Por amor a gente fica, por amor a gente vai

Por amor a gente fica, por amor a gente vai

Por amor a gente fica quando o abraço nos acolhe, quando o outro se importa com a nossa presença e faz questão de estar sempre por perto. Por amor a gente fica quando, mesmo com tantos tombos, mesmo com tantos erros, o outro não quer partir. Mesmo com todo o lema do desapego o outro quer se apegar e acha graça nisso.

Por amor a gente fica quando o telefone toca só pra saber se você está bem. Quando você abre o seu livro e lá está um bilhete com poucas palavras te desejando uma boa semana, quando você vê as mensagens no celular e lá está um bom dia.

Por amor a gente fica quando a tempestade vem e o outro quer se abrigar em nós, quando o vendaval passa e o sentimento permanece forte. A gente fica quando as coisas não vão bem e o outro se importa com isso, conta uma piada sem graça como quem quer tirar um riso teu. Por amor a gente fica quando tentamos remar contra a maré, que é o nosso medo, e desistimos no primeiro beijo, na primeira vez que o perfume fica na roupa depois daquele abraço. Por amor a gente fica quando o domingo torna-se saudade e a sexta-feira reencontro. A gente fica quando sente ser verdadeiro, quando sente paz. Quando sabe que o outro está disposto a ser morada e fazer morada em nós. Sem desculpas, sem justificativas, sem mentiras.

Mas, por amor a gente vai, por amor a nós decidimos partir. Por amor a nós deixamos de insistir no que insiste em não ser, em quem não quer ficar. Por amor, a gente vai depois do choro, depois das palavras que machucaram e das desculpas que nos cansaram.

A gente vai quando o outro não vê a nossa alma bonita, quando persiste em reparar em coisas fúteis e criticar por qualquer motivo. Quando o outro quer um amor passageiro, enquanto você quer de janeiro a janeiro. Por amor a gente vai quando o outro quer fazer joguinhos achando ser charme enquanto você já sabe o que quer. Quando o outro gosta de voltas e você só quer olhar para frente. Quando o outro quer pausas e retrocessos e você quer avanço.

Por amor a gente vai quando começa a se culpar e se achar problema, quando achamos ter algo de errado com nós. Por amor, a gente vai quando o outro não soma em nossas vidas, mas nos diminui com a sua indiferença persistente. Quando não nos olha, não repara, não se importa. Quando somos opção e não prioridade. Quando a desculpa do tempo, do cansaço, dos inúmeros compromissos tornam-se diários. Quando você não tem espaço algum na vida do outro. E então, por amor a nós, decidimos partir, não como quem desiste do amor, mas como quem sabe que isso não é amor.

E então, justamente por amor a nós mesmos, decidimos partir depois de tanto insistir, depois de querer tanto fazer dar certo. Mesmo depois dos raros bons momentos e das esperanças que brotaram em nosso coração. Decidimos ir como quem não pretende voltar, mas ao mesmo tempo surge o terrível medo de olhar para trás. No fundo a gente sabe que não vale a pena permanecer, que o outro não é morada. No fundo a gente sabe que apego não é amor e que insistir no que nos faz mal é falta de amor próprio. Então, por amor decidimos ir, pela saudade do nosso riso sincero escondido, pela saudade de sorrir com a alma e não apenas com os lábios, de sentir o nosso coração feliz. Por amor deixamos partir o que nunca fez questão de ficar.

Me perdoar foi a melhor coisa que já fiz e nada supera isso

Me perdoar foi a melhor coisa que já fiz e nada supera isso

Imagem de capa: Vadven, Shutterstock

Nada supera a tranquilidade de repousar a cabeça no travesseiro e dormir em paz. Uma paz que veio depois de muito tempo e de muitas quedas. Porque, às vezes, podemos passar a vida inteira procurando pessoas para perdoarmos, mas nenhuma delas importa tanto quanto o nosso próprio perdão.

Não há o porquê de tirarmos méritos do perdão ao próximo. Sempre será importante colocar-se no lugar do outro. Tentar entender e reconhecer atitudes e falas que fizeram determinada pessoa cometer um erro que nos abalou a confiança e coração. Ainda assim, muitas vezes já vínhamos carregando erros dos quais nos arrependemos. Gestos passados que, vez ou outra, assombram-nos durante o sono. Não perder de vista o autoconhecimento é fundamental para encontrar calmaria. Saber reservar para si momentos de contemplação e silêncio. Tudo isso diminui o peso dos ombros e traz fôlego ao corpo cansado.

O perdão não tem nada a ver com passar uma borracha por cima de alguma história. Também, nem sempre é sobre seguir em frente e fingir que nunca aconteceu. Perdão é enxergar dentro de você no meio da tempestade, onde ninguém pode mostrar o caminho para mares mais pacíficos. Não existe solidão sem perdoar. Não existe estar com alguém sem perdoar. Perdões significam movimentos contínuos para quem está interessado em evoluir como ser humano.

Outro dia desses, finalmente percebi que não precisava mais medir sentimentos perto dos outros. Finalmente entendi que, para ter um mínimo de felicidade e vontade de viver, deveria parar de me preocupar em quantas desculpas posso ouvir e dizer. Felizmente enxerguei que, antes de nutrir qualquer relação, o foco ainda sou eu. Para isso, me perdoar foi a melhor coisa que já fiz e nada supera isso.

É a única cura que sempre importou.

Nosso primeiro direito é uma segunda chance.

Nosso primeiro direito é uma segunda chance.

Imagem: Kar Tr/shutterstock

Ahh… moça. Eu que tanto te vi e não enxerguei, que te ouvi sem escutar, que fui tão longe quando estavas perto, eu que tanto passei e te deixei passar, eu acredito no amor à segunda vista.

Vieste fazendo festa, revirando a casa, ganhando o dia, bagunçando a noite. Foste aragem na tempestade, foste um remanso, uma brisa, um sonho leve. Mas eu dormi pesado, acordei e tu já eras lembrança.

