Triângulos amorosos: quem nunca?

Triângulos amorosos: quem nunca?

Aposto e ganho como já tem uma porção de gente balançando a cabecinha por causa desse título aí de cima. Há que jure de pés juntos que nunca, nunquinha mesmo, fez parte de um triângulo amoroso. Mas, e sempre tem um “mas”… preciso lhe contar um segredinho, meu incauto leitor: é mais difícil encontrar alguém que nunca participou dessa amorosa geometria, do que encontrar uma agulha no palheiro! Pode acreditar!

Inclusive, além dos triângulos, há retângulos amorosos; menos comuns, mas não impossíveis há pentágonos (além daquele lá da Casa Branca, tá ligado?!), hexágonos e por aí vai…

A questão é a seguinte: um triângulo amoroso nem sempre é algo concreto ou visível; alguns deles, inclusive, só se desenvolvem na cabecinha de um dos envolvidos. Isso acontece porque em pleno século XXI, muito tempo depois da passagem do filósofo Platão pela Terra, ainda há quem recorra ao alento afetivo de um amor platônico. Pois é.

O amor platônico é bastante útil para aquelas pessoas que precisam sentir que exercem algum poder na relação, ou não é capaz de sentir tesão sem que haja alguma disputa envolvida. Muitas vezes, esse tesão é tesão mesmo, ou seja, algo ligado diretamente à libido e ao desejo sexual. No entanto, há um outro tipo de tesão que, não tem nada a ver diretamente com sexo, mas tem ligação direta com o desejo pelo controle do outro, sem que ele saiba, é claro!

Ahhhhh, sim! A nossa cabeça é extremamente complicada! O fato é que, complicada ou não, é a cabeça que sente amor, paixão, desejo, raiva, repulsa, inveja, e todos os outros tipos de emoções que temperam a nossa vida. O pobre coração, coitadinho, não tem nada com isso.

Mas, voltando à nossa questão angular sobre relacionamentos. Muitos casais, acabam sucumbindo a um tipo de relação que não vai nem para frente, nem para trás. Isso acontece com mais frequência do que se possa supor. Todo relacionamento no início – ou, a sua maioria -, tem como pano de fundo aquela situação inicial de encantamento; um quer desbravar o ouro; ambos apostam na felicidade e, nesse início de “jogo”, dão o seu melhor.

Uma vez que se caminhe desse estado primeiro de paixão para um outro nível, aquele das relações mais estáveis, ingressa-se também em terrenos mais escorregadios que atendem pelo nome de rotina, acomodação, choque de realidade, incompatibilidade de manias e bla, bla, bla… Todo mundo sabe do que é que eu estou falando, não é mesmo?

Bem… se o casal, em questão, tiver a sorte de madurecer junto com a transformação da relação, ganha de presente – mas, não de graça -, uma chance muito maior de fazer essa história dar certo. Porque há também um encantamento genuíno na partilha das conquistas do cotidiano, na capacidade de acolher as imperfeições do outro, na oportunidade de evoluir emocionalmente, a partir de um relacionamento saudável, onde há lugar para tudo, incluindo conflitos e fases de calmaria.

Porém…. Ahhhh porém… não raras vezes, um dos envolvidos – às vezes, ambos -, ficam ressentidos com a descoberta de que a tal sonhada felicidade não pode ser entregue pelas mãos do outro. Além disso, a maior parte de nós tem uma visão bastante romantizada e ilusória acerca do que vem a ser de fato uma relação à dois que dure além da paixão.

Nestes casos, a motivação advinda das expectativas iniciais pode gerar alguns filhos inesperados – filhos simbólicos ou filhos humanos mesmo. No caso dos filhos simbólicos, estes são constituídos por aquisição de bens materiais, animais de estimação ou projetos em comum, algumas vezes profissionais, inclusive. No caso dos filhos humanos, estamos falando de crianças, é claro – sejam elas nascidas por vias biológicas ou não. A questão é que, se construir uma relação à dois já é um desafio enorme, incluir outros elementos à essa tarefa desafiadora, requer um grau ainda mais elevado de maturidade emocional e disponibilidade afetiva.

O que complica, então, é esse quase despreparo generalizado para nos envolver em jornadas de longo prazo, que nos torna alvos tão fáceis para escolher atalhos. E um desses atalhos são as relações externas à relação do casal.

Algumas vezes essa “pulada de cerca” não passa de uma ideia, surge uma atração – física ou mental -, por outra pessoa; em geral alguém que represente a antítese do perfil do parceiro estável, mas pode acontecer de rolar essa atração por outro alguém bem parecido; afinal de contas, o que não falta é gente que nunca encontra a felicidade amorosa, justamente porque fica repetindo um padrão de escolha. Muitas vezes essa relação de flerte acontece entre colegas de trabalho, entre amigos virtuais, entre amigos de faculdade, enfim, pode nascer em qualquer parte ou circunstância.

Essa atração fica no imaginário, alimenta uma carência de encantamento que foi solapada pelos percalços inevitáveis de uma vida cotidiana. Apoiado nessa relação triangular, a pessoa vai tocando a vida, como se tivesse arranjado um pezinho extra para um móvel que estava em vias de virar com tudo o que lhe ia por cima. Mas, como essa história não passa de um flerte e nunca se concretiza, isso funciona por um tempo. Por um tempo. O resultado pode ser desastroso de muitas formas, dentre elas, levar a relação real ao fim, em troca de um amor idealizado que pode não dar em absolutamente nada. Neste caso, entre mortos e feridos, ninguém se salva.

Outras vezes, o triângulo assume uma estrutura realmente concreta. Um dos elementos do casal, por julgar tem encontrado finalmente alguém que atende suas expectativas, ou simplesmente por forçar o caráter inocente da aventura, embarca com malas e cuias numa relação extraconjugal. E aí, não interessa se o tal elemento geográfico é reto, agudo ou obtuso, vai dar em desastre.

Há pessoas que sustentam relações triangulares por toda uma vida. E, são capazes de recitar uma infinidade de justificativas para a impossibilidade de colocar um fim a essa situação.

Na ponta daquele que se esticou para fora em busca de uma relação alternativa, chovem desculpas para manter os dois polos afetivos; esta pessoa é como um malabarista tendo de equilibrar uma pilha de pratos em cada mão: é cansativo, desgastante e vicioso.

Na ponta daquele que fica na relação mesmo desconfiando ou tendo certeza de que o outro esticou-se para fora, vale tudo para fingir que não é real o que se passa, inclusive, porque pode ser que essa tal pessoa estivesse apenas esperando por uma deixa para dar uma “puladinha de cerca também”, no melhor estilo “chumbo trocado não dói” – então, teremos aí um retângulo e não mais um triângulo; há ainda aqueles que não vejam essa escapada como traição; e há ainda, aqueles que não enxerguem uma saída de acabar com isso sem acabar com tudo. É! É complicado mesmo!

Na última ponta da relação triangular tem aquele que foi incluído na confusão emocional do outro, consciente ou inconsciente de que estava se metendo numa tremenda duma encrenca. Por incrível que pareça, é essa pessoa que tem a mais difícil escolha a fazer. Supondo que ela tenha entrado “de gaiato no navio”, quando ela se der conta, pode ser que já esteja muito envolvida ou acredite que o triângulo se romperá um dia e ela passe a configurar a idealizada forma de um feliz casal. Por outro lado, supondo que ela entrou no esquema sabendo dos riscos que corria, pode ser que ela tenha avaliado mal suas chances, ou pior… pode ser que ao conseguir romper o triângulo, ela se dê conta de que não era bem isso que ela queria.

