Feias, bonitas- Danuza Leão

Por DANUZA LEÃO

ERAM DUAS irmãs, uma muito bonita e a outra – bem, a outra não. A bonita tinha um corpo como qualquer mulher gostaria de ter (sem ser esquálida), era não só elegante, como se vestia de maneira diferente. Era original, criativa, isso sem ser extravagante nem exibida. Um show de mulher, que quando entrava nos lugares era olhada por homens e mulheres, com admiração.
Eu, ainda garota, era amiga das duas; inicialmente da mais bonita, pois era com ela que saía à noite, ia às festas, aos lugares onde as coisas aconteciam. A outra era casada; mal casada mas casada, e nos víamos eventualmente para almoçar. Ela era simpática, agradável, mas perto da irmã, desaparecia. E a irmã tinha sempre muitas histórias boas para contar.
Histórias dos bastidores da alta costura (tudo isso se passou em Paris), das pessoas famosas que ela conhecia, e sobretudo dos seus “dramas” amorosos. Ela nunca tinha um namorado só e, como nenhum morava em Paris, isso facilitava bem as coisas.
Ainda me lembro: naquela época -estou falando dos anos 50- os telefones eram precários, e as comunicações aconteciam por telegrama. Um dos namorados era príncipe -havia tantos, sobretudo na Itália- , se chamava Galvano e morava na Sicília. Volta e meia chegava um telegrama, marcando de encontrá-la em Palermo no fim de semana; e lá ia ela. O outro morava em Milão, e o encontro seria em Roma. Na época, nunca me ocorreu por que razão eles não iam nunca a Paris; era assim e pronto.
Ela sofria, e eles aprontavam, sumiam, namoravam outras, e assim foi indo a vida. Um dia ela achou que estava na hora de sossegar e se casou com um belo italiano; não me parece que tenha sido um grande amor, mas foi um casamento que funcionou. Ela foi morar em Milão, trancou-se em casa, e sua única distração, digamos assim, era a moda. Comprava tudo que aparecia de novo, até que um dia teve uma doença ruim e morreu.
Enquanto isso a vida da irmã continuava: separou-se do primeiro marido -porque quis-, marido esse que passou anos fazendo tudo para que ela voltasse. Se casou de novo, com um produtor de cinema, e o casamento, muito feliz, durou até que um dia ele teve um infarto fulminante e morreu.
Ela sofreu, mas não deixou a peteca cair; tempos depois estava casada de novo, com o homem que mais amou, e que trabalhava no show business. Foi um amor louco, absoluto; ele tinha uns 15 anos menos que ela, era lindo, e morreu aos 33 anos de cirrose. Como ela sofreu; parecia que nunca mais levantaria a cabeça.
É preciso aqui fazer uma pausa: desde que a irmã se casou, fomos ficando cada vez mais amigas. Fui percebendo o quanto ela era generosa, interessada pelas pessoas, pelo mundo em geral, sempre pronta a fazer agrados, carinhos, tolerante e paciente com todos que a rodeavam. Um dia conheceu seu último marido, com o qual está casada há 30 anos. Um ótimo casamento, devo dizer.
E fiquei pensando que os atributos físicos, tão valorizados, fazem com que as pessoas se esqueçam do principal, do que realmente importa, e que faz com que as pessoas se gostem, fiquem amigas, até se apaixonem. Nunca nenhum homem largou essa minha amiga; já a bonita teve uma vida sentimental atrapalhada, eu diria mesmo infeliz, e não sei se por acaso ou por que, eu comecei amiga de uma, o tempo passou e fui ficando amiga da outra como nunca havia sido da primeira.
E ainda sou.

