10 sinais de que o seu relacionamento não vale mais a pena.

10 sinais de que o seu relacionamento não vale mais a pena.

Para que exista uma relação são necessárias duas pessoas. Agora, para que a relação seja saudável é preciso que essas pessoas entreguem muito mais de si do que apenas a sua presença física.

Abaixo, listo algumas reflexões sobre comportamentos que observei ao longo dos anos- na vida e na clínica- e que podem servir como sinal de alerta para relações que perderam sua a sua essência.A boa notícia é que o primeiro passo para qualquer mudança é identificar que existe um problema. Apenas quando sabemos que existe algo errado é que conseguimos buscar ajuda e mudanças.

Boa leitura!

Josie Conti

1- Não existe mais um vínculo afetivo entre as partes. 

Para que exista uma relação deverá existir uma troca. Ela pode acontecer por amizade mútua, interesse romântico, parentesco ou até mesmo por uma proximidade física que leve a convivência. Entretanto, é bom lembrar que nem sempre os vínculos que mantém pessoas juntas são vínculos saudáveis. Logo, o primeiro mandamento determina que o vínculo que sustenta uma relação saudável seja afetivo, ou seja, que exista algum tipo de afeto verdadeiro entre as partes. Manter relações por objetivos terceiros como questões financeiras ou criação de filhos, por exemplo, não são alicerces firmes e podem desmoronar a qualquer momento.

2- Não é porque existe um vínculo que há permissão para as pessoas se tratarem de forma agressiva e desmedida.

Tendemos a ser condescendentes com as pessoas que gostamos e, ao fazê-lo, podemos ignorar, mascarar e até inventar desculpas para comportamentos grosseiros, depreciativos ou dominadores. É importante ter a clareza de que qualquer pessoa pode errar, mas a frequência de comportamentos que levem a constrangimento, intimidação ou que entristeçam qualquer uma das partes, é indicativo de que a relação pode não estar tão bem quanto você pensava.

3- Vocês não riem mais juntos

Risadas são um grande termômetro de que a relação vai bem. Elas indicam leveza e descontração entre as partes. Se o clima está sempre tenso, é sinal de que algo está errado. Mais um alerta vermelho.

4- Se você não se sente à vontade para ser quem você é perto do seu parceiro ou parceira, amigo ou colega, isso é um indicativo de que há algo errado.

É básico em nossas relações mais íntimas que nós nos sintamos confortáveis para sermos quem realmente somos. Se nossa maneira de rir, falar, vestir ou mesmo de conversar com terceiros gera discussões frequentes, isso é um indicativo de que existe um desequilíbrio de poder na relação- um dos sintomas das relações tóxicas.

5- Nunca, jamais, se esqueça de que a violência psicológica é muito mais frequente que a violência física. Entretanto, ela não é menos danosa.

O item 2 já mencionou a violência psicológica, mas é importante deixar clara a sua representação dentro dos relacionamentos, pois ela acontece por longos períodos de tempo e, por isso, mina a autoestima. Logo, a pessoa que é vítima dela sofre de maneira progressiva e continua. Esse item retoma o assunto para ressaltar que a violência física é inaceitável, mas é a violência psicológica a que mais destrói, pois é menos aparente e muito subvalorizada dentro da relação. Se você percebe que ela acontece, esteja alerta.

6- Os limites não são respeitados

Quando uma pessoa não quer dois não fazem, certo? Nem sempre. O problema do desrespeito aos limites das partes é que isso gera um desrespeito aos valores pessoais de quem se sente invadido. O alerta deve acontecer quando você percebe que se sujeitar ao que o outro quis gerou um sofrimento com relação as suas crenças primárias e que são o norte das coisas em que você acredita. Se o que está acontecendo, de alguma forma, te ofende. É hora de realmente parar.

7- Você sempre está insatisfeito (a) perto da pessoa

É só encontrar a outra pessoa e as partes começam a se alfinetar e a se desentender. Não existe interesse em flexibilidade, pois cultivar o equilíbrio entre os gostos e vontades das partes deixou de ser relevante. Quando isso acontece, a coexistência torna-se dolorosa. Parece  que a relação é mantida por um braço de ferro constante e isso é sinal de que é hora de mudar. O oposto disso, mas não menos relevante, acontece quando a presença da outra parte passa a ser irrelevante.

8- As pessoas não admitem suas fraquezas

Demonstrar vulnerabilidade é um dos grandes sinais de que você confia na outra parte e se sente protegido (a) e seguro (a) perto dela. Se existe uma necessidade constante de autoafimação isso é um indicativo de que a entrega não é genuína e pode ser um sinal de alerta.

9- A pessoa que está ao seu lado é incapaz de sentir empatia pelos seus sentimentos.

Quando nos relacionamos esperamos que a outra parte tenha simpatia por nossos sentimentos. Não é necessário que as partes concordem com tudo (isso seria impossível), mas demonstrar empatia com o ponto de vista e sentimento do outro mostra maturidade emocional e respeito: principais ingredientes das relações saudáveis.

10- Vocês sempre estão brigando, terminando e voltando em seguida.