A verdade, a verdade mesmo, é que nenhum de nós pode jurar de pés juntos que jamais beberá dessa água. Até porque, pode ser que a nossa parte seja bem aquela do elemento que não sabe de nada, inocente!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Vicky Cristina Barcelona”

Não permita que abusem de sua bondade, transformado-a em servidão

Não permita que abusem de sua bondade, transformado-a em servidão

Imagem de capa: illustrissima/shutterstock

Muitos confundirão bondade com servidão, ou porque não sabem lidar com o que desconhecem, ou mesmo propositalmente, visto serem oportunistas e folgados. Tentarão tirar tudo, mais e mais, aproveitando-se de cada oferta nossa.

Num mundo tão violento, cheio de pessoas egoístas e pouco dispostas a gentilezas de quaisquer tipos, muito nos admiramos quando encontramos alguém que se doa, interessando-se pelo que não se trata da própria vida. Porque a bondade ainda existe, mas vem se tornando, a cada dia, artigo raro, de luxo, uma riqueza ímpar.

Ninguém perde por ser bom, por ajudar, por colocar-se no lugar do outro, por ser um humano que tem coração e não olha somente para as próprias necessidades. Tudo o que fazemos se irradia para além do que podemos enxergar, atingindo várias pessoas, trazendo luz a muito mais gente do que imaginamos. Tanto nossas atitudes boas quanto as más disseminam-se, ou seja, nada melhor do que irradiarmos energias positivas.

Infelizmente, muitos confundirão bondade com servidão, ou porque não sabem lidar com o que desconhecem, ou mesmo propositalmente, visto serem oportunistas e folgados. Tentarão tirar tudo, mais e mais, aproveitando-se de cada oferta nossa, exigindo, inclusive, que façamos o que é obrigação nada menos do que deles próprios. Tentarão ir além dos limites, transformando favores em exigências, porque nunca estarão satisfeitos, por mais que façamos por eles.

E o pior de tudo é que, na primeira vez que lhes negarmos algum pedido, esquecerão tudo o que já fizemos em seu favor, para então se revoltarem contra nós, taxando-nos de insensíveis, de egoístas, tentando fazer com que nos sintamos mal. Se possível, contarão a quem quiser ouvir a versão deturpada que elas criam acerca dos fatos, para que nós é que fiquemos como os malvados da história.

Caberá sempre a nós, portanto, deixar claros os limites de nossa solicitude, porque tem gente que não se limita, não se toca, tampouco consegue entender o outro nem nada além do próprio mundinho egocêntrico no qual se fecha. Por isso mesmo, não podemos, em hipótese alguma, permitir que ninguém abuse de nossa bondade, a ponto de transformá-la em servidão. Jamais.

Quem quer, demonstra. Quem não quer, passa a vez.

Quem quer, demonstra. Quem não quer, passa a vez.

Não precisa muito, não. Um abraço apertado, mãos dadas com tesão e estar presente para confirmar o que está sendo sentido. Pequenas atitudes que podem parecer tolices, mas que na verdade valem mais do que um eu te amo declarado a todo instante.

Pensa comigo, qual é o sentido de negar as aparências e disfarçar as evidências? O interesse arrebatador que você acha ganhar escondendo o jogo, cedendo desejos aos poucos, francamente, maior infantilidade não há. Finais infelizes no passado te deram um certo crédito para frear alguns sentimentos, mas isso não quer dizer que tenha uma imunidade emocional, onde você dita como e quais sinceridades deve proporcionar. Além de ser injusto com quem vem se aproximando, ainda é trapaça com quem já estava lá, antes de você, querendo somar em vez de subtrair.

O melhor jeito de saborear um relacionamento é sendo entregue. Porque amantes não constroem obstáculos. Eles criam, desde o início, pontes de honestidade, tranquilidade e respeito mútuo. Bateu aquela saudade? Coragem. Ousadia para deslocar o tempo, mover moinhos e ventos ao encontro. Tendo a aprovação prévia de quem se quer estar, dane-se o mundo.

Mas e o risco? O risco é onipresente. Quebrar a cara acontece até para os desacreditados. Relacionamentos são assim mesmo. Nenhum contrato amoroso deveria contemplar obrigações. Pelo contrário, as cláusulas atribuídas viriam com artigos sobre disposições, tornando assim, tudo legítimo e palpável.

Agora, você pode tentar a sorte e ver o que te espera. Não cabem muitos julgamentos para essa gente que insiste no desprazer de ter prazer. Talvez sejam machucadas demais, cansadas demais. De qualquer forma, algo precisa mudar. Não precisa muito, não.

Quem quer, demonstra. Quem não quer, passa a vez. Existem mais amores entre o doce feito e as metades do que supomos.

Imagem de capa: Saudações de Tim Buckley (2012) – Dir. Daniel Algrant

Não conquistei tudo o que queria, mas amei tanto quanto podia

Não conquistei tudo o que queria, mas amei tanto quanto podia

Imagem de capa: Dmitry Pustovalov, Shutterstock

É muito fácil chegar e descontar na vida e nos outros tudo o que você poderia ter sido. Não passam de desculpas desconcertantes para um problema crônico, a falta de olhar para si e agradecer pelo tanto que você amou e ainda pode amar.

A gente sabe que a vida não é esse mar de rosas. Que, independente dos nossos esforços, não há uma garantia vitalícia de reciprocidade, felicidade e objetivos a serem conquistados. Faz parte perder. Faz parte não conseguir. Faz parte se decepcionar. Perceber essas coisas não é um recibo de desistência ou uma prática de pessimismo, mas é transparecer maturidade para aceitar, nada e nem ninguém está sob o nosso controle. Viver são intervalos de liberdade.

Não é todo dia que o amor está para amar. Mas você ama. Você tenta. Você interfere e usa das mais variadas artimanhas para fazer do seu bem, o seu bem. É aí que está, não é seu. Todos os contatos que temos, em todos os níveis de relacionamentos e passagens da nossa jornada são permitidas. Você não aparece e fica. É necessário um convite, uma recomendação, um interesse. Logo, não é enchendo a alma de reclamações que conseguirá uma prioridade especial da vida.

Seja leve. Encosta o sorriso no coração e deixe-os a sós. Eles se entendem, se encontram. Nenhuma rota de fuga justifica esse descontentamento. Às vezes, expectativas são só expectativas. Sensações sem endereço fixo, mas que se deixarmos, ficamos procurando a vida inteira. Enquanto isso, o tempo vai passando. O amor vai passando.

Vai lá, vive. Acorde vestindo inteiros. Faça a sua parte. Se o mundo não colabora, azar o dele. Mas tenha gratidão, contemple e priorize suas belezas e fôlegos. Não conquistei tudo o que queria, mas amei tanto quanto podia. Por quê? Porque soprei para o presente. E o presente é mais um daqueles sinais que você finge não existir. Ou, a onipresente força da escolha.

“Nada volta, mas graças a Deus algumas coisas recomeçam”

“Nada volta, mas graças a Deus algumas coisas recomeçam”

Imagem de iiiphevgeniy/shutterstock

A aceitação do fim dos ciclos é sempre um capítulo doloroso.

Não fomos preparados para as perdas. Não fomos treinados para o adeus repentino.

Somos péssimos perdedores.Quando o assunto é o fim do amor, somos incorrigíveis. Nos transformamos em meninos birrentos, profissionais do remendo. Queremos a todo custo colar os fragmentos da história falida. Rebobinar a fita e corrigir os erros.

Acreditamos que somos capazes de lidar com qualquer contratempo, desde que tenhamos como provar que toda dificuldade amorosa é apenas um desafio,um teste para aguçar a nossa capacidade argumentativa. Só questão de usar a recordação certa para convencer o outro a mudar de opinião.

