Temos medo de que nas cidades?

Temos medo de que nas cidades?

O livro Confiança e Medo na cidade de Zygmunt Bauman propõe uma reflexão da nossa vida nas cidades, onde a arquitetura de aglomerados contribuem com o isolamento urbano, deixando as pessoas presas em si mesmas pelo medo dos outros. E leva a cada um de nós a questionar: Temos medo de que nas cidades?

Muitas cidades tornaram-se segregacionistas, que isola os espaços urbanos de acordo com a hierarquia social, ou seja, entre as classes ricas, a classe média e as classes mais baixas. Viver nessas cidades cria uma sensação de pânico e solidão, mesmo que o perigo possa ser fantasiado. Mas isso não diminui a ansiedade, o que a agrava ainda mais a expectativa de ameaça.

Estamos vivendo em cidades em que o sentimento de desemparo é recorrente. Além disso, somos espremidos pelos padrões de vida e beleza, pelas condutas violentas, pelas coerções religiosas e morais, pela crise política e econômica. Esses padrões são raramente, impossíveis de serem atingidos, pois negam o que temos de mais transcendente: a nossa singularidade.

Esse modelo de urbanização é um dos principais fatores para produzir um estilo de vida neurótico, que amplia a dinâmica do consumismo, da reprodução de centros residenciais e comerciais, com o objetivo de atender os interesses do sistema financeiro: “de uma vida boa para minoria e de uma vida ruim para maioria”.

Por isso, que têm pessoas que ao sair de casa necessitam tomar ansiolíticos e outras convertem suas casas ou condomínios em fortalezas e veículos em blindados, tornando os custos da qualidade de vida nas cidades altíssimos, visto que a vida privada se apropria da vida coletiva.

É evidente que a violência urbana tem aumentado o “medo neurótico”, que dispara o coração, acelera a respiração, esfriam as mãos, além de alterar o nosso estado emocional. Esse medo de coexistir nas cidades marcará a nossa memória, mesmo em uma situação de perigo real ou fantasioso.

Hoje é um ato de coragem viver nas médias e grandes cidades brasileiras, uma vez que o acesso ao trabalho, estudo, lazer, etc, está permeado pelo medo da violência urbana. Homens, mulheres, crianças e adolescentes da classe trabalhadora e média têm suas vidas ceifadas pela violência urbana, porque o Estado é incapaz de garantir a segurança da população, sobretudo dos pobres.

Enquanto isso, a corrupção na política colabora para arruinar o país, como é o caso do Rio de Janeiro. Nesse cenário, o poder econômico fala mais alto do que os interesses dos cidadãos, retirando o direito à cidade, que acabou tornando-se um dos direitos mais negligenciados no Brasil, permitindo que o crime organizado controle as comunidades e avancem sobre os demais espaços urbanos.

Enfim, precisamos reverter essa lógica de urbanização, que gera adoecimento dos seus cidadãos, notadamente dos mais vulneráveis, garantido que as cidades sejam inclusivas e confiáveis, afirmando o direito da população de gerir o processo urbano, em oposição aos interesses de empresários inescrupulosos e governos corruptos.

Imagem de capa: WeAre/shutterstock

O amor tem um fraco por pessoas fortes.

O amor tem um fraco por pessoas fortes.

Sim, o amor vem pra cada um. Mas ele adora gente que não senta e aguarda. Acredite. O amor está no caminho, no passo a passo, no movimento de que também se faz a espera.

Eu tenho a impressão de que o amor acha bonito quem vai em frente, quem se empenha, se orienta e se apruma, quem melhora como pode e evolui de seu jeito, cai, levanta, aprende. O amor se encanta por gente que vai pra vida, porque o amor está na vida!

É isso, sim. O amor é uma força viva e tem um fraco por pessoas fortes, por gente ativa, operária, realizadora, honesta. O amor adora gente cheia de vida!

Pode ver. Nenhum amor suporta pasmaceira, paralisia, estagnação. O amor exige movimento, trabalho, renovação, não suporta poeira, não aceita esperar num canto esquecido, pendurado feito medalha de honra ao mérito apanhando pó. Precisa mexer o esqueleto ou atrofia, enferruja, paralisa e morre.

Amar é um ofício das pessoas vivas! Infeliz de quem espera o amor chegar feito correspondência, encomenda, pacote que cai por acaso da bolsa do carteiro em frente ao seu portão. O amor é encontro. Implica pessoas que circulam e sem mais se cruzam. Tropeçam umas nas outras, param um instante e, se tiver de ser, seguem caminhando juntas.

O amor pode chegar de repente, sim. Mas só para quem vai buscá-lo. Só a quem faz por merecê-lo. Quem senta e espera o amor chegar se contenta com o que vem. E o que vem assim, de graça, quase sempre não é bom. Gente que vive de espera prefere pegar o que tem, deixar como está e viver reclamando, à espera de que um amor melhor chegue do nada, o mesmo amor que ela é incapaz de fazer por merecer, incapaz de sair em busca. Prefere esperar sentada para sempre.

Eu, hein! Eu não. Eu prefiro perambular por aí. Uma hora nos encontramos numa esquina e seguimos adiante, juntos, se tiver de ser. É o que nos cabe, o que nos mantém na vida. Seguir em frente com leveza e com força. Porque o amor, ahhh… o amor tem um fraco por gente forte.

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11 regras de ouro para dialogar com pessoas complicadas

11 regras de ouro para dialogar com pessoas complicadas

Por Svetlana Roiz

É sempre possível chegar a um acordo. Até mesmo quando você acredita que os pontos de vista das pessoas são totalmente diferentes, seus interesses são incompatíveis e que encontrar um consenso não passa de um sonho.

Trazemos um artigo da terapeuta familiar Svetlana Roiz sobre as 11 regras que vão facilitar a compreensão mútua nas relações dentro da família e no ambiente profissional.