Um ciclo vicioso de términos e voltas pode indicar uma relação adoecida. É preciso analisar se o que mantém esse círculo é realmente afeto ou se são sentimentos como carência, dependência afetiva ou mesmo uma retroalimentação de uma relação abusiva.

Se você se identificou com alguns dos itens mencionados acima, lembre-se de que você sempre pode procurar e aceitar ajuda. Converse com pessoas da sua confiança ou busque orientação psicológica. Também não se esqueça de que não é vergonha estar em sofrimento. Nesse momento muitas outras pessoas estão passando por isso. O importante é saber que é possível mudar.

Imagem de capa:  klublu/shutterstock

Tudo o que deixamos de dizer vai se tornando Adeus

Tudo o que deixamos de dizer vai se tornando Adeus

O silêncio será a melhor pedida em muitos momentos de nossas vidas, principalmente quando estivermos nervosos e contrariados, ou quando estivermos sendo importunados por gente sem importância. No entanto, deixar de dizer o que deveria ter sido dito em alto e bom tom, a quem nos ama de verdade, pode nos trazer arrependimentos futuros, quando o outro não estiver mais ali ao lado.

O tempo não para, a vida corre e escapa aos nossos planos, às nossas certezas, trazendo imprevistos que desarranjam tudo aquilo que planejamos, plantando incertezas em nossos jardins, tornando-nos suscetíveis a quebras de expectativas constantes. Nada é certo nessa nossa jornada, ninguém nem nada serão para sempre. Um de repente inesperado pode mudar do avesso nossas vidas, assim, sem mais nem por quê.

Quando, então, a gente se vê sem aquela pessoa que tanto amamos ao nosso lado, tem que lidar com essa ausência, que dói, que machuca, que bagunça toda a carga emocional aqui dentro. O que em muito nos ajudará a prosseguir com esse vazio serão as lembranças de tudo o que compartilhamos com quem se foi, pois o amor é o que fica, quando tudo o mais se vai.

Por isso é que não podemos silenciar o amor que sentimos, a gratidão que nos invade, a felicidade que nos preenche, porque regar sentimentos é uma necessidade diária, para que mantenhamos sempre por perto quem nos é especial. Tudo o que calamos, tudo o que não dizemos, vai se tornando adeus, vai afastando quem não recebe de volta a verdade que traz junto de nós. As pessoas se cansam de terrenos áridos e tomam a iniciativa de sair dali. E a gente fica sozinho, remoendo tudo o que deveria ter sido dito e feito e demonstrado.

Uma das piores sensações que existe é perceber que já é tarde demais, porque o que não tem volta nunca será mudado. Expressarmos o que sentimos, deixando bem claro às pessoas queridas o quanto elas são importantes em nossa vida, o quanto somos gratos, fará um bem enorme, tanto para nós quanto para quem receber o nosso carinho explícito. É assim que a gente consegue sobreviver às perdas e aos rompimentos dessa vida. É assim que os adeuses se transformam em doces e esperançosos “até breve”.

Imagem de capa: pecaphoto77/shutterstock

Sinto que alguns “eu te amo” podem sair não só da boca pra fora, como também do ego pra fora

Sinto que alguns “eu te amo” podem sair não só da boca pra fora, como também do ego pra fora

Sinto que alguns “eu te amo” podem sair não só da boca pra fora, como também do ego pra fora. Há um certo “eu te amo” que não significa um amor pela pessoa, mas o amor pela forma que se é amado.

Há uma confusão aí. Quando se diz eu te amo, a palavra amor entra em jogo. Ele é verbo de ação. Porque quem ama cuida, respeita, protege, ampara, encoraja, anima… É presente, é presença.
Mas e quando muito disso não existe numa relação? Nesse caso, eu vejo apenas o amor por uma forma e não por um ser.

É fácil detectar. A falta de algumas frases podem ajudar a perceber esta ideia “você está bem?”. “Como foi seu dia?” ” “Está melhor hoje?” “Ta precisando de alguma coisa?”

O amor tem dessas coisas- de cuidado, carinho, interesse, real entrega. Se não vejo essa sutileza, pra mim não configura amor, configura armadilha. Dizer “eu te Amo, e ser vazio de atitudes concretas com o ser “amado” é contraditório.

Muitas vezes, a pessoa ama a forma como é amada – ama o cuidado, o carinho, o movimento do parceiro em sempre atender e estar perto, ama o amor do outro por ele, mas não necessariamente o ama de fato.
Dá pra compreender?

É importante sentir a maré. Perceber os gestos, o interesse para não ficar nessa de viver uma carência afetiva sem real interesse.

É fácil dizer TE AMO, mas atrás dessas lindas palavras que estremecem o coração é importante acompanhar o carinho, atenção, afeto e cuidado.

Sinto diversas relações vazias preenchidas de falso amor.

Digo isso apenas para compreender que amor não é apenas um bom sexo e uma noite gostosa juntos. Amor está na relação que se constrói no dia-a-dia. No querer bem, no estar por perto mesmo que distante e saber que existe um bom parceiro pra vida, para diversos momentos.

Eu te amo não é contrato de alma nem de serviço. É um sentimento real e construtivo.