Compreendemos que basta um pouco mais de jeito para lidar com os medos e bagagens sentimentais do outro.Só uma questão de mudar o método de tratamento, até que se sinta em casa novamente dentro de nossas vidas.

Sempre arrumamos um jeito de convencer o outro de que a decisão de ir embora é equivocada. Abrimos os arquivos felizes de outrora e com as provas na mão, o informamos que não poderá partir porque já foi feliz ali, portanto tem um compromisso sério, como se o fato de não amar mais não fosse suficiente.

Jogamos a culpa no outro e o acusamos de desistir do amor cedo demais enquanto desistimos de nós mesmos implorando para que ele permaneça.

As pessoas têm o direito de ir embora. Às vezes, chegam e não ficam. Dormem na varanda das nossas ilusões e se despedem. Não há nada de errado em não permanecer. Errado é cobiçar a estima de quem não nos ama. Insistir em quem não nos quer por perto. É um desejo oco porque os sentimentos trafegam em via única. Não há fluxo. Não há troca. Não há reciprocidade.

Todas as pessoas mudam e consequentemente os sentimentos vão se adequando a essa nova ótica, a esses novos modos de ordenar a realidade. Deixar para trás é amadurecer. O amor ou qualquer outro sentimento de afeição não pode ser exigido para suprir desmedidas carências. O que falta no lugar de tanta cobrança, é nos ocuparmos com o que somos e aceitarmos que as faltas mais agudas que temos não são responsabilidade de ninguém.Precisamos delas para compreendermos o nosso complexo funcionamento. Quando insistimos que o outro fique e nos ame de acordo com o nosso manual, deixamos claro que não estamos interessados em partilha, mas em posse.

Só pode haver recomeço quando compreendemos que é natural que não nos amem pelo que somos e deixem de nos amar pelas incompatibilidades que surgirem depois. Não há nada de errado nisso. Quando iniciamos um relacionamento, costumamos agir como quem hasteia uma bandeira permanente num terreno já conquistado e esquecemos que não temos controle sobre o sentimento alheio.

Não há muito o que fazer além de aceitar que o relacionamento acabou. Que a estrada será diferente para cada um e as interseções serão apenas um ornamento da memória. Se não tivermos a plena convicção de que a companhia do outro deve ser livre e espontânea, estaremos sempre acuados pelo medo dos términos. E isso, se deve à nossa própria habilidade de criar obstáculos, porque amarramos as expectativas no que é mutável, e o recomeço só estará disponível depois que o kit da maturidade entrar em vigência.

Autor da frase-título: *Felipe Arco

Reconfigurar sagaranas

Reconfigurar sagaranas

Imagem de capa: eelnosiva/shutterstock

A gente não tem chances infinitas de corrigir a rota para alcançar o porto que queremos. Por toda vida, talvez tenhamos três ou quatro oportunidades para acertar o alvo. Aqui me refiro a oportunidades internas – aquelas que nós mesmos nos damos.

Nos últimos tempos muita gente escreveu, nos livros e redes sociais, que devemos abandonar o emprego quando estamos infelizes com ele. Chegar para o chefe, dar uma banana, encher a boca e saltar o sonoro: fui!

Mas a vida como ela é: nem sempre é possível abandonar o lugar onde se ganha o pão com manteiga, os tênis para caminhadas, a mensalidade da escola do filho. Segue lista! Não existe vida sem contas a pagar.

Até mais dramático: não há empregos sem sapos a engolir. Alguns autores, majoritariamente americanos, ganharam bastante grana vendendo mantras nos encorajando a fugir de empregos chatos, burocráticos, repetitivos.

Esses autores perceberam que a maioria dos humanos gostaria de trabalhar em funções e postos desafiadores, criativos, abertos. No entanto, a maior parte dos trabalhadores do mundo está longe dessa utopia.

Eu passei boa parte da minha história profissional esperando o editor genial, o mecenas camarada, o leitor paciente, o dinheiro na conta. Nenhum dos quatro deu as caras. Ou, quem sabe, não foram com a minha cara.

Minha solução foi procurar recursos interiores para trilhar cenários adversos. De jeito algum mudei de ramo. Não apenas por conta da paixão de escrever, mas também pela certeza de que fracassaria em qualquer outra atividade.

Quando percebemos que não podemos sair do emprego, ou que é inviável mudar de ramo, surge uma oportunidade de ouro: se reinventar. Se não dá para transformar a paisagem, que tal olhá-la de um outro ângulo? Repaginar o trabalho pode nos ajudar a ver diferente.

O que não é necessariamente ver coisas novas, mas ver o que estava invisível. Há coisas boas na frente no nosso nariz, implorando por atenção. Várias atividades profissionais são desvalorizas, o que não significa que elas não tenham valor. Valorizar o que fazemos começa com a gente.

Outro dia entrei na Fnac de Pinheiros perguntando pelo Sagarana livro de contos do João Guimarães Rosa, publicado em 1946, considerado um clássico. A vendedora franziu a testa, procurou no computador, disse: Esse título é muito antigo, não temos na loja.

Ouvindo a conversa um outro vendedor me conquistou: Não temos o Sagarana no momento, mas temos o Grande Sertão e o Primeiras Histórias do mesmo Guimarães Rosa. Agora responda: qual dos dois vendedores trabalha mais feliz?

Às vezes, a gente não perde, a gente se livra.

Às vezes, a gente não perde, a gente se livra.

Imagem de capa:  Little Perfect Stock/shutterstoc

A gente se livra ao ultrapassar os limites de nossa zona de conforto, deixando para trás o que nos pesa inutilmente, o que nos faz mal, o que fere nossa dignidade. Livrar-se é buscar um novo emprego, novos amigos, outras moradas, amores fresquinhos, paisagens inusitadas, emoções desconhecidas.

Marcel Camargo

É impossível enxergarmos os fatos com clareza quando estamos inseridos em meio à roda-viva dos acontecimentos desagradáveis. Geralmente, somos levados ao desespero, à impotência e à certeza de que jamais conseguiremos nos reerguer depois daquilo tudo. Mas o passar dos dias, dos meses, sempre acaba trazendo a lucidez necessária para que possamos encontrar meios de superar os reveses, os quais, vistos ao longo do tempo e a uma distância segura, tomam a real dimensão que possuem, sendo muitos deles verdadeiras bênçãos em nossa jornada. Há perdas, sim, mas também há muitos livramentos, felizmente.

A gente perde quando magoa quem nos ama de verdade, quem caminha ao nosso lado torcendo pelo nosso sucesso e nos ajudando a batalhar por nossa felicidade. Ferir essas pessoas é como machucarmos a nós mesmos, pois fazem parte de nós e de nossa história. Ao nos distanciarmos daqueles que nos dão as mãos com devoção sincera, limitamos as possibilidades de encontrarmos a felicidade.

A gente se livra ao perceber que está perdendo tempo em uma relação sem futuro algum, investindo em alguém que não oferece nada em troca. Recobrar a consciência e a lucidez, para juntarmos forças que nos possibilitem romper e partir em busca do amor de nossas vidas significa procurarmos pela felicidade com que sempre sonhamos. Os sonhos não devem permanecer na cama, mas sim nos acompanhar também enquanto estivermos acordados.

A gente perde quando trava lutas inúteis contra pessoas que não fazem a menor diferença em nossas vidas, tentando provar algo a quem não tem a mínima consideração com o que somos.

Despender energia com aqueles que não fazem questão de tomar parte de nosso caminhar com cumplicidade apenas enfraquecerá nossos ânimos, desviando nossas atenção do que realmente importa, do que nos é vital junto às pessoas certas.

