Voltei! Vim aqui para testar esse meu novo eu nessa velha história.

Voltei! Vim aqui para testar esse meu novo eu nessa velha história.

Voltei!
Aqui estou eu de novo: na sua casa, no seu entorno, na sua vida.
Você que não me deixou ir e nem me pediu pra ficar. Você com quem eu construí uma história que se despedaçou tantas vezes até eu desistir de acreditar que juntando os nossos cacos surgiria alguma estrutura harmônica.

Então, eu recolhi os meus próprios cacos e parti. Mas agora eu voltei, e ‘voltar’ não é um verbo muito bom para descrever o que eu estou fazendo aqui. Porque eu não vim buscar uma parte minha que ficou para trás, eu não vim para reviver o que a gente foi, eu não vim por saudades dos nossos momentos – bem na verdade, muitos deles eu não quero reviver nunca mais.

Meu querido, dos meus cacos existências eu não me reconstituí, eu não saí andando e me lamentando pelo que eu perdi, pelo que eu deixei de ser. Eu estou agora refeita sim, reconstruída, reeditada, atualizada na minha melhor e mais moderna versão. Eu me pesquisei, eu me observei, eu te escutei esse tempo todo não apenas com os ouvidos das emoções. Sai da minha própria pele e vi a história de fora, fora de mim, fora de nós, fora dos meus mitos, fora dos meus medos.

Da solidão encontrei minha força e meu amor próprio. Descobri o que eu gosto, o que eu quero, o que eu não quero. Aprendi a falar não, a dizer sim, a pedir, a dar opinião em voz alta, a discordar, a sair andando, a quebrar ciclos de sofrimentos. Aprendi a dar rizada de mim mesma, da gente. Que suor danado essas andanças em mim, quantas peles troquei, quantos dias meditei, quantos corações encontrei. Aprendizado intensivo de vida.

E agora voltei, você me pediu tanto e eu podia ser só orgulho e descrença e continuar no meu caminhar feminino. Mas eu resolvi parar aqui na sua porta, na sua casa, te fazer essa visita que não sei quanto tempo e espaço do meu coração vai durar. Eu voltei pra sentir que verdade vai surgir no nosso olhar.

Vim aqui não porque acredito que você mudou, que a gente vai resgatar um amor. Vim aqui pois eu resolvi testar esse meu novo eu nessa velha história.

Antes eu esperava que você adivinhasse os meus segredos, mas agora eu sou PhD em mim mesma. Antes eu esperava que você me amasse quando eu era dor, agora eu peço colo e cuidado e só fico se assim for. Antes eu esperava que você mudasse, me olhasse, parasse de ser egoísta, agora eu tenho as rédeas da minha própria vida.

Antes eu estava sempre aqui pra você, agora eu estou por mim, para ver se eu caibo inteira, para ver se essa mulher madura tem lugar nesse seu pomar. Para ver se você me quer mesmo, essa minha inteireza, ou se queria o que eu era antes – frágil, apaixonada e manipulável.

Vai ser bom, muito bom esse reencontro, esse encontro novinho em folha dos nossos novos eus. Que beleza vai ser se você amar o que eu sou agora (festa nas estrelas!). E que beleza também se você não se adaptar a mim – eu partirei, então, sem deixar passos, sem dúvidas, sem pensar no que a gente poderia ter sido e não foi.

E assim é. Então, abra a porta, estou aqui tocando a campainha do seu coração! Voltei!

Não tenho medo de altura. Tenho medo é de cair!

Não tenho medo de altura. Tenho medo é de cair!

Imagem de capa: Orla/shutterstock

Tenho medo de altura porque tenho medo de cair, mas subir é ótimo! Encantar-se com a paisagem sob uma perspectiva ampla e livre, respirar ares diferentes, sentir o vento mais fresco.

Mas, por medo de cair, atribuo a responsabilidade à altura que ainda me brinda com uma louca vertigem.

Na vida, tenho medo da rejeição, então, muitas vezes nem me arrisco. Não subo mais do que dois degraus e fico aguardando a mão que pode me segurar e amparar. Essa queda, não vou sofrer, nem tampouco saber como seria o horizonte de um ponto de vista mais alto.

Trazemos conosco muitos medos de cair, sem nos darmos conta de que caímos mesmo quando estamos no chão, pisando nas sólidas certezas que carregamos.

Arriscar é enfrentar a vertigem, ignorar o labirinto, dar um voto de confiança à curiosidade que fica lá no final da escada. Tentar chegar em algum lugar diferente do habitual, subir conceitos, escalar relações que ofereçam outra perspectiva, outro olhar, outro horizonte.

Cair é sempre uma possibilidade, mas não por responsabilidade da altura, não pela vontade de subir, de convidar a vida a apreciar outro cenário. O que provoca a queda é o medo de cair.

E o medo desequilibra. O medo faz vacilar, desacreditar, não tirar os pés do lugar. O medo balança estruturas, faz escorregar, fechar os olhos, encolher movimentos, ímpetos e vontades.

Toda escalada oferece perigos, mas também nos presenteia com momentos únicos e eternos. A vida chama a todo instante, através de encontros e descobertas.

Da próxima vez que a vida me convidar a subir um pouco mais, não tornarei a repetir que tenho medo de altura. Sequer mencionarei o medo de cair. Abrirei bem os olhos, segurarei firme na vontade de ser ainda mais feliz, e subirei sem medo, até onde a coragem me sustentar.

Bagagem intelectual não necessariamente implica em sabedoria!

Bagagem intelectual não necessariamente implica em sabedoria!

Imagem de capa: Lia Koltyrina/shutterstock

Esses dias ouvi, sem querer, a seguinte “pérola” de um professor de Filosofia de uma escola das redondezas:

“Pois é. A falta de estudos… De um curso superior, por exemplo, deixa as pessoas ignorantes, tanto no sentido intelectual e de consciência crítica quanto no sentido de brutalidade.”

Fiquei tão abismada com o fato de uma fala como essas sair da boca de um professor de Filosofia que nem soube reagir. Apesar disso, é possível tirar uma reflexão da situação, não é?

Não moço, não é bem assim… É bem provável que algum professor tenha lhe dito durante seu curso que existem quatro tipos de conhecimento. O senso comum (conhecimento empírico), o conhecimento filosófico, o teológico e o científico. Cada um tem sua relevância, porém nenhum, NENHUM deles é sinônimo de ignorância, brutalidade, sensibilidade ou falta de consciência crítica.

Pelo pouco que vi, vivi e convivi, às vezes, a experiência de vida conta muito mais que qualquer teoria que você tenha visto na universidade.

Já conheci pessoas que viveram a vida toda na roça e tinham mais sabedoria e consciência política que boa parte de meus professores universitários. Crianças que questionavam mais as injustiças do mundo que muitos estudantes universitários que conheço. Gente que viveu anos a fio na rua ou dentro de uma igreja e é mais bem informado que metade das pessoas que convivo.