1- Antes de qualquer tipo de contato é preciso se concentrar, da mesma forma que se afinam instrumentos musicais antes de um show. Fique uma posição estável: sente-se ou fique de pé, de forma que sinta suporte e equilíbrio. Comporte-se como um adulto: fale apenas aquilo que é importante para você, que ocupa sua mente e do que você tem certeza. Não esqueça da razão pela qual está estabelecendo um diálogo com a pessoa. Há uma chance de que você seja provocado ou de que tentem ter envolver numa polêmica, então procure um ponto fixo diante de seus olhos, ou um detalhe da roupa (ou pense em algo especial). Isso ajudará você a manter um equilíbrio mental e a sensação de segurança.

2- Antes de começar uma conversa difícil com uma pessoa próxima a você, repita estas palavras: “Estou começando este diálogo para manter contato, para estar junto, e não para discutir“. Lembre-se que o diálogo não é uma batalha verbal, mas uma ferramenta para sintonizar diferentes pontos de vista. Quando você falar com uma criança, mantenha seu olhar no nível dos olhos do pequeno. E depois de uma conversa difícil, diga-a: ”Estou com você”.

3- As pessoas têm o direito de não acreditar em nós, de não nos amar, de não nos compreender e de discordar de nós. Temos de aguentar isso. As verdades são subjetivas. Busque no diálogo uma verdade absoluta, algo que una os dois pontos de vista, algo que esteja por trás das palavras. Isso só é possível conseguir mantendo a calma.

4-Cada qual tem direito à imperfeição, aos erros e às confusões, o que em nenhuma hipótese deve anular o respeito básico com o interlocutor. Lembre-se de que você também pode estar errado, deixe-se guiar. Se respeita a si mesmo, seus rivais e oponentes também irão te respeitar.

5- Cada um tem sua própria linguagem e sua velocidade de reação. Nós entendemos tudo o que escutamos de acordo com nossas experiências subjetivas, pelas quais sempre ’traduzimos’ as frases dos outros para nossa linguagem própria. Não tenha medo de voltar a perguntas. Dê tempo a si mesmo e a seu interlocutor para assimilar e ’digerir’ a informação. Concentre-se em você, expresse seus sentimentos e pensamentos em vez de supor o que pensa seu oponente.

6- Projetamos em nossos interlocutores os nossos pensamentos, sentimentos, desejos reprimidos; e eles também projetam em nós suas ideias. Aprenda a distinguir essas projeções e não permita que afetem sua autoestima.

7- Entendemos de imediato aqueles que estão ’na mesma frequência’ que nós. Use uma linguagem compreensível, mas não baixe a sua ’frequência’. Procure estar sempre na mesma altura dos seus interlocutores com uma ’frequência’ mais alta, mas não se rebaixe ao nível daqueles que querem provocar você.

8- Com pessoas agressivas, você precisa saber se retirar da discussão a tempo, e não levar suas palavras para o lado pessoal. Essas pessoas preferem falar com frases generalizadas, usando o pronome ’nós’ (evitando personificar o discurso), e sabem procurar os pontos mais vulneráveis. Ao entrar em contato com gente passivo-agressiva, que preferem falar nas suas costas e lançar palavras ameaçadoras quando você quer se retirar, procure não se deixar levar pelo sentimento de culpa e responsabilidade que esses tipos provocam. Depois deste tipo de contato, você precisa descansar e recarregar as baterias.

9- Não se rebaixe questionando suas qualidades pessoais, fale apenas sobre dados e acontecimentos. Na tentativa de avaliar o comportamento de alguém, surge a impotência como um último argumento. Se o diálogo se transforma numa disputa e você sente que já não está na mesma ’onda’ que seu alterado interlocutor, use seu senso de humor e inteligência. Lembre de alguma frase célebre. Por exemplo, como dizia Albert Einstein, “Existem apenas duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana. E eu nem tenho tanta certeza sobre o primeiro“.

10- Talvez o mais importante ao falar com uma pessoa seja apelar para sua maturidade e para o senso comum. Isto ajudará a evitar avaliações, provocações e reações desnecessárias. Diga mentalmente ao seu interlocutor ”Eu vejo você“, “Seus pensamentos e sua presença me importam, até mesmo se eu não estiver de acordo com você”.

11- É importante saber concluir um diálogo: ’obrigado’, ’até mais’, quaisquer tipos de palavras que soem sinceras no momento são adequadas. Analise suas conversas já acontecidas e tire delas algumas lições. Uma pessoa segura de si mesma fala abertamente de seus sentimentos, expectativas, agradece a conversa e sabe aceitar e fazer elogios.

Fonte: Incrível

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A medicação excessiva de nossos jovens e crianças

A medicação excessiva de nossos jovens e crianças

A aparente calma produzida por drogas como Ritalina e Concerta, não passam de efeito tóxico!

Precisamos parar de fechar os olhos para uma situação séria e de consequências imprevisíveis: nossas crianças estão sendo medicadas precocemente, sob o pretexto de adequá-las às demandas escolares. Inúmeros são os diagnósticos equivocados acerca de distúrbios de comportamento e dificuldades de aprendizagem. Não raras vezes, a falta de capacidade de acolher e lidar com comportamentos atípicos, leva as escolas e as famílias a interpretarem a criança como alguém que precisa ser formatado, enquadrado e encaixado.

O desrespeito às particularidades cognitivas, emocionais, sociais e familiares dos pequenos, cria uma espécie de consentimento tácito entre todos os adultos envolvidos que, mesmo sem compreender o comportamento da criança, utilizam fórmulas desgastadas, nada educativas e danosas na tentativa impor um padrão de comportamento à revelia dos processos de desenvolvimento e maturação dos recursos intelectuais e afetivos, tão necessários ao estabelecimento de relação entre a criança e as inúmeras habilidades que cabem à escola despender esforços para ajudar a desenvolver.

Com base em diagnósticos de distúrbios neurobiológicos, muitas vezes realizados sem respeitar o protocolo de avalição multidisciplinar, nossas crianças são submetidas à tratamentos por meio de drogas que agem diretamente no Sistema Nervoso Central. Medicamentos que ganharam no meio médico e educacional o sugestivo apelido de “droga da obediência”. Os mais receitados, nem sempre de forma criteriosa, são a Ritalina e o Concerta, para “tratar” crianças e adolescentes dispersos, agitados e com dificuldades de focar a atenção durante as atividades escolares.