Saber que é amado é entender que alguém está junto pro que der e vier! E não apenas para ser amor e objeto de desejo.

Imagem de capa: Teresa Yeh Photography/shutterstock

Quando desistir, desista por completo

Quando desistir, desista por completo

Temos, muitas vezes, medo de desistir das coisas e das pessoas, porque pensamos que talvez não consigamos sobreviver longe daquilo tudo. Preferimos, assim, perpetuar a dor a cortá-la de uma vez por todas, por medo de sofrer. No entanto, dessa forma mantemos um sofrimento diário junto de nós. Se vamos sofrer de qualquer jeito, que seja pela partida da dor.

Não raro, nos relacionamentos amorosos, por exemplo, os casais rompem e voltam, repetidamente, não exatamente por sentirem falta do amor do outro, mas simplesmente por temerem não se acostumarem com a nova vida longe do parceiro. O que une duas pessoas deve ser sempre o amor, nunca uma hesitação, mas sim uma certeza. Permanecer ao lado de alguém por comodismo é muito pior do que estar sozinho, pois dessa maneira se opta por uma solidão acompanhada.

Isso se dá também em relação às amizades. Existem pessoas que se afastam e se reaproximam de um amigo, inúmeras vezes. Forma-se, assim, um ciclo vicioso: confia-se, decepciona-se, afasta-se, reaproxima-se e começa tudo de novo. Trata-se, nesses casos, de autoestimas fragilizadas, que precisam se sentir amadas a todo custo, enquanto ocorre a banalização do amor próprio e do perdão, já que, dessa forma, deve-se desculpar o outro sem parar.

Na verdade, quando temos muitas dúvidas em relação a algo, possivelmente quer dizer que aquilo não está trazendo alegria para nossas vidas, afinal, o que é verdadeiro sempre carrega certezas, carrega inteireza e completude. Se não tivermos certeza, é preciso tomar distância, para que possamos analisar a real significância daquilo em nossa jornada. E isso requer tempo, coragem e determinação.

Fato é que o que permanece com verdade em nossas vidas não traz dúvida alguma; se houver hesitação, é necessário parar e tomar uma atitude segura quanto ao que incomoda, o que, muitas vezes, implica desistir de uma vez por todas. Daí a importância de se entregar por inteiro ao que temos, para que não temamos desistir por completo quando precisarmos.

Imagem de capa:brickrena/shutterstock

Você anda levando pedradas? Isso pode ser um ótimo sinal!

Você anda levando pedradas? Isso pode ser um ótimo sinal!

A troco do quê alguém sacudiria os galhos de uma goiabeira seca, caso houvesse bem ali perto uma outra goiabeira carregada de frutas suculentas e prontas para serem colhidas e degustadas?

Ahhhhh… você não é lá muito chegado em goiabas? Tudo bem. Troque a goiabeira por uma jabuticabeira, uma mangueira, uma amoreira – a fruta é escolha sua – o sacrifício que pretende empenhar para obtê-la, também.

Uma coisa, no entanto, é fato indiscutível: quem já provou de uma fruta no pé, aquela fruta que teve o tempo do tempo para cumprir sua história, e encontrar a doçura na madureza natural do seu ciclo de vida, há de achar que essas coisas insossas e com gosto de sabão, que anda comprando no supermercado é tudo, menos fruta de verdade.

Assim como é inigualável a experiência de comer, chupar ou morder uma fruta de verdade, é extraordinária a oportunidade de conhecer e conviver com gente de verdade. Aquela gente que tem mais sumo que casca e bagaço; aquela gente que faz a nossa fé na humanidade volta a criar vida.

Gente frutífera! Dá até pra imaginar algumas dessas pessoas iluminadas que cruzaram o nosso caminho na vida, vertendo framboesas em vez de palavras, mestres com cabelos em cachos de uva, cuja sabedoria invade a alma da gente e se converte num vinho raro, daqueles que fazem a gente fechar os olhos pra aproveitar melhor a intensidade do sabor, a violência benigna das sacudidas em nossas certezas e a embriaguez reveladora de uma existência que andava amortecida em camadas de poeira.

Não há razão para se sacudir árvores secas, porque ninguém está interessado em agregar secura aos dias. Nossos dias já tem potencial insuspeito para permanecerem secos por conta própria. Nós é que temos que teimar em cavar bem fundo à procura de fontes limpas, ou andar sem preguiça em viagens de descoberta por rios infinitos de sabedoria e mares cheios de promessas, aventuras e perigo.

Porque uma vida sem perigos é uma vida seca. Não vale o esforço de acordar e se arrastar para além da cama, quando não se está disposto a correr o risco de descobrir que estamos muito longe de alcançar os sonhos.

E os sonhos são essas frutas maravilhosas, ainda não foram contaminadas pelos venenos dos homens e mulheres. Os sonhos são o desjejum dos corajosos. Gente corajosa sonha com o impossível. E não corre atrás de nada, porque correr atrás é perseguir; e perseguir cansa, humilha, coloca a gente num lugar atrasado, um lugar onde se come poeira dos outros.