Neste mundo corrido, amamos nosso amor à primeira vista como dois trens-bala japoneses, passando um pelo outro em sentidos contrários. Breves, rápidos, opostos. E sumimos um em cada canto, distantes, estranhos, desconhecidos.

Mas eu queria, moça, ahh… eu queria uma segunda vez. Queria tropeçar na lâmpada de um gênio desavisado, generoso, e libertá-lo em troca de três desejos realizados: ia pedir para te conhecer três vezes. Juro! Teria três chances de esperar teu amor na porta, abraçá-lo como a um velho amigo, convidá-lo a entrar e ficar para sempre.

À primeira vista o amor engana. A gente não vê o que faz, não entende o que põe a perder e não sabe o que perde. É preciso olhar de novo, amar de novo, fazer melhor que antes.

O tempo é breve, eu caminho na lua e tu sabes: quem olha muito o céu vez ou outra perde o que passa aqui embaixo. E eu me atrasei em tua festa. Eu que tanto te vi chegar e te deixei partir. Eu que te amei sem te saber. Eu que te achei não lembro onde. Eu que te perdi e não esqueço. Eu que sonho em te ver de novo. Eu que acredito, ahh… eu acredito no amor à segunda vista.

Mudar o foco. Olhar além… Porque jeito, sempre tem!

Mudar o foco. Olhar além… Porque jeito, sempre tem!

Puxa vida! Tem épocas na vida da gente que parecem verdadeiros testes de resistência, de paciência e de virtude também. Quem já esteve naquele lugarzinho que fica pra baixo do fundo, onde ninguém é capaz de nos enxergar, sabe sobre o que estou falando.

O mais curioso e triste é que nessas horas aparecem milhares de pessoas anônimas prontas para comentar, criticar e apontar o dedo. E é claro que tudo isso é feito à nossa revelia, por trás, pelas costas.

Quem sabe se os “comentaristas de plantão” tivessem coragem de tecer suas opiniões bem na nossa cara, essa afronta ao menos não nos servisse de estímulo, posto que desaforos sinceros e honestos têm lá sua utilidade; tiram a gente do poder incapacitante da dor.

Ahhhhh, mas isso é uma raridade. Enquanto a gente luta para reverter uma situação de perda, ou erro, ou deslize, a plateia se avoluma na mesma proporção em que desaparecem os verdadeiros amigos.

O fim de um relacionamento, o afastamento de um amigo, uma desavença familiar, a perda de um emprego, a falência de um projeto, há inúmeras situações de quebra que podem nos atingir. E, é bom que se diga, nenhum de nós nasceu vacinado contra catástrofes, sejam elas pequenas ou devastadoras.

É fato que uns pelejam mais que outros. Mas a peleja é parte da vida. É ao sobrevivermos às provações que vamos descobrindo dentro de nós novos recursos para dar outros sentidos à nossa existência, outros talentos, outros jeitos de sorrir. A humildade é matéria-prima indispensável para dar a volta por cima, por baixo, pelos lados, por onde for.

Absorver o tombo, verificar os danos e as perdas, cuidar das feridas, dar tempo aos hematomas para que se dissolvam e virem apenas uma lembrança. E se houver cicatrizes, que elas sirvam para nos lembrar que apesar do desastre, nós ainda estamos aqui. Mudar o foco. Olhar além… Porque jeito, sempre tem!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “O quarto de Jack”.

Lições que aprendi com Rafaela, 3 anos de idade

Lições que aprendi com Rafaela, 3 anos de idade

Imagem: Yuliya Evstratenko/shutterstock

Eu não sei se você tem filhos pequenos. Eu tenho netos pequenos. E tenho a Rafaela, com 3 anos de idade.

De vez em quando sou surpreendida pelas lições de vida que as crianças me dão, assim de graça, aproveitando o fator surpresa do cotidiano.

Já se sabe que a criança é egoísta por natureza, e que nós, adultos, somos professores de generosidade das crianças, mas existe aquela hora inesperada em que os papeis se invertem, e o adulto recebe a aprendizagem da lógica infantil que ainda não conhece o mecanismo dos pensamentos estruturados.

Evidentemente, não espere teorias complexas ou didáticas planejadas. Não espere uma aula com pormenores completos e acabados. Aguarde por pinceladas de um olhar inaugural que renovarão a sua mente da mesmice dos pensamentos e dos olhares acostumados.

A aprendizagem acontece no susto. Ou na sutileza de uma revelação. Nada muito elaborado com princípio, meio, e fim. Mas se você acreditar no poder da sabedoria inata da criança poderá ser surpreendido por uma conclusão poética, chocante, original, magnânima, e um tanto quanto surreal.

Estávamos no parque. Enquanto ela balançava, docemente, e eu assistia, um pouco ausente, vieram à minha mente desejos de consumo, incompatíveis com a cidade onde moro. Uma danada de uma tristezinha crônica. Uma vontade de variar a rotina, com coisas que eu não podia.

Era sábado de manhã, e eu pensei que gostaria de fazer um programa cultural, no fim da tarde, mas infelizmente, a minha cidade de 20 mil habitantes não permite. Nem um cinema, nem um shopping com uma boa livraria, nem um único centro gastronômico para comer uma comida diferente. Nem praia, nem montanha, nem vales, nem rios, nem nada. Nadica de nada. Quase sempre não há nada para fazer aqui.

Eu queria muito saber o que qualquer pessoa me diria sobre uma vida sem lazer. Sobre anos sem lazer. Não havia ninguém comigo, mas havia a Rafaela. Perguntei:

– Rafaela, você gosta de morar aqui?
– Eu não moro aqui, eu moro na minha casa. – ela pensava que eu me referia ao parque.
– Eu quero saber se você gosta de morar nessa cidade.
– Eu não moro na cidade, eu moro na minha casa. Sabe aquela rua ali, – apontou com o dedo- você vai por ali, e tem aquela subida ali, e quando chegar ali em cima, tem a minha casa, é ali que eu moro.
-E você gosta de morar na sua casa?
-Eu gosto. Tem o papai, tem a mamãe, tem o Niko, tem a Nina, tem os meus brinquedos, tem o vovô, tem a vovó, tem tudo lá! Nessa lógica cartesiana tão real, fez-se a epifania.