Por outro lado, já conheci professores de insensibilidade preocupante, mestrandos e especialistas cheios de brutalidade e estudantes – aos montes – que se acham superiores por terem uma “bagagem intelectual” qualquer.

Conhecimento científico não é, afinal, sinônimo de sabedoria. Bagagem intelectual não pressupõe de modo algum sensibilidade. A humildade, em contrapartida, é parceira tanto da sabedoria quanto da sensibilidade. E é esta que nos falta quando caímos na tola ilusão de superioridade baseada no número livros que lemos, de anos que estudamos ou de diplomas que temos.

Já dizia Paulo Freire, pensador influente no que diz respeito a sua profissão: “Ensinar exige humildade”. É preciso usá-la para que possamos trocar conhecimento com quem está ao nosso redor e tenhamos a habilidade de tocar uns aos outros.

“A poesia não é algo que se possa incorporar com os olhos sujos de realidade”.

“A poesia não é algo que se possa incorporar com os olhos sujos de realidade”.

“A poesia não é algo que se possa incorporar com os olhos sujos de realidade”. Manoel de Barros

A poética de Manoel de Barros inspira ternura. O ser em estado primevo, admite transformar-se na coisa e a coisa convocada à existência é marca dessa poesia que restabelece em nós a pureza e a graciosidade peculiar que só é encontrada na fluidez da infância, onde os olhos são iscas e lupas de transver, cativados para a “eterna novidade do mundo”.

Se não é possível rebobinar o tempo e novamente ancorar-se às margens de uma realidade sublime que desvende o ser em seu estado legítimo de sabedoria, é possível ainda promover uma caça às borboletas e vaga-lumes que há muito deixaram de brilhar no horizonte esmaecido de nossa existência.

O aprendizado que parece brincadeira de criança tem o dom de reverberar e alcançar as mais profundas camadas lá naquele cantinho que a alma, às vezes, usa para se recolher das maldades do mundo.

Outro dia, relendo a poesia de Manoel, tomei aquele susto bom de estar em contato com uma beleza misteriosa, que dói mas sabe curar. Li com a voz embargada e as lágrimas dançando na face, “E, aquele que não morou nunca em seus próprios abismos nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas, não foi marcado. Não será exposto às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema”. A moradia nos interstícios da alma, que muitas vezes se ressente, a descida aos infernos de si mesmo, o movimento em eterna espiral (a catábase), às vezes nos coloca defronte das verdades que costumamos esconder, é o que nos restaura e torna sensível à densidade da palavra, ao abraço prolongado do poema, que pode ser o refúgio mais confortável quando tudo desaba e ficamos sem o sustentáculo das certezas.

“Poesia não é para compreender, mas para incorporar. Entender é parede; procure ser árvore”. A incorporação desse coro de vozes, que planta em nós a semente da renovação é regada pela forma graciosa com que se pinça os elementos da natureza, desvelando uma geopoética que nos aproxima de tudo que é mais singelo em nós. Quando entramos em contato com a poesia de Manoel, sentimos que a terra é o elemento que além de resgatar a nossa meninice, nos devolve a humanidade; a mania de andar com os pés nus, a predileção pelos “vazios” tão cheios de mistério, o quintal que se abre para as descobertas, “o menino que carrega água na peneira” nos ensina que a poesia não é algo que se possa incorporar com os olhos sujos de realidade.

A gente mata um pedaço da gente

A gente mata um pedaço da gente

Imagem de capa:  Rimdah1/shutterstock

A gente mata um pedaço da gente quando deixamos passar o que é mais emergencial e inadiável em nós. A gente mata um pedaço da gente quando calamos a vontade de dizer, quando nos envergonhamos da nossa vulnerabilidade e represamos nossas lágrimas com um erguer bonito de queixo. A gente mata um pedaço da gente quando cambiamos o desiludir dos sonhos dos outros pela desilusão desportiva dos nossos.

A gente mata um pedaço da gente quando dividimos refeições por educação, quando transamos em troca de falsa autoestima, quando beijamos pra sarar o medo de ficar sozinho: o nosso e o dos outros. E no afã inútil de não ferir ninguém, e no desespero de salvar a nós mesmos, a gente vai se matando lentamente.

A gente mata um pedaço da gente a cada novo arrependimento sem tentativa, a cada vez que nos dizemos não sem motivo real. A gente mata um pedaço da gente quando deixamos o medo tomar o guidão e pegar embalo. A gente mata um pedaço da gente quando nos obrigamos a sair de casa, mas nossa vontade é apenas chorar ouvindo um disco da Gal.

Um dia alguém ensinou que é preciso lutar contra a tristeza que mora em nós. Levianamente não nos disseram que às vezes ela precisa ser vivida e não contornada como um copo quebrado no chão. Vez ou outra, é preciso atravessá-las devagar, com um respeito solene. A gente mata um pedaço da gente porque esquecemos que sentimento nenhum é acidental.

E assim, a gente vai matando um pedaço da gente até não restar mais pedaço nenhum pra juntar.

Você está educando seu filho para ser um cara decente?

Você está educando seu filho para ser um cara decente?

Este é um texto em defesa dos meninos. Um texto em busca de oferecer uma chance de transformação a todos os meninos que ainda são criados para serem machos e não homens.

É um pedido de socorro em nome desses pequenos que têm negadas suas necessidades de afeto e doçura, em nome de crenças nocivas e ultrapassadas segundo as quais “homem que é homem, não chora”; “homem que é homem, não nega fogo”; “homem que é homem, não leva desaforo para casa”; e, sobretudo “homem que é homem, gosta é de mulher”.

Ouso fazer um convite para que nos despojemos de todas as verdades cristalizadas que nos impedem de olhar para essas crianças como seres em cuja alma há, mais do que tudo, um anseio pela liberdade. Infelizmente, liberdade é uma palavra que anda meio desbotada e cujo significado mais orgânico, deixou de fazer sentido.

A liberdade é o único caminho possível para as inúmeras outras estradas dessa vida que possam nos levar a lugares que realmente valham a pena. Só é possível ser livre quando temos todas nossas dúvidas, inseguranças, anseios, talentos, naturezas e dificuldades aceitas com a mesma força amorosa; e somos capazes de oferecer todas essas coisas ao outro na mesma medida em que esperamos recebê-las.

Meninos criados para serem livres em suas múltiplas formas de se manifestar, existir, sentir, pensar, acreditar e duvidar têm a real oportunidade de se transformarem em homens íntegros. E nossos meninos, por mais incrível que pareça, ainda são privados desses direitos.

Muitos dos nossos meninos são estimulados sexualmente de maneira precoce e equivocada, para atender uma expectativa social que os induz a olharem para suas parceiras meninas como seres de outra natureza; seres que precisam de alguma forma aplacar ou satisfazer suas necessidades supostamente incontroláveis de natureza masculina.