A gente se livra ao compreender que somos falíveis e que bem provavelmente erramos muito, todos os dias. Esse entendimento amenizará nossa carga de culpa, tornando-nos mais leves e propensos a internalizar os aprendizados que vêm com as colheitas. Somente analisando os nossos equívocos, com maturidade e criticidade, é que conseguiremos articular nossas ações, no sentido de não repetir os erros que emperram nossos avanços, em todos os setores de nossas vidas. É preciso carregar somente as bagagens que nos serão úteis, ou nos cansaremos sem ter desfrutado tudo o que merecemos.

A gente perde quando se nega a mudar os hábitos que emperram as mudanças necessárias ao nosso aprimoramento pessoal, que nos intoxicam o físico e o psíquico, minando nossos sentidos e limitando nossa visão de mundo. Nunca é tarde para que deixemos o novo adentrar em nossas vidas, reoxigenando nossos pensamentos, elucidando nossas dúvidas, oportunizando-nos novas chances de recomeçar aquilo que não está dando certo.

A gente se livra ao ultrapassar os limites de nossa zona de conforto, deixando para trás o que nos pesa inutilmente, o que nos faz mal, o que fere nossa dignidade. Livrar-se é buscar um novo emprego, novos amigos, outras moradas, amores fresquinhos, paisagens inusitadas, emoções desconhecidas. É inconformar-se com o que se acomodou de forma insossa, rompendo as barreiras do medo e da hesitação que nos impedem de utilizarmos todo o potencial que nos preencherá a essência na medida exata de nossa felicidade.

É necessário, pois, sabermos que, ainda que certas rupturas pudessem ter sido evitadas em nosso favor, muitas perdas implicarão ganhos imensuráveis, no tempo e na hora certa. Por mais desoladora que seja a situação, haveremos de vencer a desesperança, o desânimo e a negatividade, renascendo das intempéries cada vez mais fortes e humanos, com uma visão de mundo mais madura e segura. Certamente, ainda haveremos de olhar para trás com uma grata satisfação por tudo o que nos aconteceu e que nos deu a oportunidade de nos tornarmos quem somos, apesar de – e por causa de – todas as escuridões em meio às quais nossa luz interior se fortaleceu para nos guiar de volta, sempre em direção à felicidade.

“Por onde for, quero ser seu par.”

“Por onde for, quero ser seu par.”

Imagem de capa: Katya Suresh/shutterstock

Nesse mês de junho proliferam as emoções e essa é uma frase bastante escolhida pelos apaixonados.

Acho lindas essas frases de espelhamento gemelar que intencionam expressar o amor entre duas pessoas.

Mas vale uma reflexão sobre amor e amor.

Um par de vasos, por exemplo, envolve simetria.
São dois vasos idênticos.
Ambos se espelham um no outro.
Igual, igual, igual.

Existem casais assim?

São raros. A própria biologia se encarrega de criar pessoas diferentes.
Não há duas pessoas iguais.

Qualquer casal, por mais unido que seja, conserva a identidade bem individualizada.
Os gostos.
As preferências.
A praia e o campo.
A novela e o futebol.
E sim, o Jornal Nacional, juntos. Se um deles não preferir a Band.

Uma quadrilha, por exemplo.
Um bolero de Ravel bem dançado.
Um tango em Buenos Aires.
Todas essas musicalidades também envolvem o conceito de par.
Um conduz, o outro se deixa conduzir.

Difícil pensar que esse conceito possa ser aplicado na vida de um casal: você conduz e eu me deixo conduzir.

Até porque existem matérias dominadas por um deles, e outras dominadas pelo outro.

Quem entende mais, deve ser o condutor. De onde se conclui que a condução se alterna.

O conceito romântico de “par” fica melhor descrito em termos de parceria.

As parcerias se estabelecem quando um ser que pensa e conserva a sua identidade, se junta a outro ser que pensa e conserva a sua identidade,

e ambos convergem o olhar para a mesma direção,

e caminham juntos, não por todas as horas do dia, não “por onde for”, mas por tempo suficiente para se separarem, quando um quiser ir ao jogo, e o outro ao cinema,

sem que isso se torne um drama, ou uma guerra declarada.

Nesse sentido real, profundo, e verdadeiro as parcerias se estabelecem e podem durar até que a morte os separe.

Mesmo que um deles goste de sair, bater papo, frequentar festas, e o outro goste de ficar em casa, lendo um livro.

Mesmo que um deles não goste de viajar, e o outro faça viagens regulares a cada ano.

Qual o problema?

O problema existe apenas se você sentir que precisa de um par.
Um par para estar o tempo todo ao seu lado.
Um par que funcione como vaso
ou como partner de uma dança.

Mas o problema não existe se você internalizar o conceito de parceria.
Que é muito mais amplo.
Que envolve desprendimento.
Que abre mão do egoísmo.
Que respeita as diferenças.

Você pode ser o meu parceiro, ainda que não seja o meu par por onde eu for.

Eu posso ser a sua parceira, ainda que você não seja o meu fiel seguidor.

Basta que entre nós haja a confiança mútua de que em todos os lugares,
por onde estivermos,
conservemos a certeza de que somos parceiros na alegria e na tristeza,
convergindo os nossos interesses
e nossos esforços para o mesmo fim.

Nesse sentido, eu não tenho um par. Tenho um parceiro.

Entre nós prevalece o vínculo forte de uma parceria que dura anos, e nos leva a remar o barco na mesma direção, porque dentro dele está a nossa família, o nosso patrimônio, os nossos filhos, e os nossos netos.

Se alguém falar mal dele, eu brigo até a morte para defende-lo,

e se alguém falar mal de mim, presumo que ele faça o mesmo.

Eu até posso falar, mas não permito que mais ninguém fale na minha presença.

Posso, mas não falo.

Ensinei os nossos filhos a o amarem muito mais do que peço que me amem.

O pai dos meus filhos é o Pai de todos nós, inclusive meu.

Não é um modelo a ser seguido.

Sei que há outros, mais românticos.

Mas posso afirmar que tem funcionado em realidade, e em verdade.

Quem não tem um par, não azede o leite por conta desse conceito romântico.

Você tem um parceiro(a)?

Se tiver, comemore!

As parcerias sobrevivem a tudo, até a eventuais separações.

O casamento pode acabar e a parceria verdadeira se manterá até que a morte os separe.

“Não existe pior prisão do que uma mente fechada”

“Não existe pior prisão do que uma mente fechada”

Imagem de capa:  Who is Danny/shutterstock

Carl Jung disse certa vez que “Todos nós nascemos originais e morremos cópias”. Ao analisar a frase de Jung à luz da contemporaneidade, poderíamos encontrar um enorme problema, uma vez que vivemos em um mundo regido sumariamente pela liberdade. Isto é, o fundamento maior da nossa sociedade é a liberdade, que se ramifica em diversos aspectos, desde o econômico até o comportamental. Entretanto, se olharmos com profundidade, perceberemos que essa estrutura de mundo “livre” existe tão somente no plano teórico e, assim, somos só reprodutores da ordem vigente ou simplesmente cópias, como argumenta Jung.

Obviamente, a nossa cosmovisão sofre influências externas, esse é um processo natural. Da mesma maneira que a vida em sociedade necessita de regras a fim de manter o convívio social dentro de certos limites éticos. Sendo assim, pensar no exercício da liberdade como algo ilimitado é impossível, já que todas as coisas possuem o seu contraponto e limitações. Apesar disso, a existência de pontos limitadores não implica a inexistência da liberdade e o condicionamento irrestrito a valores passados por uma ordem “superior”.