Primeira lição: nós não moramos na cidade, moramos na casa.

A cidade não é mais importante do que a casa. A casa é o lugar que nos acolhe. Não é o teatro, não é o shopping, não é o parque, não é o restaurante, não é o cinema. O ponto estratégico do mapa que mais importa, o lugar para o qual voltamos, vezes seguidas, é a casa.

A casa é o lugar de voltar. Quem tem uma casa para voltar, tem um refúgio para se esconder, um local preparado para se abrigar do calor, do frio, do vento, da tempestade, dos perigos de um mundo hostil. Um lugar para descansar e estar em paz.

Ninguém mora na cidade, de maneira estrita. Moramos na casa, e, por isso, para o nosso bem estar, a cidade não pode ter importância maior do que a casa.

E quando digo “casa” agora penso no lar e nos afetos que ela abriga: a nossa família, os nossos gatos, os nossos cachorros, as nossas plantas, os nossos livros, os nossos temperos, as nossas benquerenças, e tudo o que é importante na rotina dos nossos dias.

De que me adiantaria morar em São Paulo, embaixo do Viaduto do Chá?
Ou em Nova York, sob uma marquize, na 5thAvenue?
Ou em Paris, na Champs Elysée, sob o Arco do Triunfo?
Ou em Madri, na Gran Via, na bifurcação mais famosa, entre as duas calçadas, ao relento?

Aprendi. Não posso esquecer o que aprendi. E se esquecer, preciso me lembrar de que não posso esquecer de me lembrar.

Em outra ocasião, Rafaela estava na escola, e o coleguinha mordeu-lhe o braço. Mordeu com tanta força que deixou uma marca roxa e a arcada dentária tatuada por vários dias. Parece que houve uma disputa por um brinquedo, e o imbróglio resultou nessa agressão.

Conheço a Rafaela. É portadora de uma agilidade de gato quando disputa algo do seu interesse. É irritante disputar com ela: eu perco todas! Só ganho na força, mas na agilidade, ela sempre ganha, e depois disso tenho que travar uma luta corporal para conseguir reaver o objeto proibido.

Com certeza, foi o que houve: irritou o menino até à sua capacidade máxima, e para não perder a disputa, o garotinho partiu para cima com a única arma que tinha: os dentes.

Mas, confesso: não gostei de vê-la com a marca no braço. Ficou uma dor funda. Cada vez que o meu olhar batia ali, eu sentia que, em algum momento da vida, ela precisou da minha proteção, e não encontrou. Para uma avó essa é uma falta imperdoável.

Perguntei o nome do agressor. Guardei. Odiei não o menino, mas a agressão. Fiquei ligeiramente indignada. Pensei: se depender de mim, quando for adulto, ele nunca se casará com ela, e se casar, o enquadro na Lei Maria da Penha, nem que seja daqui a 20 anos.

Alguns dias depois, marcas apagadas, Rafaela quis fazer a lista de convidados para a festa de terceiro aniversário. Peguei papel,
caneta, e disse: – pode falar.

Ela estava empolgadíssima por me ver anotando nome a nome. Quem foi o terceiro ou o quarto nome da lista da Rafaela? O agressor, o Mister Dentadura, aquele que eu gostaria de enquadrar na lei Maria da Penha.

Gritei horrorizada:
– Esse não!
– Esse sim, vovó, ele é meu amigo!
– Rafaela não foi esse que mordeu o seu braço?
– Foi, mas já sarou.
– Não interessa que já sarou, esse menino pode te morder de novo, fique longe dele, é melhor não convidar.
– Convido sim, vovó, ele não vai morder mais, ele é bonzinho, foi só aquela vez.

Segunda lição: Foi só aquela vez!

Guardadas as devidas proporções, errar é humano, mas perdoar é para sempre e eternamente, divino. Não apenas aos 3 anos, mas também aos 30, 40, 60, e 90. Um momento de cabeça quente, não pode ter força para apagar todos os bons momentos das vinte e quatro horas de um dia comum, de um mês comum, de um ano comum, de uma vida comum.

Se você “morder ou for mordida”, uma única vez, pratique o perdão, dê o perdão, receba o perdão.

Então, é isso: uma criança pode ser um anjo que Deus envia para nos ensinar a ser mais gente. Mas para aprender com uma criança, você precisa ter alguma experiência com o Deus das crianças.

É imprescindível ter canais abertos para captar a linguagem celestial que é fugaz como um relâmpago que brilha no limiar da consciência, e vai embora.

Pegou, pegou. Não pegou? Não pega mais. Não, naquele momento. Talvez, em outro, quando você estiver mais atenta e preparada para captar os instantâneos do céu.

“Deixa partir o que não te pertence mais”

“Deixa partir o que não te pertence mais”

Imagem: Janpen Boonbao/shutterstock

Há uma semana, chegando ao fim do ano, uma amiga querida conversava comigo. Superando o fim de um casamento, disse que seu maior pedido para o ano novo era não pensar mais na pessoa que se foi.

Em silêncio orava a Deus pedindo para esquecer e seguir seus dias sem a presença do ex marido em seus pensamentos. Concordei com minha amiga e, à distância, tenho orado por ela também. Para que consiga esquecer. Para que a lembrança dos dias felizes seja só uma recordação, não um aviso luminoso reafirmando sua dor. Para que enfim ela deixe partir o que não lhe pertence mais.

Assim como minha amiga, muita gente precisa sepultar os castelos que já foram derrubados, as sementes que não germinaram, as despedidas que se concretizaram.

