Fragmentos de felicidade

Fragmentos de felicidade

Por Patrícia Pinheiro

Esses dias, enquanto tomava banho – ainda não inventaram lugar tão acolhedor e estimulante de pensamentos geniais quanto o chuveiro – apesar de ter tido um dia meio esquisito e estar com a cabeça cheia de preocupações, me dei conta do quanto estava feliz por estar ali, sentindo a água quente escorrer pelo meu corpo e o cheirinho doce do sabonete entrar pelas minhas narinas. Eu não precisava de mais nada, sabe?

Concluí que a felicidade se encontra aí: nos pequenos prazeres fugazes.contioutra.com - Fragmentos de felicidade

Na cobertura glaceada de limão que combina perfeitamente com o bolo de baunilha e que alegra o meu paladar.

Na criança que olha fixamente para mim, sem medo do que eu vou pensar, e sorri demorado.

No cheiro do perfume do outro que fica na roupa, que fica na pele, que causa um friozinho gostoso na barriga ao testemunhar que alguém esteve ali.

Nas longas e renovadoras conversas que temos com alguém.

Na cama depois do dia longo.

No abraço depois da saudade.

São momentos intensos de leveza, de plenitude, de uma lucidez que, de tão rara, é quase assustadora. O medo não deixa de existir, os problemas ainda esperam pelas tuas soluções, mas, por uma fração de tempo – que pode caber dentro de um abraço ou de uma noite – o mundo passa a residir ali: na gotícula avassaladora de felicidade, que a gente sabe que é passageira, mas que nos faz gratos por estarmos vivos.

Quando penso que as injeções de felicidade têm efeito passageiro, lembro que, as de dor, também, e que, enquanto houver pequenices capazes de elucidar coisas boas e de me entorpecer – ainda que por segundos – de alegria, tenho motivos suficientes para preservar o otimismo, para , ainda que a dor esteja agindo, me jogar no mundo com toda sensibilidade que cabe em mim, pois sei que ainda existem muitas overdoses de felicidade me esperando. Sobrevivo e aguardo pelas próximas, pois, até hoje, todas valeram a pena.

Educadora explica como a conexão humana é a chave da aprendizagem

Educadora explica como a conexão humana é a chave da aprendizagem

Rita Pierson não possui lembranças que não estejam envolvidas à educação. É neta e filha de educadores e já tem uma experiência de 40 anos como professora no ensino fundamental, especial e júnior.

Nessa palestra sincera realizada para TED Talks Education ela enfatiza a indispensável necessidade da conexão humana para uma educação que realmente funcione. Fala também da importância da autoestima dos alunos e sobre como a postura do professor tem influência em todo o processo educacional e até mesmo futuro da criança.

Experiência, força, humor e afeto transbordam desse pequeno vídeo. Vale conferir:

“Toda criança precisa de um campeão”

Não se esqueça de ativar as legendas no canto direito inferior do vídeo e aproveite!

Josie Conti


Fonte indicada: Social Fly

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Conheça o artista que dá morada aos nossos ancestrais africanos

Conheça o artista que dá morada aos nossos ancestrais africanos

Por Nara Rúbia Ribeiro

Esculpir bustos para a habitação de reis, rainhas, guerreiros e ancestrais africanos: eis a arte de Woodrow Nash.

Nascido nos Estados Unidos (Akron, Ohio) no final da década de 40, sua obra é atemporal e denota uma profunda sensibilidade ao dar vida à mitologia africana.

Ele desafia os nossos olhos à contemplação de seres que, pela precisão do artista, ganham alma, sentimento, dor ou pureza. Você olha a escultura e se sente intrigado a vasculhar o seu espírito, a desvendar o seu pensamento, como se de fato um ser vivente estive ali.

E, olhando bem as esculturas, responda-me: elas têm ou não tem alma?

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 Na imagem abaixo, o artista e sua obra.

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Woodrow Nash fala de sua vida e trabalho no vídeo abaixo – original em inglês, sem legendas.

Site oficial do artista

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3 verdades espirituais que os pais podem transmitir a seus filhos

3 verdades espirituais que os pais podem transmitir a seus filhos

“a criança dotada de uma aptidão espiritual será capaz de responder às perguntas mais básicas a respeito do funcionamento do universo; ela perceberá a fonte da criatividade, tanto dentro quanto fora dela; ela será capaz de não criticar e praticar a complacência e a verdade, que são as virtudes mais valiosas que se pode possuir para lidar com as pessoas; e ela estará livre do medo e da ansiedade, que incapacitam com relação ao significado da vida e são a podridão secreta existente no coração da maioria dos adultos, sejam eles capazes ou não de admiti-lo.” Deepak Chopra

Para aqueles que procuram uma orientação sobre como introduzir a espiritualidade na educação das crianças, seguem algumas dicas:

1-Oriente seus filhos, durante alguns minutos, em uma meditação silenciosa.

Por volta dos seis ou sete anos, os pais devem ensinar que ficar alguns minutos sozinhos e quietos é saudável. Antes dessa idade, contudo, nenhuma tentativa deve ser feita no sentido de reprimir a energia e o entusiasmo naturais da criança. Porém, quando os pais possuem o hábito de meditar, é natural que surja na criança o interesse. Nesse momento os pais devem convidá-la a se sentar e respirar tranquilamente de olhos fechados, sentindo suavemente o ar entrando e saindo. Cinco minutos são suficientes no início e o tempo pode ir aumentando gradativamente enquanto a criança cresce, chegando à 15 minutos quando ela estiver entre 10 a 12 anos. Os pais não devem ficar impacientes se as crianças não quiserem se sentar todas as vezes que forem convidadas. Se elas ficarem muito inquietas, os pais precisam deixá-las ir embora, mas devem continuar a meditar. O exemplo e o prazer dos pais com essa prática naturalmente atrairá a criança.

2- Inspire seus filhos a contemplar as belezas e as maravilhas da Natureza.contioutra.com - 3 verdades espirituais que os pais podem transmitir a seus filhos

A contemplação à Natureza possibilita refletir sobre o encantamento de nossa alma em estar aqui. As crianças adoram ser inspiradas pelas maravilhas da Natureza, cabendo aos pais o incentivo a essa prática. O contato frequente com a natureza também aumenta o respeito, harmoniza as energias interiores e descarrega a criança do excesso de realidade virtual cotidiana.

3- Mostre a seus filhos as possibilidades ocultas nas situações familiares.

Cada segundo de tempo é uma porta de possibilidades ilimitadas. No entanto, é preciso estar aberto para elas. É fundamental ensinar às crianças a procurar algo novo em uma situação bem conhecida. Sem perceber, estamos habituados a impor limitações à maneira como percebemos o mundo e indiretamente transmitimos essa postura aos nossos filhos. Assim, estamos sempre nos “forçando” a fazer julgamentos do tipo: não gosto disso ou não consigo entender aquilo. Esse é um bom dia para detectar quando nós ou nossos filhos fazemos uma declaração em voz alta desse tipo e tentar evitar que a emissão automática de julgamentos limite as nossas possibilidades. Devemos tentar enxergar uma qualidade ou outra possibilidade em algo que não nos agrade em um primeiro momento. Se ensinarmos a eles a aceitação e a tolerância, transmitimos a ideia de que todo mundo está fazendo o seu melhor. Vendo as pessoas por esse prisma, e não como esperamos que eles se comportem, estaremos oferecendo uma grande contribuição para o ensino da primeira “lei”.

Fonte: Ame Brasil

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Uma grande surpresa para os eternos fãs do PEQUENO PRÍNCIPE.

Uma grande surpresa para os eternos fãs do PEQUENO PRÍNCIPE.

Le Petit Prince (no Brasil, O Pequeno Príncipe; em Portugal, O Principezinho) é uma obra do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, publicada em 1943 nos Estados Unidos.

Numa primeira leitura, aparenta ser um livro para crianças, mas possui um grande teor poético e filosófico.
O autor do livro foi também autor das ilustrações originais.

É o livro em língua francesa que mais foi vendido no mundo, com cerca de 143 milhões de exemplares , e entre 400 a 500 edições. Também se trata da terceira obra literária (sendo a primeira a Bíblia e a segunda o livro O Peregrino) mais traduzida no mundo, tendo sido publicado em 160 idiomas e dialetos.

contioutra.com - Uma grande surpresa para os eternos fãs do PEQUENO PRÍNCIPE.
Mariana, 8 anos.