Ainda existem famílias que consideram mais difícil e constrangedor lidar com um menino que goste de se vestir de princesa, ou que tenha atração pelas sereias e bonecas, do que lidar com filhos agressivos, que machucam os amigos pela necessidade de se impor, no fundo, no fundo, para atender uma expectativa mais ou menos explícita sobre a sua masculinidade.

E por mais que a gente acredite que os tempos mudaram, que existe muito menos preconceito hoje do que havia cinco ou dez anos atrás, o fato é que ainda educamos nossos garotos sob padrões e modelos extremamente estereotipados.

Você está criando seu filho para ser um cara decente? E… não, não existe essa história de “depende do ponto de vista” ou “afinal, o que é ser decente?”. A decência humana não tem nenhuma relação com habilidades cognitivas, aparências externas ou comportamentos politicamente corretos.

Ser decente é ter em cada fibra, do corpo e da alma, o anseio por oferecer ao mundo o que há de mais nobre dentro de nós. É agir de forma ética, principalmente quando ninguém estiver olhando ou quando o nosso comportamento não for passível de prêmio ou punição.

E, principalmente, porque o mundo parece estar virado do avesso e os valores parecem ter sido varridos para uma galáxia distante, é que temos a obrigação de oferecer para esses pequenos de nós que nasceram homens, nosso maior e mais valioso bem: exemplo moral.

Este é um texto em defesa dos meninos. Pois, sendo eu uma menina, tenho a mais absoluta certeza de que somos todos feitos da mesma constituição humana. Não há de haver nada nesse mundo que ameace nossos movimentos na busca de uma relação de equidade. E, mais ainda, sendo eu uma menina que já é mulher há muitos anos, posso afirmar que todos os homens de caráter que eu tive o privilégio de conhecer e conviver, foram educados por pessoas que se preocuparam em criar caras decentes.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “A pomba branca”

Se você está sempre solucionando os problemas do outro, está na hora de reavaliar os seus

Se você está sempre solucionando os problemas do outro, está na hora de reavaliar os seus

Imagem de capa: Svitlana Sokolova/shutterstock

Há pessoas e pessoas! Existem aqueles que têm o dom de escutar, outros de aconselhar, outros de defender. E, provavelmente, você tem algum deles.

Você já aconselhou um amigo traído, uma amiga abandonada, um parente que perdeu o emprego… muitos são os que confiam em você. Mas, quanto aos seus problemas? Quais são os seus (autos) conselhos?

Pode parecer clichê, mas um verdadeiro amor começa na amizade e os motivos são óbvios: é nela que o respeito se fortalece, que os laços de admiração se criam e aprende-se a respeitar as diferenças pessoais.

O grande problema é que, muitas pessoas, esquecem que a amizade é o primeiro estágio do amor. Claro que, você e seu parceiro, serão os melhores amigos de toda a vida, mas se a amizade não vier acompanhada do desejo de estar junto, da saudade intensa e do amor incondicional, essa história está com os dias contados.

Jabor, na sua sinceridade extrema, diz que “o perigo do sexo é que você pode se apaixonar. O perigo do amor é virar amizade”. Acredite, amar alguém é diferente de se acostumar com ele.

Afeto, gratidão, carinho, respeito não garantem um relacionamento feliz. Nada, absolutamente nada, substitui o amor. É preciso que haja paixão, vontade em estar juntos, saudade, medo de perder, frio na barriga … tudo isso misturados, formando um ciclone no estômago.

Relacionamento não é algo a se fazer para retribuir um favor. Se precisamos ser amigos, antes precisamos ser amantes. Tem que haver companheirismo e cumplicidade sim (e muito), mas tem que haver vontade e afinidade de cheiros também. E, uma atitude não diminuiu a importância da outra.

Quando a relação amorosa entra em um estágio cômodo de sentimento, as famosas DR-“discussões de relacionamento”, começam a surgir com mais frequência que os jantares românticos. Discutir a relação é necessário. Dar valor aos preciosos momentos de encontros com que se ama, também.

Confesso que não acredito que uma DR tenha mais validade que uma mudança de comportamento sincera. Acredito ser mais válido um pedido de desculpas, acompanhado do comportamento adequado do que longas conversas que desperdiçam o tempo dos dois e desgastam, dia a dia, a relação.

Há relações que em vez de somar, insistem em subtrair. Você tenta construir uma relação tranquila, mas a outra pessoa está sempre reclamando das situações e construindo um muro de lamentações entre vocês. Muitas vezes, as reclamações não se referem à vida a dois, mas a todos os outros problemas externos que envolvem uma relação: o trabalho cansativo, o trânsito parado, o time que foi desclassificado, a roupa que não entrou, enfim, qualquer assunto que interesse a um e desgaste, psicologicamente, o outro.

Entenda: há uma grande diferença entre ser, também, amiga do seu namorado e ser apenas amiga de seu namorado.

Se seu parceiro transforma o encontro de vocês em uma sessão de terapia, está na hora de reavaliar essa relação. O sofá da sua sala de estar não é um divã e um jantar romântico não é um bom momento para contar dos problemas familiares. Se você, realmente, quer passar a vida lidando com os problemas de outras pessoas, deveria se formarem Assistência Social ou Psicologia, pelo menos, ganharia para isso.

Tenhamos consciência de que nosso tempo é precioso demais para perder discutindo e curto demais para não aproveitar amando. Se vamos conversar, que seja de forma leve. Se temos que discutir que entremos em um acordo. Que haja concordância, bom humor e respeito. Fora isso, melhor fazermos silêncio.

Como dizia Cecília Meireles, em Momentos Catárticos: “há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.”

Criaturas execráveis escondidas por roupas de grife

Criaturas execráveis escondidas por roupas de grife

Estava eu resolvendo umas coisinhas na alameda Lorena, em São Paulo, quando decidi comprar umas outras coisinhas num fino e conhecido mercado situado nesta rua.

Antes das compras, decidi usar o banheiro do chique estabelecimento. Ao chegar na porta do toilette, uma gentil funcionária – que retribuiu ao meu bom dia com um sorriso – realizava a limpeza do local.

Havia também ali uma senhora – que ignorou o meu bom dia com uma cara daquele negócio que as vacas e bois fazem depois de comer. Pois é! A referida senhora – toda trabalhada na grife, dos pés à cabeça, incluindo uma bolsa cujo valor é suficiente para comprar um carro popular -, utilizou o banheiro impecavelmente limpo antes de mim, posto que havia chegado primeiro. Saiu com a mesma cara que usou para não me dar bom dia.

Quando finalmente eu entro no reservado para dar conta de minhas necessidades humanas, me deparo com o assento do vaso sanitário todo respingado de urina (será que urina tem grife?), e a descarga repousava sem ter sido acionada.

Meu choque só não foi maior do que a minha vontade de esganar a perua “etiquetada”. Infelizmente não consegui encontrá-la depois. Pois, como se diz na linguagem policial “a meliante evadiu do local”.