Com ou sem o nosso consentimento, muita coisa morre em nossa vida. E é preciso força e lucidez para se despedir. Para aceitar o fim de uma estação e o começo de outra. Para desligar-se do que não existe mais e ter olhos atentos e coração aberto para o que quer nascer e florescer em nossa vida.

É preciso aprender a se despedir. Aprender a libertar certas pessoas ou situações de nossos laços, mesmo doendo, mesmo partindo. É preciso se transformar por dentro. Fazer de todos os dias a oportunidade de seguir em frente comungando do amor próprio e da alegria de saber-se inteiro, cheio de bênçãos, cheio de novas possibilidades.

Neste ano que se inicia, peça a Deus um coração tranquilo. Um coração que aceita o que lhe foi reservado e comemora com ternura o que já conquistou.

Porque nem todos os caminhos sonhados se concretizam, e é preciso suportar as ausências, falhas e faltas que fazem parte da vida de qualquer um. Ter sabedoria para lidar com o que se despediu sem que a gente quisesse é a chave para amar a vida que se tem.

Já vi muito coração partido doer mais que joelho esfolado, e isso me dá a certeza de que deixar morrer um amor de dentro de nós leva tempo e alguma insistência; requer força de vontade e muita paciência.

Não é de uma hora pra outra que para de doer. Não é instantaneamente que a gente deixa de pensar. Mas é preciso deixar o tempo fazer seu papel e a vida lapidar as desistências.

Algumas coisas morrem sem o nosso consentimento, mas ainda assim a gente sobrevive. Ainda assim a gente continua e aprende a ser feliz de um jeito novo, de uma maneira que nos surpreende pela claridade e possibilidade.

Permita-se ser feliz e autorize que sua dor seja curada. Porque a gente se apega às dores também, e se acostuma silenciosamente ao sofrimento pela falta de alguém.

Espero que minha amiga consiga realizar seu desejo. Que afugente a dor e seque o pranto. Que deixe partir o silêncio, o desalento e toda mágoa. Que se desapegue das intenções não correspondidas, das reticências indecisas, dos sonhos que desistiram de cumprir seu destino. E que, principalmente, deixe morrer o medo de descobrir o que há por trás das novas janelas que começam a se abrir. Feliz tempo novo!

Narcisistas são uma fraude ambulante.

Narcisistas são uma fraude ambulante.

Imagem: Cressida studio/shutterstock

É muito comum, após o término de uma relação com perversos narcisistas e antissociais, descobrir que levam uma vida dupla ou múltipla. Descobre-se que são viciados em prostituição, que suprimem a própria homossexualidade se comportando como homofóbicos, que são promíscuos, que não têm a formação que afirmavam ter, que eram casados, que não trabalham onde diziam trabalhar, que são golpistas vindos de outras situações abusivas, etc.

É preciso estar muito atento aos sinais iniciais para não cair nessa cilada. Um sinal é, com certeza, o fato que, não raro, dentro dessas relações, somos procurados por ex, pessoas desesperadas tentando alertar você, o novo alvo, sobre o que está por vir. É claro que, quase sempre, essas pessoas serão vistas como loucas ciumentas querendo estragar a relação linda que você está vivendo.

A propósito delas, tenho o hábito de dizer que, quando você começa a detectar comportamentos estranhos, saber a versão de alguém do passado quase sempre lhe dá um panorama completo de quem você realmente tem diante dos olhos. Contudo, enquanto procurar alguém do passado pode ser útil, não sugiro que ninguém vá procurar o novo alvo, pois isso será recebido com desconfiança e você será alvo de chacota do “casal” e de todos a quem farão questão de contar que “você veio atrás”. Você não precisa dessa exposição e humilhação. Deixe que a pessoa, quando a começar cair na real, busque contato. Acredite, quase sempre isso vai acontecer.

Voltando a questão inicial, quando se é surpreendido com a realidade sobre esses tipos, a sensação de desespero, engano e injustiça pode ser incapacitante. Eu sei bem como é, mas por mais tentada que esteja a ir tirar satisfação, posso lhe dar apenas uma orientação: ao deparar-se com a realidade dos fatos NÃO adianta tentar desmascará-los. Essas pessoas são capazes de distorcer a verdade a tal ponto que você sairá da conversa se achando uma pessoa maluca, exagerada ou culpada, pronta a entender e perdoar.

Ele negará e inverterá, mas se não tiver como negar, se fará de vitima e dará uma desculpa comovente para as mentiras reiteradas, dizendo que, ou queria “preservar” você de algo ou a culpa foi sua por ele ter escondido aquilo. Se isso não colar, terá ataques de fúria porque você ousou bisbilhotar em sua vida.

Não há coisa mais temida por um perverso narcisista do que ser desmascarado; ser exposto diante de você ou dos outros; ter sua máscara imaculada, moralista e dona da verdade, arrancada. Ele não vai tolerar seu atrevimento e, mesmo que finja que errou e peça uma nova chance, num piscar de olhos se vingará de você por ter ousado a vê-lo como verdadeiramente é. Dar essa nova chance é expor-se para mais abuso, não faça isso.

Não há outra saída: está diante de uma realidade muito feia? ACEITE os fatos. Você se envolveu com alguém maligno, sem escrúpulos. Você se envolveu numa FRAUDE AMOROSA. É isso. As promessas, os planos, tudo faz parte do mundo de faz de conta perverso e grandioso em que esses tipos vivem.

É difícil, dolorido? Eu sei muito bem que é, mas aceitar esse fato sem tentar ir atrás de conserto é o único caminho para cessar o abuso imediatamente. Todas as suas tentativas para consertar um mundo de mentiras vai resultar em mais mentiras, engano, abuso e dor.

E como se faz isso? Da mesma forma que esses tipos fazem: de repente, sem nenhuma explicação, de forma fria, abrupta mas, diferente deles, sem JAMAIS olhar para trás. CORTE tudo o que ligar você a essa fraude. Se tiver filhos, tome todas as decisões em juízo, jamais verbalmente, e minimize ao INDISPENSÁVEL o contato.

