Você deixou saudades, mas não está fazendo falta

Você deixou saudades, mas não está fazendo falta

Sentir saudades de você não machuca, pois significa que foram reais os nossos momentos. Mas é bem diferente de você estar fazendo falta, porque não está. Depois de um tempo, você deixou de ser recíproco e de fazer a sua parte. Você não teve cuidado e nem investiu o que deveria. Fatalmente, cansei e resolvi acreditar que mereço um alguém com o coração mais disposto.

Não vou ser hipócrita, aprendi muito contigo. Todo mundo absorve e deixa algo numa relação, é natural. O que não cabe é quando essa troca deixa de lado o querer para dar lugar aos abusos e egoísmos. Você me teve na plenitude, mas não foi o suficiente para esse seu jeito pequeno de sentir. Foram inúmeras vezes onde te coloquei pra cima e você me puxou pra baixo. Desgaste atrás de desgaste, a minha vontade de ficar foi morrendo aos poucos.

Acho que a gente não pode se deixar anular nesses casos. Por mais que existisse o meu afeto por você, tive que parar e pensar no quanto isso estava me afetando. Não era soma o que você queria e, com certeza, não era amor o que a gente tinha. Mesmo tendo boas lembranças do nosso passado, também sobraram muitas cicatrizes. Chega uma hora que não compensa permanecer e lutar por alguém sem envolvimento. É digno abrir e jogo e dizer – desisto.

Mas tenho gratidão pela nossa caminhada. Não é justo vir aqui e dizer que nada prestou. A saudade que sinto são daqueles instantes nos quais a simplicidade acompanhava os nossos carinhos. Das longas conversas, das risadas, da admiração mútua pelos desejos expostos em quatro paredes e dos silêncios que a gente sabia curtir a dois. Tudo isso vou levar comigo. Não para comparação, mas para uma espécie de maturidade e evolução das coisas que quero num futuro relacionamento, entende?

Agora, não é porque deixei aqui a minha alma nua que quero expressar nas entrelinhas a falta que você faz. Falta nenhuma de você, lamento a decepção. Somos um recorte dos amores que já vivemos, é verdade. Mas não confunda, em hipótese alguma, que cada saudade que tenho é um motivo para reviver uma história que terminou com um ponto final. Se ainda tivesse parado nas reticências…

Imagem de capa: MarinaP, Shutterstock

Então, você vai ser mãe

Então, você vai ser mãe

Então você fez o teste de farmácia, o exame de sangue, o ultrassom, e descobriu que está grávida. Então seu corpo mudou, você passou a se alimentar melhor, está bebendo mais de três litros de água por dia e evita ultrapassar os carros pela direita. Passou a seguir blogs de maternidade, reformou o antigo escritório para ser o quarto do bebê e fez a mala da maternidade. Se programou para amamentar de três em três horas, comprou um sling para carregar o bebê para qualquer canto e tem certeza que, com o exemplo do pessoal de casa, seu filho irá gostar de ler e não dará trabalho para comer beterraba.

Eu gostaria de acreditar que tudo aquilo que sonhamos correrá exatamente como planejamos. Gostaria de pensar que há uma porção de regras que garantirão que nada sairá dos trilhos. Porém, a vida não funciona assim. E na maioria das vezes o que ela quer de nós é evolução, é mudança. E não há algo maior nesse mundo, algo que nos transforme tanto, do que ter um filho.

Ter um filho nos arremessa para bem longe da zona de conforto, da comodidade e do conformismo. Nos faz buscar respostas, decifrar mapas e pegadas na areia, ter soluções para o mistério das nuvens de algodão e do arco íris refletido nas bolhas de sabão. Nos torna heróis da noite para o dia, nos faz ter olhos de simplicidade e poesia. Ter um filho é andar de mãos dadas com uma pessoinha que te vê maior que o mundo, é sentir os dedos melados de açúcar e saliva, é aprender a ser paciente com o suco esparramado no vestido na hora de sair e com as pausas para catar gravetos no caminho para o dentista.

Então você vai ser mãe e eu gostaria que você soubesse que mesmo planejando, organizando, arquitetando e estudando tudo nos mínimos detalhes, ainda assim você irá se surpreender. Ainda assim você ficará perdida em alguns momentos e não encontrará as respostas em nenhum livro, site, palpite ou bula. Seu filho irá exigir que você encontre as respostas dentro de você. Irá lhe fazer entender que é um caso único entre infinitos, e que, de um jeito novo, surpreendente e improvável, contrariando todas as previsões e estatísticas, você dará conta.

Você perceberá que deu conta quando a casa silenciar e você for cobri-lo na penumbra do quarto, e sentada na beira da cama desejar que o tempo congele. Você perceberá que deu conta quando ele tiver onze anos, e no intervalo das lições de ciências ouvir ele dizer um “eu te amo” gratuito, sincero e espontâneo. Você perceberá que deu conta quando notar o olhar aflito de seu pequeno te procurando na plateia da apresentação da escola, e então ser notada e presenteada com olhinhos brilhantes de alívio e amor. Você perceberá que deu conta quando, tarde da noite, o telefone tocar e ele te pedir conselhos para cuidar do próprio filho, pois você foi “a melhor mãe do mundo”.

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Então você vai ser mãe e eu desejo que você possa viver essa experiência intensamente. Que sua casa seja invadida por aviões de papel, alguns rabiscos nas paredes e manchas de Nescau no sofá. Que você passe mais tempo construindo cabanas de cobertor e barcos de sucata do que aspirando o carpete, e não desperdice o tempo que vocês têm juntos com excesso de trabalho e preocupações com o futuro. Lembre-se que a infância é um sopro, e num instante você terá todo tempo do mundo só para você e muita saudade da cama compartilhada depois de um pesadelo, do abraço envergonhado perto da escola, das marcas na parede evidenciando o aumento de estatura, dos verbos conjugados arduamente, da primeira visita da fada do dente.

Eu pensei que tinha planejado tudo. Pensei que poderia ser apenas o tipo de mãe amorosa que conta histórias, cuida, brinca e reza para dormir. Mas meu filho veio me tirar da zona de conforto. Eu tinha me habituado a ser o tipo de pessoa carinhosa que conquista tudo com seu afeto. Mas ele não queria só isso. Ele queria se sentir seguro. E só se sentiria seguro se eu fosse uma mãe posicionada, firme, enérgica e confiante. Ele queria limites. Queria que eu demonstrasse meu amor por meio dos limites. E me transformou. Me tornou uma pessoa mais determinada e cheia de fé em si mesma, muito diferente do que eu era. Hoje sei que nada te prepara para ter um filho. Nada te prepara para ser confrontada por um serzinho que irá lhe tornar mais forte, firme, imbatível. Para te tornar, com sorte, uma pessoa melhor.

