O “May be man”, por Mia Couto

O “May be man”, por Mia Couto

Por Mia Couto

Existe o “Yes man”. Todos sabem quem é e o mal que causa. Mas existe o May be man. E poucos sabem quem é. Menos ainda sabem o impacto desta espécie na vida nacional. Apresento aqui essa criatura que todos, no final, reconhecerão como familiar.

O May be man vive do “talvez”. Em português, dever-se-ia chamar de “talvezeiro”. Devia tomar decisões. Não toma. Simplesmente, toma indecisões. A decisão é um risco. E obriga a agir. Um “talvez” não tem implicação nenhuma, é um híbrido entre o nada e o vazio.

A diferença entre o Yes man e o May be man não está apenas no “yes”. É que o “may be” é, ao mesmo tempo, um “may be not”. Enquanto o Yes man aposta na bajulação de um chefe, o May be man não aposta em nada nem em ninguém. Enquanto o primeiro suja a língua numa bota, o outro engraxa tudo que seja bota superior.

Sem chegar a ser chave para nada, o May be man ocupa lugares chave no Estado. Foi-lhe dito para ser do partido. Ele aceitou por conveniência. Mas o May be man não é exactamente do partido no Poder. O seu partido é o Poder. Assim, ele veste e despe cores políticas conforme as marés. Porque o que ele é não vem da alma. Vem da aparência. A mesma mão que hoje levanta uma bandeira, levantará outra amanhã. E venderá as duas bandeiras, depois de amanhã. Afinal, a sua ideologia tem um só nome: o negócio. Como não tem muito para negociar, como já se vendeu terra e ar, ele vende-se a si mesmo. E vende-se em parcelas. Cada parcela chama-se “comissão”. Há quem lhe chame de “luvas”. Os mais pequenos chamam-lhe de “gasosa”. Vivemos uma nação muito gaseificada.

Governar não é, como muitos pensam, tomar conta dos interesses de uma nação. Governar é, para o May be Man, uma oportunidade de negócios. De “business”, como convém hoje dizer. Curiosamente, o “talvezeiro” é um veemente crítico da corrupção. Mas apenas, quando beneficia outros. A que lhe cai no colo é legítima, patriótica e enquadra-se no combate contra a pobreza.

Afinal, o May be man é mais cauteloso que o andar do camaleão: aguarda pela opinião do chefe, mais ainda pela opinião do chefe do chefe. Sem luz verde vinda dos céus, não há luz nem verde para ninguém.

O May be man entendeu mal a máxima cristã de “amar o próximo”. Porque ele ama o seguinte. Isto é, ama o governo e o governante que vêm a seguir. Na senda de comércio de oportunidades, ele já vendeu a mesma oportunidade ao sul-africano. Depois, vendeu-a ao português, ao indiano. E está agora a vender ao chinês, que ele imagina ser o “próximo”. É por isso que, para a lógica do “talvezeiro” é trágico que surjam decisões. Porque elas matam o terreno do eterno adiamento onde prospera o nosso indecidido personagem.

O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recente: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada. Numa palavra, o May be man actua como polícia de trânsito corrupto: em nome da lei, assalta o cidadão.

Eis a sua filosofia: a melhor maneira de fazer política é estar fora da política. Melhor ainda: é ser político sem política nenhuma. Nessa fluidez se afirma a sua competência: ele sai dos princípios, esquece o que disse ontem, rasga o juramento do passado. E a lei e o plano servem, quando confirmam os seus interesses. E os do chefe. E, à cautela, os do chefe do chefe.

O May be man aprendeu a prudência de não dizer nada, não pensar nada e, sobretudo, não contrariar os poderosos. Agradar ao dirigente: esse é o principal currículo. Afinal, o May be man não tem ideia sobre nada: ele pensa com a cabeça do chefe, fala por via do discurso do chefe. E assim o nosso amigo se acha apto para tudo. Podem nomeá-lo para qualquer área: agricultura, pescas, exército, saúde. Ele está à vontade em tudo, com esse conforto que apenas a ignorância absoluta pode conferir.

Apresentei, sem necessidade o May be man. Porque todos já sabíamos quem era. O nosso Estado está cheio deles, do topo à base. Podíamos falar de uma elevada densidade humana. Na realidade, porém, essa densidade não existe. Porque dentro do May be man não há ninguém. O que significa que estamos pagando salários a fantasmas. Uma fortuna bem real paga mensalmente a fantasmas. Nenhum país, mesmo rico, deitaria assim tanto dinheiro para o vazio.

O May be Man é utilíssimo no país do talvez e na economia do faz-de-conta. Para um país a sério não serve.

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O elemento inspiracional em Patch Adams, Octavio Caruso

O elemento inspiracional em Patch Adams, Octavio Caruso

Por Octavio Caruso

Que tem a morte de errado?

Por que temos esse medo mortal?

Por que não tratamos a morte com humanidade, dignidade, decência e até com humor?

A morte não é o inimigo.

Se quiserem enfrentar um mal, enfrentem o mal da indiferença.

