sem, entretanto, achar que elas estão exercendo algum tipo de reverência a nós e que, por conseguinte, podemos fazer de tudo sem se importar com as consequências.

É preciso, sobretudo, olhar o outro, enxerga-lo, vê-lo e ser preenchido por ele, pois só assim percebemos que o outro também sangra e que egos inflados, embora cheios de si, são vazios de gente.

Acredite, esquecer é tão bom quanto se apaixonar

Acredite, esquecer é tão bom quanto se apaixonar

Imagem de capa: HTeam, Shutterstock

Para alguns se apaixonar é sinônimo de entrega absoluta. As borboletas no estômago giram no padrão ciclone e tudo se torna possível. O amor começa a ser idealizado, os medos acabam e os planos para o futuro são feito até o século que vem.

Porém, como as pessoas conquistam, mas esquecem de manter, em algum momento a paixão acaba e resta, para ambas as partes, a saudade do que poderia ter virado amor.

Ao contrário do que você pensa, a maioria das relações não acaba devido a traições ou às diferenças surreais do cotidiano. Acaba na rotina, nas ofensas diárias, nas pequenas mentiras… acaba quando não se tem mais vontade de continuar.

Nesse estágio, todos sofrem. Indiferente do nível de envolvimento. O sofrimento dura dias, semanas, meses. Fica aquela sensação de culpa e de insuficiência diante das tentativas. O vazio toma conta dos dias e as horas teimam em não passar.

Até que um dia a razão prevalece e o sentimento da lugar à sensatez. E começamos a entender que o amor não é feito de metades, não é construído nas diferenças e que borboletas no estômago não garantem casamento.

Entendemos que amor não vem pronto em caixinhas e que só podemos construí-lo na convivência. Muito (mas muito mesmo) diferente da paixão. E entendemos que, em suas particularidades e, apesar dos pesares, são bons. Aprendemos, crescemos e nos sentimos vivos ao senti-los.

Apesar disso, as lembranças ainda estão presentes na memória e ainda ferem mais que faca. Os planos, as expectativas, os nomes dos filhos são lembrados com mais frequência que seu sobrenome. E você começa a pensar que nunca mais irá amar ninguém.

Mas, um dia, tudo passa. A saudade não machuca mais, as lembranças não são as primeiras coisas que a mente lembra e a vontade em estar junto não é tão grande assim. E começamos a entender que, tão importante quanto apaixonar-se, é esquecer.

Esquecer é mais que um sentimento. É uma carta de alforria da própria mente. Apaixonar-se é bom, mas esquecer…..ahhh esquecer é sensacional! O sentimento de liberdade é incrível! E é nos dado da noite para o dia. Você dorme sofrendo e acorda livre! Os olhos são abertos para a vida e você começa a perceber que ninguém vale a sua paz.

Começa a concordar com Machado de Assis quando ele afirmava que: “Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.”

Quem povoa os salões da sua saudade?

Quem povoa os salões da sua saudade?

Imagem de capa: Ollyy, Shutterstock

Saudade é um sentimento estrangulador. Saudade faz rir e faz chorar, dá medo e coragem, acorda e desmaia.

Saudade boa, nostalgia, nuvem de lembranças e tentativa de revivê-las.

Saudade triste, melancolia, momentos que ainda não cabem nas gavetas da memória sem doerem um tanto.

O que provoca saudade? Tem saudade de gente, de tempo, de lugar, de cheiro, de som, de alegria e até de dor.

Quem vive e frequenta os salões da sua saudade?

Na minha saudade mora gente que jamais se conheceria, mas hoje povoam o mesmo salão. Na minha saudade dançam figuras do passado, danço eu mesma de outro jeito, desfilam pequenos momentos que me arrancam suspiros, passam cenas impregnadas de memórias.

A saudade tem poder de dominar os pensamentos por um instante. Quando se sente saudade, não se sente mais nada, não se pensa em mais nada, não se ousa reagir.

Depois de passada, a saudade deixa um desejo de reação. Se não se pode acabar com ela, é preciso falar dela. É urgente contar a alguém sobre ela.

A saudade vem e nos traz a certeza da vida que já vivemos, da saudade que também provocamos, do tempo que está passando, do pouco que nos comprometemos.

Viver de saudades é duro. O tempo passa mais rápido de propósito, só para provocar mais saudades.

É hora de olhar para dentro dos salões da sua saudade, identificar rostos, lugares e oportunidades. O que não vai mais voltar, vai ficar na saudade. O que der para recuperar é tarefa para agora! O tempo não aguardará a saudade passar.

Entre nesse salão, e se a porta estiver fechada, entre pela janela, pela chaminé, pela saudade de quem está lá dentro, e resgate o que for possível. Liquide a saudade em vida, para que ela fique somente com o que já não pode mais retornar.

Com o tempo aprendemos a amar mais, mas amamos menos pessoas

Com o tempo aprendemos a amar mais, mas amamos menos pessoas

Imagem de capa: Aleshyn_Andrei, Shutterstock

Conforme nos tornamos mais velhos nos damos conta de que, em matéria de amizade, conta mais a qualidade do que a quantidade, e somente aqueles que valem a pena permanecem conosco com o passar do tempo.

Com o passar do tempo, relações que acreditávamos ser fortes e duradouras se quebram. Sejam as mudanças da vida ou os conflitos das relações, nosso grupo de amizades acaba se reduzindo drasticamente.

Não é segredo que os verdadeiros amigos se contam com os dedos de uma mão e que, com o passar dos anos, a qualidade pesa mais do que a quantidade no que diz respeito à amizade e às relações afetivas.

Cercamos nosso círculo e o fazemos com consciência de que o positivo para nós é torná-lo mais seleto, mais sólido e mais profundo.