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Maternidade em construção

Maternidade em construção

Por Adriana Vitória

Quando estava grávida da nossa fllha, além de uma fome acima da média, não sentia nada de muito diferente, só uma sensação de que algo que eu não conhecia crescia dentro de mim, um alienígena.
Na verdade, meu questionamento é se era eu uma pessoa apta a desenvolver a maternidade e se era madura o suficiente pra este papel.
Quando estava com pouco mais de seis meses, vi sua carinha gorda e larga pela primeira vez na ultrasonografia e foi então que me dei conta de que havia de fato alguém ali.
Saí e comprei sua primeira roupinha.
Talvez o alienígena fosse eu, afinal de contas, só ouvia contos incríveis de outras mães a respeito da gravidez. Eu, entretanto, só pedia ao universo para que ela fosse uma pessoa com um grande coração, o resto veríamos depois.
Acho um tanto prepotente acharmos que conhecemos nossos filhos. Só conhecemos quem podemos sentir, coisa rara, e muitas vezes, não são nossos filhos.
O fato é que hoje, sou mais do que grata ao universo por ter me enviado uma pessoa que descubro incrível, sensível e que tem tanto pra me ensinar.
Filho não preenche a vida de ninguém, mas com certeza, ter uma pessoa apaixonante ao teu lado, torna o “viver” muito mais feliz.

www.adrianavitoria.com

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Os bastidores da Crônica, por Marta Medeiros

Os bastidores da Crônica, por Marta Medeiros

Por Martha Medeiros

Uma sociedade plural é muito melhor do que uma sociedade em que todos pensam igual. Sem divergências, nada evolui ― nem o pensamento, nem o país.

Quem escreve em jornal sente na pele essa dinâmica de opiniões conflitantes. São tantos os leitores, das mais variadas origens e crenças, que fica absolutamente impossível almejar uma unanimidade, só em santa ingenuidade. Você fala em sexo e desejo, o outro salta condenando o hedonismo. Você clama por charme na vida, o outro salta condenando que é elitismo. Quem tem razão? Cada um tem a sua, e que se atreva alguém a dizer quem está certo ou errado. Há tantas verdades quanto seres humanos na terra.

O Brasil, em especial, é dos países menos coesos. Deste tamanhão e com esta desigualdade social que tanto nos choca, é como se abrigasse vários planetas a conviverem no mesmo território. E obriga. E rimo: não sei como não sai mais briga.

Uns elogiam 2 Filhos de Francisco, outros apontam a rendição do cinema nacional, que não arrisca nada fora do padrão global. Uns elogiam os shows internacionais, outros questionam: por que não se dá mais espaço pro regional? Você fala de amor eterno, é piegas. Você fala em sedução e liberdade, é a filha preferida do demônio.

Alguns você comove, outros revolve o estômago. Se cita um caso que aconteceu com você, é porque está focada no próprio umbigo. Se cita um caso que aconteceu com alguém, não tem originalidade suficiente. Se inventa um caso que não aconteceu mas poderia, está fazendo ficção onde não devia.

Falou em Nova York, é metida. Falou em Ibiraquera, metida a made in Brasil. Colocou palavras em inglês no texto? Nenhum problema, pensam uns; paredón, pedem outros, que palavra em espanhol pode.

Falou bem do PT? Rendida, vendida, mal-intencionada. Falou mal do PT? Rendida, vendida, mal-intencionada. Não falou de política? Alienada.

Usa palavra antiga, entrega a idade. Usa uma palavra nova, está inventando moda. Que palavra está em voga?

Voga???

O mesmo texto tudo provoca: uns te amam, outros te toleram e alguns não perdem a chance de te esculachar. Como te leem os que te odeiam.

Você toca profundamente o coração de uma senhora e com o mesmo texto enoja um estudante. Uma professora te agradece a contribuição em sala de aula, outra proíbe que os alunos te convoquem. Você defende as minorias e alguns vibram com a referência, outros têm certeza que é deboche. E nem ouse citar Deus em suas crônicas, apenas em suas preces.

É uma aventura a cada linha, uma salada mista a cada ponto de vista. Franco-atiradores a serviço da reflexão, todos nós, os daí e os de cá, sabemos um pouco de tudo e muito do nada, e salve o bom humor diante desta anarquia, já que de algum jeito há que se ganhar a vida.