Gente que brota frutos e verte sumos e não tem medo de amadurar pra retornar à terra e se realimentar de si mesmo… Ahhhh… gente assim assusta os acovardados, os invejosos e os preguiçosos. Gente assim, desperta no outro um incômodo ardido e o desejo de ter o que não se conquistou… tomar. Sacudir os galhos alheios para ter a posse daquilo que não se foi capaz de produzir.

Sendo assim… se você anda levando muitas pedradas… isso pode ser um bom sinal! Pode ser que suas raízes estejam cumprindo seu papel, de honrar a sua história. Pode ser que seus galhos estejam a rasgar o céu das oportunidades numa altura impossível de ser ignorada. Pode ser que suas folhas andem purificando o entorno de seu mundo, a ponto de tê-lo tornado indispensável. Pode ser que seus frutos estejam encantando aqueles que não acreditavam na sua capacidade de transformação. Então… comemore as pedradas! Ou você preferia estar no lugar daqueles que precisam apedrejar?!

Imagem de capa: BLACKDAY/shutterstock

Ela não é inteira para qualquer um

Ela não é inteira para qualquer um

Ao contrário do que imaginam, ela não é inteira e entregue para qualquer sorriso. É preciso muito respeito, atenção e originalidade para que ela seja alguém com quem se possa contar. A sua parceria não foi feita para afetos contados. Com ela é assim, reciprocidade ou nada.

Ela aprendeu no passado que não dá para confiar amor sem uma via de mão de dupla. Ela foge dessas promessas clichês. Por uma noite, ela até pode mostrar quem é de verdade. Mas só quando quer e com quem quer. Nada disso é garantia de um futuro. Sim, o dia seguinte importa. Os detalhes não escapam de vista do seu coração. Não tem um jeito fácil de conquistá-la. Se você acha que umas poucas doses de carinho farão com que ela atenda o seu chamado, desculpe. O encanto pode ser intenso, mas sem uma manutenção diária e sadia dos gestos realmente importantes, que pena, você vai perdê-la.

Porque antes dela ser esse presente bem-vindo, muitas cicatrizes ficaram. A sua pele ainda guarda marcas sutis dos amores insensíveis e das companhias que abusaram da falta de sinceridade. No que diz respeito ao estado da sua alma, aprendizados de sobra. Sejam com quedas, lágrimas e decepções na forma de metades, ela conseguiu superar cada obstáculo emocional para se tornar livre. Logo, não é com qualquer papo furado que ela esquecerá os próprios caminhos.

Se você honestamente deseja saber mais das suas lacunas e pontos finais, pergunte. Não faça jogos. Não tente dar uma de esperto pra cima dela. Leveza é o sobrenome que ela está disposta a receber de alguém. Mais uma vez, é reciprocidade ou nada.

Ela não é inteira para qualquer um. Ela demonstra o seu melhor lado com quem valoriza a sua companhia e com quem não mendiga amor para dois. E não, ela não é tão exigente quanto você pensa. Ela está mais para uma moldura das suas maiores percepções, somas e, principalmente, dos versos claros e simples que transbordou até aqui.

Imagem de capa: L’Amant d’un jour (2017) Dir. Philippe Garrel

Atração física não basta, tem que haver atração mental

Atração física não basta, tem que haver atração mental

Algumas pessoas nos atraem, de primeira, somente pela aparência, sem nem sabermos explicar o porquê direito. É a chamada atração física, que, muitas vezes, aproxima as pessoas, de início, para aventuras iniciais. No entanto, caso o físico não nos revele uma essência interessante, o relacionamento não dura, não se sustenta.

Embora, hoje, as aparências e superficialidades sejam supervalorizadas, em meio à rapidez que permeia todos os setores de nossas vidas, tornando-nos como que robôs ligados no modo automático, na maioria das vezes insensíveis, não existe relacionamento capaz de sobreviver somente pautado sobre a materialidade. Se sobreviver, será aos pedaços, desconexo, inverídico.

Viver não é fácil, ainda mais com as dificuldades que crescem a cada dia, ou seja, sem que tenhamos alguém que nos receba com verdade e transparência, ao final do dia, tudo ficará pior. Os pesos de fora então se acumularão aos que nos aguardarão no lar, onde o amor não estará. Ou ficamos com a nossa própria companhia, ou com alguém que nos seja recíproco, porque, ao menos em nosso tempo livre, teremos que nos distanciar do que é falso, vazio e irreal.

Conviver com alguém requer entrega, partilha, sinceridade, o que não se sustenta sob aparências e frivolidades. Atração física pode até servir para a aproximação, porém, o que faz o amor durar é exatamente o que não se vê, o que é de dentro, íntimo e pessoal. Somente quem se desnuda para além do corpo é capaz de se entregar e de receber sentimentos verdadeiros. A superficialidade é como um muro que barra o que vem de dentro.

O corpo envelhece, a pele enruga, os cabelos vão ficando brancos, a força física se esvai aos poucos, porém, sentimentos verdadeiros e recíprocos permanecem acesos e renovados a cada amanhecer. No final de nossas vidas, o sexo já não fará diferença alguma, mas sim as conversas entre nós e a pessoa amada. E é assim que o amor fica. E é assim que o para sempre não acaba.

