Conviver com a falta faz parte do ser humano

Conviver com a falta faz parte do ser humano

Lembro de uma carta, no comecinho da faculdade, que uma amiga escreveu ao ex namorado, dizendo que sua vida era como um enorme quebra cabeça, e ele era a peça que faltava para tudo ficar perfeito. Éramos bem novinhas, dezessete ou dezoito anos, e naquela época isso fez muito sentido pra mim_ a ponto de não esquecer o texto da carta até hoje, vinte anos depois.

Mas vinte anos também são suficientes pra gente aprender que a falta é e sempre será permanente. E perceber que comparar a vida com um imenso quebra cabeça pode ser, no mínimo, perda de energia. Energia pra ser feliz e se realizar plenamente com o que possui.

Conviver com a falta faz parte do ser humano; perceber-se sozinho, também. Crescer é aprender a conviver com os pedaços que permanecem sem encaixe, com o buraco que todos possuímos, com a escassez de peças que formam esse quebra cabeça incompleto que é a vida.

Quando entendemos que esse quebra cabeça é sim um quadro imperfeito_ pra qualquer um_ de peças desajustadas e faltantes, de cantos obtusos e bordas incompletas, que poucas vezes refletirá algo que faça sentido, enfim desistimos de desejar o impossível e aprendemos a encontrar as respostas no que é verdadeiro, real e palpável.

Neste fim de semana prolongado, passando uns dias na casa do meu sogro com a família, mergulhei no universo de “A menina quebrada”, livro de Eliane Brum. Nele, a jornalista se aproxima muito de nós, seus leitores, ao abordar a vida com sensibilidade e desassossego, o desassossego dos inquietos, ou daqueles que não se acomodam diante do óbvio, mas procuram desmontá-lo para enfim remontá-lo com certeza e verdade. Me fisgou no momento certo.

Entre tantas crônicas, duas me fizeram refletir sobre a falta_ a que nos habita e aquela que percebemos nos que amamos.

No texto “É possível obrigar um pai a ser pai?”, ela abre a discussão a partir do caso Luciane Nunes Oliveira Souza, indenizada na justiça pelo pai que, segundo a vítima, abandonou-a afetivamente. Lá pelas tantas, Eliane Brum nos desacomoda _ a todos nós, abandonados ou não _ ao nos confrontar com o apego que temos ao que nos falta. E no caso de Luciane, conclui: “Dificilmente Luciane conseguirá seguir adiante, paralisada como parece estar no mesmo lugar simbólico. (…) Tornar-se adulto, porém, é descobrir que o baralho nunca estará completo, que nem mesmo existe um baralho completo. Temos de jogar com as cartas que temos. E tentar recuperar cartas que jamais existiram, como se elas estivessem apenas perdidas, não nos ajuda a viver melhor. Apenas nos congela num lugar infantil”.

Outro texto, “A dor dos filhos”, fala da dificuldade que temos em lidar com os abismos de nossos filhos, abismos que nos remetem aos nossos próprios precipícios e falta de sentido. É ela quem nos fala: ” Não protegemos nossos filhos desse vazio, não há como protegê-los daquilo que é uma ausência que nos completa. Penso que este é o momento crucial da maternidade e da paternidade. Cada um de nós, que se sabe faltante, diante da falta que grita no filho”.
E conclui lindamente: “É preciso aguentar. Saber aguentar e escutar a dor de um filho, sem tentar calar com coisas o que não pode ser calado com coisa alguma, é um profundo ato de amor”.

Imaginar a própria vida como um quebra cabeça em que as peças faltantes limitam ou impedem o significado de todas as outras é submeter a existência àquilo que está fora dela; é reduzir a felicidade ao complemento de outros encaixes, quase nunca viáveis ou possíveis. Viver esperando que algo ou alguém venha nos completar e milagrosamente sanar os vazios que nos preenchem é autorizar que a falta seja aquilo que nos define mais. Estacionar diante de um quebra cabeça com fragmentos ausentes e insistir que precisa do quadro pronto pra ser feliz é desconstruir a possibilidade de seguir adiante. De vez em quando um “Deixa pra lá” faz milagres e nos liberta a prosseguir tentando um arranjo novo, nem sempre perfeito, mas invariavelmente possível.

Retornando da viagem, entramos em casa e, cheios de malas, queijos e ovos trazidos do interior, tropeçamos e desviamos das peças de lego de meu menino que ficaram por guardar e foram esquecidas espalhadas pelo chão da sala de estar. Terminadas as arrumações, sentamos para recolher as pecinhas e entre separar e brincar, tentamos uma ou outra combinação para criar um novo carrinho, casa, ou avião. E, enquanto ainda conseguimos prosseguir sem seguir o manual _ que exige as peças certas _ inventamos mundos e histórias com as peças que unidas se transformam e se reinventam.

Se_ ao invés do quebra cabeça_ desejarmos prosseguir como peças de lego, uma infinidade de possibilidades se descortina. Pois mesmo que faltem alguns pedaços, é possível continuar tentando e encontrando novas combinações, roteiros e direções. Um carro pode se transformar num prédio, navio ou caminhão. E é essa capacidade de se construir e desconstruir, de se desmanchar e se recriar de uma forma completamente diferente que faz do Lego_ e de nossas vidas_ o melhor brinquedo que existe.

Imagem de capa: Masson/shutterstock

Não fume, não beba e sorria com moderação

Não fume, não beba e sorria com moderação

Sob o véu alvo e impecável do que é correto repousa, algumas vezes, uma opressão característica de algumas pessoas que, no fundo, desejam um mundo sem quaisquer particularidades e diferenças. Um mundo, portanto, sem questionamentos. Contudo questionar é preciso, surpreender-se também; a diferença do outro é o que me torna único; a singularidade do outro é o que me torna diferente.