Parte integrante do livro Doidas e santas, de Martha Medeiros.

Gatoterapia: a cura através dos gatos

Gatoterapia: a cura através dos gatos

Por Mariana Dorigatti

Esses fascinantes animais, já eram adorados como Deuses pelos antigos Egípcios, e atualmente o convívio entre homens e gatos se torna cada vez mais harmonioso quando há a reciprocidade, ou seja, um em benefício do outro. Esse é o objetivo da Gatoterapia, a incrível arte de se curar com a ajuda dos bichanos.

Introduzida no Brasil entre o final da década de 1940 e início da década de 1950 no tratamento de pacientes com esquizofrenia, a Zooterapia, ou terapia assistida por animais, teve como seu primeiro colaborador o gato, que é um animal que transmite tranqüilidade e equilíbrio no relacionamento com humanos.

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Esse tipo de terapia está sendo muito utilizada nos dias de hoje, pois vivemos em uma sociedade moderna em que a correria do dia-a-dia está formando cada vez mais cidadãos estressados e hiper-tensos. Pensando nisso, estudos realizados no campo da cardiologia mostram que as pessoas que interagem constantemente com animais tendem a apresentar menores níveis de estresse e pressão arterial, além de desenvolverem menos problemas cardíacos. No caso dos gatos, os benefícios ultrapassam a barreira física, pois a Gatoterapia é também uma ferramenta importantíssima na cura de problemas mentais e emocionais.

Com a companhia dos gatos, uma pessoa depressiva, por exemplo, se espelha no estilo de vida do animal para ajudar a si mesma, pois a independência e autocontrole instintivos dos felinos são reconhecidos por todos e pode ajudar muitos que sofrem de desequilíbrio emocional.

Algumas crenças antigas diziam que os gatos eram animais místicos, capazes de transmutar as energias negativas do ambiente enquanto dormiam, portanto se dormiam muito, havia muita energia ruim no ambiente, e se não conseguiam filtrar toda essa energia, o gato acabava acumulando isso em forma de gordura. Porém, isso tudo já foi constatado como mera fantasia, já que hoje em dia sabemos que é da natureza dos felinos dormir muitas horas por dia e ter certo acumulo de gordura.

Mas nem tudo é mentira, já que para alguns especialistas, o gato é por essência um ser que tem este “poder” de transmitir paz e relaxamento, retirando as energias negativas do ambiente e trazendo felicidade para o ser humano, como muitos dizem é uma “higiene mental”.

Portanto, além da companhia, os gatos agora têm um papel a mais que age em benefício do ser humano: o ensinamento para uma vida livre de interesses, com fidelidade, companheirismo e autocontrole, respeitando os limites do próximo, mas ao mesmo tempo impondo seus limites.

Fonte: http://jornalocal.com.br/site/mundo-animal/gatoterapia-a-cura-atraves-dos-gatos/

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Nem toda mãe é boa

Nem toda mãe é boa

Por Josie Conti

Cuidar de um outro ser humano exige um grau de desprendimento que nem todos são capazes de ter. Apesar do peso cultural e dos estereótipos historicamente transmitidos, nem toda mãe é boa, nem todo pai protege, nem todo amigo, marido ou esposa é fiel. As pessoas têm alterações de humor durante todo o dia, durante os meses, durante a vida. Ninguém é só bom ou só ruim. Sentimos ódio e desprezo, temos momentos de arrogância e insensatez. Somos vítima e algoz. Somos quem o momento permite.

Penso que esse é o ponto pois é sempre mais confortável “atirar a pedra” no outro, visualizar a fraqueza do outro.

E nós? Reconhecemos, por exemplo, que podemos não querer ter filhos? Reconhecemos que podemos não querer ser fiéis a um casamento onde o pacto é de respeito mútuo?

