Tem gente que te enxerga de qualquer jeito, mas um dia alguém te enxergará do jeito certo

Tem gente que te enxerga de qualquer jeito, mas um dia alguém te enxergará do jeito certo

Tem gente que olha a cor do teu batom, mas esquece de ler as palavras da tua boca. Que brinca de adivinhar vontades, sem querê-las para si.

Essa gente não vai estar lá se um dia os castelos dos teus contos ruírem. Não estará lá se alguém quiser serrar teus sonhos ao meio.

Essa gente não sabe quantas lágrimas teu travesseiro bebeu. Não percebe o que te encanta. O que te fascina. O que te faz ser exatamente tudo o que é.

Essa gente é aquela gente que olha torto, que torce o nariz. É aquela gente que não entende por mais que você explique. E você já tentou explicar milhares de vezes. Essa gente não está nem aí, porque não sabe estar onde um ego inflado não cabe.

Tem gente que pede um colo, daí você dá. Tem gente que pede um ouvido, daí você escuta. Tem gente que pede uma outra chance. Então, você concede uma nova. Mas a recíproca nunca é verdadeira. É que tem gente que não sabe ser abrigo. Que não sabe fazer caber em si nada além de si mesmo.

Tem até quem te ame desleixado. Que fala que ama, depois volta atrás. Que te trata de qualquer jeito e que deseja te fazer menor para caber no mundo apertado dele. Daí você se encolhe. Você esvazia os pulmões para se fazer pequeno, mas não consegue ficar ali, ao lado de quem faz exigências tolas para te aceitar.

Tem gente que não consegue ler o teu olhar. Que não percebe o grito preso na tua garganta. Que vê você caído no chão e pergunta se precisa de algo, como quem pergunta se você precisa de uma bebida morna em um dia quente. Tem gente que não quer ajudar de verdade.

Ah, mas um dia, um dia assim sem mais nem menos, pelos corredores gelados da vida, teus olhos cruzarão com outros que te dirão risonhos ois, como se te esperassem por uma infinidade de tempo.

E você vai sentir uma ânsia louca de se atirar na beleza desse outro. Desse alguém que sabe das razões, que entende de sonhos, que respeita motivos e ama desmedido.

Um dia assim, sem querer, alguém quebrará os relógios do tempo e te fará eterno. Um dia alguém te enxergará do jeito que você merece ser enxergado e você vai esquecer de todos aqueles que, um dia, te viram tão errado.

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Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

Calma, amor nenhum deve chegar às pressas. Encontre paz antes de qualquer começo

Calma, amor nenhum deve chegar às pressas. Encontre paz antes de qualquer começo

Tirando algumas exceções, não é como se o amor sempre batesse na porta e encontrasse um canto reservado e à espreita para acontecer. Porque colocar tudo de você, esperando e supondo, não fará com que ele chegue mais rápido. Amor nenhum deve chegar às pressas. Encontre paz antes de qualquer começo, antes de ser sorteado nessa romântica loteria.

O idealismo proposto pelo amor é tentador. Você imagina os carinhos e as trocas com alguém especial. As mensagens, as ligações para saber se está tudo bem. Vai levando ao pé da letra o manual da conquista e das etiquetas amorosas. Mas esquecemos do outro lado. Relacionamentos íntimos não são brinquedos de ego. Satisfazer o grande sonho do “amor de uma vida inteira” nem sempre trará a tranquilidade esperada. Talvez seja por isso que, depois de um tempo, amores terminem. Essa urgente expectativa maltrata até os menos sensitivos do encontro.

Em vez de maquinar no coração como estar junto é imprescindível, dê passagem para um pouco de solidão. Gaste um tempo consigo. Receba e admire o mundo de oportunidades apresentadas. Cuide da sua própria serenidade, antevendo uma possível premiação da vida. O amor é um conjunto de responsabilidades. Equilíbrio, entende?

Quem sabe, de repente os espaços de agora sejam motivos para inteiros mais adiante. Não dói ter cuidado. Cansativo é quando você ultrapassa etapas em nome do amor. É bem diferente de entrega, de permitir-se amar. Não pressione os organismos da felicidade. As nuances do romantismo também respiram por aparelhos, se você deixar.

Calma, nada de pânico. Você quer ver, sentir e tocar o amor com a máxima passada pelas novelas e filmes hollywoodianos. O amor não é um abismo no qual você é empurrado, assim, uma única vez. O amor ainda é um bicho indefinido e impreciso. Compreendê-lo leva tempo e saudade. Por isso ser harmonia é tão essencial antes do início de qualquer caso de amor.

Imagem de capa: Before We Go (2015) – Dir. Chris Evans

A vida é o maior dos espetáculos. Ela merece ser protagonizada por você!

A vida é o maior dos espetáculos. Ela merece ser protagonizada por você!

Imagem de capa: sniegirova mariia/shutterstock

Uma queixa recorrente entre as pessoas que já optaram por um tratamento psicológico e, em seguida, desistiram é a de que o profissional não lhes deu nenhum conselho, não resolveu seus problemas, não lhes mostrou um caminho claro para a solução de seus conflitos. Com base neste tipo de argumento, estas pessoas dizem que o psicólogo não lhes ajudou em nada.

