Porque devemos parar de perseguir a autoestima e começar a desenvolver autocompaixão

Porque devemos parar de perseguir a autoestima e começar a desenvolver autocompaixão

Fonte recomendadacontioutra.com - Porque devemos parar de perseguir a autoestima e começar a desenvolver autocompaixão

Já se tornou quase banal em nossa cultura o fato de que precisamos ter autoestima para sermos felizes e saudáveis. Psicólogos têm conduzido centenas de estudos divulgando os benefícios da autoestima. Os professores são incentivados a dar estrelas de ouro a todos os alunos para que cada um possa se sentir orgulhoso e especial. Somos instruídos a pensar positivamente sobre nós mesmos a todo o custo, como no livro de afirmações positivas de Stuart Smalleys:  “Eu sou bom o suficiente, esperto o suficiente e, caramba, as pessoas gostam de mim!”  Mas como a pesquisa está começando a demonstrar agora, a necessidade de continuamente nos avaliarmos de forma positiva tem um preço alto.

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Reverence – Manuel Nuñez

O principal problema é que para se ter uma autoestima elevada é preciso sentir-se especial e acima da média. Ser chamado de “mediano” é considerado um insulto em nossa cultura. (O que achou do meu desempenho ontem à noite? Foi mediano. Opa!) Claro, obviamente é impossível que cada ser humano no planeta seja acima da média, ao mesmo tempo. Então, desenvolvemos o que é conhecido como um “viés de auto-aprimoramento”, que se refere à tendência de nos acharmos superiores aos outros em uma variedade de dimensões. Estudos têm mostrado que a maioria das pessoas se acha mais simpática, mais popular, mais engraçada, mais agradável, mais confiável, mais sábia e mais inteligente do que os outros. Ironicamente, a maioria das pessoas também acha que está acima da média na capacidade de se ver objetivamente! O resultado de se usar esses óculos cor-de-rosa não é tão bonito.

Essa necessidade de se sentir superior resulta em um processo de comparação social, no qual continuamente tentamos nos sobressair e desvalorizar os outros (pense no filme Meninas Malvadas e você vai entender o que eu estou falando). As pessoas que praticam bullying geralmente têm uma autoestima elevada, por exemplo, já que implicar com pessoas mais fracas é uma maneira fácil de aumentar a autoestima.

Uma das consequências mais insidiosas do movimento da autoestima nas últimas décadas é a epidemia de narcisismo. Jean Twenge, autora de “Generation Me” (Geração Eu), analisou os níveis de narcisismo de mais de 15.000 universitários dos Estados Unidos, entre 1987 e 2006. Durante esse período de 20 anos, o nível de narcisismo foi às alturas, com 65 por cento dos estudantes de hoje superando as gerações anteriores em narcisismo. Não coincidentemente, a média dos níveis de autoestima dos estudantes aumentou em uma proporção ainda maior no mesmo período.

Ao mesmo tempo em que tentamos nos ver como melhores do que os outros, tendemos também a nos “estripar”com autocrítica, quando não alcançamos altos padrões. Logo que nossos sentimentos de superioridade escorregam– como inevitavelmente acontece– nosso senso de dignidade cai vertiginosamente. Nós balançamos descontroladamente entre autoestima excessivamente inflada e excessivamente esmorecida, uma montanha russa emocional, cujo resultado final é, muitas vezes, insegurança, ansiedade e depressão.

Então, qual é a alternativa? Que tal nos sentirmos bem com nós mesmos, sem a necessidade de sermos melhores do que outros, caindo assim na armadilha do narcisismo/ auto-reprovação? Uma resposta seria desenvolver a autocompaixão.

Autocompaixão envolve sermos gentis com nós mesmos, quando a vida dá errado ou notamos algo sobre nós que não gostamos, em vez de sermos frios ou severamente autocríticos. Ela reconhece que a condição humana é imperfeita, assim, nos sentimos conectados aos outros quando falhamos ou sofremos, em vez de nos sentirmos separados ou isolados. Envolve também a conscientização– o reconhecimento e a aceitação imparcial das emoções dolorosas ao passo que surgem no momento atual. Ao invés de suprimir nossa dor, ou então torná-la um drama pessoal exagerado, vemos a nós mesmos e a nossa situação claramente.

Autocompaixão não exige que nos avaliemos positivamente ou que nos vejamos como melhores do que outros. Pelo contrário, as emoções positivas da autocompaixão surgem exatamente quando a autoestima cai; Quando não atendemos a nossas expectativas ou falhamos de alguma forma. Isto significa que o senso de autovalorização intrínseco inerente à autocompaixão é altamente estável. Está constantemente disponível para nos fornecer cuidados e apoio em momentos de necessidade. Minha pesquisa e a dos meus colegas tem mostrado que a autocompaixão oferece os mesmos benefícios que a autoestima elevada, tais como menos ansiedade e depressão e maior felicidade. No entanto, não está associada com as desvantagens da autoestima como narcisismo, comparação social ou defesa do ego.

Ao invés de perseguir eternamente a autoestima como se fosse o pote de ouro no fim do arco-íris, portanto, eu diria que se deve encorajar o desenvolvimento de autocompaixão. Dessa forma, se estivermos no topo do mundo ou no fundo do poço, podemos nos envolver com um sentido uma bondade, conectividade e equilíbrio emocional. Nós podemos fornecer a segurança emocional necessária para vermos a nós mesmos com clareza e nos certificarmos de fazer as mudanças necessárias para resolver nosso sofrimento. Podemos aprender a nos sentir bem, não porque somos especiais e acima da média, mas porque somos seres humanos intrinsecamente dignos de respeito.

 Por Kristin Neff

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Como lidar com o diagnóstico da doença de Alzheimer

Como lidar com o diagnóstico da doença de Alzheimer

Via contioutra.com - Como lidar com o diagnóstico da doença de Alzheimer

O diagnóstico de uma determinada doença é uma notícia perturbadora para qualquer pessoa e para a sua família, especialmente quando se trata da doença de Alzheimer. É necessário que o paciente e o seu cuidador tenham um espírito muito forte e uma força de vontade muito grande para aguentarem o impacto que uma novidade deste tipo pode provocar.

Saiba como lidar com o diagnóstico da doença de Alzheimer e adote as medidas mais adequadas para ter uma vida equilibrada.

Um diagnóstico da doença de Alzheimer pode ser devastador e deixar os seus pacientes e cuidadores muito deprimidos, desmoralizados e confusos. Depois de superar o choque, a decepção e, possivelmente, a raiva inicial, é necessário seguir em frente e adotar novas estratégias que protejam o paciente e a sua família. Das medidas mais importantes, destacam-se as seguintes:

Conversar com o médico da família

Depois de ter sido diagnosticada a doença de Alzheimer, é fundamental conversar com o seu médico da família acerca de todas as variantes da doença. Ao fazê-lo, compreenderá como é que a doença funciona, quais os seus sintomas principais e quais os principais tratamentos que poderão ser adotados. O médico da família é a pessoa mais indicada para traçar um tratamento eficaz para o doente de Alzheimer e cabe ao paciente e ao cuidador colocá-lo em prática.

Recolher o máximo de informação acerca da doença de Alzheimer

Uma das melhores formas para lidar com a doença de Alzheimer passa por recolher todo o tipo de informação acerca da respetiva patologia. O conhecimento acerca da doença ajuda a aliviar os sinais da depressão, o medo, a insegurança e a solidão sentida pelos seus pacientes.

Encontrar associações e grupos de apoio

Atualmente, existem várias associações e instituições, como a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer (APFADA), que divulgam todas as informações acerca da doença de Alzheimer, promovem o seu estudo, investigação, efeitos e tratamentos. Por outro lado, também existem fóruns temáticos na internet, onde todos os cuidadores, familiares e doentes de Alzheimer podem discutir as suas ideias, experiências e pontos de vista principais sem terem de sair de casa.
Tenha em consideração que alguns grupos comunitários podem oferecer aulas aos doentes de Alzheimer, familiares e cuidadores, com o intuito de lhes ensinar alguns cuidados essenciais. Eles também ajudam a ultrapassar determinados problemas e a superar certas crises e adversidades que surgem ao longo da doença. Todas estas entidades têm um objetivo em comum: promover a qualidade de vida das pessoas com demência, dos seus familiares e cuidadores.

Saber o que esperar

É muito importante saber como a doença poderá evoluir e, como tal, é fundamental conhecer todos os sinais de aviso da doença de Alzheimer e de demência. Ao fazê-lo, estará melhor preparado para dar uma resposta mais eficaz a uma eventual emergência futura provocada pela doença.

Preparar os familiares, amigos e conhecidos

A doença de Alzheimer é uma desordem que afeta o correto funcionamento do cérebro e provoca uma deterioração progressiva das funções do conhecimento. No entanto, muitas pessoas não têm esta perceção e devem ser informadas em conformidade para ajudarem da melhor maneira possível. Quanto mais as pessoas aprenderem sobre a doença, mais confortáveis e à vontade os pacientes se sentirão.