Todavia, é isso que tem acontecido, temos sido escravizados ou, lembrando o João Neto Pitta, “colonizados pelo pensamento alheio”. E pior, por uma ideologia extremamente nociva para nós enquanto seres humanos. Fomos reduzidos a estatística, na qual somos divididos entres os condicionados e os condicionáveis. Ou seja, não existe nessa estrutura a concepção de um ser livre, que exerce a capacidade de raciocínio e afeto para discernir sobre o que quer e deseja. Todos são domesticáveis em potencial.

Esse controle é feito por meio da conversão à sociedade de consumo e seus valores fundamentais, que reduz tudo a um valor mercadológico precário, rotativo e obsoleto. A mídia com todos os seus tentáculos está a serviço do grande capital, que não visa outra coisa a não ser a conversão de mais pessoas, contemplando o deus consumo em seu templo maior: os shoppings centers. Lugar de alegria, satisfação, preenchimento de vazios e liberdade irrestrita, pelo menos teoricamente ou midiaticamente. Mas, em um mundo regido também pelas aparências, pelo espetáculo, o importante não é o que é, e sim, o que aparenta ser, sobretudo, aos olhos dos outros.

Aliás, nesse esquema, não basta ter, é necessário parecer que tenha, expor, mostrar, iludir, ganhar aplausos, tapinhas nas costas, sorrisos falsos e olhar invejosos. Em outras palavras, é preciso confessar ao mundo que você é um vencedor, que é um bom filho de “Deus”, que é recompensado por seguir os seus preceitos, ir ao seu templo e contemplá-lo 24 horas por dia. E existem ferramentas muito úteis para isso, as redes sociais que o digam.

Toda essa teatralidade da vida cotidiana, montada com cortinas que nunca se fecham, é apresentada como verdade e nós — com nossa psique altamente fragilizada — a compramos com extrema facilidade. Para os mais duros na queda, nada que mil repetições não sejam capazes de construir, afinal, como disse Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha Nazista: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.

Apesar disso, a grande maioria de nós não está revoltada com a sua condição, pelo contrário, aceitamos o jugo de bom grado. Ou pior, o buscamos. É claro que não possuímos o domínio das relações de força na sociedade, não controlamos as leis, o sistema jurídico, tampouco, a mídia. Somos “apenas” espectadores vorazes de uma batalha desigual e opressora. Entretanto, será que não há o que ser feito? Será que não existem alguns pontos de luz que tentam nos iluminar? Eu sei o quanto é difícil se libertar e quão alto é o preço que se paga pela liberdade. Mas de que adianta ter o conforto de uma vida “segura”, se é por meio dessa “segurança” que a servidão e os males decorrentes desta se tornam possíveis?

Como disse Rosa Luxemburgo: “Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem”. É preciso, então, se movimentar, correr, gesticular, falar, até que o som das correntes seja insuportável e nós consigamos despertar de um sonho ridículo que apresenta um espetáculo celestial em meio a um inferno cercado de grades manchadas com sangue, suor e sofrimento. Se uma mente que se abre jamais volta ao tamanho original, a que se liberta jamais aceita retornar à prisão; porque por mais que as condições sejam adversas, o princípio da autonomia está dentro de nós, quando decidimos romper o medo de abrir os olhos e passamos a enxergar. Sendo assim, o cárcere não é criado do lado de fora, é criado do lado de dentro, já que a chave que prende é a mesma que liberta, pois não existe pior prisão do que uma mente fechada.

Como assim você se apaixonou por mim?!

Como assim você se apaixonou por mim?!

Carta de uma alma líquida

Que facilidade e vulnerabilidade a sua de ir abrindo assim o coração! Que fraqueza é essa em me mostrar os olhos vermelhos de choro e dizer que se envolveu?!

Meu bem, quantos anos você tem? Em que mundo vive? Em que tempo parou? Que coração mole é esse? Que alma entregue é essa? E que conceitos antigos?!
Você não acredita em amor livre?

Como assim você foi se apaixonar por mim?

A gente transou muitas vezes movidos pelo tesão. Foi tudo tão intenso porque a vida é para aproveitar o momento. Eu só disse que te amo olhando nos olhos porque eu gosto de exercer a minha liberdade de expressão.

E você construiu um mundo em cima disso?
Ah, essas suas expectativas, você tem que olhar bem pra elas e tratá-las. Não fazem bem…

Não me leve a mal, você é sim uma pessoa especial para mim, mas agora eu não tenho energia e nem tempo, (tenho que ir ali ver se a minha técnica funciona bem com outra mulher. Tenho que ir ali massagear o meu ego, tenho que fazer sucesso, ficar por cima, tenho que começar do zero…).

Desculpe, não dá tempo de conversar sobre temas essenciais com você. Tenho um mundo para conquistar. Tenho uma carreira para cuidar, tenho coisas importantes para me ocupar.

Não dá tempo de te ouvir, mas você pode vir aqui às vezes, a casa é sua! E o carinho continua. Somos amigos coloridos. Só não gosto da sua TPM, é bom a gente saber… E você vai estar sempre no meu coração, como uma dessas histórias especiais que ficam na memória.

Não chore assim não! Eu não sabia que você era assim tão sensível, nunca foi a minha intenção te fazer sofrer. Se eu insisti tanto para ficar com você foi porque o universo conspirou (e você ficou dando uma de difícil e fechada e virou um desafio). Agora eu já peguei o que eu precisava, e eu pensei que você fosse uma mulher mais forte, livre, moderna… Dona de si!

E agora está assim, na palma da minha mão. Como pode?
Me desculpe, mas eu lavo minhas mãos. Não posso me responsabilizar por ter te conquistado.
A dor é sua.

Fica bem!

Do seu querido Vampiro de Energia.

Imagem de capa:  nd3000/shutterstock

10 filmes lindos para causar taquicardia

10 filmes lindos para causar taquicardia

Cinema, romances e pipoca tem tudo a ver! Essa lista é para quem adora histórias apaixonadas, cheias de lágrimas e risos, que tocam lá no fundo do coração!

Dez filmes capazes de causar taquicardia nos corações mais sensíveis. E o melhor, alguns estão disponíveis na Netflix.

1- Um dia, 2011

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Emma (Anne Hathaway) e Dexter (Jim Sturgess) se conheceram na faculdade, em 15 de julho. Esta data serve de base para acompanhar a vida deles ao longo de 20 anos. Nesse período Emma enfrenta dificuldades para ser bem-sucedida na carreira, enquanto Dexter consegue sucesso fácil, tanto no trabalho quanto com as mulheres. A vida de ambos passa por altos e baixos, mas sempre está, de alguma forma, interligada. Um filme maravilhoso e encantador inspirado no livro de mesmo nome de David Nicholls.

2- O encantador de cavalos, 1998

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Uma adolescente (Scarlett Johansson) em companhia de uma amiga sofrem um acidente quando andavam a cavalo. O cavalo da adolescente fica bastante ferido e querem sacrificá-lo, mas a mãe da jovem (Kristin Scott Thomas), a editora de uma conhecida revista, não autoriza que o matem e o leva até Montana para conhecer um rancheiro, esperando que ele ajude a curar algumas feridas internas, tanto da sua filha quanto do animal. O processo de recuperação é lento, mas após algum tempo os resultados começam a aparecer e paralelamente a editora e o rancheiro se apaixonam.O que dizer de um dos filmes mais românticos da década de 90? Lindo, mágico e sedutor.