Um detalhe importante sobre um tratamento psicológico, de que normalmente as pessoas não são cientes: boa parte dos profissionais em psicologia atuam com base em abordagens não-diretivas.

O que é uma abordagem não-diretiva? É uma abordagem que parte da premissa de que o cliente/paciente é a pessoa mais capacitada para saber e entender o que é melhor para ele. Sendo assim, é normal que o psicólogo se posicione como facilitador do processo em que seu cliente/paciente se descobre, entende-se, assume as rédeas de sua própria vida e, com base nisso, faz suas próprias escolhas e assume suas consequências.

O inconveniente, aqui, é que temos medo da responsabilidade da escolha, temos uma dificuldade imensa no que diz respeito a abrir mão. Pior: temos pavor de ter que assumir as consequências de nossas decisões.

Em terras como essa, reinam os grandes líderes religiosos ou políticos, imperam os livros de auto ajuda e se destacam as figuras que fabricam regras e apontam verdades prontas. Assim, ao menos não precisamos quebrar a cabeça com nossas decisões e, se algo der errado, a culpa não foi nossa.

Ora, que psicólogo o quê! Precisamos é de um YouTuber que nos diga como dar rumo à nossa vida, de um amigo bom de conselhos, que aponte a luz no fim do túnel, de um livro recheado com frases e conclusões de efeito para resolver nossos conflitos.

Augusto Boal – dramaturgo e personagem que merece destaque na luta contra a ditadura – falava muito sobre o protagonismo social. Boal usava o teatro como ferramenta para promover mudanças sociais. Em resumo, a ideia era a seguinte: ao passo que assumimos o protagonismo da peça que é nossa vida, tornamo-nos capazes de transformá-la.

Não é difícil sair da esfera social e aplicar tal conceito à esfera individual. Na peça, que é a vida de cada um, é importante que saibamos exercer nosso papel: o principal. Para isso, a independência e autonomia são indispensáveis. O preço da liberdade e autonomia, no que se refere à nossa caminhada, são as consequências de nossas escolhas.

Por outro lado, o valor que se paga por abdicar dessa independência me parece maior. Isto corresponderia a abrir mão da própria capacidade de trilhar sua estrada, ao seguir cegamente a multidão. Ser coadjuvante na própria história.

É relevante ressaltar que somos todos seres sociais e as pessoas ao nosso redor indubitavelmente exercem influência sobre nossas vidas. Apesar disso, cada ser humano é um universo e, nesse universo, os exploradores mais experientes somos nós mesmos. Quem mais indicado para opinar e decidir sobre seu universo do que você mesmo?

Então, não se aborreça, caso seu psicólogo seja semi ou não-diretivo e não tenha a chave para solução de todos os enigmas do mundo. Simplesmente se deixe levar pelas técnicas que ele usar e protagonize a terapia. Mostre-se, descubra-se, imponha-se. Isso se aplica também ao mundo lá fora, às suas escolhas, a seus conflitos, à sua vida que, por sinal, é o maior dos espetáculos e – aqui me permitirei ser diretiva – merece ser protagonizada por você.

Pão com queijo. O que isso tem a ver com a sua vida?

Pão com queijo. O que isso tem a ver com a sua vida?

Imagem de capa: Aleksandr Markin/shutterstock

Durante anos o meu café da manhã, e o meu café da tarde, foi uma fatia de pão integral torrado com requeijão, e café.

Depois de comer o pão torrado com requeijão, eu comia uma fatia de queijo branco derretido. Como prêmio de consolação.

Até que a Sandra me levou, em Americana, a um misto de restaurante, padaria e doçaria.

Olhei para o cardápio cheio de delícias fotografadas e pedi aquele cuja foto me pareceu simpática. Junto da imagem estava escrito: “o mais pedido no horário das 15.”

É a hora do meu café. Pensei: que saudades do meu café. Nem peço café quando vou por ai, porque ninguém sabe fazer o meu café.

Quando o pedido chegou descobri que nada mais era do que uma baguete de pão integral com requeijão e queijo branco derretido. Deliciosa!

Fez-se a luz: e se eu chegasse em casa e fizesse a minha torrada de pão integral (pão de forma mesmo) com requeijão, e adicionasse o queijo branco, exatamente como havia comido, o resultado seria igual?

Foi o que fiz, e desde então, nunca mais separei a dobradinha. Ganhei em sabor e para ficar mais próximo possível do original, fiz o que eles fizeram: serviram as duas metades separadas.

Usei duas fatias de pão integral, lambuzadas de requeijão com a sua respectiva fatia de queijo quente. Separadas. O queijo por cima.

E animada com o resultado, inventei de colocar dois tomatinhos cerejas previamente esquentados no forno.
No capricho!

Isso me fez pensar: quantas coisas fazemos no automático e nos descuidamos dos detalhes.