“Patch Adams – O Amor é Contagioso” (Patch Adams – 1998), dirigido por Tom Shadyac, que havia sido responsável pelas ótimas comédias “O Mentiroso” e “Ace Ventura”. Não é um ótimo filme, longe disso, o próprio homenageado despreza a obra, tampouco a atuação de Robin Williams é acima da média, mas a mensagem que o roteiro de Steve Oedekerk transmite foi muito importante em minha formação. Eu tinha por volta de quatorze anos quando assisti pela primeira vez, estava sofrendo o momento mais tenso do bullying na escola diariamente, buscando motivos para continuar acreditando que valia a pena seguir em frente. Eu era apenas o rato de biblioteca e sebo, aquele esquisito magricela, com óculos maiores que o rosto, que tirava boas notas e passava tardes inteiras na seção de clássicos das locadoras de vídeo. Eu sonhava em encontrar na sala de aula uma menina como a namorada do personagem, vivida pela bela Monica Potter, que enxergasse em meus papos sobre cinema e literatura algum elemento interessante ou encantador. Não tive sorte, as garotas gostavam mesmo era dos meus colegas amantes do futebol na hora do recreio.

Nas aulas de redação eu extravasava minhas angústias, enquanto todos os colegas se focavam nos simplórios temas pedidos pela professora, o clássico “João foi pra escola com Maria…”, escrevendo o mínimo de linhas requisitado no exercício, eu desafiava a professora aprofundando os temas, normalmente criando enredos de fantasia ou suspense com vários personagens, praticamente contos, sempre excedendo as linhas e deixando minha imaginação voar pela página de trás em branco. O que me interessava não era a nota, mas o pequeno texto que a professora escreveria ao lado da nota, com sua sincera opinião sobre ele. Eu, inconscientemente, exercitava aquilo que amo fazer até hoje. E, dentre tudo que escrevi nessas redações, acho que nada foi mais repetido que os trechos do discurso final do personagem Patch Adams no filme, quando ele enfrenta o Conselho de Medicina com seus argumentos sobre o valor inestimável de se tratar o paciente, nunca tratar a doença. Isso serve para tudo na vida.

Eu me emocionava bastante quando o discurso é interrompido para a entrada do grupo de pais e filhos que tiveram a dor de suas vidas amenizadas pela terapia do riso praticada pelo personagem. A gratidão nos olhos deles, a lágrima que insinua rolar no rosto de Adams, pode ser um recurso narrativo extremamente demagógico, mas funcionava muito bem para um estudante adolescente que tentava encontrar razões para entender em sua rotina diária a violência como resposta à afabilidade. Quando Williams defendia o amor de seu personagem pela função que exercia, enfrentando uma classe que não o considerava digno de coabitar o mesmo ambiente, eu me identificava e tremia por dentro. Ele, em dado momento, recebia o olhar carinhoso de aceitação do único professor que o respeitava. Todos nós temos na vida alguém assim, que coloca a mão no fogo por nossas convicções e aposta em nossos sonhos, mesmo quando parecem ser impossíveis. Alguém como o coronel cego vivido por Al Pacino em “Perfume de Mulher”, que afirma sua confiança no futuro glorioso do jovem vivido por Chris O’Donnell. É um elemento facilmente identificável.

E o que mais me agradava no filme era constatar que, ao hilário final ambientado na cerimônia de formatura, Patch continuava sendo um rebelde. Ele não se adequou à mediocridade, mas sim a subjugou implacavelmente. Era o estímulo que eu precisava. A humilhação constante podia ferir a alma, mas não me impediria de estudar, não me impediria de sonhar. Esse é o meu trecho favorito, daquele que muitos consideram um filme medíocre, sem valor algum. Um dos aspectos mais fascinantes nessa Arte é buscar sempre o tesouro escondido onde menos se espera…

E hoje, seja qual for sua decisão, juro que vou chegar a ser o melhor médico de todo o mundo.

Vocês podem impedir minha formatura.

Podem me negar o título e a bata branca.

Mas não podem dominar meu espírito, nem evitar que eu aprenda.

Não podem me impedir de estudar.

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OCTAVIO CARUSO: colunista Conti outra

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Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br” e no portal do jornalista Sidney Rezende. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.

Blog: Devo tudo ao cinema / Octavio Caruso no Facebook

A determinação para achar o sentido da vida, Eduardo Marinho

A determinação para achar o sentido da vida, Eduardo Marinho

Eduardo Marinho, artista plástico com histórias fora do convencional, compartilhará suas perspectivas únicas e profundas da vida urbana.

Ele consegue fazer as pessoas lembrar coisas que elas sabem, mas, geralmente, esquecem.

TEDxAvCataratas

Desafio: Quantos animais você é capaz de encontrar?

Desafio: Quantos animais você é capaz de encontrar?

ByNina/ Carolina Carvalho

Essa é uma postagem para pessoas realmente determinadas e que não se intimidam com um grau de dificuldade inicial no que se propõem a fazer.

Não conseguimos localizar o número total de inclusões, entretanto, creio que podemos escrever lá nos comentários os números e até os bichos encontrados.

Aceitam o desafio?

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NOTA da CONTI outra: A reprodução deste material é uma cortesia ByNina

ByNina |Carolina Carvalhocontioutra.com - Desafio: Quantos animais você é capaz de encontrar?

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Nina tem 40 anos, é Professora de Yoga e SUP Yoga, surfista e escritora.
Trabalha com Social Media e ama tudo o que faz.