Falar com o doente de Alzheimer

Os cuidadores e os familiares devem preparar-se para enfrentar da melhor maneira a doença de Alzheimer, mas, acima de tudo, devem preparar e falar com a pessoa a quem foi diagnosticada a doença. Falar com alguém que sofra da doença de Alzheimer pode ser muito difícil e desconfortável, especialmente quando se tratam de pais idosos, mas é obrigatório fazer determinadas perguntas, como por exemplo: O que é que a pessoa diagnosticada quer? Será que ela quer viver em casa a maior parte do tempo? O que acontecerá se a pessoa afetada não tiver condições para ser tratada em casa? Existem condições econômicas para pagar cuidados adicionais?

Começar a planear o futuro

Assim que a doença de Alzheimer é diagnosticada, é necessário começar a planear o futuro da pessoa afetada. Ao fazê-lo, terá conhecimento da sua rotina diária e de algum comportamento desviante que ela possa vir a desenvolver. Existem muitas decisões que devem ser tomadas para melhorar a qualidade de vida de um doente de Alzheimer e das principais destacam-se as seguintes:

  • Recolher todas as informações financeiras e preparar-se para gerir as finanças da pessoa afetada em caso de necessidade
  • Garantir a validade de todos os documentos para que eles possam ser utilizados a qualquer altura
  • Investigar as opções existentes de cuidados de longa duração
  • Determinar os serviços que são cobertos pelo seguro de saúde
  • Adaptar o tratamento da doença à rotina diária do paciente

Considerar a instalação de dispositivos de segurança

Um dos sintomas principais da doença Alzheimer está relacionado com as fugas dos seus doentes, pois eles não se sentem familiarizados nem reconhecem o local onde vivem. Dessa forma, poderá ser necessário instalar fechaduras e alarmes de proteção anti-fuga, camuflar as portas e janelas de uma casa, introduzir passatempos ativos e distrações nas horas de maior devaneio, utilizar dispositivos de localização e usar pulseiras ou colares de identificação.

Procurar padrões da doença de Alzheimer

Uma das melhores formas para proteger um doente de Alzheimer passa por saber qual é a sua rotina diária. Ao fazê-lo, conhecerá os seus hábitos e comportamentos normais perante qualquer tipo de situação e adversidade. Por outro lado, se detetar que o paciente fica mais agitado ou ativo a uma determinada hora do dia, é aconselhável que o cuidador esteja com a atenção redobrada durante esse período.

Pensar em cuidados profissionais

Deve considerar a utilização de um centro de dia para adultos ou recorrer ao auxílio de outros cuidadores profissionais para tomar conta de uma pessoa que sofre da doença de Alzheimer. Assim, saberá que o paciente vai estar sob os melhores cuidados clínicos, o que vai fazer com que tenha uma vida saudável e equilibrada.

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Como saber se um idoso sofre de demência

Como saber se um idoso sofre de demência
Ed Yourdon

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Todas as pessoas acabam por esquecer de vez em quando o nome de um familiar ou de um amigo distante, o local onde colocaram as chaves de casa ou se fecharam corretamente o automóvel. No entanto, existem episódios de perda de memória que poderão ser muito mais preocupantes, principalmente nas pessoas idosas, como não se lembrar do caminho para casa ou deixar de saber como utilizar o telefone. Saiba se um idoso sofre de demência ao observar os seus sinais principais e aprenda como a pode tratar.

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Photo by Ed Yourdon

O que é a demência

A demência é um termo usado para descrever um conjunto de perturbações específicas que podem ser causadas por uma série de desordens mentais diferentes que afetam o cérebro. Ela provoca a progressiva deterioração da função cognitiva, prejudicando a capacidade de pensar e de raciocinar. As pessoas que sofrem de demência também perdem a capacidade de resolver os seus próprios problemas, têm dificuldades em manter o seu equilíbrio emocional e podem ter problemas de comportamento, como delírios e alucinações constantes.

A perda de memória é um dos sintomas comuns da demência, mas isso não significa que uma pessoa que sofra de perda de memória seja necessariamente demente. Os médicos só conseguem diagnosticar a demência quando duas ou mais funções cerebrais estão afetadas, como por exemplo, a memória e a capacidade linguística. É de realçar que existem outras doenças que podem causar sintomas de demência, como:a Doença de Alzheimer, a Demência Vascular, a Demência de Lewy, a Doença Frontotemporal, a Doença de Huntington e a Doença de Creutzfeldt-Jakob.

Por outro lado, os médicos também identificaram outras condições que podem provocar a demência, como a reação a determinados medicamentos, problemas metabólicos, anormalidades endócrinas, deficiências nutricionais, infeções, intoxicações, tumores cerebrais e doenças cardíacas e pulmonares.

Apesar de esta doença ser muito comum nas pessoas idosas, a demência não faz parte do processo de envelhecimento normal.

Os sinais se demência

Os problemas mais sérios de memória, como a demência e a doença de Alzheimer afetam a autonomia e o poder de decisão de uma pessoa idosa, pois impedem-na de realizar as tarefas mais básicas do dia-a-dia, como conduzir um automóvel ou gerir as suas próprias finanças. Os sinais de demência ou outros problemas de memória podem incluir:

  • Fazer repetidamente as mesmas perguntas
  • Perder-se constantemente em locais bem conhecidos
  • Não ser capaz de seguir direções
  • Ficar muito confuso sobre o tempo, pessoas e lugares
  • Não cuidar de si mesmo
  • Fazer uma má alimentação e não cumprir com uma dieta equilibrada e saudável
  • Descurar a higiene pessoal
  • Sentir-se inseguro, desmotivado e sem autoestima

Quais as opções de tratamento para a demência

Atualmente, estão disponíveis medicamentos que tratam especificamente a demência progressiva. Contudo, apesar destes medicamentos não conseguirem parar os efeitos da doença ou reverter os danos cerebrais que foram provocados, eles podem retardar a progressão da perturbação. Assim, a sua adoção melhora a qualidade de vida de um idoso, alivia o fardo dos cuidadores que tomam conta de idosos com demência e atrasa o seu internamento numa casa de repouso.

Muitos investigadores também estão a examinar se estes medicamentos podem ser úteis para o tratamento de outros tipos de demência, principalmente aquela que surge numa fase inicial. Assim, as pessoas podem melhorar o desempenho de certos aspetos específicos da função cognitiva.

A importância do diagnóstico médico

Os cuidadores que estão preocupados com a memória de um idoso, devem certificar-se que ele é observado pelo seu médico de família ou por um neurologista. Ele pode efetuar uma avaliação completa da condição mental e física da pessoa. Ao fazê-lo, terá todas as condições para fazer um diagnóstico detalhado sobre o seu estado geral de saúde e estabelecer o plano de tratamento mais adequado.

Um exame médico completo para a perda de memória deve revisar o historial clínico da pessoa, como os medicamentos que está a tomar e a alimentação que está a seguir. Se o médico detetar que se passa algo de errado com o seu paciente, ele pode realizar um check-up completo, incluindo exames ao sangue e à urina.

O idoso também deverá realizar alguns exercícios psicotécnicos e testes de memória para comprovar que as suas competências linguísticas e psicossociais permanecem inalteradas. Caso seja necessário, o médico pode mandar realizar uma tomografia computadorizada ou ressonância magnética para ver se está tudo a funcionar corretamente com o cérebro da pessoa idosa.

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QUEM É SEU AMANTE?

QUEM É SEU AMANTE?

Muitas pessoas tem um amante e outras gostariam de ter um. Há também as que não tem, e as que tinham e perderam. Geralmente, são essas últimas que vem ao meu consultório, para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insônia,apatia, pessimismo, crises de choro, dores etc.

Elas me contam que suas vidas transcorrem de forma monótona e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar seu tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão simplesmente perdendo a esperança.

Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme:”Depressão”, além da inevitável receita do anti-depressivo do momento.

Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que não precisam de nenhum anti-depressivo; digo-lhes que precisam de um AMANTE!!!

É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu conselho.Há as que pensam: “Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas”?! Há também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais. Aquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico o seguinte:”AMANTE” é aquilo que nos “apaixona”, é o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono, é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir.

O nosso “AMANTE ” é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida. Às vezes encontramos o nosso “AMANTE” em nosso parceiro, outras, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis.Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predileto….

Enfim, é “alguém!” ou “algo” que nos faz “namorar a vida” e nos afasta do triste destino de “ir levando”!.. E o que é “ir levando”? Ir levando é ter medo de viver. É o vigiar a forma como os outros vivem, é o se deixar dominar pela pressão, perambular por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastar-se do que é gratificante, observar decepcionado cada ruga nova que o espelho mostra, é se aborrecer com o calor ou com o frio, com a umidade, com o sol ou com a chuva.

Ir levando é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo se contentar com a incerta e frágil ilusão, de que talvez possamos realizar algo amanhã. Por favor, não se contente com “ir levando”; procure um amante, seja também um amante e um protagonista… DA SUA VIDA!

