10 razões para se apaixonar

10 razões para se apaixonar

Muitos, nos dias de hoje, andam desacreditados no que se refere ao amor. Trouxemos, então, 10 motivos para você se apaixonar!

1. Apaixonar-se faz com que você fique mais bonito.

Quem se apaixona se cuida mais, se ama mais… Você terá aquele brilho nos olhos e sorrirá muito mais vezes. Isso tudo adorna o seu rosto e faz com que você irradie algo especial.

2. Apaixonar-se faz com que você se concentre na felicidade.

Focado na felicidade amorosa, você dará mais atenção ao que lhe faz bem, afastando-se de pensamentos sombrios e negativos.

3. Apaixonar-se melhora as suas finanças. (E eu pensei que era justamente o contrário…)

Obviamente, se você se comprometer com alguém milionário, isso é verdade. Mas, se não, os estudos mostram que, a longo prazo, os que estão em um relacionamento estável e duradouro têm melhores finanças do que aqueles que caminham sozinhos.

4. Apaixonar-se melhora a sua saúde.

Para começar, o apaixonado se preocupa mais com sua aparência física. É que o amor faz com que você preste mais atenção à sua saúde e se esforce para ser mais saudável; isso não só para si, mas também para a pessoa que você ama.

5. Apaixonar-se o torna mais sensível.

Você fica mais receptivo às novas emoções. Se antes as comédias românticas lhe causavam até arrepios de horror, agora você pode ter empatia por essas histórias. E o mesmo vale para poemas e todos os tipos de “canções de amor”.

E isso é bom! Você estará mais aberto a diversas emoções e poderá desfrutar de mais momentos e alegrias saboreando a intensidade desses sentimentos.

6. Apaixonar-se o faz mais forte

Você se fortalece em vários sentidos. Em primeiro lugar, como já dissemos, as pessoas que se apaixonam se preocupam e se dedicam mais.

Em segundo lugar, o caminho do amor verdadeiro é cheio de tensões: discussões, desentendimentos, problemas com sogros, etc. Superar cada um desses obstáculos e manter o relacionamento vivo exige esforço. E tudo isso fortalece o nosso emocional.

E, fisicamente, em terceiro lugar, o sexo nos fortalece e nos mantém em forma.

7. Apaixonar-se faz você mais sábio.

O convívio diário faz com que você pense e repense, frequentemente, as suas teorias, desejos e conceitos, sopesando o que o outro também quer, pensa e diz. Essa interação nos torna mais sábios.

8. Apaixonar-se faz você mais responsável.

Ao apaixonar-se, você quer fazer tudo o que puder para o bem do casal. Quer cuidar de suas finanças. Faz com que você se importe com parentes seus e do outro. Você fica mais atendo às atividades domésticas …

O amor também tem este aspecto: leva a fazer “mais” do que antes.

9. Apaixonar-se o torna mais criativo.

Quando você está apaixonado, você encontra maneiras incomuns para surpreender o seu parceiro e mostrar-lhe o quanto você o ama. Você pode fazer coisas que você nunca teria imaginado.

E a melhor parte é que, embora seja muitas vezes até difícil a tarefa de inovar e surpreender, você faz isso com alegria.

10. Apaixonar-se faz você mais feliz.

Quando você está com a pessoa que você ama, o que você sente? nada do que foi dito acima? Não importa, o mais importante é que você seja capaz de perceber suas próprias mudanças,. Assim você verá que todo o trabalho, todo o tempo gasto e toda a criatividade valeram a pena quando você está ao lado de quem você ama.

Você estará mais feliz, rindo mais, fazendo coisas impensadas e loucas, brincando e, acima de tudo, será uma pessoa positiva enquanto sonha e faz planos para um futuro a dois.

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A forma como o brasileiro vê cinema e política, por Octavio Caruso

A forma como o brasileiro vê cinema e política, por Octavio Caruso

Por Octavio Caruso

O grande problema do Oscar é ter se tornado, aos olhos do mundo, o símbolo maior de tudo o que representa o cinema. Na realidade, a premiação não diz quase nada sobre a beleza da Sétima Arte. O brasileiro, aquele que não valoriza cinema como algo mais que entretenimento fútil, aproveita a farra que antecede o evento, participa de bolões, chega até a discutir sobre os filmes indicados. No dia da cerimônia, na falta de estofo cultural sobre o tema, ele perde mais tempo analisando os vestidos no tapete vermelho, as gafes cometidas, a plástica no rosto da atriz, os memes, enfim, tudo o que não é cinema. Quase sempre, sem nenhum interesse, dorme antes da metade da exibição. O tema já perdeu o valor que havia como status de elegância, é assunto de ontem, não irá nem comentar no trabalho. A Sétima Arte volta a ser, para esse brasileiro, simples futilidade que ele adquire nas bancas dos camelôs, para assistir quando não tiver nada melhor na televisão, entretenimento inofensivo para passar o tempo, enquanto aguarda a chuva estiar. Um longo ano irá se passar até que ele volte a se interessar por aquilo.