Sou mãe e pai

Sou mãe e pai

“Estou desempregada, de novo e há muito tempo, demasiado tempo.

Nunca pensei chegar a este ponto, mas não sei mais o que fazer. Parece que a vida se zangou comigo e agora faz tudo para me roubar a alegria e a esperança, que por mais que a tente segurar, me vai escapando a cada não que ouço.

Depois que o Pedro me deixou sozinha com o Tomás, sinto um mundo inteiro em cima de mim, e é pesado, muito pesado. Deixei de ser mulher para tentar ser a melhor mãe, mas sinto fracassar todos os dias.

O Tomás tem oito anos e não tem culpa dos erros dos pais. O Tomás tem oito anos e não tem culpa de ter nascido neste país. O Tomás tem oito anos e tem o direito de ser feliz. O Tomás é o meu filho e é o filho que sempre quis. Tem apenas oito anos e não sabe ele que é a força de viver de uma mulher que luta todos os dias para lhe dar uma vida melhor, que é a motivação de uma mãe para se levantar a cada rasteira que a vida lhe prega. Não sabe ele que tem sido a minha esperança e a minha luz, na noite que são os meus dias.
Abençoada ingenuidade que me tem ajudado a protegê-lo.

Tive de o tirar do futebol, não tinha como pagar a mensalidade. Deixei de poder vê-lo sorrir enquanto me acenava para a bancada depois de um golo. Deixei de ouvir os seus relatos entusiasmados das jogadas que fazia, quando regressava dos treinos. Deixei de ver a pequena camisola dez a secar no estendal e os sonhos que aquele pedaço de pano carregava. Todas estas pequenas coisas cortam-me o coração pela falta que eu sei que lhe fazem e pelo sentimento de culpa e incapacidade que me cravam na alma.

Não aguentei as lágrimas quando me perguntou: porquê, mãe? E eu não consegui responder-lhe.

Chorei só, e ele abraçou-me. Naquele momento era como se tivéssemos invertido os papéis de mãe e filho.
Nunca mais me voltou a perguntar porquê, e ficou calmo.

Sinto que no fundo ele sabia exatamente o que se passava, e aceitava-o… melhor que eu. Ele é que é o meu herói.

Mas o futebol foi apenas a primeira de muitas coisas, até que um dia o Tomás foi ao frigorífico e não havia mais os iogurtes que ele tanto gostava. E no armário, os únicos cereais que havia eram os mais baratos, e até o sumo… passou a ser apenas água com limão.

Preparava-lhe todos os dias o melhor pequeno-almoço que conseguia, colocava-lhe tudo pronto na mesa e encostava-me ao balcão a olhá-lo, só.

De vez em quando perguntava-me porque não me sentava com ele a comer, e eu dizia-lhe apenas que não tinha fome… mas não era isso. Numa dessas vezes fez uma pausa nos cereais, foi à gaveta dos talheres, entregou-me uma colher e perguntou: dividimos? Sentámo-nos os dois em silêncio, naquela manhã, enquanto não chegava a hora de ele ir para a escola, e eu só me apercebi que estava a chorar quando uma lágrima me caiu sobre a mão.

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Nota da CONTI outra: Agradecemos ao autor por autorizar a reprodução do texto “Sou mãe e pai” neste site.

O tempo dos amores líquidos

O tempo dos amores líquidos

Por Letícia Maia

A necessidade de liberdade – acompanhada do medo da liberdade do outro.

A insegurança de se entregar – acompanhada pelo desejo de total entrega do outro.

A necessidade de tranquilidade – acompanhada de uma constante expectativa em relação ao outro.

Essas são apenas algumas das diversas dualidades que as atuais relações humanas contemplam. Todos esses conflitos mentais – que em sua maioria não têm reais fundamentos – geram inquietações e decepções incessantes nos relacionamentos modernos.

“A modernidade líquida em que vivemos traz consigo uma misteriosa fragilidade dos laços humanos – um amor líquido. A insegurança inspirada por essa condição estimula desejos conflitantes de estreitar esses laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos.”, afirma o sociólogo polonês Zygmunt Bauman.

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Desapaixonar-se se tornou tão fugaz quanto apaixonar-se. Afinal, são tantas as opções que os meios tecnológicos me dispõem! Enquanto eu mantenho uma conversa com aquela pessoa no whatsapp, troco mensagens pelo facebook com outra. Espero ansiosamente por uma resposta rápida, mas caso nenhuma me corresponda, ainda tenho aquela outra pessoa com quem estou trocando SMS’s…

A superficialidade das relações humanas gerou um conjunto de laços e indivíduos “descartáveis”. Se algo não está bom: descarta! Mas o que nunca vem à nossa mente é que o caçador também pode se tonar caça. Lidar com diversas pessoas descartáveis o torna, da mesma maneira, descartável. É o que Bauman chama de “amor líquido”.

“É um amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. Na sua forma ‘líquida’, o amor tenta trocar a qualidade por quantidade – mas isso nunca pode ser feito. É o amor um espectro de eliminação imediata e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele.”.

Estas relações são reflexos da sociedade em que vivemos e não podemos anular ou ignorar este fato. Mas podemos – e devemos – passar por uma espécie de consciente introspecção e reavaliar nossos comportamentos e atitudes. Recuperar aspectos positivos de tempos passados não é necessário, mas redefinir valores hodiernos e colocá-los em prática já é um bom começo para fortalecermos possíveis vínculos sociais.

