Ninguém é feliz o tempo todo. E você não precisa ficar triste por isso.

Ninguém é feliz o tempo todo. E você não precisa ficar triste por isso.

Demora, mas vem. Depois do encontro, da festa, do êxtase, das delícias em fila, dos sentimentos em fartura, da esperança vigorosa, da promessa de felicidade, do amor em seus indícios, da saudade e seus inícios, depois de tudo isso ela vem. Uma fria e descabida tristeza sempre vem.

No fim de tanta alegria perfeita dá as caras uma dura, cruel e implacável sensação de desalento. Depois das emoções superlativas vem um quase nada, um vazio dolorido, uma luz amarela, abatida, luzindo acanhada pela fresta da porta, como quem espia um estranho, o quarto do homem sozinho que tropeçou em seu amor ensolarado e morre de medo do escuro.

É que o amor quando vem assim, em avalanche, desabando alegrias dormidas, acordando tanto sonho deixado, desacostuma a gente de sofrer. Aí essa vida tão, mas tão sofrida insiste, não desiste, e no meio de tanta ternura vem um tropeço, um acidente, um desvio involuntário. E toda a nossa imperfeição despenca das madeiras escuras do teto branco e nos machuca os olhos abertos que miram a vida. A felicidade farta de caixa d´água cheia até a boca se enche de folhas tristes, mortas. Um pesar de torneira muda se instala e nos faz infelizes.

Mas ali, bem lá no fundo de nossa noite inicial, na alegria mansa da lembrança do primeiro encontro, repousa cheia de saúde a nossa ventura. Porque a felicidade, ah… a felicidade há mesmo de ser temperada com tristeza e saudade e angústia. A leveza há de vir depois do pesar. E quem há de se saber feliz sem ter caminhado na desdita?

Fortalecer o amor é tarefa que se cumpre olhando a amargura de perto. Os problemas e as crises, as dúvidas e as inseguranças, o lamento e a dor, essas coisas têm de acontecer para lavar de verdade os olhos de cada amante. Tudo muito perfeito não existe. Não é humano. Não é, não.

Quando a perfeição é muita, os amantes desconfiam. É preciso um olhar de repulsa, uma mão que recusa o toque da outra, uma autossabotagem aqui, um ouvido mouco ali, uma explosão de raiva acolá. E uma dúvida, uma dolorosa insegurança abrindo as asas negras sobre o solo bom e verde das paixões em sua manhã. Sim, é preciso tudo isso para consolidar o amor.

De vez em quando me acontece de ser triste. Vai ser assim para sempre. É da vida. Depois passa. A angústia e a tristeza visitarão nossa alegria de quando em vez, como velhos vizinhos indesejados cobiçando nossa louça e nossa mobília e nossos afetos. Então seremos como dois soldados em guerra contra o que nos ameace, protegendo as costas um do outro.

Seguiremos assim até voltarmos a ser nada senão você e eu em nosso ontem, nosso hoje e nosso depois de amanhã. Perdidos em nosso caminho certo, seguindo honestos nosso rumo escolhido, cuidando de nós, tratando dos nossos. Vivendo o amor em sua longa e linda e eterna imperfeição.

Acontece. Essa coisa de não ter felicidade o tempo todo se passa com todo mundo. Vira e mexe passa por aqui, entre nós. E quando nos faz tristes, nos mostra o quanto podemos ser muito, mas muito mais felizes.

Imagem de capa: Marcos Mesa Sam Wordley/shutterstock

Agradeço pelas dores que tive este ano

Agradeço pelas dores que tive este ano

Sim, agradeço pelo ano que tive. Os machucados, as alegrias, os momentos de desespero e os dias de calmaria. Se eu não tivesse passado por tudo isso, acredito que talvez não fosse quem você vê agora. Ter gratidão pelas coisas boas é simples. Complicado é agradecer por todas as cicatrizes que marcaram a minha paz este ano.

Foram muitas despedidas e muitos recomeços. Acho que faz parte de qualquer coração viver esse ciclo de transformações. É desse jeito que a gente aprende a cuidar e a valorizar instantes. Carregar o peso do mundo não resolve nada. É desleal e absurdo transbordar onde não existe uma real importância para nós. Foi sentindo assim que resolvi me guardar um pouco mais. Foi com esse aprendizado que encontrei sossego dentro da minha vida. Não posso dar conta daquilo que não me estimula e troca com os meus sorrisos.

Demorei, mas percebi ainda em tempo do ano terminar que, sem uma felicidade cultivada a cada gesto, reciprocidade alguma é possível. E não falo só do recíproco nos relacionamentos, mas também na forma como a vida irá ou não te aconselhar. Precisei reparar nos sinais para atingir essa espécie de tranquilidade e maturidade dos meus inteiros.

Não nego os erros que cometi. Pedi desculpas, encarei lágrimas, atravessei perdas. Foi um ano de grande desgaste emocional, assumo. Mas é aí que está a lição, a vida continua. Eu não queria o luxo de não me importar, ainda que quisesse que as dores não deixassem marcas. Mas todas deixam. Hoje, sou mais forte.

Para o ano que vem, que venham novos inícios. Que venham novas oportunidades de sentimentos e pessoas para o meu convívio. De expectativas frustradas, não sofro mais. Tive o ano inteiro para entender quem aproxima e quem afasta. Só desperto afetos para quem cumpre a mais importante das entregas, a cumplicidade.

Sim, agradeço pelas dores que tive este ano. Elas me ensinaram – algumas vezes em duras quedas, que se eu não tivesse passado por tudo isso, o meu coração não encontraria a serenidade necessária para enxergar o meu melhor. Um muito obrigado ao ano do autoconhecimento.

Imagem de capa: Pablo Rogat, Shutterstock

Um dia você vai acordar e verá que seus filhos cresceram e que seu mundo mudou.

Um dia você vai acordar e verá que seus filhos cresceram e que seu mundo mudou.