O apego exagerado à beleza, assim como o absolutismo do politicamente correto, são sintomas de uma doença chamada medo. Vivemos a era do temor. Temos medo de engordar, medo de não sermos aceitos, bem sucedidos e, por fim, temos medo do inevitável, envelhecer.

Vivemos a era do politicamente correto e esquecemos o humanamente correto. Somos politicamente esmerados e humanamente egoístas.

Vivemos uma tempo de padrões de beleza quase inatingíveis e preconceitos escondidos. Não se pode ser gordo; fumantes são indesejáveis, celulites nem pensar. Não se pode nada que não esteja na cartilha do imaculável. Há um padrão de peitos, cabelos, barriga, coxas e frases perfeitas. Um cárcere psíquico assassinando o prazer. Não fume, não beba, sorria com moderação para evitar rugas de expressão.

O mundo politicamente correto é chato, amplo, não enfoca a reavaliação verdadeira de conceitos pré estabelecidos e obtusos, assim como o mundo padronizado de belezas exatas também é chato, monótono, igual.

Invade-se armários, mentes e cama; educamos a língua, mas não educamos o coração e a mente. De que adianta educarmos a língua se ainda não aprendemos a aceitar as diferenças?

O lado mais bonito da liberdade é o poder da escolha sem culpas. Assim como o lado mais bonito do que deve ser correto e respeitoso é o entendimento, a aceitação do outro, seus limites e particularidades.

Nem tudo que está politicamente correto na linguagem está politicamente correto no coração e nos atos.

Imagem de capa: Syda Productions/shutterstock

5 terríveis desculpas para deixar seu sonho de lado

5 terríveis desculpas para deixar seu sonho de lado

Publicado originalmente em matheusdesouza.com

Todo mundo possui sonhos e aspirações e, por mais que isso doa, a maioria de nós nunca irá realizá-los. Talvez seja devido ao medo do fracasso, zona de conforto ou até mesmo a morte. Sonhos são feitos para serem sonhos. O que, supostamente, os torna intangíveis. É por isso que eles são sonhos. Certo?

Errado.

Aqui vão cinco desculpas terríveis de quem deixa seus sonhos apenas na imaginação.

1 – Você acha que não é bom o suficiente

Sim, todo mundo tem uma voz em sua cabeça gritando “isso não vai dar certo“.Às vezes, você acredita ter criado a melhor coisa que já esteve na terra e, no dia seguinte, está se perguntando como conseguiu criar tamanha besteira.

Nós conhecemos nossos limites e nossa mente também os conhece. Então, da próxima vez que você ouvir aquela voz interior dizendo-lhe que sua criação é terrível, pense nisso como uma forma de seu cérebro dizer “eu posso fazer melhor, eu sei que posso“.

2 – Você diz que “não tem tempo suficiente”

Essa é clássica. Eu, inclusive, a usava muito. “Correria” parece ser a palavra que mais sai da boca dos brasileiros. Se você não tem tempo suficiente para algo que você está apaixonado, então você tem que rever seus conceitos

As pessoas de sucesso fazem seu próprio tempo. Em uma era onde a informação é instantânea, as distrações infinitas e todo mundo anda com um smartphone na mão, fica difícil gerenciar o tempo, né? Não. Foque nas suas prioridades, oras. Um estudo recente mostrou que os brasileiros gastam em média 650 horas por mês navegando nas redes sociais. Tempo suficiente pra tirar um sonho do papel, né?

3 – Seus colegas pensam de outra forma

“Oi, Matheus. Ouvi dizer que você quer se tornar um escritor. Mas é super difícil ganhar dinheiro com isso no Brasil, né? Não é melhor fazer um concurso público e ter estabilidade enquanto isso?

A situação acima ainda não aconteceu, mas todo mundo conhece uma pessoa assim. Essas pessoas acreditam que na vida você tem que ser realista. Nem que pra isso seja infeliz.Arte não paga contas. Escritores, fotógrafos e músicos estão acostumados a ouvirem “mas e além disso, você trabalha?”. Afinal, o que paga as contas é trabalhar duro num emprego de 40 horas semanais que você odeia. Na cabeça dessas pessoas, a linha do tempo ideal é terminar a faculdade, arrumar um emprego, comprar um bom carro, casar, comprar uma boa casa ou um bom apartamento, ter filhos e poupar para a aposentadoria para aí sim fazer o que você gosta.

Isso é triste e para muitos será um tapa na cara. Mas, pense no seguinte: você tem um emprego tradicional de 40 horas e morrerá amanhã. O que acontecerá? As pessoas lamentarão sua perda e na semana seguinte a empresa contratará seu substituto. Sua existência não terá feito sentido. Você será esquecido. No entanto, se você for atrás do seu sonho com certeza será mais bem sucedido do que qualquer outro milenar que trabalhou o dia todo em um trabalho qualquer. Você deixará um legado. A chance de que seu nome seja escrito nos anais da história será grande.

4 – Você diz que ainda não está pronto

É preciso muita coragem para perseguir um sonho. Isso se torna mais evidente quando você sacrifica seu tempo com a família, seu estilo de vida, seus passatempos e principalmente suas finanças. Eu não estou dizendo para você se demitir. Afinal, você deve ter suas contas pra pagar. Eu também tenho. O que estou dizendo é que você deve redescobrir sua paixão, aquela chama eterna que está dentro de todos, para então perseguir seus sonhos. Nós só temos uma vida, cara.

Cada dia que passa você fica mais velho do que já foi e mais novo do que nunca será novamente. Não espere a oportunidade perfeita. Crie-a. Você é quem constrói as pontes do sucesso.