Não é um trâmite doloroso em si mesmo devido ao fato de que é natural que isso aconteça. Marcar distâncias e proximidades de forma precisa e de acordo com as nossas necessidades é algo que todos fazemos em um momento ou outro de nossa estadia nos diferentes lugares que determinam nossas vidas.

contioutra.com - Com o tempo aprendemos a amar mais, mas amamos menos pessoas
Evgeny Atamanenko, Shutterstock

Não queremos ter muitas pessoas ao nosso redor, e sim as melhores

Com o tempo primamos pela intensidade dos contatos em vez da frequência. Gostamos de ter ao nosso lado as pessoas que realmente nos importam e que mais amamos.

Isso, em parte, está determinado pelo tempo que temos para nos relacionarmos e pelo interesses e prioridades que estabelecemos com os demais.

Com 15 anos gostamos de estar rodeados de gente, conhecer novas ideias e experimentar. Com 30 ou 40 as prioridades mudam, o que queremos é ser mais seletivos em nossas batalhas.

A amizade: quanto mais profunda, mais prazerosa

Em certas idades é muito comum se sentir sozinho, mesmo acompanhado, por isso mergulhamos na busca (explícita ou não) de relações puras, sinceras e estáveis.

Isso não é novo, mas na atualidade há estudos que nos brindam a possibilidade de afirmar de maneira contundente: cada ano que passa nos ajuda a priorizar a qualidade em detrimento da quantidade.

Selecionamos e priorizamos as relações com pessoas com quem nos conectamos de forma mais intensa porque nos oferecem um maior bem-estar a nível social, emocional, cognitivo e comportamental.

Um equilíbrio entre todas estas esferas nos ajuda a conceituar a amizade de maneira individualizada. De acordo com isso, a tendência emocional geral é a de definir a amizade segundo o que, de maneira específica, nos oferece cada relação.

Ou seja, nos tornamos mais precisos e analíticos, enquanto, por sua vez, não podemos nos desligar da ideia do que cada tipo de relação nos oferece. Nos tornamos conscientes de que há diversas opções e de que a riqueza do ser está na pluralidade.

Este conceito de amizade é tão transformador que às vezes até surpreendemos a nós mesmos refletindo sobre isso.

No entanto, é verdade que há algo destacável e que, seja por experiência ou por algum outro motivo, nos tornamos mais inflexíveis, as batalhas são mais dolorosas e ferem mais fundo o nosso interior.

Para nós, adultos, é terno ver como duas crianças brigam por um brinquedo mas, por outro lado, em questão de minutos podem se abraçar e dar amor sem medida.

Este é um aspecto que deveríamos levar em conta sempre: os motivos dos nossos incômodos e distanciamentos são tão relevantes assim, a ponto de perder uma amizade?

Tendemos a fazer atribuições estáveis demais sobre questões muito banais, o que muitas vezes acaba menosprezando nossos ideais em matéria de sentimentos.

Este detalhe, sem dúvida, é um ponto importante em qualquer relação.

Assim, convém destacar que é comum julgarmos a qualidade por eventos negativos que são pequenos em comparação com o que, por outro lado, as pessoas que nos rodeiam nos oferecem.

Ou seja, muitas vezes cercamos nosso círculo de amizades de maneira negligente.

As prioridades emocionais com o passar do tempo

Seja qual for a realidade pessoal que acompanha este fato, devemos ter muito claro que o fato de que a nossa realidade social mude não é negativo por si só.

Isso, sem dúvida, é algo que em alguns momentos de transição temos dificuldade em assumir com naturalidade. Convém refletir sobre os seguintes pontos:

– Na pré-adolescência e adolescência reina uma grande confusão em torno de temas ligados às relações. Buscamos nosso lugar e, por isso, compomos e recompomos constantemente nosso círculo de pessoas.

– Pouco a pouco, conforme entramos na juventude, vamos deixando de lado as grandes reuniões, as festas e os excessos sociais. Começamos priorizando ter alguém com quem falar e lidar com nossas inquietudes pessoais e psicossociais.

– Conforme avançamos nesta etapa gostamos de estar mais tranquilos e cômodos, de nos sentirmos queridos e importantes, com pensamentos e interesses que estimulem nossa mente e nosso mundo de maneira mais madura.

– Conforme vamos evoluindo geramos um grupo de referência, pessoas que seguimos e com as quais nos relacionamos compartilhando pensamentos, sentimentos, interesses.

– Já na idade adulta as amizades que mais valorizamos não se correspondem com a necessidade de aparentar profundidade, e sim de serem sentidas.

– Gostamos das pessoas que nos dizem tudo com o olhar, que aprovam e desaprovam com total liberdade e que nos jogarão aos leões se for necessário.

As amizades do tempo são vínculos que acabam se transformando em irmandades. Uniões profundas afastadas da hipocrisia, do egoísmo e das inquietudes mascaradas.

Amizades que preenchem com seus abraços a plenitude da nossa alma, que se sentam como copiloto e nos guiam quando algo nos cega.

Às vezes, dar errado foi a coisa mais certa que poderia ter acontecido

Às vezes, dar errado foi a coisa mais certa que poderia ter acontecido

Se pudéssemos ter a paciência de aguardar a passagem do tempo, para então manifestar nossas impressões sobre os fatos que nos sucedem, evitaríamos conclusões precipitadas e seríamos mais gratos. Gratos porque assim perceberíamos que o que aconteceu foi o melhor para a nossa vida, embora pensássemos exatamente o contrário, enquanto nos lamentávamos em meio ao turbilhão de emoções que nos tomam no exato momento em que algo não corre de acordo com o que queremos.