Aqueles que tiveram o privilégio de se tornarem pai ou mãe, com certeza entenderão o que pretendo dizer através deste texto. Talvez muitos não percebam que, com o passar do tempo, os filhos crescem e se libertam. E essa liberdade abrange vários segmentos, tais como financeiro, emocional e inclusive para se tornarem pais também. Em muitos casos, o instinto de proteção maternal/fraternal é tão explícito, que não atentamos para esse processo, o que faz, na maioria das vezes, com que haja um enorme prejuízo na vida pessoal ou profissional dos filhos. Em muitos casos, essa interferência é tão prejudicial ao seu desenvolvimento natural, que a dependência se torna uma fraqueza na vida individual de cada um. Todos nós sabemos que não se pode abdicar da posição de mãe ou pai, porque esse posto é para sempre. É importante ressaltar que a presença, principalmente da mãe, é necessária em qualquer fase da vida, prova disso é que, nos momentos de dificuldades, primeiramente a gente se lembra da mãe, afinal não existe outro ser terreno disposto a amar tanto quanto uma mãe ama um filho. Há, entretanto limites a serem observados quando se trata de proteção. Chega um dia em que o filho quer criar asas e alçar voos por conta própria, uma vez que estão “criados” e precisam de liberdade para viver sua própria vida afetiva ou profissional – Certa vez, fui advertido por chamar de menino, meu filho de 27 anos, que estava na segunda faculdade – Pois é, as coisas mudam muito. Com a independência, muitas vezes, os filhos querem nos expulsar de suas vidas, porque têm novas perspectivas e sempre têm diante de si, novos horizontes. Querem formar novas famílias, o que é salutar, pois faz parte da ordem natural da vida.

A verdade é que os pais temerosos ainda tentam segurá-los, salvo alguns casos, porque ao se “jogarem no mundo”, segundo esses pais protetores, os filhos não tem nenhuma segurança. Mas de que segurança estariam falando? Ninguém começa a própria vida sem viver algo novo, sem arriscar, sem acertar e errar, sem se frustrar e tentar de novo até acertar, sem passar por dificuldades, e por fim aprender como é verdadeiramente a vida. Não pode haver amadurecimento sem passarem por certas experiências, concordam?

Enquanto os filhos observam alguns critérios e analisam possibilidades, eles crescem e evoluem, isso é visível para o mundo inteiro, exceto para os pais. Algumas mães, por outro lado, não veem o tempo passar e continuam se desdobrando para cuidarem todos os dias de “marmanjos” que elas julgam nunca crescerem. Embora alguns ainda não decidiram se querem crescer. Mas chega um dia, no qual cada filho tem que se tornar autônomo, dono do próprio nariz, mostrar-se uma pessoa melhor porque teve tempo com os pais para que tenha formado um bom vínculo com a família, caso contrário, não há como voltar atrás, o tempo passou e tudo se perdeu. E como dizem: “Um dia seus filhos vão dormir pequenos e acordarão grandes.”.

Para finalizar, O ideal é entender que, para os filhos, sentimentos como amor e proteção têm um significado diferente do que para os pais. Com certeza as decepções e os medos serão como um convite a ponderar que o amor é sempre o melhor caminho. E quem ama, deixa livre.

É inútil esperar que os filhos, ou aqueles que estão sob nossa proteção, sigam a mesma trajetória de evolução que seguimos. Esse fato serve, até certo ponto, para mostrar a enorme responsabilidade que é ser pai ou mãe. (Mahatma Gandhi)

Somos apenas doadores para essas criaturinhas chamadas filhos. Doamo-nos por inteiros e recebemos as promessas de estima e amor. Muitas vezes, com o coração aflito, nos induzimos à culpa por não termos feito tudo aquilo que julgamos possível, mas nos permitimos sofrer e mergulhar nas lembranças quando eles se vão. Isso é o que nos diferencia das pessoas comuns. Somos simplesmente pais que convivem amigavelmente com a impossibilidade de crescimento dos nossos filhos. Porque filhos serão sempre, aos olhos dos pais, bebês gigantes. Mas infelizmente os filhos crescem, e o tempo não volta. O amor por eles, entretato, permanece eternamente.

Imagem de capa: Monkey Business Images/shutterstock

Eu posso recomeçar? 

Eu posso recomeçar? 

Essa é pergunta a se fazer. Porém muitas coisas não permitem mais voltar atrás. Um dos maiores desgostos que uma pessoa pode ter é a impossibilidade de voltar no tempo, quando se quer voltar. Retornar momentos, recuar em algumas decisões. Fazer diferente e retroceder sobre coisas que consentimos ou não agimos. Algumas vezes dizer. Outras vezes, calar. Agora já era, o tempo passou, a chance se foi, não dá mais.

O arrependimento faz pensar sobre o que deve ser feito agora, o que poderia ter sido feito antes, o que ainda podemos fazer e o que realmente queremos fazer. Reflexão sobre possibilidades. Pé no chão sobre vontades. O que sobressai? Temos um baú cheio de sonhos não realizados dentro do peito. Temos uma caixa cheia de remorsos guardados na memória. Mas e daí? Carregar esse peso por toda vida? Pra quê? As horas perdidas não se recuperam mais, mas o mesmo relógio que passa o tempo, diz que outras horas ainda virão. Tempo de consertar erros cometidos. Então corrija-os!

Às vezes a vida nos testa, às vezes parece que não somos bons o suficiente. Tem dias que tudo parece ser tão difícil. Em diversas ocasiões estamos perdidos, acreditando em versões irreais que criamos de nós mesmos. Perdidos em ilusões reais de quem pensamos ser. Aprenda isso: Prefira sua versão real. Sem vestir sonhos que não lhe cabem mais. Saiba onde está, saiba o quê quer, saiba aonde quer chegar. Olhe o horizonte, é lá! Siga em frente, sem perguntar o porquê.