Referência: BAUMAN, Zygmunt. “Amor líquido”, Zahar; 2009.

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Nota da CONTI outra: agradecemos à Letícia Maia por nos enviar esse lindo texto e autorizar a publicação nesse local.
Letícia Maia estuda Ciências Sociais com bacharelado em Antropologia pela Universidade de Brasília.

Para Moacyr Scliar, “não podemos fabricar nossos sonhos”

Para Moacyr Scliar, “não podemos fabricar nossos sonhos”

Aqui, Moacyr Scliar, médico e escritor brasileiro, faz uma esclarecedora comparação entre o sonho e o processo criativo da escrita. Para ele, o processo da criação literária é análogo ao sonho: começa no inconsciente, mas deve ser mediado pelo consciente.

A partir dessa peculiar iluminação, a ideia é burilada pelo domínio da escrita, pelo hábito da leitura, pelo  conhecimento linguístico, dentre outros fatores, resultando, finalmente, na obra.

Para o bom escritor, não é bastante ter boas ideias.

Falsas memórias: como convencer alguém de um crime

Falsas memórias: como convencer alguém de um crime

Por Igor Leone

Um levantamento realizado nos Estados Unidos com 300 casos de presos que foram inocentados através de exames de DNA após anos na cadeia, revelou que em três quartos dos casos as acusações foram baseadas em falsas memórias dos envolvidos e falsas memórias das testemunhas oculares. Outra pesquisa publicada na Revista Psychological Science, feita com voluntários, comprovou que é possível convencer uma pessoa, ao longo de algumas horas, de que ela cometeu um crime na adolescência. Os cientistas foram capazes, inclusive, de fazer o voluntário internalizar as falsas memórias e contá-las novamente com descrições ricas de eventos que nunca ocorreram. 

Hoje em dia sabemos que é relativamente fácil gerar memórias falsas e inclusive embutir nelas a mesma complexidade de detalhes de uma memória real. A maioria de nós acredita que a memória funciona como um gravador, quando na verdade elas são constantemente construídas e reconstruídas, como uma página do Wikipedia – você pode acessar sua memória e mudar alguns fatos, mas lembre-se, outras pessoas também podem.

Estamos aprendendo que a memória é mais como um streaming em tempo real do que uma gravação de vídeo, continuamente editada por nossas percepções, imaginação, experiências e uma infinidade de outros fatores. Ainda assim, não é um costume dos juízes e jurados questionarem a autenticidade das memórias e faltam peritos que diferenciem uma memória autêntica de uma falsa memória.

O resultado disso é que pessoas inocentes vão para a cadeia todos os anos com base em testemunhas que relatam eventos de forma completamente distorcida. Na verdade, o simples comentário de um policial quando uma testemunha descreve um suspeito, algo como “bom trabalho, sua descrição corresponde a pessoa que procurávamos” já pode criar um feedback de confirmação e fazer a pessoa acreditar excessivamente no que está relatando, ainda que não se lembre direito ou não tenha certeza.

Experimento 1: “Me engana que eu gosto”

contioutra.com - Falsas memórias: como convencer alguém de um crimeUm dos experimentos para comprovar a falsa memória ocorreu em escolas do Canadá, onde cientistas pediam aos professores para que preenchessem questionários a respeito de eventos específicos que os alunos poderiam ter experimentado entre os 11 e os 14 anos. Em seguida, os alunos passavam por três entrevistas de 40 minutos, com um intervalo de uma semana entre cada uma delas.

Durante a primeira entrevista, o pesquisador contava a respeito de dois eventos que o aluno havia experimentado quando era mais jovem; no entanto, apenas um desses eventos de fato ocorreu. Para alguns, o falso evento era um crime que acabou resultando em uma detenção (furto, porte de armas, por exemplo). Para outros, o falso evento envolvia algo mais emocional, como uma briga, perda de dinheiro ou até mesmo o ataque de um cão.

Os participantes eram convidados a contarem suas memórias, tanto no evento verdadeiro quanto no falso, e por mais que não se lembrassem (obviamente) eram encorajados a lembrar da história usando estratégias específicas de recordação de memórias. A segunda e terceira entrevistas consistiam em continuar descrevendo os dois eventos, falso e verdadeiro.

Por incrível que pareça, dos 30 participantes que foram informados que cometeram um crime quando eram adolescentes, 21 (71%) desenvolveram uma falsa memória e foram capazes de contar o evento de fora detalhada, incluindo questões processuais.

76% dos participantes também recordaram das falsas memórias emocionais. É interessante notar que a porcentagem de pessoas que recordou a participação em um crime é tão alta quanto as que recordaram um evento emocional. Os participantes, nos dois casos, tendem a fornecer o mesma quantidade de detalhes e relatam o mesmo nível de confiança e vivacidade das histórias.

Para os psicólogos que desenvolveram o estudo, alguns dados fornecidos pelos professores (como o nome do melhor amigo do participante) foram fatores decisivos para encorajar a criação da falsa memória e da familiaridade com um evento que possa ser plausível.

Os resultados têm implicações claras no que se refere aos interrogatórios policiais e outros procedimentos jurídicos.

