“Amor é tudo que nós dissemos que não era”

“Amor é tudo que nós dissemos que não era”

“AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA” Charles Bukowski

De início, a necessidade de descobrir o que é, e dar um nome. Por que é que tanto pulsa? Só sentir já não basta? Saber o que é, é suficiente para mentes tão acostumadas a descrer no que não possui bula nem manual? Crer na existência do amor, aquele tão almejado sentimento, avassalador, vulcânico, como disseram que era.

O amor, que parece ter a sua aparição sempre longínqua, lá, em outras vidas, porque nunca deixamos que se aproxime e fique, e por fim, se revele. Se não o experimentamos perto, que dirá dentro, como é para ser. Disseram que ele “só aparece para os distraídos”, “que é fogo que arde sem se ver”, “que é chama”.

Disseram tanta coisa…

Disseram tanta coisa e nós acreditamos. Tomamos como verdade os rumores de que somos inflexíveis e não sabemos amar, que engatinhamos nos assuntos do coração, e por isso, a melhor alternativa é não cedermos quando nos sentirmos tocados. A nossa sorte, é que o amor vence os repelentes da descrença. Não se mostra apenas sob uma face, possui a elegância de aparecer embrulhado em atos de bondade e compreensão, pois é múltiplo sentimento.

Difícil conter a emoção quando os sentidos vibram com o olhar e, a existência daquela pessoa, nos orienta a alterar os planos e as rotas e, enfim, concluímos que, “amor é tudo que nós dissemos que não era”. Nunca vimos nada igual, mesmo que tenhamos encontrado em outro rosto, algum rastro ou luz parecida. Agora é diferente, é tudo coexistindo à flor da pele, com cheiro de novidade, agitação que não perturba, euforia que é fome de abraço.

Quando o peito acolhe o amor, as opiniões alheias, pouco importam. As teorias “amorísticas” dos aventureiros de plantão, caem por terra. Inaugura-se novos olhares, retira-se os tapumes da desconfiança. Já não somos mais os mesmos. Melhoramos com a possibilidade de amar sem conta, como no poema de Drummond. Amar sem cálculos. Sem a ameaça do medo. Amar em demasia, gastar o amor com o que dele transborda. Não dando a ele nomes fictícios nem limitando-o com fórmulas explicativas, que de nada servem.

Quando falar sobre o amor, afaste “os achismos”, os fantasmas dos relacionamentos fracassados, as frases dos amargurados que o maldizem porque nunca conseguiram vivenciá-lo. Quando amar, retire os apetrechos, os pesos dos nomes, os sapatos caros, a necessidade de obter provas sobre os sentimentos; o amor só pode ser pago na mesma medida, com mais e mais amor – essa fortuna que nos torna habitáveis, moradas de outro ser.

Mesmo depois de muito tempo sem o aconchego dos abraços, os gestos não envelhecem. Os toques não desaprendem o itinerário das carícias. Refazemos os contornos em outro corpo, ganhamos mais vida com o amparo da pulsação de outra vida. Revigoramos a saúde da alma na palma quente de outra alma. Sentimos que regressamos ao nosso lar na melhor companhia, sem os beliscões da dúvida, sem a insegurança que outrora nos distraía pelas estradas tortuosas da descrença.

“Amor é tudo que nós dissemos que não era”.

Imagem de capa: solominviktor/shutterstock

Ninguém tem culpa por ser ansioso

Ninguém tem culpa por ser ansioso

O ansioso quer para ontem o que não tem pressa, deseja resultados ainda no meio do processo, fica imaginando que não dará tempo, que não chegará no horário certo, que algo vai estragar tudo. Muitas vezes, está ansioso sem nem saber o motivo – simplesmente está.

O ansioso enxerga tudo de uma maneira diferente, dimensiona as coisas absurdamente, prevendo sempre o pior que pode vir a acontecer. Quer para ontem o que não tem pressa, deseja resultados ainda no meio do processo, fica imaginando que não dará tempo, que não chegará no horário certo, que algo vai estragar tudo. Muitas vezes, está ansioso sem nem saber o motivo – simplesmente está.

Pessoas ansiosas raramente conseguem ter esperança, sendo, muitas vezes, inclusive, incapazes de se agarrar a algum tipo de fé que lhes possa acalmar os ânimos e serenar os seus corações. O nervosismo interno é mais forte do que qualquer elemento de fora que possa trazer calma; o medo do imprevisível é muito mais forte do que a capacidade de perceber que há muita coisa boa envolvida nisso tudo.

E tudo ainda se potencializa nesse contexto célere de hoje, em que a rapidez marca a passagem do tempo, as responsabilidades se acumulam, os compromissos são inadiáveis, a tecnologia avança muito mais rápido do que nosso ritmo normal. O mundo lá fora parece correr em disparada e isso acaba por acirrar ainda mais a ansiedade que cresce dentro das pessoas. E lhes sobram os suores, as taquicardias, os arrepios gelados pela espinha e os calafrios percorrendo o corpo todo.

O pior é que, muitas vezes, a ansiedade toma conta da pessoas e elas nem sabe o porquê, uma vez que, aparentemente, não há preocupação alguma em suas vidas naquele momento. O problema é que ninguém manda na ansiedade, ela parece ter vida própria e sempre estar a postos para adentrar os sentimentos de qualquer pessoa, de forma inesperada. Por isso é que chega a irritar quando o ansioso tem que ouvir os outros falando que aquilo é bobagem, que não há nada grave, que são minhocas da sua cabeça.