O brasileiro que trata o cinema exatamente como lida com a política. Em época de eleição, ele se torna politizado, discute o tema nas rodas sociais, esbraveja seus direitos, quase sempre se esquecendo dos deveres. Na falta de estofo cultural sobre o tema, embarca em qualquer teoria de conspiração compartilhada nas redes sociais, fazendo piada com a roupa dos políticos, com as deficiências físicas, enfim, tudo o que não é política. Assim que pressiona o botão da urna, aquilo já se tornou assunto de ontem. Ele volta então a programar seu cérebro para o senso comum: todo político não presta; motivo que o leva a não ler absolutamente nada sobre o tema durante o longo ano.

Claro que o ignorante político é tremendamente mais danoso à nação que o ignorante cinematográfico, porém, o segundo é sintomático de uma das causas que levam à criação do primeiro: o total desinteresse pela cultura, a satisfação com o raso e a priorização do “ter”, ao invés do “ser”. Cultura é fundamental no forjar de um cidadão consciente. Como querer um povo politizado, quando ele não lê, não se importa com cinema, só gosta de farra, não é pontual e só pensa em levar vantagem em tudo? Não adianta pensar em modificar governos, quando o cidadão não modifica suas atitudes diárias. O reflexo no espelho será sempre fiel ao monstro que se posiciona na frente dele. Ame a cultura, aprimore o “ser”, estude a memória da Sétima Arte, leia os grandes pensadores, acaricie sua mente com a mesma dedicação que o faz pagar altas somas nas academias de ginástica. O corpo se esvai rápido, o conhecimento se mantém e pode ser transmitido, eternizando-se em seus filhos, seus netos, seus amigos. Aprendi isso com o cinema.

Nota da Conti outra: o texto acima foi publicado com a autorização do autor.

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O Poderoso Chefão (1972)

Octavio Caruso contioutra.com - A forma como o brasileiro vê cinema e política, por Octavio Caruso

Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br”, além de uma coluna social no site da jornalista Anna Ramalho, do JB. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.

Blog: Devo tudo ao cinema / Octavio Caruso no Facebook

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O Caminho para a Distância, a primeira obra publicada de Vinicius de Moraes

O Caminho para a Distância, a primeira obra publicada de Vinicius de Moraes

Por Alan Lima

Publicado pela Schmidt Editora no ano de 1933, O Caminho para a Distância é a primeira obra do Poetinha.  Aqui os poemas do jovem Vinicius giram em torno de suas influências intelectuais iniciais. Os versos indicam a alma do poeta no encontro com seus dramas.  Ainda de maneira tímida, porém de fina qualidade, surgia um dos maiores nomes da poesia brasileira pelo mundo.

O poema Rua da Amargura se destaca no livro, pela trama desenvolvida envolvendo os moradores e uma rua marcada por uma climática tensa.

Rua da Amargura

Vinicius de Moraes

A minha rua é longa e silenciosa como um caminho que foge

E tem casas baixas que ficam me espiando de noite

Quando a minha angústia passa olhando o alto.

A minha rua tem avenidas escuras e feias

De onde saem papéis velhos correndo com medo do vento

E gemidos de pessoas que estão eternamente à morte.

A minha rua tem gatos que não fogem e cães que não ladram

Tem árvores grandes que tremem na noite silente

Fugindo as grandes sombras dos pés aterrados

. A minha rua é soturna…

Na capela da igreja há sempre uma voz que murmura louvemos

Sozinha e prostrada diante da imagem

Sem medo das costas que a vaga penumbra apunhala.

A minha rua tem um lampião apagado

Na frente da casa onde a filha matou o pai

Porque não queria ser dele.

No escuro da casa só brilha uma chapa gritando quarenta.

 

A minha rua é a expiação de grandes pecados

De homens ferozes perdendo meninas pequenas

De meninas pequenas levando ventres inchados

De ventres inchados que vão perder meninas pequenas.

É a rua da gata louca que mia buscando os filhinhos nas portas das casas

 

É a impossibilidade de fuga diante da vida

É o pecado e a desolação do pecado

É a aceitação da tragédia e a indiferença ao degredo

Como negação do aniquilamento.

 

É uma rua como tantas outras

Com o mesmo ar feliz de dia e o mesmo desencontro de noite.

É a rua por onde eu passo a minha angústia

Ouvindo os ruídos subterrâneos como ecos de prazeres inacabados.

É a longa rua que me leva ao horror do meu quarto

Pelo desejo de fugir à sua murmuração tenebrosa

Que me leva à solidão gelada do meu quarto…

 

Rua da Amargura…

Será que seu filho precisa mesmo ser tão feliz?