Imagem de capa: wavebreakmedia/shutterstock

O raso me dá preguiça. O intenso me fascina!

O raso me dá preguiça. O intenso me fascina!

Dia desses, estava em uma rodinha de bate papo. Ali, os papos variavam, entretanto, não pude deixar de prestar atenção em um comentário que ouvi de uma das pessoas que estavam presentes. Ela disse que nós mulheres nunca podemos deixar claro demais quando estamos gostamos de alguém.

Mesmo discordando, ouvi o comentário, e fiquei na minha. Até por que, mesmo não concordando com algo, temos que respeitar a opinião alheia.

Talvez eu seja transparente demais com meus sentimentos e com as pessoas que os despertaram. Não sei viver as coisas de uma forma rasa, e quando sinto, sinto intensamente. Comigo não existe meio gostar, meio amar, se gosto, gosto mesmo. Se amo, ahhh se amo, a pessoa saberá a qualquer custo, mesmo que seja através de pequenos gestos.

O raso me dá preguiça. O intenso me fascina.

Sou a favor de demonstração de afeto, contudo, deve haver reciprocidade de ambas as partes. Não adianta só um lado demonstrar que se importa. Isso seria falta de amor próprio. O amor deve partir de nós mesmos. Quando aprendermos a nos amar por inteiro, não amaremos alguém pela metade.

Cada um sabe do caminho que percorreu até chegar onde está, porém, cada relacionamento se faz único. Mesmo que o último tenha deixado seu coração em pedaços, saiba que os cacos um dia se juntarão, e você será capaz de amar novamente.

É difícil confiar em alguém após alguns dissabores, no entanto, devemos respeitar nosso tempo. Se sentimos a necessidade de guardar nossos sentimentos, guardamos até o momento que tenhamos confiança em demonstrá-los. Quando sentir confiança novamente, o carinho sairá naturalmente.

E em hipótese alguma, jamais deixe de acreditar que pode ser amado (a) genuinamente.

Um dia você perceberá que cada tropeço, foi uma experiência.

Imagem de capa: alessandro guerriero/shutterstock

Porque é preciso cair para aprender a levantar voo

Porque é preciso cair para aprender a levantar voo

Em um mundo que grita felicidade e sucesso pelos cotovelos, sobretudo nas redes sociais, é difícil falar sobre fracasso e suas inevitáveis implicações. No entanto, por isso mesmo, parece-me que discorrer um pouco sobre esse assunto tão temido é imprescindível.

O fracasso ocorre toda vez que você investe tempo e esforço em um projeto e este dá errado. Como somos seres falíveis, há de se entender que, mais cedo ou mais tarde, todos nós iremos fracassar. Não há como escapar dele. Aliás, até existe uma maneira de não fracassar – qual seja – não ter sonhos e traçar projetos para a vida. Todavia, em que medida podemos chamar de vida uma existência sem sonhos, sem projetos? Talvez, isso ajude a explicar a tamanha “felicidade” que possuímos, uma vez que ao demonizar completamente o fracasso, as pessoas, por consequência, deixaram de sonhar, a fim de não fracassarem. Além do mais, projetos dependem de esforço e tempo, coisas também não muito valorizadas na nossa sociedade líquida.

Entretanto, para os que ainda não sucumbiram à ditadura da “felicidade”, fracassar é um verbo presente na vida, o que me leva a escrever esse texto, sendo eu um fracassado por excelência. Antes de mais nada, uma pergunta precisa ser feita: os fracassos nos levam à felicidade? Não. Desculpem-me, mas estaria mentindo se dissesse que sim. Porém, a bem da verdade, eles nos levam, caso saibamos aprender, a um elemento fundamental para que se possa ser feliz: o autoconhecimento.

A meu ver – e isso não é a verdade absoluta, portanto – para que o sujeito possa ser feliz é necessário que ele se conheça verdadeiramente, a fim de que possa buscar no mundo aquilo que realmente lhe apraz e traz alegria a sua alma. O fracasso entra nesse processo por ser da sua característica a solidão. Sim, o fracasso é por natureza um ser solitário e isso ocorre, entre outras coisas, por ser extremamente difícil, para os que nos cercam, entender como nos sentimos ao não conseguir realizar algo que planejamos durante tanto tempo e trabalhamos duro para que acontecesse.

Falta empatia nessas horas (e em tantas outras) para que se entenda de que forma um fracasso abala a estrutura emocional de uma pessoa, acima de tudo, em um ambiente tão hostil a ele, como o nosso. Desse modo, nesses momentos de fracasso, de um lado há a dor de perceber-se em muitas situações sozinho; mas de outro, essa solidão pode permitir que entremos em contato com o nosso interior sem interferências externas, analisando o que realmente queríamos, o que queremos e de que maneira devemos buscar esses desejos.

Sendo assim, o fracasso, por meio da solidão, pode levar ao autoconhecimento, que nos permite conhecermo-nos melhor, pois muitas vezes é preciso ir até o subterrâneo para, então, saber o que precisamos fazer na superfície. Esse processo de autoanálise, embora doloroso, mostra-nos maravilhas escondidas (ou não percebidas) em nosso caminho, bem como, leva-nos ao encontro de uma felicidade mais profunda e verdadeira, já que é fruto de algo latente no mais profundo do nosso ser, lugar em que se guardam as verdades.

