Se falta caráter na amizade, é hora de fazer falta

Se falta caráter na amizade, é hora de fazer falta

Toda amizade nasce como um primeiro amor. Aos poucos ela vai tocando carinhosa a nossa vida e quando vemos ela está lá.

Se você pensar bem notará que seus amigos apareceram em sua vida quase sem querer. Que, de certa forma, foi o destino que os colocou pertinho de você. Que depois de um tempo as afinidades e valores comuns foram fazendo com que vocês se aproximassem até se tornarem bons amigos.

Mas a vida não coloca apenas bons amigos em nosso caminho. Coloca também pessoas que dizem ser amigas, sem o ser. Pessoas que visam sempre algum tipo de benefício particular com a nossa amizade, que mentem, enganam, manipulam e que realmente não se importam conosco.

Eu acredito que um amigo antes de mais nada tem que se importar. Tem que ter empatia e principalmente caráter. A empatia denota que o amigo é sensível aos nossos valores e o caráter, o bom caráter, nos conta que suas palavras são congruentes com suas ideias e ações. Isso também vale para nós. Se queremos ser bons amigos devemos agir com prudência e caráter.

Sente-se e pense por um instante em seus amigos. A relação entre vocês tem sido de respeito mútuo e consideração? Veja bem, toda amizade deve resguardar o melhor em nós e não o contrário.

Se você se lembrou de alguém que se dizia amigo, mas que agiu de má fé, também deve ter se lembrado que essa pessoa te colocou em inúmeras roubadas. Sim, você passou por apuros por causa dessa pessoa e por um bom tempo, provavelmente, achou que era o acaso que estava armando contra você.

Não, não foi o acaso que armou situações que lhe causaram mal-estar. Certamente essa pessoa, que se dizia amiga, repetia um padrão de comportamento nocivo, agindo de forma imprudente.

Isso acontece porque um falso amigo pode manipular informações, mentir, assumir dívidas em nosso nome e não sentir absolutamente nenhum remorso por isso. Infelizmente existem por aí pessoas com reais desvios de personalidade e isentas de qualquer traço de empatia.

Nesse ponto, tendo percebido um padrão repetitivo de comportamento errático e a negativa em mudar, o melhor a fazer é abrir os olhos e se afastar.

Fazer falta pode nos salvar.

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Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain.

Priorize sua família: ela sempre estará lá, mesmo quando não houver mais ninguém

Priorize sua família: ela sempre estará lá, mesmo quando não houver mais ninguém

Sempre que a vida disser não, que a noite não tiver fim, que o nó sufocar o nosso peito, poderemos retornar ao nosso início, ao nosso refúgio afetivo incondicional, qual seja, o colo de nossos pais, mesmo que somente em nossas lembranças.

A gente leva muito tempo, até que perceba o quanto nossa família é importante. E tem quem ainda nunca chegue a essa percepção da real necessidade de cultivarmos o amor por aqueles que são nossos familiares, sejam eles parentes pela família, sejam pelos laços da vida. Porque também tem família que a gente escolhe.

Principalmente em nossa adolescência, passamos a nos importar muito mais com os amigos do que com quem mora ou vive conosco, porque queremos ser aceitos pelo grupo e porque achamos que ninguém nos conhece melhor do que nossos colegas. Além disso, exatamente na fase em que desejamos experimentar a tudo e a todos, nossos pais são aqueles que nos impõem os limites que queremos ultrapassar.

Por essa razão é que nos rebelamos contra aqueles que cerceiam a liberdade extrema pela qual ansiamos quando jovens, incluindo nossos pais e autoridades em geral. Dependendo da personalidade de cada um, essa rebeldia será mais ou menos extremosa, mas não há adolescente que não entre em choque com as gerações anteriores. Assim é que as coisas evoluem, que as ideias se oxigenam, que cada um ocupa seu lugar no mundo e na história.

No entanto, enquanto amadurecemos, vamos percebendo que nem todo mundo é tão amigo assim, que precisávamos de limites, que nossos pais agiram por amor e, se erraram, é porque são simplesmente humanos. O tempo nos traz essa percepção de que serão poucos aqueles com quem poderemos realmente contar e que muito provavelmente nossa família estará entre esses poucos.

Amigos vêm e vão, relacionamentos podem acabar, nada é certo neste mundo. Entretanto, sempre que a vida disser não, que a noite não tiver fim, que o nó sufocar o nosso peito, poderemos retornar ao nosso início, ao nosso refúgio afetivo incondicional, qual seja, o colo de nossos pais, o abraço de nossos irmãos. Mesmo quando já tiverem ido, lembrar o quanto aquele abraço nos protegia de tudo fará muita diferença em nossos recomeços. É assim que a gente retorna à vida.

Imagem de capa: Photographee.eu/shutterstock

Nunca se culpe por ter confiado em alguém, o erro não foi seu

Nunca se culpe por ter confiado em alguém, o erro não foi seu

Nunca se culpe por ter confiado em alguém, por ter apostado na bondade alheia, por ter acreditado no melhor das pessoas. Não se culpe por achar que existem pessoas capazes de compadecer das dores alheias, por ter pedido ajuda. Caso usem os seus sentimentos da pior maneira possível, o erro jamais terá sido seu.

Talvez uma de nossas mais difíceis decisões seja a de selecionar as pessoas em quem poderemos confiar, a quem poderemos nos abrir, desnudando-nos a alma, em nosso melhor e nosso pior. Jamais poderemos ter a certeza de que o outro guardará aquilo para si, pois as pessoas costumam nos surpreender, infelizmente, nem sempre no bom sentido. E dói ver nossas verdades sendo deturpadas por aí, de maneira cruel e dissimulada.

Certamente, nossos pais, ou quem tem o papel de pai ou de mãe em nossas vidas, não usarão contra nós o que lhes confiarmos. Entretanto, existem certas coisas que a muitos é impossível compartilhar com os pais, pois se trata de algo que, às vezes, possa não ser entendido da melhor maneira por quem tanto nos ama e cria expectativas sobre nós. Tememos magoar ou ser incompreendidos por aqueles de quem só queremos mesmo é aprovação.

Da mesma forma, isso se dá em relação ao parceiro. Muitas vezes é difícil haver transparência total e irrestrita entre os parceiros, uma vez que certos segredos nos deixariam desconcertados em frente ao nosso amor, mesmo que tenhamos certeza quanto ao que ele sente por nós. Irmãos também podem ser ótimos confidentes, porém, a vida costuma encher a todos com seus próprios problemas e ficamos receosos de levar mais um problema a eles.

Fato é que precisaremos de alguém para dividir aquilo que nos aflige, pois é assim que o peso se torna menos denso, é assim que construímos as cumplicidades que tornam as nossas tempestades menos assustadoras. O outro nos trará um olhar diferente daquilo tudo, muitas vezes menos desesperançoso, exatamente porque ele estará analisando as coisas de fora, isento de uma carga emocional extrema, a qual torna tudo mais nebuloso. Infelizmente, o outro poderá usar aquilo que dividirmos de uma forma que nos machuque. E a culpa nunca será nossa.