Concentre-se apenas em reconstruir sua vida de toda a devastação deixada e ir em busca da felicidade e identidade da qual precisou abrir mão enquanto naquela relação. Somente sua rejeição, indiferença e felicidade são capazes de castigar uma pessoa com esse perfil.

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Somos aventuras, juras e promessas

Somos aventuras, juras e promessas

Essas palavras são do coração, moça. Somos além das incertezas, encantos. Somos maravilhas daquelas que quem não conhece, reconhece. Somos um mundo de possibilidades e verdades. Somos aventuras, juras e promessas. Ah, como somos.

Somos aventuras das mais loucas. Para nós, um dia qualquer é tudo o que precisamos. A preguiça de um domingo não incomoda. Tanto faz e tanto fez se nada estiver passando na programação. Os pés em encontros debaixo das cobertas e um cardápio de vontades no colo é o que queremos. Enquanto o mundo segue correndo para viver, vivemos abraçados no nosso mundo. E sorrimos, dançamos e dormimos na mesma intensidade dos blocos de carnaval. Somos cheios de amor sem cotas afetivas.

Somos juras das mais bobas. Para nós, um carinho qualquer é tudo o que pedimos. A correria da semana não nos afasta. Tanto faz e tanto fez se os trabalhos estiverem amontoados na agenda. Criamos um tempo fora do calendário. Segundos e minutos já sabem os caminhos que levam aos nossos lábios. Enquanto o mundo disputa relacionamentos passageiros, apostamos em quantos beijos perderemos a noção da hora. E estamos, ficamos e fomos na mesma direção. Somos cheiro de cumplicidade e há quem diga que não.

Somos promessas das mais sinceras. Para nós, um até logo qualquer é tudo o que aceitamos. A saudade é motivo para fazer tudo de novo. Tanto faz e tanto fez se os amantes são considerados clichês. Temos orgulho da nossa história. Enquanto o mundo insiste no amor equacionado, escrevemos “eu te amo” sem porquê e explicação. Dizemos, gritamos e escutamos no meio da multidão. Somos gosto de poesia, já aviso de antemão.

Essas palavras são do coração, moça. Somos além dos desencontros, encantos. Somos seres transbordantes de felicidades. Somos românticos, quem não conhece não pode sequer imaginar. Somos instantes de presentes e verdades. Somos aventuras, juras e promessas. Ah, que bom que somos.

Imagem de capa: The Notebook (2004) – Dir. Nick Cassavetes

Pessoas boas nos ensinam a amar. As más a não ser como elas!

Pessoas boas nos ensinam a amar. As más a não ser como elas!

Imagem: andrey_l/shutterstock

Sim, existem pessoas más e elas, meu caro, estão separadas em dois grupos: as que ser orgulham de serem assim e deixam isso explícito em suas ações e as que fingem serem boas pessoas, disfarçando-se de amigos, namorados e familiares que “torcem” para o seu bem.

Provavelmente, você já conviveu com muita gente assim e só percebeu o nível de maldade, depois que saíram da sua vida. O comportamento delas é quase padrão: ficam mal ao verem o outro bem, se deprimem ao saberem que a amiga encontrou um grande amor e quase morrem quando testemunham o sucesso profissional do colega de trabalho.

Pessoas maldosas são tão perigosas quanto veneno injetado na veia. Manipuladoras, interesseiras, invejosas e fracassadas (sim, tudo isso), essas pessoas não conseguem ver a felicidade alheia com naturalidade e entusiasmo. Julgam-se merecedoras de toda a atenção do mundo e, muitas vezes, não medem as consequências de suas palavras ou atos.

Se na vida social conviver com elas é um martírio, na vida sentimental as coisas conseguem ser piores. Elas diminuem o parceiro frequentemente, humilham, traem e jogam no outro a culpa de todos os erros. Além de tentar convencê-lo de que eles possuem sorte em tê-los em suas vidas. Triste, não? Mas é assim que acontece.

Se eu pudesse te dar um conselho hoje seria: afaste-se! Mas, afaste-se muito! Corra na velocidade da luz dessas pessoas. Egocêntricas, elas não sabem o limite entre a falta de respeito e a brincadeira saudável. Utilizam-se das pessoas como marionetes, encontram motivos para denegrir a imagem dos outros e subestimam a inteligência alheia para esconder o mau caráter que possuem.

Muitas vezes não é possível nos afastar fisicamente de quem nos faz mal, às vezes, é necessário suportar a falsidade de colegas de trabalho, de um familiar invejoso ou de um “amigo” maldoso com pele de cordeiro, mas podemos nos afastar psicologicamente e sermos felizes sem elas.

Tomar distância dos conflitos que essas pessoas geram e não compactuar das maldades que praticam já é um bom começo. Einstein dizia que “o mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade” e eu concordo com ele. Não permita que seus princípios sejam corrompidos.

Quando você consegue fazer isso, a vida muda o rumo. Tudo começa a dar certo, os planos saem do papel, a vida financeira flui e o grande amor da sua vida chega. Parece exagero, não é? Mas, acredite, é exatamente isso que acontece! Porque você começa a desintoxicar seu coração e a perceber que a maldade que via nas pessoas, na verdade, era uma distorção da realidade alheia.

Deixe a maldade e a carga da consciência pesada para quem caminha com elas. Mantenha em sua vida pessoas humildes e sinceras. Dessas que carregam em sua essência a generosidade de um coração limpo e de uma alma leve e segue tua vida. Tudo é aprendizagem. Enquanto as pessoas boas nos ensinam a amar, as más nos ensinam a não ser como elas.

O que te faz diferente nesse mundo de pessoas tão iguais?

O que te faz diferente nesse mundo de pessoas tão iguais?

