Como estamos nos relacionando?

Como estamos nos relacionando?

Imagem de capa: Rawpixel.com/shutterstock

No mundo cada vez mais utilitário que vivemos, às vezes o que parece como genuíno afeto, pode se mostrar apenas interesse se olharmos com mais atenção.

Tem pessoas que só se aproximam das outras ou fazem um favor, agindo de forma gentil, quando isso se torna conveniente, quando vão lucrar de alguma forma com isso.

São pessoas que, infelizmente, não sabem ter uma relação de amizade baseada no carinho, afinidade e interesses em comuns. Veem o outro como uma forma de obter alguma coisa, não como amigo, mas como um contato a ser acessado se for preciso, um networking, uma conexão que poderá ser valiosa a longo prazo.

Não dão ponto sem nó, tem sempre um motivo, uma agenda para fazer as coisas. São pessoas que só veem o outro como uma moeda de troca, como uma forma de capitalizar, de ganhar influência, status ou o que essa pessoa tenha para oferecer.

Às vezes, algumas pessoas agem assim não por serem más, mas porque sempre agiram assim, de forma egoísta e interesseira, mas nunca viram problema nisso. Pode ser por viverem com a marcha engatada, ou no piloto automático e nunca pararam para refletir como elas são autocentradas e narcisistas.

Pessoas que ouvem, mas não escutam o que o outro tem a dizer, pessoas que falam, mas não se comunicam, não se conectam com as pessoas. Se relacionam, mas não criam laços duradouros, tem muitos conhecidos, mas não amigos de verdade. Porque pra isso é preciso intimidade, aprofundamento, entrega para poder florescer uma ligação de verdade.

Dizem que existem dois tipos de pessoas no mundo: aquelas que se dão, que se doam aos outros e a comunidade ao seu redor. E aquelas que tomam as coisas, que vivem pedindo coisas, favores, ajuda ou qualquer coisa que elas possam precisar. Se relacionam dessa forma, se aproximando de pessoas que irão ser úteis em algum momento.

Acredito que invariavelmente, todos nós já fomos em algum momento ou circunstância uma pessoa que se prontificou a ajudar o outro e em outra situação alguém que precisou de ajuda e pediu um favor a alguém. E não há nenhum problema nisso, afinal, a vida é assim mesmo, às vezes aperta, às vezes afrouxa e acredito que todo mundo precisa de ajuda em alguma coisa, em algum momento.

Isso é saber ser humilde e exercitar a auto-análise para conseguir medir até onde podemos ir sozinhos e quando precisamos de ajuda. Acho que o importante é buscar um equilíbrio, ser o tipo de pessoa que está disposta a ajudar quando for preciso e também saber pedir ajuda quando for necessário.

É não fazer as coisas de caso pensado, usando os outros como peças de tabuleiro, calculando à frente, agindo de forma interesseira e querer sempre ganhar alguma coisa ou tirar vantagem da situação de alguma forma.

E como a gente faz isso?

Sendo nós mesmos, agindo de forma autêntica, se relacionando com as pessoas e o mundo ao nosso redor de uma forma franca, genuína, sem subterfúgios. Não tendo nada debaixo do tapete para esconder, jogando limpo e agindo de peito aberto. Sem nenhum interesse a não ser criar laços de amizade e relações afetivas baseadas no carinho, no afeto e no prazer de estar na companhia do outro.

Pimenta nos olhos dos outros é colírio!

Pimenta nos olhos dos outros é colírio!

O limiar da dor varia muito de pessoa para pessoa. O que é tolerável para um, pode ser insuportável para o outro. Enquanto há quem sente numa cadeira de dentista, determinado a concluir o tratamento dentário sem usar anestesia… há, também, quem não se submeta a tirar a sobrancelha sem o milagre de uma pomadinha anestésica.

E tudo bem! Merece o nosso respeito, tanto um quanto o outro. Porque na hora do “Penha-Lapa”, como dizia minha mãe, é que a gente descobre até onde aguenta. É preciso ter em mente que existe uma boa dose de coragem, tanto na atitude de quem bate no peito e diz “Vem que eu dou conta!”, quanto na sabedoria de ser capaz de assumir que não se suporta mais um fardo, ou uma dificuldade.

A dor nos iguala em um aspecto mais profundo, entretanto: diante de uma situação dolorosa, todos nós – tanto os mais resistentes, quanto os mais sensíveis -, revelam facetas de personalidade que ficam adormecidas em períodos de conforto.

Se ao menos fôssemos capazes de sentir também quando é o outro que dói… quem sabe não descobriríamos que às vezes é a nossa luz que anda fazendo falta para iluminar onde o outro não pode, não consegue ou não está pronto para enxergar.

Situações dolorosas têm o efeito mágico de nos tirar do piloto automático. Muitas vezes, só nos apercebemos da força que possuímos, quando somos confrontados com uma situação-limite: a perda de uma pessoa querida, a privação de um bem que se conquistou, o desemprego, o fim de uma história de amor, a traição de um amigo…

O que não falta nessa vida são lições prontas para nos fazer descobrir que havia uma porção de outros jeitos para se dar. Jeitos que ficavam escondidos sob o véu da normalidade de uma vida protegida dos sobressaltos. Enquanto a gente olhava pela janelinha, no entanto, havia gente sem condições de viajar… mas vivemos ocupados demais com nossas próprias bagagens.

E é bem verdade que na hora do perrengue, bem naquela hora que falta o chão, que se chegou em queda livre ao fundo do poço, ou que se está morrendo de sede a quilômetros de uma fonte possível… nessa hora exata, nenhuma lição é aprendida… essa é a hora de doer mesmo, de reconhecer a natureza daquela dor, de entender se é uma dor que arde, aperta, queima ou apenas cutuca.