O que vale a pena é aproveitar a imensidão e a profundidade do mar para lavar o corpo e não para afogar a alma. Aproveite toda essa vastidão de respostas que a vida te oferta. A gente pensa demais nas preocupações, quando deveria viver mais sem as tê-las, convivendo com esperança, paz e amor. Descubra-se, é lindo quando acontece! Ouça a voz de seu coração, é ela quem te guiará, é ela quem te dirá onde está sua felicidade. Você pode recomeçar sempre que quiser. Não escute o mundo, pois são poucos os que querem te aplaudir. Não de ouvidos ao medo e incertezas, só querem te fazer desistir. Ouça você mesma, ouça quem te ama com certeza. Ouça seu profundo silêncio. Nele estão todas as chaves e respostas, todas janelas e portas, todas as direções e caminhos. Se você aprender a ouvir com sabedoria, descobrirá em teu silêncio a voz mais bela que pode vir de ti, descobrirá dentro de si mesmo o melhor conselho que poderá ouvir. Descobrirá que recomeçar é sempre preciso.

Imagem de capa:Lolostock/shutterstock

Pode ser que seu passado não te condene, talvez apenas mostre que você evoluiu.

Pode ser que seu passado não te condene, talvez apenas mostre que você evoluiu.

Às vezes, nos submetemos a um autoflagelo por causa do nosso passado…

Existem muitas razões pelas quais as pessoas não permitem que o seu passado seja anulado. Uma delas é a acusação, vinda principalmente daqueles que deveriam nos dar carinho e apoio. Sim… Porque quem mais nos afronta quanto ao nosso passado são aqueles que estão ao nosso redor. Então, não deixe que seu passado seja um obstáculo para que pessoas negativas tirem aquilo que pode ser para você um futuro promissor. Não permita que seus acusadores sejam um referencial negativo na sua vida. O seu futuro não depende do seu passado, e sim do seu presente, que poderá ser uma linda história de superação, e obviamente com uma vida brilhante. Não atente para o que eles dizem ou pensam a seu respeito.

Devemos entender que os erros que comentemos no passado, só deveriam servir como aprendizado para que nos tornássemos pessoas melhores, não como pedra de tropeço que nos impeça de seguir em frente. Porque é importante que as pessoas saibam que houve arrependimento e que o que queremos agora, é simplesmente seguir em frente. Então acredite, os seus erros são meramente ilustração de um passado que não pode influenciar nessa pessoa maravilhosa e cheia de vida que você é hoje. Alguém que tem uma expectativa diferenciada desse mundo onde impera o egoísmo.

Muitas pessoas podem viver o tempo todo “jogando na sua cara” aquilo que faz relação à pessoa que um dia foi e a quem você é agora. E daí que teve um passado que tenha te envergonhado que não tenha sido um “mar de rosas”? O importante é que você perceba que esse passado, hoje te serviu para um crescimento, uma evolução. É claro que não gostaria de vivê-lo novamente, apenas se lembre de que tudo na vida tem um preço. E que no atual contexto, o pagamento já foi efetuado. Você já teve o prejuízo que os seus erros te proporcionaram, agora é tempo de viver em novidade de vida. Então não há motivos para que te condenem por aquilo que um dia fez, ou pela pessoa que era.

Enfim, seu passado não te condena, aprenda e aceite que ele apenas serve para te mostrar que você é uma nova pessoa. Então tudo será mudado a partir do momento que der o próximo passo, um passo para um futuro extenso. E saiba que não será fácil, porque sempre haverá alguém disposto a apontar-lhe do dedo, mesmo que seja sem palavras, apenas com olhares.

Reserve o seu direito de modificar o seu presente e se adaptar a uma nova vida, assim poderá anunciar, numa nova página do livro da sua vida, uma nova história, colocando em prática aquilo que existe dentro de você – o amor – como um poder que muda o mundo.
Viva então, de modo que venha a mostrar uma nova condição para vencer as adversidades, dificuldades e desafios. Simplesmente porque o que passou ficou para trás. Houve uma mudança de atitude, não pode mais haver por essa razão, tristeza e abatimento na sua alma, porque o seu passado não mais te condena e você escolheu viver em novidade de vida.

Imagem de capa: Romanets/shutterstock

“A chegada”- entenda o filme

“A chegada”- entenda o filme

O filme A Chegada (2016), trata da invasão de alienígenas na Terra e da tentativa de descoberta de uma forma de comunicação com eles.

Irei tratar nesse texto a simbologia presente na comunicação e no simbolismo do inconsciente representado pelas naves alienígenas.

O filme inicia com a chegada de 12 naves extraterrestres em 12 pontos do planeta. Não sei dizer se foi a intenção do roteiro, mas faço uma alusão à mandala astrológica, com os 12 signos e as 12 casas.

A mandala astrológica é um símbolo da totalidade que une os 4 elementos que constituem a formação do planeta e do ser humano, com 3 modalidades, ou seja, com 3 formas da energia psíquica (ou libido) se orientar.

Sobre as naves alienígenas, Carl Jung (1991), aponta que é um assunto tão problemático que não pôde ser definido em sentido algum com a desejável clareza, embora nesse ínterim se tenha acumulado um vasto arsenal de experiência. Por isso levantou que se trata, devido a sua complexidade, de um acontecimento psíquico também.

Para Jung (1991), o formato circular das naves alienígenas representam a totalidade. Uma vez que a imagem circular é um símbolo da alma e imagem de Deus:

“Eles são manifestações de impressionante totalidade, cuja simples “circularidade” representa propriamente aquele arquétipo que, conforme a experiência, desempenha o papel principal na Unificação de opostos, aparentemente incompatíveis, e que por esse mesmo motivo corresponde, da melhor forma, a uma compensação da dissociação mental da nossa época.”

Ele ordena também, situações caóticas e coloca o indivíduo novamente na trilha do seu processo de individuação, proporcionando a personalidade uma totalidade e unidade maiores.

Se analisarmos o filme no sentido coletivo, a simbólica doa invasão alienígena representa uma mudança e um despertar para questões da alma e do inconsciente.