Nunca se culpe por ter confiado em alguém, por ter apostado na bondade alheia, por ter acreditado no melhor das pessoas. Não se culpe por achar que existem pessoas capazes de compadecer das dores alheias, por ter pedido ajuda. Caso usem os seus sentimentos da pior maneira possível, o erro jamais terá sido seu. Não acumulemos mais peso às nossas vidas por aquilo que não fizemos. Não peguemos para nós os erros dos outros. Isso nos ajudará e muito, para que possamos acalmar o nosso coração pelos barrancos – que são recorrentes – desta vida.

Imagem de capa: Tharakorn/shutterstock

Tudo o que você tem na sua vida hoje, um dia vai acabar

Tudo o que você tem na sua vida hoje, um dia vai acabar

Passei um mês no interior da Índia, em Dharamsala, trocando experiências com refugiados tibetanos que haviam perdido absolutamente tudo em suas vidas; mas ainda assim continuavam a viver em paz.
Me impressiona até hoje como eles conseguem viver bem, apesar de terem passado por tudo o que passaram.

Foi lá que eu ouvi uma das frases que eu vou levar pra vida inteira.
Talvez você não goste de ouvir, mas vou falar mesmo assim:

Tudo acaba.

É sério, tudo acaba.

O seu relacionamento um dia vai acabar, as suas amizades vão acabar, o seu trabalho um dia não vai mais fazer parte da sua vida, o seu intercâmbio vai acabar, até a sua família um dia vai acabar.
Absolutamente tudo o que você tem na sua vida hoje, um dia vai acabar.

As pessoas se cansam da gente, a gente se cansa delas, a gente acorda um dia percebendo que não é bem isso que a gente quer, a gente vive decepções, a gente decepciona os outros. As pessoas morrem, se mudam pra longe e não voltam mais, se afastam sem mais nem menos. As pessoas são demitidas. Imprevistos acontecem o tempo todo. A gente muda de gosto, de vontades, a gente muda o tempo inteiro. A vida vive se renovando.
Absolutamente nada é pra sempre. E absolutamente tudo dura exatamente o tempo que tinha que ter durado.

Desculpa ser um pouco dura com você e te falar isso assim, do nada, sem mais nem menos. Mas saber disso antecipadamente vai te poupar muito sofrimento ao longo dos seus anos na terra.

E pode te fazer ver as coisas de uma outra maneira – como aqueles refugiados fazem.

Você pode escolher viver de duas formas a partir desse texto:
Pode decidir ignorar o que você acabou de ler e continuar achando que vai ter tudo e todos pra sempre. É uma escolha sua viver assim, e eu não vou te julgar.
Mas você pode, também, aceitar esse fato e aprender a conviver com isso.
Sabendo que tudo um dia acaba, a gente começa a fazer mais questão de aproveitar o que a gente tem hoje. Então, por favor, dê sempre 100% de você em tudo o que você vive. Não faça as coisas pela metade. Seja um bom parceiro pro seu companheiro, seja um bom amigo, seja bom no seu trabalho, trate bem a sua família, aproveite ao máximo o que você tem hoje.
E, quando algo acabar, não se desespere. Entenda que isso faz parte da vida.

Seja grande o bastante pra absorver todos os ensinamentos dessa fase que passou, e parta para a próxima, cada vez mais enriquecido com as experiências que você teve no passado.

A vida é a arte dos encontros e dos desencontros. As coisas precisam terminar para que outras tenham espaço para começar.

Tudo acaba. Mas tudo também recomeça, e essa é a grandeza da vida.

O fim também pode ser lindo.

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5 dicas Netflix: Filmes adoráveis de cães sob uma perspectiva emocional.

5 dicas Netflix: Filmes adoráveis de cães sob uma perspectiva emocional.

Cães são parceiros de jornada e os filmes abaixo provam isso.

1 – Caninos Brancos.

Filme baseado na obra do escritor Jack London, estrelado pelo ator Ethan Hawke. Jack Conroy é um jovem órfão que embarca em uma jornada para o Alasca em busca de uma mina de outro deixada pelo pai. Na floresta, um híbrido de lobo com um cão domesticado, ao perder sua mãe vítima de caçadores, precisa deixar a toca para sobreviver. Nativos encontram o lobinho e o levam para junto de seu povo dando-lhe o nome de Caninos Brancos. Jack é um rapaz arrogante e teimoso, e pelo caminho ele cruza com o animal formando uma mágica empatia. Ambos passaram pelas mesmas adversidades, e reconhecem um no outro uma força para superar medos e frustrações. Essa linda e profunda aventura vai te levar a um sentimento de reflexão e deixar sua alma leve.

2 – Um Hotel Bom pra Cachorro.

Os irmãos órfãos Andi e Bruce se mudam para um orfanato que não aceita animais. Os dois precisam então esconder seu cãozinho chamado Sexta -Feira. Eles encontram um hotel abandonado onde já moram dois cachorros de rua e alojam seu amigo de quatro patas no local. Começa a aventura de Andi e Bruce cheios de ideais sobre resgatar animais necessitados, onde precisam enfrentar a contrariedade dos adultos. Os irmãos transformam a visão que temos do que seja determinação, o verdadeiro lar e o amor pelos animais e sobretudo pelo próximo.

3 – Meu Querido Vira Lata.

Um garoto órfão chamado Danny encontra um cãozinho vira lata e descobre que ele pertence ao presidente dos Estados Unidos. Apesar da empatia e da vontade de ficar com o animal, Danny resolve embarcar em uma grande jornada para devolver o amiguinho peludo ao seu verdadeiro dono. Esse longa te leva a acreditar no amor, na resiliência, e na capacidade humana de ser grato e honesto com seu próximo.

4 – Sempre ao Seu Lado.

Baseado em uma história real, Hachiko é um cão da raça Akita, muito valiosa e querida pelos Japoneses que enaltecem sua lealdade e proteção acima de tudo. Hachi se perdeu em meio as bagagens em uma viagem e acabou sendo achado em uma estação de trem pelo professor Parker, que o leva para casa. Em meio a tentativas sem sucesso para encontrar seu dono, mal sabe Parker, que seu cão já o havia escolhido, sendo tão leal e companheiro, que constrói uma linda lição onde levará você ao mais profundo sentimento do que é dedicação e fidelidade. Surpreenda-se!

5 – Marley e Eu.

John e Jenny Grogan são recém casados e decidem adotar um cachorro. No dia do aniversário da esposa, John a leva para escolher um simpático filhote de labrador amarelo que decidem chamar de Marley. Donos de primeira viagem e em meio a vida atribulada como jornalistas, eles não conseguem lidar com o temperamento enérgico de Marley, e atravessam situações de amor e obstáculos na dura missão de amar o “cão mais terrível do mundo”. Uma história real para fazer você gastar caixas e mais caixas de lenços de papel.