Então você vai ser mãe e eu torço para que saiba aproveitar esse momento com alegria. Para que respire vapores do momento presente e não lamente o “trabalho” que as crianças dão. As noites em claro, viroses e birras não irão durar para sempre, e se você tiver doado seu tempo com alegria, interesse e presença verdadeira, terá conseguido desempenhar sua missão com louvor. E talvez um dia, depois de cumprir o ritual dos pijamas e escovas de dentes, você irá respirar fundo e pensar, com antecipada nostalgia, que aquele é um momento mágico; um momento que justifica e valida a vida, um momento que será revisitado e lembrado para sempre…

Imagem de capa: Dubova / Shutterstock

O título desse texto foi inspirado no título “Então, você vai ser pai” de Marcos Piangers

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O verão chegou. Você sabe proteger seu cachorro na estação mais quente do ano?

O verão chegou. Você sabe proteger seu cachorro na estação mais quente do ano?

Seja por falta de experiência ou interesse na hora de tomar algumas precauções, as estatísticas apontam que muitos proprietários de animais são negligentes durante a estação mais quente do ano.

Basta um pouco de atenção a algumas dicas e cuidados, e seu mascote vai curtir um verão mais divertido e refrescante ao lado da família.

Começando pelos passeios: a indicação é que sempre ocorram na parte da manhã até às 10:00 horas, e na parte da tarde após às 17:00 horas. O piso entre 12:00 e 16:00 horas está escaldante, podendo causar inúmeras queimaduras nas patinhas do cãozinho. É importante ressaltar que mesmo utilizando sapatinhos, o cachorro não estará isento de certos desconfortos, já que esses animais também transpiram pelas patas e não somente pela língua. Contudo, isolar as patinhas dentro de sapatos, mesmo que apropriados, não é confortável para o seu peludo.

Ainda no passeio, é indispensável carregar uma garrafinha de água para oferecer aos cachorros durante a caminhada para que não desidratem. Borrifar um pouco dessa água no corpo deles também auxilia no frescor.

Jamais deixe um cão trancado em um carro. Se for parar em algum lugar, que seja breve e deixe os vidros abertos, caso contrário, os animais podem vir a óbito por asfixia ou hipertermia.

Já para alegria da cachorrada uma dica bem legal é congelar carnes e pedaços de frutas, criando um tipo de picolé gigante. Além de aliviar o calor, o alimento congelado será bem divertido para o seu amigo. Colocar cubos de gelo na vasilha de água também é uma ótima opção.

Algumas raças necessitam de maiores cuidados, principalmente cães braquicefálicos (focinho achatado), como Pugs, Buldogues, Shih Tzus, pois o focinho curto implica em uma respiração com maior dificuldade, favorecendo insuficiencia cardíaca, respiratória, e parada cardiorrespiratória.

Também evite deixar seu animalzinho em lugares fechados, pouco arejados e com escassez de água.

Para quem possui cães agressivos, que estão entre as raças obrigadas a utilizar focinheira, opte sempre pelos acessórios de grade, ou seja, abertos, que possibilitam ao cão poder abrir a boca e transpirar pela língua. Nada de colocar focinheiras fechadas e sem a opção para entrada e saída de ar. Um cão, como membro da família, deve desfrutar de todo o conforto e cuidado com responsabilidade.

Imagem de capa: Ross Stevenson/shutterstock

Moço, não use essa mulher como “muleta”. Seja homem para viver o seu luto.

Moço, não use essa mulher como “muleta”. Seja homem  para viver o seu luto.

E então, vai mesmo namorar essa moça? Mas, vem cá, um dia desses, você estava se queixando pelo fim do seu último relacionamento. Ficou claro que você estava profundamente machucado por essa ruptura, não parecia uma dor de cotovelo qualquer, não parecia um ressentimento superficial, tampouco parecia orgulho ferido. Seu sofrimento pareceu-me visceral.

Relacionamento longo que você viveu, né? Mas que acabou e te deixou sem chão. Achei seu desabafo corajoso, sincero e cheio de beleza. Sim, mostrar as nossas fragilidades ao outro nos torna mais humanos. Tirar as nossas armaduras perante o outro, não é algo fácil, requer coragem e humildade, contudo, nessa coragem reside uma beleza descomunal.

Pois bem, preocupa-me essa decisão repentina de se relacionar. De verdade, isso me surpreendeu. Sabe, sou super a favor dos recomeços, todos nós precisamos deles, contudo, ele não pode ser antecipado. Não pode ser precoce. Pelo menos quando se trata de um recomeço amoroso.

Como você vai iniciar um namoro machucado desse jeito? Essa moça sabe do que se passa aí dentro do seu coração? Você foi franco com ela? Contou a ela ao menos a metade do que me contou quando desabafou? Olha, é humanamente impossível você ter finalizado esse luto daquele dia para cá. Sei do que estou falando. Moço, pensa direito.

Não estou vendo nenhum entusiasmo quando você fala dessa moça que você diz querer namorar. Não seria melhor você ser honesto com o que está sentindo? Sabe, o luto amoroso não é uma frescura ou coisa de gente frouxa. Por que não espera essa ferida cicatrizar? Viva o seu luto com coragem, desarme-se, você não precisa provar nada para ninguém. Cuidado com essa história de curar um amor com outro. Isso, nem sempre funciona. O tiro pode sair pela culatra. Isso pode ser uma experiência desastrosa.

Talvez essa moça já venha de um histórico difícil no que tange aos relacionamentos afetivos. Pode ser que ela esteja vendo em você uma possibilidade de reescrever a história dela. Mas você não terá como oferecer o que ela busca. Você está machucado demais para acrescentar algo ao coração de alguém. Não vejo brilho em seus olhos quando fala dela. Parece que está falando de alguém que vai prestar algum serviço a você, sei lá.

Eu pude perceber seus olhos brilhando quando você falou de sua ex, das coisas que vocês viveram. Sim, mesmo em meio às suas lágrimas, esse brilho se manifestou em alguns relatos da história de vocês. É muito provável que, mesmo sem intenção, você machuque essa moça. Pode acontecer de ela se apaixonar e você não ter condições de retribuir. Pode ser que você se esforce para se apaixonar por ela, mas isso não depende de esforço. A paixão e o amor possuem mecanismos próprios para se manifestarem. Eles dispensam planos mirabolantes, ou empurrõezinhos.