É só depois, quando passa o choque da ruptura, da perda ou da queda, é que a gente é capaz de ver alguma mensagem didática na tragédia que nos solapou de uma vida que “Puxa vida! Era tão boa e eu nem percebia!”.

É nessa hora que a gente entende que todos nós temos nossas limitações, que tudo nessa vida tem 50% de chance de dar certo ou errado, que apertar o cinto pode tanto nos aproximar de pessoas distantes, quanto nos afastar das pessoas mais próximas! Aprendizado!

A vida é uma escola que vive mudando de métodos, que vive revendo conceitos, que não se cansa de nos testar, mesmo antes de nos ensinar alguma coisa. E nessa escola, a gente fica muitas vezes “de recuperação”, repete de ano, consegue resultados medíocres ou tira notas máximas.

A questão é que tudo isso é difícil demais, justamente porque a gente é emocionalmente burro demais e NUNCA tira nenhuma lição do sofrimento, quando o sofrimento não bate diretamente na NOSSA porta! Pimenta nos olhos dos outros é colírio! Mas há pimenta de sobra nessa vida para todos nós! E é muito bom que a gente não se esqueça disso!

 

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “A menina que roubava livros”

Mulheres com cabelos brancos

Mulheres com cabelos brancos

Imagem de capa: T-Design/shutterstock

Minha mãe nasceu em 1933. O Brasil tinha menos de 40 milhões de habitantes. O presidente da República era Getúlio Vargas. Alguns anos depois estouraria a Segunda Guerra – que deixou mais de 50 milhões de mortos. Os bondes ainda trilhavam e os automóveis eram para os ricos.

Antes de completar 30 anos, mamãe tingiu seus cabelos. Na década de 1960, brasileiras com fios de cabelo branco era indicador de mau gosto e desleixo. Então ela – que sempre foi muito inteligente – fez a pintura preventiva. Pois melhor extirpar o mal antes que apareça. O fato é que lembro da mãe loira, caju, ruiva. Também recordo de suas melenas pintadas de preto.

Eu nasci em 1955. O Brasil tinha mais de 60 milhões de habitantes. Juscelino Kubitschek – o JK – seria eleito presidente da República. A Segunda Guerra havia acabado 10 anos antes. Os bondes começavam a disputar espaço com lotações e táxis.

Aos 40 e poucos surgiram meus primeiros fios brancos. Eu não os pintei. Não os despistei. O tema, antes tabu, virou polêmico. Gravei algumas reações. Eu no restaurante Mercado, em Pinheiros, aproxima-se da mesa um homem da minha idade exclamando: Parabéns! Finalmente uma mulher que não quer ser loira. Achei engraçado.

Logo no dia seguinte, teve uma senhora, com idade da minha mãe e cabelos tingidos, disparou enfática: Pelo amor de Deus, pinta esses cabelos. Já já você vai parecer uma velha coroca! Não fiz cara feia. Apenas pensei: Quem manda no meu cabelo sou eu. Assim como mando no meu nariz, na minha bunda, na minha escrita.

Também no salão que frequento na Vila Madalena, onde corto os cabelos com a ótima Laís, cansei de ouvir mandamentos da militância da tinta: Além de feio, o fio branco é mais grosso e ressecado. Se não quer tingir, passa henna. Pra que ficar com cara de velha?

É claro que fiz algumas teorias. A sociedade é mais complacente com o envelhecimento masculino do que com o feminino. Fugir dos cabelos brancos é camuflar a própria idade. Esconder as décadas é fingir-se longe da morte etc.

Agora não tenho mais fios nem mechas brancas. O branco virou maioria. E se tiver a ventura de seguir vivendo ficarei com os cabelos completamente brancos. Pois é assim que acontece. Estou na idade dos atenuantes da melanina, do brilho nos olhos, do vigor dos joelhos.

O fato é que gosto da minha cabeleira grisalha. Acho que tem seu charme e um tantinho de provocação à tradição. Mas de forma alguma faço da minha cabeça bandeira. Não advogo pelo cabelo branco. Saúdo o livre-arbítrio.

Resumo o samba: cada uma faça o que quiser da sua cabeça. Fique loira, ruiva, caju, azul, retinta, marrom, bege, rosa. Liberdade é sinônimo de infinitas possibilidades. Ruim é ouvir: Você não pode! Quando é claro que devemos poder. Tudo. Inclusive exibir a cabeleira branca.

Cada vez que eu insisto em você, eu desisto um pouco de mim

Cada vez que eu insisto em você, eu desisto um pouco de mim

Um dos maiores perigos que nossos sentimentos correm, quando nos relacionamos com alguém, vem a ser a possibilidade de os fragilizarmos, por conta de nossas próprias fraquezas e inseguranças. Não é difícil lidarmos com o que sentimos quando amamos alguém, ainda mais quando o outro não se entrega, não se mostra inteiro, nem pronto para estar ali junto.

Quando somos intensos e verdadeiros, quando apostamos todas as fichas e nos entregamos de corpo e alma a alguém, esperamos nada menos do que retorno na mesma medida. Embora cada pessoa aja conforme o que tiver para dar, a gente sempre acaba desejando que ajam como nós, porque parece que não conseguimos nos conscientizar de que nem todo mundo tem o mesmo coração que o nosso.