3- Casa comigo?, 2010

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Anna (Amy Adams) viaja a Dublin, Irlanda, para pedir o namorado Jeremy (Adam Scott) em casamento. Segundo a tradição local, o homem não pode recusar um pedido feito no dia 29 de fevereiro. Após contratempos na viagem, Anna vê-se obrigada a pegar carona com o charmoso e áspero Declan (Matthew Goode), dono de uma hospedaria. Logo, o que deveria ser uma simples travessia ganha rumos inesperados. Um filme ótimo para se apaixonar pela Irlanda e pelas boas surpresas do coração!

4- Flores raras, 2013

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Em 1951, Nova York. Elizabeth Bishop (Miranda Otto) é uma poetisa insegura e tímida, que apenas se sente à vontade ao narrar seus versos para o amigo Robert Lowell (Treat Williams). Em busca de algo que a motive, ela resolve partir para o Rio de Janeiro e passar uns dias na casa de uma colega de faculdade, Mary (Tracy Middendorf), que vive com a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires). A princípio Elizabeth e Lota não se dão bem, mas logo se apaixonam uma pela outra. Um filme delicado ao extremo!

5- Meia noite em Paris, 2011

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Gil (Owen Wilson) sempre idolatrou os grandes escritores americanos e sonhou ser como eles. A vida o levou a trabalhar como roteirista em Hollywood, o que fez com que fosse muito bem remunerado, mas que também lhe rendeu uma boa dose de frustração. Agora ele está prestes a ir a Paris ao lado de sua noiva, Inez (Rachel McAdams), e dos pais dela, John (Kurt Fuller) e Helen (Mimi Kennedy). John irá à cidade para fechar um grande negócio e não se preocupa nem um pouco em esconder sua desaprovação pelo futuro genro. Estar em Paris faz com que Gil volte a se questionar sobre os rumos de sua vida. Esse filme é mais uma ótima produção dirigida por Woody Allen.

6- Um lugar chamado Notting Hill, 1999

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Will (Hugh Grant), pacato dono de livraria especializada em guias de viagem, recebe a inesperada visita de uma cliente muito especial: a estrela de cinema americana Anna Scott (Julia Roberts). Dois ou três encontros fortuitos mais tarde, Will e Anna iniciam um relacionamento tenro, engraçado e cheio de idas e vindas. Classificada como uma das melhores comédias românticas de todos os tempos, o filme tem um charme pra lá de especial apesar dos clichês presentes no roteiro.

7- O som do coração, 2008

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August Rush (Freddie Highmore) é resultado de uma paixão entre um guitarrista e uma violoncelista. Crescido em orfanato e dotado de um dom musical impressionante, ele se apresenta nas ruas de Nova York ao lado do divertido Wizard (Robin Williams). Contando apenas com seu talento musical, August decide usá-lo para tentar reencontrar seus pais. Os pais de August são interpretados pelos maravilhosos, Keri Russell e Jonathan Rhys-Meyers, só pela química entre os atores e pelo enredo tão delicado e sensível, o filme já vale a pena.

8- Segundas intenções, 1999

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Em Manhattan, Kathryn Merteuil (Sarah Michelle Gellar) e Sebastian Valmont (Ryan Phillippe), pertencem a uma rica família e vivem como irmãos, desde o casamento do seus pais. Ele tem a fama de ser um incrível sedutor e gosta de manter tal reputação, enquanto que Kathryn, apesar de ser ainda mais amoral que ele, prefere fazer o gênero da jovem boa e comportada. Quando seu namorado a troca pela inocente Cecile Caldwell (Selma Blair), Kathryn decide se vingar e desafia Sebastian a um jogo, em que ele teria que seduzir e acabar com a reputação de Cecile. Inspirado em uma história real acontecida em meados do século XVIII, contada em detalhes por Choderlos de Laclos no livro Ligações Perigosas.

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9- Um homem de sorte, 2012

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Em meio a uma batalha no Iraque, o fuzileiro Logan Thibault (Zac Efron) encontra no chão a foto de uma mulher desconhecida. Ele a guarda e passa a cuidar da foto como se fosse um talismã. Meses depois, ele retorna aos Estados Unidos e passa a pesquisar onde a mulher da foto poderia morar. Ele a encontra em um canil, onde trabalha juntamente com a avó (Blythe Danner) e vive com o filho pequeno (Riley Thomas Stewart). Logan passa a também trabalhar no canil, sem revelar o verdadeiro motivo pelo qual chegou até ele. Um filme pra lá de romântico para quem adora histórias inspiradoras.

10- Uma linda mulher, 1990

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Um magnata perdido (Richard Gere) pede ajuda uma prostituta (Julia Roberts) que “trabalha” no Hollywood Boulevard e acaba contratando-a por uma semana. Neste período ela se transforma em uma elegante jovem para poder acompanhá-lo em seus compromissos sociais, mas os dois começam a se envolver e a relação entre eles muda de rumo. Um dos filmes mais emblemáticos da década de 90.

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Foto de capa: Um Dia

Não existe fórmula mágica para esquecer o/a “ex”, o segredo é você perceber que merece muito.

Não existe fórmula mágica para esquecer o/a “ex”, o segredo é você perceber que merece muito.

Imagem de capa:  SunKids/shutterstock

Recebo muitas mensagens sobre términos. Afinal, como esquecer o ex? A verdade é que não existe uma formula mágica para “esquecer” alguém.

Vejo que muita gente tenta, a todo custo, mascarar a dor de um término. E lá vêm as postagens de fotos nas redes sociais em festas, lugares “badalados” e frases que soam como superação.

Mas, no fundo, ainda existe o choro no fim da noite, a saudade vem visitar todos os dias, mesmo o outro não merecendo o nosso sofrimento. Essa história de joguinhos de desinteresse na busca de fazer o outro perceber o que perdeu é roubada, pois, infelizmente algumas pessoas simplesmente não conseguem reconhecer a grandeza que tem ao seu lado e precisamos entender isso.

A verdade é que precisamos respeitar o nosso tempo, entender que não se “esquece” alguém, mas sim passamos a nos lembra desse alguém sem sentir amor, sem que haja saudade ou aquele sentimento de perda que nos deixa tristes. Precisamos aceitar que superar o fim de um relacionamento pode levar tempo e não há uma fórmula para acelerar esse processo.

Outro problema que vejo é o fato de as pessoas compararem a sua forma de lidar com o sofrimento pós-término com o de outras pessoas. “Ah, mas fulano superou isso tão rápido e eu não.” Justamente, cada um é cada um; então, não compare a sua forma de ver e reagir as coisas com a de outras pessoas, isso é se afundar ainda mais no sofrimento e caímos no erro de nos achar o problema.

Eu sei que dói ver esse alguém tocando a vida sem você, enquanto ainda sente saudade e não entende o porquê de ter dado errado. Também imagino quantas vezes você tentou achar onde falhou, o que poderia ter feito para que o fim não chegasse, mas a verdade é que quem quer partir simplesmente arruma desculpas para isso. E não há nada pior do que amar por dois em uma história de amor, do que insistir para alguém permanecer em nossa vida.

Precisamos aprender a deixar no passado aquilo que nos feriu, jogando fora o que nos impede de ir para a frente. Ficar preso à vingança ou àquela ideia de o outro “pagar” o que nos fez é besteira e quem sofre somos nós mesmos. Vislumbre as possibilidades tão lindas que você tem bem à sua frente, pare de olhar para trás e de tentar entender o que você fez de errado: o que foi simplesmente foi.

Você fez o seu melhor e, se não fez, terá a oportunidade de fazer diferente em um próximo relacionamento, mesmo descartando a chance de se relacionar novamente. Eu entendo todo esse bloqueio e essa mania de não querer ouvir a palavra amor ou relacionamento, isso é apenas o resquício de um coração ferido, que acreditou, amou e se decepcionou.