Será que seu filho precisa mesmo ser tão feliz?
Por Cris Leão
Blog de origem:  Antes que eles cresçam

No meu tempo de criança, os pais eram pessoas esforçadas pelo sustento da família. Com ostentação ou sem, as pessoas eram mais preocupadas com o trabalho do que com ser feliz. Talvez por isso, já que filhos querem sempre fazer tudo diferente dos pais, agora todo mundo quer fazer o filho feliz, acima de tudo. Isso explica os valores escandalosos que se paga hoje em dia por uma festa de aniversário, a quantidade de brinquedos que as crianças têm e o número enorme de brasileiros indo para a Disney, às vezes para passar o final de semana. Claro que existe a culpa de muitos pais que trabalham demais e tentam compensar os filhos de alguma forma. Mas reflexo da culpa ou não, as crianças de agora nasceram para ser felizes. Será que está certo isso?

Vamos lembrar da nossa infância. Eu pelo menos, era muito feliz. Brincando com minha amiga que morava na casa ao lado, passávamos horas penteando o cabelo uma da outra, ou fazendo comidinha com as plantas do jardim. A maior aventura de que me recordo era brincar de pega-pega com o meu cachorro. Muito básico para você? Acontece que meu cachorro se transformava em uma onça que na verdade era uma Medusa, então em um simples olhar, ele poderia nos transformar em pedras. Por isso estávamos sempre equipadas com frascos vazios de shampoo cheios de água que explodiam como granadas quando caiam no chão. Pois é, criança vem com imaginação de berço. Por isso não precisa ir até Orlando ver os espetáculos de fogos de artifício para ficar maravilhada. Aliás, cá entre nós, já estive na Disney 3 vezes (2 em Orlando e 1 em Paris) e nunca vi tanta criança triste em um parque. Chorando, cansadas, angustiadas, com as mães e os familiares estressados. Claro, já viu o tamanho do lugar? E a quantidade de informação? E de sorrisos maquiados, brilhos, alegria explosiva? Gente, somos humanos. Isso não é um filme. É vida real. Não somos super heróis, nem princesas. Seu filho vai comer aquela salsicha processada junto com aquele pão velho de uma lanchonete linda com várias coisas girando, e pode ser que passe mal. E ai? Não! Não pode passar mal na Disney. Tem que curtir. Tem que ser feliz.

Eu trabalhei para a Disney traduzindo todos os materiais para português durante 4 anos. Sou encantada com a empresa e com o negócio em si, gosto de ir porque moro a 300 quilômetros de distância, temos o passe anual então é um programa barato em um lugar super organizado e bonito na maioria das vezes. Só estou usando de exemplo porque sei que é uma viagem muito cara para se fazer do Brasil mas isso não está impedindo cada vez mais brasileiros de fazerem. Minha pergunta usando este exemplo é: será que precisamos fazer tanto pelos nossos filhos? (Viagem de 8 horas de avião, filas intermináveis, kilômetros e mais kilômetros de parque de diversão) Eu suponho que não. E que está errado os pais sentirem que são responsáveis por fazer dos filhos, pessoas felizes. De onde tiramos essa ideia maluca?

O que eles precisam na verdade é de adultos para educá-los. E como adultos é claro que estamos ocupados. Com a família, com o trabalho, com as funções da casa. Se nessa lista se somar “a felicidade do(s) meu(s) filho(s)” alguém vai ficar muito sobrecarregado e frustado. Talvez seu filho, talvez você, talvez todo mundo. É chato tentar e não conseguir. Já pensou como sente os pais que pagaram a viagem em 6 vezes, passaram 8 horas na lata de sardinha, mais 1 hora em um brinquedo se o filho sair do brinquedo chorando?

Uma vez eu li o livro Encantador de Cães e fiquei fascinada com o raciocínio simples que o genial Cesar Millan escreve ali. Ele diz que cães só vão obedecer quem eles respeitam. E para ganhar respeito, é preciso ser a autoridade, é preciso colocar ordem antes do amor. Agora tente trocar a palavra “cães” por “filhos”, dá no mesmo. Autoridade é o contrário de democracia. Os pais não podem estar sempre abertos “o que querem comer, o que vamos fazer hoje, onde vamos passar as férias”. Entende como é complicado para a criança ouvir isso? Sentir que não existe uma ordem. Ela no auge dos seus 4 anos (ou por volta disso) é que precisa saber, querer e lidar com seus desejos. Meu Deus, está tudo errado ai. No meu tempo de criança, minha mãe interrompia a brincadeira trazendo uma bandeja com uma limonada fresca e biscoitos Maria. Sempre que lembro dessa cena (que aconteceu várias vezes) ela aparece iluminada como uma fada. O que eu sentia era: Nossa, ela é mágica! Como ela sabe que estamos com fome e com sede? Teria sido bem diferente se ela tivesse aparecido e perguntado: querem lanchar? vão querer sorvete ou pode ser biscoito mesmo? Estava pensando em fazer uma limonada, vocês vão beber? Ou é melhor eu trazer um suco de uva?