No nível pessoal, a personagem da linguista, a Dra. Louise Banks, passa por uma transformação profunda e o contato com os extraterrestres a faz compreender o significado do inconsciente.

Ela não somente desvenda os sinais enviados pelos extraterrestres, ela compreende o significado mais profundo de sua vida e o fenômeno da precognição.

O inconsciente coletivo para Jung, é uma camada inata e herdada pela humanidade, portanto é universal. Lá estão os modos de comportamento que são iguais em toda parte e para qualquer indivíduo. É a natureza suprapessoal que existe em todo indivíduo.

Jung (2008) aponta a natureza peculiar do inconsciente coletivo, pois há nele uma qualidade não-espacial e atemporal:

“A prova empírica deste fato encontra-se nos chamados fenômenos telepáticos que, no entanto, ainda são negados por um ceticismo exagerado, mas que na realidade ocorrem com muito mais frequência do que em geral se acredita.”

A linguagem simbólica dos extraterrestres também representa a natureza do inconsciente, que se comunica conosco por meio de símbolos. Basta observar os produtos do inconsciente como os sonhos, os mitos, os contos de fadas, a alquimia. Todos eles possuem uma linguagem que não é cartesiana, dirigida e ordenada, mas simbólica e com uma força numinosa tremenda.

O ato e a dificuldade em tentar decifrar a linguagem dos extraterrestres, mostra a dificuldade que o homem moderno, acostumado com a linguagem dirigida da consciência, tem em relação ao que é tido como irracional.

A linguagem simbólica é a base alicerce de nossa civilização e o berço de nova vida. É do símbolo e do ritualístico que surge a nova ciência. A química clássica se originou da alquimia, bem como a astronomia se originou da astrologia.

A personagem principal compreende a mensagem, que transmite o sentido do irracional. Aquilo que Jung denomina Sincronicidade, ou seja, a simultaneidade de dois eventos ocorrendo, tanto no inconsciente quanto na realidade é possível de ser compreendido e aceito, e ocorre no filme.

A mensagem representa a essência do inconsciente. Estamos todos conectados pelo inconsciente coletivo e esse não tem tempo e espaço. Os fenômenos sincronísticos, os sonhos premonitórios, a intuição, também fazem parte da dinâmica psíquica humana.

A representação simbólica do Self e da totalidade pelos OVNIS, trazem para a humanidade a união dos opostos, a coniunctio superior (Edinger, 2006). Que é a meta do processo de individuação, a união aquilo que a principio parece impossível de ser integrado.

Vemos no filme, não somente a união do feminino e masculino, mas também do consciente e do inconsciente, da razão e do irracional.

A heroína compreende isso e passa a mensagem a humanidade. Porém, há mais um ponto que quero salientar.

Ela, por meio da interpretação da mensagem simbólica dos extraterrestres – uma analogia ao processo da análise junguiana, que busca a interpretação das mensagens do inconsciente – conhece o seu destino, e sabe que, mesmo com o sofrimento inerente ao processo, deve aceita-lo e o aceita.

Conhecer nosso destino e aceita-lo, vive-lo da forma mais plena possível, mesmo sabendo que o sofrimento estará lá nos esperando, não tira a beleza do que a vida pode nos proporcionar. Aceitar a alegria, o amor e a tristeza é o maior ato de heroísmo que podemos ter.

A união dos opostos consiste em aceitarmos luz e sombra, alegria e dor. Isso é dizer sim a vida!

 

Referências Bibliográficas:

EDINGER, E.F. Anatomia da psique: O simbolismo alquímico na psicoterapia. São Paulo, Cultrix: 2006.

JUNG, C.G. A Natureza da Psique. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

JUNG, C.G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

JUNG, C.G. Um mito moderno sobre as coisas vistas no céu. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991.

Imagem de capa: Reprodução

O mundo é redondo, mas há idiotas por todos os cantos

O mundo é redondo, mas há idiotas por todos os cantos

Ultimamente, existem variadas formas de interações entre as pessoas, haja vista as redes sociais virtuais, pelas quais são expressas opiniões sobre os mais variados assuntos de forma explícita. Além dos amigos, colegas e conhecidos da vida, agregamos ao nosso círculo de relacionamentos os amigos virtuais, sendo que muitos deles, inclusive, nem conhecemos pessoalmente. E, assim, além de pessoas desagradáveis no dia-a-dia, também as encontramos pela internet.

É incrível, mas certos indivíduos conseguem aborrecer os outros onde e de onde quer que estejam, como se o prazer deles fosse contrariar, discordar, incomodar. Muitas vezes, opinam sem ser convidados, seja na roda de amigos, seja nas postagens virtuais. Possuem um dom interminável para falar asneiras, para tirar sarro de uma forma deseducada, para dar o contra e tomar posições polêmicas.

São os “problematizadores chiques”, que veem em tudo algo com o que gerar algum tipo de polêmica, enxergando conspirações e maquinações em situações das mais banais e triviais possíveis. Muitos deles perdem a compostura, esquecendo-se de mínimas regras de convivência, falando o que não deveriam para quem não merece, desmerecendo grupos sociais, conquistas de direitos, lutas políticas. Parece que não refletem sobre o que dizem, de tão absurdas que são muitas de suas colocações.

Pessoas desagradáveis, que incomodam e ferem com palavras e atitudes, estão por aí, aos montes, azucrinando até aqueles que nem conhecem direito. Porque tem gente que deve se sentir tão mal, tão pequena e desprezível, que passa a tentar diminuir os outros, na tentativa de se sentir menos pior. Gente amarga, infeliz, que não sabe admirar, só sabe invejar. Por isso é que não saem do lugar e, pior, não aceitam que ninguém saia também.

Por mais que pareça impossível, o que nos resguardará de gastarmos energia com quem não merece sempre será ignorar, fazer-se de desentendido, de surdo mesmo, quando nos depararmos com essas pessoas. Exercitar a nossa capacidade de abstrair e fingir demência nos distanciará de embates infrutíferos com quem nunca será capaz de ouvir ninguém. Ou isso, ou esgotamos todas as nossas forças, que devem ser usadas junto a quem nos ama, gente sincera, verdadeira e agradável. É assim que a gente sobrevive e vive melhor.