Moral da história: Educação vem de berço, sim! Mas não de um berço feito de madeiras caríssimas ou coisa que o valha! Educação vem de valores humanos familiares, que incluem respeito pelos semelhantes e diferentes! A tal senhora pseudo-elegante conseguiu em uma única urinada revelar o nível baixo de seu caráter!

O mundo está doente. E a doença somos nós! Adoecemos o mundo a cada vez que fingimos achar normal comportamentos arrogantes, depreciativos ou abusivos. Essa coisa se alastra feito viroses ainda não catalogadas. São disfarçadas por estampas finas, em cujo interior habita a pior espécie de gente.

E, caso você esteja aí pensando “Nossa! Mas será que precisa de tanto barulho só por causa de uns respingos de urina?!” – e eu responderei “Sim! Mil vezes sim!” -, porque não se trata apenas do xixi dessa criatura revestida de grife. Nesse pequeno gesto aprecem claramente comportamentos explícitos de desrespeito pelo outro; desrespeito pela moça que limpou o banheiro antes e desrespeito por todas as outras moças que viriam a utilizar o espaço depois.

Sendo assim… Um “Salve!” para todos nós que somos capazes de tratar os espaços públicos, com a mesma deferência que tratamos as nossas propriedades privadas! E, desde já, agradeço e peço desculpas pelo trocadilho!

Imagem de capa: Reprodução

Não querer ser professor é uma questão de “ego”

Não querer ser professor é uma questão de “ego”

Imagem de capa: De Repente/shutterstock

“[…] a educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum.”
Hannah Arendt. – Entre o passado e o futuro.

Em uma sociedade que manifesta um crescente pavor do conhecimento, nada mais natural do que a proporcional desvalorização da profissão responsável (ou que, ao menos, deveria ser) pela multiplicação desse ente pernicioso! Assim, também, nada mais natural que em uma sociedade que rechaça o saber, a estupidez seja adorada – é uma consequência lógica, basicamente matemática. E como um sintoma dessa “sofiofobia”, ser professor tornou-se sinônimo de fracasso, de falta de opção, da “via mais fácil”, embora nada de fácil tenha nesta profissão.

Ser professor, na verdade, tem muitas formas de ser, assim como em outras profissões: do geral ao específico, ser um professor de filosofia não é como ser um professor de arte, ser um professor de alfabetização não é como ser um professor de microbiologia. No entanto, poucos consideram essas singularidades do saber e do fazer quando se trata de educação. É certo, apenas, que é preciso desconfiar dos professores, esses frustrados que querem corromper a raça humana!

Sem pretender tomar um exemplo como generalização, acho particularmente curioso o caso das artes. Ouço muito dizer (muito mesmo!), que o professor de artes é sempre um artista frustrado. Pois, analisando os fatos, muitos dos grandes artistas (isso falando apenas em termos do passado), dos mais marcantes foram, de alguma forma ou literalmente, professores, mestres… então, de onde é que vem essa fala afinal? Não sei. Mas desconfio que vem dessas máximas que são criadas para deteriorar algo que ameaça, alguma vingança mesquinha, algo dessa natureza que, então, pela repetição, se naturalizou, mas o sentido nunca houve para dizer que se perdeu.

De um modo geral, escuta-se muito ainda da desvalorização econômica desses profissionais que, por vezes, causa a impressão de que são os profissionais mais miseráveis do mundo no que se refere aos salários. Novamente, os fatos contradizem o discurso. Realmente, vivemos em um tempo, que como a maioria dos outros tempos, talvez todos os tempos, desvaloriza a maior parte das profissões e dos profissionais a não ser por exceção das posições privilegiadas. Pesquisem sobre os salários mais comuns para graduados em direito, psicologia, comunicação e outras profissões que não são tão “mal vistas” – que podem, pelos mais ingênuos, até mesmo serem consideradas prestigiadas –, e verão que a diferença não é tão grande.

Pior, se fizermos uma média honesta entre o tempo de trabalho, os salários, férias e outras questões, em muitos casos, o professor sairá com a melhor. Lugares privilegiados também existem para professores (pasmem!), com graus de dificuldade semelhantes às demais profissões – tudo uma questão de suportar uma árdua carreira acadêmica, por exemplo. Também o professor sairá com a melhor quando se trata da oferta e da procura, já que não é possível que uma sociedade civilizada funcione sem esse famigerado profissional e, apesar de tudo, ainda somos uma civilização. Por fim, há muitos formados em outras áreas que se renderam à prática na educação, sim, por falta de opção, infelizmente.

E se há realmente um problema no que diz respeito ao professor, esse problema está justamente nisso: o de que tenha se tornado uma profissão tão receptiva para os que não têm outra opção, mas também não têm a menor intenção em levar a sério a missão de introduzir e mediar o caminho de outros indivíduos nos universos do saber. Há muitos dos que sequer sabem lidar com pessoas e a formação, tantas vezes sucateada, não ajuda muito nisso. É que somos uma civilização que ainda precisa de professores, mas não queremos que eles sejam “professores demais”. Isso iria atrapalhar o esquema.

Afinal, se as pessoas entendessem bem de oratória, não se enganariam tão facilmente com discursos persuasivos, mas intelectualmente desonestos. Se elas entendessem bem de estratégias de marketing, não seriam tão facilmente convencidas a consumir o que não precisam e, por vezes, o que não querem. Se fossem capazes de se autoconhecer, o que seriam dos livros de autoajuda, dos coachings, das fábricas de chocolates? É que queremos ser civilização, mas não queremos ser civilização demais.

E nesse contexto em que se joga peteca com a educação, dizer-se professor não é motivo de orgulho ou de elogios fáceis. Não se ouve dizer do melhor “mestre” fulano ou ciclano, como de um jogador de futebol ou de uma celebridade qualquer. Não se chama um professor com grau de doutorado de doutor como se chama de doutor um advogado ou um médico (sem grau de doutorado). No máximo, tem-se reconhecimento como intelectual, o que não necessariamente significa ser um professor “foda”, porque a prática de ensinar e a produção de conhecimento através da escrita são coisas completamente diferentes, embora, devessem ser, em algum nível, indissociáveis.

Daí, faz tempo que ser professor não se trata, quase nunca, de uma questão de desejo, de gosto ou, se quiser assim chamar, “vocação”. Porque, na verdade, já não se escolhe muito as profissões conforme a inclinação, mas conforme o prestígio social que elas poderão oferecer. Apesar da ilusão dos salários, não são eles que ditam as regras, caso contrário, vários cursos que se encontram lotados estariam esvaziados. É o prestígio mesmo: uma questão de ego. Nenhuma família faz festa quando o filho passa em uma licenciatura, em pedagogia ou afins, como fazem festa para um que passou no direito, na medicina, na engenharia. Não importa que alguma dessas áreas possam estar saturadas em sem perspectivas realistas de construção de carreira, não importa que ele vá ser um péssimo profissional porque não quer nem um pouco aquilo. Importa o orgulho, a vaidade, poder encher a boca para dizer que o filhote passou em tal curso “superconcorrido”. É realmente preocupante que as escolhas profissionais estejam sendo realizadas de forma tão irracional… o resultado está por todos os lados, para quem quiser ver.