Criamos expectativas em relação a tudo e a todos, o que não é de todo ruim, uma vez que são as esperanças que nos motivam a não desistir daquilo que faz o nosso íntimo vibrar. Porém, quando esperamos demais, além da conta, achando que o outro mudará, que seremos valorizados e receberemos gratidão por tudo o que somos e fazemos, mesmo quando a realidade à nossa frente nos grite que ali nada florescerá, a gente acaba desistindo aos poucos da felicidade.

Depositar todos os nossos anseios e sonhos no outro, fazendo com que nossa felicidade se encontre fora de nós, tornando o que somos dependente do que o outro é, insistindo no que já acabou – ou nem começou direito -, acabará por nos distanciar de nossas próprias vidas. Quanto mais se insiste em pessoas e em coisas vazias de retorno, menos a gente se ama, menos a gente rega o amor-próprio, mais e mais desistimos de nós mesmos.

É muito penoso lidar com a rejeição, com a ausência, com o vazio de quem permanece ao nosso lado por comodismo, por conveniência, desviando o olhar a todo momento. E a gente acaba, muitas vezes, tentando lutar por algo que já nem existe mais, inutilmente, esgotando forças que deveriam ser canalizadas ao fortalecimento do nosso amor próprio. Portanto, há que se ter sabedoria suficiente para largar mão de tudo o que não mais procura pelas nossas mãos. Afinal, desistir, nesses casos, equivalerá à nossa própria salvação.

Imagem de capa: Nasgul/shutterstock

Cinema ímpar: 10 filmes importantes que disseram muito sobre a vida

Cinema ímpar: 10 filmes importantes que disseram muito sobre a vida

Você pode até achar que os filmes abaixo não tiveram muito o que dizer. Ou que não trouxeram nada em especial. Pode até achar que foram perda de tempo. Talvez você esteja certo. Mas talvez não esteja. Na dúvida, tente de novo. Ou comece essa lista pela primeira vez…

1. Meu Jantar com André (1981) – Dir. Louis Malle

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Wallace Shawn, fazendo o papel dele mesmo, sai para jantar com um amigo que não via há muito tempo, André Gregory (também fazendo o papel dele mesmo) e os dois travam um diálogo existencial durante a refeição.

2. O Homem que Incomoda (2006) – Dir. Jens Lien

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Andreas desembarca numa cidade estranha sem lembrar como chegou ali. É recebido de forma cordial e inicia uma vida regrada, com trabalho, casa e até uma mulher encantadora. Mas rapidamente percebe que tem alguma coisa errada neste mundo perfeito. As pessoas não parecem sentir emoções genuínas e só falam de trivialidades. Ele tenta escapar da cidade mas descobre que não tem saída. Isso até conhecer Hugo, que achou uma fissura no porão de casa, através da qual se ouve uma bela música. Seria esta uma comunicação com o “outro lado”?

3. No Topo do Poder (2016) – Dir. Ben Wheatley

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O longa adaptará o livro futurista de J.G. Ballard publicado em 1975, sobre uma sociedade estruturada numa torre de condomínio gigantesca, projetada para isolar seus moradores do mundo exterior. Porém, o que era para ser o local perfeito para viver, uma guerra entre classes acontece, recriando um novo mundo governado pelas leis da selva.

4. Ensina-me a Viver (1971) – Dir. Hal Ashby

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O relacionamento entre um rapaz de 20 anos com obsessão pela morte, que passa seu tempo indo a funerais ou simulando suicídios, e uma senhora de 79 anos encantada com a vida. Eles passam muito tempo juntos e, durante esta convivência, ela expõe a beleza da vida.

5. Garotos Incríveis (2000) – Dir. Curtis Hanson

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Grady Tripp (Michael Douglas) é um professor universitário que escreve em suas horas vagas. Atormentado por um bloqueio de escritor, ele descobre que sua amante, Sara Gaskell (Frances McDormand), que é casada, está grávida de um filho dele. Além disto, tem que lidar com uma de suas alunas, Hannah (Katie Holmes), que está apaixonada por ele e ajudar um de seus alunos, James (Tobey Maguire), a encontrar uma rara jaqueta que teria sido usada por Marilyn Monroe.

6. Um Mundo Perfeito (1993) – Dir. Clint Eastwood

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Texas, 1963.

Butch Haynes (Kevin Costner), um presidiário, foge da prisão, sendo perseguido por Red Garnett (Clint Eastwood), um policial implacável.

Ao entrar na casa de uma família leva consigo Phillip Perry (T.J. Lowther), um garoto de sete anos, como refém.

Mas contrariando suas expectativas eles se tornam amigos, sendo que este relacionamento transforma a vida do menino.

7. Aquele Que Sabe Viver (1962) – Dir. Dino Risi

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No verão de 1962, Bruno, um playboy quarentão, leva Roberto, um tímido estudante de direito, para uma viagem de dois dias pelas estradas de Roma e da Toscana. Neste período, vivem uma série de aventuras e desventuras, com um desfecho surpreendente.

8. Paterson (2016) – Dir. Jim Jarmusch

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Paterson é um motorista de ônibus que mora na cidade de Paterson, New Jersey – ele e a cidade dividem o mesmo nome. Diariamente, Paterson vive uma simples rotina: dirige pela rota diária, observa a cidade, ouve fragmentos de conversas, escreve poesias num caderno, passeia com o cachorro, bebe uma cerveja no bar de sempre e, finalmente, volta para casa, para a esposa Laura. Ela, em contraste, vive num mundo que sempre muda, com novos sonhos diários. Eles se amam. Ele a apoia no alcance das novas ambições, ela festeja nele o dom da poesia. “Paterson”, o filme, observa os triunfos e derrotas da vida diária com poesia evidente nos menores detalhes.