Puxa vida, será que não dá para entender que ninguém, em sã consciência, fica ansioso por livre e espontânea vontade? Por qual motivo alguém gostaria de sentir tremendo mal estar, ter os nervos em frangalhos, porque o quer, porque gosta de sofrer? Ninguém gosta de sofrer e ansiedade é sofrimento constante. Saber que alguém entende pode ajudar muito. Terapia e medicação acompanhada também podem trazer resultados eficientes. O que menos ajuda e só piora tudo é gente taxando o ansioso de fresco e fraco. Ninguém tem culpa por ser ansioso. Ninguém.

Imagem de capa: pecaphoto77/shutterstock

Quem ama não sente culpa. Mesmo quando o ser amado já tem outro alguém.

Quem ama não sente culpa. Mesmo quando o ser amado já tem outro alguém.

Está escrito. O amor há de ser desafiado, provocado, testado, e os amantes só seguirão unidos se vencerem juntos as pelejas que aparecerem pelo caminho.

Novos e velhos amores estão fadados a passar por isso. Um dia sem mais você se pega sentindo amor por alguém que, por acaso, já tem outro alguém. Um namoro, um noivado, um casamento. Não importa. Você está num impasse. E pensando consigo você se pergunta: “invisto no que eu sinto ou esqueço e vou embora?”.

A decisão é sua. E seja ela qual for, vai doer. Nesse caso, ficar e partir dão trabalhos diferentes mas causam a mesma dor.

Ao mesmo tempo, do lado de lá, pode ser que a pessoa por quem você foi sentir amor também esteja em situação delicada. Pode ser que o namoro, o noivado ou casamento dela também já não esteja lá essas coisas. E aquele gesto dela em relação a você, aquela frase que você interpretou como um sinal sutil de reciprocidade na sua direção, aquilo pode ser um pedido de socorro.

Alguém agora há de vociferar que eu estou a confundir paixão e amor. Vai dizer que estou equivocado, que a paixão é a tempestade e o amor é a calmaria. Que seja. Eu respeito mas discordo. Para mim, a paixão é só uma das fases do amor. A primeira. O fogo das primeiras vezes, a ansiedade, os rompantes de encantamento ou repulsa inicial, tudo isso acontece nos primeiros instantes de um sentimento que pode ou não se transformar em um amor longevo, sereno e resistente como as velhas árvores. Mas é tudo amor. Desde sempre é amor o que a gente sente quando quer bem a pessoa que nos faz o coração bater diferente.

Quem conhece uma outra alma e pensa nela com ternura no silêncio de sua solidão, e sorri lembrando como ela sorri bonito, apertando os olhos, e se incomoda com o que a incomoda, e sofre com o que a faz sofrer, já está sentindo amor. Um amor embrião, incipiente, apaixonado. Mas é amor.

Pois muito bem. Por qualquer motivo você começa a amar alguém que já caminha pela vida em outra companhia. É chato mas acontece. O amor adora uma prova difícil. Do seu lado, seus valores, sua personalidade, seu jeito de ser e de estar na vida vão ajudar você a decidir se vai ou se fica. Do lado de lá, se houver reciprocidade, a pessoa que tocou seu coração vai fazer o mesmo.

A você, cabe apenas não sentir culpa por seus sentimentos e, sobretudo, aceitar e respeitar a decisão da pessoa amada. Resolva ela ficar ao seu lado ou se afastar para sempre, resta a você agradecer. De qualquer sorte, ela fez você sentir amor e merece a sua gratidão.

É assim que é. O amor adora uma prova difícil. E afinal, qual é a graça de um sentimento que nunca foi posto à prova? Quem se ama mesmo, quem se ama de verdade, resiste às dificuldades no início ou no meio do caminho. E se aceita ou não as possibilidades novas que a vida apresenta, só o faz por amor. Aquele amor que quando não tem lugar aqui, está sempre vindo ali… ali… ali…

Imagem de capa: Milan Ilic Photographer/shutterstock

Crônicas de uma vida anunciada

Crônicas de uma vida anunciada

“Seja como você é. De maneira que possa ver quem é. Quem é e como é. Deixe por um momento o que deve fazer e descubra o que realmente faz. Arrisque um pouco, se puder. Sinta seus próprios sentimentos. Diga suas próprias palavras. Pense seus próprios pensamentos. Seja seu próprio ser. Descubra. Deixe que o plano pra você surja de dentro de você.” Fritz Perls

Pertencimento é uma necessidade vital, somos seres sociais, dependemos do outro para existir. Nada disso é novidade. Mas tenho constantemente me perguntado: qual parte minha devo alienar, a fim de pertencer a um determinado grupo? Quais são as vozes que ficam caladas, para que eu possa me sentir amada?

“Saúde é um equilíbrio apropriado da coordenação de tudo aquilo (e aqueles) que somos” dizia Fritz Perls, um dos principais nomes da Gestalt-terapia. Na visão gestáltica, possuímos um organismo completo e inteligente que se autorregula de acordo com o meio em que está inserido. E é através desse processo de autorregulação que desenvolvemos determinados padrões de comportamento em resposta ao que o meio exige de nós, bem como alienamos importantes partes nossas (e, às vezes, menos “populares”).

As muitas regras sociais e morais, a organização de nosso sistema familiar, os ambientes e pessoas ao nosso redor, dentre tantos outros fatores, compõem as diversas crenças e introjetos que, ao longo dos anos, moldam nosso comportamento. Nossa grande tragédia está no fato de que, quanto mais nos moldamos (a fim de sermos aceitos), mais partes nossas são alienadas e menos autênticos nos tornamos. Dessa forma, aniquilamos pedaços importantes de tudo o que nos torna o que somos: únicos e irrepetitíveis. E, assim, anulamos nossa melhor parte, nossa essência.