Ninguém gosta de cair, entretanto, às vezes isso é importante para que possamos nos reencontrar e amadurecer. Sei o quanto fracassar é doloroso, triste, cria medos e ansiedades, mas é desse turbilhão de emoções que somos constituídos e é preciso aprender a lidar com eles, tornando-os nossos amigos — assim como as alegrias — para que possamos aprender, ouvir o que eles têm a nos dizer e criar novas rotas, novos caminhos. Afinal, nunca há um só caminho para o que se deseja, até porque, no meio do caminho os desejos podem mudar e, então, buscar novos roteiros é inevitável.

No fim das contas, de fracasso em fracasso ninguém se torna feliz. No entanto, podemos nos tornar mais fortes, porque estamos mais próximos do que somos essencialmente e isso possibilita que saibamos em que lugar aquilo que a nossa alma precisa se encontra, mesmo que seja um novo fracasso, uma nova busca interior e uma nova aprendizagem.

Os fracassos levam a ultrapassagens e as ultrapassagens a descobertas. A felicidade, por sua vez, não está nem um ponto, nem em outro; ela está no caminho que se faz até que novas descobertas sejam projetadas, no mundo externo e no mundo interior. Precisa-se conhecer a infinidade do universo, para que se conheça a infinidade de alegrias presentes cotidianamente entre os fracassos e os sucessos.

Imagem de capa: areebarbar/shutterstock

Sou da época em que demorava pra gente pegar na mão de uma garota

Sou da época em que demorava pra gente pegar na mão de uma garota

“Naquela época, da paquera ao primeiro beijo, era como organizar um evento.” (Allê Barbosa)

A minha infância durou muito, comparada à de meu filho. Eu brinquei na rua, na casa de amigos, nas pracinhas do bairro, ia ao clube nadar, jogar bola, sem nem pensar em namoro, até praticamente o fim do ginásio. A infância durava mais, bem como os brinquedos. A gente herdava brinquedos e roupas de nossos irmãos.

Como fui o caçula de seis filhos, eu raramente tinha o primeiro algo, porque a bicicleta, os brinquedos, os jogos de tabuleiro e até os livros escolares já tinham sido usados pelos irmãos mais velhos. Lembro-me de brincar com o Falcon, com Playmobil, de jogar piorrinha, de rodar pião e de jogar bolinhas de gude na saída do grupo, mesmo após os onze anos. Hoje, com onze anos, já vejo crianças preocupadas com namoro.

É incrível como tudo durava, desde móveis, utensílios, até brinquedos. Várias gerações utilizavam os mesmos produtos. Os móveis da casa de meus pais eram aqueles de quando eles casaram. Acho que talvez seja essa uma das razões de os sentimentos também terem sido mais duradouros naquela época, porque amizade costumava ser para sempre e os casais lutavam mais para ficarem juntos.

Hoje, nada dura, nem roupa, nem cadeira, nem carrinho de brinquedo, nem sentimento. É necessário consumir, é preciso comprar, afinal, os modelos vão se tornando antiquados e novidades são lançadas num piscar de olhos. Nada dura o bastante, o que, infelizmente, acaba ocorrendo também no plano afetivo, no tocante às relações humanas. A necessidade de compra acabou contaminando os sentimentos, que passaram a ser comprados também.

Da mesma forma, essa velocidade desmedida que permeia os nossos dias acaba nos distanciando da necessidade de nos demorarmos, em certos momentos, em determinadas ocasiões, junto a pessoas especiais. Parece que tudo tem que ser já, para ontem, inclusive o amor – daí a conquista quase nem mais existir, infelizmente. Com isso, muitos casais apressam-se e se esquecem de se conhecerem de fato antes de tomarem decisões de vida.

Logicamente, é utopia querer que voltem os comportamentos de outrora, uma vez que o mundo sempre segue e se moderniza, tornando os costumes algo a ser também transformado, afinal, não caberiam, hoje, muitas atitudes que eram comuns lá atrás. Mesmo assim, o amor ainda deve ser algo desenvolvido com cuidado, tempo e disposição, refletido e levado a sério.

Amor requer demora, comprometimento e dedicação, pois é dele que se alimentam os nossos mais belos sonhos de vida. É o amor que nos ajudará a não cair, sempre que a vida disser não. Demoremos, pois, ao menos no amor.

Imagem de capa: Vasilyev Alexandr/shutterstock

Quem quer se joga. Quem não quer faz jogo.

Quem quer se joga. Quem não quer faz jogo.

De repente eu pensei em você. Do nada, andei pensando em você que já não sei onde anda. Lembrei das nossas coisas, nosso tempo, nosso jeito. Refiz comigo nosso primeiro passeio, na chuva, nosso Réveillon em casa, nossa única sessão de cinema. Lembrei da gente, assim, sem mais. E acho que foi justa a nossa conduta, nosso juízo, nossa iniciativa de seguir em frente, resolutos, nossos caminhos opostos. É assim que é.