O uso desses medicamentos no Brasil é tão banalizado que figuramos em segundo lugar na lista de consumidores da droga, perdendo apenas para os Estados Unidos. Entretanto, vem sendo cada vez mais frequente a manifestação de profissionais da área médica, psicológica e pedagógica no sentido de alertar para que se discuta com mais profundidade a real necessidade da medicação psicotrópica de crianças e jovens.

Precisamos acordar para o fato de que não se trata de uma “balinha de vitamina C”, são drogas cujas reações adversas vão de uma dor de cabeça a arritmias cardíacas e alucinações; sem falar no efeito principal chamado de “Zumbi Like”, em outras palavras, a criança fica apática, contida, agindo como zumbi. Essas reações, assim como outras, tais como hipertensão e insônia são sinais de efeito tóxico e indicam que a medicação deve ser interrompida imediatamente.

A falta de conhecimento aprofundado acerca das inúmeras variáveis que envolvem padrões de comportamento em crianças e adolescentes cria uma falsa e perigosa crença de que os mais irrequietos, agitados e com necessidades especiais para aprender, são doentes. Daí a justificativa para o uso da medicação.

É no mínimo um contrassenso categorizar como doença um comportamento agitado, num mundo em que vivemos imersos na cultura da multitarefa, dos prazeres imediatos e conquistas descartáveis. Enquanto continuarmos a medicar nossas crianças e jovens, de forma tão irresponsável, estaremos jogando no lixo inúmeras pessoas que poderiam ter suas habilidades descobertas e estimuladas. É muito comum, entre as crianças “fora de padrão” encontrarmos verdadeiros talentos para música, artes, ciências, literatura e atividades que envolvam construção e utilização de raciocínio lógico e espacial.

Os processos de aprendizagem são complexos, ricos e subjetivos. É um absurdo compactuarmos com a prática de tantas escolas que reduzem as crianças e adolescentes a meros reprodutores de conteúdos sem significado, repetitivos e descolados da realidade que nos cerca, das inúmeras questões ambientais, sociais e políticas do nosso entorno. Inverter o jogo e a responsabilidade é, para dizer o mínimo, cruel. Em vez de “drogas de obediência” tenhamos a dignidade de oferecer às crianças e jovens a nossa valiosa atenção, busquemos sair das tocas acadêmicas medievais que ainda servem às práticas educativas atuais e criemos situações de aprendizagem que favoreçam o desenvolvimento cognitivo por meio do afeto, do envolvimento e do vínculo de confiança.

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Seja inadequado, porque não se adequar a uma sociedade doente é uma virtude

Seja inadequado, porque não se adequar a uma sociedade doente é uma virtude

A vida contemporânea cheia de regras e adestramento fez com que houvesse uma padronização completa das pessoas, de tal maneira que todos se comportam do mesmo modo, falam das mesmas coisas, se vestem mais ou menos do mesmo jeito, possuem as mesmas ambições, compartilham dos mesmos sonhos, etc.

Ou seja, as particularidades, as idiossincrasias, aquilo que os indivíduos possuem de único, inexistem diante de um mundo tão pragmático e controlado.

Vivemos engaiolados, tendo sempre que seguir o padrão, que se encaixar em normas pré-determinadas, como se fôssemos todos iguais. Sendo assim, a vida acaba se transformando em uma grande linha de produção, em que todos têm que fazer as mesmas coisas, ao mesmo tempo e no mesmo ritmo, de modo a tornar todos iguais, sem qualquer peculiaridade que possa definir um indivíduo de outro e, por conseguinte, torná-lo especial em relação aos demais.

Somos enjaulados em vidas superficiais e nos tornamos seres superficiais, totalmente desinteressantes, inclusive, para nós mesmos. Sempre conversamos sobre as mesmas coisas com quer que seja, ouvindo respostas programadas pelo padrão, o qual nos torna seres adequados à vida em sociedade.

Entretanto, para que serve uma adequação que transforma todos em um exército de pessoas completamente iguais e chatas, que procuram sucesso econômico, enquanto suas vidas mergulham em depressões?

Qual o sentido de adequar-se a uma sociedade que mata sonhos, porque eles simplesmente não se encaixam no padrão? Uma sociedade que prefere teatralizar a felicidade a permitir que cada um encontre as suas próprias felicidades. Uma sociedade que possui a obrigação de sorrir o tempo inteiro, porque não se pode jamais demonstrar fraqueza. Uma sociedade que retira a inteligência das perguntas, para que nos contentemos com respostas rasas. Então, por que se adequar?

Os nossos cobertores já estão ensopados com os nossos choros durante a madrugada. O choro silencioso para que ninguém saiba o quanto estamos sofrendo. Para manter a farsa de que estamos felizes. Para fazer com que mentiras soem como verdade, enquanto, na verdade, não temos sequer vontade de levantar das nossas camas.

O pior de tudo isso é que preferimos vidas de silencioso desespero a romper com as amarras que nos aprisionam e nos distanciam daquilo que grita dentro de nós, esperando aflitamente que o escutemos, a fim de que sejamos nós mesmos pelo menos uma vez na vida sem a preocupação de agradar aos outros.

Somos uma geração com medo de assumir as rédeas das próprias vidas. E, assim, temos permitido que outros sejam protagonistas destas. É preciso coragem para retomá-las e viver segundo aquilo que arde dentro de nós, mesmo que sejamos vistos como loucos, pois só assim conseguiremos sair das depressões que nos encontramos.

É preciso sacudir as gaiolas, já que, como diz Alain de Botton: “As pessoas só ficam realmente interessantes quando começam a sacudir as grades de suas gaiolas”. E, sobretudo, é preciso ser inadequado, porque não se adequar a uma sociedade doente é uma virtude.

Imagem de capa: Orla/shutterstock

Tem gente que quer fazer a revolução mas nunca fez uma gentileza.

Tem gente que quer fazer a revolução mas nunca fez uma gentileza.