9. Sonhando Acordado (2006) – Dir. Michel Gondry

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Stephane Miroux (Gael García Bernal) vê seus sonhos invadirem constantemente a vida real. Quando dorme, se transforma no carismático apresentador do programa ?Stephane TV?, explicando sua ?ciência dos sonhos? na frente das câmeras de papelão. Na vida real, tem um trabalho chato numa editora de calendários em Paris. Ele flerta com a vizinha Stephanie (Charlotte Gainsbourg), mas a moça não está disposta a encarar alguém como ele. Guy (Alain Chabat), colega de trabalho de Stephane, até tenta ajudá-lo na conquista, mas nada funciona. Incapaz de chegar ao coração de Stephanie na vida real, Stephane procurará as respostas em seus sonhos.

10. O Fim da Turnê (2015) – Dir. James Ponsoldt

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O filme mostra a entrevista de cinco dias do jornalista David Lipsky com o aclamado escritor David Foster Wallace, que aconteceu em 1996, durante a turnê de lançamento do novo livro de Wallace, “Infinite Jest”.

Moça, não duvide da sua capacidade de amar novamente

Moça, não duvide da sua capacidade de amar novamente

Você já tentou muitas vezes, sei bem. Entregou tudo o que tinha de melhor para tantos amores, que até se esqueceu como começar de novo. Mas você não tem culpa das histórias que terminaram. É tempo de seguir em frente e de acreditar no que você merece. Moça, não duvide da sua capacidade de amar novamente.

A gente só sabe se vai ser amor – mais uma vez, quando entendemos mais de nós. Quando, depois de um tempo, permitimos que o coração não fique seco, ranzinza e descrente. Dá um trabalhão, verdade. O que é quebrado hoje não ficará novinho em folha no dia seguinte. Leva uns desencontros reencontrar uma estabilidade, uma paz para ser vivida a dois. Mas tudo bem. Tudo bem mesmo. Você precisa aceitar que não adianta se cobrar tanto. Primeiro porque amor forçado é carência e posse. E segundo, porque você é muito mais do que todos os outros abraços que não ficaram. Acalma essa alma. Não tenha pressa para morrer de amor. Mas seja urgente para vivê-lo dentro de você.

Cuide dos seus sentimentos com calma e paciência. Existem amores para todos, inclusive para você. Os que já vieram, permaneceram o quanto puderam. Deixaram pedaços e espaços para que aprendesse mais sobre si. Nada disso foi em vão. Nada disso foi por acaso.

Moça, não duvide da sua capacidade de amar novamente. Não desista de provar sorrisos e beijos intensos. Não fique sentada esperando qualquer amor aparecer. Inclua, na sua rotina diária, novos verbos e adjetivos. Moça, você é capaz de tudo – mas que seja amar no seu presente, para depois chegar no futuro do outro.

Imagem de capa: Amar não Tem Preço (2006) – Dir. Pierre Salvadori

Respeito não deveria ser artigo de luxo. Mas deveria ser um aplicativo emocional vindo de fábrica.

Respeito não deveria ser artigo de luxo. Mas deveria ser um aplicativo emocional vindo de fábrica.

São nobres os indivíduos que reconhecem o espaço do outro. Que entendem o respeito como algo bonito e importante nos dias de hoje. Mas, infelizmente, ainda há quem encare o ato de respeitar uma aberração, no qual ele só funciona se for praticado em benefício próprio. Porque quando se trata de entregar a mesma reciprocidade, somos seletivos.

A verdade é que estamos vivendo sob regras estranhas ao falarmos do respeito. Num dia queremos que ele nos abrace em relação aos assuntos que nos interessa e nos emociona. Noutro, agimos conforme uma vontade egoísta, julgando e apontando atitudes que nós ignoramos quando nos convém. Estamos confundindo dizer o que queremos com respeito. Estamos passando por cima de uma educação sentimental em prol de verdades momentâneas. É cada vez mais comum, alguém chegar e expor o que pensa, sem mesmo construir uma preocupação para com o outro e de como aquele comentário ou atitude irá afetá-lo. Em tempos de redes sociais, isso é cada mais vez evidente e alarmante.

Não é que não tenhamos liberdades e aberturas o suficiente para esclarecermos pontos de vista. O problema é essa quantidade assustadora de “falo o que penso e dane-se” quem não gostar. Ou a desculpa clássica do mundo virtual, “quem mandou publicar”? É claro que existem casos e casos. Generalizar usuários e conteúdos seria, inclusive, uma forma camuflada de controle. Mas não é isso. Apenas seríamos muito mais unidos e proveitosos se usássemos do mesmo respeitar que suplicamos diariamente nas ruas, caso também o trouxéssemos para curtidas, comentários e compartilhamentos.

Pouca gente lê o que consome na internet. Pouca gente reflete sobre o que gosta e não gosta na internet. A facilidade das informações vem criando o “atire primeiro e atire mais depois”. É cansativo, tóxico e, por que não, entristecedor? Claro que seria utópico demais esperar mudanças de comportamento em larga escala. Mas será que não poderíamos, com um pouco mais de disposição, tentarmos algo diferente?

Respeito não deveria ser artigo de luxo. Mas deveria ser um aplicativo emocional vindo de fábrica. Em qualquer lugar, em qualquer dia, respeitar é uma necessidade urgente. É questão de amor público, sabe? Porque já faz um tempo que venho querendo dizer, respeito não é uma moeda de um lado só.

Imagem de capa: Tudo Pode Dar Certo (2009) – Dir. Woody Allen

Não queira saber quem eu sou. Hoje eu sou novidade!