Por mais encantadora que essa moça seja, ela não vai conseguir abalar suas estruturas. Sua apatia não permitirá perceber nada de interessante nela. Você até pode perceber, de forma racional, mas o coração estará indiferente. Eu sei que isso dá muita raiva na gente. Ficamos inconformados quando estamos diante de uma pessoa espetacular e o coração faz cara de paisagem. Parece ironia do destino, né?
Não queira se enganar, isso não será possível por muito tempo. Dê um tempo a si mesmo, não tenha pressa. Seja franco com a moça sobre a sua condição atual. Proponha uma amizade, quem sabe, futuramente, o cenário muda. Sim, que você vai superar o luto do que acabou, é fato. Mas, é possível que você se encante por essa moça com verdade, da forma que os romances merecem. Com o coração saindo pela boca. Com taquicardia. Com mãos trêmulas. Com paixão. Com entrega. Com verdade.Com gula… Sem faz de conta.

Imagem de capa: Olga Gu/shutterstock

Deixe o outro te amar à maneira dele

Deixe o outro te amar à maneira dele

Cada um tem o seu jeito de amar, um jeito único, sublime, nobre. Um jeito todo seu de amar alguém. Acontece que, quando embarcamos num relacionamento, queremos, muitas vezes, que a pessoa nos ame do mesmo jeito e, se esse jeito não for como o nosso, já se torna motivo para acreditar que não existe amor no relacionamento ou que você é quem gosta mais, se interessa mais.

Se o seu jeito de amar é abraçando, abrace, mas deixe o outro amá-lo com beijos. Se o seu jeito de amar é comprando o chocolate favorito dele, compre, mas deixe o outro amá-lo vendo um filme de romance com você.

Se o seu jeito de amar é mandando mensagem de bom dia, mande, mas deixe o outro amá-lo desejando-lhe boa noite. A essência de um relacionamento e também do amor é isso, a troca, o compartilhamento, a descoberta de novos gestos que demonstram carinho, de palavras que expressam respeito.

Ame do seu jeito – ele é bonito assim -, mas deixe que o outro o ame à maneira dele – é mais bonito ainda, você vai ver.

Então, quando você entender que um beijo na testa também é amor, que comprar um remédio quando você está doente também é amor, que deixar você escolher qual filme assistir também é amor, não sobrará margem para dúvidas, insegurança, ou medo.

Tem gente que gosta de amar devagarinho, com passos lentos, mas ama.

Tem gente que gosta de amar com intensidade.

Tem gente que gosta de amar com palavras.

Tem gente que gosta de amar com sorrisos.

Tem gente que gosta de amar com beijos na testa.

Outros gostam de amar com abraços, e existem até aqueles que gostam de amar de mãos dadas. Mas todos amam, à sua própria maneira.

É isso que é bonito, é disso que você precisa. De alguém que lhe mostre que o amor se expressa de todas as formas e de todos os jeitos.

Imagem de capa: Reprodução

Não dê satisfação ao mundo. Dê amor a quem merece.

Não dê satisfação ao mundo. Dê amor a quem merece.

Você sabe. Uma paixão não tem hora certa para acender e nem tempo exato de apagar. As crianças de colo não têm vergonha de cair no choro quando sentem tristeza, medo, dor e essas coisas que, por sua vez, não têm problema de aparecer sem avisar.

Acredite. Quando você está triste ou está feliz, o clima lá fora nada tem a ver com isso. Na praia também chove quando é feriado, e a chuva está nem aí para as suas vontades.

Ninguém entre nós, mesmo aqueles com uma multidão de amigos próximos e parentes e conhecidos disponíveis, tem alguém que o ouça e compreenda com perfeita clareza no instante mais miserável de sua tristeza. Então fala à toa e depois deixa sua dor doer aos poucos, em silêncio, na solidão de um cego.

Os médicos não têm explicação para os casos de pacientes desenganados que se curam de inesperado. Porque, você sabe, milagres não se explicam. A gente agradece, reza, chora. E faz de tudo para merecer a vida em toda a sua grandeza e sua potência.

As cobras não voam porque Deus não lhes deu asas. Sorte a nossa. As pragas, as baratas e as fofocas não têm controle de natalidade. Nascem com a volúpia, a rapidez e o exagero das descargas hormonais de um adolescente. Fazer o quê?

Quando uma pancada de chuva surpreende os pedestres na rua e encharca-lhes dos pés à cabeça, ninguém nunca tem nos bolsos um novo par de meias secas.

Os especialistas da Nasa descobriram que a Lua não tem água, comida, ar respirável e essas coisas indispensáveis à vida. Mas e daí? Nem precisa ir muito longe. Muito canto aqui na Terra mesmo também não tem.

E as pessoas muito velhas por fora que mantêm a juventude por dentro, então? Em geral, não têm mobilidade e energia para caminhar longas distâncias. Mas também não têm o menor problema com isso —embarcam a qualquer hora na garupa de suas lembranças, nas asas de seus sonhos e vão voando até onde quiserem.

Certeza mesmo, ninguém nunca tem. Apesar de toda a nossa empáfia, nossa pretensa segurança e nossas patéticas demonstrações de controle. A despeito de tudo isso, alma nenhuma deste mundo tem noção do que vai acontecer daqui a dois segundos. Nós apenas seguimos em frente.

Tem gente que não tem dentes, casa, dúvidas, jeito com crianças.

A viúva da casa cheia de gatos e saudades não tem ninguém além de seus gatos e de suas saudades. Os pombos e os inadimplentes não têm crédito na praça. Os mais ricos não têm moedas para o mendigo. O marido adúltero não tem explicações para a mulher traída. Pobre homem. Mal sabe que ela deve ter feito o mesmo a ele bem antes, bem feito. Os telefones celulares não têm baterias que durem um minuto a mais no instante em que você precisa. As moças bem amadas, bem seguras, bem vividas não têm medo de engravidar ou de adotar uma criança.

E você, você aí, você não tem de explicar a ninguém os motivos de suas vontades inesperadas, por mais estapafúrdias que elas pareçam aos outros. Porque dos sete bilhões de seres humanos que respiram no planeta, só a mais rara meia dúzia é de alguma sorte afetada pelo que você escolhe fazer da sua própria vida e, ainda assim, até certo ponto. Então, é certo que você não tem de dar satisfação nenhuma por aí exceto a dois ou três escolhidos além da sua consciência. Jamais ao mundo inteiro.

Aliás, o mundo inteiro nunca vai saber quem somos você e eu.