Olhe ao redor. Abra a janela, observe lá fora. Estenda os olhos. Espie no buraco da fechadura, ligue a TV, pesquisa na Internet. Em qualquer canto, o mundo anda cheio de gente convencida de que compreendeu o problema da vida.

Assim, tão certos, seguimos diagnosticando mazelas, apontando culpados, ensaiando soluções milagrosas. Convictos de que só uma revolução profunda nos salva. Só um choque violento, um terremoto nos centros do poder, um meteoro apontado para os palácios do governo nos livrarão da sanha dos sanguessugas.

Então, enquanto os milagres não vêm, os gênios de sangue nos olhos repetem palavras de ordem. Greve! Reforma! Revolta! Levante! Mas nada acontece além de tumulto e fumaça, porque somos ótimos em fazer barulho e repetir fórmulas prontas. Mas péssimos em fazer silêncio e pensar caminhos.

E tudo segue assim, no plano do irrealizável. Na dependência do que não depende de mim e de você. Assim vai nossa lenta e interminável destruição de nós mesmos, incapazes de resolver nossas questões mais simples enquanto nos empurram uns contra os outros.

Deve ser porque é mais fácil culpar alguém além de nós mesmos, né? Mais fácil pôr a culpa na crise, no frio, no calor, no sol, na chuva. É tão mais fácil sair às ruas e pregar a revolução que arrumar o quarto em casa. Mais fácil cobrar decoro do político que passar a mão naquele livro tomado de empréstimo há anos e devolvê-lo ao dono. É muito mais fácil.

Em meio a tanta certeza, é mais fácil mentir a nós mesmos no berro que suportar nossas verdades em silêncio. Porque a verdade dói e a mentira anestesia, esconde, entorpece. Mentira fere, sim. Machuca. Mas só se for descoberta. Se a gente deixa, ela fica lá. Quieta, cínica, fingindo que vai tudo bem. Quando é a mentira que a gente conta no espelho, então, pior. Porque essa a gente dá um jeito de passar a vida protegendo, resguardando. A gente passa a vida aninhando mentira nos braços até ela nos arranhar a cara.

Quando ela nos arranhar, a gente a manda longe, abandona. E arruma outra mentira novinha sem pensar no assunto. A gente não é muito de pensar nas coisas. Melhor repetir respostas prontas e esperar a revolução. A gente adora fazer a revolução mas é incapaz de fazer uma gentileza. Porque ser gentil é difícil e bancar o herói é mais fácil. Aqui entre nós, a gente adora o que é muito mais fácil.

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Abraços protegem contra estresse, depressão, infecções e gripes, diz estudo

Abraços protegem contra estresse, depressão, infecções e gripes, diz estudo

Além de ser uma demonstração de afeto, o abraço também é capaz de prevenir doenças relacionadas ao estresse e diminuir a susceptibilidade de contrair infecções, segundo um novo estudo publicado nesta quarta-feira (17) na Psychological Science.

Um time de pesquisadores da CMU (Universidade Carnegie Mellon, sigla em inglês), em Pittsburgh, na Pensilvânia (EUA), liderados pelo professor de psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da CMU Sheldon Cohen, testaram se abraços funcionam como uma forma de “apoio social” e se a frequência de abraço seria capaz de proteger as pessoas de infecções associadas ao estresse, resultando em sintomas mais brandos de doenças. Pesquisas anteriores já mostraram que o estresse torna as pessoas mais suscetíveis a ficarem doentes.

“Sabemos que pessoas que enfrentam algum conflito são menos capazes de lidar com efeitos da gripe”, afirma Cohen. “Da mesma forma sabemos que as pessoas que admitem ter apoio social são parcialmente protegidas dos efeitos do estresse, em estados de ansiedade e depressão”.

Os pesquisadores analisaram 404 adultos saudáveis e, por meio de entrevistas telefônicas realizadas em 14 noites consecutivas, verificaram a frequência de conflitos interpessoais e abraços diários.

Após os questionários, os pesquisadores expuseram intencionalmente os entrevistados ao vírus da gripe. Os participantes foram então colocados em quarentena e passaram a ser monitorados para ver quais desenvolveriam sinais da doença.

Um terço das pessoas pesquisadas não desenvolveu os sintomas da gripe — exatamente aqueles que receberam mais abraços e apoio de pessoas de confiança. Em quem foi infectado, mas tinha uma frequência maior de apoio social — como os cientistas chamaram o ato de abraçar no estudo –, os sintomas da doença foram mais brandos.

Para Sheldon Cohen e sua equipe, o estudo sugere que ser abraçado por uma pessoa de confiança pode atuar como um meio eficaz de transmitir apoio e “o aumento da frequência de abraços pode ser um meio eficaz de reduzir os efeitos nocivos do estresse”.

“De qualquer maneira, aqueles que ganham mais abraços estão, de alguma maneira, mais protegidos de infecções”, diz.

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OMS declarou que o vício em games deverá ser incluído como distúrbio mental

OMS declarou que o vício em games deverá ser incluído como distúrbio mental

Tudo começa como uma atividade prazerosa, muitas vezes à qual se recorre para relaxar da rotina, ou escapar de situações da vida real com a qual não se consegue lidar. Cria-se uma vida em paralelo. O jogo é um desafio que se pode enfrentar sem testemunhas para presenciar o erro ou a derrota. Vencer uma etapa, “passar de fase”, passa a ser um objetivo de metas claras. O segredo do sucesso? A experiência. E a experiência pode requerer do indivíduo a sua exclusão das outras atividades da vida. Assim, o que era apenas um passatempo, sobe à categoria de estressor; e no lugar do inicial desejo de fugir da tensão, instala-se o vício; em casos mais graves, a dependência.