Mas o requinte está nos detalhes! E nesse sentido, o sabor melhora com o requinte! Ignorar detalhes é perder sabor. Todo chefe de cozinha sabe disso e -por saber- nos parece tão afrescalhado, com suas exigências que nos soam descabidas.

Resumidos que somos. Mas não é só isso. A questão é mais profunda.

Envolve fundamentos da neurolinguística.
Envolve cultura.
Envolve tradição.
E envolve algum resquício de culpa, de dever, de negação de prazer.

No meu caso, ao comer o pão separado do queijo, inconscientemente, eu estava fazendo uma coisa que sempre faço, desde a infância: escolhendo o que é ruim primeiro, e deixando o gostoso para o fim.

Ao fazer isso, eu engolia o pão seco, levemente lambuzado de requeijão, e pensava: daqui a pouco eu ganho uma fatia de queijo branco derretido.

Daqui a pouco. Agora não posso. Agora ainda não mereço. Primeiro o dever, depois o prazer.

Foi assim que me ensinaram e que fui condicionada a pensar: Deus fez o mundo em 6 dias, e no sétimo, descansou. Só não me falaram que Deus vive tudo ao mesmo tempo, e que o tempo de Deus não tem passado e nem futuro, é um eterno HOJE E AGORA.

Compartimentando a comida em categorias estanques, estendi a mesma ideia para outras coisas da minha vida: a melhor roupa fica para os dias especiais, há roupas para ficar em casa, e há roupas para sair.

De manhã, devo fazer tudo o que não gosto, à tarde fico livre para fazer tudo o que gosto. E como sou essencialmente matutina, o que não faço de manhã, acabo não fazendo a tarde, e deixo para lá o que gostaria de ter feito.

Esses esquemas de sabotagem que montamos para o nosso funcionamento nos fazem totalmente previsíveis e robóticos.
Mas é assim que funcionamos a contento. E a contento significa: fazendo tudo do mesmo jeito que sempre fizemos.

Não passa pela nossa cabeça juntar o pão torrado com o queijo e comer tudo junto.

E só mesmo quando alguém ousa quebrar os nossos paradigmas, a gente engole. Engole e gosta.

E pensa: como não pensei nisso antes?

Não queira de volta quem poderia ter ficado e preferiu partir

Não queira de volta quem poderia ter ficado e preferiu partir

Imagem de capa: Babich Alexander/Shutterstock

Ficarmos presos emocionalmente, de alguma forma, a alguém que já saiu de nossas vidas, será danoso ao nosso seguir adiante, pois o peso do que é mal resolvido atrapalha a nossa clareza quanto às novas possibilidades que existem por aí.

Por mais que desejemos permanência, por mais que nos doemos, que compartilhemos, que nos disponhamos a dividir o nosso melhor com alguém, algumas pessoas simplesmente sairão de nossas vidas, sem motivo aparente. Amigos ou amores, não poderemos estar seguros de que continuarão caminhando conosco por toda a nossa vida. E isso dói.

Dói o afastamento, seja forçado, seja natural, seja por qual motivo for. Seremos obrigados a nos separar de quem amamos muito, muitas vezes porque a vida assim nos obriga, após o término da escola e da faculdade, quando mudamos de emprego, de casa, de cidade, de planos. Somos todos os momentos que nos preenchem e que devem ser sorvidos enquanto acontecem, porque tudo passa, mas o que fica dentro de nós faz toda a diferença em nosso prosseguir.

Por outro lado, também existirão aqueles que irão embora à nossa revelia, que poderiam ficar, pois queríamos que ficassem, mas, mesmo assim, preferirão nos deixar para trás. Ninguém tem a obrigação de ficar onde não quiser, porém, quem fica também não terá o dever de aceitar a partida alheia, a ponto de voltar a receber de volta quem deixou para trás nada mais do que mágoa e decepção. Teremos que aceitar a decisão de quem foi, para que sobrevivamos, mas resguardando, sempre, a nossa dignidade.

Ficarmos presos emocionalmente, de alguma forma, a alguém que já saiu de nossas vidas, será danoso ao nosso seguir adiante, pois o peso do que é mal resolvido atrapalha a nossa clareza quanto às novas possibilidades que existem por aí. Portanto, é preciso deixar ir quem não quiser mais ficar, embora doa, ainda que machuque, mesmo que leve junto um pedaço da gente. Só não devemos ficar esperando voltar quem quis partir, pois isso acaba com qualquer autoestima, emperrando a felicidade de quem quer que seja.

Embora, muitas vezes, haja reencontros que fazem bem, após um tempo de separação em que ambas as partes se aprimoram e maturam os sentimentos dentro de si, tornando-se, então, prontos para se abraçarem com verdade e despidos de rusgas que já se digeriram em favor de uma volta benéfica, a maioria das separações deverá ser encarada como um fim necessário para um recomeço mais feliz. Trata-se, nesses casos, daquela velha história: se não quis sob chuva, que não volte quando houver sol. Porque certas pessoas simplesmente não mudam. Jamais mudarão.