Sobre as guerras, as picuinhas, as intrigas e as maledicências, então, não há dúvida: elas não têm cabimento nenhum.

E a vida, ah… a vida não tem o menor sentido se não tiver amor.

Para o resto, você sabe, sempre tem um jeito. É que a gente, sabe Deus por quê, vive fazendo questão de esquecer.

Imagem de capa: Irina Bg/shutterstock

O pior tipo de separação

O pior tipo de separação

Há uma dinâmica muito frequente que marca o fim de algumas relações; um sai ofendido, chocado com a separação repentina, e a partir daí, começa a armar desculpas para se convencer de que sua cegueira era por conta do amor exacerbado, que não o permitia enxergar um palmo à frente do beijo. O outro, solicitante do rompimento, sai convencido de que fez o melhor, mesmo sabendo que foi ausente e desinteressado. Esse último, se despede vazio de sentimentos, consciente dos atos, e age como se estivesse resolvendo pendências burocráticas numa repartição pública. Sabe que vai dar dor de cabeça, mas executa cada passo com desenvoltura.

A frieza com que se desprende é de causar espanto e raiva. Junta um punhado de camisas numa mochila, recolhe os livros favoritos na estante, enquanto o outro observa paralisado e incrédulo. A cena repete a mesma impotência que sente as vítimas de um assalto. Sendo que neste caso, viola-se o bem maior, a confiança, que foi conquistada com a convivência.

Esse é o pior tipo de separação. Quando se convive sob um teto aparentemente sólido, com as certezas todas no lugar, os sentimentos bem ordenados e os defeitos compreendidos como a atração da diferença. Tudo devidamente equilibrado, como se não houvesse motivo para um ruído maior. Como se o silêncio apaziguasse as dúvidas.

A relação acaba com a retirada brusca dos pertences. Não há uma conversa anterior para discutir os detalhes do rompimento. Acontece uma fuga premeditada, onde um resolve demonstrar que se cansou do outro e não o quer mais em sua vida. Não estabelece uma conversa para não ter de engolir as promessas que fez. Não quer a pecha de mentiroso, mesmo sabendo que é a vestimenta que lhe cai bem. Foge para não ter que explicar as próprias imperfeições, que o outro ajudava a ocultar por entender que o amor torna as falhas invisíveis.

O golpe mais duro é aquele que não se espera. A retirada dos objetos é a prova de que não haverá mais solução. A paralisia neste momento é uma forma de compreender o que não estava claro antes. O que não foi verbalizado. A busca por sinais que expliquem o trágico desfecho é quase uma reconstituição de crime.

O silêncio faz o papel de mediador. Enquanto o outro se afasta e fecha a porta sem olhar para trás, o que ficou desaba no choro. Recita o “foda-se” sem moderação, mas demonstra que a atitude mais sensata é não pronunciar mais o nome, não ver, não gritar que vai esquecer, não insinuar que está esquecendo.

Divulgar as ações, demonstra que a superação será mais difícil porque ainda faz tudo sob o domínio da raiva. Porque ainda não acredita que acabou. No fundo, torce para ter uma chance de reconciliação.

Esquecer é uma atitude gradual, não é simplesmente ato que se consuma pela fala. Parar de falar que vai esquecer é o começo da superação.

Esquecer é olhar para o passado com a certeza de que foi como era pra ser. Cumpriu-se ali um destino, que não incluía sua felicidade.

Acabou e não merece propaganda nem atenção nas redes. Não merece uma linha sequer do seu pensamento. Só o esquecimento. Certeiro. Sem meias palavras. Sem arrependimento. O ponto final sem queixas.

Não expor como a dor da frustração transformou algo dentro de você, tornando – o mais forte e cauteloso, é um sinal de que você compreendeu que aquela relação tinha prazo de validade, mas a sua vida continua.

Imagem de capa: George Rudy/shutterstock

Eu não deixo ninguém para trás, as pessoas é que me perdem aos poucos

Eu não deixo ninguém para trás, as pessoas é que me perdem aos poucos

O cotidiano nos entope de atribulações mecânicas e repetitivas, ocupando-nos de obrigações e de responsabilidades, estendendo nosso horário de trabalho muito além das oito horas diárias, deixando-nos pouco espaço a ser preenchido com a convivência humana e afetiva. Com isso, o perigo de nos afastarmos do contato pessoal, de nos esvaziarmos de sensibilidade e tato, de nos levar à frieza de uma vida solitária, é uma constante.

Muitas vezes, focamos nossas energias tão somente na obtenção daquilo que queremos em termos de realização profissional, no sentido de alcançarmos sucesso profissional e estabilidade financeira, ao passo que nos esquecemos de reservar um tempo necessário às relações pessoais. E assim seguimos acumulando coisas e conforto, enquanto perdemos, aos poucos, as pessoas que nos são vitais, que nos ajudam a ser melhores, sem sucumbir.

Por essa razão é que, às vezes, temos a sensação de que estamos sendo ignorados ou desprezados por alguém cuja amizade vai se enfraquecendo, cujas mensagens vão diminuindo, cujos telefonemas vão rareando, cujos encontros vão se extinguindo. E, em vez de percebermos o quanto nosso comportamento influenciou nesse distanciamento, ficamos tentando culpar somente o outro pela distância que nós mesmos alargamos, ocupados que estávamos com tudo menos com ele.

Nesse sentido, nem sempre o afastamento é proposital, nem sempre esquecemos alguém porque quisemos, nem sempre as pessoas vão embora porque não nos amam mais. É a ausência de contato, de olhar, de se importar, de regar e de cuidar que nos afasta uns dos outros, muito mais do que o desamor. É a valorização extremada das conquistas materiais que nos esvazia de conquistas afetivas, de forma sutil, mas fatal.

Daí a necessidade de reservarmos dentro de nós lugares especiais onde habitarão aqueles a quem devemos gratidão por nos ajudar a ser pessoas melhores, a levar conosco cargas de sentimentos que não se podem perder, por mais que o corpo doa, por mais que o tempo corra, por mais que se canse, se extenue, se desabe. Perder aquilo que se compra pode até ser penoso, mas perder quem nos deu as mãos com amor de verdade é irreversível. E muito doído.

Imagem de capa: Helena Lansky/shutterstock

Forçar intimidade é invasão de espaço, falta de noção e delírio emocional

Forçar intimidade é invasão de espaço, falta de noção e delírio emocional

Tremenda saia justa é conviver com aquela pessoa que mal te conhece e age como se fosse a sua mais antiga e íntima amiga de infância. A criatura se porta com a desenvoltura de quem partilha do mesmo prato, cama e teto com você, mas no fundo é só alguém que, por pura falta de noção, invade o seu espaço e te coloca numa difícil situação em que, ou você coloca limites claros ou acaba virando cabide emocional.