Perls dizia que estamos sempre representando um papel, manipulados ou manipulando o meio, em prol de alcançar o que desejamos e de suprir nossas necessidades mais latentes. Essas representações existem em maior e menor grau, dependendo do nível de consciência e autoconhecimento de cada um. A representação de um papel significa que minhas respostas não são espontâneas e honestas; que estou constantemente suprimindo meu querer mais irracional e visceral.

Isso porque nem sempre podemos explicar nossos desejos de maneira lógica, porém, para os valores morais da sociedade, o que não pode ser logicamente explicado, ou justificado não pode ser validado. Assim, viro plágio, engesso minhas respostas, copio minhas ações. Quanto mais cristalizado é meu comportamento, menos autêntico sou.
A Gestalt-terapia entende toda resposta não autêntica como neurótica.

Nesse contexto, as redes sociais atuam como amplificadores de uma vida anunciada, ensaiada e editada. Na internet, podemos representar nosso melhor papel, mais ainda, aprimorá-lo. Esses papéis virtuais são perigosos, porque endossam uma narrativa romântica de felicidade fácil e de perfeição, de relacionamentos desprovidos de grandes conflitos e negociações. A rede permite ensaios, filtros e edições que a vida real não permite. E uma vida ensaiada não é apenas caluniosa, como também bloqueia o fluxo criador e transformador que podemos devolver ao mundo. Ela nos priva de viver com prontidão, improviso, espontaneidade e (muita) imperfeição. Ela nos priva da liberdade de sermos quem de fato somos.

Anunciamos nossos passos, nossas melhores experiências, onde estamos, com quem estamos. Nas redes, cabe nosso eu inteligente, solidário, justo, ativista, alegre, bem sucedido. Gritamos nossas revoltas diante das injustiças do mundo, nossa fé e esperança de um futuro melhor. Tudo meticulosamente pensado para caber no olhar alheio. E, mesmo quando dividimos nossas dores, são dores editadas, aquelas que podem ser acolhidas pelo olhar compassivo do outro.

Dessa maneira, só me arrisco a compartilhar o que de certa forma pode ser aceito e validado pelo outro. E, quando isso não acontece, tenho a opção de deletar. É preciso cautela ao equilibrar e dosar o uso que fazemos dos canais virtuais, pois é muito fácil e sedutor buscar reconhecimento e acolhimento através deles. Tanto quanto é vazio e ilusório. Nunca estivemos tão conectados, nem tão solitários.

Uma vida anunciada é desprovida de contato real e de intimidade. E a intimidade é o que de fato nos desnuda e nos conecta em um nível muito mais profundo e verdadeiro. Quando me privo de viver com prontidão, quando não me utilizo dos recursos que tenho e da expressão de minhas emoções de maneira instantânea e espontânea, sou apenas mais uma personagem. E, assim, aos poucos, minha vida anunciada e encenada me torna mais cristalizada, neurótica e solitária.

As palavras de Perls nos lembram como é libertador o trabalho de tomada de consciência, ainda que custoso. “Eu acredito que esta é a grande coisa a ser compreendida: a tomada de consciência em si – e de si mesmo – pode ter efeito de cura”, escreveu ele. Esse é um trabalho interno e que deve ser feito em silêncio, longe dos holofotes.

Quando criamos consciência de nossos processos, podemos elaborar respostas mais imediatas e autênticas aos nossos conflitos e integrar partes importantes nossas que foram censuradas. Podemos viver com prontidão e sem ensaios. Só assim seremos completos, só assim estaremos em paz e devolveremos algo inteiramente único para o mundo. Sim, ser autêntico requer muita coragem e um caminhar solitário e vulnerável. Mas quem o faz vive uma vida em liberdade de ser quem se é; devolve ao mundo calor, víscera e pulso.
Afinal, não é isso que chamamos de vida?

Espelho, espelho meu, existe alguém mais Narciso do que eu?

Espelho, espelho meu, existe alguém mais Narciso do que eu?

Quando Caravaggio pintou o quadro “Narciso”, no século XVI, dificilmente preveria que o ser individual proclamado pela modernidade atingiria o grau que presenciamos na contemporaneidade.

Naquela época, o que os artistas e pensadores desenvolviam nas suas obras era algo muito mais relacionado ao desenvolvimento da individualidade, isto é, da consciência subjetiva do sujeito, que do individualismo que se tornou um dos grandes estandartes da sociedade que habitamos.

O desenvolvimento da consciência do indivíduo, centro de um mundo organizado pela racionalidade, pode ser observado em diversos pensadores, desde Hobbes e o seu “O homem é o lobo do próprio homem”, passando por Descartes e o “Penso, logo existo”, até chegarmos a Shakespeare com o “Ser ou não ser” de Hamlet.

Esse processo de construção e/ou expansão da individualidade do sujeito moderno foi um processo importante, uma vez que ainda que o sujeito se faça no todo, é necessário considerar a subjetividade celular que origina esse mesmo todo, a fim de que a partir de um processo dialético entre o todo e a parte ambos possam ser melhor compreendidos.

O que provavelmente os modernos não consideravam é que a consciência individual fosse exponenciada a tal ponto que a sua própria consciência pudesse ser dissolvida, haja vista, como exposto, a necessidade permanente do diálogo entre o todo e parte para que ambos possam existir e ser individualmente compreendidos.

As novas tecnologias desenvolvidas nas últimas décadas, com a criação e difusão das tecnologias da informação, são determinantes para que possamos entender o processo que separa a formação da necessária individualidade colocada pelos modernos e o individualismo – não oriundo do período histórico mais recente, mas desenvolvido sobretudo nesta quadra da história – e contrariamente importante para o desenvolvimento da autoconsciência.