Calma, nem todo mundo provoca feridas, nem todo mundo vem para ir embora. Tem gente que gosta do seu jeito, que acha você incrível e que não só promete como também fica. Não ter dado mais certo com esse alguém pode ser uma forma de a vida abrir caminhos para você viver outras coisas, conhecer outras pessoas e também entender o que você realmente merece. Vejo muita gente permanecendo em uma história de amor morna por medo da solidão; muita gente intensa recebendo um amor frio quando, na verdade, precisava ferver.

Quanta gente romântica deixando de ser romântica porque o outro não valoriza os seus gestos; quanta gente achando ser bobagem demonstrar o que sente porque o outro simplesmente não faz questão dos seus gestos que esboçam amor. Por mais que você acredite ter perdido o amor da sua vida, pode ser que a vida esteja lhe dando a chance de encontrar, de fato, o amor.

Enquanto isso, cuide de você, dos seus sonhos, invista tempo em quem lhe quer bem, dedique-se ao que você gosta e faça seu jardim florescer, não permitindo que a dor de um término esmague a sua coragem, roube os seus sonhos mais lindos e leve embora todo o seu brilho. Tem gente que amaria estar ao seu lado, dividindo uma vida com você. Tem gente que amaria ver o seu sorriso todos os dias e que acharia o máximo o quanto você se esforça no trabalho, nos estudos e corre atrás dos seus sonhos.

Mas, às vezes, ficamos tão cegos, tão presos ao passado, às lembranças e a toda dor causada, que não conseguimos seguir em frente e vivemos tropeçando no nosso medo de que as coisas deem certo de uma vez, que o amor chegue e fique sem nos causar dor. A verdade é que temos medo de que a mesma história se repita e evitamos, a todo custo, entrar em um relacionamento, deixando, assim, passarem oportunidades tão bonitas, por medo de que tudo dê errado novamente.

“Tenho lembranças fortes e bonitas de toda uma vida”, diz filha de Manoel de Barros sobre o pai.

“Tenho lembranças fortes e bonitas de toda uma vida”, diz filha de Manoel de Barros sobre o pai.

“Há várias maneiras sérias de não dizer nada
mas só a poesia é verdadeira”

Foi com esse trecho de um poema que o diretor Pedro Cezar decidiu abrir o documentário Só Dez por Cento é Mentira, que homenageia e conta a trajetória do poeta-passarinho Manoel de Barros.

O homem que trouxe o mundo dos caramujos, folhas e gravetos para o imaginário de milhões de leitores ainda é um dos poetas mais lidos nacionalmente. É que não dá para ficar indiferente frente ao tão rico idioleto manoelês (definido por ele como a língua dos bocós e dos idiotas). A profunda simplicidade de sua escrita comove olhos e corações por onde pousa.

Essa simplicidade, que não deve ser confundida com simplismo, não era só aparência. Para construir seu universo literário, Manoel utilizava-se apenas de lápis e bloquinhos de papel que ele mesmo fabricava. Parece até coisa herdada de seu quase homônimo passeriforme da família Furnariidae, que só precisa de barro fresco para erigir seu castelo.

Manoel chamava seu escritório, um cubículo 3×4 situado no segundo andar de sua casa em Campo Grande, MS, de “lugar de ser inútil”. Lá escrevia as coisas mais grandiosas em tons apequenados, captados pela caligrafia tremida e irregular.

Não se veem páginas oficiais no facebook ou sites, apenas homenagens à sua vida e trabalho. É assim que sua poesia resiste, em silêncio tranqüilo feito corredeira de rio no meio do mato.

Sua catapulta para o sucesso literário veio através de Millôr Fernandes, quando Manoel já contava já com 70 anos. Dez anos depois, já era premiado e gozava de imensa fertilidade imaginativa, além de ser o autor brasileiro com maior vendagem no estilo poesia.

Passou boa parte da vida trabalhando em empregos que não gostava. Só depois de dez anos trabalhando duro na fazenda Santa Cruz, no Pantanal, herdada do pai, é que Manoel conseguiu fazê-la dar lucro, permitindo que ele então se tornasse num, em suas palavras, vagabundo profissional após comprar seu próprio ócio.

Seu desejo era sair do lugar comum, de transmutar as coisas que via e ouvia. Quando criança, era também inventor. Não no sentido ortodoxo e pragmático do termo. Suas invenções, resgatadas pelo escritor-inventor já adulto, incluem coisas como o abridor de amanhecer e o esticador de horizontes, batizados por ele de inutensílios. “A Invenção é um negócio profundo… Invenção é uma coisa que serve pra aumentar o mundo, sabe?”, disse diante da câmera do diretor Pedro Cezar.

Ainda na infância, quando era interno no colégio marista, trocou os romances de cavalaria e aventuras pelos Sermões de Padre Antonio Vieira que exerceu grande influência na sua imaginação já mirabolante

Era também fã declarado de Charles Chaplin e da figura do desheroi. Se dizia influenciado pelo diretor e comediante inglês, que usava figuras marginais e inocentes para falar de temas importantes, como escreveu em um de seus poemas: São Francisco monumentou as aves/Vieira, os peixes/Shakespeare, o Amor, A Dúvida, os tolos/Charles Chaplin monumentou os vagabundos.

UM POETA QUE ENSINA A SER POETA

Quando jovem, o escritor, apresentador e torcedor colorado Fabrício Carpinejar foi cativado pela poesia de Manoel de Barros. O primeiro contato com a obra dele foi com o livro A Gramática Expositiva do Chão, quando tinha 16 anos de idade. Ali Fabrício percebeu uma soberba de ensinamentos. A seu ver, Manoel é “um poeta que ensina a ser poeta, como Quintana foi”.

Mais tarde, escolheu Manoel como tema da sua dissertação de mestrado, batizada com o sugestivo nome de Teologia do Traste. Nela, compara com rigor acadêmico a escrita manoelesca com a de João Cabral de Melo Neto.

Fabrício contou que sua mãe enviava livros para Manoel e que ele também começou a enviar cartas para a residência da família Barros, com quem se comunicou assim por um tempo até que, em 2005, teve a oportunidade de ficar cara a cara com ele.

O conteúdo da conversa ele resume bem: futilidades. “A poesia se engrandece de futilidades”, justificou o gaúcho. A primeira impressão que teve ao chegar à casa de Manoel e Stella, a esposa com quem foi casado até o fim e com quem teve três filhos (dois deles falecidos antes de Manoel) foi acolhimento.

Em suas considerações literárias, Carpinejar defende que Manoel foi mais discípulo do poeta e diplomata brasileiro Raul Bopp, cujo livro Cobra Norato figura entre as obras mais importantes do Movimento Antropofágico, do que de Guimarães Rosa.

Aos olhos entendidos e líricos de Carpinejar, Manoel de Barros não possui uma poética, mas sim uma teologia do abandono. “Toda a sua poética é feita como almanaque. Um almanaque para deixar de ser”, argumentou. Por suas histórias sensíveis e minimalistas, é lugar comum acreditar que Manoel construa sua obra tendo a intuição como pilar de sustentação. Fabrício acha esse tipo de pensamento um tanto equivocado, já que Manoel seria um autor culto, esclarecido e estudado. Em outras palavras: alguém que sabe exatamente o que está fazendo.

“Seus personagens é que são intuitivos. Confundem ele com seus personagens”, disse.

Durante nossa conversa por telefone, percebo algo curioso: Fabrício fala de Manoel de Barros sempre no presente, como se ele continuasse vivo, palpitante. Mesmo curioso, decido por não perguntar sobre isso, para que assim ele permaneça um pouco mais entre nossos silêncios.