Fomos breves, quase tanto quanto breve é a vida. Passamos um pelo outro feito cometas em direções opostas. Corpos celestes que um dia se cansaram de girar em torno do sol e decidiram sair do rumo e olhar a lua juntos. Rebeldes, deixamos nossa via certa, circular e eterna por um zigue-zague esquisito de pequenos erros entre as estrelas. Belos e breves no espaço infinito em que vive uma lembrança boa.

Nosso voo vertiginoso e fugaz riscou o céu de luz, mudou os ciclos lunares, bagunçou a casa dos astros. Você e eu estremecemos tudo, deixamos no infinito nosso rastro luminoso de ternuras e afetos. Depois partimos leves, felizes, soltos, melhores, um para cada lado do firmamento.

Fossem os amores eventos previsíveis e fáceis de classificar por seu tempo de duração, o nosso seria nada mais do que breve e bonito feito os cometas e sua passagem. Fomos breves, repentinos, imediatos. E ficamos um no outro para sempre. Porque assim quisemos, porque nos jogamos e vivemos com verdade. Sem jogos, sem dramas, sem medos. Você sabe: quem quer se joga. Quem não quer faz jogo.

Imagem de capa: Jurij Krupiak/shutterstock

Se um dia você for embora, avisa

Se um dia você for embora, avisa

Se um dia você for embora, avisa. Avisa que eu vou chorar no banho toda minha tristeza e sair dele leve, carregada de gratidão por ter um dia te conhecido.

Vou usar meu vestido mais bonito, um com uma textura suave. Passar na boca meu melhor batom e vou clarear minhas vistas com a beleza das últimas chances.

Vou te olhar demorado e guardar na memória o esplendor desses olhos tão lindos. Vou me dar a chance de tocar seu rosto com meu toque mais carinhoso e marcar sua boca com meus beijos mais desejosos.

Se um dia você for embora, avisa. Avisa que eu vou sentar ao seu lado e ouvir suas histórias como quem ouve um segredo daqueles que a gente carrega no peito até o último suspiro.

Se você for embora, avisa. Avisa que eu vou fazer questão de reviver nossos risos largos para recordá-los nos momentos de tristeza e solidão. Se você for embora um dia, avisa. Avisa que eu quero poder respirar você em um abraço de almas e te lembrar sempre que me perguntarem qual o cheiro da vida.

Se um dia você for embora, avisa. Avisa para eu acalmar meu coração acelerado e beber todas as suas palavras como quem bebe o vinho mais gostoso, como quem mata com alegria a sede de uma vida de amores contidos.

Se um dia você for embora, avisa. Avisa que eu vou te entregar meu corpo e dentro dele meu coração embalado, para que você um dia possa desembrulhar meu sentir e perceber que o tempo não diminuiu meu desejo por ti.

Se um dia você for embora, avisa. Avisa que eu vou preparar meu adeus como quem prepara uma cama e vou deitar para você todo meu amor. Me avisa que eu vou te levar até a porta e te contar que, mesmo indo, você vai ficar pra sempre no melhor de mim.

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Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

Envelhecer: glórias e batalhas de toda uma vida

Envelhecer: glórias e batalhas de toda uma vida

Embora envelhecer seja um processo natural do qual ninguém escapa, a ânsia por se manter jovem ainda rouba o sono de muita gente. Isso explica os milhões de procedimentos estéticos de retoque e reboco realizados anualmente pelo mundo. São cirurgias, aplicações de botox, peeling, luz pulsada, ácido hialurônico e por aí vai.

Procedimentos que servem para recauchutar e também para dar a ilusão de que o tempo não passou e de que o fim não está assim tão próximo.

Até aí, tudo bem. Afinal, vivemos para tentar esquecer que vamos morrer em algum momento. Jogamos, bebemos, cantamos, gritamos e por um momento ou dois esquecemos que somos mortais.

“A velhice é uma batalha, meu querido, quando não é uma coisa, é outra. Uma batalha implacável, justamente quando você está mais fraco e mais impossibilidade de enfrentar a luta como antes”, escreveu o escritor americano Phillip Roth no livro Homem Comum. Mais adiante, ele complementa: “A velhice não é uma batalha, a velhice é um massacre”.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 19 milhões de idosos na faixa de 80 anos devem engrossar o caldo da população do país até 2060. Difícil dizer com certeza como será a qualidade de vida que espera por essas pessoas. Mas, se levarmos em conta as condições atuais, não vem coisa boa.

Embora o panorama não pareça dos melhores, ainda mais para quem partilha do pensamento nada otimista de Roth, há quem insista em lançar um olhar positivo sobre o processo de envelhecimento. A pergunta que essas pessoas normalmente trazem é: não estaria na hora de revermos o antigo paradigma da idade, onde nascemos, crescemos e daí vamos ladeira abaixo em direção à decrepitude e à morte?

Numa interessante e bem-humorada palestra ao TED, em 2011, a atriz, escritora e ativista política Jane Fonda descortina alguns aspectos daquilo que prefere chamar de o terceiro ato da vida, que corresponde às três últimas décadas da vida de alguém.