Existe uma hipocrisia social, uma mensagem de bondade, pureza e caridade que é apregoada aos quatro cantos do mundo. Porém, ser “bom” não deveria ser um conceito unilateral. É correto sermos bons com os outros enquanto nos tolhemos de nossos próprios sentimentos? Ou, ao contrário, sermos injustos com o outro para que nossa máscara não caia e não tenhamos que assumir que não somos exatamente o que a sociedade espera ou o que nós mesmos idealizamos?

Gente vazia me cansa, futilidade me dá nojo, burrice me dá preguiça. E daí? Sou menos competente ou humana no que faço por ter esses sentimentos?

Precisamos ser mais sinceros, o que não quer dizer grosseiros, mas sinceros com o que queremos e sentimos.

A cordialidade é necessária sim. A politicagem, em algumas situações também, mas passar a maior parte de nossa vida vestindo uma máscara é a maior receita para a depressão, para a ansiedade e todos os outros sintomas correlatos que estão tão “na moda” na sociedade atual.

Sobre a esperança…

Sobre a esperança…

Sempre acreditei que a esperança combina com o pôr-do-sol…o término de um dia é o prenúncio do repouso e de um novo amanhã. Josie Conti

Creio que essa imagem traduz esse pensamento e convida para uma reflexão…

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Lorenzo, o encantador de cavalos

Lorenzo, o encantador de cavalos

Acredito que os cavalos estão entre os animais mais majestosos e belos do mundo. São fortes, imponentes e possuem uma elegância natural.
Também são grandes amigos e parceiros de trabalho o que, muitas vezes, fez com que o homem abusasse de sua capacidade física de forma desrespeitosa e cruel.
Porém, nesse filme, o que vi foi uma interação mágica entre domador e cavalos. Como todos os outros homens que possuem tamanha sintonia com um animal, muitas vezes, tanto Lorenzo quanto os cavalos parecem ser um só ser.
As cenas realizadas no mar são de uma beleza incomparável!
Espero que aproveitem!
Josie Conti

Pessoas interessantes, por Josie Conti

Pessoas interessantes, por Josie Conti

Por Josie Conti

É incrível perceber o quanto as pessoas interessantes são parecidas com estradas. Elas sentem uma comichão no peito que as faz seguir e continuar, passo a passo, rumo ao desapego e ao novo. Nem sempre são estáveis, porém, são profundamente interessantes, pois, não temem experimentar na pele, novas possibilidades. Cada situação de busca e possível encontro é alimento para alma e para o conhecimento. O olhar fica a frente, a sensibilidade ao lado. O familiar é fonte de respeito e conhecimento. Talvez exista uma ruga a mais em alguns momentos perante a indecisão, porém, o brilho nos olhos é mais radiante.

O homem é um ser desejante, desde o nascimento é vorazmente carente de estímulos, novas sensações e conhecimentos. Penso que quando a pessoa canaliza essa energia de busca para algo saudável, ela é alguém com objetivos prioritariamente construtivos. Ela pode ser “faminta” por conhecimento, por aventuras, viagens, por amores. Porém, quando essa mesma energia é canalizada na busca de sensações de prazer, mas que não acrescentam um conteúdo simbólico como, por exemplo, o consumismo exagerado, que é uma marca tão forte de nossa geração, percebemos a criação de um novo perfil de dependentes que, embora não sejam usuários diretos de uma substância química, não sobrevivem sem seus prazeres efêmeros. Logo, se não consomem, imediatamente sentem-se vazios e entristecidos.contioutra.com - Pessoas interessantes, por Josie Conti

A energia do homem precisa ser canalizada para algo que lhe forneça uma identidade, um papel social. A pessoa precisa ter uma ocupação em que se sinta produtiva, mesmo que não seja remunerada integralmente. Precisa de reconhecimento de seu local no mundo e também precisa transmitir características que são só suas, o que caracteriza a herança cultural de um povo.

Porém, se o meio em que vive dita como, quando e com quem devo fazer algo, toda a espontaneidade acaba. Transformamo-nos em máquinas responsivas, não pensantes, ansiosas e muito angustiadas, pois, apesar dos bens alcançados, não existe realização pessoal real.