Mas não, costumamos nos antecipar ao sofrimento, visualizando o pior que supomos estar por vir, imaginando que não mais seremos os mesmos, que nos tornaremos menos felizes, que somos a pessoa mais azarada desse mundo. Só enxergamos o que perdemos, o que se foi, o que não mais é nem está, esquecendo-nos de tentar perceber o que então poderemos ser, conquistar, obter, o que os espaços vazios podem convidar para serem preenchidos com mais, com coisa melhor, pessoas mais generosas, momentos mais grandiosos.

A vida costuma seguir o seu curso com mais ou menos carinho, chacoalhando nossas verdades, desequilibrando nossas certezas, questionando-nos quanto ao que estamos fazendo com o que nos é ofertado diariamente. E é assim que a vida se encaixa, nos encaixa, colocando-nos de frente com o que somos, fortalecendo-nos e acomodando-se em meio à nossa jornada, no intuito de nos motivar a seguir, sempre, apesar de tudo. É nesse movimento que nos vai sendo tirado muito do que, sem que percebêssemos, impedia-nos de ampliar o nosso mundo.

Existem tantas oportunidades prontas para nos abraçar, tantas pessoas aguardando o nosso olhar, tantos lugares para visitarmos, tantos amores para dividirmos, muito melhores do que grande parte daquilo que achamos ser o mais certo para nós. Prendemo-nos a tantas amarras ilusórias, enquanto nos tornamos cegos ao mundo ali do nosso lado. Muito do que não aconteceu na verdade foram bênçãos que equivocadamente pensamos serem perdas. O que não foi simplesmente não era para ter sido.

Logicamente, será difícil mantermos serenidade durante os momentos de decepção e frustração que pontuarão o nosso caminhar, porém, confiar no tempo e no que de melhor a vida tem a nos oferecer será essencial para que não nos demoremos exageradamente na paralisia inútil das lamentações e lamúrias sem fim. Manter o pensamento positivo, ao contrário do que possa parecer, não é acreditar em contos de fadas, mas sim viver com a certeza de que a gente merece ser feliz, mesmo que não neste momento, mas no momento certo.

Imagem de capa: Kite_rin, Shutterstock

Prece de gratidão ao ano velho e boas-vindas ao Ano Novo!

Prece de gratidão ao ano velho e boas-vindas ao Ano Novo!

Imagem de capa: Captain Yeo, Shutterstock

É a tua hora, bravo e velho ano que chega ao fim. Vai em frente, humilde e honesto, tu que já foste amanhã, ocupar teu lugar nos dias de ontem. Nós seguimos daqui, curiosos quanto ao que virá, gratos pelo que passou. Agradecidos por conta ou apesar dos doze meses que nos deste um depois do outro, cumprindo honrosamente o calendário combinado.

Para muitos de nós, foste um tempo severo, duro, violento. Esses te querem longe. Outros terão saudade de teus dias longos, teus escândalos, teus instantes insanos e tuas horas mansas, teus encontros e desencontros, tuas angústias e esperanças – esses te guardarão na lembrança com carinho.

Acontece é que agora, tanto para quem te quer distância quanto aos que te encerram afeto, é tempo de despedida. Adeus, ano velho! Vai-te adiante, reencontrar tuas horas, teus dias, tuas semanas e teus meses numa só lembrança.

Vai com os braços escancarados, em festa. Vai rever tuas trezentas e sessenta e cinco manhãs, arder de saudade boa no solzinho de tuas tardes, sonhar esperanças em tuas noites. Elas te esperam cantando em coro, afinadas como velhas cantoras, as canções que enfeitaram teus dias e amansaram tuas dores. Vai te juntar a tua gente em algum bar recendendo alegria numa confraternização amorosa, celebrando teus momentos como obras-primas.

Vai tranquilo, goza sem medo a sensação saborosa do dever cumprido. Honraste teu prazo, trouxeste-nos à porta de teu irmão mais moço e cá estamos, caminhando juntos até o futuro ali em frente. Agora é conosco. Cabe a nós apertar o passo e enfiar a cara nos dias e tardes e noites que virão, como quem avança para uma multidão de rostos desconhecidos.

Uns sorrirão simpáticos, outros esbravejarão. Mas que importa? Eles virão por nós. Vamos a eles com fé, sem medo. Vamos de passos firmes, coração amoroso e mãos estendidas. As mesmas que agora te acenam em despedida emocionada, agradecida. Adeus, ano velho. Apesar de tudo, obrigado!

Agora é tempo de celebrar o que vem. Bem-vindo, Ano Novo! Que em teus dias a bondade arrebente os muros de crueldade e picuinha e se espalhe a todo canto. Que o trabalho seja franco, a comida seja farta e a saúde, exuberante! Que as águas transparentes da justiça lavem a lama que nos emporcalha. Que o amor nos toque fundo e nos leve mais alto.

Assim, voando sobre as cabeças rasteiras e as intenções daninhas, chegaremos sãos e salvos até o ano seguinte, e o outro, o outro, o outro e tantos outros mais até quando Deus nos permitir. E que seja assim para sempre.

Adeus, ano velho. Feliz Ano Novo!!

Ano que vem eu vou…

Ano que vem eu vou…

Imagem de capa:   Artemeva Juliya, Shutterstock

Ano que vem eu vou…

Nossa lista de desejos para todo ano novo quase sempre é gigantesca e quase nunca compatível com a realidade.

Se olharmos com cuidado, veremos que muitas vezes a soma de todos os itens representa a não aceitação de nós mesmos. E é exatamente aí que mora o perigo.

Não queremos apenas descolar um emprego mais bacana, emagrecer alguns quilos, parar de fumar, parar de beber, viajar mais, conhecer um grande amor, ganhar mais dinheiro, aprender a tocar piano ou uma nova língua, mudar de país. Queremos nos tornar outra pessoa.