Imagem: Vadim Georgiev/shutterstock

Todos nós desejamos a singularidade de existir, mas de uma maneira que não nos distancie das outras pessoas. De modo algum, na verdade, queremos destoar da humanidade comum.
Não queremos ser príncipes, ou princesas, confinados em castelos, queremos ser plebeus e viver no meio da plebe, mas com um toque de realeza nesse nosso jeito único de existir.

O príncipe Harry do Reino Unido está aí para provar. Sendo diferente, fez tudo igual a todo jovem do seu país. Recusou terminantemente o papel de príncipe que lhe foi atribuído, enfrentou a disciplina comum das academias militares, e foi para a guerra como um soldado qualquer.

Assim somos todos. Queremos ser únicos, desde que essa individualidade não nos faça diferentes, e essa aparente dicotomia entre dois paradigmas revela o que todos nós sabemos: que pertencer é a maior das necessidades humanas.

Toda criança, desde que nasce, deseja pertencer, inicialmente à família de origem, e depois a um grupo social que se amplia conforme o seu desenvolvimento.

É muito estranho quando uma criança não quer contato com outras crianças, quando ela não interage com os primos, ou com os coleguinhas da escola. Caso isso ocorra, os pais irão se preocupar e procurar ajuda especializada.

No entanto, conforme a vida se desenrola, algo oposto precisa acontecer: aquele jovem e aquela jovem cujo envolvimento social era marcado por uma forte presença, não demonstra mais o desejo de pertencer de forma tão efetiva.

Um dia, de repente, o comportamento de manada não lhe agrada mais. Ele desiste voluntariamente do lugar que conquistou no grupo social, e essa desistência não tem nada a ver com rebeldia, mas com algo intrínseco ao seu temperamento recém transformado.

Isso é bom ou é ruim? Isso não é bom e nem ruim, é apenas um jeito de existir diferente dos outros jeitos, mas que é altamente desejável para que possamos encontrar a nossa missão de vida. Quando ocorre, não nos afastamos da sociedade, mas servimos à sociedade com o nosso equipamento individualizado, o que nos faz mais úteis para Deus e para os homens.

C. S. Lewis, autor de vários livros cristãos, disse em seu livro “O Grande Abismo” que “não vivemos num mundo em que todas as estradas são raios de um círculo, e se seguidas por uma longa distância se aproximarão gradativamente para se encontrarem no centro. Na verdade vivemos num mundo em que toda estrada, depois de certa distância, se bifurca em duas, para em seguida, bifurcar-se novamente.”

O que Lewis está querendo nos ensinar é que a partir de uma determinada fase do caminho, é preciso fazer escolhas e dizer ao mundo dos iguais o que nos faz diferentes.

Seria muito estranho que na maturidade as pessoas fossem tão assemelhadas como o eram na adolescência. Seria inconveniente. Talvez até um pouco ridículo.

A vida não caminha em direção à unidade, mas em direção à diversidade.

Por isso, quando você se perceber diferente, trabalhe a favor da diferença e não contra ela. Não tente se moldar ao grupo de maneira a ser diluído nele, antes permita que o grupo absorva algo de você.

O que te faz diferente é a nota explicativa na pintura de um quadro abstrato.

Quando uma pessoa diferente avistar a pessoa diferente que você é, ambas as diferenças se explicarão. Mas, se uma delas esconder a sua diferença, impedirá que o outro a reconheça, escondendo a nota explicativa que jamais será decodificada.

Esse é um grande risco: que os diferentes sejam confundidos com os iguais. E que por causa do disfarce, toda a singularidade seja perdida no meio do rebanho.

Como disse C. S. Lewis no mesmo livro: “ À medida que crescem em perfeição, as criaturas vão se afastando cada vez mais umas das outras. O bem conforme amadurece, vai se tornando cada vez mais distinto, não apenas do mal, mas também de outro bem.”

Isso explica Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, e algumas outras raras criaturas, distintas tanto do mal quanto do bem comum.

Guardadas as devidas proporções, que as nossas singularidades sejam tão significativas que, no final da vida, possamos ter feito a diferença que apenas nós podemos fazer, no lugar que ocupamos no mundo.

Somente quem me ama pelo que eu sou tem o meu melhor

Somente quem me ama pelo que eu sou tem o meu melhor

Haverá sempre alguém incomodado com o nosso jeito de ser, com a nossa vida, mesmo que sejam pessoas com as quais não tenhamos um mínimo de laço afetivo. Porque sempre haverá pessoas infelizes e mal amadas querendo distribuir infelicidade a quem possa, gratuitamente ou por pura maldade, que é a única coisa que possuem dentro de si.

Cada um dá o que tem, já nos ensina a sabedoria popular, ou seja, estaremos sujeitos a acumular dissabores, caso queiramos receber das pessoas aquilo que elas são incapazes de oferecer. Da mesma forma, infeliz de quem queira mudar o outro, para que ele corresponda às próprias expectativas. Ninguém muda por ninguém, a não ser por si mesmo, quando sentir dor por não mudar.

Além disso, existe quem gosta de si mesmo, ama-se o suficiente para não sucumbir a descabidas exigências alheias, mesmo que sejam de pessoas importantes em sua vida. Quem tem a certeza de que caminha em direção à realização de seus sonhos, com integridade, não hesita, não tem dúvidas, não se anula. As certezas que carregamos fortalecem tudo o que nós é verdadeiro, é nosso de fato – e isso ninguém nos rouba, nos tira.

Não podemos abrir mão de nossa essência por nada nem por ninguém, pois somente nós mesmos é que sabemos o quanto custou chegar até ali, o quanto doeu o enfrentamento de nossa escuridão, para fazer valer toda carga afetiva que nos sustenta. O que somos requer lida, suor, noites insones, lágrimas no silêncio da solidão, rompimentos com o que afasta, machuca. Ser o que se é não é fácil, por isso devemos prezar tanto pela nossa integridade.