Sendo assim, a “relação” que estabelecemos com as tecnologias que nos circunda é algo muito próximo (ou para além) daquilo que Caravaggio representou no seu quadro há mais de quatrocentos anos. O uso, ou melhor, a relação de uso que possuímos com todo o aparato tecnológico que dispomos nos coloca em uma posição “ensimesmada”, narcísica, de modo a procurarmos o tempo inteiro uma reafirmação do nosso eu, e na mesma medida a desconsideração do eu dos outros.

Aliás, o outro é “considerado”, mas tão somente para nos referenciar por meio de “curtidas” e seus sinônimos presentes nas redes sociais.

Esse processo – que leva constantemente a auto exposição exacerbada, pois já não basta estarmos nos lugares ou simplesmente fazer coisas, é preciso mostrar aos meus curtidores onde estou e o que faço – fez com que houvesse uma atualização do cogito cartesiano, passando do “Penso, logo existo” para o “Posto, logo existo”.

Além disso, passa a ocorrer também um distanciamento do mundo que nos circunda, do momento que vivemos, dado que se aquilo que é feito precisa ser obrigatoriamente referenciado em alguma rede social, a coisa em si é menos importante do que a sua existência em outra realidade.

Evidentemente, existe bom uso das novas tecnologias, inclusive, como forma de desenvolvimento da autoconsciência. No entanto, o que se observa de maneira geral não é isso, mas antes o desenvolvimento do individualismo, fator no qual reside o problema, pois, como dito, sem a consideração do outro como sujeito é impossível desenvolver a própria consciência e a individualidade.

As redes sociais, nesse prisma, possibilitam a autoafirmação dos indivíduos, embora ela se torne falsa na medida em que não se estabelece nenhuma relação com o outro. Todavia, perceber ou questionar o modo como utilizamos as novas tecnologias é algo extremamente difícil, haja vista o entorpecimento que elas produzem, impedindo, consequentemente, o desenvolvimento da consciência que prometera. Dessa maneira, o individualismo encontra campo fértil para se reproduzir, em que indivíduos ficam entorpecidos com as suas próprias imagens, assim como no mito de Narciso.

É preciso destacar, entretanto, que não se trata de estabelecer uma relação maniqueísta em relação ao uso das novas tecnologias; mas antes, problematizar o modo como o seu uso contribui para que o individualismo se fixe com uma das grandes ideologias do nosso tempo, contrariando a ideia de desenvolvimento de uma consciência individual, uma vez que esta só pode existir a partir da relação estabelecida com o outro.

Assim, é imprescindível que haja uma maior problematização em relação ao modus operandi do mundo tecnológico, a fim de que ele possa ser, de fato, um instrumento de desenvolvimento e respeito das subjetividades, e não – contrariamente – um elemento para que nos tornemos reproduções em 3D da pintura de Caravaggio.

Imagem de capa: racorn/shutterstock

Os gatos nos ensinam que o amor de verdade sempre volta pra casa

Os gatos nos ensinam que o amor de verdade sempre volta pra casa

Há pouco mais de um ano, apareceu uma gatinha em meu quintal. Eu nunca tivera gatos, somente cães a minha vida toda. Deixei-a na minha garagem, enquanto procurava por um possível interessado em ficar com ela, mas ele nunca apareceu. E ela foi ficando, ficando e ficou.

Estranhei, desde o início, o jeito de um gato, sua autossuficiência, seu olhar de altivez, sua calma, enquanto tudo à volta pode estar fervendo. E um dos comportamentos que até hoje me faz sofrer é a liberdade de ir e vir que o gato possui. Ela sai e volta quando quiser, bem como fica na rua o tempo que for, o qual nunca é uniforme.

Dias atrás, ela saiu de manhãzinha e não voltou o dia todo. Cheguei do trabalho e ela não aparecera desde a manhã daquele dia, o que me deixou nervoso – ela nunca ficara mais de duas horas na rua. Coloquei sua foto no Facebook, numa página de proteção aos animais aqui de minha cidade, totalmente desolado. Saí a pé, de carro, pelas redondezas, à sua procura, e nada. Somente lá pelas nove da noite, ela apareceu, como se nada tivesse acontecido, e foi comer sua ração calmamente.

Minha gata está me ensinando muita coisa, principalmente em se tratando de relacionamentos e amor. Ela me ama e deixa claro isso quando dorme sob minha barriga, quando se esfrega em forma de um oito entre minhas pernas enquanto escovo os dentes, quando lambe minha mão com sua língua crespa. Ela me ama e sempre volta: ela quer que eu entenda que ela vai voltar para mim. Todo dia. Ela vai voltar.

Aprendo, a cada dia, que amor é o que faz a gente retornar, por mais que a gente se ausente, por mais que o tempo passe, por mais que demore essa volta. O amor é livre, o amor passeia por aí e nem por isso deixa de ser fiel. O amor requer qualidade e não quantidade. Amor é laço que não aperta. É confiança no outro, enquanto ele está longe de nossos olhos.

Agora mesmo, ela está passeando pelas ruas, há horas, enquanto fico com o coração apertadinho a esperando. Ainda não adquiri a confiança que ela requer, porque meu amor ainda é egoísta e humano. Talvez eu nunca chegue a desenvolver esse desprendimento em relação a quem amo. Mesmo assim, minha gata não desiste de me provar que amor é confiança, é tranquilidade, é confiar no quanto o outro nos ama, mesmo não deixando de ser quem é.

O amor não desiste, por isso ela sempre sai, apesar de me deixar intranquilo, porque ela quer me provar que não desistirá nunca de mim. Nunca.

Imagem de capa: Suzanne Tucker.shutterstock

Se não vai “agregar valor ao camarote”, pode ir embora!