Acredito que precisamos sim nos enquadrar socialmente, porém, sem perder o olhar a frente e nem nossa criticidade. É necessário que saibamos o real motivo de nossas escolhas para que não retroalimentemos ciclos e mais ciclos de autossabotagem emocional.

Precisamos sentir mais, mesmo que o sentimento seja ruim. Precisamos questionar mais, mesmo que o rosto do colega não seja o mais satisfeito. Porém, mais do que tudo isso, precisamos viver mais e melhor. Enquanto estamos vivos, podemos aprender e mudar.

Trabalhador descartável? Por Josie Conti

Trabalhador descartável? Por Josie Conti

Por Josie Conti

O trabalho tem papel central na vida das pessoas. Ter ou não um trabalho ou um emprego afeta a pessoa em sua perspectiva de vida, de sustento próprio e da família, na sua autoestima e nas relações sociais: ser trabalhador é uma questão de identidade.

Por outro lado, observa-se que as condições, os processos e a organização do trabalho têm afetado negativamente a saúde das pessoas, ocasionando acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.

Alguns dados:
• Hoje temos cerca de 30% de transtornos mentais menores e 5 a 10% graves entre os trabalhadores no mundo, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde.
• Os transtornos mentais constituem a terceira causa de concessão de benefícios previdenciários por incapacidade temporária para o trabalho, superada apenas pelos acidentes e doenças osteomusculares. Porém, ainda segundo a Organização Mundial da Saúde, ainda nessa década, eles serão a primeira ou segunda causa de afastamento do trabalho.

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Algumas características que devem ser observadas na pessoa que está adoecendo e que estão prioritariamente relacionadas à “organização do trabalho”:

• Excesso de atividades, pressão de tempo e trabalho repetitivo;
• Conflito de papéis entre subordinados e superiores;
• Falta de apoio social, por parte da chefia, colegas e família;
• Tecnologia de produção em série e processos de trabalho extremamente automatizados;
• Trabalhos em turnos;
• Ameaça de desemprego;
• Competição;
• Jornadas prolongadas de trabalho;
• Responsabilidades excessivas e sobrecarga de trabalho;
• Diferenças em valores pessoais da pessoa e o que lhe é cobrado em seu trabalho.

Embora, num primeiro momento, os itens descritos acima não aparentem ser tão diferentes do dia-a-dia da maioria das pessoas, é notório o fato que o número de pessoas que chegam até mesmo ao suicídio em função do trabalho cresceu, e isso inclui o Brasil.

Uma característica comum em trabalhadores que não podem expressar seus sentimentos, é a “supervalorização de doenças físicas”, pois estas são mais visíveis e comprováveis e assim, uma forma concreta de mostrar à sociedade que existe um sofrimento real. O entorpecimento dos sentimentos através do álcool e outras drogas assim como de medicações “lícitas” também é comum.

O trabalho é saudável quando permite que a pessoa exerça de alguma forma sua criatividade, construa algo e, em troca, obtenha reconhecimento social e financeiro. Mesmo o estresse é considerado positivo se for exercido dentro dos limites de tolerância do trabalhador, lembrando que esses limites são individuais e váriáveis temporalmente.

Em recente passagem pelo Brasil, o prof. Yves Clot, conceituado psicólogo do trabalho e pesquisador do Conservatoire National des Arts et Métiers de Paris, participou I Simpósio Internacional Saúde Mental e Trabalho, junho- 2012. Em sua fala ficou clara a disparidade entre as intenções reais do trabalhador e o trabalho que o mesmo deve executar, quando ele descreveu uma pesquisa realizada nos correios de Paris diretamente com os funcionários que tinham a incumbência de, além de realizar os serviços tradicionais de postagem, realizar vendas conjugadas. Segundo o professor, é sabido que os correios, não têm mais condições de sustentar-se apenas com os serviços tradicionais após a internet, sendo assim, os seus funcionários são treinados para vender produtos como caixas para sedex, por exemplo. O que foi estudado foi o efeito psicológico dos funcionários ao lidarem com uma população exigente e que não tinha uma boa adaptação à mudança. O sofrimento também era causado, pois eram clientes usuais, que, muitas vezes levavam suas caixas prontas e preparadas com esmero. O funcionário, então, tinha que dizer a esse cliente que sua caixa não era “apropriada” para o envio e tinha que vender um novo produto.