Falar do livro “O Pequeno Príncipe, entretanto, vai além do número de exemplares vendidos, da positiva crítica literária ou do seu caráter universal. Está muito acima disso. O que mais conta é o que ele representou e representa na vida de cada um. Nisso vale lembrar-se de quando você ouviu falar da existência do principezinho pela primeira vez. Dizer quem o apresentou a você.

Talvez relembrar as suas tentativas de desenhar o elefante dentro da jiboia, ou do quanto você procurou por uma rosa que fosse só sua. É possível que você também tenha desejado conhecer o Rei, e rir do do bêbado, embora com alguma pena.

São inúmeras emoções mergulhadas ali, naquele universo de luz, areia, sonho e poesia. Somente relembrando tudo o que sentimos, poderemos dizer do imenso valor desse livro que se tornou eternamente responsável por toda a ternura que em nós cativou.

Qual a surpresa nisso tudo?

Uma nova e belíssima animação que teve seu trailer (original em francês) divulgado nos últimos dias.

A animação estreiará primeiro na França, em outubro de 2015. No Brasil ainda não há previsão de estréia.

Confiram o trailer que já é de uma doçura ímpar e que traz o cover de Lily Allen da música Somewhere Only We Know.

É Pequeno Príncipe… “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”

Esperamos por você!

Josie Conti e Nara Rúbia Ribeiro

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Conheça as profissões que aumentam a inteligência e ajudam a prevenir doenças como o Alzheimer

Conheça as profissões que aumentam a inteligência e ajudam a prevenir doenças como o Alzheimer

Por Josie Conti

Você gosta de desafios? No trabalho, encara dificuldades e tarefas mais complexas com regularidades? Pois saiba que se o fizer você estará na frente de quem leva uma rotina burocrática e repetitiva. Em um estudo escocês publicado pelo jornal Neurology (Jornal Oficial da Academia Americana de Neurologia) e presente em reportagem do jornal Estadão do último dia 09-12,  as profissões pautadas em tarefas desafiadoras, abstratas e mentalmente desafiadoras mostraram-se evidentemente mais eficientes no que se refere a otimização das conexões neurais existentes no cérebro.

contioutra.com - Conheça as profissões que aumentam a inteligência e ajudam a prevenir doenças como o AlzheimerA grosso modo podemos dizer que no cérebro existem caminhos que são formados ao longo de nosso desenvolvimento e que permitem que as informações sejam levadas (através das conexões neurais) para as mais variadas regiões. Quanto mais um cérebro é estimulado, mais caminhos temos e mais definidos eles ficam. Os estímulos constantes também ajudam na criação de atalhos (a informação chega mais rápido onde deve chegar) e passamos a ser mais eficientes no que fazemos.

Na infância, quando o cérebro está em pleno desenvolvimento, tudo acontece muito rápido e em uma quantidade exorbitante, entretanto, mesmo depois de adultos, existe o que os cientistas chamam de plasticidade neural, que permita que o cérebro continue em desenvolvimento e sofra adaptações. Um bom exemplo disso é quando uma pessoa sofre um AVC (acidente vascular cerebral) e, gradativamente, frente a um grande desafio, recupera funções que foram perdidas quando uma área do cérebro ficou sem oxigênio ou sofreu uma pequena hemorragia. Em casos assim, o cérebro adapta as regiões circundantes e as otimiza para que retomem, da melhor maneira possível, as funções perdidas.

Mas, voltando a pesquisa, constatou-se que profissões como as dos arquitetos, assistentes sociais e designers gráficos são exemplos de pessoas que enfrentam desafios diariamente e, portanto, têm maiores chances de “turbinar” seus cérebros. Outras profissões presentes nos resultados foram a dos advogados, médicos cirurgiões, magistrados e membros do Ministério Público.

Mas, creio que a melhor notícia de todas, é que os ganhos alcançados ao longo da vida permanecem na velhice, proporcionando cérebros mais eficientes. Certamente podemos fazer um paralelo entre ganhos assim e prevenção de doenças senis e relacionadas à quadros demenciais como o Alzheimer.

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Os gladiadores e a festa de paz

Os gladiadores e a festa de paz

Por Gustl Rosenkranz

Sobre a luta consumista e materialista em nome do nascimento de Jesus.

Natal, a festa da paz. Eu estava sentado no metrô, tranquilo e pensativo, em um dia gelado, nessa época do Advento, refletindo exatamente sobre isto: que bom que os seres humanos pelo menos uma vez por ano pensam e falam da paz e do amor ao próximo. O inverno tomava conta de Berlim, o frio penetrava em tudo, gelando o corpo, a alma e até o pensamento. Observei os outros passageiros, todos empacotados em capotes grossos, cachecóis e pulôveres, encolhidos e retraídos, como se quisessem reduzir ao máximo a própria superfície para escondê-la de um inverno castigador. O metrô estava aquecido, mas isso não parecia impressionar as pessoas, que preparavam o sangue para suportar logo mais lá fora outra dose gelada nas veias.

Desci na estação do Kudamm, uma rua chique da capital alemã, muito turística, com muitas lojas, o local ideal para encontrar algo que tinha que providenciar. Ingênuo, distraído e friorento, subi a escada rolante, ainda refletindo sobre a paz, tão pregada por todos nesta época do ano, tentando descobrir para mim mesmo se achava isso realmente bom ou meramente hipócrita.

Preferi optar pelo meu lado otimista, pensar positivo e acreditar, por um momento, que estava vivendo realmente um instante de confraternização entre os seres humanos, um instante de reflexão e de partilha, pensando no espírito natalino, que quer o bem, que acha mais importante dar do que receber, que convida a todos a parar e voltar para os valores profundos da vida, esquecendo a correria do dia-a-dia, o materialismo cotidiano, as maldades de um mundo que parece mais se preocupar com o consumo do que com o bem-estar das pessoas, com o coletivo, com o amor que deveria prevalecer entre os homens. Sim, eu pensava no aniversário de Jesus Cristo, que chamamos de filho de Deus, a festa da paz. A escada rolava e rolava, em direção ao nível da rua. Estava ainda sonhador e pensativo quando fui despertado de repente, tomando um susto forte, achando que havia saído na estação errada, pois vi uma realidade muito diferente daquela refletida. Vi outros passageiros do metrô, antes encolhidos e friorentos, transformando-se de repente em verdadeiros monstros, que pareciam arregaçar as mangas para partir para uma verdadeira luta. A escada rolante parecia algo que se vê em filmes de ficção científica: embaixo entravam seres humanos, em cima saiam androides, de feição e postura totalmente transfeitas. Demorei um pouco para entender a situação. Somente ao chegar em cima, pude compreender o que se passava: viajei no tempo, retornando ao passado, entrando no metrô perto de casa e saindo na Roma antiga, mas precisamente dentro do coliseu, no colosseum romanum, no meio de uma luta de gladiadores.

contioutra.com - Os gladiadores e a festa de paz

Não demorou para que compreendesse a transformação dos meus co-passageiros, que se destinava clara e exclusivamente à autodefesa, pois a rua estava cheia de gladiadores ferozes, lutadores natalinos, cada um correndo atrás de presentes baratos (ou menos baratos), de cara zangada e punhos cerrados, repetindo a berros altos e agressivos: “Pechincha, pechincha, pechincha…”. Tive que saltar para o lado para salvar a minha própria vida, safando-me por um triz de ser pisoteado por um grupo de gladiadores germânicos, cada um com dois metros de altura ou mais e pelo menos quatro de largura (poucos eram os músculos, muita era a gordura, o porte típico do gladiador moderno!). Fiquei assustado e confesso que tive medo. Consegui achar um canto seguro, junto a dois mendigos, que sentados no frio esperavam que um ou outro gladiador jogasse uma moeda na sua lata, mas que eram veemente evitados pelos guerreiros, pois pobreza não condiz com a competição consumista natalina.

Por sorte para mim os mendigos eram evitados, pois isso criou uma pequena ilha no mar de lutas, onde achei refúgio e pude escapar do pisoteio primitivo pelos filhos do Papai Noel.