Quanto ao professor e o seu destino cruel, aos que querem defender a profissão, encontram seus méritos, suas delícias, seus reconhecimentos. Travam suas batalhas como tantos mais. Ignoram esse discurso cheio de vazios. Sabem bem que melhor ensina quem também sabe fazer bem e não tem nada de “frustrado” nisso. Frustrados existem em todas as áreas, inclusive nas não profissionais. Olha o “amor”, problema de todos os tempos, fábrica de frustrados em atacado. Mas não se tem tanto demérito no dizer estar apaixonado quanto se tem no dizer ser professor.

E aos que aceitam o desafio, ainda acumulam funções. Porque professor mesmo está sempre experimentando, fazendo paralelo, pesquisando, inventando. Há professores de várias profissões, há professores de vários modos de ser professor. Um profissional multifuncional, que exige a mais sofisticada tecnologia ser-humana. Mas é tanta a difamação acerca desse ser, que começaram até a inventar outros nomes para “disfarçar” tamanha necessidade desses sujeitos que ameaçam tanto quanto a inteligência artificial: instrutor, monitor, treinador, oficineiro e por aí vai. Deveria haver uma diferença clara entre essas áreas de atuação e a atuação de um professor, mas veja as propostas carregando essas novas nomenclaturas e compare. As fronteiras movediças canibais da indistinção engolem cada vez mais as diferenças da prática em boa parte dos casos. Muda-se o nome, muda-se a percepção. Sabemos disso. Se amanhã todos começam a te chamar por um nome diferente do seu, sua identidade será ameaçada e, com a sua desestabilização, tantas outras disfunções emocionais virão.

Em tempos de egos fragilíssimos, importante mesmo é fazer isso: desintegrar, denigrir, sujar, abalar a imagem dessa figura de “poder” que já ocupou lugares sociais bastante privilegiados. Há quem pense que tais mudanças são consequência de uma libertação. Mais ingenuidade para o nosso acervo, que desmoralizar uma “figura de poder”, que continua a ocupar um “lugar de poder” é libertação. Porque, sim, o professor continua a ocupar um lugar de poder, dentro de uma instituição de poder, mas tão desmoralizado, que é fácil a partir da sua figura instaurar ideologias que não são proferidas por ele, culpas que não são suas, mas que se utilizam de sua imagem enquanto intermediário. Ele pode até não ter “poder”, mas é um instrumento de. Um bode expiatório poderoso!

Para escapar dessa lógica perversa seria necessário amar muito a profissão, dominá-la, compreendê-la o suficiente para dançar tango com ela. Mas, uma vez tão desmoralizada, poucos egos se arriscam sequer a considerar que gostariam de ser professores. Vão apenas no último caso. Vão sem preparo, vão sem querer, sem abertura. Não possuem empatia com aqueles outros que estão ali “dependentes” de sua atuação, entram na sala de aula como se entrassem em um ringue. Os bodes expiatórios perfeitos. E os aprendizes, ensinados de antemão a desvalorizar a figura do professor, a desconfiar dela – não de forma crítica, mas de forma dogmática –, a acreditar que a informação basta, isso somado a todos os hormônios e tragédias cotidianas que todos passam, aguardam dopados de adrenalina o soar do primeiro round.

Mas não há produção ou multiplicação de conhecimento sem amor, sem empatia, sem respeito. A vitória não está com nenhum desses lutadores ocupando lugares aparentemente desiguais: está com aqueles que querem perpetuar a estupidez. Está com aqueles que querem controlar o saber, permitindo apenas uma quantia aceitável de conhecimento esparramado como lubrificante da máquina social, mas que, de um modo geral, gozam dos benefícios da ignorância. Enquanto a educação mantém-se funcionando como um ringue de luta e o professor é o “lutador” em quem ninguém aposta, não querer ser professor é uma questão de ego. Ninguém quer ser projetado como perdedor. E nisso, embora não apenas por isso, seguimos diariamente perdendo nossas batalhas… seguimos juntos para o fundo do poço. Ao menos nisso, estamos irremediavelmente unidos.

Pessoas desnecessárias causam dores desnecessárias

Pessoas desnecessárias causam dores desnecessárias

Imagem de capa: nd3000/shutterstock

Quem não vem para perto de nós por iniciativa própria, quem não olha nos olhos, nem se lembra de nós, que se vá, que fique lá por onde se acomodou, longe de nós. Quem quer arranja jeitos e maneiras de nos fazer perceber que se importa.

Talvez uma das maiores dificuldades que temos, ao longo de nossa jornada, seja discernir qual o peso que cada coisa, cada momento e cada pessoa devem ter em nossas vidas. Frequentemente, estamos carregando bagagem inútil, valorizando momentos que não valem a pena, mantendo junto gente que não agrega, cansando-nos à toa por quem não move uma palha em nosso favor.

Desnecessário é ficar se lembrando de momentos que trazem dor e remorso, passivamente, tolhendo-nos sorrisos e força de caminhar. O que passou, feito está. Existe a hora certa de agir e de tentar reverter o que fizemos de errado, porém, alguns estragos são irremediáveis e a melhor forma de lidar com eles é enterrando-os no passado que não mais voltará, lutando para não os repetir.

Desnecessário é sofrer por conta de do que não deu certo, do que não se disse, do que se disse, do que já foi embora de uma vez por todas. Agimos conforme aquilo que se passa aqui dentro, ou seja, o que fizemos era exatamente o que poderíamos ter dado naquele momento, nada mais, nada menos. Inevitavelmente, machucaremos pessoas pelo caminho, perderemos chances, deixaremos de aproveitar muita coisa, mas sempre haveremos de ter o hoje, ali juntinho, bem como as esperanças do amanhã, que sempre vem. Sempre poderemos ser melhores do que ontem.

Desnecessário é ficar mendigando atenção de quem quer que seja. Quem não vem para perto de nós por iniciativa própria, quem não olha nos olhos, nem se lembra de nos perguntar como estamos, que se vá, que fique lá por onde se acomodou, longe de nós. Quem quer arranja jeitos e maneiras de nos fazer perceber que se importa. E sabemos bem quem realmente se importa, sem que precisemos passar por cima de nossa dignidade. Ah, a gente sabe, sim…

Caio Fernando Abreu já dissera que pesos desnecessários sempre causam dores desnecessárias, ao que vale acrescentar que assim também o é em relação às pessoas – se desnecessárias, provocarão pesares desnecessários. A vida não é fácil e acumularemos vários tombos diários, decepções amargas e culpas doloridas, ou seja, se pudermos nos livrar dos lixos emocionais inúteis e de gente que emperra o nosso amanhecer, estaremos cada vez mais perto da felicidade com que tanto sonhamos. Desse jeitinho.