Sabe aquele amor que você tanto procura? Pode estar no espelho que você nunca olha

Sabe aquele amor que você tanto procura? Pode estar no espelho que você nunca olha

Imagem de capa: PANIGALE/shutterstock

Acredita-se tudo está, sempre, nas mãos do outro: a felicidade amorosa, a aprovação do próprio comportamento e o sonho em ser feliz, como se o aval alheio fosse primordial para a nossa liberdade.

Se entendermos que a condição humana é imperfeita e que ninguém tem o direito de nos julgar, seríamos, no mínimo, mais felizes, e não nos sentiríamos inferiores e isolados uns dos outros. Entender que, cabe a nós o desenvolvimento do amor próprio e da autoestima, é se conscientizar do valor que temos, além respeitar a história de vida que construímos até aqui.

Pouco importa se o outro não te acha interessante, se não te considera inteligente ou se acha que você não é bonita suficiente para lhe acompanhar no jantar da empresa. O que importa é quem você É e o que você sabe a SEU respeito e não o que um estranho pensa sobre você.

De todos os sentimentos humanos, dois deles você nunca deve admitir sentir: a autocompaixão e o desamor próprio. Quando a autocompaixão corresponde a um sentimento de ternura e de cuidado próprio, é até aceitável. Porém, na maioria das vezes, o que as pessoas sentem é uma autopiedade misturado a um sentimento de depressão que as fazem aceitar qualquer coisa na vida, como se não fossem merecedoras de nada melhor.

Kristin Neff, uma das principais referências em autocompaixão na atualidade afirmava que não há “autocompaixão não exige que nos avaliemos positivamente ou que nos vejamos como melhores do que outros. Pelo contrário, as emoções positivas da autocompaixão surgem exatamente quando a autoestima cai. Quando não atendemos a nossas expectativas ou falhamos de alguma forma’.

Hellen Keller, escritora e conferencista americana, foi a primeira mulher portadora de deficiência visual e auditiva a conseguir diploma de bacharelado e afirmava que “a autocompaixão é o nosso pior inimigo, e se nos rendermos a ele nunca poderemos fazer nada de sensato neste mundo”.

Entenda que não existe um ponto de referência de beleza, de profissionalismo e de inteligência. Esse ponto é você e o quão é capaz de superar suas dificuldades diárias. A superação é entre o que você é e o melhor que pode ser, e só. Enquanto você não esconder as suas verdades, por medo da opinião pública, não conseguirá encontrará a liberdade e, consequentemente, nunca será completamente feliz.

Olhe no espelho e reflita: quem é você? Que caminhos percorreu até aqui? Que marcas seu corpo traz de superação? Que traços de verdades você carrega no rosto? Quais são as consequências de ter sido tão dura consigo até hoje? Por que deixa seu passado influenciar sua vida? Por que não se acha merecedora de uma vida melhor?

Será que não está na hora de olhar com menos rigor para sua essência e com mais amor para sua história? Você é linda, guerreira, sensata e única. Faça as pazes com o espelho e tenha coragem de olhar com mais frequência para ele. Lembre-se da famosa de Rubem Alves: “Os olhos são pintores: eles pintam o mundo de fora com as cores que moram dentro deles. Olho luminoso vê mundo colorido; olho trevoso vê mundo escuro”.

Seja crítico consigo, mas não cruel. Realista, mas não a ponto de não enxergar as próprias qualidades. Entenda que você só será amada pelos outros, quando for capaz de se amar primeiro.

“Nossos corpos são sonhos encarnados”

“Nossos corpos são sonhos encarnados”

Imagem de capa:  frankie’s/shutterstock

Um dos aspectos fundamentais no homem, diferenciando-o, inclusive do resto da natureza, é a linguagem. Evidentemente, a natureza encontra modos de se comunicar, entretanto, é na espécie humana que a linguagem se fez como instrumento de comunicação e ao mesmo tempo fim do próprio homem.

O que somos nós sem a linguagem? Qual o significado do mundo que nos cerca sem as palavras? E por que há em nós uma necessidade tão grande de falar ou escrever, de dizer ao mundo o que sentimos? Não por outro motivo que não seja para juntar os nossos pedacinhos, como fala Galeano. Porque nascemos separados e buscamos durante a vida aprender a difícil arte de encontrar.

Embora tenhamos à nossa disposição as palavras, capazes de criar alegoricamente coisas profundas e abstratas, como os nossos sentimentos, há na vida tanto silêncio, que chega a parecer que, em verdade, ainda não aprendemos a nos comunicar.

Entretanto, se “Somos diálogos”, como disse o poeta Holderlin, então, a nossa existência enquanto indivíduos depende da forma como conseguimos estabelecer com o outro um elo comunicativo, em que ao mesmo tempo em que consigo transmitir o que sinto e penso, também consigo compreender o que perfaz a cabeça e a alma do outro.

No entanto, não é tão fácil juntar os nossos pedacinhos, pois mais do que falar, é necessário saber interpretar e isso implica entender o que compreende o outro. Ou seja, tendo dentro de cada sujeito um mundo que o habita, é preciso que aprendamos a falar a língua desse mundo, já que do contrário mesmo que usemos as palavras, elas serão apenas um amontoado de coisas que nada significam.