Apesar do frio e da vontade de voltar o mais rapidamente para o metrô e tomar o caminho de casa, fiquei um pouco parado e continuei a minha reflexão sobre o Natal e a sua proposta de paz, sendo dessa vez menos otimista e mais realista, percebendo que paz e amor são coisas na verdade muito raras também nesta época do ano.

Por um lado, falamos de paz, mas nos comportamos primitivamente, nos preocupando com presentes e coisas materiais, roupa nova e comidas extravagantes. Estressamo-nos e ficamos agressivos, pois os presentes têm que ser comprados de qualquer jeito. Muitos se endividam, compram a crédito, só para fazer parte da luta consumista e materialista de uma festa que nada mais tem a ver com o nascimento de um profeta, do filho de Deus, que, segundo a Bíblia, terminou morrendo por uma raça que isso nunca mereceu. Achei triste ver tanta gente bitolada, limitada pelo materialismo, sem mesmo ter a coragem de assumir tal papel ridículo, justificando o seu comportamento com palavras como paz e amor.

A globalização tem tornado nosso mundo relativamente pequeno. Tradições (boas ou más) são hoje rapidamente espalhadas pelo globo, principalmente aquelas que justificam o capitalismo, o consumismo e a vontade de cada um de possuir mais e mais, mesmo que para isso tenham passar por cima de cadáveres – que é o que fazemos quando compramos artigos baratos que só custam pouco porque foram produzidos à custa da saúde de trabalhadores semiescravos, muitas vezes crianças, que trabalham em muitos países (inclusive no Brasil) de forma totalmente indigna. Trata-se de um fenômeno mundial. É a mesma coisa em qualquer nação já contaminada pelo vírus do consumismo natalino. É a mesma coisa na Alemanha, nos Estados Unidos, na Suíça, no Brasil… Eu não entendo, por exemplo, porque que hoje em dia até os chineses comemoram o Natal e gastam tanto com presentes! Arenas natalinas, coliseus e templos de consumo existem em toda parte.

“Meu Natal comercial, em pacotes vem chegando, vem trazendo nostalgia, bem vazio me deixando…”

Essa minha experiência com os gladiadores me deixou clara uma coisa: mesmo que por um lado eu respeite o direito de cada um de sair por aí consumindo e gastando muitas vezes até o que não pode em nome do nascimento de Jesus, eu nunca mais quero fazer parte dessa maluquice, seja nas ruas de Berlim, seja nos corredores do Shopping Iguatemi em Salvador ou seja lá onde for. Refleti sobre tudo isso, desisti de comprar o que precisava e voltei para casa, preferindo esperar o fim da luta, até que os gladiadores se acalmem, o que infelizmente ainda vai demorar, pois, após o Natal, começa a outra competição: a troca dos presentes recebidos, pois não agradaram e nem saciaram a fome dos gladiadores de possuir algo novo e cobiçado pelo resto da sociedade.

Desejo a todos vocês uma boa festa natalina, tranquila, com saúde para todos (o nosso bem maior!), sem brigas na família, sem cara feia por causa de presente “mal dado”, sem desencontros e decepções, sem dores de barriga por causa do excesso de comida e sem dores de cabeça devido ao excesso de bebida alcoólica. Desejo menos presentes e mais presença, menos cobiça e mais compaixão, menos materialismo e mais profundidade. E que no final sobre pelo menos um tiquinho daquilo que nós mesmos nos propomos com tal festa: um pouco de paz e amor.

“A NOITE DO DESPEJO”, um romance de Joilson Kariri Rodrigues.

“A NOITE DO DESPEJO”, um romance de Joilson Kariri Rodrigues.

Por Nara Rúbia Ribeiro,

Você abre o livro ” A noite do despejo” e, de repente, parece que sente uma cotovelada no estômago, segue mais umas linhas e é uma carícia que lhe aconchega a cabeça a um colo invisível.

O cenário é o mundo real dos desvalidos, feito de barraco, lama, alma e pobreza. E também de sonho e poesia, visão privilegiada a que podemos alcançar tomando por empréstimo os olhos de escritor.

Trata-se da primeira publicação de Joilson Kariri Rodrigues. A história percorre uma noite marcante nas vidas dos miseráveis moradores de uma favela fundada por Dado, narrador dos fatos, e Júlio, quando toda a favela se vê ameaçada de despejo por uma ordem judicial.

Não bastasse isso, percorre uma outra noite ainda mais sombria: a noite das almas daquela gente que tivera desabrigados os sonhos já mirrados pela vida.

A literatura é Literatura quando nos tira da apatia. Quando nos bole por dentro. Quando nos enternece, encanta, ou quando nos assusta. Ler “A noite do despejo” é, a um só tempo, um susto que deslumbra.

Tivemos a oportunidade de conversar com o escritor acerca de sua vida e desta obra. Segue a entrevista.

Joilson, vem de quando a sua ligação com a literatura? Você se lembra da primeira vez que sentiu uma grande necessidade de escrever?

Joilson Kariri- Eu vivi minha primeira infância numa fazenda de café, no Paraná. Meu pai era uma das poucas pessoas alfabetizadas nessa fazenda, então era ele o responsável por ler e escrever as cartas dos outros, a maioria era de gente vinda de outros estados. Eu achava muito interessante isso. Saber ler e escrever dava ao meu pai a condição de conhecedor profundo da vida de todos eles, sabia até das coisas mais pessoais, íntimas mesmo. Eu acho que esse foi o meu primeiro contato com alguma forma de literatura, pois ouvia aqueles relatos das cartas que iam e que vinham, trazendo e levando histórias de vida.

E muitas dessas histórias era ficção pura, mentiras inventadas pelo dono da carta, com o auxílio do escrevedor, que tinham a função de enfeitar a realidade cruel. Era o noivo que contava lorotas à noiva impaciente, que ficara esperando noutro estado e muitas outras histórias parecidas com essas. E nas respostas vinham histórias de gente e de bichos, contadas em detalhes. Fui alfabetizado em casa, por meu pai, que usava livrinhos de cordéis como cartilha nas suas lições, pois esse era o único tipo de livro que tínhamos em casa. Isso foi outra forma de contato com a literatura, mas mais propriamente com o mundo encantado das estórias, que é o que me fascina. Não acho que em algum momento eu tenha sentido necessidade de escrever. Eu gosto de contar estórias e uso a escrita para contá-las.

Você emprega, em seus textos, uma linguagem coloquial. Descreve, sempre, a dor do fraco, do pobre, do desvalido. Suas origens deram a você substrato à sua temática? Conta-nos um pouco da sua vida.

[quote_box_right]contioutra.com - “A NOITE DO DESPEJO”, um romance de Joilson Kariri Rodrigues.“Mas ele era só um morto de alma aprisionada num corpo vivo, que males lhes seriam mais danosos? E amanhã então é que estaria mais morto, enfeando as ruas com suas misérias, esperando a vez de mastigar um bocado de comida qualquer, desejando que fosse o último. E na rua, logo viria a desvergonha, o se acostumar com as indignidades da vida, quando se desse a ver a filha vendendo seus amores fáceis aos homens sedentos.”
“O ambiente ali tem gritos e cheiro de suor, a noite tem cheiro de sangue, de dor e miséria. Passo entre os exaltados querendo ser invisível, me sentindo um estrangeiro na favela que eu fundei com a ajuda de Julio.” “Meu medo? Meu medo era que aquela noite nunca se acabasse, pois tenho pra mim que a espera de um acontecimento ruim pode ser pior que o próprio acontecimento”

contioutra.com - “A NOITE DO DESPEJO”, um romance de Joilson Kariri Rodrigues.Trecho da obra
de Joilson Kariri

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Joilson Kariri- Quando se cria tendo como base as suas próprias vivências, com certeza será mais convincente. Eu vivi parte da minha vida no Paraná, outra parte no Ceará e vivo há mais tempo ainda em São Paulo. Tenho esses três mundos dentro de mim e às vezes eu misturo eles para montar uma personagem ou uma história. A Cultura nordestina fala mais alto em mim, porque mesmo quando vivia no sul, convivia com a minha família que é de lá e fazia questão de preservar seus costumes. Mas eu carrego a influência dessas três regiões e tento passar isso na minha escrita. Eu tenho uma história de vida comum, como a imensa maioria dos brasileiros, que é formada por pobres. Escrevo mais sobre esses tipos porque foi com eles que eu mais convivi e convivo até hoje. A poesia está em tudo, no belo e no feio, na pobreza e na riqueza, portanto é só uma questão de escolha de onde vai fazê-la brotar. É da natureza do escritor escrever sobre as coisas do seu tempo e espaço. Os meus espaços são as periferias, os guetos, as ruas marginais, mas também é o interior, a roça, o sertão. Por consequência, os tipos que fazem as histórias desses espaços, são, em sua maioria, os que se encaixam nessas descrições que você citou.