Eu amo demais e você não está preparado para isso

Eu amo demais e você não está preparado para isso

Não vou dar desculpas, amo demais. Não sei ser outra coisa que não seja entrega. Quando amo, é tudo de mais sincero que você vê e sente. Infelizmente, nem sempre o amor transbordado é o suficiente. Então, o jeito é tocar a vida porque, pelo visto, você não está preparado para isso.

Já tentei camuflar o amor, mas não consigo. Ele é descarado. Chega se exibindo através de sorrisos e mãos dadas. Fica em plenitude por encontrar alguém que o receba e cuide. Alguns amigos diriam que ele tem vida própria. Talvez tenham razão. O meu amor não deixa por menos na hora de fazer valer o seu status. É um problema, eu sei. Admito. As pessoas têm medo, desconfiança. No fundo, penso que estamos desacostumados com o amor.

Quase ninguém está preparado para o meu amor, por exemplo. Porque não minto, não faço jogos e não escondo os meus sonhos e angústias. Sou de verdade, sabe? Tenho alma e coração, mas parece raridade num mar de tantos gostares. Amo demais porque carrego cumplicidade desde o primeiro dia. Amo demais porque sinto saudade e quero poder senti-la sem julgamentos. Amo demais porque faço planos para dois. Amo demais porque entrar na vida do outro significa somar individualidades. Amo demais porque respeito, admiro e escuto o que a outra pessoa tem a dizer.

Ainda assim, não tá dando para continuar a insistir numa relação onde só uma pessoa é inteira. Instantes parcelados não alimentam o amor, sinto muito. E sinto tanto que, vez ou outra, tenho que dar vazão para esse amor. Ele tem vida própria, lembra? Mais do que isso, ele é amor próprio. Logo, quando não há vislumbre algum de reciprocidade, ele transborda de fora para dentro. Vai cuidando e fazendo do meu coração um lugar melhor para seguir em frente, para amar de novo.

Eu avisei que não daria desculpas. Amo demais. Não sei ser outra coisa que não seja entrega. Quando amei, você não esteja preparado. Mas, para o seu azar, aprendi que amar por dois é demais para qualquer um. Agora, amo para um até que alguém decida transformá-lo para dois.

Imagem de capa: Jules et Jim (1962) – Dir. François Truffaut

Você não é a sua dor

Você não é a sua dor

Oi, tudo bem? Eu não te conheço direito. Talvez nem mesmo possa pronunciar corretamente seu nome. Até agora não.

Eu não sei qual é a sua música preferida, tão pouco se você gosta de acordar cedo ou de dormir até tarde. Não, eu não sei.

Você não me deu a chance de saber muito. Você chegou até mim, estendeu a mão e disse. – Oi, eu tenho depressão profunda.

Mas sabe de uma coisa? O que eu queria mesmo era ouvir, antes de tudo, algo sobre você. Isso mesmo, sobre você agachado atrás de toda essa dor. Eu queria saber se você gosta de cócegas nos pés ou se você gosta de brigadeiro de colher. Queria saber se você adora literatura inglesa ou rock nacional. Se você é romântico ou racional.

Logo, se você tivesse me estendido a mão e dito: – Oi, tudo bem? Eu adoro dormir de meias. – por exemplo.  Eu teria sorrido e compartilhado contigo algo sobre mim.

Sim, eu fiquei meio sem jeito quando me disse que você era a sua dor. E na hora eu me perguntei de súbito: Quem realmente é essa pessoa?

Então, eu te olhei demorado e percebi que ali na minha frente você parecia me dizer que a depressão ficaria para sempre aí, independente do que você fizesse.

Não, você não é a sua depressão. Você não é a sua dor. Você não é a sua má fase ou dificuldade. Toda dor é passagem e quem insiste em morar nela acaba desabrigado de si. A sua dor é só um pedaço pequeno de tudo que você é.

Você é muito maior que tudo isso. Você é um universo singular, repleto de possibilidades, todos somos, mas parece que você se esqueceu disso, não é?

Então, no nosso próximo aperto de mão, eu espero poder te ver diferente. Eu espero que você se lembre do que lhe digo agora e que, ao falar de si, você possa olhar para dentro e para fora e enxergar a luz de um amanhã melhor.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

Afaste-se de quem fizer você se sentir como alguém que não vale a pena

Afaste-se de quem fizer você se sentir como alguém que não vale a pena

Por que correr atrás de quem não nutre um mínimo carinho por nós, de quem nunca nos convida para nada? Por que ficar amando em banho-maria alguém que mal olha para o nosso lado, que se acomodou com a gente ali, mas, na verdade, pouco se importa? Por que frequentar ambientes em que nos sentimos invisíveis?

Talvez pelo egoísmo de um mundo cada vez mais materialista e superficial, talvez por conta de nos sentirmos menos do que somos, a verdade é que a maioria de nós já se demorou em terreno pedregoso, onde a alma se feria, onde o ar sufocava, onde nada nos enxergava. Normal nos sentirmos desanimados e nos desvalorizarmos de vez em quando, porém, ficar além da conta onde nos sentimos mal soa a masoquismo.

Não seremos queridos por todos, nem bem quistos em todos os lugares que frequentarmos, mas isso não quer dizer que não tenhamos o nosso valor. Caso estejamos nos abrindo de acordo com o que realmente pulsa dentro do peito, haveremos de encontrar os lugares onde repousaremos nossos sonhos, as pessoas com quem caminharemos de mãos dadas, pois então teremos, sobretudo, encontrado a nós mesmos.

Por que correr atrás de quem não nutre um mínimo carinho por nós, de quem nunca nos convida para nada? Por que ficar amando em banho-maria alguém que mal olha para o nosso lado, que se acomodou com a gente ali, mas, na verdade, pouco se importa, pouco nos toca, pouco nos vê? Por que frequentar ambientes em que nos sentimos invisíveis?

Não será fácil nem tranquilo, mas teremos que nos afastar de certas pessoas, de determinados ambientes, deixando para trás muito do que pensamos ser vital, mas que, com o tempo, apenas se mostrará dispensável. Vamos sentindo o ar voltar, as cores se reavivarem, os sons mais nítidos, o coração mais leve, enquanto nos afastamos de tudo o que nos faz mal. Lá na frente, seremos gratos por toda dor do sofrimento, porque estaremos sorrindo à toa.

Afaste-se de quem fizer você se sentir como alguém que não vale a pena, porque você sempre valerá muito, sim, para quem enxergar todas as suas qualidades, entender todas as suas manias, rir junto das mesmas bobagens, entrelaçando as mãos às suas, entrelaçando a alma à sua. O amor será, então, pleno, porque verdadeiro.