Sendo assim, para que a linguagem seja verdadeiramente um meio de comunicação, há a necessidade de aprender a língua do mundo do outro, de entrar nesse mundo, de viver esse mundo, de sê-lo por alguns momentos. É necessário ser o outro, ter empatia, pois apenas desse modo a linguagem passa a ser ponte que une dois universos diferentes, únicos, mas complementares na sua singular estranheza.

Estamos nos desacostumando tanto a falar, que a nossa alma tem se acostumado a emudecer, os nossos sentimentos a se sufocarem e os nossos pensamentos a desaprender. Assim, ficamos como que presos ao redor de conchas, como se a nossa pele estivesse incrustada por uma dureza de tamanha ordem que até os sons deixam de passar. E os sons não passam, a música para de tocar, mas o relógio dispara que não dá para parar de correr entre estranhos que não querem acordar, porque o silêncio é tão grande que a trêmula boca deixa de saber falar.

Mas se não tem fala, não há poesia. Sem poesia, não há sonhos. Sem sonhos, não há corpos. Sem corpos, não há gente. Sem gente, sem gentes, sem nós, a corda cede e a gente cai em um terreno inóspito de monólogos silenciosos de almas perdidas que não sabem ou nunca quiseram aprender a língua do outro e, portanto, estão condenadas a perambular sozinhas.

Todavia, se somos diálogos, precisamos, então, aprender a escutar, pois é na escuta que aprendemos a falar as línguas estranhas que precisamos compartilhar. Sendo assim, é somente quando aprendemos que neste mundo habitam outros mundos, que nos tornamos capazes de abrir espaço para que as palavras se cruzem, os corpos se encostem e os sonhos floresçam, porque os “Nossos corpos são sonhos encarnados” a procura de moradas tranquilas em que possam descansar.

A frase que dá título ao texto pertence a Rubem Alves.

Gente entregue, isso sim é afrodisíaco

Gente entregue, isso sim é afrodisíaco

Imagem de capa: FCSCAFEINE, Shutterstock

Você pode encarar tudo como um jogo. Você pode medir um sentimento aqui e outro ali. Pode fingir, esconder e dar uma de ignorante. São suas condições, vai saber. Mas do lado de cá, nada disso é interessante e vale o meu tempo e afeto. Gente entregue, isso sim é afrodisíaco.

Gente entregue é raridade. Poucos estão inclusos nesse pequeno clube de intensidades. O que é uma pena, porque honestidade emocional deveria vir acompanhada em todos os inícios, meios e fins. Os relacionamentos seriam mais cristalinos e até certas diferenças encontrariam um ponto de entendimento. Mas não funciona dessa forma, pelo visto. Hoje, ainda há quem acredite nos falsos testemunhos do coração. Gente que demonstra uma alergia para o sincero, para o verdadeiro.

Não pode expressar que quer encontrar, que está com saudade, que ama ou que apenas gosta de estar junto. Qualquer uma das opções é motivo de sabotagem e fuga. Por quê? Depois lamentam. Dizem-se exaustos de tentar e esperar uma reciprocidade tardia. Um aviso, não existe chegada sem entrega. Cumplicidade não é comercial de margarina.

Expectativas quebradas não justificam um encolhimento dos sentimentos. Eles mudam, passam por transformações e outras análises, mas não diminuem. Leva tempo, leva autoconhecimento. Não quer encontrar, não quer sofrer? Não cobre presença. Não peça, mesmo que gentilmente, entregas que você não está em tempo de ceder. Mas se sentiu uma intensidade disposta para um viver ao lado? Entregue-se.

Gente entregue é uma sintonia sem partido. Acontece vez ou outra, mas quando acenam trazem experiências legítimas e acolhedoras. Desse tipo de gente, quero proximidade e todo o tempo permitido.

Atrações físicas são comuns, mas conexões mentais são raras.

Atrações físicas são comuns, mas conexões mentais são raras.

Imagem de capa: Volodymyr Tverdokhlib/shutterstock

Você conhece alguém que faz você sentir aquele friozinho na barriga, alguém que, com o toque, faça você estremecer? É comum vermos bocas que nos atraiam, sorrisos que nos desmontam e olhares que nos encantam. É comum nos atrairmos pelo perfume bom que fica em nós depois do abraço.

Mas como é difícil aquela conexão mental daquela conversa boa de que você não quer se despedir. De quem faz você abrir o seu coração; aquela conversa boa que permite que você seja simplesmente você. Como é raro ter alguém para falar das nossas paixões malucas, dos nossos gostos peculiares e dizer ao outro o quanto detestamos dieta. É raro encontrar alguém com quem a gente possa falar sem medo da reprovação e que ri da nossa risada de porquinho.

Como é bom e raro ter alguém que ache os nossos planos incríveis, enquanto muitos veem como bobagem. É raro ver alguém interessado em nos ouvir e não apenas em nos beijar, quem queira realmente nos conhecer do avesso e não com beijos calorosos que dão sinal para outra coisa. É raro alguém que queira conhecer a nossa alma, o nosso caráter, e que veja o nosso coração e não apenas o nosso corpo.