Não queira saber quem eu sou. Hoje eu sou novidade!

Imagem de capa: Masson/shutterstock

Coisa chata é passar a vida atendendo às necessidades de se contextualizar. Para impressionar, muitas vezes a verdade passa longe e a gente apela para uma multidão de personagens e sonhos ocultos do que gostaria de ser.

Essa compulsão em se apresentar por completo, em se virar do avesso para que o outro conheça, avalie e julgue, em detalhes enfadonhos e desnecessários…

Eu, particularmente cansei de andar com a plaquinha de identificação. Agora me interessa ser novidade! Novidade para quem chega, para quem já achava que conhecia, novidade para mim!

A vida exige uma dinâmica onde não cabem mais formatos duros e embalagens que não sejam flexíveis. Eu até acho que sei quem sou, mas depende do contexto, sempre.
E não dá para apresentar o pacote completo o tempo todo, entubar no outro toda uma construção de experiências, certezas, senões e pensamentos.

Quando a gente conhece alguém, geralmente sente algo próximo de prazer, indiferença ou antipatia, respeitadas as variações de intensidade de cada encontro. É a sensação que abre as portas para uma relação, ou não. Adiante virão as descobertas, não é preciso apressar. Até o que gente tenta seconder, aparece. Não há nenhuma necessidade de fazer uma longa e detalhada exposição, de se contextualizar no mundo e no tempo, de encher o potinho de paciência do outro.

É bom ser novidade, carregar pouca coisa, caprichar no sorriso e na boa conversa como cartão de visita. É bom deixar a bagagem guardada, para ser usada no momento necessário e não viver arrastando e colocando no colo dos outros a todo instante.

As pessoas esperam de nós o que esperamos delas. A leveza de um encontro está diretamente ligada ao que se troca nele. Se entregamos uma carga de informações gigante, cansamos e entediamos quem nos ouve.

De vez em quando é bom experimentar a sensação de novidade!
Hoje eu acordei em branco e pronta para voar como uma folha de papel ao vento!

Sobre a (misteriosa e fascinante) arte de seguir em frente

Sobre a (misteriosa e fascinante) arte de seguir em frente

Imagem de capa: Vitalii Nesterchuk/shutterstock

Que atire a primeira pedra quem nunca desanimou. A vida é feita de altos e baixos. É necessário perceber que é assim com todo mundo. Comigo, com você e até com o vizinho que aparenta ter a vida perfeita. Apesar disso, acho urgente apreciar cada momento, pois todo instante traz importantes lições.

Eu vivia um período complicado. Tinha terminado um relacionamento longo e estava prestes a voltar para Campinas, minha terra natal. Tentava (desesperadamente) acreditar que, quando uma porta se fecha, outro ciclo surge, instantaneamente e feliz. Na prática, não é bem assim. Qualquer término é, no mínimo, doloroso e precisamos passar pelo período de luto.

Entre uma lembrança e outra, me peguei observando os milhares de frequentadores que existiam no metrô. Cercada por estações, trilhos e trens, percebi os muitos encontros, de beleza e de vida, próximos a mim.

Não lembro ao certo qual estação estava. Lembro apenas que era a linha azul e que, no meu vagão, um casal discutia sobre a curtida que ele deu nas fotos do Facebook de uma amiga. Não sei se a pivô da discórdia tinha postado fotos de biquíni. Só sei que gerou ciúmes. Confesso que ri mentalmente do conflito. No fundo achei que o moço estava feliz com a demonstração de afeto dela. (Ciúmes, em alguns poucos casos, pode sim, servir como uma simples prova de amor).

Mas naquele vagão, ninguém me chamou tanta atenção quanto aquele homem de gravata frouxa, solitário, quatro assentos a frente do meu. Tinha os olhos baixos, verdes e avermelhados, que levantavam as vezes para olhar a janela. Talvez tivesse chorado um pouco, aquele choro silencioso de homens fortes que aceitam a derrota como uma intrusa inoportuna. Era bonito.

Apostei (comigo mesma) que estava triste. Me instigou (sincera) curiosidade e fiquei divagando sobre sua personalidade. Imaginei que poderia ter a alteridade que se vê em três ou quatro pessoas durante toda a vida. Enquanto isso, seguimos para a Sé.

Sentei mais perto (discretamente) apenas para observá-lo. Passou a mão entre os cabelos pretos, lisos e divididos ao meio. A barba estava por fazer. Vi seus ombros (largos) abaixarem como se fossem abraçar o chão. Permaneceu assim até abrir a porta da próxima estação. Supus que desceria no Paraíso. Não desceu. Parecia um anjo caído.

O telefone dele tocou. Pegou (lentamente) o celular. Estranhei ter sinal dentro do vagão. Ouvi sua voz firme e decidida dizer: ‘Terminamos. Já está decidido. Vamos seguir em frente’. Desligou ou perdeu o sinal. Deitou a cabeça entre as mãos e voltou a olhar o chão. Suspirou. Deduzi que deveria ter posto fim em algum relacionamento. Estávamos quites.

Naquele instante, fruto de alguma guinadas do destino, me olhou. Devo ter ficado (irritantemente) vermelha, pois recordo de ter sentido minhas bochechas queimarem. Sempre fui tímida.

Levantei os olhos e nossos olhares se cruzaram. Uma sensação boa de consolo me tocou a alma. Estava viva e, apesar de toda a mudança de rota que estava passando, isso já era motivo para (profunda) gratidão.

Ele deu um leve sorriso. Sorri também. Um sorriso gratuito, de amizade e compreensão. Ficamos assim por alguns segundos. Em seguida, desci na Sé. Acho que, apesar de estranhos, nos entendemos e compartilhamos a mesma dor.