Infelizmente não estou escrevendo isso porque já aprendi a lição depois de ler o livro. Estou tentando aprender. E só estou escrevendo sobre isso porque descobri que tenho errado bastante. Desde que nos mudamos para Miami, fico com pena e compaixão por qualquer expressão de sofrimento que meus filhos tenham. Porque sei que é difícil para eles. E até esqueço que é difícil também para mim. Minha vida mudou completamente. Mas nem lembro disso. Só penso neles. A consequência? Minha filha de 4 anos cada dia faz uma coisa para me irritar. E então percebi que ela está fazendo isso porque eu estou irritando ela. E porque? Porque estou aberta todos os dias para ouvir, para entender o lado dela. Não parece errado à princípio, certo? Mas está errado. Criança precisa de adulto, alguém que tenha um norte, e ela acompanha o caminho, se frustando, entendendo seus limites e entendendo, porque não, que a vida não é um parque de diversões cheio de pessoas fantasiadas sorrindo para você o dia todo. A vida é para evoluir. Vamos tentar evoluir como pais antes que eles cresçam. Já pensou como deve ser frustante a adolescência de uma criança que sempre teve uma, duas, ou mais pessoas prontas a atender seus pedidos? Como deve ser difícil perder para um adulto que passou a infância sempre ganhando? Nem que a custa de 12 sofridas prestações para os pais?

Educar dá mais trabalho do que servir o sorvete antes do jantar, já que seu filho está querendo tanto. Educar envolve mais compromisso do que pagar as 6 parcelas da viagem mágica. Educar é coisa de gente grande. Deve ser por isso que crianças não podem ter filhos. Porque filhos precisam de adultos. Parece que esse é o grande problema da minha geração, não queremos ser adultos. Outro dia vi um post sobre a crise dos 25 anos. Levei o maior susto! A maioria das pessoas que conheço estão nessa crise aos 35 (ou mais). Está na hora de dar esse passo. Parar de focar só na diversão e na felicidade e evoluir, amadurecer. Todo grande passo na vida acontece quando a gente faz aquilo que é desconfortável. Já aprendemos muito sobre diversão e entretenimento, que tal agora aprender a viver?

Saiba como Orhan Pamuk, Nobel de Literatura em 2006, descreve seu encontro com a literatura.

Saiba como Orhan Pamuk, Nobel de Literatura em 2006, descreve seu encontro com a literatura.
Orhan Pamuk, escritor turco e Prêmio Nobel de Literatura em 2006, relembra sua trajetória de vida e reflete sobre o momento em que percebe que não poderia ser um típico homem de negócios.
Filho de uma família de engenheiros, Pamuk desperta para si mesmo como alguém que “precisa ficar sozinho em uma sala sonhando”. Conferencista do Fronteiras do Pensamento 2011.

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Para Carl Sagan, nosso planeta de vaidades é apenas um “pálido ponto azul”

Para Carl Sagan, nosso planeta de vaidades é apenas um “pálido ponto azul”

A imagem, mostrada no vídeo, foi enviada à Terra pela sonda Voyager 1, em 1990. Devido a essa foto, o escritor norte-americano Carl Sagan criou o livro “Pálido Ponto Azul” em 1994. Vale a pena ver, um tributo ao eterno Carl Sagan e uma conscientização onde nós estamos:

“A espaçonave estava bem longe de casa. Eu pensei que seria uma boa idéia, logo depois de Saturno, fazer ela dar uma ultima olhada em direção de casa.

De saturno, a Terra apareceria muito pequena para a Voyager apanhar qualquer detalhe, nosso planeta seria apenas um ponto de luz, um “pixel” solitário, dificilmente distinguível de muitos outros pontos de luz que a Voyager avistaria: Planetas vizinhos, sóis distantes. Mas justamente por causa dessa imprecisão de nosso mundo assim revelado valeria a pena ter tal fotografia.

Já havia sido bem entendido por cientistas e filósofos da antiguidade clássica, que a Terra era um mero ponto de luz em um vasto cosmos circundante, mas ninguém jamais a tinha visto assim. Aqui estava nossa primeira chance, e talvez a nossa última nas próximas décadas.

Então, aqui está – um mosaico quadriculado estendido em cima dos planetas, e um fundo pontilhado de estrelas distantes. Por causa do reflexo da luz do sol na espaçonave, a Terra parece estar apoiada em um raio de sol. Como se houvesse alguma importância especial para esse pequeno mundo, mas é apenas um acidente de geometria e ótica. Não há nenhum sinal de humanos nessa foto. Nem nossas modificações da superfície da Terra, nem nossas maquinas, nem nós mesmos. Desse ponto de vista, nossa obsessão com nacionalismo não aparece em evidencia. Nós somos muito pequenos. Na escala dos mundos, humanos são irrelevantes, uma fina película de vida num obscuro e solitário torrão de rocha e metal.