Você está publicando, agora, de modo independente, o romance “A noite do despejo”. Diga-nos dessa sua experiência. Lidar com o mercado editorial, no Brasil, é algo complicado?

Joilson Kariri- Não sei como é lidar com esse mercado, pois nunca tive a oportunidade de viver essa experiência. Conheço o antigo mercado fonográfico, pois trabalhei com cantores e vi de perto como a coisa funcionava. Acredito que não seja muito diferente, afinal, o processo de atividade é muito semelhante. É natural no Brasil que primeiro o autor tenha que provar que seu trabalho tem público, para só depois ser aceito por uma editora. Publicar por uma editora não significa exatamente que o sujeito seja bom, significa, em muitos casos, que ele possui influências nesse meio. Os editores dão preferências pelos autores celebridades, pois esses que já vêm com um trabalho de mídia prontinho. Noutros casos, eles publicam os amigos e os indicados dos amigos.

Quando e como o livro estará à disposição dos seus leitores? Como fazer para adquiri-lo?

contioutra.com - “A NOITE DO DESPEJO”, um romance de Joilson Kariri Rodrigues.Joilson Kariri- Para adquirir o livro acesse  No Facebook- Sertão Urbano ou envie e-mail diretamente para [email protected]

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Portugal celebra 120 anos de Florbela Espanca

Portugal celebra 120 anos de Florbela Espanca

Portugal celebra 120 anos de Florbela Espanca Poetisa alentejana, nascida em 8 de dezembro de 1894, recebe homenagem em várias cidades portuguesas, com teatro, recitais de poesia e outras atividades

A poucos dias dos 120 anos de nascimento de Florbela Espanca, estudiosos, artistas e admiradores da arte prestam homenagem a uma das maiores poetas portuguesas. As principais programações ocorrem em Vila Viçosa, sua terra natal; Évora, cidade em que passou períodos ao lado do pai João Maria Espanca; e Matosinhos, cidade onde viveu com o terceiro marido, o médico Mário Lage, e morreu em 1930, no dia e na hora (2 horas da manhã) do seu aniversário de 36 anos.

Em Vila Viçosa, cidade onde ocorrerá a maior o homenagem, o aniversário será comemorado de 7 a 13 de dezembro, com atividades diárias que incluem a apresentação do solo de teatro Florbela Espanca – a hora que passa, com representação da actriz Lorenna Mesquita e encenação de Fabio Brandi Torres, ambos da companhia teatral brasileira Srta.Lô e integrantes do Grupo de Estudos Florbelianos, dedicado à pesquisa da vida e obra da poeta; além de lançamento de livro, exposição de quadros, reabertura da Biblioteca Florbela Espanca, palestras, recitais de poesia e oficinas de dramaturgia e interpretação realizadas pelo grupo brasileiro que retornou a Portugal especialmente para os 120 Anos de Florbela Espanca.

O evento é coordenado por Cristina Lopes, grande admiradora da obra de Florbela Espanca. Cristina fundou em dezembro de 2013, também na semana do aniversário da poeta, os Encontros Florbelianos, grupo que se reúne uma vez por mês em torno da vida e obra de Florbela, sempre a contar com pesquisadores e artistas que apresentam seus conhecimentos a respeito da poeta.

Em Évora, a poeta foi homenageada pelo Grupo Cénico da Sociedade Reacreativa e Dramática Eborense (SRDE), pela Srta.Lô e Grupo de Estudos Florbelianos. Juntos realizaram o Sarau Florbeliano com entrada livre e participação do público. Nos dias que antecederam o sarau, os grupos português e brasileiro também trocaram experiências e relataram suas pesquisas a respeito da poeta alentejana. Évora também recebeu uma sessão do solo teatral Florbela Espanca – a hora que passa, espetáculo que também será apresentado em Oliveira de Azemeis, neste sábado, 6, às 21h30, no auditório da Junta de Freguesia.

Em Matosinhos, Florbela Espanca começou a ser homenageada já no final de novembro. No último dia 26, o espetáculo Florbela Espanca – a hora que passa foi apresentado a alunos da ESAG e dia 29 na Casa da Alegria, no Porto. E de 7 a 9 de dezembro, Matosinhos prestará homenagem à poeta com a Festa da Poesia.

Em Oeiras, no dia 8, na Fundação Marquês de Pombal, haverá conferência de José Carlos Fernández, autor da biografia “Florbela Espanca: a vida e alma de uma poetisa”; no Parque dos Poetas, Jovens do Programa Transforma(TE) apresentam poemas de Fernando Pessoa e Florbela Espanca; e no Vila Gale Collection Palácio dos Arcos haverá o recital Inéditos de Florbela Espanca. A coordenação desse evento é de Severina Gonçalves, investigadora e editora dos seis poemas inéditos publicados em dezembro de 2013.

As comemorações pelos 120 anos de Florbela Espanca, encerram-se no dia 18 de dezembro, em Lisboa, com a apresentação do solo teatral Florbela Espanca – a hora que passa, às 21h30, no Teatro da Livraria Ler Devagar, na LX Factory. A sessão dessa noite contará especialmente com um piano de cauda, que será tocado pela actriz Lorenna Mesquita durante o espetáculo.

Programação

120 Anos de Florbela Espanca – Vila Viçosa

Organização: Encontros Florbelianos

Apoios: Agrupamento Escolar de Vila Viçosa, Biblioteca Florbela Espanca, Biblioteca da Universidade de Évora, Fundação da Casa de Bragança, Hotel Solar dos Mascarenhas, Santa Casa da Misericórdia de Vila Viçosa, Vicentinos de Vila Viçosa.

7 de Dezembro, 16.00H

Na exposição “Charneca em flor” iremos apresentar trabalhos da comunidade calipolense em torno do soneto Charneca em Flor, um dos mais emblemáticos da poesia Florbeliana, bem como dois quadros cronológicos da vida da poetisa provenientes da exposição “Os Espanca” inaugurada na Biblioteca da Universidade de Évora em Outubro deste ano. A Biblioteca Florbela Espanca terá ainda o grande gosto de receber neste dia Lorenna Mesquita e Fabio Brandi Torres com a apresentação do livro “Florbela Espanca – A hora que passa”, que depois da elaboração do monólogo com o mesmo nome foi a consequência lógica do exaustivo trabalho de pesquisa desenvolvido por estes criadores em torno da vida e obra de Florbela Espanca.

8 de Dezembro, 9.30H

Na manhã de 8 de Dezembro, data em que se comemora os 120 anos do nascimento de Florbela Espanca, será colocado um xaile, executado a várias mãos, no busto de Florbela, em frente ao Cine Teatro de Vila Viçosa. Com este gesto simbólico a comunidade calipolense pretende homenagear a sua poetisa e lembrar aos visitantes a estima que por ela nutrem e o reconhecimento do valor da sua obra. Às 18.00H será interpretado o monólogo “Florebela Espanca – A hora que passa” de Lorenna Mesquita e Fabio Brandi Torres na sala dos Encontros Florbelianos, no Hotel Solar dos Mascarenhas.

10 de Dezembro, 15.00H

“Quem se lembra dos Espanca” é o tema para um chá convívio no Hotel Solar dos Mascarenhas. Fotografias e postais de época, recordações vivas de alguns dos habitantes de Vila Viçosa que ainda conviveram com membros da família da poetisa farão as delícias de todos aqueles que sentem curiosidade e admiração por esta família singular.