Por mais que demore, por mais que pareça impossível, alguém gostará de nós desse jeito nosso e nos amará por inteiro, inclusive valorizando tudo aquilo que já foi desprezado por outros. Porque, quando somos e estamos completos, atraímos o que e quem é completo, sem metades, sem migalhas, sem parcelamento afetivo. Sejamos, pois, intensos, para que o amor resida em nossa imensidão, de forma digna e com demora. Para sempre.

Imagem: nd3000/shutterstock

Para abraçar uma nova vida a gente precisa se desgarrar da velha

Para abraçar uma nova vida a gente precisa se desgarrar da velha

Atire a primeira foto rasgada quem nunca teve dificuldades em se despedir de um amor que já tinha dado tudo o que tinha que dar. Dê uma “sambadinha” aí na cara dos mais sensíveis, quem nunca se comoveu no final de seus próprios enredos. Levante a mão, sem hesitar, quem nunca teve receio de se mostrar com medo de ser julgado.

Assim somos nós, seres humanos em infinitos processos de transição, oscilando entre a suposta paz das situações estáveis e o fogo no peito das arrebatadoras paixões inesperadas. É na hora do sufoco que a gente se dá conta do tamanho do fôlego que tem. É na hora do aperto que a gente mede a capacidade de se moldar a novos espaços ou de alargar novas possibilidades.

Sentadinho na sombra é que não dá para viver, certo? Mais cedo ou mais tarde, essa aparente moleza cobrará de nós o despreparo para enfrentar demandas ou, por que não dizer, aguentar o tranco.

O corpo humano é uma estrutura cheia de encaixes, protuberâncias e reentrâncias, projetado para se mexer. A falta de movimento, seja do ponto de vista orgânico ou filosófico, traz como sequela a falta de recursos para abraçar oportunidades, escapar das anunciadas ciladas ou desviar das pedradas gratuitas.

O perigo maior é a gente acabar feito aquelas plantas ornamentais que vivem grudadas em outras, nem tão bonitas, mas cuja anatomia projeta raízes em busca de substrato e “braços” para o alto em busca da ilimitada capacidade de florescer, frutificar ou folhear o ambiente com suas protetoras e afáveis estruturas.

Uma vez assumida essa postura de enfeite e dependência, fica notavelmente mais difícil romper com a preguiça de arcar com os próprios sonhos, com as próprias necessidades e habilidades de fazer a diferença e o diferente.

As descobertas mais incríveis moram no peito de gente destemida, persistente e inconformada. É a não aceitação das imposições que fazem a gente enxergar além do óbvio e ver saídas onde antes só éramos capazes de vislumbrar portas fechadas e ruas sem saída.

Para abraçar uma vida nova a gente precisa se desgarrar da velha. Fazer uma malinha para os desenganos, as limitações e os comodismos, levá-los com todo amor à estação de embarque e acenar de longe até vê-los ganhar outros caminhos. Deixá-los ir.

E assim que a despedida se consumar, dar meia volta no sentido oposto e perder o interesse de olhar para trás. Talvez, bem ali ao nosso lado, logo à frente ou lá no alto, haja alguma missão inteiramente disponível à espera de alguém com coragem e disposição.

Um passo depois do outro, e quem sabe no meio de uma dança, a gente não acabe descobrindo que só o que nos faltava era mudar a música, e ouvi-la, e permitir que ela nos conduza àquele lugar que antes era um sonho, e agora é a nossa própria razão de viver.

Imagem meramente ilustrativa: cena do filme “Estrelas Além do Tempo”.

Como você pode chamar de amor, se você mais chora do que ri

Como você pode chamar de amor, se você mais chora do que ri

Imagem: Viktor Gladkov/shutterstock

Como você chama de amor algo pesado e que tira a sua paz? Se você, no final do dia, tenta conter o choro, ao lembrar daquelas palavras tão grosseiras? O amor é leve, o amor é bonito. Esse amor que a culpa e faz você se achar problema está mais para apego do que para amor.

Como você chama isso de amor, se sofre, se tenta acreditar que as coisas vão melhorar, mas, na primeira oportunidade, vê-se com feridas novamente. Não estamos livres de nos magoar quando amamos, mas temos a oportunidade de não cometer o mesmo erro duas vezes, temos a chance de ser a melhor versão de nós mesmos para o outro.

Você chama isso de amor? O choro engasgado, os disfarces em público para parecer bem. Você acha mesmo que isso é amor? Quem não demonstra se importar com as suas dores e sempre despeja palavras que ferem?

Não, isso pode ser tudo, menos amor. O amor não segue teorias e lógicas, nem tem como defini-lo. Mas, de uma coisa eu sei: o amor acrescenta e faz tudo ficar melhor. Não é fardo, muito menos tempestade. O amor é abrigo.

Você mais chora do que ri, ouve mais desculpas e promessas do que eu te amo. Eu sei que você está tentando acreditar que é uma fase e que vai dar certo. Também sei que cansou de acreditar, muitas vezes, mas que, de alguma forma, não consegue se desligar disso.

A minha pergunta ainda é: desde quando sofrer é sinônimo de amar? Como diz uma música, sinônimo de amor é amar. É reciprocidade.
Não more sozinho numa história de amor, não confunda apego com sentimentos nobres e não permita que o outro a machuque com a indiferença ou que use da sua bondade para lhe ferir.

Desapegue de quem não lhe quer bem, de quem não se importa com o que você sente. Desapegue desse apego que é tudo, menos amor.

Psicólogo afirma que não existe cura para a ansiedade. Leia e entenda.

Psicólogo afirma que não existe cura para a ansiedade. Leia e entenda.

Imagem: Arman Zhenikeyev/Shutterstock

A ansiedade é um mal que pode gerar consequências negativas tanto na vida social quanto na profissional de uma pessoa e ter controle sobre ela pode exigir bem mais do que simples força de vontade.