Intimidade é consequência de uma afinidade solta, prazerosa e natural que brota espontaneamente do convívio, de vivências partilhadas e da sintonia que se constrói a partir da relação de confiança e reciprocidade.

Intimidade é um presente, precisa ser oferecida, não pode ser tomada. Às vezes acontece de nos tornarmos íntimos de alguém assim, com a facilidade de uma prosa leve e cheia de significados. Essas ligações são raras, não é possível prevê-las, planejá-las e muito menos forçá-las.

Forçar intimidade é invadir o espaço do outro buscando satisfazer uma necessidade particular e egoísta. Coagir o outro a uma proximidade artificial acaba provocando muitas vezes o efeito reverso da construção de uma relação verdadeira. Não há ninguém que sinta prazer em permanecer com outro alguém num convívio imposto e desprovido de naturalidade.

Seja em família, num relacionamento amoroso ou de amizade, há que se respeitar o direito do outro a ter seus territórios particulares e íntimos. É dificílimo lidar com alguém que não percebe esses limites por si mesmo e fica arranjando artimanhas e pretextos para nos enredar em suas próprias experiências, como se fôssemos um cenário ou um personagem fictício a serviço de suas vontades.

A beleza dos relacionamentos está na maneira como o convívio vai sendo desenhado, moldado e tecido por tantos pares de mãos e corações quantas forem as pessoas envolvidas. A proximidade é consequência de um bem querer que vai florindo aos poucos, que vai colorindo a vida com a deliciosa junção de diferenças, semelhanças, discordâncias e anuências.

Façamos por merecer o desejo daqueles que nos cercam em nos receber em seus espaços. Tenhamos a sensibilidade necessária para perceber o que é escassez de bom senso, excesso de exposição e invasão de privacidade. Sejamos generosos, sem deixarmos que a nossa vaidade use essa generosidade como disfarce para interferir nas escolhas alheias. Olhemos para a delicadeza do equilíbrio nas relações, com a devida reverência de alguém que entra na vida do outro como quem pisa em território sagrado, pois sagrado é observar que respeitar a intimidade é, antes de tudo, uma legítima forma de amor ao próximo.

Imagem de capa: Estrada Anton/shutterstock

Termine o relacionamento antes de agir como solteiro

Termine o relacionamento antes de agir como solteiro

Sempre que estivermos em um relacionamento amoroso, precisaremos nos lembrar de que tem alguém muito, mas muito perto de nós, ali juntinho, que resolveu plantar os sonhos em nossos jardins, ao nosso lado. Não estaremos mais sozinhos, tampouco poderemos agir somente pensando nós mesmos. Caso não estejamos prontos para as entregas e renúncias que o encontro amoroso traz, é melhor não nos envolvermos seriamente, ou acabaremos trazendo sofrimento injusto ao parceiro.

Existem pessoas que parecem se negar a assumir, com responsabilidade e entrega, um relacionamento amoroso e tudo o que ele traz. Estar junto requer maturidade, disposição, vontade e empatia, uma vez que não estaremos mais sozinhos. Embora tenhamos que manter nossa individualidade, sem nos anular como pessoa, estaremos de mãos dadas com alguém que torce e sente junto, o que nos impede de caminhar sem voltar os olhos para o outro.

Muitas vezes, surgem algumas dúvidas quanto à validade de amansarmos, de acalmamos os nossos passos, de renunciar às baladas, às paqueras, ao não ter que dar satisfações, como se batesse uma saudade do descompromisso, da não responsabilidade sobre ninguém além de nós mesmos. Porém, hesitarmos sobre o quanto esteja valendo a pena abrirmos mão das coisas por conta de um relacionamento não nos autoriza a experimentar a solteirice às escondidas.

O parceiro não tem a obrigação de ficar nos aguardando enquanto tiramos nossas dúvidas por aí, para então retornarmos a ele como se nada tivesse acontecido. É preciso ser sincero, dizer-lhe o que sentimos ou o que não mais sentimos, pois ele é parte interessada no assunto, é parte integrante, inclusive, e merece saber com o que e com quem está lidando. Trata-se de uma vida que está se dedicando a nós, ou seja, agirmos em desacordo com o que o outro requer, como se ele nem existisse, é injusto e cruel. Ninguém merece isso.

Ou estamos ou não estamos juntos. Ou agimos como alguém compromissado e nos dedicamos ao fortalecimento do amor compartilhado, ou rompemos de vez, para então agirmos como quisermos, sem dar satisfações, sem ter que prestar contas a ninguém. O outro precisa saber que não estamos mais interessados em manter um relacionamento sério e teremos que ser nós quem deixará isso claro para ele. Porque dói demais saber pelos outros que estamos sendo preteridos, ignorados ou traídos, pois investimos fundo no amor. Tratar um sentimento tão nobre e verdadeiro com mentira e desprezo é coisa de criança. Não brinque com sentimentos; vai jogar videogame, caso tenha estacionado na adolescência. Mas avisa.

Imagem de capa: Pressmaster/shutterstock

Precisamos conversar sobre esse negócio de “largar tudo e viajar o mundo”

Precisamos conversar sobre esse negócio de “largar tudo e viajar o mundo”

Há um certo fetichismo sobre esse negócio de largar tudo para viajar o mundo.

Perdi a conta de quantas matérias do tipo já li por aí.

Tem o cara que largou tudo para morar em algum lugar remoto — no Sudoeste Asiático, de preferência.

Tem a menina que largou tudo para viajar sozinha com uma mochila nas costas durante um período sabático — e certamente vai escrever um livro sobre isso.

Sempre há o relato de um casal que largou tudo para uma viagem de volta ao mundo — fazer isso numa Kombi é bônus.

E, de vez em quando, também surge um artigo sobre algum emprego dos sonhos — tipo largar tudo para ser o responsável por cuidar de alguma ilha paradisíaca no Oceano Pacífico.

Embora os personagens dos exemplos acima existam no mundo real — ainda que em escala reduzida — e suas histórias sejam inspiradoras, na minha opinião, esse tipo de matéria é um baita desserviço. Baita mesmo. Vou até escrever em negrito. Baita desserviço.