Se não vai “agregar valor ao camarote”, pode ir embora!

De uns tempos pra cá, mudei. Comecei a dar a importância que as coisas têm e parei de sofrer por bobagens. Se antes, ponderava muito antes de sair das relações e ficava como porteiro desequilibrado tentando controlar o fluxo e as despedidas, hoje ajudo a fazer as malas e fecho a porta sem arrependimento.

Não, não me tornei uma pedreira. Não sou insensível. O meu coração continua bobo por sutilezas, tem predileção por exageros bonitos, bate na frequência mais forte, e às vezes, fica descompassado e louco quando se depara com alguma beleza extravagante. O que acontece é que não faz sentido colocar intensidade nas coisas que não vibram. Despejar amor em corações baldios e improdutivos. Se dedicar a quem não sabe o que é ter alguém que se preocupa com a qualidade do seu dia e que espera ansiosamente pelo carinho do seu abraço. Alguém que cuida e se doa nos mínimos detalhes só pra ver a dança da felicidade se exibindo no seu rosto.

Toda mudança requer um olhar demorado sobre as coisas, e ainda me pego pensando nos penduricalhos inúteis que guardei ao longo dos anos; amizades de ocasião, que duraram apenas o quanto pude dar a elas a minha melhor versão. Pseudoamores que despejaram uma carga de insegurança na minha vida e me fizeram duvidar de que o pré-requisito pra ter o amor genuíno é cultivar o próprio. A vida virou uma extensa passarela, onde vi tudo se exibir com pressa e se desmanchar, sem nenhum entusiasmo, sem nenhuma verdade, sem compromisso algum com a reciprocidade. Pessoas que chegaram, interpretaram suas cenas com calculada frieza e desapareceram.

Hoje cuido dos meus afetos com demorada alegria. Sem deixar os meus desejos pra depois. Sem estocar os sentimentos porque coração intenso é órgão que vive exposto. Mas, compreendi que é preciso domesticar os ímpetos e fazer triagem do que fica, de quem fica nestas terras sagradas, neste coração que não precisa sofrer quedas desnecessárias para descobrir o quanto é importante. Hoje, sei me despedir sem achar que é o fim do mundo, sem imaginar que viver sem uma pessoa vai comprometer a minha vida inteira. Hoje, compreendo que quem não fica é porque não quer. Aprendi que a primeira cláusula de um sentimento verdadeiro se chama “liberdade”.

De uns tempos pra cá, mudei. Foi a melhor coisa que fiz.

Imagem de capa: Andreas Saldavs/shutterstock

Eu quero ver o gelo derreter

Eu quero ver o gelo derreter

Eu quero ver o gelo derreter. Mas não consigo derretê-lo sozinha. Olha só, veja quantas ondas já passaram por aqui, pensei ter me afogado, mas sempre consegui resistir. Mas não sei se consigo engolir mais água. Não sei se consigo respirar em mais um dilúvio. Não sozinha. Não carregando a mim mesma. Eu sempre precisei de você, até mesmo quando não estava aqui.

E se minhas próprias tempestades te afogam às vezes, acredite, está afogando a mim também. Mas eu não tenho a intenção de ser uma explosão. Se te peço carinho, imploro atenção, é porque só você acalma meus tormentos. De tanto remar, amar e amar, não sei se aguento guardar mais tanto amor só dentro de mim. Mas você se torna tão gelado, que fico com medo de tentar de derreter com meus amores, com os meus cuidados.

Como se cada palavra minha fosse o suficiente para te fazer secar. Não se afaste de mim. Se cada gota d’água fosse equivalente ao meu amor, ainda assim não descreveria. Metade de mim é tempestade, e a outra metade espera a sua calmaria. Pois nada me importa mais, nada me acelera mais. Eu amo com todas as gotas dentro de mim. Mas não sei mais nadar sozinha.

Eu quero ver o gelo derreter, não importa o quanto eu tenha que remar, mas vem me fazer companhia. Me deixa ser eu mesma com você. Me deixa te acordar todas as noites te entupindo com o meu amor, o meu amor, amor, que é tão seu. Me deixa perder o medo de dizer o quanto sinto e o quanto te quero. Me deixa ser seu par, me deixa ser tão sua quanto você é meu. Ou melhor, seja tão meu o quanto eu sou sua. Eu quero ver o gelo derreter, vem derreter todo o gélido comigo.

Vem remar, e amar, amor.
Vem.

Imagem de capa: Emotions studioshutterstock

Marque uma reunião com seus fantasmas e mostre a eles quem é que manda de verdade!

Marque uma reunião com seus fantasmas e mostre a eles quem é que manda de verdade!

Todo mundo tem pelo um fantasminha de estimação. Aquele que teima em andar pela casa arrastando correntes; ou vive sussurrando medos nos ouvidos. Há ainda aquele que quando aparece deixa tudo gelado à nossa volta, tira o calor do nosso peito e enche a gente de arrepios que não trazem prazer nenhum.

Pois muito bem, esses esquisitinhos gostam mesmo é de perturbar. Plantar incertezas bem na hora em que tudo que a gente precisa é de umas boas sementes de esperança. Encher nossos olhos de sombras, quando tudo que a gente quer é ver a cara da luz.

Eles são tão espertinhos que sabem a hora exata de aparecer e os melhores lugares para se esconder. Tramam em segredo jeitos inexplicáveis de nos paralisar. Jogam com nossas dúvidas e fazem com que deixemos de acreditar no poder dos nossos sonhos.

Fantasmas de estimação costumam ser extremamente mimados. Basta a gente esquecer um pouco deles para que arranjem um jeito de fazer barulho, de se fazer presente. E se perceberem que a gente anda meio ocupado, distraído ou fazendo de conta que eles não existem… Ahhhhh… aí é que a coisa pega!