9, 11 e 12 de Dezembro, 19.00/21.00H

Na sala dos Encontros Florbelianos, no Hotel Solar dos Mascarenhas, serão realizadas Oficinas de voz e de escrita criativa orientadas pela dupla criativa Lorenna Mesquita e Fabio Brandi Torres. As inscrições devem ser feitas por mensagem na página dos Encontros Florbelianos ou na recepção do Hotel Solar dos Mascarenhas

12 de Dezembro, 10.00H

Tendo Lorenna Mesquita, Fabio Brandi Torres e Francisco Caeiro como oradores convidados, realizar-se-á na manhã de 12 de Dezembro uma comunicação sob o tema “A poesia e as crianças”, no Auditório da Escola Públia Hortência de Castro. O público alvo serão os alunos do pré escolar e 1º ciclo do Agrupamento Escolar de Vila Viçosa.

13 de Dezembro, 20.00H

Jantar de encerramento do 1º ano de Encontros Florbelianos, no Hotel Solar dos Mascarenhas. São bem vindos neste jantar Florbeliano todos aqueles que simpatizaram e ajudaram na realização das tertúlias Florbelianas realizadas ao longo do ano de 2014, bem como todos os que admiram Florbela e o seu universo literário. Declamação de poesia, conversas em torno dos livros e novos rumos que o Projecto Encontros Florbelianos poderá tomar serão o contexto desta actividade, acompanhado de um saboroso e aconchegante jantar. Inscrições na recepção do Hotel Solar dos Mascarenhas ou por mensagem na página do Encontros Florbelianos.

contioutra.com - Portugal celebra 120 anos de Florbela Espanca

O Espetáculo 

Florbela Espanca – a hora que passa

O solo teatral brasileiro, da companhia Srta.Lô, está em sua segunda digressão por Portugal especialmente para a homenagem aos 120 Anos de Nascimento de Florbela Espanca. A primeira vez no País foi em março deste ano, no Dia Mundial da Poesia, em 21 de março, e percorreu 16 cidades em 40 dias.

No espetáculo, com direção de Fabio Brandi Torres, a atriz Lorenna Mesquita vive Florbela Espanca. Em sua última hora de vida, a poeta discorre sobre si mesma e questiona o papel da mulher na década de 20, com reflexões que ainda cabem para os dias atuais.

A montagem é resultado de um processo de pesquisa desenvolvida ao longo de três anos com o estudo da obra de Florbela Espanca e visita às principais cidades portuguesas em que a poeta viveu para conhecer de perto os ambientes e a cultura que a influenciaram.

[quote_box_right]“O melhor de todos os homens não vale um fanatismo, creia-me, e embora a nossa alma, com essa ânsia de amor, de ternura que canta sempre em nós, se lhes dedique completamente, que eles o não sai­bam nunca, que não suspeitem sequer!… Abdicando um grau da nossa realeza, teremos de descer sempre, sempre, até ao fim.

Ame doidamente alguém, mas nunca abdique nem uma só das suas graças, nem uma só das suas ideias que lhe fazem vincar a fronte às vezes com uma pequenina ruga de capricho e insolência, que fica tão bem às mulheres boni­tas; não ajoelhe nunca, porque está nisso o nosso grande mal, o nosso profundíssimo erro; nós invertemos muitas vezes os papéis, e em proveito deles, e depois as consequências são muitas vezes as paixões que devastam uma vida inteira por criaturas que se dignam dar, por último, como humilde mortalha, um olhar de compaixão!

Muitas vezes as nossas mais delicadas atenções, as nossas maiores provas de amor, os nossos cuidados, são como aquelas pérolas que um dia alguém atirou a uns porcos…

Guardar-me intacta, como um cristal transparente, pra quê? Eu não sou de ninguém!… Quem me quiser há de ser luz do Sol em tardes quentes… Há de ser Outro e outro num momento! Só na alma é que a lama não se apaga; aquela com que nos salpicam, sai com água limpa.”

Florbela Espanca[/quote_box_right]

O Processo

“Quando conheci as poesias de Florbela Espanca, o que mais me chamou atenção foi a sua intensidade. Ela parecia viver exatamente o que escrevia. Um misto de amor e de dor.

Eu me perguntava: Quem foi essa mulher que ousou naquela época, na década de 20, expressar os mais íntimos sentimentos? Por que ela se matou? Por que nunca estava satisfeita?

Intrigada, decidi ir atrás da sua história. Fui a Portugal e conheci as três principais cidades em que ela viveu: Vila Viçosa, Évora e Matosinhos. Visitei suas casas, o cemitério, as homenagens nesses lugares – bustos em praças, biblioteca, túmulo em destaque no cemitério -, além de Lisboa e Porto. Filmei cada passo no meu vídeo-diário de bordo. E lá, percebi que Florbela ainda não possui o reconhecimento que merece.

Até então, eu já tinha planejado montar um espetáculo que tivesse seus poemas como base, mas após ter contato com suas cartas, contos e diário, o texto que seria composto basicamente por uma desconstrução de suas poesias deu lugar às palavras de Florbela que mais expressavam sua forma de viver. O ponto de partida foi imaginar o que ela falaria para alguém exatamente uma hora antes de dormir e construir o texto como um fluxo de pensamento.

Ao reunir todo o material que acreditava não poder ficar fora de uma peça sobre Florbela, cheguei a uma dramaturgia que daria mais de três horas de espetáculo. Foi então que conheci o dramaturgo e diretor Fabio Brandi Torres em uma leitura de uma peça de Luis Eduardo de Sousa e o convidei para o projeto. Minha proposta para o Fabio era que com esse texto inicial descobríssemos juntos, na sala de ensaio, a essência do espetáculo. Fizemos experimentações de estudo de cena no festival de teatro Satyrianas e na Semana Florbela Espanca, que realizamos na Casa de Portugal de São Paulo.

Voltamos ao texto e o cortamos literalmente: usamos papel e tesoura como nas aulas de educação artística. E depois, com cola e papel, montamos um quebra-cabeça a partir das nossas descobertas. O resultado, para mim, é uma linda colcha de retalhos que me emociona sempre que a toco. Espero que tu te emociones também.” Lorenna Mesquita

Sinopse

Em sua última hora de vida, Florbela Espanca repassa sua vida, relembrando os principais momentos, sempre fazendo menções também à sua obra. Ela começa contando uma parábola sobre vida, morte e destino que ela escreveu inspirada num conto indiano. Em seguida, discorre sobre o que pensa a respeito da vida, suas angústias, amores e dores. Florbela apresenta-se como uma mulher angustiada e ao mesmo tempo forte, mostrando quem ela é como pessoa e artista e pede para que a aceitem, pois só assim poderão lhe ter amor. Diz que sua dolorosa experiência ensinou que ela é só e que por mais que se debruce sobre o mistério de uma alma, nunca o desvenda, que o amor não passa de uma pobre coisa banal, incompleta, imperfeita e absurda. Sente-se triste, abandonada e só, pois tem esgotado todas as sensações artísticas, sentimentais e intelectuais. Sente-se afundar. Por fim, tem esperança de que alguém ao ler seus descosidos monólogos, realize o que ela não pôde: conhecer-se.

Equipe de Criação

Fabio Brandi Torres é dramaturgo, tradutor, diretor e produtor teatral, desenvolvendo trabalhos com diversos grupos teatrais, como o Centro de Dramaturgia Contemporânea, Prosa dos Ventos, Folias D’Arte, Circo de Trapo, Cia Triptal, Cia dos Dramaturgos, entre outras. Seus textos foram dirigidos por Isser Korik, Iacov Hillel, Val Pires, Caco Ciocler, André Garolli e Rosi Campos, entre outros. Foi indicadoao Prêmio Shell de Melhor Autor, em 2005, e três vezes ao Prêmio FEMSA, em 2004, 2009 e 2013. Em televisão, foi roteirista das telenovelas Seus Olhos(SBT) e Paixões Proibidas (BAND / RTP), em colaboração com Aimar Labaki e Mário Viana. Tem um livro infanto-juvenil editado, O Tesouro de Fabergè, e teve a peça Um Conto do Rei Arthur premiada no Concurso Vladimir Maiakovski.