Acredite:
O trágico não é morrer,
afinal a morte tem boa memória,
e nunca se esqueceu de ninguém.
O trágico é desistir de viver…
Por isso, e sem mais delongas,
procure um amante …
A psicologia após estudar muito sobre o tema,
descobriu algo transcendental:

“PARA ESTAR SATISFEITO, ATIVO
E SENTIR-SE JOVEM E FELIZ,
É PRECISO NAMORAR A VIDA”.

Jorge Bucay – psicólogo argentino

Fonte indicada: Cuidar de Idosos

Como conversar e lidar com um idoso teimoso

Como conversar e lidar com um idoso teimoso

Via contioutra.com - Como conversar e lidar com um idoso teimoso

Conversar e lidar com um idoso teimoso não é tarefa fácil, porque é muito complicado para o idoso acatar as opiniões e sugestões de outros, principalmente para aqueles que sempre foram habituados a dar ordens e a tomar as decisões mais importantes na vida familiar.

Saiba como conversar e lidar com um idoso teimoso, só assim você será ouvido e respeitado.

A resistência à condição de idoso 

A maioria das pessoas não gosta que lhes seja dito o que devem fazer ou como se devem comportar perante um determinado cenário. No caso de um idoso obstinado é ainda pior porque, geralmente, uma pessoa teimosa coloca barreiras ao que lhe é dito e recusa toda e qualquer opinião que vá contra as suas ideias.
À medida que uma pessoa caminha para a velhice, o seu estado de saúde fica enfraquecido e debilitado e é natural que não consiga desempenhar determinadas tarefas a que antes estava habituado. Nestas circunstâncias o idoso precisa de auxílio, pois pode cometer erros que se podem revelar fatais.
No entanto, convencer um idoso a executar tarefas como tomar os medicamentos, ir ao médico, ou até mesmo fazer algum tipo de exercício, pode revelar-se uma tarefa hercúlea para quem cuida dessa pessoa. Pior ainda é quando é um filho que cuida do seu pai, pois os laços familiares fazem com que a resistência seja maior. Uma pessoa teimosa coloca maiores entraves à aceitação de ordens e recomendações de um filho, porque foram eles que estiveram sempre na liderança e na tomada de decisões e não querem perder a sua independência. Um filho quer apenas o melhor para o seu pai, contudo esta inversão de papéis pode conduzir ao conflito entre pais e filhos, conflito esse que só é sanado através da compreensão e do diálogo.

Como lidar com um idoso teimoso

Para lidar com um idoso teimoso existem técnicas específicas que podem ser utilizadas de forma a defender o interesse de todos os intervenientes. Contudo, ao aplicá-las, deve privilegiar o diálogo, ser assertivo no seu discurso e, acima de tudo, compreensivo. Conheça-as em seguida:

  • Aja de acordo com a sua posição: Independentemente de ser um filho, enfermeiro ou pessoa particular que está a cuidar de um idoso, deve agir de acordo com a sua posição, pois ser-lhe-ão exigidas responsabilidades e poderá ser acusado de negligência, caso alguma coisa de mal aconteça à pessoa idosa.

Terá toda a legitimidade para agir e tomar as decisões mais sensatas, pois os cuidados a ter com um idoso são enormes e os perigos podem ser grandes: pode deflagrar um incêndio em casa porque a pessoa idosa se esqueceu de desligar o gás; pode um idoso morrer porque não tomou os medicamentos corretos; ou pode cair no banheiro e não ser socorrido a tempo. São muitas dúvidas e medos que podem ser evitados de acordo com a sua tomada de posição;

  • Não tenha o objetivo de agradar às pessoas: Se tem a consciência que está a tomar a melhor decisão face a uma determinada situação, independentemente de esta magoar outrem, tome-a! Nunca adote medidas de modo a ser popular ou a fazer a vontade a um idoso, só pelo simples fato de ele ser idoso, pois, no fundo, pode estar a prejudicá-lo mais. Por exemplo: todos os idosos querem a sua privacidade e independência e querem ficar na sua própria casa. Ao fazer-lhe a vontade, pode estar a adotar a pior atitude, pois ninguém o vai socorrer em caso de emergência;

Fale com autoridade e seja irredutível nas suas decisões: Ao ter um discurso seguro e assertivo vai fazer-se ouvir e ser respeitado. Assim, as suas decisões e ações não serão opcionais para a pessoa idosa, mas antes uma obrigação. As pessoas perdem o respeito quando a pessoa que está na liderança volta atrás numa determinada decisão. Por exemplo, ao não deixar uma pessoa idosa conduzir por reconhecer que ela já não tem as capacidades necessárias para o fazer, não abra exceções apenas porque a distância é curta ou porque se trata apenas de um passeio. Os acidentes acontecem e podem dever-se ao desleixe e à má preparação do condutor;

  • Apresente provas concretas: Para impedir que um idoso atue de uma determinada forma, fundamente a sua argumentação no máximo de provas físicas que consiga arranjar. Apresente-lhe relatórios médicos, a opinião de oftalmologistas, mostre-lhe estatísticas de casos semelhantes e dessa forma conseguirá demovê-lo dos seus intentos. Por exemplo: perante a insistência em continuar ao volante, mostre-lhes estatísticas da Direção Geral de Viação (DGV) no que diz respeito aos acidentes de viação que ocorrem e que envolvem pessoas idosas. A prova dos fatos exercerá um peso fundamental para ultrapassar a teimosia ou relutância em continuar a conduzir;

Mostre-lhe que está do lado dele: Um idoso é considerado uma “criança” de maioridade que requer muitos cuidados, atenção e muito carinho. Faça ver à pessoa idosa que está do seu lado, mostre-lhe o seu desassossego, porque no fundo não é tão infundado quanto isso, dadas as coisas menos agradáveis que podem acontecer se não forem alvos de um acompanhamento constante. Não deixe que a pessoa idosa se isole no seu próprio mundo, graças à sua própria teimosia e demonstre-lhe a infinidade de atividades divertidas que ainda podem ser feitas.

O que os idosos devem fazer

Ao caminhar para a velhice, um idoso deve colocar a sua teimosia de parte e ouvir o que os outros têm para dizer, só assim terá um maior conforto e qualidade de vida.
Ao rejeitarem o auxílio de outros, por teimosia, orgulho ferido ou em recusar aceitar a sua condição de idoso, uma pessoa pode cometer determinados erros e colocar em risco a sua própria vida. Aceite o auxílio de quem mais lhe quer bem.

Aceite a posição em que se encontra: A vida muda, assim como o corpo humano e a posição de fragilidade em que se encontra neste momento é aquela em que os seus pais estavam no passado e aquela em que os seus filhos estarão no futuro. Reconheça as suas limitações, pois será a melhor forma de ser compreendido e respeitado.
Ao longo da vida um pai dá a melhor educação aos seus filhos para que estes a possam utilizar nas mais diversas situações. Quando você atinge a velhice, as ações de um filho serão certamente para o beneficiar, colocando em prática toda a educação e ensinamentos que receberam ao longo de uma vida.

Não coloque restrições à ajuda de outros: Ser ajudado não um obstáculo. Saber que existem pessoas que gostam de você, que querem conversar, ou ajudá-lo a tomar as melhores decisões é uma bênção e conduz a uma vida mais saudável.

Precisa de ajuda? Fale com um psicólogo.

Psicóloga Elisângela Aparecida Siqueira

Terapia Online

Faça contato pelo site e tire suas dúvidas

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Conheça as características de bons pais e mães e descubra se você precisa de ajuda.

Conheça as características de bons pais e mães e descubra se você precisa de ajuda.

Por Francione Sousa, viacontioutra.com - Conheça as características de bons pais e mães e descubra se você precisa de ajuda.

Quando eu era adolescente, li a seguinte frase: “Nenhum sucesso na vida compensa o fracasso no lar”, do estudioso e religioso David. O Mckay. Li essa frase em um livro campeão de vendas em que o autor explica hábitos de pessoas eficazes.

Algum tempo depois, soube que o autor do livro havia fracassado com o casamento.

Então, eu me perguntei: será que ele fracassou como pai também? A partir daquele momento, decidi observar por mim mesma como os pais e as mães tinham sucesso com os filhos. Como eles seriam bons pais?

Perguntei a uma mãe como é ser uma boa mãe. Ela me falou que é procurar o que o filho está precisando. Pedi para ela ser mais específica, então ela falou: “Saber das necessidades materiais dele”. Um pai falou: “Um bom pai deve ser amigo do filho.” Uma outra mãe falou que uma boa mãe ensina o filho a ser um bom cidadão.

Esse tema leva a muitas discussões. Mas existe algo muito além de suprir as necessidades materiais do filho ou ser seu amigo, ou ensiná-lo a ser um bom cidadão. Bons pais realizam muito mais do que isso, eles são responsáveis por formar o indivíduo em todos os aspectos da vida.