Por vício, continuaria apostando, mas hoje, passo.

Por vício, continuaria apostando, mas hoje, passo.

Imagem de capa: Melpomene/shutterstock

Por vício, continuaria a esperar por uma novidade, sonhar com uma surpresa, imaginar uma súbita emoção batendo à porta e me convidando para a festa que não tem fim.

A gente vicia em imaginar. E detalhar. E apostar que um dia vai acontecer. Pode acontecer de fato, mas não por conta das apostas, nem por tudo o que já foi feito de moeda de troca.

Apostar o próprio tempo, deixar que seja usado e controlado, contido e descartado, pode ser perigoso. Apostar esperanças, ainda que as probabilidades aconselhem o contrário. Apostar lances perdidos. Em mãos e conteúdos vazios…

A gente aposta pela emoção que pode ser o prêmio.
E repete: só mais essa vez, só mais essa vez. Agora vai!

A sorte fica com toda a responsabilidade de criar e rechear as situações. Se nada acontecer, não foi um dia de sorte.
E a gente senta com as fichas em montinhos e vai se esvaziando, minguando, esperando a sorte chegar.

Mas a sorte é dinâmica, gosta de movimento. A sorte não cai em colo conformado. A sorte corre atrás de quem corre ao seu encontro, com a mãos livres, sem fichas para carregar.

E por vício, aposta-se a própria liberdade, tentando a sorte de quem a queira para controlar. Por vício, o futuro vira garantia, caso a aposta seja perdedora.

A vida não aposta nada. Não senta de frente com a gente disposta a tomar o que temos. Nós entregamos por vontade e por vício. Ao contrário, a vida sempre nos oferece algo, mas, por vício, preferimos apostar que não.

Hoje, eu passo. De agora em diante, não aposto mais com a vida. Aposto contra a covardia que tenta me paralisar e me colocar diante de jogadores preguiçosos e indiferentes, que também apostam somente por vício.

Se a inveja tem sono leve, que tome sonífero. Suas comemorações só começaram…

Se a inveja tem sono leve, que tome sonífero. Suas comemorações só começaram…

Imagem de capa: Air Images/shutterstock

A inveja incomoda porque nunca vem de alguém distante. Essa é a verdade. Ninguém inveja a fortuna de Salomão, o sucesso dos grandes empresários ou o corpo da musa fitness do momento.

Inveja-se a amiga que emagreceu, o vizinho que virou empresário ou o ex que ficou rico. A inveja é essencialmente comparativa. Sêneca dizia que “ a inveja avista apenas o que está próximo de si, e admiramos com menos astúcia o que está distante.”

Inveja é um sentimento obscuro, visto que ninguém quer admitir que inveja ou é invejado. A primeira opção, porque isso significa admitir incompetência diante das conquistas dos objetivos da vida, a segunda porque dá a impressão de estar ostentando o que se conquistou.

Melanie Klein, psicanalista austríaca, explica que “a inveja é o sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfruta algo desejável – sendo o impulso invejoso o de tirar este algo ou de estragá-lo (…), e o ser invejoso sofre ao ver o outro possuir o que ela quer para si. Sente-se à vontade apenas com o infortúnio dos outros e assim, todos os esforços para satisfazer um invejoso são infrutíferos”.

Na Literatura temos muitos exemplos clássicos de como a inveja manipula o caráter humano, através da raiva e do sentimento de insatisfação. Otelo, o mouro de Veneza, de William Shakespeare, onde a inveja secreta e o ódio que Iago alimenta por Otelo é o grande elemento desencadeador da tragédia do mouro, que culmina matando Desdêmona, a mulher que ama e Caim, de José Saramago, que narra a história do anti-herói Caim – personagem bíblico – que, após matara seu irmão Abel por ciúmes e inveja, sai pelo mundo para protagonizar uma briga antológica com Deus, são alguns dos exemplos.

Talvez a sociedade tenha um pouco de culpa nisso. Desde muito cedo sofremos comparações: “aquela é mais bonita”, “esse é mais inteligente”, “aquele é mais doce”. Essas críticas, muitas vezes, “inocentes” e “sutis” deixam marcas de competitividade no subconsciente e criam adultos dispostos a tudo para conseguirem o que querem.

Nessa linha de ações e, com medo dos invejosos de plantão, a sociedade inventou, também, um tal de “não grite sua felicidade que a inveja tem sono leve” que tem feito gente guerreira engolir a própria felicidade com medo de perder a própria vida. Ridículo, não? Mas, acredite, é real. Miguel de Cervantes tinha uma definição interessante sobre o sentimento “a inveja vê sempre tudo com lentes de aumento que transformam pequenas coisas em grandiosas, anões em gigantes, indícios em certezas.”

O conselho são sempre esses: Viajou? Não comente! Vai casar? Não fale para ninguém! Encontrou o amor da sua vida? Pede para o líder religioso benzer! Mas ninguém explica o motivo dessas atitudes.
Sejamos realistas: seus sonhos não vieram prontos em caixinhas de papelão. Você lutou por cada um deles. Suas vitórias custaram momentos difíceis, noites de dúvidas, intermináveis dias de espera e, agora, você não pode comemorar para não despertar a inveja do outro? Isso é, no mínimo, incoerente.

Em que se baseia esse medo que paralisa pessoas guerreiras diante da própria felicidade e os fazem acreditar que “felicidade em silêncio dura mais”? Se a inveja tem sono leve, que tome sonífero. Ela não te ajudou a conquistar nada e não vai te atrapalhar a progredir mais, a não ser que você permita. A tática da inveja é paralisar pelo medo e você, que até hoje, enfrentou um leão por dia, vai deixar se amedrontar por lagartixas?

Ser discreto é bonito, fino, educado. Mas, que isso seja uma opção de comportamento sua, não por medo da inveja alheia.

Olhe para dentro de você, para sua história. Quando você caiu, ninguém invejou sua queda. Você precisou tirar forças da alma para se levantar. Quando você foi ferido, ninguém invejou sua dor. Pelo contrário, você precisou se curar sozinho, mesmo sangrando. Note: nos piores momentos da sua vida, nenhum sentimento negativo teve poder sobre você, então, o que te faz acreditar que depois de todo o sofrimento vencido, você voltaria à estaca zero por capricho de quem não conseguiu chegar ao topo?

Não tema a inveja alheia, as lutas na vida foram iguais para ambos, mesmo que pareça que não. A diferença é que os invejosos se acomodaram diante das adversidade e preferiram ficar na plateia admirando quem atingiu os objetivos almejados.

Quer saber? Siga a sua vida sem medo e comemore suas vitórias quando quiser. Se o outro continuar te oferecendo o mal, lembre-se que veneno servido só faz mal para quem o engole.