Lorenna Mesquita é atriz, escritora, jornalista e produtora cultural. Pesquisadora da obra da poeta portuguesa Florbela Espanca, foi responsável pela concepção e realização do monólogo Florbela Espanca – A Hora que Passa, que teve estreia em Portugal em 2014, em 21 de março, no Dia Mundial da Poesia, e percorreu 16 cidades portuguesas numa temporada de 40 dias. Em 2013, na semana de aniversário de vida e morte da poeta, realizou a Semana Florbela Espanca, na Casa de Portugal de São Paulo. Foram sete dias homenagens, com saraus de poesias, cartas, contos, diário e conversas com o público sobre o contexto histórico em que a poeta viveu. Na mesma época, deu início à produção de vídeos e áudios na internet para a divulgação da obra de Florbela Espanca.

FLORBELA ESPANCA

(8/12/1894 – 8/12/1930)

Poeta portuguesa da região do Alentejo, Florbela D’Alma da Conceição Espanca nasceu em 8 de dezembro de 1894, registrada como filha de pai desconhecido, mas educada pelo pai e pela madrasta em Vila Viçosa.

Os três casamentos fracassados, as desilusões amorosas e principalmente o suicídio do irmão Apeles Espanca, durante um voo de treino sobre o Tejo, em 1927, marcaram profundamente a vida e a obra de Florbela Espanca.

Em dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, a poeta comete suicídio, às 2 horas da manhã, no dia e na hora do seu aniversário de 36 anos.

Grupo de Estudo Florbelianos 

Lorenna Mesquita e Fabio Brandi Torres

[email protected]

+351 91.111.3626

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A MENINA QUE AINDA NÃO ESCREVIA VERSOS

A MENINA QUE AINDA NÃO ESCREVIA VERSOS

Por Nara Rúbia Ribeiro

Quando o médico a examinou, ficou perplexo. Nunca vira, assim, um caso tão grave.

Os sintomas eram tantos! A menina não tinha mais sede de alegria, fome de contentamento. Padecia de inapetência da vida. Seguia no automático, como se viver fosse uma obrigação burocrática e o vivente um funcionário que aguarda soar o alarme da saída para bater o ponto final.

Era meio desligada, desapercebida do mundo. Algumas coisas, contudo, a incomodavam bastante. Uma delas era a lentidão das horas. Era imperioso que dia terminasse logo. Um dia a menos: missão cumprida.

Outro incômodo era a pressa de todo mundo por alcançar uma porção de coisas sentido. E depois que as pessoas alcançavam “o-seu-sem-sentido-da-vez”, corriam a forjar outras metas ainda mais estranhas e descabidas, como a fama pela própria fama, o ter o desnecessário, o possuir em esbanjamento o que ao outro falta, o dominar o outro, o apropriar-se do trabalho alheio sem a justa contrapartida.

[pull_quote_left]”Estou, sim, a viver. Tenho este pedaço de vida — disse, apontando um novo caderninho — quase a meio.”
Mia Couto, no conto “O menino que escrevia versos”[/pull_quote_left]

Esse incômodo tinha um agravante máximo que, penso eu, foi o que de fato a adoeceu. É que essas pessoas se arvoram na autoridade de ditadores das regras do mundo e exigiam que a menina também agisse assim. Mundo insano que a alma golpeia e de ninguém compadece!

Os parentes se preocuparam imensamente pela desimportância que a menina dava às coisas sérias do mundo. Imagina, ela era capaz de perder tempo olhando as formigas no quintal enquanto o jornal da noite dava notícias de severas ocorrências políticas. Gostava de ficar horas em silêncio, sozinha, como se quisesse ouvir alguma vez que vem de dentro. Não tinha ambições maiores, falava com pouca gente (por falta de afinidade, mesmo)… E a solidão a assumiu por completo. Mesmo quando cercada de pessoas, ela estava sozinha. Isso era certo.

A tristeza foi se acumulando na alma. Se ninguém a aceitava do jeito que ela era, ela se deu ao luxo de também se rejeitar. Até que a situação chegou a um ponto insustentável. Ela estava fraca e abatida. Há dias não ia ao trabalho ou à escola, não comia, não saía do quarto. Seus pais decidiram levá-la ao médico, temerosos de um mal maior.

– É um caso gravíssimo, asseverou o médico.

– A menina padece de excesso de abstrato no peito, palavras petrificadas na alma, utopias invencíveis, encantamentos intocados. Tem nas entrâncias, devidamente resguardas, as dores do mundo e nutre tendência às desimportâncias. É alérgica a vacuidades pomposas e a vaidades diversas. Ela corre risco de morte.

Os pais não entenderam absolutamente nada, mas ficaram atônitos quando ouviram a palavra “morte”.

– O que podemos fazer, doutor? Ela tem cura? Diga, pelo amor de Deus, diga!

– Incurável.

A mãe chorava copiosamente.

– Podemos ajudar de que modo, Doutor?

– Caneta e papel em dosagens desmedidas. Em casos de poesia crônica, escrever é sempre a única receita, a única alternativa.

Parabéns

Parabéns

Por Guilherme Antunes

Parabéns àqueles que reconheceram seus fracassos e souberam o tempo de desistir. Parabéns àqueles que entenderam suas impossibilidades e os seus próprios limites. Parabéns àqueles que reconheceram seus defeitos sem estender seus efeitos a mais ninguém. Uma salva de palmas para aquele que dispensou o outro do compromisso de continuar sofrendo a dois; quando descobriu que ao se libertar, libertava o outro também.

Parabéns àqueles que lidaram com os saltos no abismo “apesar de”, e que souberam o tamanho das próprias pernas. Parabéns àquele que não se corrompeu diante das suas carências, não se permitindo coisas que em outra época jamais se permitiria. Parabéns àqueles que enfrentaram com coragem seus medos, dispensando apegos e quaisquer outras muletas de que poderiam se servir para continuar caminhando. Um brinde àqueles que não empalharam o amor para garantir sua presença e seu uso de qualquer jeito nos amanhãs. Um brinde àqueles que aprenderam o tempo certo de se despedir; que com gratidão ou dignidade e sem nenhuma dose de veneno aprenderam a sair de cena, aproveitando a hora certa para evitar sufocamentos. O meu respeito àquele que, mesmo sem saber de nada, apóia-se nas suas próprias verdades. A minha admiração àqueles que encararam seus vazios sem preenchê-los com qualquer coisa; que não se contentaram com o discurso de que “é o que tem pra hoje”, de que “a vida é assim” e portanto, “contente-se, resigne-se, acomode-se”.

Parabéns àqueles que mesmo sem saber pra onde seguir, seguem, porque sabem que a alma empoeira e envelhece se parar por entre os dias. Parabéns àqueles que descobriram que a tristeza pode ser uma importante lição, mas uma aula desnecessária. Parabéns àquele que não ficou apenas esperando a cura do mal; que é fiel consigo mesmo perante sua própria consciência, que não deixou seus monstros se reproduzindo no abafado escuro da sua inconsciência.

Parabéns a todos aqueles que souberam se reinventar.
Guilherme Antunes é amante das palavras, da filosofia e dos temas da Alma. Sinestésico e musical, buscador, contraditório, intenso, vasto. Sommelier de groselha, servidor público, poeta e farsante. Ele é aquilo que ninguém vê.