Esses monstrinhos de garras afiadas têm muitos aliados, e não deixam escapar nenhuma oportunidade para organizar uma bela festinha de horrores para reunir essa galera sinistra. E quando a gente menos espera, estão todos bem acomodados dentro do peito da gente, pisando com vontade em nossa alegria de viver.

É meu amigo, fingir que os fantasmas não existem não é uma boa saída. O melhor mesmo é reconhecer sua presença e tratar o assunto com profissionalismo. Porque se tem uma coisa que bota essas criaturinhas para correr, é tirar deles o poder que eles estão certos de ter.

Marque uma reunião com seus fantasmas e mostre a eles quem é que manda de verdade. Exija pontualidade. Mande um convite selado e com assinatura reconhecida. E trate de se preparar, porque esses bichinhos são danados para dar o bolo, para se fazerem de desentendidos.

E se eles não vierem, vá atrás. Você sabe muito bem onde encontrá-los. Está em suas mãos o destino desses pestinhas. É você a única pessoa capaz de libertá-los. Liberte-os, então. Confisque as correntes, derreta-as com a sua coragem e transforme-as em asas.

Uma vez desacorrentados, até mesmo um fantasma de estimação vai querer deixar de ser assombração. Deixe-o ir. E o mais importante de tudo: não importa o que aconteça… nunca, em hipótese alguma, permita-se sentir saudade. Saudade foi feita para ser oferecida a quem nos ilumina, não a quem nos rouba a luz!

12 coisas que você percebe quando amadurece emocionalmente (convite para checagem pessoal)

12 coisas que você percebe quando amadurece emocionalmente (convite para checagem pessoal)

A imaturidade faz parte do percurso quando buscamos a maturidade. Dificilmente perceberemos algumas coisas fundamentais da vida sem que erremos antes.

Todos erram muito, mas a maturidade costuma estar associada com os tópicos listados abaixo.

Também é importante lembrar que nem sempre a maturidade está relacionada à idade. Nem todas as pessoas com mais idade são maduras, assim como existem pessoas muito jovens que são bastante amadurecidas.

Será que você já se reconhece em alguns deles?

1- Você percebe que não é tão inteligente quando pensava que era

A arrogância daquele que muito conhece de um tema costuma ser inversamente proporcional à ignorância que ele tem de si em relação às potencialidades do outro.

2- Você percebe que ser assertivo e estabelecer limites não é sinônimo de egoísmo

Antes de ajudar ao outro ou de doar-se em demasia por bondade, submissão, ou mesmo por amor, é necessária a atenção aos próprios valores e crenças pessoais. Ser excessivamente servil para com o outro pode implicar um aniquilamento de si. Encontrar os momentos para dizer “não” e “sim” são dos mais preciosos momentos da vida.

3- Você percebe a pouca relevância do que considerou grandes problemas em sua vida

Sofremos por muito pouco, mas não temos o direito de diminuir o sofrimento de ninguém, uma vez que ele vem associado ao que a pessoa é capaz de vivenciar naquele momento – seja por fruto da pouca idade ou mesmo da imaturidade para lidar com o assunto ou sentimento associado à dor. Com o tempo, entretanto, aprendemos a dar mais valor e a direcionar mais energia ao que realmente merece maior atenção.

4- Você percebe que mudar para agradar aos outros é ser falso consigo mesmo e com sua própria essência.

Quanto maior a autoestima, menos atenção a pessoa dá a julgamentos alheios.

5- Você percebe que pegar atalhos costuma ser improdutivo.

Tendemos a comparar o nosso início de jornada ao final da caminhada do outro. Dificilmente herdeiros são capazes de manter um patrimônio construído por outra pessoa assim como teóricos não são bons na prática profissional antes de por ela também construírem sua história. Conhecer e praticar nunca serão pontos excludentes.

6- Você descobre que, para muitas injustiças, existe um tipo de “lei do retorno” que a própria pessoa que nos fez mal contrói para si.

Quem fez mal para nós costuma também errar com outras pessoas e, muitas vezes, aquele que foi nosso algoz, com o tempo, cairá em uma cova cavada por si mesmo e que será resultado de sua falta de ética, civilidade e justiça.

7- Você percebe que nem todas as batalhas são válidas

Temos que escolher nossas lutas com muito cuidado para direcionar nossas energias de maneira correta e produtiva. Pode parecer um contrassenso, mas não vale a pena lutar por algo, se aquela luta trouxer mais males do que bens. Às vezes, é melhor calar para manter a paz. Às vezes, é melhor ter algum prejuízo do que entrar em uma disputa judicial. Às vezes, é mais seguro esperar do que colocar em risco a nossa integridade física. Nunca haverá a escolha absolutamente certa para isso e sim a escolha certa para cada um. E a maturidade nos ajuda muito com isso.

8- Você percebe que as pessoas e o mundo não lhe devem nada.

Ah, liçãozinha danada de difícil! É sempre mais fácil atribuir a culpa ao outro, a falta de dinheiro, a falta de sorte, a falta de oportunidades, aos pais que foram ausentes ou a opressores. Tudo isso explica muitas coisas, mas não justifica a permanência em um estado de inércia pessoal frente à continuidade da vida.

9- Você admite que, por mais maduro que possa ser em algumas áreas, sempre será um jovem aprendiz em outras.

Mais uma vez, a maturidade passa pela humildade do reconhecimento de nossa pequenez frente ao todo. Ninguém é bom em tudo e a maturidade vale-se do reconhecimento e da gratidão àqueles que fazem o que nós nunca seremos capazes de fazer.