Em alguns sites foi publicado que 33% da população mundial sofre com transtorno de ansiedade – número que estaria de acordo com suposto levantamento feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, como a reportagem não conseguiu localizar nenhuma informação oficial da instituição, consideramos tal porcentagem incerta até o momento.

O que encontramos de fato foi um relatório indicando que transtornos mentais representam 30% da carga mundial de doenças não mortais.

É importante frisar que, embora depressão e ansiedade se pareçam em muitos aspectos, não são a mesma coisa.

“São dois transtornos considerados irmãos, já que muitas pessoas com ansiedade acabam apresentando concomitantemente sintomas depressivos, e o mesmo acontece com pessoas deprimidas, que apresentam sintomas ansiosos”, explicou o dr. André Pereira, doutor em Psicologia pela UFRJ, em entrevista exclusiva à CONTI outra.

André, que possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em psicoterapia cognitivo-comportamental, atuando principalmente com transtornos de ansiedade e humor, falou sobre as principais características e tópicos que envolvem o transtorno.

Confira abaixo:

DEFININDO UM QUADRO

Sentimentos de ansiedade aparecem quando nos vemos desafiados por uma situação potencialmente perigosa. Nossos ancestrais tinham que se preocupar com a escassez de alimentos, ataques de animais e outras tribos, intempéries climáticas etc. Nos nossos dias, as preocupações são com a perda do emprego, com a violência urbana, com a perda de status social, com a previdência etc… Independente do foco da preocupação, os sentimentos de ansiedade sempre ocorrem quando avaliamos uma situação como ameaçadora e quando percebemos nossos recursos para lidar com estes perigos limitados.

Os quadros de ansiedade considerados patológicos compõe o que se denomina Transtornos de Ansiedade e abrangem transtornos específicos, tais como, Transtorno de Pânico, Agorafobia, Fobia Específica, Transtorno de Ansiedade Social, Transtorno de Ansiedade Generalizada entre outros.

SINTOMAS

Entre os sintomas físicos mais comuns dos transtornos de ansiedade estão: taquicardia, sudorese, rubor, tremor, formigamento, náuseas, falta de ar, inquietação, entre outros. Outros sintomas incluem, preocupação intensa e difícil de controlar sobre determinado assunto, sentimentos de medo, impotência, incapacidade, irritabilidade, tensão muscular, insônia e outros.

Todos os seres humanos em algum momento da vida experimentarão alguns destes sintomas. Isto se dá devido às reações de ansiedade serem adaptativas para lidarmos com situações ameaçadoras.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico pode ser feito por um psiquiatra ou psicólogo, que levará em consideração as queixas do paciente, o foco do problema, as maneiras com que a pessoa já tentou lidar com o mesmo, o impacto dos sintomas em sua vida. Podem ser usadas entrevistas, escalas ou inventários específicos para confirmação da hipótese diagnóstica. Entretanto, o diagnóstico é estritamente clínico.

CAUSAS

A etiologia dos transtornos de ansiedade são multifatoriais. Sabe-se que pessoas que apresentam o quadro têm mais chances de terem parentes também diagnosticados com o transtorno. Isso aponta para uma influencia genética. Porém, isto não é tudo. Fatores ambientais podem facilitar o aparecimento ou não do transtorno. Situações de estresse marcantes, problemas familiares, sociais, pais e mães ansiosos, podem favorecer a que seus filhos também desenvolvam um transtorno de ansiedade.

PESSOAS MAIS ATINGIDAS

Em geral, para a maioria dos transtornos de ansiedade, as mulheres são mais acometidas que os homens. Não se sabe ainda o porquê desta maior frequência.

DIFERENÇA ENTRE ANSIEDADE E DEPRESSÃO

Uma diferença importante é que, enquanto a ansiedade é mais voltada para o futuro e para sinalização de ameaça, a depressão se remete mais ao passado, para sinalização de perda. Sintomas comuns entre os dois transtornos envolvem: irritabilidade, agitação, insônia, fadiga, dificuldade de concentração.

Muitas vezes os sintomas de ansiedade são secundários a outros transtornos, como um quadro depressivo, e com o tratamento do último, o primeiro também entra em remissão.

DOENÇA?

Assim como ocorre com a pressão arterial, o fato de termos pressão não é uma doença. Passa a ser considerada uma doença, isto é, hipertensão arterial, quando a mesma, em repouso, atinge uma determinada marca que aumenta muito a chance de complicações cardiovasculares.

O mesmo acontece com a ansiedade. Ela só se torna patológica a partir de um determinado ponto, onde a intensidade, frequência e impacto na vida da pessoa prejudicam de maneira marcante seu funcionamento. Quando uma pessoa, por exemplo, deixa de dirigir, ou de voar de avião, e isso traz prejuízo para sua vida, consideramos um caso de transtorno de ansiedade.

USO DE MEDICAMENTOS

Cada caso precisa ser avaliado individualmente. Porém, casos graves, em geral necessitam sim de medicação. O uso de medicamentos pode diminuir os níveis de ansiedade e facilitar o engajamento do paciente na terapia, trazendo um conforto inicial, até que ele aprenda a lidar de maneira mais eficiente com os gatilhos que lhe provocam ansiedade e possa, então, diminuir e retirar a medicação. Casos mais leves, podem se beneficiar do tratamento psicológico sem que seja necessária a utilização de medicamentos. Algumas práticas como relaxamento e meditação demonstram uma ótima eficácia neste sentido.

CURA

Justamente por não ser uma doença a ansiedade não tem cura. Podemos, sim, diminuir a intensidade da mesma para níveis funcionais, porém não podemos falar em cura. Seria mais adequado falar em regulação da ansiedade.

EQUÍVOCOS

O maior equívoco é buscar eliminar qualquer ansiedade de nossas vidas. Isso não é possível e nem é funcional. Podemos aprender a lidar com níveis moderados de ansiedade e manejá-las para que não nos atrapalhe a conseguirmos alcançar nossos objetivos.

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