Para mais informações sobre o autor e seus trabalhos:
http://arkhipelago.blogspot.com.br/

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O poder e o peso da clareza

O poder e o peso da clareza

Por Gustl Rosenkranz

Alguém questionou há uns dias, em uma conversa, o porquê das pessoas não enxergarem o óbvio, de se negarem a ver as coisas como realmente são. Esse alguém estava compreensivelmente indignado com tanta coisa ruim que acontece no mundo, tanto no âmbito coletivo, com toda a humanidade passando por problemas sérios (aquecimento global, guerras, corrupção nos governos de muitos países, um capitalismo selvagem que mais escraviza que liberta, etc.), como no âmbito individual (as relações se tornam cada dia mais superficiais, as pessoas se identificam mais com a matéria do que com o espírito, o amor é uma palavra em moda, mas sem que seja vivido como deveria, etc.). Discutimos sobre o assunto e sobre as possíveis causas, inclusive aquelas apontadas por autores diversos por aí, mas constatamos que muitas explicações perdem a consistência quando são refletidas com maior profundidade. A falta de educação, que na opinião de alguns faz com que a “massa cinzenta” tenha um raciocínio limitado, fazendo-a viver praticamente sem pensar, por exemplo, não vale como argumento, já que há pessoas com boa formação, acadêmicos e até mesmo cientistas que se negam a enxergar o óbvio da mesma forma. Outros argumentam com a manipulação das pessoas pela mídia, pela televisão, pelas revistas, pelos jornais, pela internet… Constatamos de fato que essa manipulação existe, mas também isso não parece ser o motivo mais profundo de tamanha “cegueira”, pois uma manipulação deveria perder seu poder sobre uma pessoa assim que ela toma consciência de que está sendo manipulada. Como essa manipulação da mídia é conhecida e muitos de nós sabemos que ela existe, ela também não pode ser a causa das pessoas “virarem a cabeça, fingindo não ver o que estão vendo”. E refletimos ainda sobre outros aspectos, sobre outras possíveis causas, como o consumismo, o egoísmo e o imediatismo das pessoas, mas não chegamos a nenhuma conclusão. Somente alguns dias depois, refletindo sozinho, é que encontrei o motivo que acredito ser o principal de tal comportamento: MEDO. Medo de enxergar, medo de entender, medo da clareza, que, por um lado, nos leva um passo adiante, mas, por outro, aumenta nossa responsabilidade, faz com que surjam novas perguntas e torna nossa vida mais complicada, mesmo que mais plena.

Sim, a clareza, que é poderosa e pesada: poderosa porque nos torna seres mais independentes, autárquicos, críticos e plenos, mas pesada porque ter clareza significa perder a ilusão, ver a vida e o mundo como realmente são, faz com que deixemos (pelo menos um pouco) de ser “animais de rebanho” e, ao invés de seguir os outros simplesmente, começamos a questionar o caminho, o que nos traz problemas de convivência com os demais, pois muda nossa mentalidade, fazendo-nos refletir sobre nossas relações, sobre nossas necessidades, sobre nossos sonhos e ideais e “complicando” nossa vida, já que ela (a clareza) faz com que determinados modelos sejam indagados e mesmos rejeitados, derrubando literalmente certas convenções, muitas vezes sem que já haja uma nova convicção, ou seja, com o aumento da clareza, nos despedimos de algo antigo, que já carregamos conosco talvez por uma vida inteira, sem que saibamos ainda o que nascerá no lugar disso. E isso mete medo!

Veja só como a clareza “complica” nossa vida: imaginemos uma pessoa que adora curtir a vida e que come e bebe de tudo, doces, salgados, fast food, carne, conservas, refrigerantes, bebidas alcoólicas e tudo que ela acha que tem direito, sem nunca refletir sobre isso (=falta de clareza). Um dia, essa pessoa lê por acaso em algum lugar sobre a importância de se alimentar bem, já que nosso corpo produz diariamente e durante toda a vida novas células e essas células são compostas daquilo que ingerimos, e que uma boa alimentação é o requisito principal para que possamos levar uma vida saudável. Imagine agora as possíveis reações dessa pessoa: a) pode ser que ela realmente entenda e interiorize o que leu, refletindo profundamente sobre a importância de se alimentar bem, concluindo que seria sensato ter mais cuidado com o que ela come. Essa pessoa vai ter então que mudar seus hábitos, ler embalagens dos alimentos que compra, estudando os ingredientes, questionando se aquilo tudo realmente fará bem a seu corpo, e ela vai deixar de comer (ou comer menos) no McDonald’s ou na lanchonete da esquina, cozinhando mais vezes ela mesma e tendo muito trabalho para que sua alimentação seja realmente saudável. Se isso acontecer, a pessoa terá se decidido pela CLAREZA e por uma vida mais “complicada”. Ou ela se decide pela outra opção: b) o texto lido é ignorado, essa pessoa irá, no máximo, fazer uma observação do tipo “que besteira!” ou “sempre comi o que quero e isso nunca me fez mal!” e descartará a clareza, optando por continuar se alimentando da mesma forma como até agora, sem ler as embalagens, sem refletir sobre o efeito de certas substâncias sobre seu corpo, fazendo de conta que aquele texto nunca existiu. Se isso acontecer, a pessoa terá se decidido pela FALTA DE CLAREZA e por uma vida mais “simples”.

É claro que a opção b) mostra em primeiro plano um COMODISMO da pessoa, mas acredito veemente que a verdadeira causa seja MEDO. E para explicar isso, tenho que ir um pouco mais a fundo na análise desse comportamento humano:

Em minha opinião, o ser humano é movido por dois impulsos básicos: a necessidade de sobreviver e a vontade de ser feliz. O sobreviver é mais fácil, já que é guiado por nossos instintos, coisa que recebemos da natureza, que funciona sempre mais ou menos, mesmo que muitas vezes agimos contra aquilo que é natural. Mas a coisa complica quando se trata do anseio de ser feliz. Quando não saciado, esse anseio pode se transformar em angústia, em aflição, algo nada agradável, que tentamos evitar a qualquer custo. Assim, com medo de sermos infelizes, buscamos a felicidade imediata em tudo que fazemos, tentando achar sempre o caminho mais fácil e curto, pois não queremos sentir tal angústia/aflição. O problema aqui é que, ao agir de tal modo, nos iludimos, já que essa felicidade imediata permanece sempre na superfície, nos tornando igualmente superficiais. Começamos a redefinir a felicidade de uma forma sem muita consistência, buscamos saciar nosso anseio com coisas materiais e, no final das contas, acreditamos que somos felizes quando compramos ou mais ainda quando ganhamos um novo iPhone, um carro, uma moto ou mesmo um secador de cabelos. Mas, assim que temos aquele objeto tal almejado, percebemos que a alegria (que confundimos com felicidade) passa rápido, que nos sentimos logo vazios e que precisamos de outro “brinquedo” para distrair nossa angústia emergente, e assim nos tornamos vítimas cativas do consumismo. Ou então nos entregamos a uma vida cheia de divertimentos, festas a cada fim de semana (ou várias vezes por semana!), bebemos, usamos drogas, vivemos relações “amorosas” diversas sem nenhum elo mais profundo, escutando música alta o tempo todo (=fugindo do silêncio!) ou nos entregamos ao mundo de fantasia apresentado pela TV ou pela internet, sem que isso nunca seja suficiente, fazendo com que queiramos sempre mais, e assim nos tornamos vítimas da distração eterna e da manipulação (pela TV, por redes sociais na internet, por quem organiza eventos e precisa de público que pague os custos e o lucro, etc.).

Tanto de uma forma como de outra, isso não é saudável e, pior ainda, isso não leva a lugar algum. Temos medo de ser infelizes, tememos a angústia, tememos até mesmo perceber que somos frágeis, que somos passageiros, que tudo e todos um dia terminarão de existir (neste mundo). Assim tentamos distrair essa angústia, essa aflição, correndo o tempo todo atrás de alguma coisa que desvie nossa atenção, atrás da “injeção de felicidade imediata” que nos traz acalanto e paz interior, mesmo que somente aparentes.

Sou convicto de que todos nós, no fundo, sabemos disso, mas temos medo de abandonar uma trajetória percorrida até agora por estarmos familiarizados com ela, porque achamos mais fácil nos prender a uma “felicidade” trazida por um milhão de coisinhas passageiras e superficiais do que buscar uma felicidade profunda e plena, que nos traga acalanto e paz interior de verdade. E temos medo de que, sem todos “apetrechos” à nossa volta, percebamos que não somos tão felizes assim, que nossas amizades não sejam tão boas assim, que nosso desejo de ser feliz e amado é muito mais profundo do que parece, que nossa alma precisa de muito mais. Assim, com medo de enxergar a fundo e ver o que está por trás da fachada, preferimos viver sem clareza, acreditando que isso nos levará a algum lugar. Mas, como já dito, isso não é verdade e o efeito atingido é exatamente o contrário do que o desejado ardentemente: sempre teremos momentos de lucidez que nos mostrarão que, no fundo, somos infelizes. Se formos espertos, reconhecemos esses momentos de lucidez como um convite a refletir, a buscar maior clareza e uma felicidade real e profunda. Mas, se formos medrosos, vamos optar por tomar mais uma “injeção de consumo e distração” e, como um viciado em drogas, confundir mais uma vez essa embriaguez com a realidade.