A vida é assim! De forma misteriosa e fascinante nos deparamos com pequenas surpresas pelo caminho.

É preciso seguir em frente, sempre com gratidão.

Substitua seu pedido de desculpas pela mudança de comportamento

Substitua seu pedido de desculpas pela mudança de comportamento

Imagem de capa: bondart/shutterstock

Ao falarmos em mudanças, a primeira definição que nos vem à mente é a material. Baseadas na competitividade social, muitas pessoas acreditam que a mudança do físico é mais importante do que o do comportamento e, por essa razão, vivem escravas do que podem consumir e aparentar.

Mudam de emprego ou carro para, além do conforto, usarem isso como cartões de visitas. Mudam de casa, mas não abandonam o parceiro violento. Mudam de cidade, mas levam o mesmo comportamento desonesto para a outra, mudam de médico, mas continuam com a mesma patologia.

Entenda: enquanto a mudança for apenas uma palavra solta, ela nunca proporcionará a efetiva transformação que esperam dela. Mudanças acontecem de dentro para fora e não o contrário.

Fernando Pessoa afirmava que a mudança era uma forma de respeito próprio: “Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa — não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio”.

Exercícios físicos sem dieta, não emagrecem. Querer economizar, sem parar de gastar não é possível e aprovação em concurso público sem estudo é ilusão. Então, o que nos leva a acreditar que apenas a força de vontade é necessária para alcançarmos nossos sonhos? O mundo precisa de gente com postura, de palavras o dicionário está cheio.

Queremos amigos fiéis, mas não perdemos a oportunidade de falar mal dos que temos. Queremos um relacionamento leve, mas somos ciumentos e possessivos. Queremos gentilezas, mas quando um mendigo pede ajuda, julgamos que o dinheiro será usado para comprar bebida. Pense bem: quem deve mudar: nós ou o mundo?

Aprenda, de uma vez por todas, que querer não é poder. Se assim fosse, estaríamos sarados, ricos e realizados sentimentalmente. O poder está no agir, no planejamento de metas, na ação diante dos seus sonhos e, isso inclui vida sentimental, sim.

Vida sentimental não é algo fácil. A convivência com alguém diferente reflete em divergências e discussões. Normal e compreensível. O problema é que, durante o relacionamento, em vez dos envolvidos respeitarem as diferenças, querem ditar regras de como o outro deveria ser.

É preciso entender que não devemos moldar o amor pela forma das nossas carências. Isso seria limitá-lo a algo muito mesquinho. Para sermos completamente felizes e não carregarmos culpas desnecessárias, precisamos entender que somos mutáveis e passíveis de erros e que, cada um, vive como acha certo.

Há pessoas que ofendem e até traem o parceiro, por não conhecerem a grandiosidade do sentimento dentro deles. Desconhecem o que sentem pelo outro, menosprezam o carinho dado e acreditam que sozinhos viveriam melhor. Mas, quando isso acontece a dor do arrependimento é tão grande que fazem de tudo para terem uma nova oportunidade. E, muitas vezes, merecem mesmo.

Há pessoas que fazem da segunda chance, a primeira, que precisam cair para se levantar melhor. E, a elas, uma única oportunidade dada é suficiente para escreverem uma história diferente. Da mesma forma que há pessoas maldosas que só pedem perdão para não ficarem sozinhas. Escravizam psicologicamente o outro, a ponto de acreditarem que não serão felizes com mais ninguém. Que fique claro: há pessoas que erram e mudam. Há pessoas que nunca mudarão. Por favor, não confunda!

A verdadeira desculpa é a mudança de comportamento. Não é em um jantar romântico ou durante uma viagem ao Caribe que as mudanças acontecem. Elas se efetivam no respeito diário, na fidelidade constante e nas escolhas que envolvem a vida a dois.  Pouco importa “desculpa” se ela não vier acompanhada de um arrependimento genuíno. Pouco importa ser tratada bem na frente dos outros, se quando estão a sós ele te ignora. Pouco importa se ela se diz fiel, mas elogia outros caras na sua frente.

Aprenda que mudanças acontecem de dentro para fora. Começamos a nos transformar quando não aceitamos migalhas, mentiras e ofensas. Mudamos quando trocamos as experiências ruins por esperanças de um futuro diferente. Então, mude! Transforme sua vida em algo maior. Seja mais generoso, mais gentil, mais humano. Se o outro não valorizar essa mudança e continuar com as mesmas atitudes abusivas, mude você de parceiro.

Se você quer viver sua verdade, apenas cuide-se e relaxe. Confia!

Se você quer viver sua verdade, apenas cuide-se e relaxe. Confia!

Imagem de capa: Julia Trotti

Se você quer viver a verdade na vida, a sua verdade, não deveria se importar muito em querer saber o que vai surgir pra você depois daquela esquina, aquela curva que você ainda não consegue ver e entender.

Não adianta se preocupar em prever, não adianta agir tentando moldar situações, pessoas, sentimentos… Tudo tem o seu jeito e momento. Também não adianta se prevenir demais. O que vale sim é se cuidar, de si mesmo e do seu entorno. O que vale é encarar os medos, olhá-los nos olhos e ver quão pequenos e tolos na verdade eles são, fundamentados em ilusões de controle, apoiados em estruturas sólidas que não existem nessa vida. Tudo é efêmero e movimento, o universo tem um ritmo que a gente desconhece.

Se você quer viver sua verdade, apenas cuide-se e relaxe. Confia!