É raro quem olha para nossa alma e queira escutar as nossas histórias. É raro quem queira rir conosco das bobagens dessa vida e que divida as suas piadas mais sem graça nos fazendo rir.

É comum quem chega e arrepia com um beijo ao pé do ouvido, difícil é quem vem e nos arrepia com uma conversa boa, daquelas que você não se cansa, daquelas que dispensa o beijo e aguça o desejo de conhecer mais sobre esse alguém. É fácil quem vem e faz com que nos apaixonemos pelo jeito que nos olha, difícil é quem vem e queira olhar para a nossa alma e nossa história.

Em um mundo de tantos disfarces e coisas passageiras, é raro quem “perde” o seu tempo com uma conversa boa e, mais ainda, quem nos faz “perder” tempo com ideias interessantes, sonhos cativantes. É raro pessoas que no fazem querer sempre mais e mais e que entendam as nossas dores. Atrações físicas não são uma raridade, mas conexões mentais, gente que acolhe o nosso sofrimento e que sempre vê algo por detrás do nosso sorriso, não é só raro como nobre e bonito.

Sim, atração física é importante, mas não é tudo e está longe de sustentar uma conversa. Está longe de ser amor ou de nos fazer ter confiança nesse alguém. Porque bom mesmo é podermos ser nós mesmos e termos alguém que desperte aquela vontade de sermos sempre melhores. Difícil é quem não olha apenas para as curvas, mas contempla o nosso sorriso, a nossa inteligência e se interesse pelos nossos sonhos. Alguém que se interesse pela nossa vida e que queira escutar sobre o nosso dia a dia tão comum.

Como é empolgante conhecer alguém assim, cuja conversa flui, as ideias coincidem e, mesmo que haja discordância, o outro sabe como respeitar as diferenças, sem tentar impor, sem tentar convencer. E, então, esse alguém se torna cada vez mais interessante, não pelo beijo, pelo toque ou pelo perfume, mas pela conversa, pela forma como se interessa em nos conhecer de fato.

A gente se cansa das mesmas pessoas com as desculpas de sempre

A gente se cansa das mesmas pessoas com as desculpas de sempre

Imagem de capa: Anetlanda/shutterstock

É tão cansativo ter que se decepcionar, que ficar sem receber de volta e ter que ouvir sempre as mesmas desculpas, digerindo justificativas que se repetem e se repetem dia após dia. Cansa quando só um lado da balança pesa e se doa; esgota.

Vez ou outra, algumas pessoas nos apresentam justificativas questionáveis, quando não correspondem ao que precisavam. No entanto, há aquelas que quase nunca são capazes de terminar o que começam, de honrar os seus compromissos, ou de cumprir as tarefas que são delas, não sem terem, na ponta da língua, justificativas difíceis de se sustentarem por tanto tempo.

Existem pessoas que nunca chegam no horário marcado, que não conseguem terminar o expediente sem pendências, que jamais são capazes de corresponder a um simples pedido que lhes fazemos. Não cumprem prazos, nem promessas, ou seja, são pessoas com quem não podemos contar, em hipótese alguma. O pior é que não conseguem justificar-se com segurança, muitas vezes repetindo as mesmas desculpas de sempre, com algumas pequenas mudanças no enredo.

Infelizmente, quem arranja desculpas para tudo na vida também se comportará desse jeitinho quando se tratar dos relacionamentos pessoais. Certamente, irão deixar os parceiros no vácuo em muitos momentos, não comparecerão aos encontros agendados com amigos, tampouco conseguirão prestar favores mínimos que sejam a ninguém. Somente se mostrarão firmes no propósito de trazerem o velho corolário de desculpas esfarrapadas que ninguém mais engole.

E é tão cansativo ter que se decepcionar, que ficar sem receber de volta e ter que ouvir sempre as mesmas desculpas, digerindo justificativas que se repetem e se repetem dia após dia. Cansa quando só um lado da balança pesa e se doa; esgota. E, por mais que a gente alerte e avise o outro, nada muda, porque simplesmente existem pessoas que não mudam, tampouco estão dispostas a mudar, uma vez que não estendem os olhos além de si mesmas.

E, para piorar, quando nos cansamos de vez e paramos de acreditar nos indivíduos que nunca provaram o contrário, nem nunca o tentaram, a maioria deles ainda se sente no direito de se ofenderem e de se sentirem injustiçados, como se nós fôssemos a parte errada e malvada da história. Não se trata, porém, de certo ou errado, de bondade ou maldade, mas sim de gente que cumpre e gente que não cumpre o que promete. Infelizmente, algumas pessoas jamais poderão obter o nosso voto de confiança.

Que você tenha a sorte de um encontro que surpreenda

Que você tenha a sorte de um encontro que surpreenda

Imagem de capa: jujikrivne, Shutterstock

“A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.” Quando Vinicius concebeu essa verdade, nem ele poderia imaginar o quanto ela duraria. Mas ainda há tempo. Ainda é possível acrescentar um pouco de sorte, um pouco de surpresa. Que novos encontros aconteçam.