Podemos fazer um paralelo entre o trabalho exercido, no Brasil, dos funcionários que vendem “garantia estendida” de produtos sem que isso seja o desejo do comprador.

Nesse mesmo seminário, foi dado o exemplo de uma funcionária de uma grande loja de departamento brasileira que, após seguir as instruções da gerência, vendeu um produto com garantia estendida à uma senhora analfabeta tendo, inclusive, que carimbar sua digital. Após esse evento que foi ética e emocionalmente contra os valores da trabalhadora, a mesma adoeceu. Outros exemplos são, por exemplo, os de trabalhadores de serviços de telemarketing que vendem produtos que as pessoas não têm interesses, caixas de bancos que tem metas de “colocar contas em débito automático e fazer vendas” ao mesmo tempo que fazem todos os seus outros serviços, etc.

Vemos, então, e aí retornamos ao entendimento do professor Yves Clot, que as pessoas têm que optar por reações pelas quais elas não gostariam se fossem “livres” para decidir. Aquelas reações que não venceram e que foram, mais ou menos reprimidas, formariam, segundo Clot, “resíduos incontrolados cuja força é apenas suficiente para exercer uma influência na atividade do sujeito, mas contra a qual ele pode ficar sem defesa”. Em suma, o “real da atividade é também aquilo que não se faz, aquilo que não sem pode fazer, aquilo que se busca fazer sem conseguir – os fracassos –, aquilo que se teria querido ou podido fazer, aquilo que se pensa ou que se sonha poder fazer alhures” ou, o que é para ele um paradoxo frequente, “aquilo que se faz para não fazer aquilo que se tem a fazer ou ainda aquilo que se faz sem querer fazer”. E tudo isso sem contar com o que é preciso ser refeito. Essa noção representa, a meu ver, uma contribuição importante para o enriquecimento da análise ergonômica, mas, acima de tudo, deve ser percebida como um recurso inestimável para a apreensão da dimensão subjetiva da atividade, sem a qual uma verdadeira Psicologia do Trabalho jamais poderia se efetivar.

A partir desses argumentos temos que retomar o papel insubstituível do trabalho no desenvolvimento pessoal, na construção da identidade, do próprio valor e na contribuição de cada um para a formação do patrimônio histórico-cultural humano.

Todo profissional que acompanha trabalhadores afastados pelos mais diversos motivos é capaz de identificar o seu declínio social, na autoestima e, em consequência, do humor em geral. Isso quando o sofrimento emocional ainda não é agravado por uma dor crônica ou outro tipo de limitação física permanente.

Então fica a questão: “Nós, como sociedade, permaneceremos coniventes com mecanismos perversos de produção enquanto o nosso próprio capital humano adoece em números assustadores ou chegou a hora de permitir que as pessoas falem o que pensam e sentem sem que sejam punidas pelo sistema?”

Infelizmente, o que tenho visto é uma sociedade de bens de consumo descartáveis também tratando seus próprios produtores de capital como seres absolutamente dispensáveis e facilmente substituíveis.

Você não concorda?

Então reflita se nunca ouviu frases como essas:
“Ninguém é insubstituível.”
“Você não quer, tem quem queira.”
“Se você acha que o seu salário está baixo, eu te demito e contrato outro por 30% menos.”
“A porta é serventia da casa.”

Pense nisso.