Porque bons pais e boas mães:

1. Erram

Não são perfeitos e jamais serão perfeitos na arte de educar os filhos. Essa parte aqui é fundamental, motiva à reflexão. O manual de pais perfeitos não vem com os filhos, quando eles saem da maternidade. Você precisa estar ciente de que vai errar em alguns momentos. “Se você quer os acertos, esteja preparado para os erros.”(Carl Yastrzemski)

2. Estão mais em busca do sucesso no lar do que fora dele

Lembram-se da frase? “Nenhum sucesso na vida compensa o fracasso no lar.”(David O. Mckay)

3. Ensinam seus filhos mais pelo exemplo do que pelas palavras

Na função de pai ou de mãe, você sempre estará ensinando, embora não se dê conta. E a pergunta é: o que o seu exemplo está ensinando a eles? Ser honesto, paciente, tolerante, humilde, solidário, cuidadoso? Não tenha dúvidas, os filhos, na maioria das vezes, seguirão seu exemplo.

4. Sabem dizer “não”

Não é dizendo sempre “sim” que você será um bom pai ou uma boa mãe.

5. Reservam tempo para estar com seus filhos

Incentive-os a contar o que estão aprendendo no dia. Essa ação precisa começar bem cedo, enquanto eles estão crescendo, assim se tornará um hábito, e eles saberão que vocês estarão abertos para ouvi-los, seja qual for a situação em que eles se encontram, e vocês ficarão atentos a qualquer alerta de perigo que por ventura esteja rodeando seus filhos.

6. Estabelecem limites e dão responsabilidades

A psicóloga Vanderléia de Fátima T. Da Silva em um de seus artigos sobre limites disse: “Limitar o filho é ajudá-lo a crescer com responsabilidade e autonomia”.

7. Dizem “Eu te amo”

Bons pais expressam amor regularmente a seus filhos de diversas maneiras.

8. Participam de projetos sociais com seus filhos

Participe de projetos que estimulam atos de bondade, generosidade, gentileza e lealdade com o próximo.

9. Fazem uso das redes de apoio

Esteja sempre em contado com professores, pedagogos, avós, líderes religiosos.

10. O que bons pais ensinam a seus filhos?

  • Ensinam que obter um bom grau de instrução vai ajudar a ter uma boa condição financeira. Porém, só isso não vai tornar um lar feliz, embora seja necessário. Sim, é necessário ter preparação financeira, mas sem amor, compreensão, tolerância, respeito e outros valores necessários, será bem difícil construir um lar feliz.
  • Ensinam que não se deve comparar. E eles não comparam seus filhos, mas os incentivam e facilitam suas realizações, incentivando e ajudando quando necessário.
  • Ensinam seus filhos sobre suas futuras responsabilidades. Se fizerem parte de um grupo religioso, ensinam as histórias dos profetas, a vida de Jesus Cristo, incentivam a viver de tal modo que possam colaborar com os bons princípios e histórias das escrituras na sociedade.
  • Bons pais ensinam a cidadania, a tolerância e o respeito mútuo.

    Sabemos que educar não é tarefa fácil, mas vocês, pais e mães, precisam continuar. Se já fazem uso dessas ações em seu lar, maravilhoso! Os resultados certamante aparecerão. Lembrem-se de que não precisam ser perfeitos para se tornarem bons pais e boas mães. Porém, realizar essas boas práticas é fundamental para a criação de seus filhos, pois apenas vocês são os responsáveis por formar seu filho em todos os aspectos da vida deles.

Precisa de ajuda?

Mag Montenegro Psicóloga

Suporte e Orientação para Pais
Psicoterapia Infantil
Diagnóstico dos Transtornos do Desenvolvimento
Psicoterapia Psicanalítica

Contatos:

e-mail: [email protected]

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Como criar um plano diário de atividades para pacientes com Alzheimer

Como criar um plano diário de atividades para pacientes com Alzheimer

Via Terceira Idade Melhor

Sugestões para o cuidador  

Uma pessoa com demência, e em particular com Alzheimer, dependendo do estágio da doença, precisará da assistência de um cuidador para organizar seu dia. Atividades planejadas e assistidas por um cuidador podem aumentar o senso de dignidade e auto estima do paciente dando-lhe mais propósito e significado ao seu dia a dia.

Terapia Ocupacional recomenda atividades estruturadas e rotineiras, que com  a repetição diária, ajudam o paciente a ter noção da hora do dia. Além disso, o paciente pode usar e até mesmo desenvolver suas habilidades, aumentar a qualidade de vida e facilitar o relaxamento. Atividades também podem reduzir comportamentos como perambulação ou agitação.

Ambos, cuidador e paciente podem desfrutar do clima de segurança e participação que as atividades proporcionam.

Pense em como organizar seu próprio dia quando planejar o dia do paciente. De modo geral, é bom manter uma rotina; as mudanças na rotina trazem insegurança. O desafio do cuidador é encontrar atividades que proporcionem significado e propósito, assim como promovam alegria e satisfação.

Para fazer uma lista de atividades, comece lembrando-se do que fez na semana passada. Tente fazer um “diário de bordo” e anote as mais marcantes:

  • Que atividades funcionaram e quais não? Porque?
  • Houve momentos em que foi pouco ou foi demais?
  • Quais atividades esporádicas (passear, visitar um amigo, etc.) deram satisfação, ou, ao contrário criaram ansiedade e confusão?

Baseado nestas conclusões escreva um plano diário. Um dia planejado permite menos perda de tempo e energia, indicando o que fazer momento a momento. Permite a você mesmo e ao paciente alguma flexibilidade para atividades esporádicas(não rotineiras), assim como tempo de descansar.

Como devem ser as atividades:

  • Ter significado e objetivo.
  • Utilizar as habilidades do paciente.
  • Criar uma sensação de normalidade.
  • Envolver, quando possível, familiares e amigos.
  • Serem apropriadas para adultos (que não infantilizem o paciente).
  • Dar alegria e promover a auto estima do paciente.
  • Enfatize o processo e não o resultado.
  • Preferidas pelo paciente e executadas nos horários habituais antes de ser acometido pela doença.

contioutra.com - Como criar um plano diário de atividades para pacientes com Alzheimer 

Exemplo de um plano diário

Manhã

o   Lavar-se, escovar os dentes, vestir-se.

o   Preparar o café da manhã

o   Tomar café, conversar

o   Ler o jornal, tentar um trabalho manual, reminiscências através de fotos

o   Fazer um intervalo, ter um tempo quieto.

o   Fazer algumas tarefas em conjunto.

o   Fazer uma caminhada, aplicar jogos que estimulem a ação cognitiva.

Tarde

o   Preparar a refeição e almoçar, ler os emails, lavar pratos.

o   Ouvir música, fazer palavras cruzadas, ver TV.

o   Fazer um pouco de jardinagem, caminhar.

o   Fazer um intervalo ou tirar uma soneca.

o   Fazer um passeio, visitar um amigo

Noite

o   Preparar a refeição e jantar, limpar a cozinha.

o   Fazer reminiscências durante o café e a sobremesa.

o   Jogar cartas, fazer massagem de conforto.

o   Tomar banho, se preparar para ir para cama, ler um livro.  

Sugestão de planilha

Avaliação do resultado do plano

Avaliar como o plano diário está funcionando, pensar sobre como o paciente responde a cada atividade e como ele consegue preencher suas necessidades. O sucesso de uma atividade pode variar de um dia para o outro. Em geral, se o paciente parece entediado, distraído ou irritadiço, pode ser a hora de introduzir outra atividade ou fazer uma intervalo para descanso.

Atividades estruturadas e prazerosas podem reduzir a agitação e melhoram o humor. A análise prévia do tipo de atividade e como ela é executada e concluída são tão importantes quanto a alegria e a sensação de ter terminado uma tarefa, de ser útil. Após análise e avaliação  do grau de satisfação do paciente, introduzir novas atividades ou fazer as adaptações necessárias.

10 dicas rápidas para o cuidador na aplicação das atividades

1. Seja flexível e paciente. O tempo dele é diferente do seu.

2. Encoraje a participação do paciente nas atividades da vida diária (AVD’s).

3. Evite corrigir o paciente. Ajude-o a refazer.

4. Ajude o paciente a manter-se o mais independente quanto possível.

5. Ofereça oportunidades de escolha no modo de fazer (se ainda for possível o   paciente fazer escolhas)

6. Simplifique as instruções. Faça um guia passo a passo.

7. Estabeleça uma rotina que seja familiar.

8. Tente entender e responder aos sentimentos do paciente.

9. Simplifique, estruture e supervisione.

10. Ofereça incentivo e apoio.

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As 8 preocupações mundanas segundo o budismo

As 8 preocupações mundanas segundo o budismo

Via: contioutra.com - As 8 preocupações mundanas segundo o budismo

Podemos achar que, de algum modo, devemos tentar erradicar esses sentimentos de prazer e dor, perda e ganho, louvor e culpa, prestígio e desonra. Entretanto, seria uma abordagem mais realista tentar conhecê-los, ver como eles nos fisgam, observar como colorem nossa percepção da realidade, perceber que não são assim tão sólidos. Então, os oito dharmas materiais se transformariam em meios para nos tornarmos mais sábios, bondosos e felizes.