10- Você percebe o real valor e funcionalidade do dinheiro.

Dinheiro é bom. Dinheiro é bom demais. Dinheiro é realmente muito bom. Entretanto, dinheiro é um meio e nunca um fim em si. É bom ter dinheiro para cuidar da saúde, mas pouco ajuda ter dinheiro sem saúde. É bom ter dinheiro para sanar o básico, mas é ruim ter dinheiro, se o custo for a escravidão de não ter tempo para si, não ter tempo para ver os filhos crescerem.

11- Você finalmente percebe que o tempo é limitado, que a vida passa muito rápido e que a finitude abraça a todos.

Essa percepção é muito complexa para um jovem que nunca viu ninguém, além de, talvez seus avós bem mais velhos, morrer. Com o tempo, entretanto, vemos nossos tios, pais e amigos próximos deixarem esse mundo. Com o tempo, percebemos que um único suspiro separa a vida da morte, que somos só mais um nesse mundão. Percebemos que mesmo os maiores homens da história nasceram, viveram e morreram: os museus estão repletos deles. Aliás, em 100 anos, nesse mesmo local em que estamos, todas as pessoas serão diferentes e também únicas, mas não seremos nós.

12- Você percebe que os momentos de felicidade estão na jornada e junto daqueles que nos dão as mãos durante o caminho.

“Pessoas éticas têm amigos, os outros só têm cúmplices”. Essa ideia vem sendo transmitida pelo filósofo Leandro Karnal. Já a realidade que ela traduz é de todos. Quem levaremos conosco nos maiores e melhores momentos de nossa vida? A maturidade responde.

Uma boa jornada para todos nós!

A gente é feito de pele e osso, mas também de remendos

A gente é feito de pele e osso, mas também de remendos

Dói um pouco mais depois passa. Não há como evitar pequenos traumas na vida, não dá pra fugir de alguns joelhos ralados, do sol que queimou a pele, do frio que cortou os lábios.

A gente é feito de pele e osso mas também de remendos, de regenerações, de células que renascem, se restabelecem e se reinventam.

O coração quebra às vezes, mas vai virando uma obra de arte mais bela e resistente, como a arte japonesa de kintsugi. Somos um mosaico de porcelana remendados com fios dourados.

Nossos olhos, depois de tantos tombos e tropeços, deixam de ser ingênuos, ficam espertos, mas depois de mais alguns dessabores e anestesias que criamos para nos proteger, deixamos de ser espertos também e decidimos voltar a ser sensíveis para poder degustar bem a vida.

Nessa fase a gente se torna sábio – somamos a bondade e a alegria de viver com a firmeza nos passos. Mergulhamos na vida sem tantas máscaras e amarras, com intenções verdadeiras, mas filtrando o que não agrega, o que limita os voos mais altos.

Olhamos com doçura, já não evitamos quedas, não queremos viver numa bolha que nos furtaria a própria vida, mas já sabemos nos cuidar sozinhos. Respiramos fundo, temos paciência com o tempo de cicatrização de uma ferida, tropeçamos e levantamos de imediato, limpando a poeira do corpo e seguindo em frente. A gente já não tem mais medo de se machucar, a gente tem medo de tornar a vida menor do que poderia.

Dói um pouquinho, não há como evitar. Pra gente aprender a andar de bicicleta sem rodinhas, a gente cai algumas vezes, a gente chora, mas depois a gente pode voar.

Ficam marcas na pele, emendas nos ossos, cicatrizes nos músculos. Ficam histórias na memória, aventuras e aprendizados. Fica coragem, amor e gratidão no nosso coração.

É melhor que doa um pouco alguns desses nossos passos e tropeços, é melhor que, por vezes, a gente arme nossa alma em cima de um formigueiro, e logo perceba, feche o acampamento e vá embora encontrar uma paragem em que a nossa alma possa ficar um pouco mais e se perder na imensidão de si mesma.

É melhor que a gente erre para depois acertar, é melhor que a gente experimente antes de evitar, é melhor que a gente ame antes de se transformar num autômato que passa pela vida sem se sujar.

Dói um pouco mais depois passa.

Imagem de capa: shutterstock/wavebreakmedia

Não prenda seu rabo na porta de ninguém

Não prenda seu rabo na porta de ninguém

Não se deixe enjaular, amordaçar, assediar. Não seja objeto de barganha. Toda forma de relacionamento é bem-vinda, se for pautada na liberdade.

Ter o “rabo preso”, em qualquer poste, porta ou pé de mesa que seja, significa que a relação não é justa.
Ou vai definhar e morrer, ou vai virar algo muito pior, baseada em ódio e rancor.

Os encontros da vida não podem impor condições, não devem encarcerar ninguém, moral ou fisicamente.

Não aceite nenhuma condição em que fique devendo obediência. Não permita que a gratidão seja imposta. Não prenda o seu rabo na porta de ninguém.

Se é verdade que, pela evolução da espécie, perdemos nossas caldas que balançavam conforme nossos humores, de fato ainda temos um resquício delas, por onde tentam nos prender, nos puxar de volta, manipular, e até nos mutilar.

A intenção da analogia não é depreciar, mas ilustrar como permitimos, sem nos dar conta, que nos controlem e causem ferimentos profundos.

Ninguém é dono de ninguém. A coisa só é boa quando somos livres. Se for para tocar, que seja com carinho, com prazer, com consentimento. Tocar o corpo, tocar a alma.

Atenção, portanto, com o nível de confiança mínimo que uma relação precisa manter. De nada adiantam as melhores intenções numa confissão, se ela cai em ouvidos maldosos, se a entrega cega se transforma em visível cárcere.