Para dar conta de nossas listas irreais ao pé da letra teríamos que nascer de novo, ter outra família, outra educação, outra cultura, outros traumas, outros medos, outra conta bancária, outras vivências.

É claro que é bacana traçar metas, fazer planos, ter objetivos claros do que queremos e do que não queremos mais. No entanto, se esses objetivos e planos não estiverem alinhados com a realidade, o efeito colateral será apenas a frustração.

E quanto mais frustrações acumulamos, mais paralisados nos tornamos. E quanto mais paralisados nos tornamos, mais nos convencemos de que não temos jeito, de que somos um caso perdido. E quando nos convencemos de que somos um caso perdido, o que fazemos? Passamos a nos auto sabotar para fazer a manutenção dessa velha crença.

A auto sabotagem nos rouba toda a alegria, a energia, a fé, a esperança e a coragem que sentimos na noite de réveillon. Quando nos damos conta estamos em Junho e não fizemos nem a metade do que nos propusemos. Bate uma sensação de fracasso, um desânimo e vontade de dormir até o ano acabar.

Que tal fazer diferente este ano, se propor a uma lista de desejos menor e mais realista? Que tal, em vez de dez radicais mudanças de hábito, investir com afinco em apenas uma, a maior e mais importante delas? Que tal aprender a priorizar?

E que tal incluir nessa lista:

1. Ser mais flexível e menos exigente consigo
2. Aprender a dizer “não”
3. Aprender a ouvir “não”
4. Aprender a se perdoar pelos erros cometidos
5. Vencer um grande medo
6. Dar menos importância para a opinião alheia

Lembrando que de nada adianta usar a cor certa de calcinha (ou cueca) no réveillon se no restante dos dias o pedacinho de pano for tirado para qualquer um (a).

E que venha o ano novo! Que tenhamos todos saúde, lucidez, amor-próprio, autoconhecimento, poder de superação, coragem, entusiasmo, fé, discernimento, intuição, abundância, otimismo, beleza, afeto e prosperidade para dar e vender.

A maturidade não está nas aparências

A maturidade não está nas aparências

Imagem de capa: Stefano Cavoretto, Shutterstock

Não adianta usar terno, gravata e sapatos italianos se for para fazer birra quando for contrariado, usar o seu poder para diminuir os outros por não estar disposto a tratar da própria insegurança, dar berros aos quatro cantos porque está “de lua” e, neste caso, a ética não vale um chiclete embaixo da mesa.

Há muitos por aí que pensam que maturidade é deixar ou forjar os cabelos brancos, deixar a barba crescer – mas sempre muito bem estilizada -, usar salto alto – mas andar com classe -, vestir certos tipos de roupa e outras amenidades mais. Há quem pense que maturidade e gostar de jazz em vez de rock, é não fazer “brincadeiras”, é reprimir a própria criatividade para seguir certos padrões de comportamento, é casar e ter filhos a qualquer custo mesmo que ainda não tenha encontrado alguém com quem realmente desejasse assumir essa responsabilidade, é postar fotos de viagens à Europa e não usar emojis nas conversas.

Há muita gente por aí que confunde ser maduro com ser ranzinza ou pouco autêntico. Acontece que ser ranzinza não é exclusividade dos “maduros”, nem ser autêntico é qualidade dos jovens e, consequentemente, imaturos nesse raciocínio raso. Abster-se do lúdico na vida, dos gostos próprios, do “ser si mesmo”, para seguir uma cartilha militar de comportamentos fúteis, guarda-roupa e rituais não é, de forma alguma, tornar-se maduro.

É curioso observar que dentre as pessoas que mais emitem discursos superficiais sobre como ser para ser considerado maduro, muitas delas estão sofrendo de crise de identidade, e, não obstante, são quase em sua totalidade as que menos demonstram maturidade em suas ações.

Atitude, isso sim é o que determina o quanto uma pessoa é madura ou não. Não está no modo de vestir, não está no modo de falar, não está nem mesmo no modo de pensar exclusivamente, mas no modo de agir e se colocar diante do mundo e diante dos outros.

Maturidade não é qualidade de quem pretende viver sozinho, de quem se isola do mundo literalmente ou figurativamente. Figurativamente, quando a pessoa age como se ela fosse o centro desse mundo que habita e não enxerga os outros, não pensa nos outros, não tem responsabilidade, não tem ética, não tem empatia. Nem eremita nem egoísta.

Maturidade tem a ver com saber viver coletivamente, saber levar as coisas com serenidade, decidir com sabedoria e saber que está sujeito a errar como qualquer outra pessoa. Tem a ver com não querer carregar o mundo nas costas, porque sabe que é pequeno demais para isso, mas também não se isentar em fazer sua parte, porque sabe que compõe um todo maior do que a sua individualidade.

Com isso, não se obriga mais a ser como os outros esperam que seja, nem deixa de se questionar se poderia ser melhor em comparação a si mesmo. Ser maduro tem a ver com refletir sobre as críticas, em vez de simplesmente ignorá-las, filtrar o que serve e o que não serve, sem “neuras”. Por outro lado, também tem relação com saber criticar, sem destruir o outro ou aponta-lo coisas que são questões de gosto e que, logo, em nada poderão contribuir para o crescimento alheio.

Na cultura da superficialidade em que estamos inseridos há muitos que destilam seus venenos, criticando hábitos corriqueiros e insignificantes em seu aspecto coletivo, como se estes é que fossem determinantes para uma pessoa ser considerada adulta, coisas como: você é adulto se tomar café em vez de achocolatado, se preferir uma torradinha light com azeite e manjericão a um sanduíche monstro do trailer da esquina ou um belo sorvete cheio de cobertura. Não pode brincar, não pode gostar de festa temática, não pode curtir fantasias a não ser que sejam sexuais, porque, afinal, o lazer do adulto se resume ao sexo.