Um dos ensinamentos budistas clássicos sobre esperança e medo refere-se aos chamados oito dharmas materiais [ou oito dharmas mundanos], que são pares de opostos: quatro de que gostamos e a que nos apegamos, e quatro de que não gostamos e tentamos evitar. A mensagem básica é a de que sofremos quando ficamos envolvidos neles.

Em primeiro lugar, gostamos do prazer e somos apegados a ele. Ao contrário, não gostamos da dor. Em segundo lugar, gostamos de louvores e somos atraídos por eles. Tentamos evitar a crítica e a culpa. Em terceiro, gostamos de prestígio e damos valor a ele. Não gostamos da desonra e tentamos evitá-la. Finalmente, somos apegados ao ganho, a conseguir aquilo que desejamos. Não gostamos de perder o que possuímos.

De acordo com esse ensinamento muito simples, estar imerso nesses quatro pares de opostos — prazer e dor, perda e ganho, prestígio e desonra, louvor e culpa — é o que nos mantém presos ao sofrimento do samsara.

Sempre que nos sentimos bem, nossos pensamentos são geralmente sobre os aspectos de que gostamos — louvor, ganho, prazer e prestígio. Quando nos sentimos insatisfeitos, irritados e fartos, nossos pensamentos e emoções estão, provavelmente, girando em torno de algo como dor, perda, desonra e culpa.

Vamos tomar o louvor e a culpa. Alguém chega até nós e diz: “Você está velho”. Se acontece de querermos ser velhos, vamos nos sentir muito bem. Ouvimos isso como elogio, sentimos grande prazer e um sentimento de ganho e prestígio. Entretanto, imagine que passamos o ano inteiro obcecados pela ideia de nos livramos de nossas rugas e de termos uma linha do queixo mais firme. Quando alguém diz “Você está velho”, encaramos isso como um insulto. Acabamos de ser criticados e experimentamos um sentimento de dor correspondente.

Mesmo se pararmos agora de falar sobre esse ensinamento específico, já é possível perceber que muitas de nossas variações de humor estão relacionadas com a maneira pela qual interpretamos o que acontece. Se olharmos atentamente para as alterações de nossos estados de espírito, veremos que sempre existe algo que as desencadeia. Carregamos uma realidade subjetiva que está continuamente fazendo disparar reações emocionais. Alguém diz “você está velho” e entramos em um estado mental específico — de alegria ou tristeza, de encanto ou aborrecimento. Para outra pessoa, a mesma experiência pode ser completamente neutra.

Palavras são faladas, cartas são recebidas, telefonemas são dados, o alimento é ingerido, as coisas acontecem ou não acontecem. Acordamos pela manhã, abrimos os olhos e as situações sucedem-se o dia todo, até que vamos dormir novamente. Mesmo durante o sono, muita coisa acontece. Durante toda a noite, encontramos as pessoas e situações de nossos sonhos. Como reagimos ao que ocorre? Somos apegados a determinadas experiências? Rejeitamos ou evitamos outras? Quanto somos fisgados pelos oito dharmas materiais?

A ironia está no fato de que somos nós mesmos que os construímos, por meio de reações ao que nos acontece. Eles não são concretos em si mesmos. Mais estranho ainda é o fato de também não sermos tão sólidos assim. Temos um conceito a respeito de nós mesmos que reconstruímos momento a momento e tentamos proteger por reflexo. Entretanto, esse conceito que estamos protegendo é questionável. É tudo “muito barulho por nada” — como empurrar e puxar uma ilusão que se desfaz.

Podemos achar que, de algum modo, devemos tentar erradicar esses sentimentos de prazer e dor, perda e ganho, louvor e culpa, prestígio e desonra. Entretanto, seria uma abordagem mais realista tentar conhecê-los, ver como eles nos fisgam, observar como colorem nossa percepção da realidade, perceber que não são assim tão sólidos. Então, os oito dharmas materiais se transformariam em meios para nos tornarmos mais sábios, bondosos e felizes.

Para começar, durante a meditação, podemos perceber como as emoções e os estados de humor estão relacionados com ter ganhado ou perdido algo, ter sido elogiado ou acusado, e assim por diante. É possível notar que aquilo que começa como um simples pensamento, uma mera qualidade de energia, rapidamente se manifesta sob uma forma desenvolvida de prazer ou sofrimento. É claro que precisamos de uma certa coragem, já que gostaríamos que tudo ficasse na coluna do prazer/louvor/prestígio/ganho. Gostaríamos de nos assegurar de que tudo vai ser a nosso favor. No entanto, quando olhamos bem, vemos que não temos nenhum controle sobre o que nos acontece. Temos todo tipo de alteração de humor e reação emocional. Elas simplesmente vêm e vão, interminavelmente.

Às vezes, seremos completamente aprisionados por um drama. Ficaremos tão aborrecidos quanto ficaríamos se alguém entrasse na sala e nos desse um tapa no rosto. Nesse momento é possível pensar: “Espere um pouco — o que está acontecendo?”. Olhamos para a situação e conseguimos enxergar que, de repente, sentimos que perdemos algo ou fomos insultados. Não sabemos de onde vem essa sensação, mas lá estamos nós, mais uma vez fisgados pelos oito dharmas materiais.

Exatamente nesse momento, podemos sentir essa energia, fazer o máximo para permitir que os pensamentos se dissolvam e dar a nós mesmos uma folga. Para além de todo o estardalhaço e confusão, existe um céu enorme. Bem ali, no meio da tempestade, podemos parar e relaxar.

Podemos também ser completamente levados por uma deliciosa, prazerosa fantasia. Olhamos para a situação e, do nada, sentimos que ganhamos, vencemos, fomos elogiados por algo. O que surge foge ao nosso controle e é totalmente imprevisível, como as imagens de um sonho. Entretanto, assim que se inicia, somos mais uma vez fisgados pelos oito dharmas materiais.

Os seres humanos são tão previsíveis! Um pequeno pensamento surge, cresce, e antes que possamos saber o que aconteceu, somos tomados pela esperança e pelo medo.

No século VIII, um homem notável introduziu o budismo no Tibete. Seu nome era Padmasambhava, o Nascido do Lótus. Era também chamado de Guru Rinpoche. A lenda conta que, certa manhã, ele simplesmente apareceu sentado em um lótus, no meio de um lago. Diz-se que essa criança incomum nasceu totalmente desperta, sabendo, desde o primeiro momento, que os fenômenos — exteriores e interiores — não possuem nenhuma realidade. O que ele não sabia era como funcionavam os fatos da vida cotidiana. Era um menino muito curioso. Percebeu, desde o primeiro dia, que atraía a todos com seu brilho e beleza. Notou também que, quando estava alegre e bem-humorado, as pessoas ficam felizes e o cobriam de elogios. O rei desse país ficou tão cativado por essa criança que levou Guru Rinpoche para viver em seu palácio e o tratava como filho.

Então, um dia, o menino foi brincar no alto do palácio, levando consigo os instrumentos rituais do rei: um sino e um cetro de metal chamado vajra. Feliz, dançava por ali, fazendo soar o sino e girando o vajra. Então, como grande curiosidade, atirou-os no espaço. Eles caíram rua abaixo, sobre a cabeça de duas pessoas que passavam, matando-as imediatamente. O povo daquele país sentiu-se tão ultrajado que exigiu que o rei expulsasse Guru Rinpoche. Nesse mesmo dia, sem bagagem ou alimento, ele saiu sozinho para a floresta.

Essa criança curiosa havia aprendido uma poderosa lição sobre o funcionamento do mundo. A história conta que esse breve mas vívido encontro com o elogio e a culpa era tudo de que precisava para compreender o movimento do samsara na vida cotidiana. A partir desse momento, abandonou a esperança e o medo, e trabalhou com entusiasmo para despertar os outros.

Também podemos viver assim. Em tudo que fazemos, podemos explorar esses pares opostos tão familiares. Em vez de cair automaticamente nos padrões habituais, podemos começar a perceber como reagimos quando alguém nos faz um elogio. Como reagimos quando alguém nos culpa? Como reagimos quando perdemos alguma coisa? E quando achamos que ganhamos algo? Quando sentimos prazer ou dor, isso é simples? Apenas sentimos prazer ou dor? Ou existe todo um roteiro que se desenrola paralelamente?

Quando nos tornamos inquisitivos sobre esses fatos, olhamos para eles, vemos quem somos e o que fazemos com a curiosidade de uma criança, aquilo que parecia um problema transforma-se em fonte de sabedoria. Estranhamente, essa curiosidade começa a cortar pela raiz o que chamamos de sofrimento do ego ou egocentrismo e enxergamos com mais clareza. Normalmente, somos levados por eles em qualquer dessas direções, reagimos com nosso estilo habitual e nem ao menos percebemos o que está acontecendo. Antes de nos darmos conta, já escrevemos uma novela sobre os grandes erros de alguém, sobre nossos grandes acertos, ou sobre nossas justas razões para conseguir isso ou aquilo. Quando começarmos a compreender esse processo como um todo, ele se torna muito mais leve.