Imagem de capa: ArtFamily/shutterstock

Sua alma deve estar rouca de tanto gritar por algo que a faça sorrir.

Sua alma deve estar rouca de tanto gritar por algo que  a faça sorrir.

Bem que você poderia conceder habeas corpus a esse sentimento que está aí dentro de você. Preso, trancafiado injustamente. Já se deu conta do quão covarde você está sendo? Aliás, isso não é covardia, é crueldade. Aí, nessa alma, existe uma vontade louca de ser feliz e de tentar um novo caminho. Mas você a ignora. Essa voz grita todos os dias, ela precisa ser ouvida. Ela não sossega.

E você, o que tem feito? Tem ouvido outras vozes, justamente aquelas que deveriam ser ignoradas. Você optou por ouvir tudo aquilo que não te acrescenta. Tem dialogado, com frequência, com esse sentimento impostor que você resolveu dar abrigo, indevidamente. Sentimento que não para de falar que é tarde demais para você ser feliz. Sentimento destrutivo e sem compaixão que não quer permitir o seu recomeço.

Bem que você poderia silenciar toda essa barulheira que nada te acrescenta e que só te fragmenta. Somente ignorando esses impostores, você conseguirá ouvir as vozes que farão a diferença na sua vida. Por que tanto medo de tentar algo novo? Por que tanta resistência em acreditar que você tem muito chão pela frente para viver com plenitude?

Será que você está usando a desculpa da idade? Essa voz, dentro de você, está tentando te convencer que a sua idade cronológica não interfere em nada, pelo contrário, ela só agrega. Você tem uma bagagem riquíssima que construiu ao longo desses anos. Ainda que tenha tido vivências dolorosas, elas podem ser ressignificadas.

Quem sabe, voltar a estudar ou desenvolver esse dom que está no seu DNA? Que tal investir num hobby que inunde o seu organismo de endorfina? Escrever, desenhar, dançar, costurar, cozinhar…pintar e bordar! Viajar sozinho(a), com um(a) amigo(a) ou com um grupo desconhecido, vale tudo! Só não vale viver escondido(a) dentro de si mesmo(a). Há tanta vida lá fora, como diz o Lulu Santos. Vá, dê o primeiro passo.

Do que você tem medo? Das possíveis surpresas pelo caminho? De fato, você correria sérios riscos, caso resolvesse ouvir essa voz que te implora para sair dessa caverna existencial: Risco de fazer novos amigos. Risco de entrar em contato com o potencial que tem e que estava adormecido. Risco de rir á toa. Risco de flutuar de gratidão ao se deparar com a consciência de que pode fazer a diferença na vida de muitas pessoas praticando uma habilidade que você tem. Risco de despertar paixões. Risco de se entregar à uma paixão. Risco de viver de verdade. Risco de renascer.

Imagem de capa: Kichigin/shutterstock

Existe o amor, a insistência e o cansaço

Existe o amor, a insistência e o cansaço

De repente, o encanto acabou, a paixão apagou e as juras de amor eterno deram lugar ao silêncio. Está claro que não há como continuar a relação, mas você fecha os olhos para o óbvio e insiste em um relacionamento predestinado ao fim.

Em um relacionamento sadio, tudo é feito em função do sentimento. Duas pessoas se tornam uma : os problemas são dos dois, as alegrias compartilhadas e as dificuldades superadas. Acontece, que nem todo amor é para sempre, nem todo relacionamento dura anos e nem todo sentimento traz paz. E, por mais que você insista na relação, o amor já foi embora há tempos.

É triste, mas é verdade: o amor às vezes acaba e, nem sempre, tem motivos claros. Da noite para o dia, e pelos mais diversos motivos, o amor desaparece. Rotina, mesmice, traição, ofensas… o motivo pouco importa! O problema está em superar um amor desgastado e acreditar ser merecedor de outro.

Amor nunca foi garantia de final feliz. Empatia, confiança, compreensão, respeito, diálogo, e inúmeras outras mantenedoras da convivência, são pilares tão importantes quanto o amor. Essa história de “amar até embaixo da ponte” é conversa de botequim.

Khalil Gibran, célebre ensaísta, poeta, conferencista e pintor libanês afirmava que “É errado pensar que o amor vem do companheirismo de longo tempo ou do cortejo perseverante. O amor é filho da afinidade espiritual e a menos que esta afinidade seja criada em um instante, ela não será criada em anos, ou mesmo em gerações”.

Às vezes, há amor, mas não há coragem para assumir uma relação. Há saudade, mas não há disposição para tomar atitudes. Há planos, mas não há formas de realizá-los. E, nessas omissões dos próprios sentimentos, o amor vai deixando de ser amor.

Insistir em relacionamentos fracassados, cansa. Cansa ter explicação para tudo, perdoar toda traição, arrumar desculpas para as ofensas. Cansa fingir ser feliz e viver de aparências.

Pouco importa amar muito e não aceitar as diferenças rotineiras. Querer a presença, mas não aceitar a convivência a dois. Desejar formar uma família e não ter coragem para isso.

Desculpe a sinceridade: mas amor precisa de muito mais que sentimento para acontecer.

Deixe ir, aceite o fim e faça as pazes com o amor próprio. Às vezes, o “felizes para sempre” significa separados.

Imagem de capa: Natalia Lebedinskaia/shutterstock

“Só existe um tipo de gente: gente.”

“Só existe um tipo de gente: gente.”

O trecho foi retirado de um dos livros mais famosos da Literatura Mundial: “O sol é para todos”. Com uma narração peculiar, o Librarian Journal dos EUA deu sua maior honraria da história à obra, elegendo-a o melhor romance do século XX. Em 2006, uma pesquisa na Inglaterra colocou “O sol é para todos” no primeiro lugar da lista de livros mais importantes e o motivo é um só: o livro trata de assuntos polêmicos e escancara as verdades que a sociedade tenta esconder.