Imagem de capa: Fabiana Ponzi/shutterstock

20 coisas que só pessoas altamente criativas entenderão

20 coisas que só pessoas altamente criativas entenderão

Por Kevin Kaiser 

Não há como duvidar. A neurociência confirma que as pessoas altamente criativas pensam e agem de forma diferente da pessoa média. Seus cérebros trabalham de uma forma única. Ocorre que esse dom, muitas vezes, pode prejudicar relacionamentos. Isso constatei pessoalmente, enquanto trabalhava no New York Times com escritores best-sellers e músicos premiados com o Grammy.

Se você ama uma pessoa altamente criativa, provavelmente vai experimentar momentos em que parece que ela vive num mundo completamente diferente do seu. A verdade é que ela vive mesmo. Mas é bom que se saiba: tentar mudá-los não é tão eficaz quanto tentar compreendê-los.

A compreensão começa ao tentar ver o mundo através de sua lente, lembrando-se dessas 20 considerações:

1- Eles têm uma mente que nunca se desacelera.

A mente criativa é uma máquina alimentada por intensa curiosidade. Não há botão de pausa e não há maneira de desligá-la. Isso pode ser cansativo, às vezes, mas, é também a fonte de algumas atividades divertidas e de loucas e animadas conversações.

2-Eles desafiam o status quo.

Duas perguntas são feitas por pessoas criativas mais do que qualquer outro: “E se?” e “Por que não?”. Eles questionam o que todo mundo acredita inequívoco. Isso pode ser desconfortável para aqueles que estão ao seu redor, mas, é essa capacidade que permite que os criativos possam romper com as margens do possível.

3- Eles abraçam o seu gênio mesmo que os outros não o façam.

Pessoas criativas preferem ser autênticas a serem populares. Mantendo-se fieis a quem de fato são, sem compromisso com aquilo que os demais reputam como correto. Essa é a sua definição de sucesso, mesmo que em virtude disso venham a ser mal-interpretados ou marginalizadas.

4- Eles têm dificuldade em permanecer na tarefa.

Pessoas altamente criativas são energizadas por grandes saltos mentais e pela adrenalina de começar coisas novas. Projetos existentes podem se transformar em chata monotonia quando a promessa de algo novo e excitante agarra sua atenção.

5- Eles criam em ciclos.

Criatividade tem um ritmo que flui entre os períodos de alta, às vezes maníaco, e tempos lentos que podem ser sentidos como “quedas”. Cada período é necessário e não pode ser ignorado, assim como as estações naturais são interdependentes e necessárias.

6- Eles precisam de tempo para alimentar as suas almas.

As  pessoas criativas precisam frequentemente renovar a sua fonte de inspiração e de unidade. Muitas vezes, isso requer isolamento por períodos de tempo.

7- Eles precisam de espaço para criar.

Ter o ambiente certo é essencial para o pico de criatividade. Pode ser um estúdio, um café, ou um canto tranquilo da casa. Onde quer que seja, permita-lhes definir os limites e respeite-os.

8- Eles se concentram intensamente.

O altamente criativo necessita desligar-se do mundo de fora quando eles estão focados no trabalho. Caso percam o foco, para reavê-lo, poderá gastar mais de 20 minutos, mesmo que a interrupção se dê por apenas vinte segundos.

9- Eles sentem profundamente.

A criatividade é a forma de expressão humana que o torna o artista capaz de dizer daquilo que, em si, há de mais profundo. É impossível dar o que você não tem e você só pode levar alguém a algum lugar, quando você já tiver ido sozinho, mesmo que em suas fantasias. Uma pessoa criativa deve sentir de modo profundo para que possa se comunicar também profundamente.

10- Eles vivem entre a alegria e a depressão.

Essas pessoas sentem tudo com intensidade e, por isso, são altamente criativas. Muitas vezes podem mudar, em fração de segundos, da alegria à tristeza ou até mesmo à depressão. Seu coração sensível, além de ser a fonte do seu brilho, é também a fonte do seu sofrimento.

11- Eles pensam e falam em histórias.

Uma explicação nunca vai mover o coração humano tanto quanto uma história bem contada. Pessoas altamente criativas, especialmente artistas, sabem disso e contam histórias em tudo o que fazem, deixando que cada um tire por si as suas próprias conclusões.

12- Eles lutam e resistem diariamente

Steven Pressfield, autor de The War of Art, escreve:

“A maioria de nós tem duas vidas. A vida que vivemos, e a vida não vivida dentro de nós. Entre as duas, bancadas de resistência”. Pessoas altamente criativas acordam todas as manhãs, plenamente conscientes da necessidade de crescer e de se motivar. Mas, há sempre o medo, “resistance“, como Pressfield chama, de que não consigam fazer aquilo que de fato necessitam. Não importa o quão bem-sucedida a pessoa seja: o medo nunca vai embora. Ela simplesmente aprende a lidar com o medo (ou não).

13- Eles veem o seu trabalho como uma extensão de si próprios.

O trabalho criativo é uma expressão crua da pessoa que o criou. Muitas vezes, eles não são capazes de se separarem dele, por isso, toda crítica é vista tanto como uma validação ou condenação de sua autoestima.

14- Eles têm dificuldade de acreditar em si mesmos.

Mesmo a pessoa criativa, aparentemente autoconfiante, muitas vezes se pergunta: Eu sou bom o suficiente? Estão sempre a comparar seu trabalho com o dos outros e deixam de ver o seu próprio brilho (que pode ser óbvio para toda a gente).

15- Eles são profundamente intuitivos.

A ciência ainda não consegue explicar o mecanismo da criatividade. No entanto, indivíduos criativos sabem instintivamente como fazê-lo fluir. Se questionados, vão dizer que a criatividade não pode ser entendida, só experimentada.

16- Elas costumam usar a procrastinação como ferramenta.

Criativos são procrastinadores notórios, porque muitos fazem melhor o seu trabalho sob pressão. Eles inconscientemente, e às vezes propositadamente, retardam seu trabalho até o último minuto simplesmente para experimentar a adrenalina do desafio.

17- Eles são viciados em fluxo criativo.

As recentes descobertas da neurociência revelam que “o estado de fluxo” pode ser a experiência mais viciante na terra. A recompensa mental e emocional é por que as pessoas altamente criativas irão sofrer com os altos e baixos da criatividade. Em um sentido real, eles são viciados na emoção de criar.

18- Eles têm dificuldades de terminar projetos.

A fase inicial do processo criativo é um movimento rápido e carregado de emoção. Muitas vezes, eles vão abandonar projetos que são demasiado familiares a fim de experimentarem o fluxo inicial de um projeto novo.

19- Eles são bons em conectar pontos.

A verdadeira criatividade, Steve Jobs disse uma vez, é pouco mais do que ligar os pontos. É ver padrões antes que se tornem evidentes para todos os outros.

20- Eles nunca vão crescer.

Criativos serão eternas crianças que nunca perdem a capacidade de sentir, de se admirar, de se mostrarem perplexos. Para eles, a vida fala de mistério, aventura, superação. E assim, todo o resto, embora exista, deixa de ser uma verdade aos criativos.