Tanta cretinice nos faz girar em torno de uma ansiedade absurda em cumprir este código de aparências para ser aceito socialmente em vez de nos atermos à mudança substancial do nosso posicionamento diante da vida. Todavia, é possível encontrar em muitos livros sobre o desenvolvimento cognitivo e afins, que a fase da vida em que um indivíduo tenta se encaixar em determinados grupos de forma superficial, seguindo os padrões do grupo de vestir, seus rituais e hábitos de consumo, se chama adolescência. E, paradoxalmente, apesar da nossa cultura ser intrinsecamente adolescente – não pelo fato de pessoas mais velhas adotarem estilos teen de vestir,por exemplo, mas pelo comportamento e funcionamento social generalizadamente adolescente -, pobre dos adolescentes: ninguém os suporta, justo eles, que estão exatamente na fase de ser como são! Roubaram-lhes o lugar…

Às vezes eu penso que essa repressão ao lúdico, ao autêntico, à profundidade, à criatividade (para fins de viver e não para trabalhar em uma empresa conceituada, por exemplo, porque tem disso também…), nos coloca em um ambiente denso, duro, onde não há espaço para leveza. Por conseguinte, essa falta de leveza se converte em ódio, se converte em violência, se converte em agressividade e ignorância.

Se as pessoas não enxergam umas as outras para além dos padrões sociais que são impostos e logo se julgam mutuamente, cegos da realidade, imersos em uma fantasia perversa na qual todos são personagens uns contra os outros, onde o outro nunca será um igual, mas um rival, nada mais natural do que convivermos diariamente com a violência sob formas cada vez mais sofisticadas e mesmo abstratas.

Se não há vazão para nossas emoções, todas elas, inclusive a raiva, a frustração e tantas outras pequenas angústias que passamos cotidianamente, através de um meio lúdico, simbólico, leve, então, elas vazam de outra forma: através de discussões, de ataques, de trapaças, de intolerância, e por aí vai.

Um jogo de paintball não faz mal a ninguém, nem jogar “pokemon”, muito menos soltar pipas; enviar emojis então, nunca ouvi dizer em como isso afeta negativamente a economia, aumenta a corrupção, dissemina a ignorância ou incita guerras. Nada disso torna uma pessoa automaticamente irresponsável, nada disso significa que ela vai deixar de fazer o que é necessário para viver, que não respeitará aos outros, que não respeitará as leis, etc.

Da mesma forma, uma pessoa também pode gostar de viajar para Europa, adorar seus sapatos italianos e preferir xadrez a videogame. Tudo bem, essa pessoa também pode ser responsável, ética, bacaninha da vida. A questão é apenas que: não existe um perfil, um estereótipo que assegure o que é ser maduro, o que é ser adulto, o que é ser humano com os outros. Não existe uma aparência única para isso. Ser maduro não é uma questão de gosto.

A maturidade pode estar presente nos mais diversos modos de viver, de comer, de vestir, de pensar, de ser. Como a ética, uma de suas principais parceiras, ela exige o exercício da observação e do convívio para ser tanto identificada, quanto desenvolvida. Você só saberá se uma pessoa é madura ou não, se ela é confiável, se ela é responsável, se ela é capaz, quando a ver diante de uma situação extrema, difícil, angustiante, e então puder vislumbrar como ela lida com isso.

Você só saberá se uma pessoa é madura quando conviver minimamente com ela e tiver o olhar livre de estereótipos, para poder enxerga-la de fato. Ademais, você só estará sendo presa das aparências, o que é um sinal de imaturidade de épocas anteriores até mesmo à adolescência. Se pegarmos, por exemplo, Piaget como referência, uma pessoa nesses termos, no sentido moral ao menos, seria como uma criança que se encontra no estágio de desenvolvimento cognitivo pré-operatório.

É provável que as pessoas verdadeiramente maduras estejam pouco se lixando para o que os outros pensarão delas se participarem de uma guerra de travesseiros ou gostarem de soltar bolhas de sabão. Sabem que das consequências que tais ruídos terão, estas serão as de menor importância na prática. Às vezes precisamos de um café forte e outras de um sorvete lambuzado de chantilly. Às vezes o som mais agradável para o momento pode ser um indie rock e outras vezes é Chopin. Existem situações que pedem uma roupa social e outras que casam melhor com chinelos e óculos escuros.

Saber que existem coisas que se auto excluem e outras que podem conviver perfeitamente no mesmo âmbito sem nenhum prejuízo por isso; saber que existem mais de duas possibilidades para tudo na vida, que os extremos nem sempre são os melhores lugares; coisas dessa natureza, difíceis de se colocar na prática porque exigem mais do que uma reprodução de ideais; saber como lançar esse abstrato construído pelas experiências para intervir no concreto – isso sim, é uma questão de maturidade. De resto, não passam de amenidades.

“Quer conhecer o caráter de uma pessoa? Dê a ela algum poder.”

“Quer conhecer o caráter de uma pessoa? Dê a ela algum poder.”

Imagem de capa: Kl Petro, Shutterstock

A Síndrome do Pequeno Poder é um transtorno de comportamento individual que mina as relações sociais e pode esfacelar qualquer chance de estabelecimento de convivência, em detrimento da satisfação de um indivíduo arrogante, autoritário e abusivo.

Pessoas acometidas por essa Síndrome costumam ter auto estima extremamente prejudicada, sendo levadas a ter a necessidade de humilhar o outro na tentativa de cessar um sentimento de menos valia. Diminui-se o outro para se sentir maior.