Apesar de pesada, a clareza tem uma vantagem muito grande em relação à falta dela: ela nos torna mais conscientes do que e de quem somos, nos torna mais livres, mais abertos para o que é autêntico e nos permite conhecer uma felicidade realmente verdadeira.

Ser feliz é encontrar dentro de si aquele sentimento que conhecemos de nossa infância, quando vivíamos aqui e agora, sem preocupações e sem máscaras, quando éramos porque éramos e não porque tínhamos alguma coisa, quando tínhamos uma consciência bela e pura de que felicidade simplesmente existe, sem precisar de apetrechos, status, enfeites, fama ou seja lá do quê. Ser realmente feliz significa trabalhar em si mesmo, conquistar seu espaço nesse mundo, sentir e respeitar seu valor como ser humano e perceber que a felicidade é bem mais do que a alegria passageira trazida por algo material. O caminho que devemos seguir é longo, e esse caminho é a vida, nossa vida, que quer e deve ser vivida em sua plenitude, com seus dias de sol e chuva, com as alegrias e tristezas, com os dias e as noites, com suas fases felizes e outras menos felizes. Sim, um caminho muitas vezes pedregoso, mas vale a pena segui-lo, mesmo porque não há alternativa, a não ser viver como alguém que corre da luz, do óbvio, da clareza, acreditando ser feliz sem ser, vulnerável a sofrer assim que a “dose cotidiana de sua droga” (consumo e distração) lhe falte. Esse longo caminho comparo ao Níger, na África, um dos rios mais longos do mundo. Ele praticamente morre bem perto do lugar que nasce. Para ser feliz, você tem que seguir o rio assim mesmo, pois não há atalhos que levem rapidamente da nascente à foz. A tentação pode ser forte, já que a distância é pouca, mas não vale e pena tentar, pois, mesmo que você consiga cortar o caminho, sua felicidade jamais será a mesma de alguém que seguiu todo o percurso do rio por vários mil quilômetros.

Se você é um ser humano que deseja crescer, amadurecer e (!) ser realmente feliz, não tenha então medo da clareza, de ver as coisas com sobriedade e como realmente são. E, mesmo que a clareza seja “pesada”, nunca esqueça que você é forte o suficiente para carregá-la.

5 erros na hora de tirar a fralda da criança

5 erros na hora de tirar a fralda da criança

Fonte indicada  contioutra.com - 5 erros na hora de tirar a fralda da criança

Tirar a fralda pode por vezes ser um processo que exige muita paciência por parte dos pais.

Na maioria das crianças, tirar a fralda é um processo um pouco longo, tendo por isso de ser realizado tranquilamente, de modo a não estressar pais e criança.

Contudo, muitos pais, na ânsia de que o seu filho tire a fralda, cometem vários erros, que acabam por atrapalhar, deixando tanto pais como criança frustrados.

Conheça aqui os 5 erros mais comuns que os pais cometem na hora de tirar a fralda da criança.

Erro 1 – Chatear-se com a criança quando não conseguir aguentar

Numa fase inicial sem fralda é normal a criança ainda não conseguir controlar totalmente o seu sistema urinário ou o esfíncter.

É por isso fundamental ter paciência para esperar a hora certa e não se chatear quando ela se sujar.

Repreender pode ter um efeito bem negativo, sendo muito mais útil uma conversa tranquila sobre o assunto.

Erro 2 – Esperar que a criança diga que quer ir ao banheiro

A partir de dada altura a criança já conseguirá avisar que quer ir ao banheiro.

Contudo, por distração ou ainda não por não controlar totalmente a saída das suas necessidades, ela pode não conseguir aguentar.

É por isso que é importante ir lembrando a criança para ir ao banheiro.

Erro 3 – Apressar o processo

Não existe uma data ou um prazo exato para a criança deixar a fralda.

É por isso essencial os pais estarem atentos ao comportamento do seu filho, de modo a aperceberem-se dos sinais que mostram quando a criança quer ir ao banheiro.

Se tentarem apressar esse processo, pressionando a criança, podem causar tensão e confusão que irão atrapalhar e prolongar o período de deixar a fralda.

Erro 4 – Apressar as necessidades da criança

Por vezes, nos primeiros tempos, a criança pode demorar algum tempo até conseguir fazer as suas necessidades.

É essencial que os pais não a apresse para evitar tensão e frustração num momento que se quer tranquilo.

Se o seu filho começar a relacionar as idas ao banheiro com momentos de estresse e nervosismo, ela não estará confortável em fazer as suas necessidades.

Erro 5 – Não respeitar a privacidade da criança

Mesmo sendo ainda muito nova, há crianças que podem sentir-se desconfortáveis ao fazer as suas necessidades na frente de outras pessoas. Se os pais acharem que esse é o caso, tentem dar mais privacidade a criança.

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4 âncoras que atrasam sua evolução

4 âncoras que atrasam sua evolução

Por Nara Rúbia Ribeiro

Somos convidados, a cada dia, ao progresso, à evolução de toda a ordem. Contudo, muitas vezes, reiteramos algumas posturas que, em si mesmas, guardam a âncora do nosso atraso, fazendo-nos estagnados. O pior de tudo é que é tamanho o nosso despreparo existencial que raro conseguimos perceber que estamos ancorados.

Ignorar a própria ignorância

Ser ignorante é algo natural. Nunca saberemos tudo sobre todas a s coisas. O que traz obstáculo à vida não é a ignorância, é a pseudossapiência. A pessoa ignora o não saber, e age, não sabendo, como se soubesse. Este indivíduo, não raro, mesmo nada sabendo, quer ensinar. Muitos deles fundam partidos, seitas, religiões, e se tornam o que alguns denominam  de “cegos guias de outros cegos”, perpetuando, assim, a ignorância.

O orgulho de ser orgulhoso

A palavra “orgulho” pode denotar um sentimento até nobre de autorrealização pessoal. Contudo, na maioria das vezes, serve como sinônimo de soberba e arrogância, quando o homem necessita ostentar sua “grandeza” para fazer com que o seu próximo se sinta menor. Esse orgulho, esse sentir-se mais, achar-se certo e pleno, pode ter por objeto a constatação do próprio orgulho. Nada pior que a pessoa que se orgulha de ser orgulhosa. “Eu sou assim, mesmo. Tenho gênio forte. Não peço desculpa, não volto atrás, sou orgulhoso mesmo. Nasci assim e vou morrer assim”.

Falar mal de fofoqueiroscontioutra.com - 4 âncoras que atrasam sua evolução

Outros que se ancoram são aqueles que já se mostram capazes de constatar que a maledicência em nada contribui para o progresso do homem, mas não é capaz de perceber que aquele que fala mal de um fofoqueiro por ser fofoqueiro já está inquinado à mesma conduta.

Não tolerar os intolerantes

Não tolerar os intolerantes é outra âncora do atraso. Sei o quanto é difícil conviver com aquele que se acha dono de determinada verdade e ostenta o seu “título de proprietário” contra tudo e todos que tenham verdades divergentes. Contudo, é de suma importância dissociar o intolerante da sua própria conduta e tolerá-lo. Possivelmente seja a única forma de fazer, em longo prazo, com que o outro compreenda a insensatez da própria conduta, além de servir para que não nos ancoremos junto dele.

São inúmeras as posturas que nos fazem fixos em águas interiores que não deveríamos mais navegar. É preciso olhar para as nossas mentes, analisar as nossas almas, desvendar o que em nós habita. Neste mundo de recorrentes e inovadoras descobertas, cabe-nos o exercício de conhecer a nossa própria essência. Fazer a distinção entre aquilo que nos move e aquilo que nos estagna.

Não existe maior exercício de Amor que o autoconhecimento. Aquele que se conhece, sabe-se centelha eterna da Luz Maior e não se permite, nunca, ancorar-se em atraso algum.

Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

contioutra.com - 4 âncoras que atrasam sua evolução

Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
Mia Couto oficial

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