Experimento 2: “Foi você, eu vi”

Outras pesquisas revelaram dados semelhantes: a implementação de uma memória falsa tem maiscontioutra.com - Falsas memórias: como convencer alguém de um crime probabilidades de ocorrer quando um amigo ou um familiar afirmam que o suposto evento aconteceu. A corroboração de outra pessoa é decisiva durante esse processo, onde a simples alegação de que ela viu você fazendo determinado ato já é suficiente para que você acredite e confesse.

Nesse experimento os cientistas estudaram a reação de pessoas ao serem acusadas de terem quebrado um computador pelo simples fato de digitarem a tecla errada. Os participantes a princípio negavam que o teriam quebrado, mas quando outro indivíduo (um ator) afirmava que viu a tecla sendo pressionada, o participante reconhecia o erro, assinava uma confissão, internalizava a culpa e relembrava o momento com detalhes.

Ficou comprovado que a falsa acusação pode induzir as pessoas a aceitarem a culpa sobre determinado ato e até mesmo desenvolverem falsas memórias sobre ele. A pesquisa mostrou como as falsas memórias são complexas, emotivas e podem ser construídas com sugestões de terceiros.

Exemplos reais

Nessa palestra, a psicóloga Elizabeth Loftus apresenta seus estudos sobre falsas memórias e casos reais em que acusados recordavam eventos que não ocorreram e testemunhas que relatavam histórias de forma completamente distorcida. Vale a pena conferir!

Essa matéria foi publicada com autorização de nossa página parceira:

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Igor Leone é advogado, sócio do escritório Tardelli, Zanardo e Leone Advogados, colunista e diretor executivo do Justificando.

“A fábula africana do macaco e do peixe”, narrada por Mia Couto

“A fábula africana do macaco e do peixe”, narrada por Mia Couto

Um macaco passeava-se à beira de um rio, quando viu um peixe dentro de água. Como não conhecia aquele animal, pensou que estava a afogar-se. Conseguiu apanhá-lo e ficou muito contente quando o viu aos pulos, preso nos seus dedos,

achando que aqueles saltos eram sinais de uma grande alegria por ter sido salvo. Pouco depois, quando o peixe parou de se mexer e o macaco percebeu que estava morto, comentou – que pena eu não ter chegado mais cedo!”

Fábula africana narrada por Mia Couto

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De quando o pássaro apiedou-se do Sol

De quando o pássaro apiedou-se do Sol

Por Nara Rúbia Ribeiro

Ouvi, certa vez, uma lenda do fim de um mundo. A história era quase assim…

O fim começou com um passarinho, uma tia nada moderna e um menino muito ocupado que aniversariava.

A tia chega com um passarinho engaiolado. Um pássaro azul claro, cujas pontas das penas ganhavam um tom mais acentuado. A gaiola, de tão leve, tinha lume de abstrato e veio recoberta de um tecido de renda, no capricho da tia.

 – É seu presente de aniversário! Aqui está o alpiste. Também não se esqueça de dar água pra ele, não!

– De onde me saiu essa tia? Questiona-se o menino, no auge da sabedoria dos seus nove anos, agora completados.

Tia sem antena moderna. Desconectada do mundo. Se melhor orientada fosse, daria ao menino um game de última geração, brinquedos da alta tecnologia, um novo tablet, um iPad ou qualquer outra engenhosidade a tornar-se obsoleta em tempo record. Algo descartável, sem carne, sem vida, sem ossos: sem alma.

O que salvou algum resquício de alegria ao menino foi a ressalva da tia: 

– “E ele canta,viu!” Afirmativa que de algum modo surpreendeu o menino, no que esboçou um sorriso.

Assim o passarinho, por instantes, desafiou a atenção do menino. Cantava, embora baixinho e pouco. Voava de um lado para o outro, em seu minúsculo cativeiro.

– Pai, ele pode chamar Bird Man?

– Claro, filho, como quiser. Respondeu sem pensar o padrasto, enquanto ajeitava a gravata.

– Beijo, vou indo pro trabalho.

A comida na geladeira, seria esquentada em breve tempo no micro-ondas. A mãe, no trabalho desde muito antes do menino acordar. Embrulhados em plásticos hermeticamente fechados, doces com corantes artificiais desfilavam formatos de frutos diversos. Agora, tudo era tão artificial que, para se reconhecer o sabor dos frutos, se fazia necessário usar produtos químicos. A vida necessitava de artifícios.

Amigos virtuais o chamam, como se fossem velhos conhecidos.  Os professores, todos on line. Ele clica em uma tela e o mundo todo se abre sob o seu olhar de homem do futuro e muitas notícias disputam os seus sentidos todos.

O infinito da informação, a infinitude do conhecimento, tudo ali, aos seus pés. Pobre criança! O infinito não pontuado o que é, senão um nada disfarçado de inteiro?

O menino, por tempos, se esquece do pássaro. Quando dele se recorda, percebe que o pequenino alado já não consegue cantar, embora ainda se mexa lentamente.

– Canta, Bird Man! Será que nem pra isso você presta mais?

E o pássaro silencia-se na fraqueza da sede e da fome, como se se envergonhasse da desumanidade dos homens.

O menino olha os recipientes de água e comida e percebe que estão vazios e secos, mas sentencia:

– Não come e não bebe até cantar, passarinho mimado! E pega a gaiola e a leva à varanda da casa, deixando-a sob um sol causticante do verão.