16 filmes para voltar aos anos 80

16 filmes para voltar aos anos 80

Quem viveu na década de 80 com certeza assistiu a praticamente todos os filmes listados aqui. Em uma década na qual não havia computadores, internet, celulares ou máquinas fotográficas digitais, a diversão era inventada de outra forma. Com certeza os filmes dessa lista o farão voltar no tempo em uma viagem sabor infância. O melhor é que a maioria deles está disponível na Netflix. Boa “Sessão da Tarde” nostalgia a todos!

1 – Quero ser grande, 1988

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Em um passeio num parque de diversões Josh (David Moscow) acaba barrado na entrada da montanha-russa. Revoltado, ele pede à máquina dos desejos para ser grande. No dia seguinte o pedido foi realizado e a mãe o expulsa de casa, pois não o reconhece na forma de um homem de trinta anos (Tom Hanks). Esse filme foi visto e revisto inúmeras vezes na saudosa “Sessão da Tarde” e vai com certeza fazer você viver o espírito da década de 80.

2 – A princesa prometida, 1987

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Um avô lê um conto de fadas ao seu neto, com uma linda princesa, lutas de esgrima e gigantes. A história do livro fala de uma princesa que é apaixonada por um camponês. Depois de acreditar na morte do seu amado, ela decide se casar com um príncipe de mau caráter. No dia do casamento uma gangue a rapta e ela descobre que dentre seus sequestradores está o camponês. Um filme para toda família com os efeitos especiais possíveis para a época. Nostalgia pura.

3 – De volta para o futuro I, II e III (1985/1989/1990)

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O primeiro filme “De Volta para o Futuro” foi dirigido e escrito por Robert Zemeckis em parceria com Bob Gale. Esse primeiro filme conta a história de Marty McFly (Michael J. Fox), um adolescente que volta no tempo até 1955. Lá ele conhece seus pais no colégio e acidentalmente faz sua mãe ficar interessada por ele. Marty deve consertar o dano na história fazendo com que seus pais se apaixonem e, com a ajuda do Dr. Emmett Brown (Christopher Lloyd), precisa encontrar um modo de voltar para 1985. Zemeckis e Gale escreveram um roteiro depois de Gale ter se perguntado se ele teria sido amigo de seu pai se tivessem estudado juntos no colégio. Esse primeiro filme foi um sucesso e marcou o início de uma franquia, com as sequências: De volta para o futuro II (Nele Marty passeia por 2015) e De volta para o futuro III (No qual Marty e o cientista vão para meados de 1800), lançadas respectivamente em 1989 e 1990. Impossível não se encantar com a trilogia mais emblemática da história do cinema.

4 – Indiana Jones (1981/1984/1989/2008)

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Henry Jones ou simplesmente Indiana Jones, é um personagem da série de filmes Indiana Jones, criado por George Lucas e Steven Spielberg. George Lucas criou o personagem em homenagem aos heróis de séries e filmes de ação dos anos 1930. O personagem apareceu pela primeira vez em 1981 em “Os Caçadores da Arca Perdida” e foi vivido por Harrison Ford, permanecendo o mesmo ator em todos os outros filmes da série: Indiana Jones e o Templo da Perdição de 1984, Indiana Jones e a Última Cruzada de 1989 e Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal de 2008. O personagem Indi se distingue pela sua aparência (chicote, chapéu, mochila e jaqueta de couro), senso de humor, conhecimento profundo de muitas civilizações e línguas antigas, além do notório medo de cobras.

5 – Karatê Kid (1984/1986/1989/1993)

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“Karate Kid – A Hora da Verdade” é um filme de artes marciais norte-americano do diretor John G. Avildsen. O filme conta a história de um jovem lutador que deseja aprender Karatê, e que para isso convence um experiente mestre a lhe dar aulas (aulas essas que se transformam em lições de vida). Karatê Kid é famoso por mostrar o ensaio de artes marciais por meio de atividades cotidianas como limpar um carro ou pintar uma parede. O sucesso desse primeiro filme deu origem a outros três, com os mesmos atores, lançados em 1986, 1989 e 1993 e a uma regravação lançada mais recentemente em 2010, sem o mesmo sucesso alcançado pela série Karatê Kid na década de 80. Lindos!

6 – Curtindo a vida adoidado, 1986

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Ferris Bueller (Matthew Broderick) tem uma habilidade incomum para faltar na escola. Com o intuito de matar mais um dia de aula, Ferris liga para escola e diz que está doente. Ele pega emprestada a Ferrari do pai do seu amigo e embarca em uma viagem de um dia pelas ruas de Chicago. O diretor da escola, Rooney, fica no rastro de Ferris e seus amigos determinado a pegá-los. Esse filme é simplesmente inesquecível. Arrisco dizer que foi o papel da vida Matthew Broderick.

7 – Tudo por uma esmeralda, 1984

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Joan Wilder (Kathleen Turner) é uma escritora que vai ajudar a irmã, que foi sequestrada na Colômbia. Se ela não levar um mapa que mostra a localização de um tesouro, sua irmã será morta. Enquanto tenta cumprir essa exigência, Joan, conhece Jack Colton (Michael Douglas), um aventureiro e mercenário que a ajuda. Juntos, os dois se envolvem em diversas aventuras. Quem viveu na década de 80 certamente já passou os olhos por esse filme.

 

8 – Os aventureiros do bairro proibido, 1986

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Um típico americano, o caminhoneiro Jack Burton (Kurt Russel), se envolve em uma briga milenar chinesa depois que a noiva de um amigo é raptada por um mago de 2 mil anos de idade. Assim, ele acaba se embrenhando no submundo de um bairro asiática, e encontra figuras misteriosas e místicas. Ele terá que recuperar Gracie Law (Kim Catrall) e para conseguir isso irá enfrentar o terrível feiticeiro LoPan (James Hong). Esse filme também foi reprisado inúmeras vezes na antiga “Sessão da Tarde” da década de 80 e LoPan causou arrepios nas crianças da época.

9 – Os Caça-Fantasmas I e II (1984/1989)

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Em Nova York Peter Venkman (Bill Murray), Ray Stantz (Dan Aykroyd) e Egon Spengler (Harold Ramis) são três cientistas do departamento de psicologia da Columbia University, que se dedicam ao estudo de casos paranormais. Quando eles são despedidos, Venkman sugere que abram um negócio próprio, a empresa exterminadora de fantasmas “Ghostbusters”. Inicialmente eles só têm despesas e nenhum cliente, mas surge então Dana Barrett (Sigourney Weaver), uma violoncelista que teve uma experiência assustadora em seu apartamento. O filme foi um sucesso e deu origem a um outro filme “Os Caça-Fantasmas II” gravado em 1989. Em 2016 houve uma releitura da série com personagens femininas no lugar dos cientistas. Imperdível.