O amor é lindo, de fato é. E qualquer coisa que não liberte e eleve uma vida a outro nível, não é amor. É rabo preso numa porta prestes a bater.

Imagem de capa: KieferPix/shutterstock

O tempo parou e eu quis segurar sua mão

O tempo parou e eu quis segurar sua mão

Para MJ com afeto.

A nossa conversa não tinha acabado quando houve uma pausa. Parece que o mundo parou ali. Talvez estivesse suspenso nas bordas de uma xícara de café. Talvez a sede tenha feito você se levantar e, adivinhando os seus movimentos, também me levanto, me dirijo até a cozinha, pausadamente, como quem levita. Bebo um pouco de café e miro a borra disforme no fundo do copo. Não vejo ali o meu futuro. Remexo o borrão com a colher. Derramo novamente o líquido preto e espesso na xícara. Sento no chão do quintal e acabo me distraindo com uma nuvem que passa se espreguiçando entre as asas de um avião. Penso no cochilo entre as almofadas, no quanto eu gostaria de despencar num sono incrível depois do almoço. É provável que a minha cabeça tenha rodopiado bastante enquanto eu esperava o próximo toque do celular imaginando que a nossa conversa-novelo iria se desenrolar em risadas, poesia e um bando de coisas floridas, que a gente ainda consegue desembrulhar pelos cantos da vida.

A gente tem esse dom de vasculhar as sutilezas e olhar por dentro das pessoas como se visse um mundo sem janelas. Nós enxergamos os mundos que existem dentro das pessoas. Nós somos interessadas pelo que elas sentem. Pelo que elas têm dentro do peito. Nós tiramos os véus. Mergulhamos profundo enquanto algumas nos lançam um olhar superficial. Nascemos com essa leitura apurada dos gestos, com esse bom gosto pra ler além dos títulos. Os olhares que, às vezes, nos atingem como balas perdidas jamais passarão em branco. Jamais serão tiros no escuro. Palpitam numa explosão de luzes que um dia voltarão em forma de sorriso.

Desde o primeiro dia, você me olhou assim, com profundidade, devagar como quem caça jeito pra se aproximar, como quem toca com cuidado numa ferida que ainda não cicatrizou. Como quem quer saber quem causou a mágoa. Como quem tem o remédio. Como quem anda com a cura dependurada no sorriso. Como quem transporta o amor a tiracolo. Você sorriu de longe pra me abraçar por dentro. Perto, manso, forte e sem hora pra acabar. Você abriu o livro. Você teve coragem de colocar lupa nas entrelinhas. Você se interessou pelo rascunho da obra. Você compreende a anatomia do silêncio e quando fala, procura a entonação correta, as palavras mais fartas, o jeito certo de chegar até o coração do outro sem ferir.

Mas aquela pausa… aquela pausa foi um blecaute na nossa eternidade provisória. Talvez tenha sido um vácuo de cinco minutos. Dez. Eu não sei. Foi o tempo que eu quis segurar sua mão. Foi o tempo que eu perdi a dança e o jeito de levitar. Foi o tempo que desaprendi a ter fé. Foi o tempo de uma oração silenciosa. Foi o tempo de reler a mensagem, sentir dor e negar. Negar pra rebobinar o tempo e escutar de novo o tom do seu sorriso de aquarela. O sorriso que nunca deveria ser manchado pela dor de uma lágrima. Pela corrosão de uma perda. O tempo parou e eu quis segurar sua mão. Mas o tempo parado era outro tempo num outro lugar bem longe daqui, não era mais o nosso. Rodopiava numa dimensão diferente, numa outra batida, que frágil, também foi parando até ser capaz de fazer parar um coração. Nós paramos, desde então. Uma engrenagem muito importante e bela parou de funcionar aqui pra continuar brilhando lá longe, dentro daquela estrela maior, que hoje explode em fragmentos de luz e sorridente passeia no céu.

Imagem de capa: Victoria Chudinova/shutterstock

Levante-se

Levante-se

Se você quer alguma coisa, corra atrás. O tempo não vai esperar você se decidir, ele não perdoa ninguém. Aproveite enquanto pode para alcançar seus objetivos. Nunca pense que um sonho é alto demais, você é capaz de tudo! Não acumule arrependimentos, não se deixe encher de dúvidas e receios.

O medo não leva a lugar nenhum, só nos atrasa e nos impede de chegar onde tanto desejamos. Você pode ser muito feliz então deixe suas indecisões de lado. Não viva a vida com o intuito de chegar ao fim e pensar que poderia ter sido melhor. Faça ser melhor antes disso acontecer.

Levante-se! O mundo precisa de você para ser feliz. Se você não sorrir, ninguém vai sorrir por você. Jogue tudo para o alto, o que voltar é seu. Não se prenda a sentimentos que não te fazem bem e jamais desista dos seus sonhos. Às vezes as coisas dão errado, mas então nos levantamos e tentamos de novo. Hoje você chora por erros cometidos, amanhã você sorrirá mostrando ao mundo que você aprendeu com eles.

E se você sentir medo, medo de você, medo das pessoas, medo da vida, distancie-se um pouco de tudo, na maioria das vezes tudo o que você precisa é de um tempo pra pensar. Porque você não está perdido, está apenas desencontrado e tentando se encontrar da forma errada. Mas por pouco tempo. Os caminhos estão todos bem na sua frente, basta você escolher qual irá seguir.

Mas lembre-se: Os caminhos mais difíceis são os que levam aos melhores lugares. Para isso existe o amanhã, para nos dar a chance de continuar tentando alcançar nossos sonhos. Então não desista! Não tem problema em ficar triste, quem disse que a dor não nos faz crescer?

Imagem de capa: Tuzemka/shutterstock

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