Considere novamente esse ponto. É aqui. É nosso lar. Somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos de quem você já ouviu falar, todo ser humano que já existiu, viveram suas vidas. A totalidade de nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e saqueador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e plebeu, cada casal apaixonado, cada mãe e pai, cada crianças esperançosas, inventores e exploradores, cada educador, cada político corrupto, cada “superstar”, cada “lidere supremo”, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali, em um grão de poeira suspenso em um raio de sol.

A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pense nas infindáveis crueldades infringidas pelos habitantes de um canto desse pixel, nos quase imperceptíveis habitantes de um outro canto, o quão frequentemente seus mal-entendidos, o quanto sua ânsia por se matarem, e o quão fervorosamente eles se odeiam. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, em sua gloria e triunfo, eles pudessem se tornar os mestres momentâneos de uma fração de um ponto. Nossas atitudes, nossa imaginaria auto-importancia, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, é desafiada por esse pálido ponto de luz.

Nosso planeta é um espécime solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda essa vastidão, não ha nenhum indicio que ajuda possa vir de outro lugar para nos salvar de nos mesmos. A Terra é o único mundo conhecido até agora que sustenta vida. Não ha lugar nenhum, pelo menos no futuro próximo, no qual nossa espécie possa migrar. Visitar, talvez, se estabelecer, ainda não. Goste ou não, por enquanto, a terra é onde estamos estabelecidos.

Foi dito que a astronomia é uma experiência que traz humildade e constrói o caráter. Talvez, não haja melhor demonstração das tolices e vaidades humanas que essa imagem distante do nosso pequeno mundo. Ela enfatiza nossa responsabilidade de tratarmos melhor uns aos outros, e de preservar e estimar o único lar que nós conhecemos… o pálido ponto azul.” Por Carl Sagan.

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OU AMOR OU PAZ OU FELICIDADE, por Fabrício Carpinejar

OU AMOR OU PAZ OU FELICIDADE, por Fabrício Carpinejar

Há sempre uma confusão entre amor, felicidade e paz, como se fossem sinônimos.

Um equívoco é achar que no amor terá paz e felicidade. Ou na paz terá felicidade e amor. Ou na felicidade terá paz e amor.

Esqueça a mania de combos e pacotes.

Eu vejo que são ideais que não estão interligados. Há um contingente treinado para o amor, uma parte para a paz e ainda mais um grupo feito para a felicidade.

A opção surge de condicionamentos, costumes e crenças ao longo da vida, às vezes inconscientes.

Certo é que escolheu um partido sentimental na adolescência, que definirá a natureza de seus relacionamentos dali por diante.

Pode ser a separação dos pais que gera uma obsessão pelo amor ou um temperamento arisco que propicia um apreço pela paz ou a troca constante de residência que cria uma simpatia pela felicidade (improvisar e se aventurar, sem prestar contas).

São fórmulas diferentes de existência, softwares de alma diferentes.

O que provoca o maior confronto no casamento ou namoro.

O casal pode ser formado por aquele que mantém o ideal do amor e aquele que deseja a paz. E eles não percebem o conflito desde a nascente e o desgaste penoso de comunicação.

Enquanto ela – filiada ao amor – não tem nenhum problema em se entregar, em ser dependente, em estar perto e realizar planos conjuntos, ele – ligado à paz – somente aspira à tranquilidade, garantir seu espaço e proteger seus gostos individuais.

A primeira reparte seus mínimos acontecimentos, arruma surpresas e inventa agenda romântica, o segundo é mais quieto e lacônico, pretende permanecer mais na sua rotina, e não entende a costumeira insistência de mais e mais encontros. Por sua vez, a primeira também não compreende a frieza de seu namorado, que prefere se manter distante alguns dias e horários.

Não participam da mesma conversa e entram em choque. Um não é melhor do que o outro, apenas não captaram a essência antagônica.

Presos a um consenso de que se gostam, não identificam os objetivos divergentes. Estão ligados pela convivência, mas separados conceitualmente.

Os ideais de vida são opostos, fazendo com que ambos briguem com frequencia e tenham a sensação de que amam errado (jamais agradando ao seu par).

As vontades, absolutamente naturais e soberanas, em contato com a companhia, assumem contornos problemáticos de exigências.

Quando as reclamações são por mais tempo lado a lado, a pessoa é do time do amor. Quando as reclamações orbitam pelo respeito e maior espaço, a pessoa claramente está vinculada ao time da paz. Quando as reclamações decorrem por mais leveza e menos drama, a pessoa pertence ao time da felicidade.