Conhecer novas pessoas, agregar sorrisos e conversas que façam o seu espírito mais livre, quase nada nessa vida pode ser comparada. A sensação da novidade, convenhamos, deixa qualquer coração partido ou inibido um ponto mais próximo da plenitude. Não existe uma data certa ou mesmo faz grande diferença quando começar, mas é certeiro que, colocar-se à disposição de desbravar lugares desconhecidos e pessoas das quais normalmente não falaria, é dessas experiências que surpreendem.

Sim, abraçar o novo demanda sorte. Nem sempre é a vontade que a define. Requer paciência e, principalmente, uma leveza natural. Não adianta pedir e forçar para que o universo conspire. Antes de tudo, é necessário contemplar os diferentes lados de si. Provar, pensar e sentir além da rotina, da comodidade e do velho. Para que novos encontros aconteçam é preciso despir-se da preguiça e dos sentimentos surrados pelo passado.

Surpreendente é desejar que, mais dia ou menos dia, a sorte chegará sorrindo e com os braços estendidos, onde um encontro não será julgado pelo tamanho das oportunidades, mas pela intensidade proposta ali, naquele instante. Que você tenha sorte. Que você se surpreenda. Que você viva.

Segura teu filho no colo, mesmo que ele já tenha crescido

Segura teu filho no colo, mesmo que ele já tenha crescido

Um dia teu filho crescido voltará. Dirá do mundo que descobriu com os próprios olhos e das coisas que o fizeram balançar. Um dia teu filho precisará do teu colo e consolo.

Um dia teu filho virá com os ouvidos atentos e precisará das tuas palavras. Não, filho crescido não é filho criado.

Um dia teu filho sentará ao teu lado e pedirá teu conselho e nessa hora põe de lado as desdenhosas chorumelas ou o medonho “eu avisei”, “bem feito”, “cada um com seus problemas”. Torça pelo melhor, torça para teu filho vencer, mas se ele fraquejar, que teu coração o receba com candura e amor.

Muitos filhos não voltam porque não têm para onde voltar. Porque foram varridos para fora do ninho e caíram no mundo. Muitos filhos se tornam órfãos de mães e pais vivos depois de adultos.

Quantas coisas desastrosas poderiam ter sido evitadas se antes existisse uma conversa entre um filho e um pai! Entre um filho e uma mãe! Como seria bom e sincero poder compartilhar aprendizados de forma leve, sem ressentimentos! Sem esperar uma queda para então estender a mão!

Nós podemos isso hoje, pais e mães podem isso agora. Podem dizer das verdades sem macular sonhos. Podem falar da vida com amor e orientar quando ela for dor e reparação.

Às vezes, eu fico pensando em como seriam as coisas se algumas pessoas tivessem tido pais e mães amorosos. Leio biografias e fico imaginando como poderia ter sido aquela história se a pessoa em questão pudesse ser amada, reconfortada e abraçada depois dos vinte, trinta ou quarenta anos.

Olho para o rosto feliz de mulheres admiráveis como a saudosa Palmirinha, por exemplo, a doce vovó que há anos ensina deliciosas receitas na TV, e penso em quanto sofrimento ela aceitou por não ter no passado para onde voltar. Em como foi difícil para ela, com três filhas pequenas, ter ficado ao lado de um marido abusivo por ter perdido o pai e pela mãe não lhe ter sido nem um pouco amigável.

Sim, vive-se sem o abraço do ninho o qual um dia nos abrigou, mas vive-se melhor e com mais candura se as portas da casa da infância forem destrancadas e lá dentro, sem rancores, sem ressentimentos, houver uma palavra de amor e um abraço carinhoso.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

A gente achava que já tinha visto de tudo; a gente não viu é nada!

A gente achava que já tinha visto de tudo; a gente não viu é nada!

Imagem de capa: Sofia Zhuravetc

A gente achava que as pessoas pudessem escolher quem elas amariam, sem julgamentos alheios. A gente achava que podia perdoar e que não mais voltaria a enfrentar a mesma decepção repetidamente. A gente achava que não seria machucado de novo e de novo pelas mesmas pessoas.

Sabe aquela velha história de que, quando pensamos já ter todas as respostas, vem a vida mudar todas as perguntas? É assim com tudo, porque nunca estaremos preparados para ver, ler ou ouvir certas coisas, que achávamos serem inconcebíveis. No entanto, quanto mais se vive, mais se surpreende com o que se tem pela frente.

A gente achava que ninguém mais daria algum tipo de importância à etnia, à cor da pele, à proveniência de alguém, como se isso pudesse dizer alguma coisa sobre as pessoas. Infelizmente, velhos e danosos estereótipos ainda persistem em muitos meios sociais, onde negros são tidos como menos capazes, nordestinos são tidos como preguiçosos, estrangeiros são tidos como ladrões de emprego.