Por Kevin Kaiser 

Traduzido e adaptado exclusivamente para CONTI outra.

Do original 20 Things Only Highly Creative People Would Understand

Imagem de capa: Peshkova/shutterstock

 

O segredo das amizades que duram

O segredo das amizades que duram

Por Ana Carolina Prado, via Superinteressante 

O que faz com que as pessoas virem amigas? E por que algumas amizades duram e outras não? Um artigo do site Psychology Today reuniu alguns estudos que trazem bons esclarecimentos sobre o tema. Os pontos principais, bem práticos, estão listados a seguir:

Condições para começar uma amizade

Além de alguns fatores básicos, como ter contato com a pessoa com alguma regularidade (afinal, assim temos mais chance de conhecê-la melhor e aprofundar nossos laços) e ter coisas em comum, dois aspectos são fundamentais para que se passe do posto de conhecido para o de amigo:

1. Disposição de se abrir.  

Segundo Beverley Fehr, pesquisadora da Universidade de Winnipeg e autora do livro “Friendship Processes”, o que determina que passemos de meros conhecidos a amigos é a disposição de se abrir e revelar coisas mais pessoais ao outro – e isso precisa vir dos dois lados. “Nos estágios iniciais da amizade, isso tende a ser um processo gradual. Uma pessoa aceita o risco de revelar uma informação pessoal e ‘testa’ se a outra faz o mesmo”, diz ela. Aqui, a reciprocidade é essencial para a coisa funcionar, porque leva a outra condição importante:

2. Intimidade.

De acordo com a pesquisa de Fehr, pessoas com boas amizades envolvendo o mesmo sexo têm uma boa compreensão do que envolve a intimidade: elas sabem se abrir e expressar suas emoções, sabem o que dizer quando o amigo lhes conta algo e respeitam os limites – entendem, por exemplo, que sinceridade não significa falar tudo o que lhes vêm à cabeça, especialmente no que se refere a opiniões sobre a vida e os gostos do outro. Até porque outras condições apontadas foram aceitação, lealdade e confiança. Essas qualidades foram consideradas mais importantes do que ajudas práticas, como emprestar dinheiro.

Por que algumas amizades duram e outras não?

Ok, entendemos o que dá aquele pontapé inicial às amizades. Mas há outro fator, descoberto pelas psicólogas sociais Carolyn Weisz e Lisa F. Wood, da Universidade de Puget Sound, em Tacoma, Washington, que é fundamental para fazer com que as nossas relações durem: o apoio à nossa identidade social. Em outras palavras, procuramos amigos que entendam e validem a ideia que temos sobre nós mesmos e sobre o nosso papel na sociedade ou grupo de que fazemos parte – o que pode estar associado à religião, etnia, profissão ou mesmo participação em algum clube.

Para chegar a essa conclusão, elas acompanharam um grupo de estudantes universitários por anos durante toda a sua graduação, sempre pedindo a eles que descrevessem níveis de proximidade, contato, apoio geral e apoio à identidade social que sentiam em relação a amigos do mesmo sexo. A conclusão foi que todos esses fatores ajudaram a predizer se a amizade seria mantida ou não. Mas um único fator pôde predizer quem seria elevado à posição de melhor amigo: a pessoa, nesses casos, era parte de um mesmo grupo (fraternidade, time etc.) ou pelo menos apoiava e reafirmava o papel do amigo dentro desse grupo. Um cristão podia ter como melhor amigo alguém que não tivesse religião, desde que esse amigo apoiasse sua identidade como cristão. E, como temos vários papeis na vida, é mais provável que nosso melhor amigo esteja ligado ao papel que é mais importante para nós, que melhor representa a nossa identidade.

Por que escolhemos assim os amigos? Segundo o estudo, além de isso estar relacionado a níveis maiores de intimidade e compreensão, também envolve o aumento da autoestima. Esse senso de identidade que influencia até o comportamento de viciados em drogas. Outro estudo de Weisz concluiu que as pessoas eram mais propensas a se livrar de seus vícios depois de três meses quando sentiam que seus papéis sociais e senso de identidade entravam em conflito com o uso de drogas.

Nossas identidades sociais são tão importantes para nós que estamos dispostos a ficar com as pessoas que apoiam a nossa identidade social e nos afastar daqueles que não fazem isso. Podemos até mudar de amigos, quando os antigos não apoiam nossa visão atual de nós mesmos”, diz o artigo do Psychology Today. “A sabedoria popular diz que escolhemos os amigos por causa de quem eles são. Mas acontece que nós realmente os amamos por causa da maneira como eles apoiam quem nós somos.”

Como manter a amizade

De acordo com Debra Oswald, psicóloga da Universidade de Marquette (em Wisconsin, EUA), que estudou o relacionamento entre voluntários que estavam no ensino médio e seus melhores amigos, há quatro comportamentos básicos necessários para manter o vínculo – que valem para todo mundo, não importa se você tem 15 ou 70 anos.

Os dois primeiros são pontos que exploramos bastante até agora: tomar a iniciativa de se abrirapoiar nossos amigos. O terceiro ponto é a interação. Não importa se o amigo é seu vizinho ou mora em outro continente: você precisa estar em contato com ele, seja escrevendo, conversando ao telefone, visitando. Felizmente, com a internet, a proximidade física tem pouco efeito sobre nossa capacidade de manter uma amizade.

Por fim, é importante ser positivo. Precisamos nos abrir com nossos amigos, mas isso não significa que está tudo bem ficar choramingando por horas e só ver o lado negativo de tudo. É claro que faz parte de ser amigo segurar a onda durante os perrengues da vida, mas, no final das contas, a intimidade que faz com que uma amizade prospere deve ser algo agradável e que faça bem para os dois lados.

Imagem de capa: Liderina/shutterstock

“Quem não tem vontade própria fica à mercê do ferrão dos outros” por Rubem Alves

“Quem não tem vontade própria fica à mercê do ferrão dos outros” por Rubem Alves

Título original: Monjolos e carros de boi

Minhas netas: Os animais, para sobreviver, precisam apenas de uma coisa: os seus corpos.

Os corpos dos animais – cada um deles é uma caixa de ferramentas onde estão guardadas as ferramentas de que eles têm necessidade para sobreviver. Dentes, garras, carapaças, escamas, asas, ferrões, venenos, disfarces, fedores, perfumes, cascos…

Os gambás são fedidos: com isso eles afastam os inimigos. O bicho-pau se parece com um pedaço de pau seco.

Com isso ele se esconde dos pássaros que gostariam de comê-lo.

Os castores têm dentes enormes e afiados, verdadeiros formões que usam para cortar árvores para fazer as represas em que vivem. Há um besouro terrível, chamado “bicho-serrador”.

Pois o danado, de noite, corta galhos de árvores com a precisão de uma serra. E os vagalumes possuem lâmpadas que se acendem durante a noite, para atrair as namoradas.

Nenhum pássaro é louco de engolir uma taturana. Lindas, verdes, vermelhas, marrom, abóbora, são fogo puro.