“Talvez a tarefa do terceiro ato seja terminar a tarefa de encerrar a nós mesmos”, argumenta a atriz agora octogenária (na época da palestra, Fonda tinha 74 anos) que há muito tempo é símbolo de independência e empoderamento entre as mulheres. Ou seja, envelhecer é colocar alguns pontos finais em certas questões e se completar, alcançar certa plenitude.

Para Jane, esse período da vida é o mais propício para uma séria e profunda reavaliação do que passou. “Talvez o objetivo principal do terceiro ato seja voltar e tentar, se apropriado, mudar nossa relação com o passado”, sugere. Uma atitude que pode levar até mesmo a um reajuste de nosso funcionamento neural, segundo ela. “Não é ter experiências que nos torna sábios, é refletir sobre as experiências que tivemos”, arremata ao fim da apresentação.

A ideia de uma velhice plena não é tão popular. Também pudera. Afinal, são décadas de desencorajamento. Anos e mais anos de discursos onde o avanço da idade representa regressão, doença, esgotamento e inutilidade. É claro que existem os fatores genéticos, dos quais é praticamente impossível escapar dado o cenário científico atual. Porém, não é apenas por eles que devemos nos guiar.

Em 2013, o neurologista e escritor inglês Oliver Sacks escreveu “Mercúrio”, o primeiro dos quatro ensaios que compõem o livro Gratidão. Escrito quando estava prestes a completar 80 anos, época em que ainda não havia sido diagnosticada a metástase no fígado que o levaria à morte dois anos depois, o texto narra os pequenos deleites do que costumamos chamar de velhice, assim como algumas das suas dificuldades, sem fraquejar.

“Beirando os oitenta, com esparsos problemas de saúde e cirurgias, nenhum deles incapacitante, me sinto feliz por estar vivo — ‘Estou feliz por não estar morto!’ é uma frase que às vezes irrompe lá dentro de mim quando o tempo está perfeito”, revela com a graciosidade literária que lhe rendeu inúmeros admiradores ao redor do mundo.

E com essa mesma graça que o tornou um dos grandes divulgadores científicos de nosso tempo, descreve como, já nessa idade, começou a sentir uma “expansão da vida mental e da perspectiva”, ao invés de uma redução e encolhimento de suas forças. “Nesta altura já tivemos uma longa experiência de vida, não só da nossa, mas também da de outros”, justificou Sacks – o homem que viveu seu terceiro ato lutando contra os seus medos e construindo a si mesmo até o fim.

Quanto mais formos capazes de encarar a velhice como continuidade, mais estaremos preparados para entender o que significa chegar ao fim. Dessa perspectiva, envelhecer pode ser bem mais do que simplesmente esperar.

Imagem de capa: Reprodução

Hoje vou sair pro mundo e ser eu

Hoje vou sair pro mundo e ser eu

Hoje vou sair pro mundo sendo eu. Nada de sorrisos forçados. Nada de esconder os “bom dias” com um mau humor matinal. Vou ser prazerosamente eu. Vou viver cada pedaço de mim, provando o mundo como quem come figo maduro lambuzando, com indecência, a boca e as mãos.

Vou dispensar os talheres. Descartar todo e qualquer estereótipo e amar de forma desmedida. Esquecer daqueles cálculos que dizem que tem hora certa pra dizer que a gente ama ou que a gente não quer mais.

Vou fazer valer as minhas vontades e vou colocá-las acima das impressões dos outros. Vou recusar as neuras tolas daqueles que enlouqueceram e dizer que meus braços estão cansados de carregar coisas que não são minhas.

Vou filtrar o mundo com a cor dos olhos meus e mergulhar na vida de cabeça. Vou amar do jeito mais carinhoso e abraçar como se não houvesse amanhã.

Vou devorar a minha ansiedade e esperar. Vou esperar a fome vir e a fome passar. Vou esperar até quando eu quiser. Vou me sentar e levantar quando tiver vontade. Vou beber com ou sem companhia. Sorrir com as histórias que me contam e passear despreocupada pelas minhas próprias histórias.

Vou inventar um novo mundo. Um que seja perfeito para mim. Um mundo no qual eu caiba inteira. Um em que eu me encaixe confortável e feliz. Um no qual eu seja amada da forma como sou. Com minhas qualidades e defeitos. Vou sonhar um mundo terno. Que me dê colos e sussurros, no lugar de empurrões e gritos. Vou sonhar e acreditar que existe por aí um canto perfeito para mim. Uma cadeira desenhada para acolher perfeitamente meu corpo e um caminho aquecido para receber meus pés.

Vou acreditar no melhor para mim. Vou buscar os encantos da vida que se escondem onde menos esperamos. Vou passar os olhos por tudo e não vou abrir mão daquilo que me faz bem. Vou acreditar que pode ser real aquilo que apenas os sonhos alcançam.

É que passou o tempo da indiferença. Cansei de dormir no chão frio e dizer que está tudo bem. Acabou o tempo de usar peneiras para estancar o sol. Findou o tempo de morrer devagar e em silêncio. Agora eu quero gritar vida. Eu quero respirar vida. Hoje eu vou sair pro mundo e ser, unicamente, eu.

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Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

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