5 – Você mente para si

Ser honesto com você mesmo é uma das coisas mais difíceis de fazer na vida. As pessoas gostam de proclamar auto grandeza. Vou te dar um exemplo. Meu sonho é tornar-me um escritor e, quando eu era adolescente, não lia muitos livros porque achava as histórias sem sentido e não gostava da maneira como outros escritores escreveram. Bem, eu estava mentindo para mim mesmo e tinha me convencido desta mentira. A realidade era que eu acreditava que escrever era meu melhor talento e poderia fazer muito melhor que aqueles caras. Dei um passo para trás e disse a mim mesmo que eu não sou nada. Que, para crescer, devo aprender com os melhores. Larguei livros técnicos e devorei dezenas de romances nos últimos anos. Eu parei de me ver como alguém que pode contribuir para o mundo da literatura e comecei a me ver da minha verdadeira forma: como um aprendiz. Aprendendo por conta própria.

Resumo da ópera: pare com as desculpas e levante essa bunda da cadeira. E sem dar uma olhadinha no Facebook antes.

Imagem de capa: Syda Productions/shutterstock

Escolha o conforto de vestir a própria pele

Escolha o conforto de vestir a própria pele

Tem coisas que não entendo, não explico, apenas sinto. Você já viveu isso?

Já percebeu que as melhores escolhas que você faz na vida são aquelas que você deixa um pouco os pensamentos, a razão de lado, e apenas observa onde seu corpo e sua alma melhor se encaixam?

Quando você não sabe o que fazer, mas aprende a silenciar a mente, a se dar um tempo e a ver onde naturalmente seu ser se sente mais à vontade.

Acho que o melhor lugar no mundo é onde a gente cabe inteiro.

O pensamento pode não entender, pode até querer contradizer, o ego vem dar opiniões incisivas, mas se a gente deixa a vida ir tomando forma sozinha, se transformando, se ajeitando, nos conduzindo, a gente entra no nosso fluxo natural, de onde nunca deveríamos ter saído.

Eu gosto de exercitar minha intuição em tudo, em todas as decisões, desde a roupa que vou vestir hoje, até numa escolha profissional ou de relacionamento pessoal.

Acredite ou não, existe uma força maior do que a razão que move a gente.

E quando você aprende a deixar isso crescer, por mais louca que possa parecer a escolha, o passo, a vida vai fazer mais sentido e ficar mais coerente.

Como acessar essa força?

Apenas sinta na pele. Que roupa cai melhor de olhos fechados, sem pensar na opinião dos outros? Que pessoa, amigo, amante, encaixa do seu lado sem dor, sem luta? Que comida entra melhor no seu corpo? Que profissão, situação você flui naturalmente, sem interpretação, sem persuasão, sem máscaras?

No final do dia escolha ficar perto de alguém que te dissolva, nem que seja você mesmo a sua melhor companhia. Escolha o conforto de vestir a própria pele.

Escolha pelo cheiro, pelo tato, pelo sorriso fácil, pela vontade involuntária.

Escolha o contato que se ajusta, a conversa que relaxa, o caminho de vida que foi feito pra você e estava só esperando a sua ficha cair.

Imagem de capa: Nina Buday/shutterstock

Até que haja um mundo onde ninguém precise diminuir o outro para se sentir maior

Até que haja um mundo onde ninguém precise diminuir o outro para se sentir maior

A gente nunca sabe o tamanho exato que tem. Às vezes nos sentimos ínfimos diante de alguma dessas experiências de quase morte – nem sempre física -, nas quais nossa esperança em um novo dia que amanheça menos doloroso, se esvai pelo ralo da dor. Às vezes nos sentimos qual verdadeiros gigantes, em meio àquelas raras e maravilhosas vivências de um amor benigno, que nos faz ter absoluta certeza de que a felicidade não é apenas um sonho distante.

Há dias em que a nossa alma toma proporções inimagináveis, a ponto de simplesmente não cabermos mais em nosso corpo de carne e osso; a ponto de sermos transportados para muitas dimensões além do tempo, num lugar onde não existe dor, ou mágoa, ou traição, ou nossa infinita capacidade de desapontar aqueles que nos são mais caros.

E há também, aqueles outros dias em que essa mesma alma de limites inexistentes, se apequena num cantinho mínimo e escuro dentro do nosso peito, a pedir por um pouco de silêncio e quietude, a clamar por algum descanso; porque estamos exaustos de lutar contra nossa natureza humana tão propensa a causar sofrimento e dor.

E quem dera, fosse uma escolha essa brincadeira de esticar e encolher. Quem dera houvesse uma poção mágica que nos alçasse às alturas ou nos fizesse caber numa gota de orvalho, a depender de nossa vontade de estar visível ou invisível aos nossos próprios olhos e, principalmente aos olhos do outro.

O outro é a nossa modulação de existir, uma espécie de bússola quebrada ou invertida que nos aponta um caminho, mas nos leva para outro lugar, completamente desconhecido e enganoso. O que o outro quer de nós, exatamente, nós infelizmente jamais saberemos. O desejo do outro é um mistério completo, porque o que nos faz modificar ou adulterar nossa versão original, é a interpretação capenga e tendenciosa que fazemos acerca das expectativas alheias a nosso respeito.

Somos tão tolos por não perceber que tudo não passa de uma projeção das nossas necessidades afetivas. Acreditamos que seremos felizes se coubermos na forma exata do que pensamos ver no brilho dos olhos daqueles em quem queremos despertar amor, simpatia, admiração e até inveja. Somos tão ingênuos e ao mesmo tempo tão manipuladores, porque vivemos representando papéis que muitas vezes não nos cabem, em busca de algo que nos garanta um pouco de paz… uma trégua nessa briga exaustiva por ter algum controle sobre o nosso destino.

O fato é que o que nos incomoda mesmo, aquilo que vem nos cutucar bem naquele pontinho que dói e sangra, não é o nosso real tamanho. O que nos inquieta e tira o nosso sossego é a tormenta de descobrir que alguém se tornou maior do que nós, a ponto de nos fazer sombra; ou que se diminuiu numa humildade inatingível, a ponto de nos fazer parecer desproporcionais e grotescos em nossa imensurável mania de querer sempre mais.