E a cascavel, cobra pacífica, adverte aqueles que estão se aproximando com o chocalhar dos guizos que têm na ponta do rabo. Mas esse animal chamado homem, ao contrário, tem uma caixa de ferramentas muito pobre… Se os homens tivessem de se virar só com o seu corpo, há muito teriam desaparecido.

Mas como eles não queriam desaparecer, eles se puseram a pensar. E, com essa ferramenta chamada pensamento, eles se puseram a inventar coisas para melhorar o seu corpo deficiente.

Cada invenção é uma melhoria do corpo. O que é uma rede de pescar? É uma melhoria das mãos que, sozinhas, não conseguiriam agarrar os peixes. Uma rede é uma mão com 1.000 dedos!

E o que é um cesto? É uma melhoria dos braços e das mãos que, sozinhos, não conseguiriam carregar mais que 6 ovos. Com uma cesta eu posso carregar 50 ovos! O fio dental é uma melhoria da unha.

Aquele pedaço de carne entre os dentes, irritante, a unha não chega lá. Primeira melhoria da unha: um pauzinho de ponta, palito. Mas mesmo o palito não consegue cutucar as carnes mais fundas. Aí o pensamento inventou o fio dental.

Pense no seu corpo nu: todos os objetos que não são o corpo e que estão ao seu redor e que ele usa têm o nome de tecnologia.

A tecnologia é uma extensão do corpo, uma melhoria do corpo. O corpo inventou a tecnologia para viver melhor, para sofrer menos, para fazer menos força… Por isso os homens inventaram os monjolos…

Você não sabe o que é um monjolo. Nunca ouviu falar. Vou explicar. Tudo começou quando um homem percebeu que havia coisas duras demais para os nossos dentes.

O milho maduro, que os dentes dos cavalos trituram sem dificuldade, se um homem tentar fazer como os cavalos fica desdentado. Aí o pensamento pensou um jeito de ajudar os dentes: transformar o milho em farinha.

O pensamento pensou e teve a idéia de quebrar o grão com uma pedra. Funcionou. A pedra quebrou o milho mas o milho se espalhou por todos os lados e foi um trabalhão ajuntar tudo.

Aí a inteligência pensou que, se o milho estivesse dentro de um buraco num pau, ele não se espalharia quando batido. Só que, para se bater no milho, no fundo de um buraco num pau, não era possível usar uma pedra.

A inteligência pensou que o mesmo resultado da pedra podia ser obtido com um pau comprido que entrasse dentro do buraco.

Assim foi inventado o pilão. Mas ficar batendo no milho com o pau dava uma canseira…

Aí houve um homem, gênio maior que o de Einstein, que imaginou se não seria possível pôr a água para trabalhar para a gente…

Ele conhecia o poder da água, dos seus banhos nas cachoeiras. O problema era: como transferir a força da água das cachoeiras para o pilão.

E foi então que, num estalo de gênio, esse homem bolou uma máquina, o monjolo. Toda máquina é uma coisa que transfere a força de um lugar para outro.

O monjolo se parece com uma gangorra: é um pau grosso que oscila sobre um eixo. Uma das pontas dessa gangorra, pau grosso, é cavada por um artesão, pode ser a machado, a fogo, a enxó, formando um buraco, um vazio, colher imensa.

Na outra ponta, fincado na madeira da gangorra, está o pau do pilão. E, debaixo dele, o pilão onde se põe o milho. Como é que funciona? Essa máquina é construída debaixo de um cocho por onde a água corre. A água do cocho cai no buraco da colher.

Quando a água enche o vazio, a gangorra se desequilibra pelo peso da água, e se inclina para o lado do peso maior.

Mas, ao se inclinar, a água que enchia o vazio escorre. O vazio fica de novo vazio, leve. Novo desequilíbrio. A gangorra cai na direção da extremidade do monjolo onde está preso o pau do pilão.

O pau grosso da gangorra, pesado, desce com força. e o pau do pilão bate no fundo do pilão, quebrando o milho… E assim o monjolo trabalha a noite toda, enquanto os homens dormem. Trabalhando, o monjolo canta uma música.

Quando ele se levanta dá um gemido de dor; ai! E quando ele bate no fundo do pilão é como barulho de um bumbo: ai – bum, ai – bum, ai – bum. O “ai” é longo, lamentoso, sofrido.

O “bum” é rápido e seco. Canta o monjolo noite e dia. O milho duro vira fubá macio. O fubá, no forno, vira bolo. Comer o bolo: que alegria!

Geme e canta o monjolo, fazendo música. Ao longe, canta um outro músico, o carro de boi! Vem carregado de lenha, carregado de milho… O carro de boi era uma alegria para a meninada.

A gente corria atrás e subia nele, prá andar um pouquinho. Quem não tem automóvel anda de carro de boi. Era fácil subir. Andava muito devagar. Boi não corre. Quem corre é cavalo e até há os hipódromos, lugares onde acontecem corridas de cavalos. Mas nunca ouvi de corrida de bois.

Há, na Espanha, um costume cruel e sangrento, que a bondade e a razão há muito deveriam ter abolido: as corridas de touros. Touradas.

Aqueles touros correm e ai do toureiro que se distrair! Mas touro não é boi. Boi foi touro. O touro, fortíssimo, não serve prá puxar carro porque touro tem vontade própria. Ele faz com a sua força aquilo que ele quer.

Os homens compreenderam que, para usar a força do touro era preciso tirar dele sua vontade. Os homens então castraram o touro, tiraram seus hormônios de macho que corria atrás das fêmeas. E os touros ficaram fortes e obedientes.

Por isso eles andam tristes, olhando prá baixo. E os homens puseram a força do boi para puxar carro da mesma forma como puseram a força da água para bater o monjolo. Tecnologia é isso: usar uma força que não é nossa para realizar os desejos que são nossos.

Quando os homens sentiram que as mãos eram pequenas para carregar as coisas eles inventaram as cestas. Quando perceberam que as cestas eram pequenas para carregar muitas coisas inventaram o carro de boi.

O carro é uma melhoria das mãos. Mas não só isso. Carregar uma cesta cheia cansa os braços. Cansa as pernas. Cansa os músculos.

Carregando as coisas no carro o corpo descansa. Ao invés do corpo do homem, os corpos dos bois. Mas melhoria maior ainda para as pernas são as rodas.

A roda foi uma das mais importantes descobertas da história dos homens. Quem será que inventou a roda? Como será que a idéia da roda apareceu na sua cabeça? A idéia aparece antes da invenção. O homem que fez a primeira roda foi um gênio de inteligência.

O carro de boi é guiado pelo carreiro que caminha ao lado dos bois. Na mão ele tem uma vara comprida com um prego na ponta: é o ferrão.

Com o ferrão ele espeta o boi que está fazendo corpo mole, ou o boi que está indo na direção errada. E os bois obedecem. É impossível não obedecer as ordens da dor.