Para Marcelo Maluf, autor do livro A Imensidão Íntima dos Carneiros, Finalista do Prêmio Jabuti, 2016 e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, 2016, “Manoel de Barros é daqueles autores que têm a capacidade de invadir o nosso inconsciente. E remexer as coisas que deixamos nos sonhos. Toda vez que leio os seus poemas tenha a sensação de que algo que mora ali nos poemas, mas que não está nas palavras se grudou em mim e começou a brincar. Manoel de Barros só pode ser digerido assim, de alma para alma”.

DE PAI PARA FILHA

A guardiã de sua obra é a filha e artista plástica Martha Barros, de 66 anos, que é bibliotecária de formação. É sabido que Manoel só aceitava dar entrevistas por escrito, para que a voz não o traísse em seus deslizes sonoros. Martha também aceitou dar entrevista à CONTI outra mediante a condição de que ela fosse feita assim, por escrito.

“No caso dele,  penso que era porque tinha uma prosa linda e era sua arte escrever. Além do mais, respondia o que queria e como queria… Isso era engraçado. No meu caso é  por cuidado mesmo com as palavras, coisa que aprendi com ele”, esclareceu.

Segundo a imaginação lírico-afetiva de Carpinejar, o apreço de Manoel pela palavra no papel em suas respostas é porque ele “gostava da palavra como lagartixa gosta de parede”. Ou seja, grudada no papel.

Martha definiu o pai como um amigo e incentivador de seu trabalho. Tinham uma relação intensa devido às afinidades que tinham. Ambos aprenderam a amar a exuberância do Pantanal e conviveram com ela na infância e passaram suas juventudes no Rio de Janeiro e isso, segundo ela, se reflete no trabalho dos dois através do que chamou de “lembranças híbridas de dois lugares onde a natureza predomina com exuberância, ainda que de formas muito distintas”.

Uma das maneiras mais comuns do Pantanal se apresentar no texto de Manoel não é na forma de animais e paisagens, mas na imagem de um personagem que teve enorme influência na sua forma de enxergar o mundo: o Bernardo.

Bernardo é quase uma figura mitológica, situado no folclore íntimo do poeta. Sujeito de baixa estatura e de pouca fala, era seu maior companheiro, enraizado no Pantanal, como os sonhos e memórias que serviram de supra-sumo para a poesia de Manoel. Uma das coisas que Bernardo mais sabia fazer era reproduzir o som dos navios que chegavam em Corumbá, região onde fica a fazenda da família Barros.

É ele que está imortalizado em poemas como este: Bernardo é quase árvore/Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe/E vêm pousar em seu ombro.

“Conheci muito e de perto o Bernardo. Fez parte de minha infância e juventude”, relembra Martha. “Tinha deficiência auditiva e era quase mudo. Mas sabia tudo da natureza. Falava com os olhos. Era um homem inocente e cheio de bondade. Creio que o próprio poeta tratou de perpetuar essa amizade entre os dois, através de suas poesias.”

Bernardo Puhler, que atende pelo nome artístico Bernardo do Espinhaço, partilha das atenções dadas à natureza pelo autor de Menino do Mato. Contrapondo o predominante Guimarães Rosa do álbum O Alumbramento de Um Guará Negro numa Noite Escura (2014), Manoel de Barros é “o mestre de indução literária” do seu segundo trabalho, Manhã Sã, lançado em 2015.

“Há uma evidente aproximação entre seu discurso obcecado pela simplicidade e a natureza solar das canções que ali estão. Entre elas está Tardeando, que é dedicada a este poeta e narra imaginário encontro com o mesmo em uma paisagem pitoresca do Espinhaço. Outra curiosidade que me entrelaça à obra de Barros é a coincidência do nome com seu irmão [sic] Bernardo, um dos protagonistas mais recorrentes em seus livros. Frequentemente pessoas me abordam com tais poemas identificando a curiosidade do nome com o interesse pelas paisagens e pela vida natural.”

Martha Barros tem o vício da pintura desde criança. Começou a expor profissionalmente na década de 1970 e sempre contou com o apoio do pai. Quando pergunto sobre os momentos mais marcantes, menciona as pequenas angústias de uma alma gigante e os grandes prazeres de momentos miúdos.

“Tenho lembranças fortes e bonitas de toda uma vida. Quando ele ia receber homenagens e prêmios, ficava tão nervoso que no dia seguinte precisava deitar. Dizia que era descarrego… Da infância, é inesquecível como gostava de juntar toda criançada, netos e meninos da fazenda para conversar e descascar laranja. Achava graça nas brincadeiras e no apetite das crianças!”

Quando Manoel faleceu em 2014, aos 97 anos, Martha e Stella receberam mensagens de fãs dos quatro cantos. “Foi uma enxurrada de amor e carinho de toda parte! E também o que me deu força para administrar uma obra tão importante! Ele deixou tudo organizado, foi generoso até o fim”, afirmou Martha, que também ponderou sobre as lições que recebeu do pai: “Aprendi muita coisa boa! E sempre que tenho situações difíceis para resolver lembro dele. Sua humildade para reconhecer os erros, voltar atrás e pedir desculpas me comovia. Essa atitude nos humaniza e nos redime de culpas. É sábia e linda.”

Em 2016 foi editada a Antologia Meu quintal é maior do que o mundo e Martha agora cuida da reedição dos livros de poesia de Manoel de Barros pela editora Alfaguara. “Cada volume contém não apenas prefácios novos, mas também fotos pessoais, documentos inéditos ou cartas de amigos e admiradores. Um primor!”, revelou com entusiasmo.

Talvez Fabrício Carpinejar esteja certo, afinal. Manoel continua entre nós.

Quanto vale uma saudade

Quanto vale uma saudade

Imagem de capa: FCSCAFEINE/shutterstock

Uma saudade vale o preço do amor. A gente pisca os olhos e começa a correr em quintais que não existem mais, estranhando como o mundo era grande, apesar de pequeno, precisando de pouca gente pra ser povoado. Deita no berço, chora, faz hora com o relógio, busca a criança que ficou lá, brinca no quintal, tendo como destino o banho, a comida na mesa, o cobertor colorido no berço, o primeiro dia na escola, o susto de ver como as ruas de nossas casas eram insuficientes para tantas descobertas.

Uma saudade pode valer os abraços no medo do escuro, o sopro que curava o machucado, o bolo de aniversário, as histórias contadas antes de dormir. Pode valer o primeiro futebol, a primeira briga de rua, a bolinha de gude, a pipa construída por quatro mãos e o vento que favorecia olhos voltados para o colorido no céu.

A saudade pode vir fantasiada de primeiras juras de amor, planos futuros, beijos, tinta na parede, escolha dos móveis, pequenas e grandes viagens, abraços na dor, brigas, lágrimas e novos abraços, sorrisos e a vida repleta de encantamentos.

Uma saudade pode vir na barriga crescendo, nos sapatinhos, fraldas, mamadeiras e um amor que ultrapassa as nuvens. Nossas mãos passearão pelo banho, cabelos penteados, tarefas escolares, chamadas na escola, acampamentos no colchão, filmes e pipoca.

Uma saudade terá cheiro, nome e rosto, será tocada nas viagens da alma pelas ruas da memória. Amanhecerá de olhos inchados, pedindo mais, anoitecerá de mãos cheias, devolvendo gratidão, se esconderá dos lugares vazios, pois sua única exigência será sinalizações que apontem para a existência do amor. Seus cômodos comportarão pai, mãe, filhos, avós, amigos, comportará nossa história e a descoberto de chegadas e partidas, do amor acompanhado da dor, um não existirá sem o outro.

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