– Acho que o sol vai ser bom pra você acordar.

E o menino corre à sala e retorna aos jogos: –  Pega,  pega. Mata, explode a cabeça dele. Vou recuar e você joga a bomba. Anda!….

E o passarinho acorda de um sono delicado e austero. Ao abrir os olhos, percebe uma invisível mão girar a maçaneta da portinhola de seu cárcere. A porta se abre e ele e entende que pode partir… E voa e se deslumbra do céu, e se encanta da luz.

Nesse momento ele vê o Sol e a sua alma se apieda do grande astro, pássaro de luz desprovido de asas, condenado a tentar degelar, por eternidades interias, o coração de homens que se fizeram desprovidos da emoção para abraçarem a o pragmatismo de um tempo.

Comovido, o pássaro volta à varanda e segura e suspende, em seu minúsculo bico, as grades de sua antiga prisão. E assim ele voa ao encontro do Sol. Seu canto faz com que o astro rei compreenda a dignidade de seus propósitos, e se permita aprisionar-se.

O passarinho aprisiona o Sol em sua quase abstrata gaiola e o leva a visitar e a aquecer outros mundos. Mundos mais condizentes com a luz, mais afeitos ao canto, mais atentos ao azul e à beleza que os cercam. Cujos homens se permitissem o exercício de sua pessoal humanidade.

E do mundo do menino ocupado nunca mais falar se ouviu. 

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Messenger of spring – © Katerina Pyatakova Pastel

Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

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Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
Mia Couto oficial

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1 imagem, 39 canções dos Beatles. Será que você consegue encontrá-las?

1 imagem, 39 canções dos Beatles. Será que você consegue encontrá-las?

ByNina/ Carolina Carvalho

Essa é uma postagens para os verdadeiros fãs dos Beatles.

Em uma imagem lúdica, 39 músicas da banda estão representadas.

Será que você é capaz de acertar pelo menos algumas?

Divirta-se!

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NOTA da CONTI outra: A reprodução deste texto é uma cortesia ByNina

ByNina |Carolina Carvalhocontioutra.com - 1 imagem, 39 canções dos Beatles. Será que você consegue encontrá-las?

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Nina tem 40 anos, é Professora de Yoga e SUP Yoga, surfista e escritora.
Trabalha com Social Media e ama tudo o que faz.

83 conselhos de Gurdjieff a sua filha

83 conselhos de Gurdjieff a sua filha

Gurdjieff foi um místico e mestre espiritual armênio. Ensinou a filosofia do autoconhecimento profundo, através da lembrança de si, transmitindo a seus alunos, primeiro em São Petersburgo, depois em Paris, o que aprendera em suas viagens pela Rússia, Afeganistão e outros países. (wikipédia)

1. Fixa tua atenção em ti mesma, sê consciente em cada instante do que pensas, sentes, desejas e fazes.
2. Termina sempre o que começaste.
3. Faz o que estiveres fazendo o melhor possível.
4. Não te prendas a nada que com o tempo venha a te destruir.
5. Desenvolve tua generosidade sem testemunhas.
6. Trata cada pessoa como um parente próximo.
7. Arruma o que desarrumaste.
8. Aprende a receber, agradece cada dom.
9. Para de te autodefinir.
10. Não mintas, nem roubes, pois estarás mentindo e roubando a ti mesmo.
11. Ajuda teu próximo sem torná-lo dependente.
12. Não desejes que te imitem.
13. Faz planos de trabalho e cumpre-os.
14. Não ocupes demasiado espaço.
15. Não faças ruídos nem gestos desnecessários.
16. Se não tens fé, finge tê-la.
17. Não te deixes impressionar por personalidades fortes.
18. Não te apropries de nada nem de ninguém.
19. Reparte equitativamente.
20. Não seduzas.
21. Come e dorme o estritamente necessário.
22. Não fales de teus problemas pessoais.
23. Não emitas juízos nem críticas quando desconheceres a maior parte dos fatos.
24. Não estabeleças amizades inúteis.
25. Não sigas modas.
26. Não te vendas.
27. Respeita os contratos que firmaste.
28. Sê pontual.
29. Não invejes os bens ou sucesso do próximo.
30. Fala só o necessário.
31. Não penses nos benefícios que advirão da tua obra.
32. Nunca faças ameaças.
33. Realiza tuas promessas.
34. Coloca-te no lugar do outro em uma discussão.
35. Admite que alguém te supere.
36. Não elimines, mas transforma.
37. Vence teus medos, cada um deles é um desejo camuflado.
38. Ajuda o outro a se ajudar a si mesmo.
39. Vence tuas antipatias e te acerca de quem queres rejeitar.
40. Não reajas ao que digam de bom ou de mau sobre ti.