Somos como crianças construindo um castelo de areia. Nós o enfeitamos com lindas conchas, pedaços de madeira e caquinhos de vidro colorido. O castelo é nosso, sabemos que, inevitavelmente, ele será levado pela maré. O truque está em desfrutar dele ao máximo, sem se apegar e, quando chegar uma onda, deixar que ele se dissolva no mar.

Permitir que as coisas se dissolvam é, às vezes, chamado de desapego, mas sem a qualidade fria e distante que freqüentemente se associa a essa palavra. Neste caso, o desapego inclui mais bondade e profunda intimidade. Na verdade, é um desejo de conhecer semelhante à curiosidade de uma criança de três anos. Queremos conhecer nossa dor para podermos parar de fugir interminavelmente. Querer conhecer nosso prazer para podermos parar de agarrar continuamente. Então, de algum modo, nossas perguntas tornam-se mais amplas e nossa curiosidade, mais vasta. Queremos entender a perda, de modo que possamos compreender os demais quando sua vida desmorona. Queremos entender o ganho, para que possamos compreender outras pessoas quando estão encantadas ou quando se tornam arrogantes, empolgadas e envaidecidas.

Quando nos tornamos mais perspicazes e compassivos diante de nossas próprias dificuldades, espontaneamente sentimos mais ternura pelos outros seres humanos. Ao conhecer nossa própria confusão, ficamos mais dispostos e capazes para colocar a mão na massa e tentar aliviar a confusão dos outros. Se não olharmos para a esperança e o medo, observarmos os pensamentos que surgem e a reação em cadeia que se segue — se não nos treinarmos para ficar sentados, unidos a essa energia, sem sermos tomados pelo drama —, vamos sempre sentir medo. O mundo em que vivemos, as pessoas que encontramos, os seres que surgem no vão da porta — tudo vai se tornar cada vez mais ameaçador. Portanto, começamos simplesmente olhando para nossos próprios corações e mentes. Provavelmente, começamos a olhar porque nos sentimos inadequados ou estamos sofrendo e queremos entrar nos eixos. Gradualmente, entretanto, nossa prática evolui. Começamos a compreender que, assim como nós, outras pessoas estão também sendo fisgadas pela esperança e medo. Por toda parte, vemos a angústia causada pela crença nos oito dharmas materiais. Fica também bastante óbvio que as pessoas precisam de ajuda e que não há como ajudar alguém sem antes começar consigo mesmo.

Nossa motivação para a prática começa a mudar e desejamos nos tornar mais suaves e sensatos pelo bem de outras pessoas. Ainda desejamos ver como nossa mente funciona e como somos seduzidos pelo samsara, mas não mais apenas por nós mesmos. Passa a ser por nossos companheiros, filhos, chefes — pelo dilema humano em sua totalidade.

 Pema Chödrön, no livro “Quando tudo se desfaz”.

“A tradição budista lida com as suposições sobre a prioridade para o sucesso com um diagnóstico diferencial de oito partes chamado de “as oito preocupações mundanas”, oito direções para a busca da felicidade baseadas em suposições não investigadas. A fixação nessas preocupações subverte nossos melhores esforços, conduzindo ao sucesso falso ou frustração real.

As oito preocupações mundanas consistem em quatro pares de prioridades: buscar aquisições materiais e evitar sua perda; buscar o prazer dirigido pelo estímulo e evitar o desconforto; buscar o elogio e evitar a crítica; e manter a boa reputação e evitar a má reputação. Essas oito preocupações resumem, em geral, nossa motivação pela busca da felicidade, e este é exatamente o problema. As oito preocupações mundanas — que não são erradas em si — são a base de nossa motivação, e é a motivação, mais do que qualquer outro fator, que determina o resultado da prática espiritual.

Não há nada de errado em adquirir bens materiais — um carro, uma casa; e, inversamente, a pobreza não é necessariamente uma virtude. Não há nada de errado em aproveitar um pôr-do-sol, um bom livro, uma conversa agradável ou uma bela música. Não é errado ser elogiado. Ser amado e respeitado pelos outros também não é errado.

Por outro lado, não é ruim ser criticado pelos outros se você estiver levando uma vida benéfica e significativa. Muitos praticantes bem-sucedidos no darma estão contentes e felizes vivendo em total pobreza. A reputação pode melhorar e piorar, mas é possível que o contentamento permaneça constante. A verdadeira fonte da felicidade não está no domínio das oito preocupações mundanas. Ricos, pobres, elogiados, criticados, estimulados, entediados, respeitados, ultrajados — nenhuma dessas preocupações mundanas em si são fonte de felicidade. Nem impedem a felicidade.

O problema é que, quando nos concentramos nas preocupações mundanas como um meio para a felicidade, a vida se torna um jogo de dados. Não há garantias. Se você aspira à riqueza material, pode não conquistá-la, e se conseguir, não há garantias de que será feliz. Se aspira ao prazer, quando o estímulo acabar, a satisfação também terminará. Não existe felicidade duradoura em sair correndo atrás do prazer. As pessoas que são respeitadas e famosas tendem a ter os mesmos problemas pessoais que as outras.

A deficiência fatal das oito preocupações mundanas é que elas são Darma falsificado, modos mal dirigidos de buscar a felicidade e — ao confundir habitualmente as preocupações mundanas com o Darma genuíno — nossos esforços para atingir a felicidade genuína são continuamente sabotados.”

Alan Wallace, no livro “Budismo com Atitude”.

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3 verdades sinceras sobre morar no exterior

3 verdades sinceras sobre morar no exterior

Abaixo separei 3 itens que talvez sejam os mais difíceis de enfrentar quando se vive em um país estrangeiros.

Eles foram selecionados de uma lista maior do blog do André Abreu e quem quiser ler a lista fica convidado para dar uma passada por lá depois.

Leia com atenção e avalie como você realmente está.

contioutra.com - 3 verdades sinceras sobre morar no exterior

1.O clima de inverno pode ser deprimente.

Por mais que a neve seja linda nos filmes e na primeira vez que cai todo inverno, logo você começa a acordar meio deprimido. Com a neve, as pessoas desaparecem, eventos são cancelados. Há grande chances de encontrar muita gente vendendo pás para desbloquear os carros.

Há países, como a Rússia,  que são tão frios que as temperaturas podem atingir 50 graus negativos e, em climas como esse raios de sol que tragam real calor podem ficar a meses de distância.

2. A família fica distante (os amigos também).

Pode ser pai, sua mãe, ou mesmo, esposa, ou um dos filhos, mas alguém sempre fica para trás. Por mais garantias legais que você adquira, não vai ser fácil trazer todos para perto de você.

Um telefonema, uma filmagem alivia a saudade por algum tempo, mas há momentos que só a presença física de preencherá o vazio.

3. O processo de adaptação é lento.

Língua, comida, novo trabalho, novos colegas, nova casa. Bem, os desafios são vários, e aos poucos você vai vencendo. Não vai faltar gente para ajudar você, mas é necessário ajudar a si mesmo.

O erro principal do brasileiro é querer ser servido, sem servir. Se você ajudar, será ajudado com certeza. Se quiser aprender bem o idioma, vai encontrar gente disposta a ensinar. Mas reserve parte do orçamento para as aulas. É um investimento em si mesmo.

Se você sente que não está conseguindo passar por essa fase como deveria, não hesite em procurar ajuda.

Serviços de terapia online podem ser realizados em qualquer parte do mundo e você poderá falar em seu próprio idioma.

Psicóloga Elisângela Aparecida Siqueira

Terapia Online

Faça contato pelo site e tire suas dúvidas

www.apsicanalistaonline.com.br

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Esse homem é uma inspiração para a humanidade

Esse homem é uma inspiração para a humanidade

Poucas pessoas têm a capacidade real de doação e de ajuda desinteressada ao próximo.

Esse é um belíssimo exemplo que deveria servir de inspiração para a humanidade.

Muito mais do que alimentar o físico, esse homem sabe a importância de alimentar o mental e devolver a dignidade ao próximo.

O vídeo está em inglês, mas as cenas falam mais do que qualquer idioma.

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Após 25 anos de sua queda, o muro de Berlin voltará.

Após 25 anos de sua queda, o muro de Berlin voltará.

O muro de Berlim foi construído, em 1961, durante a calada da noite. Erguido inicialmente com arame farpado, rapidamente ganhou concreto, minas terrestres e torres de vigia. A cidade ficou dividida geograficamente por quase 30 anos e o muro, que separou famílias ao tentar dividir ideologias, tornou-se um dos maiores símbolos da Guerra Fria. Sua queda, em 1989, abriria espaço para o fim da bipolarização política entre Estados Unidos e URSS, socialismo e capitalismo e o caminho para o reencontro de pessoas que passaram anos sem se ver.