Esses indivíduos costumam viver inseridos em ambientes dentro dos quais não encontram lugar, sentem-se inferiores e, por causa disso, reagem agressivamente contra qualquer um que possa representar o mínimo questionamento à sua “autoridade”.

Autoridade é um bem que se conquista. É fruto do reconhecimento a uma habilidade desenvolvida, a um esforço empenhado, a um desempenho de papéis que explicita a competência. Autoridade depende da anuência do entorno.

Já o autoritarismo é outra coisa. É a instauração de um poder à força. É a atitude agressiva que busca subjugar o outro. O autoritarismo nasce da incompetência, da falta de recursos para administrar conflitos.

contioutra.com - "Quer conhecer o caráter de uma pessoa? Dê a ela algum poder."
Dean Drobot, Shutterstock

Lidar com uma pessoa tomada pela Síndrome do Pequeno Poder é dificílimo. Essas pessoas têm uma enorme dificuldade em estabelecer limites de convivência. Uma vez que ela tenha enxergado no outro uma ameaça ao seu suposto poder, ela não medirá ações ou modos para fazer valer a sua ilusória “autoridade”.

O poder verdadeiro emana do saber. Quanto mais sabemos sobre algo mais poder teremos sobre isso. E tudo o que estiver envolvido nesse saber depende do caráter ético e moral de quem o possui. Depende. Depende da importância social daquilo que se sabe, do que vai ser feito com esse saber; depende, ainda, de como e com quem esse conhecimento será partilhado.

As relações de poder na atualidade constroem-se a partir de uma rede complexa de relações. O modelo de hierarquia sólida, que já funcionou tão bem em outros momentos históricos anteriores, hoje não funciona mais. Ainda bem! E o indivíduo com visões distorcidas de poder não conta com recursos para perceber e gerir essa mobilidade.

O conhecimento foi incrivelmente democratizado, graças ao desenvolvimento tecnológico. Qualquer pessoa, dotada da capacidade de ler e compreender o que lê, tem acesso a uma infinita variedade de informações, sejam elas relevantes ou fúteis. Nunca foi tão fácil satisfazer uma curiosidade ou interesse de aprendizagem sobre o que quer que seja.

contioutra.com - "Quer conhecer o caráter de uma pessoa? Dê a ela algum poder."
Antonio Guillem, Shutterstock

Esse acesso aberto ao conhecimento, no entanto, exige de nós uma dose muito maior de responsabilidade. Hoje precisamos ser agentes das decisões tomadas. O nosso fazer político, por exemplo… de nada nos adianta ter o poder de eleger nossos representantes se ainda teimamos em escolhê-los de forma irresponsável.

Pensando numa esfera institucional menor que o Estado; uma empresa, por exemplo. Em qualquer empresa, ainda que vigore uma estrutura de cooperação, alguém precisa estar em uma posição de mediador das relações; precisa haver um líder que seja responsável por garantir que haja organização, equilíbrio e produtividade. Sem uma liderança que prese por valores e pelas necessidades coletivas, instaura-se o caos.

E, uma vez instaurado o caos, todos ficam à deriva. O individualismo é o caos. Cada um pensando nos próprios interesses é o caos. A nossa natureza exploratória gerou o caos, numa crise ambiental sem precedentes. De tanto brincarmos de algozes, acabamos vítimas de nossa própria ambição desmedida.

Estaria tudo perdido? Não haveria salvação para nossa “raça humana”? Há. E ela está em nossas mãos, mais concretamente do que nunca esteve. Precisamos entender o que representa exatamente esse tamanho poder. Precisamos ressignificar o nosso papel nas relações com o outro e com o mundo.

O poder é necessário para impulsionar mudanças, para vencer obstáculos. Sua natureza é de cunho transformador. O que vai modular esse poder é o caráter de quem o exerce. E não importa se o autor do comportamento abusivo é um líder de governo, o segurança da balada, o pai de família ou um parceiro de trabalho. O abuso precisa ser detido.

O abusador é alguém que faz mau uso do poder que tem, ou imagina ter. E, não raras vezes a única forma de fazê-lo parar é garantir que ele não tenha nenhuma chance de sequer pensar que pode mais que os outros. Nenhuma relação interpessoal pode basear-se em posturas de dominação e exploração. Infelizmente, em muitos casos não adianta insistir, porque para falta de caráter ainda não inventaram remédio. Nem adianta procurar no Google!

O maravilhoso agora

O maravilhoso agora

Fotografia por KIVILCIM GÜNGÖRÜN

Sonhei que o tempo não era mais medido. Que os seus silêncios não necessitavam mais serem impedimentos para um agora mais preciso e afetuoso. Sonhei que preconceitos haviam sido esquecidos e que partilhávamos dos mesmos laços de respeito, admiração e querer. Sonhei que antes da noite terminar existia um dia inteiro para abraçarmos quem queríamos. Sonhei até que, nesse mesmo dia, todos deixamos de lados os egos individuais para darmos lugar aos quereres coletivos.

Sonhei que a morte não era mais temida. Que finalmente reconhecemos a beleza dos inícios a partir dos finais infelizes. Sonhei que não decidíamos mais quem mereceria ter qualquer tipo de poder sobre a vida do outro e que a brevidade do viver era motivo de alegrias. Sonhei que vivíamos muito. Sonhei que aproveitávamos o presente sem essa preocupação exaustiva do amanhã. Sonhei até que, nesse mesmo dia, todos fomos liberados para amar em profundidade e não em quantidade.

Sonhei que o dinheiro não era para segregar. Que os frutos dos trabalhos feitos não tomavam dias a fio e que tínhamos oportunidades semelhantes em como escolhermos a melhor forma de passar o resto de nossas vidas. Sonhei que os países não traçavam linhas de diferenças, mas que incentivavam territórios de comunhão. Sonhei até que, nesse mesmo dia, todos deixamos portas e janelas abertas, pois o crime não compensava. Acenar para os vizinhos num fim de tarde era tradição das mais esperadas.