O que nos resta, ou o que pode nos salvar desse jogo, onde todos saem perdendo, é que acordemos um dia desses desse sono pesado e turbulento, dispostos a quebrar esses espelhos distorcidos de nós mesmos. A nossa única e bem-aventurada saída é entendermos que nossa libertação dessa cela de autoengano só depende de nós mesmos.

Que as nossas preces sejam ouvidas por um anjo, cujas asas não se importem com o peso das culpas que teimamos em arrastar pela vida afora. E que uma vez acolhidos nesse colo bendito de cura e perdão, possamos nos livrar dessa casca que nunca cicatriza… até que seja possível tocarmos o mundo uns dos outros com respeito e generosidade… até que haja um mundo onde ninguém precise diminuir o outro para se sentir maior.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Anjo dos Desejos”

Saudade, uma dor universal, quem ama, sente.

Saudade, uma dor universal, quem ama, sente.

Quiséramos que a saudade fosse apenas uma palavra ilustrativa no imenso vocabulário da língua portuguesa. Sim, aí então, nos acostumaríamos a senti-la apenas na textura do papel. Mas não é! Saudade, segundo o dicionário brasileiro, é um sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa… ou à ausência de experiências prazerosas já vividas. Vivemos experiências como dor, amor, ilusão, etc.! Mas diante de muitas outras, não há uma suficientemente forte para nos fazer esquecer pessoas que nos trouxeram alegrias e nos fizeram felizes. Muitas vezes sentimos falta de pessoas que estiveram sempre ao nosso lado, porém é muito diferente de sentir saudade. A falta, podemos suprir, porque é como um espaço vazio que poderá ser preenchido, entretanto a saudade é agonizante, estremece o corpo e inquieta a alma; daí vem o desejo de que a pessoa que se foi volte logo. Sim! Porque temos a certeza de que a queremos de volta e que outra pessoa não poderia estar em seu lugar. O que poderia alimentar melhor o amor, que não seja a saudade? Tudo o que sentimos ao partirmos, muitas vezes resistindo à tentação de voltar, bater à porta sob o pretexto de dar o último beijo, ou de atravessar silenciosamente o corredor para chegar ao quarto e ainda pegá-la (o) dormindo depois de uma viagem necessária. Ou chegando tarde, à noite, às escuras trazendo escondidas suas flores preferidas. Tudo que queremos que a vida nos ofereça, é a oportunidade de matar essa saudade, porque vem a vontade de acabar com essa ausência que traz privação e sofrimento. Não existe verbo que conjugue a saudade. Apenas sentimos saudade de quem amamos, muitas vezes, bem dolorida. Sentimos saudades da voz, do aconchego, dos beijos, do abraço. Sentimos saudade de tudo, menos da ausência. A saudade é um rosto que nunca se apaga, e que o tempo não desfaz.

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida. (Clarice Lispector)

Já sentiram a sensação de vontade de querer fazer exatamente como disse a autora? “absorver a outra pessoa toda…”.

Esse é o desejo que fica impregnado na alma de quem ama, ao fechar uma porta, ao embarcar para uma viagem, por se afastar de um abraço… O tempo não importa, apenas a ausência. A espera do reencontro se torna no íntimo, uma angústia dilacerante, quase mortal. As pessoas especiais estão sempre nos nossos pensamentos, mas as pessoas que amamos estão sempre dentro dos nossos corações, mostrando-nos que a saudade deixa na lembrança, um bom motivo para ter de volta a pessoa que amamos.

Saudade!

Imagem de capa: Anna Om/shutterstock

Se a alma está em paz, os ruídos externos não incomodam.

Se a alma está em paz, os ruídos externos não incomodam.

Um dia desses, acordei, num dia de folga, ao som de uma pancadaria. O apartamento ao lado do meu estava em reforma. Justamente no dia em que eu desativei o despertador e que tinha dado carta branca ao meu organismo para despertar na hora em que ele bem decidisse.

Em meio àquela pancadaria, algo me chamou a atenção: apesar de incomodada, minha irritação foi, rapidamente, sublimada. Me lembrei que no ano passado eu reformei o meu apartamento e que, consequentemente, incomodei muito os meus vizinhos também. Em seguida, vesti uma malha, calcei os tênis e fui fazer uma caminhada num parque.

Contudo, enquanto caminhava, fiquei analisando o meu próprio sentimento diante daquela situação. Não sou nenhuma Madre Tereza de Calcutá, o normal era que eu ficasse extremamente mal humorada pela forma como fui acordada. Não demorou muito e ficou tudo claro para mim. Na verdade, me dei conta de que aquela pancadaria não estragou o meu dia porque eu estava em paz comigo.

Com minha alma transbordando de gratidão, diante de tanta coisa boa acontecendo em minha vida, o barulho de uma furadeira no concreto tornou-se um “café pequeno”. Aquela pancadaria não ecoou aqui dentro de mim. Aquilo não perturbou a minha paz, não me fez perder as estribeiras. Foi como se eu tivesse com uma proteção acústica interna. Me dei conta de que, quando estamos bem, ficamos mais tolerantes com o outro. Podemos levar uma fechada no trânsito, por exemplo, que, ao invés de esbravejarmos, optamos por agradecer por não ter acontecido o pior.

Não tem outra explicação, está tudo bem claro. Não há dia nublado que entristeça quem está bem. Se a alma está em ordem, tudo fica mais fácil de administrar. Se estamos iluminados por dentro, nenhuma escuridão nos assombra. A gente acaba achando um jeitinho para tudo e, com um sorriso na boca, dentro do possível.