10 – A lenda, 1985

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Jack (Tom Cruise) é um jovem camponês que vive numa floresta mágica, repleta de seres fantásticos, como unicórnios e fadas. Num belo dia, Jack resolve levar a Princesa Lili (Mia Sara) para passear e ela acaba chamando a atenção do Senhor das Trevas (Tim Curry), um demônio cruel que planeja raptar a donzela e mergulhar o planeta numa era glacial. Os planos dessa criatura maléfica começam a se concretizar quando os Goblins, a seu comando, capturam Lili. Jack irá correr contra o tempo, e com a ajuda de um elfo, uma fadas e dois anões, irá para tentar salvar sua amada. Impossível não lembrar desse filme repetido até a exaustão na TV aberta da década de 80.

11 – Clube dos 5, 1985

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Em virtude de terem cometido pequenos delitos, cinco adolescentes são confinados no colégio em um sábado, com a tarefa de escrever uma redação de mil palavras sobre o que pensam de si mesmos. Apesar de serem pessoas completamente diferentes, enquanto o dia transcorre eles passam a aceitar uns aos outros, fazem várias confissões e tornam-se amigos. Como seria ficar confinado em uma sala sem acesso à internet ou Smartphones? Só por isso já vale a pena assistir a esse clássico da década de 80.

12 – Labirinto:  a princesa prometida, 1986

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Frustrada por ter de cuidar do irmão caçula enquanto seus pais estão fora, a adolescente Sarah (Jennifer Connelly) sonha em se livrar da criança, que não para de chorar. Atendendo seu pedido, o Rei dos Duendes (David Bowie), personagem de um dos livros de Sarah, ganha vida e sequestra o bebê. Arrependida, a menina terá de enfrentar um labirinto e resgatar o irmão antes da meia-noite para evitar que ele seja transformado em um duende. Só pela trilha sonora cantada por David Bowie, o irreverente rei dos duendes, já vale a pena assisti-lo!

13 – O feitiço de Áquila, 1985

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Na Europa do século XII o Bispo de Áquila (John Wood) toma consciência que sua amada, Isabeau (Michelle Pfeiffer), está apaixonada por Etienne Navarre (Rutger Hauer), um cavaleiro. Áquila fica possuído de raiva e ciúme e lança uma maldição sobre o casal: de dia ela será um falcão e de noite ele será um lobo, desta forma o casal não poderá viver romanticamente junto. Isabeau e Etienne têm um único aliado, Phillipe Gaston (Matthew Broderick), conhecido como Rato, o único prisioneiro que escapou das muralhas de Áquila. Nada me tira da cabeça que a emblemática música “O amor e o poder” cantada por Rosana, na década de 80, foi inspirada nesse filme!

14 – Os Goonies, 1985

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Com os prédios do bairro quase sendo demolidos, o que forçará a mudança de todos, um grupo de garotos resolve organizar uma cerimônia de despedida do local. Quando descobrem um legítimo mapa do tesouro, capaz de torná-los ricos e evitar a destruição de suas casas. Um filme maravilhoso de Steven Spielberg, novato na época, que certamente marcou a infância de muitos de nós.

15 – A história sem fim (1984/1990/1994)

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Bastian (Barret Oliver) é um garoto que usa sua imaginação como refúgio dos problemas do dia-a-dia. Um dia ele entra em uma livraria. Lá o proprietário mostra um antigo livro, chamado A História Sem Fim, o qual classifica como perigoso. O alerta atiça a curiosidade de Bastian, que pega o livro escondido. A leitura o transporta para o mundo de Fantasia, um lugar que espera desesperadamente a chegada de um herói. A imperatriz local (Tami Stronach) está morrendo e, junto com ela, o mundo em que vive é aos poucos devorado pelo feroz Nada. A única esperança é Atreyu (Noah Hathaway), que busca a cura para a doença da imperatriz com a ajuda de Bastian. O filme deu origem a outros dois filmes gravados em 1990 e 1994. Foi baseado no romance de mesmo nome escrito por Michael Ende. Lindo e cheio de magia!

16 – O exterminador do futuro (1985/1991/2003/2009/2015)

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Num futuro próximo, a guerra entre humanos e máquinas foi deflagrada. Com a tecnologia a seu dispor, um plano inusitado é arquitetado pelas máquinas ao enviar para o passado um andróide (Arnold Schwarzenegger) com a missão de matar a mãe (Linda Hamilton) daquele que viria a se transformar num líder e seu pior inimigo. Contudo, os humanos também conseguem enviar um representante (Michael Biehn) para proteger a mulher e tentar garantir o futuro da humanidade. Esse filme foi um sucesso tão grande que teve uma sequência de filmes lançados em 1991, 2003, 2009 e 2015 respectivamente. Um marco da história do cinema de ficção.

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As pessoas se ofendem com quem é autêntico

As pessoas se ofendem com quem é autêntico

Imagem de capa: Orla/shutterstock

Uma de nossas características enquanto seres humanos gregários vem a ser a necessidade de interação com o próximo e, para tanto, precisamos ser aceitos. É na comunicação com o mundo que nos rodeia que amadurecemos nossas ideias e nos tornamos capazes de agir frente ao que nos desagrada. Em determinadas situações, é em grupo que nos fortaleceremos e nos motivaremos a continuar.

Essa necessidade de aceitação é mais forte entre os adolescentes, que querem se autoafirmar junto àqueles com os quais se identifica, ou mesmo junto aos que julgam descolados. A maturidade vem nos tranquilizar nesse sentido, facilitando nossa conformidade com o que somos e temos, tornando-nos mais aptos a nos aceitar, a sermos o que pulula aqui dentro.

Infelizmente, muitos não conseguem encontrar a própria individualidade, incapazes que são de se tornarem seres autônomos, com vontades e desejos próprios, permanecendo dependentes do julgamento alheio enquanto viverem. Passam a vida seguindo o rebanho homogêneo do que é comum, socialmente disseminado como o certo, do que é da maioria, menos de si próprio. Lutam contra si mesmos, deixando adormecidos seus sonhos e aspirações, por medo da censura alheia.

Isso porque não é fácil viver as próprias verdades, correr atrás do que faz o nosso coração vibrar, dizer o que sentimos, exprimir o que pensamos, haja vista o policiamento ostensivo de gente que critica agressivamente qualquer um que não siga o rebanho dos ditames e convenções sociais já cristalizadas. Hoje, ser alguém único, autêntico, verdadeiro consigo mesmo, é ofensivo e passível de ataques condenatórios por parte da sociedade.

Até entendemos a homogeneidade nas vestimentas e linguajares de adolescentes, porém, a vida adulta nos impõe nada menos do que viver o que se é, lutar pelo que se acredita, fazer o que se gosta, sem ferir ninguém, mas agindo de acordo com que pulsa dentro de cada um de nós. Agradar a maioria, enquanto se vive em desagrado íntimo, equivale a uma tortura diária e injusta. Nascemos livres para sermos nós mesmos, porque não há nada mais belo e prazeroso do que uma vida sem mentiras e frustrações.

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