Quem não tem vontade própria fica à mercê do ferrão dos outros…

Mas o orgulho do carreiro está na música que o carro faz. Carro de boi é instrumento musical. A madeira do eixo, girando apertada na madeira do encaixe, produz um som contínuo, lamentoso, uivo de carpideira, um gemido sem fim.

Quando o carro canta o carreiro sobe em cima, segura o ferrão na vertical como se fosse uma lança, e sorri, orgulhoso, como se fosse um músico dando um concerto.

Tenho saudade dessas músicas, a música do monjolo, a música do carro de boi. Dentro de mim elas continuam. E eu gostaria que ainda houvesse monjolos e carros de boi para que vocês, minhas netas, pudessem sentir o que eu sinto…

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Imagem de capa: Ysbrand Cosijn/shutterstock

“Lhe desejo o suficiente”

“Lhe desejo o suficiente”

Por Nando Pereira

A história a seguir é contada pelo escritor e coach americano Bob Perks e ficou tão famosa que já é uma seção do site oficial dele, no endereço ok2be.me, intitulada “Lhe desejo o suficiente – A História” (I Wish You Enough – The Story). É o diálogo de despedida entre um pai e sua filha num aeroporto (ou uma mãe e sua filha, em alguns relatos alternativos) que traz uma perspectiva de vida realista, agradecida e inspiradora, que está contida na tradição de dizer ao outro simplesmente “lhe desejo o suficiente“.  Dentro desses dizeres está uma leve compreensão da impermanência das coisas (também presente na própria despedida), da interdependência e dos dualismos da vida — de sol e chuva, de ganhos e perdas, de olás e adeuses.

O post foi traduzido do inglês por este blog e segue abaixo:

“Em um aeroporto ouvi um pai e uma filha nos seus últimos momentos juntos. Anunciaram a partida do avião da filha e, perto da entrada, o pai disse, “Te amo, desejo a você o suficiente”. A filha disse, “Pai, nossa vida junto tem sido mais do que suficiente. Seu amor é tudo que eu sempre precisei. Te desejo o suficiente também, mãe”. Elas deram um beijo de adeus e ela se foi.

A mãe andou em direção à janela onde eu estava sentado. Eu podia ver que ela queria e precisava chorar. Tentei não invadir a privacidade, mas ela me cumprimentou perguntando, “Você já disse adeus a alguém sabendo que seria pra sempre?”.

Sim, já disse, respondi. E ao dizer isso me vieram lembranças de quando expressei meu amor e admiração por tudo que minha mãe tinha feito por mim. Reconhecer que os dias dela estavam no final, reservei um tempo para dizer-lhe pessoalmente o quanto ela significava pra mim.

Então eu sabia o que esta mulher estava passando. “Desculpe por perguntar, mas porque esse é um adeus para sempre”, perguntei. “Estou velha e ela vive muito longe. Tenho desafios à frente a realidade é que a próxima viagem dela de volta será para o meu funeral”, ela disse.

“Quando vocês estavam se despedindo eu ouvi você dizer, ‘Te desejo o suficiente’. Posso perguntar o que isso significa?”. Ela começou a rir. “É um desejo que tem sido passando por gerações. Meus pais diziam pra todo mundo”.

Ela parou por um momento como se tivesse tentando lembrar de algo, então sorriu de novo. “Quando dissemos ‘te desejo o suficiente’, estamos querendo que a outra pessoa tenha uma vida cheia de coisas que a sustente”, ela continuou, e então se virou pra mim e disse o seguinte, como se estivesse recitando da memória:

“Lhe desejo suficiente sol para manter sua atitude iluminada.
Lhe desejo suficiente chuva para apreciar o sol ainda mais.
Lhe desejo suficiente felicidade para manter seu espírito vivo.
Lhe desejo suficiente dor para que as menores alegrias da vida pareçam muito maiores.
Lhe desejo suficiente prosperidade para satisfazer suas vontades.
Lhe desejo suficiente perda para apreciar tudo que você possui.
Lhe desejo suficiente ‘olá’ até que chegue ao seu final  ‘adeus'”.”

— Bob Perks

Fonte indicada:

contioutra.com - "Lhe desejo o suficiente"

 Imagem de capa: mimagephotography/shutterstock

Entenda a importância do tempo “ocioso” para o seu cérebro

Entenda a importância do tempo “ocioso” para o seu cérebro

Você, caro leitor, tem problemas para se concentrar e sente que é cada vez mais difícil dar conta de todas as tarefas do dia a dia? Experimente cultivar um novo hábito: o de deixar o smartphone de lado, desligar a TV e o computador e deixar seu cérebro descansar e ter devaneios (ou sonhar acordado) à vontade.

A pesquisadora e professora de educação, psicologia e neurociência na Universidade do Sul da Califórnia, Mary Helen Immordino-Yang, escreveu um artigo com outros colegas que trazia um levantamento da literatura científica existente da neurociência e da ciência psicológica explorando o que significa quando o nosso cérebro está ‘em repouso’.

O trabalho foi publicado na edição de julho do periódico “Perspectives on Psychological Science” e aponta que, quando estamos descansando e focados em nosso mundo interior, nosso cérebro entra no chamado “modo padrão” ou “default”. A atividade desse modo default está ligada aos componentes do nosso funcionamento socioemocional, como autoconhecimento, julgamentos morais, desenvolvimento do raciocínio e construção de sentido do mundo que nos rodeia. Falando nisso, outra pesquisa recente, feita na Universidade da Califórnia em Santa Barbara, concluiu que ter devaneios realmente melhora a produtividade e ajuda na resolução de problemas.

Immordino-Yang e seus colegas expressaram preocupação com o fato de que os ambientes urbanos e virtuais (redes sociais cabem muito bem aí) têm exigido demais de nossa atenção. Para eles, isso talvez esteja minando oportunidades de reflexão e pode ter efeitos negativos sobre o nosso desenvolvimento psicológico.

A importância do tempo “ocioso” para o aprendizado e memória

Para Immordino-Yang, a reflexão e o silêncio podem ser muito importantes também para o aprendizado e memória. “O foco para dentro afeta a maneira como construímos memórias e sentidos e o modo como transferimos o que aprendemos para novos contextos“, explica. Ela defende que as escolas incentivem o aluno a se voltar para si mesmo, o que pode ajudar na consolidação do aprendizado em longo prazo. “O equilíbrio é necessário entre a atenção exterior e interior, já que o tempo gasto com a mente vagando, refletindo e imaginando também pode melhorar a qualidade da atenção externa que as crianças podem sustentar”, completa.

Segundo os autores, talvez a conclusão mais importante a ser extraída de pesquisas sobre o cérebro em repouso é o fato de que isso não significa uma ociosidade negativa – pelo contrário, é fundamental para aprendermos com as experiências. Estudos já indicaram que, quando as crianças têm tempo e habilidades necessários para a reflexão, muitas vezes se tornam mais motivadas, menos ansiosas, têm melhor desempenho em testes e passam a planejar o futuro de forma mais eficaz.