Quando você encontrar uma pessoa cuja irritabilidade soa desproporcional ao ocorrido, tenha a certeza de que ela está vivendo um caos interno. Ela apenas aproveitou aquela situação para extravasar um pouco a tormenta que vivencia na alma. Pessoas feridas, ferem. Pessoas curadas, curam. Quando uma pessoa ferida tromba com uma inteira, pode ocorrer algo maravilhoso. A primeira, se for acolhida pela segunda, será desmontada, no sentido de retirar a máscara do ódio e mostrar a realidade: uma alma que sangra. É que, pessoas assim, no geral, só desejam que alguém as olhe nos olhos ou que as escute e diga-lhes: “puxa vida, eu te entendo, isso não é fácil mesmo”.

Em contrapartida, se uma pessoa machucada se depara com outra, também machucada, a situação tende a se agravar. Haverá, nesse caso, uma disputa de quem é mais rude e de quem machuca mais. Será uma verdadeira arena de lutas, da qual, ambas sairão mais machucadas que antes.

Por fim, fica claro, a nossa reação diante das circunstâncias apenas revela o que trazemos na bagagem da alma.

Imagem de capa: stockfour/shutterstock

Deixe a raiva secar…

Deixe a raiva secar…

Esses dias saí para tomar café com uns amigos. Todos estavam em clima de descontração. Conversávamos sobre tudo. De paixão à culinária, os assuntos variavam.

No decorrer da conversa, um dos meus amigos fez um comentário que me deixou sem graça. Abstraí e fiquei quieta, como se nada tivesse acontecido. Só que tenho um problema, não seu disfarçar quando algo me incomoda.

Uma das minhas amigas perguntou “Lari, tá quieta, tá tudo bem?” Fiz cara de paisagem e respondi que estava sim.

No caminho para casa, esse meu amigo me ligou duas vezes, não atendi.

Quando cheguei em casa, ele me mandou uma mensagem perguntando se eu havia chegado bem. Fui dormir sem responder.

Você deve estar pensando que sou marrenta, mas posso explicar:

Quando fico brava ou triste com alguém, espero a raiva passar, para depois conversar com a pessoa. Na hora da raiva, podemos falar alguma bobagem. Então prefiro deixar a poeira baixar, para depois tentar resolver os problemas.

No dia seguinte, li uma parábola chamada “deixe a raiva secar”. O texto contava a história de duas garotinhas que eram amigas. Uma delas, emprestou seu brinquedo favorito a outra. Quando a dona do brinquedo foi pegá-lo de volta, o brinquedo estava quebrado. Triste, queria ir até á casa da amiga para brigar, mas no mesmo instante a mãe da garotinha brava, disse a ela:

― Filhinha, lembra daquele dia quando você saiu com seu vestido novo todo branquinho e um carro, passando jogou lama em sua roupa? E ao chegar em casa, você queria levar imediatamente aquela sujeira, mas a vovó não deixou? Você lembra do que a vovó falou? Ela falou que era para deixar o barro secar primeiro, depois ficaria mais fácil limpar.

Pois é, minha filha! Com a raiva é a mesma coisa. Deixa a raivar secar primeiro, depois fica bem mais fácil resolver tudo.

Após o episódio, expliquei ao meu amigo o porquê da minha atitude. Disse a ele que não retornei o contato e nem respondi a mensagem porque fiquei chateada com um comentário que ele fez. Ele entendeu meu lado, e disse que tudo não passou de um mal-entendido.
Logo em seguida, rimos da situação, fizemos as pazes e ficou tudo bem.

Antes de compartilharmos o motivo da nossa fúria, é necessário deixarmos a raiva secar, só assim teremos equilíbrio o suficiente para resolvermos as coisas.

Imagem de capa: nd3000/shutterstock

A felicidade só é real quando é compartilhada

A felicidade só é real quando é compartilhada

Essa frase é do poeta americano Henry Thoreau, mas foi citada no filme “Na natureza selvagem”. Escrito e dirigido por Sean Penn, o longa é baseado no livro homônimo do jornalista Jon Krakauer que conta a história verídica do jovem americano Christopher McCandless.

Lançado em 2007, o filme recebeu diversas premiações e indicações, incluindo um Globo de Ouro de melhor canção e duas indicações ao Academy Awards (Oscar). A trilha sonora é assinada por Eddie Vedder e torna o filme ainda mais belo. Outro destaque fica por conta da fotografia com paisagens de tirar o fôlego.

Talvez o que faz da história interessante é a quebra contra o sistema por parte do protagonista: ao concluir a graduação em uma universidade renomada, ele muda de nome, abandona um futuro promissor e uma vida de luxos para percorrer sozinho parte dos Estados Unidos; em sua jornada faz explora novos contextos, faz novas amizades, vive amores e desamores. A história é emocionante, com ressalvas.

Embora a personalidade exploradora do jovem tenha encantado muitos, utilizando os mecanismos neuróticos de evitação de contato da Gestalt-terapia pode-se entender que o garoto funciona em mecanismo chamado “isolamento”. Apesar de não ter sido inicialmente descrito por Perls, o isolamento é utilizado por autores mais modernos, muitas vezes descrito como uma polaridade da “confluência”. Para a GT, não se trata necessariamente ou apenas de um afastamento físico é, principalmente, um afastamento emocional.

Assim como os outros mecanismos, o isolamento tem sua funcionalidade, muitas vezes precisamos dessa distância do outro, pois é importante estar bem sozinho. Mas, ele torna-se um mecanismo neurótico quando não conseguimos permanecer em situações e relacionamentos que podem nos trazer benefícios; quando evitamos o contato como uma defesa ou uma solução para não sofrer.