Sim. E o problema não são esses caras. Eles estão vivendo suas vidas da maneira que lhes convém. O problema está na maneira como essas matérias são produzidas e conduzidas por jornalistas e produtores de conteúdo parte ingênuos; parte buscadores de cliques. Esses textos e entrevistas, geralmente, só mostram a suposta vida perfeita do nômade digital — como essa galera é chamada.

E todo mundo quer uma vida perfeita, né? Então mais e mais matérias do tipo surgem todos os meses. E mais e mais cliques são feitos.

Mas a grande verdade é que você só “larga tudo” se recebe uma herança ou têm pais ricos pra te bancar.

Não existe largar tudo do dia pra noite pro cara que é CLT ou pra menina que está desempregada. Ou vice-versa. Se os dois formarem um casal, então, esquece.

Falo isso porque eu e minha esposa viramos em menos de 12 meses o típico casal da manchete “conheça o casal que largou tudo para viajar o mundo”.

Basta olhar nossos perfis no Instagram aqui e aqui.

O que vocês veem?

contioutra.com - Precisamos conversar sobre esse negócio de "largar tudo e viajar o mundo"
Foto: Este sou eu em Chiang Mai, na Tailândia, 10 meses após ~largar tudo pra viajar o mundo~, cuidando de elefantes que sofriam maus-tratos em zoológicos, circos e outros lugares do tipo feitos para turistas.

Os desavisados, provavelmente, enxergam um casal de jovens que largou tudo e está viajando o mundo e curtindo a vida por aí.

Pela descrição, quem não sonha com algo do tipo?

É a tal da vida perfeita materializada em fotos incríveis.

E a “culpa”, no final das contas, é nossa. Adoramos fotografia, nossas fotos são bem produzidas (a Laís é fotógrafa profissional) e, claro, como qualquer ser humano numa rede social, mostramos ~quase~ sempre as melhores passagens e paisagens dos nossos dias. Quem nunca, né? Faço aqui meu mea-culpa.

Mas é exatamente por isso que escrevo esse texto. Ou manifesto, como preferir.

Não quero que sejamos apenas mais uma manchete de casal que largou tudo para viajar o mundo. Não quero promover o desserviço. Não quero promover mais angústia para quem já está angustiado. Quero te falar a real sobre largar tudo. E a real vai muito além de bater foto fazendo carinho em elefante.

O que há por trás do famigerado ~largar tudo~

As histórias dos nômades digitais são sempre inspiradoras. Provocam aquele sonho adolescente adormecido em cada trabalhador insatisfeito que as lê.

Então, o tal trabalhador fecha a aba do seu navegador com a matéria sobre um dos exemplos que citei no início do texto e logo pensa: “Isso é impossível. Essas pessoas são ricas. Aí é fácil!”.

” Aí é fácil!”.
A resposta padrão para quem gostaria muito de viver tal experiência, mas tem medo de tomar uma atitude e brada clichês do tipo como autodefesa para suas próprias frustrações.

Esse é o senso comum agindo. E não culpo quem pensa assim. Eu também pensava. Até buscar as histórias reais por trás disso tudo e entender como funciona o famoso largar tudo.

Para começo de conversa, existe uma grande diferença entre sonho e objetivo.

Sonho é você querer algo e não agir para que isso aconteça. Sem ação, esse “algo” nunca deixará de ser um sonho.

Objetivo é você querer algo e traçar um plano para que isso aconteça. Com ação, esse “algo” tem mais chances de acontecer — sim, não existem garantias.

Seguindo o raciocínio, sim: existem os nômades digitais do “aí é fácil”. Porém, esses caras representam uma parcela mínima dos trabalhadores remotos ao redor do mundo. Mínima. Vai por mim.

Como já falei em outro texto, o nomadismo digital é, principalmente, uma questão de escolhas. É sobre como e com o quê gastar o seu salário.

Por muito tempo eu e minha esposa estivemos insatisfeitos em nossos antigos empregos. Muito tempo.

O que aprendemos é que, se você está insatisfeito com o seu trabalho, não adianta apenas ficar sonhando com uma realidade diferente. Você tem que se mexer.

Em 2015 decidimos: temos que mudar nossa realidade. Quando “batemos o pé”, o nomadismo digital deixou de ser um sonho e se tornou um objetivo. Nós nos mexemos.

Porém, não largamos tudo lá em 2015. Nós nos planejamos. Fizemos contas. Então fizemos mais contas. E mais contas. E nem tudo saiu como o planejado, então fizemos mais contas. E fomos guardando dinheiro.

No começo de 2017 tínhamos uma reserva financeira razoável. E só então “largamos tudo”. Só então saímos daqueles empregos onde estávamos insatisfeitos — percebem como o termo “largar tudo” não é apropriado?

O apropriado, neste caso, seria dizer que nós nos planejamos, agimos e só agora, dois anos depois, estamos colhendo os frutos. Mas e como fazer que alguém clique numa matéria com um título tão chato e clichê, não é mesmo?

“Casal faz planejamento, trabalha duro e dois anos depois colhe os frutos”.
Acho que não venderia, né?

De modo geral, as pessoas querem que as coisas caiam dos céus, querem ser abençoadas por Deus, mas não querem passar pelo ônus até que o bônus apareça.

Aliás, essa história não é exclusividade minha e da Laís.

É a história dos nômades digitais que não se enquadram no grupo do “aí é fácil”.

Pedindo as contas do jeito certo

Largar tudo sem planejamento é se atirar no mercado sem paraquedas. E cair de cabeça. Em cima de algo pontiagudo — e enferrujado, com grandes chances de você pegar tétano. Acho que fui claro nessa parte, né? Não faça isso. Não importa o quê diabos seu guru favorito diga.

As pessoas se sentem insatisfeitas em seus empregos por diversos motivos. Mas, no meio dessa galera existe um perfil interessante: o dos que sentem uma necessidade pulsante de liberdade e flexibilidade. Geralmente, são esses os caras que sonham com o nomadismo digital.

O problema é que muitos, na ânsia de largar tudo, saem de seus empregos sem o menor planejamento. Quando a grana acaba, logo precisam de um novo trabalho. Aceitam o primeiro que aparece e novamente se veem na mesma situação: estão insatisfeitos. É uma bola de neve.

Por isso, se você quer largar seu emprego, seja para se tornar um nômade digital ou não, peça as contas do jeito certo.

De novo: largar tudo, de uma hora para outra, só pra quem é rico.

O que fizemos e recomendo é:

Calcule quanto você precisa para viver bem por 1 ano.

Se você tem filhos, o que não é o nosso caso, essa conta deve levar muito mais fatores em conta. Mas aí é com você, não tenho experiência nesse sentido para te ajudar.