(via Medical Xpress, fonte Superinteressante)

Imagem de capa: Maridav/shutterstock

Dor não se mede nem se compara, dor a gente consola!

Dor não se mede nem se compara, dor a gente consola!

É maldade menosprezar quem sofre, seja por um ente querido, por um animal, por um passarinho, seja por um peixinho dourado. A morte traz raiva, dor e revolta, seja a morte de quem for. Dor não é para ser comparada, julgada, medida. Dor é para ser consolada.

Enquanto vivermos, acumularemos saudades de momentos, de pessoas queridas, de empregos, de comidas, cores, sabores, do que éramos, dos sonhos amortecidos pelo peso do cotidiano. Será necessário aprendermos a conviver com a falta do que e de quem se foi, ao longo de nossas vidas, transformando a dor da saudade em combustível aos recomeços que teremos pela frente. Agora, junto mais uma saudade à minha coleção: a da Kate, minha gata.

Há pouco mais de um ano, apareceu uma gatinha em meu quintal. Eu nunca tivera gatos, somente cães a minha vida toda. Deixei-a na minha garagem, enquanto procurava por um possível interessado em ficar com ela, mas ele nunca apareceu. E ela foi ficando, ficando e ficou. Estranhei, desde o início, o jeito de um gato, sua autossuficiência, seu olhar de altivez, sua calma, enquanto tudo à volta pode estar fervendo. E um comportamento que me fazia sofrer era a liberdade de ir e vir que ela possuía. Saía e voltava quando quisesse, bem como ficava na rua o tempo que fosse.

Uma semana antes de ser atropelada, ela saiu de manhã e não voltou o dia todo. Cheguei do trabalho e ela não aparecera, o que me deixou nervoso – ela nunca ficara mais de duas horas na rua. Coloquei sua foto no Facebook, numa página de proteção aos animais aqui de minha cidade, totalmente desolado. Saí a pé, de carro, pelas redondezas, à sua procura, e nada. Somente lá pelas nove da noite, ela apareceu, como se nada tivesse acontecido, e foi comer sua ração calmamente. Uma semana mais tarde, ela morreria atropelada.

Já perdi muitos cachorros ao longo da vida, mas perder a Kate me arrasou de uma forma cruel. Porque a gente lutou junto na construção de nosso amor: ela lutava de lá para que eu a amasse e, no início, eu lutava daqui para não amá-la. Ela venceu.

Dizem que o gato nos escolhe e a Kate me escolheu desde o primeiro dia. Eu a encontrei, enrolei-a num paninho e arranjei-lhe uma almofada. Dizem que gatos têm uma missão junto aos que amam, pois energizam os ambientes. Seu amor me confortou nesse um ano e meio, em que muitas dificuldades enfrentei. Então, num dos dias mais felizes de minha vida, em que meu filho se matriculou na faculdade, ela percebeu que a sua missão acabara e partiu.

Partiu pois percebeu que estávamos felizes e a sua partida não nos tiraria qualquer esperança. Partiu quando percebeu que conseguiríamos continuar sem ela. Kate deixou muito amor, muita lealdade e momentos que preencherão esse vazio que agora me consome.

Minha gata me ensinou muita coisa, principalmente em se tratando de relacionamentos e amor. Ela me amava e deixava claro isso quando dormia sob minha barriga, quando se esfregava em forma de um oito entre minhas pernas enquanto eu escovava os dentes, quando lambia minha mão com sua língua crespa. Ela me amava e sempre voltava: ela queria que eu entendesse que ela voltaria para mim. Todo dia. Para sempre. Ela voltaria. Ela acabou, um dia, não voltando fisicamente, mas ela voltou, sim, afinal, ela prometera que voltaria. Voltou porque, na verdade, nunca saiu do meu coração. Ela continua aqui dentro de mim, de onde nunca mais sairá.

Com ela aprendi tanto, inclusive que a gente se despede, todos os dias, de quem ama, nos gestos, nos dizeres, nos olhares, no carinho. O adeus está diluído em cada parte de nossos dias. E a Kate despediu-se lindamente de mim. Ela veio rápido e foi rápido. Na última semana juntos, ela vinha toda noite pular na minha barriga enquanto eu via televisão. Na última madrugada juntos, ela dormiu encostada na minha perna. Naquela última vez em que eu a vi viva, ela saiu e, parada na janela, olhou pra mim, encostando o focinho no meu nariz.

Levarei para sempre essa imagem. Ela foi tão boa, que sabia que não ficaria muito tempo conosco e se despediu aos poucos. Despediu-se quando quase morreu acidentada meses atrás e resistiu bravamente; despediu-se quando sumiu, uma semana antes de sua morte; despediu-se inspirando um texto meu publicado um dia antes de ela morrer e que ficará para sempre no mundo, e despediu-se na madrugada, dormindo comigo. Acho que ela começou a ir embora depois já daquele primeiro acidente. Ela sabia que estava morrendo, mas foi forte e continuou por mim, até não dar mais, até sua missão ser bem sucedida.

Outra lição que ela me deixou foi que, por incrível que pareça, a gente acaba sendo julgado até na dor, no sofrimento. Mas a gente não controla a dor e o sofrimento. O sentimento vem lá de não sei onde e transborda, mesmo que queiramos, a todo custo, calá-lo. E cada um sente de um jeito, não significando que sofre mais quem chora demais ou de menos. Por isso, não há coerência em se comparar ou se medir dor. É maldade menosprezar quem sofre, seja por um ente querido, por um animal, por um passarinho, seja por um peixinho dourado.

A morte traz raiva, dor e revolta, seja a morte de quem for. Dor não é para ser comparada, julgada, medida. Dor é para ser consolada. O tempo de luto de cada um diz respeito somente a ele. A dor há de amenizar, mas a tempestade que atravessamos, enquanto dói a alma, merece, no mínimo, respeito.

Há oito anos, minha mãe partia para sua próxima jornada. E, por mais que eu tenha fé, que eu creia em nosso reencontro, que eu racionalize esse sentimento todo e me equilibre por aqui sem sua presença, um vazio ainda me acompanha por dentro. Não adianta; em certos momentos, a gente quer ouvir a voz, abraçar, brigar que seja, sentir o cheiro daquela pessoa.

E a dor pela partida da minha gatinha Kate agora se junta à minha coleção de saudades doídas. A morte é a certeza mais óbvia de nossas vidas, mas também a dor mais duradoura dentre todas. E, irônico consolo, é suportável, porque a gente tem que continuar. Porque é isso que quem partiu espera de quem fica. E eles aguardam ansiosamente por nós – são lindos esses reencontros. Tem todo dia festa no céu.

Sim, descubro, às duras penas, que somos mais fortes do que imaginamos. Amor verdadeiro faz isso com a gente. Só o amor. Sempre o amor.
*Dedicado à Cleide e à Kate

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