A dificuldade de tratar uma pessoa neste funcionamento neurótico é que raramente ela procurará ajuda. Uma das principais características do isolado é ter a ilusão de que se basta sozinho e muitas vezes não sentir necessidade ou falta do contato com o outro. Ainda, a pessoa nesse funcionamento pode estar cercada de gente e mesmo assim não estar acessível emocionalmente. Muitas vezes são pessoas que possuem muitos amigos, mas não se aprofundam em relação alguma, mantendo sempre uma distância emocional confortável e um certo mistério sobre si.

O que me chama atenção no filme é que, apesar de existir beleza e coragem na personalidade misteriosa e rebelde do jovem, ele claramente demonstra dificuldade em permanecer nos diferentes círculos sociais que exigem dele um maior envolvimento emocional, causando grande sofrimento naqueles que o amam. Assim, deixa para trás família, amigos, estilo de vida, e parece não se importar com isso. O paradoxo está justamente na famosa frase de Thoreau que McCandless escreve em um livro pouco antes de morrer, sozinho e isolado, no frio congelante do Alasca.

É saudável questionar o sistema, buscar outros estilos de vida, viajar e percorrer lugares diferentes, fazer novas amizades, sozinho ou acompanhado. Mas, as escolhas que nos tornam emocionalmente indisponíveis e colocam nossas vidas em risco não são funcionais, são neuróticas. Nenhuma escolha pode ser saudável quando ela nos custa a vida. Entrar em contato com o que nos é diferente pode ser desconfortável, porém é também transformador. Afinal, as cercas que construímos para nos proteger não mantêm os outros para fora, elas nos aprisionam dentro de nossa mesmice e pequenez. Sim, a felicidade só é mesmo real quando é compartilhada.

Ainda sobre os mecanismos de evitação de contato: Deflexão,Introjeção

Imagem de capa: Reprodução

Antes de abrir as portas do teu coração, ouça o que ele tem a dizer!

Antes de abrir as portas do teu coração, ouça o que ele tem a dizer!

Ontem, enquanto limpava a casa, ouvia um programa de rádio. Enquanto fazia meus serviços domésticos, prestava atenção no debate que estava sendo transmitido. O assunto do dia era “relacionamentos” e o locutor disse que os compromissos de hoje, não duram como os compromissos de antigamente. Ele disse que as pessoas entram em um relacionamento rápido demais, sem realmente conhecer seus pretendes.

Fiquei pensando no comentário que ele fez, e parei para refletir sobre o assunto.

Com essa reflexão, decidi ser mais ousada. Vamos falar também sobre casamentos.

Infelizmente, as uniões que deveriam durar para sempre, não estão passando das bodas de madeira (5 anos). E por que isso ocorre?
Primeiramente, vamos falar de “namoro” O que é namorar?

Namorar é relacionar-se com alguém, cujo o objetivo é conhecer a pessoa que está ao seu lado, para ver se é ao lado dele (a) que quer construir uma vida a dois. Mesmo namorando, você só vai conhecer seu parceiro (a) quando estiver sob o mesmo teto que ele (a).

Com o avanço da tecnologia, estamos cada vez mais conectados. Temos notícias 24 horas por dia, podemos conversar com nossos amigos e familiares mesmo à distância, temos acesso a filmes e séries, temos aplicativos que oferecerem um acervo com milhares de músicas, e temos, também, redes sociais para todos os gostos. Entretendo, o que parece tão acessível para nós, se não for usado com sabedoria, da mesma forma que pode facilitar nossa vida, pode também atrapalhar.

As pessoas ficam tão vidradas nessas ferramentas, que se afastam do carinho afetivo.

E o que isso têm a ver com relacionamentos que duram pouco? Justamente, as pessoas encontram em outras uma forma de fugirem da carência afetiva, e se submetem a qualquer tipo de relacionamento por puro comodismo. Quando percebem, se arrependem e pulam fora do barco.

Por outro lado, o casamento também não está durando como antigamente.

O casamento é um contrato onde os noivos, ao assinarem o documento, concordam que vão ficar juntos na “saúde, na doença, na riqueza, ou na pobreza, até que a morte os separe”.

A criação que os pais ofereciam antigamente, também tem influência nisso.

Quando o assunto era “relacionamento” os pais eram rígidos. O moço não podia encostar na moça se não casasse com ela. Os beijos não eram tão salientes como os da geração atual. Os abraços eram regados de carinho e respeito.

A pergunta é? Por que os casamentos de antigamente duravam mais que os atuais? Porque os moços só se casavam quando tinham absoluta certeza do que queriam. Tanto é que eles enfrentavam os pais da moça, porque as queriam, ao ponto de pedirem permissão aos pais para casarem.

Contudo, os casamentos de hoje não duram por falta de consistência. Na primeira tribulação, as pessoas pulam fora, e esquecem que as dificuldades fazem parte do matrimônio. Todavia, os obstáculos surgem com intuito de reforçar o amor que um tem pelo outro. Mas se você casar com qualquer um, não suportará as dificuldades que chegam junto com o casamento. Você não encontrará motivação para permanecer casado (a), porque não ama genuinamente seu parceiro (a).

Relacionamento é construção. As pessoas se relacionam com o objetivo de construírem uma vida a dois, pelo menos, é assim que deveria ser.

Existe uma série de fatores que contribuem para esse problema, contudo, o principal, é comprometer-se sem ao menos ter certeza do que quer. Qualquer tipo de relacionando, é investimento.

A dica de hoje é: Sejamos mais seletivos. Sejamos mais conscientes, e principalmente, sejamos mais sábios antes de assumir um compromisso com outro alguém.

Antes de abrir as portas do teu coração, ouça o que ele tem a dizer.

Imagem de capa: Goran Bogicevic/shutterstock

Em 2018, aprenda a ser grato pelas coisas mais simples!

Em 2018, aprenda a ser grato pelas coisas mais simples!

Neste ano de 2017, uma das palavras que mais foram pronunciadas, foi ‘Gratidão’.