Depois de “O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, “O sol é para todos” foi um dos livros mais impactantes que li. Isso porque, além de se tratar de um clássico contemporâneo, o livro possui profundidade e sutileza peculiares.

De forma bem resumida o livro trata de temas fortes como racismo, violência e injustiça. É a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930 e enfrenta represálias da comunidade racista.

A história é narrada em primeira pessoa, a partir dos olhos inocentes da personagem Scout (também chamada por Jean Louise), uma menina que viveu em Maycomb, no Alabama, em uma época em que o preconceito reinava entre as pessoas.

Tendo sido criada por seu pai, a menina aprende a ser honesta e forte, mesmo diante de uma sociedade racista e violenta. Sem entender a diferença, da época, entre negros e brancos e a as conseqüências do racismo, Scout tenta levar os ensinamentos pregados pelo pai para sua vida: “a única coisa que não deve se curvar ao julgamento da maioria é a consciência de uma pessoa”.

Dividido em duas partes, a obra relata minuciosamente algumas situações de preconceito, violência e injustiça. Na primeira parte, temos a visão da sociedade pelos olhos doces de Scout que, detalhista, descreve as personagens da sua vizinhança com riquezas de detalhes (essa parte do livro é de suma importância para o desenvolvimento da história).

Já na segunda parte do livro, os preconceitos, a violência e as injustiças enfrentados pelas pessoas ficam evidentes.

A obra toda é marcada por ensinamentos. Na verdade, são tapas na cara de uma sociedade egoísta e hipócrita, que enxerga apenas o que lhe interessa: “Se só existe um tipo de gente, por que as pessoas não se entendem? Se são todos iguais, por que se esforçam para desprezar uns aos outros?”

Com temas envolventes e pesados, o livro inspira o leitor a ser corajoso diante das situações corriqueiras de violência e preconceito: “[…] Coragem é fazer uma coisa mesmo estando derrotado antes de começar – prosseguiu Atticus. – E mesmo assim ir até o fim, apesar de tudo” (pág. 143).

Definitivamente, “O sol é para todos” não é uma obra simples de ler, embora a linguagem seja simples e acessível. O que dificulta são as emoções, misturadas à revolta, que tomam conta do emocional do leitor enquanto percorre a leitura.

Um conselho: leia! O divisor de águas de sua percepção acontecerá depois disso.

Imagem de capa: cena do filme de 1962: “O sol é para todos”.

Insônia: quando uma noite de sono vira artigo de luxo!

Insônia: quando uma noite de sono vira artigo de luxo!

Certa vez, em um ambiente de trabalho, ouvi de uma pessoa a quem havia sido entregue um cargo de autoridade, a seguinte pérola: “Você precisa aprender a se blindar! Não pode se importar tanto com o que acontece à sua volta”! Ouvir semelhante asneira, sendo proferida pela boca de alguém por quem eu já nutria tão pouca simpatia, ou respeito, só me fez entender que ali, bem na minha frente estava um “ser humano blindado”. E se ficar remotamente semelhante a ela fosse a minha saída para pensar menos, sentir menos e dormir mais… Bem, eu decidi naquela hora que preferia um milhão de vezes ter cara de zumbi, mas conservar a minha alma humana, a ter aquela cara anestesiada e “serena” num corpo cuja alma já havia virado pó há muito, muito tempo.

A insônia é uma espécie de efeito colateral. É a consequência de ter escolhido viver uma vida inteira sem capa ou escudo. Os insones têm em comum carregar sobre os ombros alguns pesos que não são seus. A insônia é o preço que se paga por insistir em tentar compreender o que não se explica, em brigar internamente com a parcela sombria de si mesmo, é não permitir a si mesmo o direito a sentimentos de natureza humana de segunda linha, como raiva, inveja, intolerância, desprezo e aversão.

Só os insones são capazes de entender o quanto o escuro da noite pode ser assustador e agressivo. É naquele momento em que se constata que todos ao seu redor estão “desligados”, todos parecem tão à vontade com suas camas e travesseiros, todos… menos os que não conseguem aprender a mágica de tirar-se da tomada para poder esvaziar a mente e dissolver o corpo cansado, durante algumas benditas horas de descanso reparador.

Ninguém fica rolando na cama porque quer. Ninguém fica analisando o teto do quarto por horas à fio por opção. Ninguém escolhe ser a sentinela eterna de seus próprios medos, pensamentos em conflito e atividade mental, enquanto todo o resto do mundo parece ter recebido de presente um botão de “liga e desliga”, que funciona!

E pior do que não conseguir dormir, apesar de já ter feito e refeito todo tipo de investigação sobre as causas dessa maldição, é ter de aturar os conselhos infalíveis daqueles que são capazes de dormir até em pé, encostado na parede. “Você já experimentou meditar?”; “Evite tomar café, refrigerante ou bebidas alcoólicas à noite!”; “Tem que fazer atividade física, viu?!”; “Olha… Tem um chá que é tiro e queda!”; “Nada de televisão, computador, tablet ou celular na cama, hein?!”; “Minha tia foi numa mulher que entra na sua energia e faz uns florais que são maravilhosos!!!”.

Aí, você – que já anda meio de saco cheio com as noites viradas em claro, faz um último esforço sobre-humano, veste sua melhor cara de paisagem e responde, assim meio sem jeito um: “Puxa, muito obrigada pela dica! Como é que eu nunca pensei nisso antes?!”. O que a pessoa não sabe, nem sequer desconfia, é que por trás da sua cara de paisagem tem um monstro prestes a ganhar vida, um monstro exausto e inconformado com a sua sina de viver tal e qual um vampiro da Transilvânia.