Um exemplo é quando sua namorada adoece no domingo. Quem é da ala do amor, mesmo que tenha acordado alegre e disposto a passear, vai se solidarizar a ponto de não pensar em mais nada. O abatimento dela influenciará o seu temperamento. Mudará suas pretensões para amparar, confortar e cuidar. Quem é da ala da paz, seguirá com seus planos, o incidente não alterará seu humor, acredita que ela melhorará e se mostrará atento em caso de alguma necessidade. Quem é da ala da felicidade, ainda se sentirá ofendido pelo transtorno, já que ela estará estragando sua possibilidade de aproveitar o final de semana.

Sorte é de quem é do amor e encontra alguém do amor, é da paz e encontra alguém da paz, é da felicidade e encontra alguém da felicidade. Daí, com menos esforço, amor, paz e felicidade são capazes de vir juntos.

Fabrício Carpinejar

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As esculturas surrealistas do artista francês Antoine Jossé

As esculturas surrealistas do artista francês Antoine Jossé

“A arte é para mim um prolongamento da vida; Os artistas são as testemunhas de seu tempo, que eles traduzem através de sua sensibilidade e prática. ” Antoine Jossé

Antoine Jossé é um pintor e escultor surrealista francês.

Antoine Jossé no Facebook

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Uma Arte, poema de Elizabeth Bishop citado no filme “Para sempre Alice”

Uma Arte, poema de Elizabeth Bishop citado no filme “Para sempre Alice”

Num dos momentos mais emocionantes em Still Alice (Para Sempre Alice)*, a protagonista, Dra. Alice Howland, interpretada pela atriz Julianne Moore, faz um discurso contando que está com Alzheimer e cita Uma Arte, poema de de Elizabeth Bishop.

Elizabeth Bishop, Uma Arte

tradução Jorge Pontual

A arte da perda é fácil ter;
por tanta coisa cheia de intenção
de ser perdida não dá pra sofrer.

Perca algo todo dia. Perder
chaves aceite, junto com a aflição.
A arte da perda é fácil ter.

Treine perder muito sem se deter:
lugares e nomes, a comichão
de viajar. Nada fará sofrer.

Perdi jóias da mamãe. E dizer
que perdi casas que amei de paixão!
A arte da perda é fácil ter.

Perdi duas cidades. E o prazer
de um continente na palma da mão.
Sinto falta mas não dá pra sofrer.

– Até perder você (a voz, o ser
que eu amo). Não devia mentir. Não,
a arte da perda se pode ter
embora pareça (diga!) sofrer.

***

Sobre o filme:

Para sempre Alice- Sinopse

A Dra. Alice Howland (Julianne Moore) é uma renomada professora de linguística. Aos poucos, ela começa a esquecer certas palavras e se perder pelas ruas de Manhattan. Ela é diagnosticada com Alzheimer. A doença coloca em prova a a força de sua família. Enquanto a relação de Alice com o marido, John (Alec Baldwinse), fragiliza, ela e a filha Lydia  (Kristen Stewart) se aproximam.

Para Sempre Alice – Trailer Legendado

Veja também nossos outros arquivos sobre Alzheimer.

Indicação da matéria Luiz G. Fragoso

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Cinco músicas que são poemas ou cinco poemas que são músicas

Cinco músicas que são poemas ou cinco poemas que são músicas

Por Alan Lima

Alguns ouvintes mais exigentes reclamam que aos ouvidos de hoje, chegam músicas de letras ruins. Embora seja difícil mensurar a canção ruim, dada a variedade do gosto humano. Certo é. Tem canção que aguça de tanta poesia e estas cinco são algumas delas. É possível que você leia algumas cantando, de tão forte a associação com a melodia. Tendo ou não a presença dos acordes, elas revelam conteúdo bem trabalhado, ora simples, ora complexo,  mas sempre relevante.

Músicas que merecem uma observação atenta aos versos e a harmonia de palavras, textos que explicam desde o universo dos Livros até o valor do Lencinho Branco, aquele objeto guardado de uma história de amor e traição.

Livros, Caetano Veloso.

Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura

Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou – o que é muito pior – por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:
Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras

Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas

Envergo mas não quebro, Lenine.

Se por acaso pareço
Que agora já não padeço
De um mau pedaço na vida

Saiba que minha alegria
Como é normal, todavia
Com a dor é dividida

Eu sofro igual todo mundo
Eu apenas não me afundo
Em sofrimento infindo

Eu posso até ir ao fundo
De um poço de dor profundo
Mas volto depois sorrindo

Em tempos de tempestades
Diversas adversidades
Eu me equilibro, e requebro

É que eu sou tal qual a vara
Bamba de bambu-taquara
Eu envergo mas não quebro

Eu envergo mas não quebro

Não é só felicidade
Que tem fim na realidade
A tristeza também tem

Tudo acaba, se inicia
Temporal e calmaria
Noite e dia vai e vem

Quando é má a maré
E quando já não dá pé
Não me revolto ou nem queixo

E tal qual um barco solto
Salvo do alto mar revolto
Volto firme pro meu eixo

E em noite assim como esta
Eu cantando numa festa
Ergo o meu copo e celebro

Os bons momentos da vida
E nos maus tempos da lida
Eu envergo mas não quebro

Eu envergo mas não quebro

O Velho Francisco, Chico Buarque.