Sonhei que a religião não era para discutir. Que a fé de cada um encontrava lugar nos corações mais dispostos ao complemento de quem quer apenas sentir paz e conforto, e não caos e divisão. Sonhei que não precisávamos distinguir o certo e o errado porque, para nós, o único caminho que importava era o da verdade. Sonhei até que, nesse mesmo dia, todos saímos correndo nas ruas para recitarmos poesias.

Sonhei que o maravilhoso era agora. E é.

Desapega, vai !

Desapega, vai !

Imagem de capa: g-stockstudio, Shutterstock

Muitas vezes, cegados por nossos egos inflados, não percebemos que podemos estar VICIADOS EM SOFRIMENTO. Que a nossa vida não vai para frente por não permitirmos. Estranhamos a simplicidade, o bem-estar e a prosperidade. Desapegar, pois, é preciso!

Possivelmente um dos maiores desafios do homem moderno seja desapegar-se. Nos fizeram acreditar que se apegar – ao máximo possível! – é necessário, é o mais seguro, é o normal.

Então, “naturalmente” nos apegamos à opinião/aprovação alheia, e acabamos por viver sem conhecer a nossa própria verdade. Apegamo-nos demais aos nossos parceiros, e esquecemos de alimentar o amor próprio. Apegamo-nos à aparência, e deixamos de lado o desenvolvimento do nosso “conteúdo”.

Apegamo-nos excessivamente ao dinheiro, olvidando que as coisas mais importantes não podem ser compradas. Apegamo-nos aos status para somente depois – muitas vezes tarde demais – nos darmos conta de que, na verdade, o que vale mesmo é a nossa realização.

Mas, certamente, o apego com potencial para ser o mais desastroso de todos é ao SOFRIMENTO. Podemos levar uma vida inteira para perceber que, se não prosperamos, não evoluímos e não nos realizamos como gostaríamos, foi porque estávamos ancorados no sofrimento.

Podemos até ter dado passos importantes para frente – ao melhor estilo “agora, vai!” –, mas sempre acabávamos voltando para trás, pois nossa vida ficava vazia sem sofrimento algum. Era estranho, não nos reconhecíamos. Não sabíamos viver sem esse sentimento, por mais absurdo que isso possa parecer…

Quando o EGO toma as rédeas da nossa vida, ele pode tornar o sofrimento um vício, não permitindo que vejamos muito além do nosso mundinho infeliz. Ele, então, nos aprisiona em ressentimentos, em desejos sem fim e na necessidade de pleno controle.

O caminho certo nos parece ser o mais difícil, por não aceitarmos que o nosso sofrimento seja tão insignificante (e efêmero).
A SIMPLICIDADE, então, surge trazendo a libertação do nosso ser. Desapegar do sofrimento pode traduzir a nossa CURA, de modo global.

De que forma, então, se desapega?
Simplesmente SOLTANDO. Deixando ir. Abandonando, um a um, os sentimentos e os padrões de comportamento que levam ao sofrimento.

É claro que, como certamente eles nos acompanham há anos, será necessário permanecer atento. Depois de soltar, precisamos, por um tempo, ser disciplinados e fazer forte vigília para eles não voltarem, o que é muito fácil de acontecer, afinal, já se sentem em casa e, nós, com eles familiarizados.

Devemos nos apegar, pois, apenas à nossa LIBERDADE. Livres de amarras, vícios e padrões, daremos espaço para o bem-estar, para o amor e para a prosperidade, tão inerentes a nós, por mais incrível que pareça…

Desapega, vai!
Mas desapega mesmo!
E desapega para sempre!

Detox emocional: uma limpeza da alma

Detox emocional: uma limpeza da alma

Imagem de capa: Maridav, Shutterstock

Todo fim de ano é aquela velha história: o ano que vem será diferente. E, então, o novo ano surge e tudo continua completamente igual, inclusive, a sua promessa de que no próximo ano tudo será diferente (embora, bem lá no fundo, você saiba que não será).

A resposta para esse insucesso, na maior parte dos casos, não está no outro, na crise, ou na eleição do novo presidente da Indochina. A resposta está em você, em mim, em nós. Está na manutenção dos nossos velhos hábitos em uma vida que se pretende nova, na acomodação em tempos que dizermos ser de mudanças.

Assim, talvez o que estejamos precisando para que o ano seja realmente novo, seja um detox emocional, para tornar a nossa alma livre de todos os grilhões que a impedem de voar.

Para começar, uma coisa óbvia: a vida é curta e é uma só. Essa constatação, apesar de evidente, parece nos passar despercebida, afinal, vivemos de maneira degradante, como se a finitude não fosse motivo suficiente para buscarmos ser felizes por nós mesmos verdadeiramente.

Por falar em felicidade, uma das principais fontes de felicidade que existe (ou deveria existir) é o nosso trabalho. Entretanto, quantos de nós realmente gostam do que fazem? A maior parte das pessoas passam pela semana de forma avassaladora, se pudessem, viveriam em um eterno “FDS”, regado a belos anestésicos que os façam esquecer da vida de merda que levam e de que segunda-feira, o dia maldito, está chegando e terão que mais uma vez passar pela horrível semana de trabalho.

Confesso que viver assim beira a idiotice, mas é assim que vivemos. Poucos possuem a coragem de trabalhar com o que realmente gostam, de viver seu sonho, ao invés de passar os dias, as semanas e os anos desnutrindo a sua alma. A vida precisa de coragem, portanto, saia da zona de conforto e se arrisque. Se não gosta do seu emprego, procure outro, volte a estudar, revisite os seus sonhos juvenis, às vezes precisamos desse frescor para renovar os ânimos e espantar o medo.