O que surgir pra você será um presente bom, porque quando a gente quer o que é de verdade e se abre para isso, o que nos chega é cristalino e bom. Talvez seja diferente dos seus planos, dos seus ideais, dos ideais de mundo, dos sonhos concretos que insuflaram no seu peito e você nem sabe mesmo se são seus.

Mas quando a gente confia e se abre para a verdade, o universo conspira a nosso favor. Então, talvez pessoas que a gente não imaginava vão embora, sentimentos que pareciam fortes volatizem no ar, estruturas grandes desmoronem, talvez nasça uma flor em um cantinho que você nem costumava olhar. Talvez surjam coisas pra você que você nem imaginava. Então deixe de dar tanto peso e importância às suas expectativas. Deixe de valorizar tanto pessoas e coisas.

Valorize a sua presença, o seu estar no mundo, o seu dia.

Se você deu o seu melhor, é isso que vale. Se coisas se afastam é porque não entrariam confortavelmente na sua dança, no seu momento de alma. E que dor seria viver, investir energias num evento, num sentimento, numa pessoa que não faz parte naturalmente do seu caminho! Você só pode ser sua verdade e seguir em frente, e continuar andando nos seus passos.

Pare sim, às vezes, para admirar as paisagens, acampe um pouco num momento se for o caso, mas não se apegue, ande, seu lar de amor vai junto com você.
Que as mãos dadas que possam surgir venham espontaneamente e voem quando quiserem, ou parem um pouco para olhar os próprios medos. Mas você não precisa entrar junto, continue no seu próprio rumo.

Relaxado e em paz. Confia.

Que tudo é surpresa e verdade em cada passo que você der.

Nem todo mundo que você ama te abandonará

Nem todo mundo que você ama te abandonará

A sensação de abandono é muito dolorosa e nos amedronta ter de passar por isso. Parece que, quando assim nos sentimos, voltamos a ser aquela criança assustada em meio a uma multidão de estranhos, quando nos perdíamos de nossos pais, ou quando eles se atrasavam para nos pegar na escola. Quando nos vemos largados, esquecidos, sentimo-nos vulneráveis, frágeis, menos do que um nada.

Somos seres com necessidade de compartilhamento, de acolhimento, de sentimentos recíprocos, sendo desagradável e dolorido o retorno de um vazio que nada traz de volta, como se plantássemos sementes estéreis em terreno infecundo. Desde pequenos, ansiamos por sermos aceitos, primeiramente pelos nossos pais, mais tarde pelos amigos e por aí vai. Dá para ser feliz sozinho, quando optamos por ser solteiros, porém, é difícil encontrar a felicidade quando nos dão as costas enquanto pedimos exatamente o contrário.

Inevitavelmente, sentiremos o abandono de forma pungente, ao longo de nosso caminhar, pois veremos partir os amigos mais próximos, os familiares mais queridos, os momentos, os amores e desamores, por entre sorrisos e lágrimas, seja para outras cidades, outros moradas, outros abraços, seja para o mundo depois desse. As pessoas e os momentos simplesmente vão embora, com ou sem despedida, por mais que a gente lute contra, ainda que a gente implore e grite contra isso.

Mesmo assim, felizmente, conseguiremos manter junto de nós algumas pessoas, muitas lembranças, objetos, fotos, sonhos, seja lá fora ou aqui bem dentro da gente. Sempre haverá quem não desistirá de nós, quem acreditará no nosso melhor, quem aceitará nossas falhas, quem nos resgatará de nossas escuridões e nos reerguerá dos escombros de nossas derrotas. Haverá quem nos ame e nos acompanhe até o fim de nossas vidas. E haverá muito a ser guardado dentro do coração da gente.

Viver é assim mesmo, é uma surpresa atrás da outra, algumas boas, outras péssimas. É um partir e chegar de gente e de momentos, sem aviso prévio, muitas vezes sem oportunidades de dizermos adeus. É prazer e dor, satisfação e decepção, tempestade e bonança. Porque nada que passa em linha reta pode ensinar alguma coisa, nada que vem fácil demais nos torna mais gente, nem nada cai do céu. Não podemos é deixar que esse medo de abandono nos impeça de trazer gente para junto de nós, sempre, pois aqueles que ficarem serão sempre os únicos que deveriam ter ficado. Ninguém mais.

Imagem de capa: bondart/shutterstock

O tempo só cura o que você decidiu esquecer

O tempo só cura o que você decidiu esquecer

Imagem de capa: Dmitry A/shutterstock

Prega-se como verdade absoluta que o tempo cura tudo, mas isso é uma grande inverdade. O tempo ajuda no processo de amadurecimento, na aquisição do conhecimento empírico, na sabedoria espiritual e só. Nas outras questões, ou você age ou o tempo age contra você. Shakespeare afirmava que “um dia você descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser e que, o tempo, é curto”.

Tudo começa no cérebro, no poder da decisão, na vontade própria. É na mente que começa sua cura, sua libertação e não no passar dos dias. Essa história de que “o tempo cura tudo” é para quem não tem peito para enfrentar a própria dor e joga, no mundo, a resolução dos seus problemas. Martha Medeiros afirma que “o tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções”. Resumindo: não é o tempo que cura as coisas é o seu poder de decisão em decidir se curar.

Pode ser um antigo relacionamento amoroso, um trabalho desgastante ou qualquer outra coisa que seja mais uma tortura psicológica do que um crescimento pessoal. Enquanto sua posição for cômoda e medrosa, você permanecerá sob stress. Desculpe a sinceridade, mas você é formado pelo silêncio que faz e pelas situações que aceita.