Já gozei de boa vida
Tinha até meu bangalô
Cobertor, comida
Roupa lavada
Vida veio e me levou

Fui eu mesmo alforriado
Pela mão do Imperador
Tive terra, arado
Cavalo e brida
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco
Vem todo domingo
Tem cheiro de flor

Quem me vê, vê nem bagaço
Do que viu quem me enfrentou
Campeão do mundo
Em queda de braço
Vida veio e me levou

Li jornal, bula e prefácio
Que aprendi sem professor
Freqüentei palácio
Sem fazer feio
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco
Vem todo domingo
Tem cheiro de flor

Eu gerei dezoito filhas
Me tornei navegador
Vice-rei das ilhas
Da Caraíba
Vida veio e me levou

Fechei negócio da China
Desbravei o interior
Possuí mina
De prata, jazida
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Hoje não deram almoço, né
Acho que o moço até
Nem me lavou

Acho que fui deputado
Acho que tudo acabou
Quase que
Já não me lembro de nada
Vida veio e me levou

Socorro, Arnaldo Antunes

Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me empreste suas penas
Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva
Socorro, alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento
Acostamento
Encruzilhada
Socorro, eu já não sinto nada
Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Nem vontade de chorar
Nem de rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me empreste suas penas
Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta,
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva

Lencinho Branco, Marisa Monte

Guardo o lencinho branco
Que esqueceste ao me abandonar
Manchado assim pelo carmim que
Tirei dos meus lábios quando te beijei

Guardei teu lencinho, para me lembrar
O beijo que nele deixamos ficar
E ao ver os meus lábios
Choro a recordar
Que depois partiste pra não mais voltar

Guardo o lencinho branco
Que esqueceste ao me abandonar
Manchado assim pelo carmim que
Tirei dos meus lábios quando te beijei

Lenço branco que ilusão
Foi aquele louco amor
Tudo agora é solidão, ele já não volta mais

Meu lenço amigo, comigo ficou
Fiel companheiro, não me abandonou
Lencinho querido, que hei de fazer
Se aquele amor não posso esquecer?

A tarde estava fria
Frio também ficou seu coração
E ao compreender que ele partia
No branco lencinho
Chorei sua traição

Escutar é complicado e sutil: Rubem Alves e a escutatória

Escutar é complicado e sutil: Rubem Alves e a escutatória

O primeiro parágrafo do texto “Escutatória” de Rubem Alves é bastante conhecido por ter sido amplamente divulgado nas redes sociais. Entretanto, o conteúdo que segue complementado a linha de raciocínio do autor carrega em si a beleza da arte de observar e de verdadeiramente ouvir ao outro. Preparem-se para a leitura de um texto de extrema delicadeza e sensibilidade. E, se esse texto causar algo dentro de vocês, não é necessário dizer nada, o silêncio será a melhor resposta.

Josie Conti

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ESCUTATÓRIA

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar, ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil.

Diz Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”.

Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro:

“Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”.

Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos…

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.

(Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, […]. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as ideias estranhas.).

Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.

Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais.

São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.

Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades.

Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado”.

Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou”.

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou”. E assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.

E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

Rubem Alves

 

As fobias são, precisamente, maneiras de se proteger contra a angústia.

As fobias são, precisamente, maneiras de se proteger contra a angústia.

Vocês já se questionaram qual o motivo de alguns transtornos mentais serem mais presentes em algumas épocas que em outros? O que acontece quando não lidamos com determinadas situações que nos fazem sofrer? Existem maneiras de simplesmente ignorar e não entrar em contado com o que nos angustia?

No texto abaixo, a psicóloga e psicanalista Mariana Anconi discorre sobre algumas das patologias do medo que assolam a contemporaneidade: as fobias. Fala também sobre a maneira como as mesmas podem ser abordadas de maneira apenas parcial em tratamentos que se restringem a farmacologia e de como, através do processo psicanalítico, é possível percorrer o caminho que  permite a transição do estado de angústia para o contato e compreensão do desejo original.

Façam uma boa leitura

Josie Conti

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Sofrimento, ansiedade e angústia: Questões importantes, dilemas atuais

Por Mariana Anconi

A questão das (psico)patologias na contemporaneidade envolve aspectos muito mais complexos que a própria subjetividade humana em si, neste caso, abrange sintomas produzidos socialmente, condizentes com dilemas atuais vividos na sociedade, principalmente relacionados ao corpo e imagem. As subjetividades contemporâneas caracterizam-se pelo apagamento da alteridade, reduzindo o homem à dimensão da imagem.