Os games on-line ou off-line constituem parte significativa dos dias e noites de nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos. É muito comum observar pais de crianças muito pequenas, oferecerem a estas – a título de entretenimento – sua primeira experiência com as telas. Claro que nenhum pai ou mãe, em sã consciência ou de caso pensado, planeja alienar seu filho do convívio social, ou subtrair-lhe o direito a vivências ricas do mundo real. No entanto, por estarem sobrecarregados ou ocupados demais em dar conta das inúmeras demandas da vida, acabam por recorrer a vídeos e jogos infantis, como recurso para distraí-los, acalmá-los ou estimulá-los. Tornou-se uma cena comum ver adultos encantados com o poder de determinados programas sobre o comportamento de bebês; a criança pode estar no meio de um choro convulsivo, basta ouvir uns acordes daquele “inocente programinha” para cessar o choro e voltar os olhinhos atentos para a tela. Tirando a curiosidade que a cena envolve, basta parar por um segundo e refletir brevemente, para concluir que isso não pode ser normal.

Essa semana, a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou que o vício em games deverá ser incluído como distúrbio mental na próxima edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com Saúde (CID). Neste documento, a condição dos viciados em games entrará como “desordem relacionada a comportamentos viciantes”, cujo diagnóstico segue protocolos muito parecidos com aqueles utilizados para determinar a “dependência por jogos de azar”. Ter o distúrbio incluído na CID é um reconhecimento dos estudos realizados na busca por sintomas para a determinação dos critérios de diagnóstico e, o mais importante, propostas de tratamento — opina a psicóloga Luciana Nunes, fundadora do Instituto Psicoinfo. — E a inclusão no CID é pré-requisito para o atendimento em hospitais públicos e para a cobertura dos planos de saúde.

Não se trata de demonizar o uso de tecnologias. Até mesmo porque esta seria uma postura no mínimo ingênua. Os recursos tecnológicos são uma conquista da humanidade para democratizar o acesso a informação, facilitar pequenas tarefas do dia-a-dia como usar um transporte ou pedir uma refeição. É inegável a contribuição dos computadores, tablets e smartphones na comunicação com qualquer parte do mundo, em qualquer tempo ou lugar. Muitas escolas têm feito dos recursos digitais, aliados dos professores na tarefa de ensinar; há inúmeras plataformas e aplicativos que agregam valor à busca do conhecimento, partilha de informação e resolução de problemas.

Entretanto, não podemos perder de vista que as ferramentas digitais são exatamente o que são: ferramentas. Não podem substituir a interação e conexão sociais necessárias ao desenvolvimento de habilidades humanas; não excluem o papel fundamental dos educadores de promover vínculos com a aprendizagem; não eximem escolas e universidades de sua missão de desafiar, promover debates, construir pensamentos investigativos e reflexivos, e formar indivíduos conscientes de seu papel no mundo.

Máquinas são apenas máquinas. Assim como a lousa não se escreve sozinha, não há plataforma digital, por mais completa que seja, que possa substituir um mestre cônscio de sua intransferível missão. Da mesma forma, não há game, youtuber ou maratona de séries que possam tomar o lugar das experiências do mundo real.

O perigo mora no exagero, na falta de capacidade de traçar limites, na inexperiência diante do risco de ser tragado para um universo virtual e abdicar das vivências necessárias à inserção no mundo de verdade.

Há jovens e crianças que têm mais dificuldade para lidar com os desafios de uma vida em grupos, sejam eles a família ou os amigos. Esses indivíduos são aqueles mais suscetíveis a cair nas armadilhas de sentir-se poderoso e reconhecido por meio de suas habilidades nos jogos. Quando se joga online, por exemplo, cria-se uma falsa impressão de ter amigos, muitos amigos. No entanto, não há relação estabelecida por meio desse contato; há apenas um lugar de adversário momentâneo e parceiro virtual. O jovem pode sentir-se menos solitário num “relacionamento” estabelecido nessas bases: não há conflito, não há julgamento à aparência física, não há necessidade de sair da casca.

A longo prazo, pode-se perder completamente o interesse pelas tão intrincadas relações com o outro, que exigem movimentos emocionais, adaptações, aprender a lidar com o diferente, com o que desafia e com a frustração. Perde-se o desejo de interagir. Cria-se o desejo de se isolar.

Alguns sinais de que o uso dos games pode ser considerado um problema:

• não ter controle de frequência, intensidade e duração com que joga videogame;
• priorizar jogar videogame a outras atividades;
• continuar ou aumentar ainda mais a frequência com que joga videogame, mesmo após ter tido consequências negativas desse hábito;

É claro que não se trata de proibir, erradicar, jogar fora ou nunca permitir a aproximação com o videogame. Trata-se de assumir que esta é mais uma faceta da educação dos pequenos e médios que são da responsabilidade dos pais. Há que se acompanhar, observar e ajudar a encontrar o equilíbrio. E, em caso de se perceber que há prejuízos, tomar atitudes imediatas. É no acompanhamento de cada situação de vida que se educa uma criança, ou um jovem. É por meio do diálogo e da autoridade amorosa que se garante uma relação de afeto e um ambiente seguro para os filhos. Dá trabalho? Lógico que dá! Mas é um trabalho absolutamente digno e intransferível, cuja recompensa é não sofrer dores irreparáveis mais tarde.

Imagem de capa: Dmitry Naumov/shutterstock 

A Forma da Água: uma história de empatia e amor profundo

A Forma da Água: uma história de empatia e amor profundo

A Forma da Água não conta uma história comum. Guillermo Del Toro teve a máxima liberdade para expressar todos os seus sentimentos pela sétima arte. Com uma mistura de saudosismo e romantismo, o mexicano descobriu a fórmula exata entre amor e empatia. Ingredientes mais do que necessários para os tempos em que vivemos.

Uma faxineira muda que se apaixona por uma criatura. Esse é apenas o início de uma fábula bem construída, apoiada em personagens interessantes e repletos de qualidades e falhas – assim como todos nós temos. Quando pensamos nos limites do ser humano, não é difícil identificar o quanto temos nos afastado das pequenas delicadezas. Do quanto estamos absorvendo mais ódio, preconceitos e distanciamento coletivo. Ao mesmo tempo, ainda existem pessoas na contramão. Pessoas que não sentem medo de demonstrar empatia e que enxergam no diferente mais um motivo para admiração e reconhecimento. Lições e vislumbres que não são passadas adiante por qualquer um ou em qualquer lugar.