Para marcar o aniversário da queda do muro, a cidade de Berlim será dividida novamente – mas, desta vez, não será com arames farpados ou blocos de concretos. Segundo a Fast Company, uma enorme linha formada por “balões de luz” contornará o caminho que, em 1961, deu espaço ao muro.

 A ideia da instalação, chamada de Lichtgrenze (“Fronteira de Luz”) , veio do artista Christopher Bauder e do cineasta Marc Bauder. Com cerca de 16 quilômetros de extensão, será formada por 8 mil balões brilhantes, marcando o caminho original do muro pela cidade. Também será inaugurada durante a noite, na madrugada no dia 7 de novembro. Por dois dias, a capital da Alemanha ficará de novo dividida entre Leste (Ocidental) e Oeste (Oriental). Em seis trechos estratégicos, exibirá imagens mostrando como foi a vida no local enquanto o muro estava erguido. Além disso, a cada 150 metros, os visitantes encontrarão anedotas, memórias de pessoas e histórias – um total de 100 – de pessoas que viveram separadas pelo muro ou foram afetadas por sua construção.

A instalação ficará erguida até o dia de 9 novembro – dia oficial da queda do muro -, quando milhares de voluntários colarão mensagens em cada balão e lançá-los ao céu. Os artistas também deixaram claro que  a instalação não gerará nenhum dano ambiental: os balões foram desenvolvidos por pesquisadores da Universidade de Hannover – e são feitos totalmente de material biodegradável. Se por acaso você estiver em Berlim no dia 9 de novembro, pode se candidatar a lançar um deles. (Época Negócios)

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O consumismo da elite é desespero, por Flávio Gikovate

O consumismo da elite é desespero, por Flávio Gikovate

O psiquiatra Flávio Gikovate fala sobre as angústias da elite que frequenta seu consultório e o estresse do mundo moderno

Flávio Gikovate não tem um divã. Quando um paciente chega ao consultório dele, num dos endereços mais caros de São Paulo (a Rua Estados Unidos, nos Jardins), encontra primeiro uma fachada de cimento queimado com portas altas de correr. Depois, pode tomar café na recepção térrea, entre um jardim interno envidraçado e telas coloridas de Claudio Tozzi. Na hora da consulta, sobe por uma escada sem paredes laterais até a sala do psiquiatra e se senta: ou num sofá, ou numa poltrona bem confortável de couro preto. Mas divã, como no nome de seu programa semanal na rádio CBN (No Divã do Gikovate), não tem. “Sempre trabalhei assim, prefiro olho no olho”, diz. Talvez seja o olho no olho, talvez seja o método da “psicoterapia breve” e a promessa de alta em seis meses – que faz com que ele atenda 200 pacientes por ano. Fato é que Gikovate se tornou o confidente de alguns dos empresários e executivos mais bem-sucedidos do país. Nesta conversa, ele fala sobre a gastança dos brasileiros ricos, a cabeça do bom líder e outros temas atuais, mas de um ponto de vista diferente. Ou você já tinha ouvido que a culpa do consumismo é da pílula anticoncepcional?

Dinheiro anda comprando mais felicidade ou infelicidade?

Esses dias uma moça me perguntou se era possível ser feliz sendo pobre. Estudos de Harvard mostram que se faltar dinheiro para o básico – saúde, comida – provavelmente o indivíduo não consegue ser feliz. Algum para o supérfluo também é importante. Agora, de um ponto para cima, ele pode atrapalhar bastante. O consumismo é muito mais fonte de infelicidade do que de felicidade. O prazer trazido é efêmero, uma bolha de sabão – e em seguida vem outro desejo. Ele gera vaidade, inveja, uma série de emoções que estão longe de qualquer tipo de felicidade. E tudo vira comparação. Outro estudo diz que um indivíduo que ganha US$ 40 mil numa comunidade em que a média é de US$ 30 mil é mais feliz do que se ganhar US$ 100 mil e a média for de US$ 120 mil.

A elite brasileira é consumista demais?
Comecei a trabalhar em 1967, vi a chegada da pílula [anticoncepcional] e a emancipação sexual dos anos 60. Na época, achava-se que essa liberdade iria ‘adoçar’ as pessoas. ‘Faça amor, não faça guerra.’ Mas sexo e amor são coisas diferentes. É triste ver que os ideólogos daquela revolução estavam totalmente errados, porque a emancipação sexual aumentou a rivalidade entre os homens e entre as mulheres, foi criado um clima de competição, atiçou tudo que tinha de ruim no ser humano. Foi um agravador terrível do consumismo. Em países de Terceiro Mundo – e, intelectualmente, aqui é quase Quarto Mundo –, a elite só piorou nesse tempo. É uma elite medíocre, ignorante, esnobe. Na Europa e nos EUA, o exibicionismo da riqueza é muito menor. Na Europa, as pessoas consomem qualidade, não quantidade. Elas têm uma bolsa cara, mas não mil bolsas, para fazer disputa. Aqui há um comportamento subdesenvolvido e medíocre. E totalmente competitivo. As festas de casamento e de 15 anos são patéticas. A próxima festa tem de ser maior. Isso é sem fim. É sofrimento, é infelicidade. A quantidade e o volume com que as pessoas correm atrás dessas coisas é desespero.

Então o sexo é culpado pelo consumismo?
Desde o início, o erótico está acoplado ao consumismo. Nos anos 20, foi preciso introduzir novos produtos que não tinham a ver com necessidades, como o xampu. A ideia que tiveram foi acoplar um desejo natural a um desejo que se queria criar. Então botavam uma mulher gostosa para vender xampu. O consumismo sempre esteve relacionado ao erótico, não ao romântico. O romântico é o anticonsumismo. As boas relações amorosas levam as pessoas a uma tendência brutal ao menor consumismo. A verdadeira revolução, se vier, vai estar mais ligada ao amor do que ao sexo.


PAPO CABEÇA
Ele elogiou o livro O Amor nos Tempos do Capitalismo, de Eva Illouz, e os filmes Rush, sobre Niki Lauda, e Blue Jasmine, de Woody Allen


contioutra.com - O consumismo da elite é desespero, por Flávio Gikovate
9 mil pacientes atendidos, 1 milhão de livros vendidos e programa na CBN (Foto: João Mantovani)

Quais são outras fontes de angústia dessa elite que você atende?
Só para explicar: sempre fui bem [na carreira], faz pelo menos 30 anos que atendo algumas das pessoas mais bem-postas do país. Outro trabalho que sempre fiz foi por meio da mídia, em jornais, revistas e, há seis anos e meio, na CBN. É outra forma de ajudar as pessoas. Então tem dois mundos que eu atendo, o dos ricos e o do povo. E as diferenças são pequenas. São conflitos sentimentais, mais do que sexuais. Problema de família, briga de irmãos. Empresários têm muitos problemas de sucessão. O pai tem dificuldade de soltar a rédea e o filho tem a frustração de estar com 40 anos e não ter assumido os negócios. Outras vezes são problemas de ordem financeira, mesmo. O cara está indo mal, fica angustiado, tem os problemas familiares que derivam disso. Tem as tensões societárias… Empresa é complicado, quando vai bem tem problema, quando vai mal tem problema.

Por que trabalhar, no mundo moderno, é quase sempre tão estressante?
Estresse significa uma reação física para enfrentar situações de ameaça, portanto, quando o ser humano vivia na selva também tinha estresse. O estresse vem da ameaça, então numa empresa em que você é cobrado o tempo todo, vive com medo de ser demitido, você cria um clima muito mais grave de ameaça que o necessário. Estresse é ameaça. Sobrecarga cansa, mas não estressa.

Você às vezes se sente estressado?
Cansado. É diferente. Mas às vezes fico um pouco acelerado no pensamento, o que eu não gosto, porque empobrece a reflexão. Tenho a sensação de que o tempo ficou curto, de estar sempre devendo alguma coisa. Você se sente sempre em falta com um livro que não leu, um filme que não viu. Quando eu era moço, tinha cinco ou seis filmes importantes por ano para ver. Hoje, tem cinco filmes por mês. E bons!

Qual é uma boa válvula de escape desse mundo acelerado?
Um pouco mais de folga de horários, mais tempo para algum tipo de relaxamento. As prescrições passam por exercício físico, ioga e meditação – porque esvaziar a cabeça é certamente um grande redutor de ansiedade. Passam também pelo uso de medicação. Mas tudo isso são atenuadores. Se o trabalho fosse um pouco menos competitivo, seria possível abrir mão desses remédios.

Como um bom líder pode ajudar a reduzir as tensões no trabalho?
O bom líder é respeitado naturalmente, não por meio do medo. As pessoas reconhecem que ele está apto para o cargo e o exerce da forma mais democrática possível. Ou seja, antes de tomar uma decisão, consulta quem trabalha com ele, o que não significa terceirizar a decisão. O voto final é do líder, mas não sem ouvir todo mundo. A governança não pode se dar por atos irracionais, pelo humor do patrão. Deve se dar por normas que todo mundo conhece. Uma das maiores causas de estresse é ter um patrão cujo humor vai influir na forma como ele gere a empresa. Por isso a governança corporativa é importante, porque é um conjunto de normas que vai valer todo dia.