As formas de padecimento não são inéditas, mas integram e denotam ideais predominantes na contemporaneidade: a exaltação sem medida de si mesmo e da existência como imagem estética. No consultório, é cada vez mais frequente queixas de pacientes relacionadas a dificuldade em atender os padrões exigidos/impostos na sociedade, tendo como efeito crises de ansiedade e/ou angústia, em outros casos, desencadeando a sintomatologia do pânico, por exemplo, considerada uma das expressões do mal estar na atualidade.

Deve-se considerar a estreita relação da angústia com as fobias. Nelas, o sujeito tenta de todas as formas se livrar da angústia ligando-a a uma situação ou objeto específico que passa a ser evitado sempre que possível. As fobias são, precisamente, maneiras de se proteger contra a angústia. Parece algo contraditório, mas para o psiquismo é melhor temer algo que se sabe (medo de altura, por exemplo), para poder evitá-lo, do que não saber e não poder se defender.

O ponto chave dessa questão é: A angústia indica uma forma de medo generalizado, sem um objeto específico, sem nome, indefinido. Assim, desenvolvendo uma fobia, o medo torna-se localizável e é possível ao sujeito tentar evitá-lo afastando-se do objeto temido. Na clínica: pacientes nos procuram angustiados, mas não sabem por qual motivo, não fazem ideia do que os angustia. Quando têm ataques de pânico, não sabem porque motivo ficam assim ou o que desencadeia a crise.

Antes de priorizarmos a importância do trabalho da escuta analítica, há de se cautela para algumas vertentes “biologizantes” do discurso psiquiátrico que não reconhecem essas patologias para dotá-las de uma escuta do sujeito – muito ao contrário, com o apoio crescente da indústria psicofarmacológica – trata-se de tentar apagá-las, ignorando o fato de que a angústia é parte daquilo que faz o homem propriamente humano.

Não se trata aqui de uma crítica a psiquiatria em geral, pois é inegável o benefício dos medicamentos na vida destes pacientes, na medida em que amenizam os sintomas que chegam a ser terríveis, desesperadores e por vezes incapacitantes, como uma pessoa quando não consegue sair de casa para trabalhar por medo; mas é fundamental que o paciente não deposite apenas no remédio a reorganização de sua vida, pois a medicação em si apaga o sintoma, mas não promove transformação do sujeito.

No campo da escuta analítica, a psicanálise é a única que não evita a angústia, ela possibilita ao sujeito uma escuta que tem por efeito dar-lhe a chance de suportar sua angústia para, então, atravessá-la e chegar ao desejo. O atravessamento é diferente do evitamento, ele se dá no processo analítico, o paciente passa a se implicar no seu sofrimento, a se questionar sobre o que acontece com ele, a falar, a procurar dar sentido, a partir da sua história, ao que parece não ter sentido. Procura-se criar com o paciente condições para que ele possa subjetivar a condição de desamparo.

Nota da Conti outra: o texto acima foi publicado com a autorização da autora.

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Mariana Anconi

Psicóloga/Psicanalista (CRP 06/105685) e Acompanhante Terapêutica. Especialista em Psicopatologia e Saúde Pública (FSP-USP). Mestranda do Instituto do Psicologia da USP (IP-USP). Pesquisadora em intervenção precoce com bebês (Metodologia IRDI). Atende em consultório na cidade de São Paulo e desenvolve trabalho de consultoria em escolas e creches.

Contato: (11) 98400-7849/ [email protected]/ www.marianaanconi.com

Entenda mais sobre as três fases da doença de Alzheimer

Entenda mais sobre as três fases da doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é tipicamente descrita em 3 fases, principalmente para uma melhor compreensão didática do tema.

A ilustração baixo apresenta um resumo da evolução da doença.

Entenda mais sobre ela e compartilhe com pessoas que possam aproveitar o material.

Você também pode acessar nossos arquivos sobre Alzheimer e pesquisar mais sobre o tema.

contioutra.com - Entenda mais sobre as três fases da doença de Alzheimer

(Imagem via Neurociências e aprendizagem)

contioutra.com - Entenda mais sobre as três fases da doença de Alzheimer

Ética no cotidiano, com Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho

Ética no cotidiano, com Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho

Se antes a ética era um campo de conhecimento de estudiosos e especialistas, como filósofos, médicos e advogados, atualmente esta palavra entrou no vocabulário do nosso cotidiano e invadiu os noticiários. Será que as coisas que nos levam à indignação como a corrupção e a violência são mais frequentes nos dias atuais? Ou: elas sempre existiram e nós é que ficamos mais exigentes em relação a boas regras de conduta para uma convivência em sociedade? O significado de ética sempre foi o mesmo ao longo da história? Ela é um conceito universal? Afinal, o que é ética? Estas questões são discutidas pelos filósofos Clóvis de Barros Filho e Mario Sergio Cortella neste café filosófico. Gravado em 29 de maio de 2014.

ética no cotidiano, com mario sergio cortella e clóvis de barros filho from instituto cpfl | cultura on Vimeo.

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