Del Toro reafirma, poeticamente, que o amor está nos detalhes. Que o amor faz a diferença na nossa capacidade de abraçá-lo e reconhecê-lo como uma ponte que liga as coisas que sentimos e demonstramos. Para isso, maturidade. A Forma da Água passeia por essas questões sem barreiras. A narrativa é crua sem deixar de transbordar sensibilidade. O cineasta aborda de tudo um pouco e usa de um amor profundo para que ninguém se perca. É um estender de mãos para quem não anda enxergando belezas no mundo.

Uma fábula, um conto de fadas ou meramente uma jornada de autoconhecimento. Talvez não seja nada disso e talvez seja. Mas, acima de tudo, A Forma da Água é uma declaração visual da importância de repararmos no quanto estamos desapegando facilmente do amor. O filme, na verdade, grita para que nada disso ocorra. Ele apela para o apego, para o sincero e para chance que todos temos e merecemos de caber no universo de alguém.

A Forma da Água é uma das obras mais recíprocas dos últimos anos. São doses terapêuticas de encontros no meio de tantos desencontros.

Imagem de capa: reprodução

Ficar de mãos dadas sincroniza cérebros e reduz percepção da dor

Ficar de mãos dadas sincroniza cérebros e reduz percepção da dor

Por Ana Carolina Leonardi

Para tomar vacina. Durante o parto. Antes de um diagnóstico importante. O ser humano é um bicho esquisito: em situações de dor e medo, nós instintivamente procuramos a mão de uma pessoa para apertar.

Já na barriga desenvolvemos o reflexo de agarrar tudo que toca a palma da mão – por isso, gêmeos podem ser vistos de mãos dadas no útero – e, na vida adulta, dar as mãos permanece profundamente associado à sensação de segurança e conforto.

Mas, além de ser bonitinho, que efeito fisiológico o ato de dar as mãos pode produzir? Os pesquisadores do Instituto de Ciência Cognitiva da Universidade do Colorado em Boulder resolveram investigar o que acontece no cérebro.

Eles reuniram 22 casais heterossexuais jovens. Todos foram equipados com toucas de eletroencefalograma, cheias de sensores para monitorar a atividade cerebral. Cada casal foi exposto a alguns segundos de diferentes cenários: sentados juntos, mas sem encostar; sentados em salas separadas; e sentados juntos de mãos dadas.

Cada teste durou dois minutos. Aí, os cientistas incluíram um estímulo doloroso: uma barra de metal era aquecida a 43ºC, 45ºC e 47ºC graus e pressionada contra o braço das participantes mulheres por 7 segundos. Elas tinham que avaliar a intensidade da dor de 0 (sem dor) a 100 (a pior dor imaginável).

Os pesquisadores calcularam a temperatura que daria uma dor moderada, com “intensidade 60”, sem avisar as participantes. E aí pressionaram a barra por dois minutos seguidos, naquelas três mesmas configurações (juntos com o parceiro, separada do parceiro, dando as mãos para o parceiro). A cada rodada, elas tinham que dizer o quanto de dor estavam sentindo.

Ao final do experimento, os cientistas analisaram os dados do eletroencefalograma. A primeira coisa que perceberam é que quanto mais próximo o casal estava, mais similar era o padrão de ondas cerebrais detectado pelo exame, especialmente quando havia dor envolvida.

Esse fenômeno é chamado de “sincronização interpessoal”, e engloba não só ondas cerebrais, mas batimentos cardíacos e o ritmo da respiração – quando o organismo de uma pessoa começa a espelhar fisiologicamente as características de quem está por perto.

Essa sincronia atingia o ápice quando o casal estava de mãos dadas. Cruzando o eletroencefalograma com a percepção de dor, os pesquisadores perceberam que quanto mais similares as ondas cerebrais, menor era a dor relatada pelas participantes. Os menores níveis de dor foram relatados no estudo quando os casais estavam dando as mãos.

Os cientistas ainda não sabem explicar a conexão entre toque, ondas cerebrais e percepção da dor. Mas, focando só no toque, outras pesquisas dão uma boa ideia do que acontece no organismo.

O toque pele a pele entre seres humanos é um dos grandes gatilhos para a produção de oxitocina, o famoso “hormônio do amor”. Uma das características da oxitocina é reduzir sentimentos de ansiedade e dor, por diminuir os níveis de hormônios de estresse como o cortisol. É superútil para mães de recém-nascidos, que são invadidas por uma enxurrada de oxitocina durante o parto e depois, quando sentem o cheiro e encostam nos bebês.

Pode sair encostando em qualquer um, se quiser: até segurar a mão de estranhos tem efeito calmante em situações de estresse. Mas se quiser uma eficácia significativamente maior (e não tiver nenhum filho recém-nascido para segurar na altura do seu nariz), a melhor opção é agarrar a mão de alguém que você ama. Pelo menos até a dor passar.

Imagem de capa: A StockStudio/Shutterstock

TEXTO ORIGINAL DE SUPERINTERESSANTE

“Há um lugar no coração que nunca será preenchido”

“Há um lugar no coração que nunca será preenchido”

Essa semana me deparei com um livro incrível, que acaba de ser lançado pela “Companhia das Letrinhas” chamado “A parte que falta”, de Shel Silverstein. Apesar de ser direcionado a crianças, o livro é cheio de significados, e traduz o mistério que todos nós carregamos, o de ter um espaço vazio dentro do peito, independente da condição de amarmos e sermos amados, ou de estarmos ou não ligados a Deus. Essa “falta” existe em todos nós, e em algumas fases ela fica mais aguda; em outras fases, fica mais suave, quase imperceptível. Porém, ela sempre existirá.

Bukowski dizia: “Há um lugar no coração que nunca será preenchido”, e eu acredito nisso também. De vez em quando somos tentados a acreditar que ao encontrarmos o verdadeiro amor ou um relacionamento que nos baste, vamos nos sentir plenos, completos, livres de angústias e indagações. Porém, isso nunca ocorre completamente. O que acontece é que nos distraímos de nossas incompletudes e inadequações, mas de vez em quando voltamos a nos sentir desamparados e solitários novamente, e isso é perfeitamente normal.