Você costuma ouvir: “meu chefe não me escuta”?
Todo mundo tem esse defeito [de não escutar]. O pai com o filho, o chefe com o subordinado… No caso do chefe, é mais comum porque chefe acha que sabe mais por definição, o que é uma grande bobagem. Um filósofo disse: humildade é a capacidade de aprender com quem sabe menos do que você. Ouvir alguém de verdade é estar disposto a abrir mão da sua ideia em favor da outra, se a outra for melhor que a sua. Boa ideia não tem dono. Toda boa ideia que eu ouço vira minha – e eu jogo fora minha velha ideia.

“Uma grande causa de estresse é ter um patrão cujo humor vai influir na gestão”

Que mudanças devemos ver daqui para a frente, em termos de comportamento?
As grandes transformações estão ligadas à mudança no papel da mulher. Na minha turma de faculdade, havia 78 homens e duas mulheres. Hoje, as faculdades têm em média 60% de mulheres. É porque os homens estão mais folgados e as mulheres, mais guerreiras. Mas isso vai dar numa série de desequilíbrios. Não sei se as mulheres vão gostar de sustentar os homens, nem se os homens vão gostar de ser sustentados. No ambiente de trabalho não tem problema nenhum, ao contrário, muitos empresários acham que as mulheres trabalham melhor. Mas em casa vai dar problema. Como faz para ter filho? Quem vai cuidar? Como vai terminar isso, ninguém sabe. A verificar. Mas não pense que é uma variável desprezível. A independência econômica da mulher desequilibra pra caramba o mundo.

Além do consultório, o senhor também foi bem-sucedido para vender livros?
Não tenho do que reclamar. Desde 1975, publiquei 32 livros e vendi mais de 1 milhão de cópias.

Qual o melhor?
Não sei. Minha mulher diz que é O Mal, o Bem e mais Além. É difícil falar. Gosto sempre dos mais recentes, mas no fundo são a reescritura daquilo que fiz nos anos 70 e 80.

E quando as pessoas muito ricas são felizes, o que costuma levar a isso?  
Os executivos que se sentem realizados são aqueles que gostam do que fazem. Às vezes, ficam até viciados. Mas a maior felicidade das pessoas ainda é quando conseguem estabelecer vínculos amorosos de qualidade. Tanto faz ser executivo ou não. É o que tem de mais importante. Gostar do que se faz e ter uma boa parceria sentimental talvez sejam as duas principais fontes de felicidade nesse nosso mundo.

Fonte: Época Negócios

Para mais informações sobre Flávio Gikovate
Site: www.flaviogikovate.com.br
Facebook: www.facebook.com/FGikovate
Twitter: www.twitter.com/flavio_gikovate
Livros: www.gikovatelojavirtual.com.br

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8 maneiras de viajar de graça sendo um voluntário

8 maneiras de viajar de graça sendo um  voluntário

Além de ser uma maneira de fazer o bem ao próximo, o volunturismo é ainda uma maneira bem mais barata de viajar.

Conheça essas 8 maneiras de conseguir viajar de graça trabalhando em obras sociais ao redor do planeta.

Texto publicado com autorização do Blog Vagabundo Profissional 

1-  Turtle Teams – várias partes do mundo

contioutra.com - 8 maneiras de viajar de graça sendo um  voluntário

São milhares de pequenos grupos ao redor do mundo que ajudam tartarugas marinhas, normalmente em praias onde ocorrem a desova dos bichinhos.
Os valores variam muito, podendo custar muitos dólares, porém muitas organizações oferecem acomodações de baixo custo.
Já imaginou viajar, conhecer praias paradisíacas e ainda fazer sua parte para ajudar uma espécie a sair da lista de risco de extinção?
Mais informações sobre esse tipo de trabalho: Campamento TorutgeroSea Turtles e Sea Turtle Conservancy

2- Voluntariado de conservação – Austrália e Nova Zelândia

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Consistem em projetos de curta duração de conservação de habitats e promoção do eco-turismo.
Os valores variam, podendo chegar a AUS$208 por uma semana de estadia, variando de acampamento ou chalés.
Algumas organizações disponibilizam viagens gratuitas de poucos dias.
Informações: Conservation VolunteersThe Conservation Volunteering

3- Voluntariado do Sudão – Sudão, África

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Um dos mais interessantes na nossa opinião. Consiste em ensinar inglês em escolas e universidades do país mais pobre do mundo, além de participar de outros projetos nas comunidades.
Normalmente paga-se a passagem até o país, porém todos os outros custos estão cobertos e algumas organizações ainda consideram uma ajuda de custo mensal para o voluntário.
Mais informações: Sudan Volunteer Programme

4- Conservação da Trilha Apalache – Estados Unidos

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A Trilha Apalache é uma trilha clássica de mais de 3 mil quilômetros de extensão cruzando o leste dos Estados Unidos.
Além de ser o lar de mais de duas mil espécies, muitas em risco de extinção.
Já pensou trabalhar nesse ambiente em troca de comida e abrigo em um dos lugares mais belos dos estados Unidos?
Mais informações: Appalachian Trail Conservancy

5- Trip Leader da HF Holidays – Toda a Europa

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A HF Holidays é uma das mais populares companhias europeias de pacotes de viagens e feriados. Ao se voluntariar o viajante terá a oportunidade de explorar a Europa acompanhando os grupos. Uma ótima maneira de conhecer países, pessoas, adquirir e passar conhecimento.
Mais informações: HF Holidays

6- Peace Corps – várias partes do mundo

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Consistem em uma série de projetos de saúde, desenvolvimento de negócios e conservação do meio ambiente. É aberto apenas a residentes nos Estados Unidos e tem o compromisso de 27 meses de trabalho.
Mais informações: Peace Corps e Voluntary Service Overseas.

7- Voluntário das Nações Unidas – várias partes do mundo

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A ONU, Organização das Nações Unidas, oferece oportunidades de voluntariado nas áreas de ajuda médica, desenvolvimento econômico e ajuda emergencial após desastres naturais.
Uma ótima oportunidade para quem deseja fazer a diferença no mundo.
Mais informações: UN Volunteers

8- Voluntáriado em um Kibbutz – Israel

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Um kibutz é uma forma de coletividade comunitária israelita, algo como a nossa cooperativa, porém mesclando um pouco da ideologia socialista e o sionismo no sionismo trabalhista.
Esse é um dos trabalhos mais arriscados em uma das regiões que mais vemos nos noticiários pelo mundo, porém é oportunidade única de ver e viver em primeira mão tudo o que aparece na televisão, e ainda fazendo nossa parte por um mundo melhor, mais humano e mais pacífico.
Porém, caso você decida conhecer os países ao redor, como Jordânia, Egito ou Turquia, um carimbo israelense no passaporte pode render algumas horinhas na salinha pra dar algumas explicações.
Mais informações: Kibbutz Volunteer

+ Vagabundo Profissional

Escolha uma imagem e leia sua mensagem poética: poemas de Manoel de Barros

Escolha uma imagem e leia sua mensagem poética: poemas de Manoel de Barros

A simplicidade encontra voz na tradução poética do que realmente é importante.

Escolha uma imagem e leia o poema de Manoel de Barros que foi selecionado especialmente para você.

No final da matéria, leia uma homenagem feita para Manoel, nosso querido poeta das miudezas.

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Retrato do artista quando coisa

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A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.

Tratado geral das grandezas do ínfimo

contioutra.com - Escolha uma imagem e leia sua mensagem poética: poemas de Manoel de BarrosA poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.

Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogio

Os deslimites da palavra

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Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas

O apanhador de desperdícios

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Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Difícil fotografar o silêncio.

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Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta.
Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa,.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakoviski – seu criador.
Fotografei a nuvem de calça e o poeta.Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.

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Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.

____________

Aos os leitores dessa postagem e admiradores de Manoel de Barros, convido para uma homenagem.

Sabendo que Manoel se encontra com 97 anos e acamado, façamos por ele a seguinte oração:

Deus das Insignificâncias

>>>>>>>>>>>>>>>>Para Manoel de Barros

Peço ao Deus das insignificâncias,
dos pardais e dos sapos tagarelantes dos brejos,
Que passarinhos de diversos coloridos
sejam algazarra em tua janela.
Que os caramujos do teu quintal
façam contágio de eternidade.
Que nunca te esqueças de que és bocó
e continues a descascar palavras,
só para brincar com os gomos.
Que saibas que o teu coração infinitou-se em nós
E que, a propósito dos teus despropósitos,
Decidimo-nos pelo verbo amar.

Nara Rúbia Ribeiro

Editorial CONTI outra.

Nota da página: Manoel de Barros faleceu em 13 de novembro de 2014, 20 dias após essa publicação.

Dica da Conti outra: Saiba mais sobre a obra do poeta e conheça os projetos sociais da Fundação Manoel de Barros.

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