Se você se cala diante de uma injustiça, você está compactuando com aquilo, mesmo que de forma passiva. Se você aceita seu trabalho desgastante e não procura se especializar em outra área, fazer uma outra faculdade ou procurar um outro emprego, que te valorize como profissional, você merece estar onde está (e não estamos falando de salário aqui. Pode ser que um salário menor, em um outro lugar, te faça mais feliz do que um salário de milhões). Se você aceita esse relacionamento abusivo e acha normal, você está com a pessoa que merece. Somos o que permitimos ser!

O comodismo e o medo são os grandes responsáveis por fazer pessoas incríveis, permanecerem em situações frustradas. Eles usam de bens materiais, solidão e prestígio social para fazer com que pessoas inteligentíssimas permaneçam em stand by dos seus sonhos. Até o dia em que não dá mais tempo de realizar grandes coisas.

O relacionamento não está como gostaria? Converse. Não adiantou, termine. O medo em ficar só não pode ser maior que o amor próprio. E se doer? Não camufle sua dor. Deixe que ela te dilacere e te faça chorar muito. Isso alivia a alma e mostra que seu coração ainda pulsa pelo essencial. Mas, permita-se sofrer uma vez só! Lembre-se que a cura começa de dentro para fora.

O trabalho é mais stress do que reconhecimento? Fique até encontrar um melhor. Estude, preste concursos públicos, queira crescer em sua carreira. Entenda, por favor, que não é tempo que fará sua vida melhorar, é a sua disposição em fazer isso. Sêneca, em sua grande sabedoria, tratava o tempo como algo transitório: “ninguém se preocupa em ter uma vida virtuosa, mas apenas com quanto tempo poderá viver. Todos podem viver bem, mas ninguém tem o poder de viver muito”.

Não adianta você ter o carro do ano, trabalhar de frente para a praia e viajar com seu parceiro todo mês, se nenhuma dessas coisas te traz paz. Enquanto não resolvemos dentro de nós as situações que nos incomodam, nada ficará bem.

Você precisa acreditar que é capaz de fazer mais do que está acostumado. Precisa voltar a acreditar no amor, nas pessoas, no próprio valor. Precisa entender que quem manda no dinheiro é você e não o contrário. Precisa caminhar além do que seus pés aguentam. Você é mais! Você pode mais! Faça suas conquistas hoje e esqueça quanto tempo lhe resta. Até porque, o tempo irá passar de qualquer jeito.

Planta precisa de tempo para crescer, e o estudante precisa de tempo para se formar, um bebê precisa de tempo para nascer. Você só precisa de uma decisão: querer ser curado!

Não é sinal de incompetência precisar de colo. Incompetente é quem não sabe oferecê-lo!

Não é sinal de incompetência precisar de colo. Incompetente é quem não sabe oferecê-lo!

Pense naquela pessoa mais fria que você conhece. Aquela que consegue racionalizar absolutamente TUDO, sejam perdas ou ganhos. Aquela que se mantém impassível diante das crises, próprias ou alheias – pensando bem, principalmente as alheias. Aquela que parece ter expressões congeladas no rosto, prontas para qualquer tipo de ocasião. Aquela que aparenta ter uma alma de fibra inabalável e um exterior cascudo e inviolável. Pensou? Muito bem! Guarde essa imagem.

Agora faça o exercício oposto. Pense na pessoa mais emotiva que você conhece. Aquela que parece estar sempre com os sentimentos à flor da pele. Aquela que se afeta com o triste destino das borboletas, que se esforçam tanto para nascer, e vivem tão pouco. Aquela que vive com os olhos marejados, chora até em inauguração de supermercado. Aquela que fica comovida com propagandas de banco para o dia das mães. Pensou? Excelente! Guarde também essa ideia.

Agora vai aí um desafio! Pense na pessoa mais equilibrada que você conhece. Aquela que consegue fazer uma mescla plausível entre razão e emoção. Aquela que é capaz de ter empatia pelo sofrimento dos seus semelhantes, e também dos seus diferentes, sem esgotar-se psicologicamente com isso. Aquela que é capaz de estabelecer limites, sem ser arrogante. Aquela que é capaz de acolher, sem ser omissa consigo mesma. Aquela que entende a importância dos bens materiais, sem se tornar escrava deles. Aquela que é capaz de ter atitudes espiritualizadas, sem pregar uma religião qualquer. Aquela que é exatamente o que parece. É, companheiro… Dificílimo, não é mesmo! Caso você conheça alguém minimamente parecido com isso, você é uma pessoa que goza de um potencial de sorte, rigorosamente fora da curva.

Pois há ainda uma outra reflexão, muito mais difícil que essa. Tente enquadrar-se em um desses grupos, para os quais voce elencou, com alguma facilidade algumas pessoas. As atitudes que você tem assumido ao longo da vida o colocam em qual categoria aos olhos dos outros? Eita!!! Difícil demais de responder a essa pergunta, hein?!

A questão é que a gente não “é” nada mesmo. Com alguma sorte, a gente “está” mais para um ou mais para outro, a depender das circunstâncias, da dor, do prazer ou do tamanho da encrenca que nos apareça para resolver.

Não há caixas ou formas que sejam suficientes para acomodar nosso eterno processo de evolução – ou involução -, afinal de contas, quem é que pode jurar de pé junto que nunca nessa vida deu alguns ou vários passinhos para trás?!

A verdade é que todos nós, em algum momento da vida haveremos de ser ou querer um colo que traga alento, conforto e segurança. Simplesmente porque não é sinal de incompetência precisar de colo. Incompetente é quem não é capaz de oferecê-lo!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “A procura da felicidade”.

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