A sofrida verdade é que não há receita – a não ser aquelas controladas e aviadas por Psiquiatras Especialistas em Distúrbios do Sono – que possam nos salvar. E, não, este texto não faz nenhuma apologia ao uso de tarjas pretas, vermelhas ou, seja lá de cor sejam. Este texto é uma declaração aberta e empática àqueles que como eu, sofrem com a penúria de noites passadas no zero a zero, no que diz respeito ao direito de sair desse mundo espontaneamente por algumas horas.

Esses companheiros de olhos arregalados na calada da noite hão de me compreender! Eu adoraria não ter que admitir que já tentei de tudo, desde banhos no escuro ouvindo mantras, até comer incontáveis pés de alface no jantar (porque alface é tiro e queda!).

Tem gente que tem enxaqueca, tem gente que sofre de gastrite, tem gente que distribui desaforos aos familiares, tem gente que rói as unhas, tem gente que acredita em duendes e gnomos… Eu tenho insônia! E se é esse o meu castigo para pagar todos os meus pecados – conhecidos e desconhecidos, posso afirmar com todas as letras – e incontáveis carneirinhos: EU QUERO TROCAR DE CASTIGO!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do seriado Friends

Regra de segurança número um: mantenha distância de quem vive perto de explodir.

Regra de segurança número um: mantenha distância de quem vive perto de explodir.

Com todo o respeito, gente que estoura fácil me dá vontade de sair correndo. Não gosto, não. Todo sujeito orgulhoso de ter o pavio curto me parece uma besta, um asno, um animal incapaz de controlar os próprios ímpetos. Alguém que me causa pânico e me faz querer distância de sua presença.

Lamento lá no fundo que ainda se confunda uma postura tão somente estúpida com “personalidade forte”. Ao contrário, gente que não controla a própria raiva ou não domina uma paixão momentânea sofre de uma fraqueza essencial e ponto. Quem diz que “fulano é genioso” para se referir a alguém destemperado e briguento não sabe o tamanho da besteira que fala.

Aliás, eu não sei quem é pior: o gênio que não consegue refrear seu impulso raivoso ou o picareta que sai por aí anunciando ser incapaz de sentir raiva. Um é verdadeiro demais e o outro é falso, descaradamente mentiroso e dissimulado.

Ninguém que esteja em dia com as suas faculdades mentais é capaz de não sentir raiva. Nem o Papa, o Dalai Lama e a mais santa de todas as criaturas boas deste mundo escapam de um sentimento ruim vez em quando. Acontece que essas almas evoluídas se tornaram capazes de reconhecer suas emoções negativas e transformá-las em outra coisa. Ou você acha mesmo que um monge budista tropica numa pedra imensa,
estoura o dedinho e seu primeiro sentimento é de alegria? Eu aposto que não. Ainda que ele não demonstre, seu impulso imediato é xingar a mãe da pedra. Depois passa, ele controla a raiva e fica tudo certo.

Todo mundo sente raiva de alguém ou alguma coisa uma hora e outra. Está na natureza do ser humano. É que a gente lida com a ira de modos diversos. Cada um do seu jeito.

Aqui do meu canto, no exercício da minha liberdade de pensamento, eu não gosto de quem tem o pavio curto nem de quem se faz de besta e esconde o próprio pavio. Gente dada a disfarces. Para mim, um e outro não sabem lidar com a própria raiva. Um tem orgulho de exibi-la, outro não tem vergonha de disfarçá-la. Os dois são bombas ambulantes sempre perto de explodir. De um e de outro, por simples questão de segurança, eu prefiro ficar bem longe.

Imagem de capa: WAYHOME studio/shutterstock

“Extraordinário”: abençoados os que enxergam com o coração

“Extraordinário”: abençoados os que enxergam com o coração

O filme “Extraordinário”, baseado em best-seller de R. J. Palacio sobre o bullying sofrido por um garoto, Auggie, nascido com uma síndrome genética rara, que lhe deforma a feição, é daquelas películas agradáveis e aparentemente leves, mas que nos levam a refletir sobre várias questões que envolvem a convivência, a aceitação, a autoestima, a paternidade/maternidade, entre muitas outras. Tudo, ali, é o que parece, e muito mais.

Já é ponto pacífico o fato de que, hoje, mais do que nunca, as aparências acabam balizando fortemente os valores que permeiam os relacionamentos entre as pessoas, em vários níveis. Supervalorizada, a beleza física estampa toda e qualquer instância midiática, sendo como que obrigatória às pessoas, não importando a competência que se tenha: cantores, artistas, apresentadores, qualquer figura que se destaca midiaticamente, por exemplo, embeleza-se, emagrece, clareia os dentes, e por aí vai.

Não basta ser um bom ator, é preciso ser belo. Não basta ter uma voz maravilhosa, é preciso ser belo. Esvaziam-se, assim, os valores que não são vistos, enquanto que a estética se sobrepõe à essência, ao que se é realmente. Da mesma forma, cresce a importância exagerada conferida ao poder de compra de cada um, sendo que até há quem sobreviva apenas sendo alguém rico e bem relacionado, com milhares de seguidores pelas redes sociais.

Daí o sofrimento por que passa a personagem Auggie, cuja aparência é desagradável, por fugir a qualquer padrão, uma vez que poucos se lançam além do que conseguem enxergar superficialmente, poucos se demoram junto ao outro, para que consigam estabelecer vínculos com aquilo que temos de melhor e que se encontra exatamente aqui dentro, onde os olhos não alcançam. Os espectadores do filme já de início veem a beleza que possui o garoto, por isso sofrem junto com ele, por tudo o que enfrenta na escola.

Assistindo ao filme, sofremos porque também refletimos sobre o quanto nos comportamos como os colegas de Auggie e sobre nossas próprias lutas para sermos aceitos, desde sempre. Quantas e quantas vezes não tentamos agradar aos outros, inventando um exterior que tromba com nossa essência? Quantos de nós não relutamos em nos aceitar exatamente como somos, por conta de estereótipos midiáticos a que poucos conseguem corresponder naturalmente? Por isso é que torcemos e vibramos por cada conquista do garoto, por cada um que o enxerga, não com os olhos, mas com o coração. Porque é assim que queremos também ser vistos.