Pagar os boletos, arcar com sua moradia, se alimentar e ter algum lazer. Continue no seu emprego (e, por favor, trabalhe direito — você não quer ser demitido, né?) e, quando tiver o montante do seu cálculo, peça as contas. Largar tudo é bem mais entediante do que você imaginava, né?

Imprevistos acontecem, você pode pensar que é difícil juntar todo esse dinheiro, mas, vai por mim: escolhas.

A vida é feita de escolhas.

Larguei tudo para viajar o mundo, mas tenho um CEP para chamar de meu

Nessa de “escolhas”, alguns nômades são desapegados ao ponto de venderem todos os seus bens.

Eu os admiro por isso, mas não é o nosso caso.

Eu e a Laís não fomos tão radicais: escrevo esse texto diretamente de um café em Chiang Mai, na Tailândia, após viajarmos e trabalharmos no México e na Coreia do Sul também em 2017, mas ainda assim tenho um CEP para chamar de meu.

Nossa “base” é em Tubarão, no estado de Santa Catarina. É nessa região que estão nossos familiares, amigos e apartamento. Entre uma viagem e outra sempre podemos voltar para aquilo que chamamos de casa. Ah, e também não estamos o tempo todo viajando. Durante nosso primeiro ano como nômades digitais passamos mais tempo no Brasil do que no exterior — e em 2018 também será assim.

Digo isso porque muitos me perguntam sobre como lidamos com a distância dos entes queridos e tudo mais — já que, para quem vê de fora, largamos tudo.

Ter esse vínculo é importante. Os meios de comunicação instantânea também ajudam a não perdermos o contato com a galera no Brasil. Hoje é tudo tão digital que, no final das contas, é como se ainda estivéssemos em Tubarão. Nem dá tempo de sentir saudades.

O mito das “férias eternas”

Aqui saímos do “largar tudo” e vamos para o “viajar o mundo”.

Se você clicou nos links dos nossos perfis no Instagram percebeu a quantidade de fotos nossas viajando por aí. Voltando ao mea-culpa, nossas fotos dão a impressão de que não fazemos nada além de ir para a praia ou fazer carinho em elefantes. É assim com qualquer perfil de nômade digital que sigo. Sempre foi assim. E essa talvez seja a razão da quantidade de matérias sobre largar tudo para viajar o mundo.

Inconscientemente (ou não, dependendo do caso), vendemos esse lifestyle. A vida perfeita. As praias paradisíacas. As paisagens de tirar o fôlego. Os MacBooks. Os elefantes.

O problema é que essa impressão de férias eternas é completamente equivocada.

Quando buscamos o nomadismo digital como estilo de vida, nossa principal motivação foi essa sensação de liberdade. Queríamos ter flexibilidade em nossos horários e, principalmente, a oportunidade de viajar o mundo sem ter a necessidade de esperar o período de férias na firma — aliás, ter essa disponibilidade de viajar em qualquer época do ano nos possibilita aproveitarmos promoções incríveis de passagens aéreas.

Antes de sermos nômades digitais, somos trabalhadores remotos. Como tal, quando estamos no Brasil, por exemplo, trabalhamos no famoso home office.

A diferença é que quando estamos em Tubarão, assim que o expediente acaba, geralmente ficamos em nosso apartamento fazendo coisas banais do dia a dia. A Laís cozinha, eu lavo a louça. Ela vai pra academia, eu jogo videogame. Ambos limpam o apartamento. E, antes de dormir, geralmente, assistimos algo na Netflix. Essa é nossa vida quando estamos no Brasil. Nada glamurosa, né?

Isso acontece porque já conhecemos cada canto de Tubarão. Quando estamos fora do Brasil, assim que o expediente encerra, fazemos algum programa turístico. Daí as praias. Daí os elefantes.

Como temos flexibilidade total em nossos horários e trabalhamos com prazos, podemos nos organizar para visitarmos um santuário de elefantes durante o dia e trabalharmos a noite. Coisas do tipo.

O pessoal do Instagram não vê, mas entre cada foto postada tem muito trabalho duro por trás.

Peraí, então quer dizer que o nomadismo digital não é tão legal assim?

Uma coisa é uma coisa, outra coisa e outra coisa!

Para nós dois, Matheus e Laís, o nomadismo digital é legal demais! É tudo o que sempre sonhamos. Valeu a pena cada segundo de stress durante o período de planejamento e ação.

contioutra.com - Precisamos conversar sobre esse negócio de "largar tudo e viajar o mundo"
Arejando a cabeça durante o expediente numa “cafebreria” mexicana em setembro deste ano. Pequenas vantagens do nomadismo digital…

Meu ponto é que largar tudo, no sentido literal da expressão, como vem sendo amplamente sugerido por aí, não vai resolver a vida de ninguém.

Pelo contrário.

Largar tudo, sem planejamento, vai te trazer mais problemas, mais contas para pagar e mais insatisfação.

Pense nisso antes de agir por impulso após ler uma dessas matérias sobre alguém que largou tudo para viajar o mundo.

Publicado originalmente em matheusdesouza.com. Reproduzido com autorização.

Ocupação Nise da Silveira, você dentro da história da Saúde Mental brasileira

Ocupação Nise da Silveira, você dentro da história da Saúde Mental brasileira

Ousadia, inovação, profunda empatia e criatividade. Nise da Silveira foi uma mulher que, para muito além da psiquiatria tradicional, desbravou o inconsciente abraçando a expressão artística na década de 40.  Humanista, arretada cangaceira, sensível,  contestadora da ditadura, introdutora da teoria junguiana no Brasil. Admirável.

Para que possamos conhecê-la melhor e nos aproximarmos de seu trabalho é que, de 25 de novembro de 2017 a 28 de janeiro de 2017, abrirá suas portas a Ocupação Nise da Silveira.

“Com curadoria da equipe do Itaú Cultural – Núcleos de Comunicação e do Educativo –, ao lado do diretor do Museu de Imagens do Inconsciente (MII) Luís Carlos Mello, conhecido como Lula, a mostra apresenta obras do acervo histórico, que, entre outros assuntos, apresenta pinturas originais de seus clientes históricos, arte e psiquiatria, análise e clientes, somados à sua vasta correspondência, fotos pessoais, manuscritos – boa parte, documentos inéditos – e tudo o que coube no baú sem fundo da doutora.”

SERVIÇO

Ocupação Nise da Silveira

Local: Itaú Cultural

Endereço: Avenida Paulista, 149- São Paulo / SP. Piso térreo e 1.