Vi em legendas de fotos, status, tatuagens, etc., mas o que é ser grato? Você sabe?

Fiz uma rápida busca na internet, e encontrei que gratidão é o reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, algum tipo de favor.

Mas será que estamos realmente aplicando a gratidão propriamente dita em nossas vidas? Será que usamos só em legendas de fotos, status, ou será que praticamos?

“A gratidão muda nossa vida quando reconhecemos o que temos”

Que 2018 sejamos gratos pela família, pelos nossos amigos, pelo pão de cada dia, pelo teto que nos protege, pela cama que nos espera após um dia de luta. E principalmente, sejamos gratos pela vida.

2017 foi um ano difícil. Infelizmente, somos marcados também por atrocidades, vimos guerras políticas e ideológicas, ataques, acidentes, perdas, etc. É tempo de renovação.

Deixemos que o amor irradie nossos corações, passemos a enxergar a luz no fim do túnel. Que a cada dia, possamos fazer valer a pena. Que o novo ano nos traga força de vontade para realizar nossos projetos mais sonhados. Que saibamos praticar a compaixão e o amor ao próximo. Que saibamos aproveitar cada momento ao lado das pessoas que amamos.
“Que a gratidão sirva para fazer de nós pessoas melhores e que não seja, apenas mais uma palavra bonita, mas que se transforme na mais singela atitude”.

Neste ano, tivemos que presenciar diversas situações desagradáveis. Não só aqui, mas em outros países também. Vimos até onde é capaz de ir a maldade humana. Vimos injustiça, pessoas sendo brutalmente assassinadas, assaltos e espancamentos. Vimos também, a forçada natureza. Presenciamos terremotos, pessoas que perderem suas casas devido as grandes chuvas, e quedas de árvores. Por outro lado, esse ano também exaltou a população, mostrou o poder da união, da fé e o bem que ainda existe na humanidade. O “gigante” acordou, e juntos, lutamos por um país melhor.

Aprendemos que a vida é um sopro, e que estamos aqui de passagem. Aprendemos também, que quando partimos para outra, o que vai é apenas nosso corpo, mas o que fica, são as coisas boas que espalhamos enquanto estivermos aqui. O amor que distribuímos, os abraços e os beijos que demos e recebemos, as ações que fizemos em prol do próximo, a saudade da pessoa que fomos, e as lembranças lindas que deixamos.

“A vida passa rápido demais, e se você não parar de vez em quando para vive-la, acaba perdendo seu tempo”

Que sejamos amigos do tempo e aproveitemos cada minuto, e cada segundo possível. Que desliguemos mais nossos celulares, e olhemos mais nos olhos de pessoas que amamos. Que saibamos perdoar aqueles que nos entristeceram. Que deixemos os ressentimentos, pendências, e tristezas antigas para trás. Que tenhamos sorriso nos lábios, e amor no coração. Que nunca deixemos de acreditar que a verdadeira felicidade encontra-se nas coisas mais simples.

Que 2018 sejamos luz para aqueles que enxergam escuridão. Que passemos a estender a mão de quem precisa sem esperar nada em troca. Que aprendemos a ser mais pacientes e esperançosos. Que nunca deixemos de acreditar em dias melhores.

E acima de tudo, que sejamos mais humanos para ouvir não apenas nosso coração, mas também passemos a ouvir o coração do outro, que também é um pouco nosso.
“A gratidão é o único tesouro dos humildes”

Imagem de capa:  Glayan/shutterstock

Posso não saber direito o que é o amor, mas sei bem o que o amor não é.

Posso não saber direito o que é o amor, mas sei bem o que o amor não é.

Amor não é excesso de lágrimas, de dor, de tristeza. Amor não é desconfiança, nem hesitação. Amor não é humilhação, carência. Não é mendicância.

Dizem que muitas pessoas talvez ainda não tenham amado ou sido amadas de verdade. Talvez essa dificuldade de muitos tenha relação com o fato de que amor é sentimento, é lá de dentro de cada um, ou seja, as pessoas conseguem senti-lo, mas têm dificuldade em descrevê-lo. Não faz mal, pois, tão importante quanto reconhecer o amor, é ter a certeza de tudo o que o amor não é.

Amor não é excesso de lágrimas, de dor, de tristeza. Nada do que carregue negatividade pode ser associado ao amor, pois ele cura, alegra, traz contentamento e redenção. Caso o relacionamento esteja envolto em escuridão demasiada, estaremos mergulhados em nada mais, nada menos, do que desamor.

Amor não é lamento, queixa sem fim. A gente só reclama do que não está fazendo bem, do que incomoda, do que precisa ser mudado. O amor se afina com o que é harmônico, com o que traz calma, com o que abranda os pesos da vida. Caso estejamos envoltos por uma relação incômoda, que precise de ajustes e reajustes, que nunca parece tranquila, ali não se encontra o amor.

Amor não é desconfiança, nem hesitação. Ninguém é capaz de viver muito tempo tendo que questionar os passos do outro, que seguir, fuçar, ficando à espreita o tempo todo. Não dá para sobreviver desconfiando de tudo e de todos, pedindo explicações, provas, testemunhas. Se as dúvidas acompanharem os nossos dias, estaremos vivenciando tudo, menos o amor.

Amor não é posse, dominação, nem ditadura. Ninguém é dono de ninguém, pois quem fica é porque quer, precisa, sente-se bem e acolhido com sinceridade. Afeto não combina com mandos e desmandos, com temor, com nó – Quintana já dizia que amor é laço. Se tiver que forçar, então não há conforto e, sem conforto, nem existe amor.