Josie Conti- Psicóloga

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Clot, Yves. A função psicológica do trabalho. Editora Vozes, Brasil, 2006.
Clot, Yves. 1º Simpósio Internacional de Saúde Mental e Trabalho no ABC. São Bernardo do Campo. 22 de junho de 2012.
Camargo, D.A; Caetano, D; Guimarães, L.A.M. Psiquiatria Ocupacional: aspectos conceituais, diagnósticos e periciais dos transtornos mentais e do comportamento relacionado ao trabalho. São Paulo. Editora Atheneu, 2010.
Ministério da Saúde. Doenças Relacionadas ao Trabalho- Manual de Procedimentos para o Serviço de Saúde, org. Dias E.c, Brasília: MS, 2001.
Boff BM, Leite DF, Azambuja MIR. Morbidade subjacente à concessão de benefício por incapacidade temporária para o trabalho-Revista Saúde Pública v. 36 no. 3, São Paulo jun. 2002.
Heloani, JR. Sociedade Doente. Revista Proteção v 244. São Paulo, abril 2012.

Sobre a inclusão

Sobre a inclusão

“Pouco me importa a inclusão, o que não admito é que alguém seja excluído!”
Josie Conti

contioutra.com - Sobre a inclusão

 

Pai, por Josie Conti

“Meu pai não foi um homem afetivo. Entretanto, sempre me apontou passarinhos.” Josie Conti

O objetivo da “CONTI outra” é divulgar coisas que me fazem pensar, me inquietam ou que aceleram meu coração de tão belas e sublimes que são.
Ainda acredito no homem e sou incapaz de separar poesia e crítica, beleza e humor…sou assim, gosto de tudo um pouco e creio que a página é reflexo dessa minha maneira de ver o mundo…
Sejam sempre muito bem vindos!

Delicadeza, por Josie Conti

Delicadeza, por Josie Conti

Sempre quando eu comento sobre os tesouros encontrados pela internet, me refiro a pessoas, a diferentes pontos de vista e ao quanto isso nos torna melhores seres humanos, uma vez que amplia nossos olhares: ampliar o olhar é ter um encontro com a delicadeza da vida.

A tendência natural do homem é a repetição de comportamentos que foram bem sucedidos anteriormente, uma vez que isso lhes é familiar e, em tempos remotos, possibilitou a sobrevivência da espécie.

Também tendemos a repetir o que já conhecemos pois isso é a nossa cultura, é o que nossos pais e avós já faziam, é o que ecoa em nossos pensamentos como “correto”. O novo gera ansiedade e medo.

contioutra.com - Delicadeza, por Josie Conti
Muitas vezes, o preconceito é um mecanismo de defesa que as pessoas usam para mascarar suas próprias inseguranças frente ao novo. Aí, quando uma situação ou pessoa é diferente, elas se esquivam, agridem e, o que é pior, permanecem sem conhecer.
Para enfrentar essa ansiedade que gera medo, creio que precisamos de mais “delicadeza” pois, se o novo é inserido de forma agradável e não ameaçadora, ele passa a ser admirado e não temido.
Creio que a página CONTI outra, mesmo sem ter essa intenção inicial, acabou fazendo isso. As pessoas têm se aproximado pela delicadeza que a maioria das imagens transmite. Essa também tem sido uma das minhas inspirações mais sinceras quando “garimpo” imagens especiais por páginas de todo o mundo.
Para finalizar, copio abaixo um trecho de Fernanda Caona, encontrado na page de Helena de Jesus e que me inspirou nesse texto.

“Delicadeza é aquilo que nos alcança sem nos tocar. É a melodia que nos embala mesmo em silêncio. É quando a boca empresta um sorriso aos olhos sem que nenhuma cobrança seja feita e os sentidos se misturam sem que ninguém dispute o melhor espaço. Delicadeza é ter pensamentos e atitudes em harmonia. É atingir o outro sem que ninguém saia machucado. É quando você é seduzido por algo que vem de dentro e dividir ajuda a somar!” Fernanda Gaona

Com todo o meu carinho,
Josie Conti

Pois de amor andamos todos precisados…

Pois de amor andamos todos precisados…

Pois de amor andamos todos precisados! Em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente! Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando…

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Soneto do amigo- Vinicius de Moraes

Soneto do amigo- Vinicius de Moraes

Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado….

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