A condição humana é incompleta, e encontrar sentido nas miudezas do dia a dia, observando os pequenos grandes milagres que ocorrem desde uma chave abrir uma porta até o beijo de boa noite em quem amamos, é o que torna tudo mágico, lindo, suportável. É preciso exercitar o encanto. A capacidade de nos contentarmos com nossa realidade, com aquilo que é possível, com o que temos para hoje, com o que precisamos aceitar e o que ainda dá para transformar.

Tem uma frase de Caio F. Abreu que gosto muito. Diz assim: “Tenho me sentido legal. Mas é um legal tão merecido, batalhado…” Gosto da frase porque acredito que de vez em quando a gente tem que batalhar para se sentir bem. Porque nem todo dia será encantado dentro da gente. Mesmo com a mesa farta e a saúde intacta, alguns dias despertam mais amargos que outros, e algo sempre nos falta. É tentador imaginar que aquilo que nos falta é o amor que não deu certo, ou o passado que não existe mais, ou aquela pessoa que desistiu de nos acompanhar, ou a grama do vizinho que sempre está mais verde que a nossa. É tentador imaginar que não depende de nós batalhar por algum bem estar.

Quando a gente entende que em um momento ou outro da vida irá sentir um vazio que nada preenche; e que esse vazio irá aparecer de vez em quando; e que de repente esse vazio irá embora e tudo irá fazer sentido novamente; e que depois o vazio irá voltar… e que mesmo orando muito, tendo uma autoestima elevada e fazendo exercícios físicos esse ciclo se repetirá por toda a vida… quando a gente entende isso e aceita que é assim mesmo, a gente para de se sentir estranho, de se sentir anormal, de se sentir inadequado. A gente aprende a dizer: “Ok, é você chegando de novo, sei que logo vai embora, mas agora vou me sentir um pouco incompleto novamente, senta aqui, tá tudo bem”. Então a gente acolhe o vazio, faz as pazes com ele, e para de tentar dar um motivo a ele. A gente simplesmente percebe que ele também é parte do que somos; faz parte do mistério de sermos humanos e, portanto, limitados. A gente simplesmente aceita; deita a cabeça no colo de Deus e espera o tempo do vazio passar. Porque ele sempre passa…

É isso que o livro de Shel Silverstein transmite. Através de suas ilustrações bem humoradas e cheias de significado, somos levados a refletir sobre a falta. Ao encerrar o livro, repousamos sua encadernação sobre a perna e respiramos fundo. Parece que dá um click, sabe? De repente percebemos que estivemos enganados, inventando álibis para justificar nossas angústias e sensações de vazio. Mas ao final descobrimos que não estivemos sozinhos quando sentimos que algo nos falta. Até os reis, as atrizes de cinema e aquele crush que te esnobou já sentiram isso pelo menos uma vez na vida. Até seu ex, seu terapeuta e o padre da paróquia já experimentaram isso. Até o monge budista e o autor daquele livro de autoajuda já passaram por isso também. Você então percebe que esteve agindo como o personagem do livro, cheio de expectativas, louco para se sentir completo. Mas ao final você se absolve. Deixa a borboleta repousar sobre o seu ombro e fica feliz com a presença dela ali. Entende que a vida é cheia de mistérios, e que a percepção da felicidade ocorre para aqueles que aprendem a lidar com os altos e baixos da existência, dançando quando houver música e deitando no colo de Deus quando tudo silencia.

 

Imagem de capa:Jan Faukner/Shutterstock

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Tudo passa…você vai esquecer essa pessoa.

Tudo passa…você vai esquecer essa pessoa.

Acalme-se mulher, esse dia ainda vai chegar, e você vai se lembrar desse texto. Preste bem atenção! Você ainda vai se deparar com esse homem que está fazendo o seu coração sangrar tanto. Confie em mim! E, quando esse encontro acontecer, você não vai entender nada. Você vai olhar nos olhos dele e não vai reconhecê-lo como sendo aquele que fez todo esse estrago nas suas emoções.

Nada vai acontecer. Nada de taquicardia, nada de tremores nas pernas, nada de respiração descompassada. Você vai estranhar tudo, sobretudo a sua tranquilidade. E então você pensará: nossa, foi por esse homem que chorei tantas noites? Foi por ele que eu achei que fosse morrer um dia?

Ele também vai estranhar tudo. Ele vai ficar perplexo com a naturalidade da sua postura. Ele vai procurar aquela agonia que você sempre tinha quando estava perto dele, e não vai encontrar. Ele estará diante de uma mulher serena, natural e inteira. Ele vai procurar em seu semblante algo que denuncie qualquer sentimento, um resquício que seja. E nada. Nem mesmo aquela pontinha de ressentimento pelas dores que ele causou em você.

Você o cumprimentará com naturalidade, talvez vocês conversem algumas amenidades e você se despedirá dele com a sensação de estar flutuando. Falo daquele flutuar que traduz o sentimento de libertação de alguém que teve, por anos a fio, as emoções no cativeiro. É sobre sentir-se inteira após um longo período com o coração triturado.

Pois é, moça, você vai perceber que aquele encanto acabou. Aquela admiração, que na verdade você nunca soube porque sentia, terá desaparecido. O sorriso dele não vai mais hipnotizá-la. E você vai agradecer muito por enxergá-lo dessa maneira. Aquele homem que abalava a sua estrutura física e emocional, será percebido como um alguém comum. E você vai se lembrar das vezes em que, aos prantos, implorou a Deus para que neutralizasse aquele sentimento tão perturbador que nutria por esse homem. Alguém que nunca a amou, mas que sempre fez questão de aproveitar do seu sentimento.

E o mais bacana de tudo será a plenitude de perceber que um ciclo terminou, de fato. Sem pendências, sem mágoas, sem ressentimentos. Perceberá que, embora tenha sido absurdamente machucada por esse homem, a cura aconteceu. Você vai se dar conta de que foi capaz de seguir a sua estrada, mesmo sangrando. Você sentirá um orgulho gigante de si por ter reagido e buscado outros interesses. Você vai perceber o quanto foi incrível por investido em si mesma, mesmo naqueles dias em que mal tinha vontade de sair da cama.