Amor não é humilhação, carência. Não é mendicância. Ninguém merece ficar implorando por atenção, porque ninguém há de merecer viver de esmolas afetivas, de metades, de incompletudes. Sentimentos têm que vir com intensidade, com clareza, com tudo, num movimento de ida e de volta. Unilateralidade tem a ver com solidão, pois relacionamentos requerem sempre dois, não menos do que isso.

Infelizmente, é comum as pessoas se enganarem com o que seja amor, porque muitos de nós possuímos uma falsa ideia do tanto que temos a oferecer e do tanto que merecemos. Reconhecer o que é desamor, enfim, é essencial, para que não aceitemos encostos e sugadores junto de nós. É assim que nosso inteiro um dia se preencherá com verdade, com a serenidade que todos merecemos viver.

Imagem de capa: wrangler/shutterstock

O que Caio Fernando Abreu tem a nos ensinar sobre relacionamentos

O que Caio Fernando Abreu tem a nos ensinar sobre relacionamentos

Popularizado na internet, assim como Clarice Lispector, Drummond e Bukowski, o escritor ganhou fama após sua morte em 1996 e conseguiu, através das redes sociais, uma legião de fãs que poucos possuem.

Os poemas do escritor, altamente parafraseados nas redes sociais, tratam de assuntos cotidianos sempre abordados por meio de uma linguagem muito próxima da coloquialidade. Único e extremamente intuitivo, o autor expõe os sentimentos humanos com a naturalidade como quem coloca uma mesa para um café.

A alma humana encontra-se, em seus livros, marcada por uma realidade ora chocante, ora romântica e que, por motivos não difíceis de entender, deram ao autor o título de “fotógrafo da fragmentação contemporânea”. Seus textos que falam de sexo, de medo, de morte e de solidão, parecem dilacerar o leitor gradativamente com o passar das páginas.

Uma particularidade da escrita de Caio é o trato com a realidade. O autor parecia “adivinhar” as situações que o leitor enfrentava e transformava-as em textos.

Para Caio, o destino era soberano: “Se não for hoje, um dia será. Algumas coisas, por mais impossíveis e malucas que pareçam, a gente sabe, bem no fundo, que foram feitas para um dia darem certo(…)”. “O mundo, apesar de redondo, tem muitas esquinas”.

Em ovelhas negras, livro que reúne textos “esquecidos” de Caio, escritos entre 1962 até 1995 e proibidos de serem publicados na época da ditadura militar, o autor relata sua inconformidade diante das situações imutáveis: “essa morte constante das coisas é o que mais dói”.

Exagero era a palavra que o definia. Para ele, os sentimentos eram supervalorizados e, consequentemente, inevitáveis: “ andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais”.

Apesar dos sentimentos expostos em “carne viva”, Caio sabia que a cura seria inevitável e acreditava que tudo passaria: “vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe?”

A verdade é que Caio sabia das coisas e, descrevia os sentimentos humanos como se os tivessem criados: “Muita coisa que ontem parecia importante ou significativa, amanhã virará pó no filtro da memória. Mas o sorriso (…) ah, esse resistirá a todas as ciladas do tempo”.

Imagem de apa: Reprodução

Não exija do outro o que você não estiver disposto a oferecer de volta.

Não exija do outro o que você não estiver disposto a oferecer de volta.

Muitas vezes, cobramos amizade de quem nunca procuramos, pedimos atenção de quem sempre tratamos com invisibilidade, exigimos carinho de quem recebe somente vazio de nós, lamentando os ecos dolorosos de nossas próprias ações.

Talvez seja uma tendência do ser humano cobrar das pessoas, da vida, do destino, tudo aquilo que ele acha que merece. Frequentemente, lamentamos a situação pela qual passamos, como se estivéssemos sendo injustiçados, por não merecermos aquilo tudo. Costumamos, assim, olhar sempre para nós mesmos, esquecendo-nos, muitas vezes, de voltar os olhos lá para fora, a fim de percebermos que muito do que nos vem é reflexo direto do que ofertamos ou deixamos de ofertar.

É muito difícil tomarmos consciência de nossa responsabilidade sobre os fatos que nos sucedem, uma vez que isso requer maturidade e enfrentamentos dolorosos. Colher o que se plantou com sementes egoístas e maldosas é um exercício doloroso, pois é assim que somos forçados a crescer como seres humanos. Ninguém cresce fazendo o que quiser, agindo como bem entender, falando o que vier à cabeça, a quem estiver à sua frente. Somente somos e existimos na interação com o outro e isso implica sair de si mesmo, implica enxergarmos a nós próprios na vida do próximo.

Quando dói a alma, a ponto de termos que nos livrar do que fere, conseguimos refletir sobre o que fizemos e sobre a forma como agimos. Dessa forma, seremos praticamente forçados a mudar os nossos comportamentos, para que passemos a tratar as pessoas e o mundo de uma maneira digna, pois, então, estaremos sedentos de redenção, de perdão e de dignidade. Entenderemos que ninguém nos retornará flores se tivermos lançado espinhos.

Teremos que perceber que, muitas vezes, cobramos amizade de quem nunca procuramos, pedimos atenção de quem sempre tratamos com invisibilidade, exigimos carinho de quem recebe somente vazio de nós, lamentando os ecos dolorosos de nossas próprias ações. Ninguém consegue fugir ao enfrentamento de tudo o que fez, falou, causou ou negligenciou. Pode demorar, pode parecer que não, mas a vida cobra a conta exata de cada um de nós e com juros dolorosos. Se cada um dá o que tem, cada um também receberá de acordo com o que deu.

Como se vê, antes de cobrarmos do outro, percebamos se estamos dispostos a retorná-lo na mesma medida, sejam sentimentos, sejam atitudes, sejam palavras, seja o que for. Porque ninguém, a não ser em casos de caridade, é obrigado a ficar ofertando aquilo que vai sem retorno, vai sem volta, vai para nunca mais. Ninguém.

Imagem de capa: fizkes/shutterstock

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