41. Transforma teu orgulho em dignidade.
42. Transforma tua cólera em criatividade.
43. Transforma tua avareza em respeito pela beleza.
44. Transforma tua inveja em admiração pelos valores alheios.
45. Transforma teu ódio em caridade.
46. Não te vanglories nem te insultes.
47. Trata o que não te pertence como se te pertencesse.
48. Não te queixes.
49. Desenvolve tua imaginação.
50. Não dês ordens só pelo prazer de ser obedecido.
51. Paga pelos serviços que te prestam.
52. Não faças propaganda de tuas obras ou ideias.
53. Não trates de despertar, nos outros em relação a ti, emoções como piedade,
admiração, simpatia e cumplicidade.
54. Não chames atenção por tua aparência.
55. Nunca contradigas, cala-te.
56. Não contraias dívidas, compra e paga em seguida.
57. Se ofenderes alguém, pede desculpas.
58. Se ofendeste publicamente, desculpa-te igualmente em público.
59. Se te dás conta de que te equivocaste, não insistas por orgulho no erro e desiste imediatamente de teus propósitos.
60. Não defendas tuas antigas ideias só porque tu as enunciaste.
61. Não conserves objetos inúteis.
62. Não te enfeites com as ideias alheias.
63. Não tires fotos com personagens famosos.
64. Não prestes contas a ninguém, sê teu próprio juiz.
65. Nunca te definas pelo que possuis.
66. Nunca fales de ti sem te conceder a possibilidade de mudança.
67. Aceita que nada é teu.
68. Quando pedirem a tua opinião sobre alguém, fala somente de suas qualidades.
69. Quando adoeceres, em vez de odiar esse mal, considera-o teu mestre.
70. Não olhes com dissimulação, olha fixamente.
71. Não te esqueças de teus mortos, mas limita-os em um espaço que não lhes permita invadir toda a tua vida.
72. Em tua moradia, reserva sempre um lugar ao sagrado.
73. Quando realizares um serviço, não ressaltes teus esforços.
74. Se decidires trabalhar para alguém, trata de fazê-lo com prazer.
75. Se estás em dúvida entre fazer ou não fazer algo, arrisca-te e faz.
76. Não queiras ser tudo para teu cônjuge; admite que busque em outras pessoas o que não lhe podes dar.
77. Quando alguém tenha seu público, não tentes contradizê-lo e roubar-lhe a audiência.
78. Vive dos teus próprios ganhos.
79. Não te vanglories de aventuras amorosas.
80. Não exaltes as tuas debilidades.
81. Não visites alguém só para preencheres o teu tempo.
82. Obtém para repartir.
83. Se estás meditando e um diabo se aproxima, bota-o a meditar também…

Fonte indicada: Alquimia e Mitologia

A vida cobra consequências

A vida cobra consequências

Por Lourival Antonio Cristofoletti

Quando alguém falhar por perto – ou fizer algo que lhe desagrade – e você entender que se mostra inevitável uma intervenção sua, procure dar seu recado de maneira embasada, construtiva, sem precisar, em cada intervenção, fazer um chato e repetitivo sermão, com raiva, uma cronologia rigorosa dos eventos desagradáveis, usando hipérboles que distorcem e ampliam a dimensão do problema. Por isso, quando entender que um feedback se mostra indispensável, que ele seja breve, focado, sem utilizar palavras trágicas e desqualificantes.

Fique longe das ameaças, também, principalmente daquelas que você e todos os outros sabem que nunca serão cumpridas. É desagradável passar a sensação de que o outro que está sendo advertido mostrou-se criança, irresponsável, que não tem jeito nem merece esperanças, de que é um inútil, uma grande decepção. Muitas vezes é o seu foco que pode estar distorcido, em função do seu alto nível de exigência e sua desmedida expectativa em relação a si, ao outro,ao mundo.

Não se leve tanto a sério: veja se você tem essa dimensão que imagina. Muitas vezes pode se mostrar oportuno apenas momentaneamente engolir a sua contrariedade, filtrá-la, dosá-la, mensurá-la, pesá-la, aguardando, pelo menos, uma breve decantação para, então, atenuados os ânimos, decidir qual será a sua melhor atitude e a sua melhor postura no caso.

Cuidado, se o seu impulso de falar pelos cotovelos é irrefreável, com broncas longas e ineficazes: só servem para desgastar e enfraquecer a sua imagem e esfriar ainda mais a relação. Se do jeito que você tem feito não surte resultado algum, já passou do tempo em pensar em outras estratégias de abordagem, condução e tomada de decisão.

Podem se mostrar mais apropriadas algumas palavras escolhidas, ditas num tom assertivo, de forma breve, fora do momento da raiva, acompanhadas do sentimento de que você também se preocupa com o que acontece à pessoa – em vez de apenas colocar seus pesados dedos nas feridas alheias, como se, de camarote, assistisse a todas as mazelas alheias do mundo.

Reza a lenda que cabe sempre ao mais maduro ponderar, manter a calma – principalmente se está com a razão. Se não agir assim poderá estar correndo o risco de passar recibo de que é uma pessoa insensível, ou exagerada, ou centralizadora, ou ansiosa, com os pés distantes da realidade e que perde o senso e a razão quando se irrita.

Esta reflexão pode se constituir – se você o permitir – um alerta e um convite à conscientização de que, muitas coisas que estão em jogo na situação, poderão ter um surpreendente e inusitado positivo impacto, quem sabe determinando um marco divisor em sua existência.

E ai: o que entende que seja possível fazer por si mesmo? Como poderia começar? Então, tá: se baixar um pouco a sua guarda, poderá alinhar os seus ingredientes, ponderar sobre a sua realidade. Irá procurar fazer os reposicionamentos possíveis após suaves reflexões, abrindo espaços, aí sim, para consistentes e reparadores aprendizados.