“Abençoar” é uma palavra que vem do latim benedictio, ato de abençoar, que contém bene, bem, e dictio, de dizer. Ou seja, quem “diz o bem”, ao mesmo tempo abençoa e é abençoado, porque enxerga o lado bom de cada coisa, de cada pessoa, dessa forma agregando amor, ajudando, tornando o mundo melhor. Portanto, abençoados os que enxergam com o coração, além das aparências, pois são essas pessoas que ajudam a vida a se tornar menos densa, menos triste, menos má. São essas pessoas que ajudam a se abrirem os caminhos de luz a que todos temos o direito de atravessar, não importando se somos belos ou ricos ou qualquer outra coisa.

Mutismo seletivo: não basta diagnosticar, é preciso saber acompanhar

Mutismo seletivo: não basta diagnosticar, é preciso saber acompanhar

Talvez alguns de vocês, em alguma altura de sua vida profissional ou mesmo pessoal, tenham se deparado com uma criança que não falava. Mas, ao contrário do que poderia parecer em um primeiro momento, esse silêncio não era decorrente da não capacidade ou mesmo da vontade de falar, e sim de uma incapacidade que a criança desenvolveu de se comunicar em ambientes onde não se sentia totalmente segura. E é aí que ouvimos que a criança “só não fala na escola”, mas fala em casa com os pais, por exemplo.

O primeiro impacto de qualquer pessoa que se vê frente a frente com um caso assim é de estranheza e tentativa de ajudar a criança a chamando, estimulando e fazendo inúmeras perguntas. A intenção certamente é boa, mas os resultados são ruins e é disso que vamos falar.

contioutra.com - Mutismo seletivo: não basta diagnosticar, é preciso saber acompanhar
Maria Virginia e Alan

Para nos orientar sobre isso, conversando com a uruguaia Maria Virginia Almanza Salim, residente em Curitiba , mãe e voluntária reconhecida tanto na causa do mutismo seletivo quanto na propagação de informações sobre esse tipo de distúrbio.

Maria Virginia é mãe de Alan, hoje um adolescente de 13 anos mas que, desde os 5 anos, após mudança de país, convive com essa questão que tem bases ansiosas e pode piorar se a criança se sentir pressionada ou mesmo se for colocada como centro das atenções.

Abaixo, solicitamos que Virgínia nos ajudasse  numa lista com dicas para pais e profissionais que convivem com esse problema e precisam de ajuda:

1- É preciso compreender que o silêncio não é causado por birra, malandragem, falta de inteligência ou mesmo falta de educação. Essa compreensão é necessária para não atribuirmos uma culpa que não pertence a pessoa acometida e, com isso, causemos um sofrimento ainda maior.

2- É preciso compreender que o mutismo é causado por uma grande ansiedade e não é o mesmo que timidez. Para facilitar a relação é importante que não sejam ditas frases que deixem a pessoa com um sentimento de inadequação e ainda mais ansiosa , tais como:

  • Você não vai falar nada!
  • O gato comeu sua língua?
  • Você é sempre assim?
  • Qual é o seu problema?

3- O compromisso da Escola não é somente com o ensino, mas principalmente com a aprendizagem. Os professores devem se informar sobre o que é o mutismo seletivo para poder entender melhor a criança e ajudá-la na sua aprendizagem, assim como elaborar e executar sua proposta pedagógica de maneira mais adaptada: trabalho em equipe entre escola, pais e psicólogo. Escola, professores, diretor e núcleo devem estar juntos para aprovar métodos alternativos e inclusivos de ensino, discutir a avaliação do aluno, e o progresso dele.

3- Fazer atividades de sala de aula que permitam que a criança participe de forma não verbal: a criança pode escrever para a professora pedindo para ir no banheiro ou escrever que não entendeu a lição.

4- Nenhuma motivação ou estimulação deve implicar em pressão, chantagem, exigência, discriminação ou algum outro modo não respeitoso ou insensível de fazer a pessoa falar.
Muitas vezes a criança escolhe um amigo para que seja porta voz dele na escola.

5- É necessário entender que as crianças e adultos com Mutismo Seletivo não escolhem ficar calados. Eles realmente não conseguem falar porque a tentativa de fala desperta muita ansiedade (e ansiedade gera sofrimento). O calar não é uma opção da pessoa, e sim um silêncio imposto pela ansiedade involuntária que experimenta.

6- O Mutismo seletivo costuma ser tratado com terapia cognitiva comportamental e,  algumas vezes, a criança (ou mesmo adulto) precisa ser medicada com algum ansiolítico. Logo, é necessário aceitar ajuda de profissionais especializados que possam fazer um diagnóstico preciso e orientar sobre o melhor tratamento;

7- Se sabemos que essa criança fala em outros ambientes, é dando todas condições para que ela se sinta segura e aceita, mesmo que não fale, que ela poderá, aos poucos, ter a ansiedade diminuída. Muitas vezes, as crianças mutistas começam lentamente a sussurrar. Às vezes com uma voz quase audível à medida que se tornam mais confortáveis e menos ansiosas.

8- Quando ela finalmente falar, por favor não faça exclamação nem elogios. Permaneça o mais neutro possível para que ela não tenha a atenção direcionada demais para ela e volte a ficar ansiosa.

9- É preciso entender que o mutismo gera sofrimento e, antes de qualquer atitude, o conhecimento sobre o tema e a empatia com a situação da criança devem ser o norte para qualquer medida.

Para saber mais trouxemos o vídeo animado do educador e psicólogo, também referenciado quando falamos sobre o assunto, Marcos Meier.

Para estar sempre por dentro desse tema, curta e siga a página do Facebook Mutismo Seletivo.

Para saber mais sobre a história do Alan e da Maria Virgínia assista a reportagem sobre o tema.

Imagem de capa meramente ilustrativa: Maria Sbytova/ shutterstock

INDICADOS