Deus e o Universo farão questão de agendar essa data, para você certificar-se de que suas preces foram ouvidas e atendidas. Escreve aí.

Imagem de capa: Kaponia Aliaksei/shutterstock

Ser famoso ou ser importante

Ser famoso ou ser importante

O sonho de uma boa parcela da população é ser famoso. Mas será que ser famoso é uma maravilha tão grande assim? Eu acredito que não! E para refletir sobre isso, trago um texto bem curto do brilhante filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella.

SER FAMOSO E SER IMPORTANTE

“Você e eu sabemos que vamos morrer um dia. Desse ponto de vista, não é a morte que me importa, porque ela é um fato. O que me importa é o que eu faço da minha vida enquanto a minha morte não acontece para que essa vida não seja banal, superficial, fútil, pequena…

A esta hora preciso ser capaz de fazer falta. No dia que eu me for eu quero fazer falta. Fazer falta não significa ser famoso, significa ser importante.

Há uma diferença entre ser famoso e ser importante. Muita gente não é famosa e é absolutamente importante.

Importar significa levar para dentro. Alguém me importa para dentro, me carrega.

Eu quero ser importante. Por isso, para ser importante eu preciso não ter uma vida que seja pequena. E uma vida se torna pequena quando ela é uma vida que só se apoia e si mesmo, fechada em si. Eu preciso transbordar. Eu preciso me comunicar. Eu preciso me juntar. Eu preciso me repartir nessa hora… Minha vida, que, sem dúvida ela é curta, eu desejo que ela não seja pequena…”

Eu me identifiquei completamente com essas palavras, porque é exatamente assim que eu penso. Eu também tenho o desejo intenso de ser importante, mas não famoso. E já aprendi que para ser importante eu tenho que viver uma vida que valha a pena, que mude sem deixar a minha essência, que viva intensamente o momento presente, e evite fazer o que todo mundo faz, ou seja, seguir o caminho da mediocridade.

Eu me impressiono com o fato de as pessoas da nossa sociedade atual estarem perdendo a noção do que é ser importante. A maior parte associa à fama, o que é um grande engano. A fama é algo extremamente passageiro, mas a importância fica para sempre. Ela vai tão mais além que leva ao encontro das almas. Quando alguém é verdadeiramente importante para outra, o convívio e encontro pessoal é tão profundo, que falta palavras para descrever, pode-se apenas vivenciar.

Ele fala que existem pessoas que são absolutamente importantes e não são famosas. Vou citar um exemplo mais que concreto, a minha mãe. Ela não é famosa, não quer ser, e muito provavelmente nunca será, mas posso afirmar que ela é muito importante, porque aonde ela vai, leva a sua energia pacificadora e espiritual. Ela tem um dom incrível de ouvir os outros e , quando necessário, dar bons conselhos. Frequentemente ela recebe seus amigos em casa, que vão para desabafar suas tristezas, mágoas ou frustrações. Essa sua atitude generosa faz com que ela receba um lugar especial no coração de todos os seus verdadeiros amigos. Minha mãe é uma pessoa que certamente fará falta quando se for. No seu enterro ela receberá dezenas, talvez centenas de homenagens.

Muitos podem até ficar aflitos por eu estar falando isso, mas não me incomodo nem um pouco. As pessoas tem medo de falar da morte, mas eu não, eu a tenho como uma grande amiga. Posso morrer hoje ou amanhã, ou mesmo daqui a 80 anos, que a minha alegria, satisfação com a vida e sentimento de que fiz a minha parte sempre estarão presentes. O senhor Mario Sergio Cortella também me ensinou muito a observar e entender a morte sob um ponto de vista muito mais profundo.

Quando você morrer, terá sido uma pessoa famosa ou importante? Adoro o questionamento que o Mario sempre faz às pessoas. Qual é a tua obra? Faça-se essa pergunta hoje! Quando você se for, qual legado você terá deixado? Você terá vivido uma vida de se orgulhar? Para que isso aconteça, sua vida não pode ser pequena.

Para continuar filosofando sobre esse tema tão instigante, deixo o link de um dos textos do Mário que tive a honra de compartilhar, que se chama “A vida é muito curta para ser pequena”

Imagem de capa: Reprodução

A confiança só requer tempo quando ela foi perdida.

A confiança só requer tempo quando ela foi perdida.

A confiança só requer tempo quando ela foi perdida. No mais, temos sempre a motivação de confiar naqueles que dividem suas vidas conosco, caso contrário, viveríamos na paranóia da desconfiança, não teríamos paz, não conseguiríamos jamais contar com as pessoas.

Seria um mundo triste viver na desconfiança.

Confiança é algo natural, já existe em nós e damos ela requerendo-a também num gesto tácito. Eu te dou minha confiança assim como te ofereço meu respeito e amor.

Entregamos doses de confiança diariamente na certeza de que seremos respeitados, e que o outro ser humanos também carrega consigo a importância deste vínculo sagrado.

Nascemos com ela. A relação mãe e filho é de uma entrega de total confiança, absoluta. O bebê tem fé de que será amado e nutrido por sua genitora. Crescemos nas bases da confiança. A entregamos aos amigos, vizinhos, porteiro, família, parceiros, ao mecânico, piloto, motorista, ao médico… Confiamos no ser humano!

Eu confio em você até que você me prove o contrário.

Perder a confiança é trágico .
É perder a paz, a tranquilidade a fé em alguém. Restabelecer isso leva tempo. Nascemos para confiar e quase não ensinam como agir diante de uma confiança perdida.

Tenha confiança, seja confiável!
Reconquistar confiança de alguém requer dedicação, amor, perdão, desejo de resgate e provas de que a confiança pode voltar a existir quando existe amor.

Confiança é tesouro. Ela vale Ouro!

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Imagem de capa: g-stockstudio/shutterstock

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