Está bom por hoje, ou ainda precisa de mais alguns rótulos para o Produto “Você” ficar mais bem acabado, adornado, resolvido, compreendido, aceito, amado? Já parou para pensar que o maior beneficiário da sua evolução de comportamento será você? Lembro-lhe que a vida pode escoar entre destemperadas intervenções: é o que me vem à mente e que posso lhe sugerir e lhe desejar por ora, pois a vida cobra consequências.

LOURIVAL  ANTONIO CRISTOFOLETTI

contioutra.com - A vida cobra consequênciasPaulista de Rio Claro e residente em Vitória/ES. É mestre em Administração pela UnB – Universidade de Brasília, Analista Organizacional e Consultor em Recursos Humanos. Atualmente atua como professor na Graduação e MBA na FAESA – Faculdades Integradas Espírito-Santenses; Instrutor na UFES – Universidade Federal do ES e na ESESP– Escola de Governo do ES.

Livro publicado: COMPORTAMENTO: INQUIETAÇÕES & PONDERAÇÕES
Livraria Logos (vendas pelo site)

E-mail de contato: : [email protected]
No Facebook: Lourival Antonio Cristofoletti No Instagram: lourivalcristofoletti

Quando nasce um bebê nasce também uma mãe

Quando nasce um bebê nasce também uma mãe

A experiência da maternidade é realmente transformadora!

Se formos pensar, ela começa quando ainda somos meninas brincando de bonecas. Embalamos, trocamos a roupinha e damos comidinha para os nossos “bebês/bonecas”, e assim, começamos a nos projetar na figura de cuidadoras, sentindo imenso prazer e satisfação em mergulhar nesta fantasia.

À medida que crescemos, deixamos de lado as bonecas e aos poucos os demais interesses da vida se sobressaem. Passamos a nos envolver em outras atividades como correr, jogar, estudar, paquerar, passar horas a fio na frente do espelho ou conversando com as amigas. Vivências diárias de envolver-ser, relacionar-se, acolher e ser acolhida, superar obstáculos, aprender e crescer. É a vida nos treinando para a maternidade!

Afinal, uma mãe, para cumprir bem o seu papel, precisa saber curar as feridas dos seus filhos, suprir suas necessidades de afeto e cuidado, ajudá-los e ampará-los nas suas frustrações e incentivar suas conquistas e vitórias. Quem melhor que própria vida para nos ensinar como se faz?

Eis que de repente, surge um Chamado! Consciente ou inconsciente, esperado ou inesperado, na hora certa ou imprevista, a mulher é chamada para se tornar mãe! Uma experiência que transformará sua vida para sempre.

Como todas as fases de grandes mudanças, a maternidade e a gravidez é acompanhada de uma enxurrada de emoções e processos. Mudanças físicas, sociais e psicológicas acontecem simultaneamente.

Cada gravidez é única para cada mulher, assim como a experiência da maternidade!

O corpo se transforma. Sua imagem corporal se altera a cada mês, a cada semana. Muitas se acham lindas grávidas, outras se deprimem por perder o corpo de outrora. Algumas têm a libido aumentada, outras resistem ao simples toque do marido. A gravidez altera a forma como a mulher se relaciona com o próprio corpo e isso pode ter inúmeros impactos na sua vida pessoal, na sua autoestima e nos seus relacionamentos.

Outra grande mudança é a em relação a identidade. Filhas que se transformam em mães. Mudanças que se expressam na forma como a mulher se enxerga e como os outros a veem, nos papéis que passam a desempenhar, nas novas responsabilidades e divisões de tarefas.

Todas essas mudanças podem gerar intensos sentimentos de ansiedade e insegurança. O medo de errar, de não ser uma boa mãe, a busca pela aprovação da família e da sociedade, as dificuldades em conciliar as diferentes áreas da vida, a falta de tempo para si mesma, e tantos outros aspectos que podem despertar diferentes emoções e sentimentos. Assim, a maternidade se configura como um verdadeiro rito de passagem e iniciação. Um momento de transformação profunda, no qual as mudanças corporais marcam também o início de uma nova condição interna, provando a conexão indissociável entre psique e corpo.

Um olhar mais atento para o corpo através de técnicas de relaxamento e integração fisio-psíquica, psicoterapia para elaborar as mudanças emocionais, grupos de mães no qual se pode compartilhar medos, angústias e insights a respeito das diferentes situações vividas e tantas outras técnicas terapêuticas, corroboram significativamente para que a mulher consiga acolher emocionalmente esta nova configuração tanto no corpo, quanto na alma, de modo mais seguro e confiante.

Há de preparar-se para o nascimento… do bebê e da mãe!

Autoras:

contioutra.com - Quando nasce um bebê nasce também uma mãeJuliana Pereira dos Santos – Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica Junguiana. Aprimoranda em Psicopatologia e Psicologia Simbólica pelo Instituto Sedes Sapientiae e Coach formada pela Sociedade Brasileira de Coaching. CRP: 06/ 108582

 

contioutra.com - Quando nasce um bebê nasce também uma mãeMarcela Alice Bianco – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana formada pela UFSCar. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Sedes Sapientiae. CRP: 06/77338

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