A gente achava que a pessoa pudesse escolher quem ela amaria, que pudesse amar quem fosse, onde estivesse, da forma que lhe fosse melhor, caso não estivesse importunando ninguém. Infelizmente, grande parte das pessoas ainda não consegue aceitar relacionamentos que não se enquadrem nos preceitos religiosos ou nos manuais de etiqueta dos séculos passados.

A gente achava que vivia em um regime democrático, num país de livres escolhas partidárias, de autonomia política, sem que precisássemos ser ofendidos e agredidos verbalmente pelos eleitores dos outros partidos, com escárnio e, por vezes, até mesmo através de agressões físicas. Infelizmente, principalmente nas redes sociais da internet, assiste-se a uma troca de farpas violentas, num ambiente intolerante e cínico.

A gente achava que podia confiar nas pessoas, em casa, no trabalho, na vida, e que o nosso melhor não seria devolvido da pior forma, justamente por quem mais nos era especial. Infelizmente, muitas pessoas ainda não conseguem – porque não querem – ser leais, invejando o que o outro tem ou é, porque simplesmente não conseguem enxergar nada de bom em si mesmas.

A gente achava que podia perdoar e que não mais voltaria a enfrentar a mesma decepção repetidamente, porque o perdão faria o outro repensar suas atitudes. A gente achava que não seria machucado de novo e de novo pelas mesmas pessoas. Infelizmente, muitos indivíduos não são capazes de aprender, porque não querem, porque não acham ser necessário, porque simplesmente não sabem olhar para nada além de suas próprias necessidades limitadas. Não crescem, não amadurecem, continuam brincando enquanto vivem, utilizando pessoas como brinquedinhos descartáveis.

Viver é uma aventura cheia de surpresas, muitas delas negativas. Felizmente, teremos também muita coisa boa vindo ao nosso encontro, todos os dias, e é por isso que sempre valerá a pena viver com amor e esperança. Apesar de tudo e de todos.

Depositar a própria felicidade em mãos alheias é como dirigir de olhos fechados

Depositar a própria felicidade em mãos alheias é como dirigir de olhos fechados

Talvez seja um dos maiores sonhos da humanidade essa tal história de “ser feliz”. Mas basta um único instante de reflexão para se chegar a uma singela – porém não simples -, conclusão: ser feliz é das coisas mais subjetivas dessa vida.

A gente fica marcando encontros fictícios com a felicidade. Quando eu tiver um trabalho dos sonhos, serei feliz. Quando encontrar o amor, serei feliz. Quando tiver mais tempo para fazer aquilo que gosto, serei feliz. Quando isso, quando aquilo…

E, sem perceber, vamos nos acostumando a projetar nossa alegria sobre alicerces imaginários e frágeis, dada a sua fugacidade.

O que é, afinal de contas o trabalho dos sonhos, por exemplo? É receber muito dinheiro e “ralar” menos? É ser dono do próprio negócio? É ter no ganha-pão a realização de um talento? É ter mais segurança?

E como é que a gente sabe que encontrou “o” amor? É quando a gente tiver a sorte de ter o melhor sexo e o melhor amigo ou amiga na mesma pessoa? É quando a gente perceber que perdeu o interesse de procurar? É quando a gente tiver a sensação de ter encontrado um lar?

E o que diabos é ter tempo? É acordar mais cedo? É ir dormir mais tarde? É parar de procrastinar? É parar de desperdiçar horas, dias, meses e anos com disputas inúteis?

Não é nada fácil descobrir fórmulas para equacionar questões tão simbólicas da nossa existência. E não é fácil, nada fácil, por uma simples razão: não há fórmulas.

A gente vai se descascando aos poucos. A cada vez que nos permitimos imergir em experiências de vida reais e significativas.

É naqueles dias em que, ao deitar a cabeça no travesseiro, sentimos uma coisa boa no peito – uma plenitude -, por ter reconhecido no suor do trabalho também a essência de uma missão, que temos o prazer de um encontro com a felicidade.

É naquelas experiências de contato físico, em que deixamos a alma exposta dançar ao redor, o corpo amolece tranquilo, porque a excitação, o prazer e a paz se misturaram em beijos, abraços e entregas, que trouxeram pra dentro de nós o sabor, a temperatura e a maciez da felicidade.

É quando, enfim, aprendemos a parar de brigar com o tempo, e compreendemos que é aquilo a que damos valor que vai durar mais e que há momentos inesquecíveis que não passam de um instante, que vislumbramos a face rosada e tranquila da felicidade.

E, por fim, é naquele segundinho de deslumbramento em que juntamos sonho, desejo, intenção e esforço na clareza do reconhecimento de que o nosso destino é metade incerteza e metade da nossa conta, que seremos capazes de acolher a chance de ser feliz, de estar inteiro para partilhar dessa embriagante descoberta com outro alguém. Felicidade é partilha, não é dependência. Porque depositar a própria felicidade em mãos alheias, é como dirigir de olhos fechados, mais dia, menos dia, vai acabar num inevitável desastre.

Imagem de capa: cena do filme “O segredo dos seus olhos”

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