Abertura dia 25 de novembro – sábado (aberta ao público), das 11h às 13h

Período de 25 de novembro a 28 de janeiro de 2018.

Visitação: Terças-feiras a sextas-feiras, das 9h às 20h, com permanência até as 20h30
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h

Entrada gratuita. Para mais detalhes e programação extra, acesse Itaú Cultural.

Classificação indicativa: Livre

Imagem e conteúdo divulgação.

Quanto mais amor a gente tem, mais medo a gente sente.

Quanto mais amor a gente tem, mais medo a gente sente.

Quem tem amor tem medo. Eu tenho. Todo mundo tem. É assim mesmo, sempre foi. Uns têm mais. Outros, menos. Outros tantos, quase nada. Tem ainda os que morrem de pavor mas vivem negando. De qualquer jeito, toda criatura que sente amor, toda alma que já amou alguém na vida também já sentiu medo.

Você pode discordar. Pode ser daquela gente especial, pessoa dotada do superpoder de não ter medo de nada. Eu acredito, invejo. Adoraria ser assim, mas eu não sou, não. Eu sofro de amores e pavores.

Tenho aqui um monte de amor. Está ali, ao lado daquela montanha de medo. Viu? Tenho mesmo. Adoraria, ah, como eu queria acreditar que “quem tem amor de verdade não tem o que temer”. Eu já acho que quanto mais amor a gente tem, mais a gente teme.

Cada amor que faz de nós sua casa traz consigo um medo à espreita no porão. É preciso cuidar dele também. Mandar comida por debaixo da porta, abrir a janela e deixar entrar o sol. Vez em quando até soltá-lo à noite, deixá-lo errar por aí na solidão do escuro, enquanto as crianças dormem. Ele vai. O medo vai, mas sempre volta.

Quem tem amor, tem medo. Tal qual os pais e as mães cheios de amor e de medo das bactérias e dos canalhas, das doenças e da maldade que ameaçam suas crianças, os amantes também têm medo.

É medo de ver o amor acabar como acabam a água, o leite, a comida da despensa. Medo de não ter para onde ir buscar mais. Medo da sombra que paira no olhar da pessoa amada depois do riso, medo de não ser aceito, medo das conversas pontuadas de silêncios tensos.

Também tem o medo da insegurança que vira e mexe nos acomete e, por ironia suprema, nos afasta de quem amamos pelo simples pavor de perder.

Há quem sinta medo de deixar o medo travar-lhe as pernas e endurecer-lhe o coração. Medo de se permitir paralisar. E tem aqueles que sentem medo de não perceber o óbvio: aos que amam, o medo é um aviso sublime. É o alerta divino para cuidar do amor. É a consciência de que o ser amado pode partir, de que o amor periga fraquejar ninguém sabe quando. Então é melhor amá-lo agora e amanhã e depois e depois e depois. Só assim o medo esmorece. E se esconde no escuro solitário do porão.

Amor é sentimento irmão do medo. Quem tem um, tem o outro. Pode ser pouco, pode ser muito. Mas há sempre um medo repousando no coração dos amantes. Ou para que serviria a tal coragem de quem ama se não há medo nenhum a enfrentar?

Então, que o amor nos venha cheio de medos inevitáveis. Que venha! É melhor viver com amor e sentir medo que morrer de medo e viver sem amor.

Imagem de capa:Photographee.eu/shutterstock

O que sobra do amor

O que sobra do amor

O que sobra do amor que tivemos no verão? Daquele amor que me fazia dormir de um jeito sossegado. Daquele amor que tirava o meu sono e fazia da insônia a minha melhor companhia. Daquele amor cheio de complexidades e contradições. Daquele amor para o qual não existe correspondente no vernáculo. O que sobra do amor?

Sobram as lembranças das brigas que travávamos como dois inimigos de infância? Sobram as marcas de palavras indigestas marcadas com a espada da fúria? Sobram as irritações causadas por discussões sem pé, nem cabeça? Sobram as tristezas das palavras não ditas e dos abraços não recebidos? O que sobra do amor?

Sobra a ligação não atendida ou a mensagem não respondida? Sobra a raiva pelo tempo perdido? Sobram as lágrimas derramadas por alguém que não merecia uma lágrima sequer? Sobram as decepções causadas pelas quebras de expectativa? Sobra o silêncio dos períodos das brigas? O que sobra do amor?

Sobra a camisa azul que ganhei de presente de aniversário? Sobra uma caixa branca com bolinhas pretas, que um dia tiveram muitos chocolates? Sobra uma carta com palavras que não significam mais nada? Sobra o gosto do brigadeiro que você fazia? O que sobra do amor?

Sobram as gargalhadas que dávamos contando piadas ruins? Sobram os amassos que dávamos no sofá? Sobram os abraços apertados que acalmavam a alma? Sobram os versos de amor que chegavam por mensagem no meio da noite? Sobram as ligações das madrugadas quando um não conseguia dormir e queria ouvir a voz do outro para sentir que a vida ainda fazia sentido? O que sobra do amor?

Sobra a saudade do cheiro que tínhamos juntos? Sobra a cama arrumada do jeito que você gostava? Sobra o cheiro do café que tomávamos na cozinha? Sobra a camisa que você gostava de usar e que a deixava de um jeito engraçado e sexy? Sobra a dádiva de ter aprendido que as coisas mais importantes da vida são gratuitas? O que sobra do amor?

Sobra um papel amassado onde escreveu o nome que daríamos ao nosso filho? Sobra o jeito peculiar com que olho para as horas? Sobra a imagem do seu sorriso que lembro ,quando fecho os olhos? Sobra a música que sempre me faz lembrar de você? Sobram os planos que nunca acontecerão? O que sobra do amor?

O que sobra de um amor puro e sincero? O que sobra de um amor que enternecia os lugares mais longínquos do meu pensamento? O que sobra de um amor que permitia olhar a vida por cima das nuvens? O que sobra de um amor que teve a lua como testemunha? O que sobra do amor?

Sobram as dores, as tristezas, as decepções? Sobram as palavras que jamais deveriam ser ditas, mas foram? Sobra a lacuna de um elo perdido? Sobram as alegrias, as confidências, as loucuras? Sobram os sorrisos compartilhados, os beijos quentes, os abraços serenos? Sobra alguém que logo será esquecido? Sobra alguém inesquecível? Sobra o arrependimento ou a maravilha de saber o que é o amor de verdade? O que sobra do amor?

Imagem de capa: Ditty_about_summer/shutterstock

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