Não deixe que os olhares acusadores de uma sociedade hipócrita e triste te impeçam de correr atrás daquilo que arde em você, seja você jovem ou mais velho, pois todos nós somos constituídos das mesmas coisas: sonhos.

Muito embora, sejamos acomodados na vida profissional, parece-me, que somos ainda mais nas relações interpessoais. Quantas vezes nos submetemos a relacionamentos que em nada nos agregam somente por preguiça de buscar novos ambientes, conhecer novas pessoas e iniciar novos relacionamentos (em que sentido for)?

Preferimos ficar com aquela ideia prisioneira de que todo mundo é igual, de que vamos apenas nos desgastar e no fim das contas tudo será como antes, etc. Entretanto, isso não é verdade, uma vez que nada na vida pode ser determinado com exatidão axiomática.

A vida é composta de vivências e experiências, de modo que só saberemos se será diferente, se tentarmos. Do contrário, continuaremos presos em relacionamentos superficiais, usurpadores, degradantes, por acreditar na ideia simplista e cômoda de que todo mundo é igual, o que, trocando em miúdos, quer dizer que nós não somos merecedores de amizades e amores que nos façam crescer e nos sentir infinitos.

A conversa está muito bonita e tudo mais, entretanto, é preciso ressaltar que nós somos os vetores da mudança, de modo que detectar os problemas é fácil (todo ano nós fazemos), difícil mesmo é arregaçar as mangas e tomar as rédeas da própria vida. É deixar de viver conforme o padrão e a vontade alheia, para ser o que você é, sem máscaras e fingimentos.

Quebrando a cara, mas vivendo, afinal, triste é chegar ao fim da vida e descobrir que não viveu. Deixe tudo que te faz mal de lado: seja o trabalho, pessoas, opiniões, a bela, recatada e do lar chamada “sociedade”; e viva a sua vida do seu jeito, trilhando o seu próprio caminho, já que o caminho certo é o que te leva para junto de você e, consequentemente, te faz feliz.

Livre-se da preguiça, do comodismo, da insegurança e do medo infernal de falhar, porque é muitas vezes na queda que enxergamos a vida de um jeito diferente e passamos a nos “rebuscar”.

Como disse o velho Bukowski: “A vida pode ser boa em certos momentos; mas, às vezes, isso depende de nós”.

Sendo assim, mais do que prometer um ano diferente, devemos pensar no quanto concorremos para o que queremos mudar. Então, perceberemos que a chave da mudança está dentro de nós, e que somente buscando-a conseguiremos abrir a porta da felicidade.

No fim das contas, a grande pergunta que devíamos fazer é se no ano que se encerra, fizemos de tudo para alcançar a felicidade, porque é a resposta a essa pergunta que sintetiza o tamanho da mudança que devemos fazer para que o novo ano, enfim, seja diferente.

Não precisa ser a primeira vista, mas precisa ser amor…

Não precisa ser a primeira vista, mas precisa ser amor…

Imagem de capa: Ditty_about_summer, Shutterstock

Diferente da sociedade atual em que o desapego é visto como prioridade e a quantidade melhor do que a qualidade, na literatura, o amor sempre teve seu lugar de destaque. Cada escritor foi único em seu modo de expor o mais nobre dos sentimentos e em descrever as diferentes reações que ele provocou nas vidas e nas emoções das pessoas.

Ao falarmos de amor, o primeiro conceito que temos na história de literatura é do filósofo Platão (428–347 a.C), em sua obra O Banquete: (…) “O amor é a busca da beleza, da elevação em todos os níveis, o que não exclui a dimensão do corpo”, afirmava Platão na obra em forma de diálogo, onde elementos mitológicos predominavam na tentativa de se explicar o amor.

Na Literatura Inglesa, temos Shakespeare que em seu mais famoso romance, Romeu e Julieta, definiu o amor de forma triste e agonizante: “Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira”.

Na Literatura Portuguesa temos duas fortes referências sobre o tema: Eça de Queiroz e Camões. Ambos com suas visões românticas diferentes, marcaram gerações. Enquanto Camões emocionou o mundo com seu soneto contraditório e, por que não dizer,a mais perfeita definição do amor: “Amor é fogo que arde sem se ver/É ferida que dói, e não se sente/ É um contentamento descontente/ É dor que desatina sem doer.

Eça de Queiroz em “O primo Basílio” escreveu sobre o tema de uma forma direta e objetiva: “Que outros desejem a fortuna, a glória, as honras, eu desejo-te a ti! Só a ti, minha pomba, porque tu és o único laço que me prende à vida, e se amanhã perdesse o teu amor, juro-te que punha um termo, com uma boa bala, a esta existência inútil”.

Como se pode perceber, o amor como tema da história revela-se extremamente diverso. Cada escritor expôs o que sentiu. Fato! Todavia, devemos considerar a parte filosófica nas obras e atentar ao caráter teórico desses conceitos, uma vez que o sentimento descrito nas obras não é apenas romântico, mas serve, também, como divulgação de uma ideologia, de uma doutrina, de um objetivo.

E, hoje, como se definiria o amor? Em uma sociedade tão “desapegada” de sentimentos, o amor é para os raros. Poucos são os que entendem que amor é construído e não uma paixão avassaladora que irá acabar no próximo fim de semana. Amor não acaba com futilidades e ou com diferenças literárias. Amor,meu amigo, simplesmente, não acaba! Amor é reciprocidade, respeito, carinho.

E, para os que acreditam na rotatividade de relacionamentos como prioridade de felicidade, relembro um grande pensamento de Balzac: “É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a vida, quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música.”

INDICADOS