Os segredos da amizade verdadeira

Os segredos da amizade verdadeira

A gente ama os amigos de diversas maneiras. Alguns demonstram a amizade pela presença constante. Outros nos enchem de afeto ao ligarem nas datas importantes e por não faltarem nos piores momentos. Alguns amigos, entretanto, a gente ama mesmo sem saber aonde foram parar – isso acontece depois que os anos se passam, e as mudanças de vida e cidades desviam seus caminhos.

Quer fazer um teste de amizade verdadeira? É assim: você fica um ano sem ver o amigo e, quando acontecer o encontro, preste atenção se a conversa e o nível de intimidade não mudaram. Tirando a atualização das novidades, verá que para os amigos do peito tudo prossegue como se nunca tivesse acontecido uma separação.

Essa ligação é que faz com que a palavra amizade tenha som de aconchego. Amigo é evolução fraternal de colo de mãe. É parcela amorosa de um voltar para casa. É cúmplice cordial de uma história em comum.

Mais uma prova de amizade que você dá aos amigos e eles nem percebem é quando você vê os seus álbuns de foto e até assiste vídeo de casamento. Sabe, às vezes eles até percebem, mas sabe como é, você são amigos e ele faz questão que você veja, logo, você vai ter que lidar com isso.

Já fui madrinha três vezes como prova de amizade, mesmo sem gostar dos rituais do casamento. E, das duas vezes em que não fui ao casamento de amigas ainda me arrependo, pois, sei que não ir a um ritual assim não é exatamente uma opção. Foram amizades que nunca mais voltaram ao que eram antes. Então, conselho de amiga, se uma pessoa querida for se casar, não pense, supere suas resistências e vá prestigiá-los e assistir aos votos. Amigo é um pouco disso também. Aquele que você ama tanto que, por vezes, faz até o que não gosta – essa foi a lição que eu aprendi.

O amigo estará presente nos momentos de alegria ou de tristeza, na sua dor ou no seu sucesso. E como bom amigo, ele será aquele que dará um jeito de não “morrer de inveja” das suas conquistas simplesmente por que ele sabe que você merece ser feliz. E, se você estranhar o uso da palavra “inveja”, saiba que é isso mesmo. Amigo de verdade entende que o outro também é cheio de defeito e o ama mesmo assim. E, “amar mesmo assim” é a maior prova de amizade que pode existir.

Nota- Como “quem ama, educa”,  é claro que o amigo pode te acertar “uma direita”, mas, depois que você rolar pelo barranco das mais duras verdades, ele correrá em auxílio e te ajudará a levantar. Amigo, de um jeito ou de outro, tá sempre por perto. Ao lado ou dentro da gente.

Viver é só o que nos sobra até que isso tudo nos falte.

Viver é só o que nos sobra até que isso tudo nos falte.

De repente, assim sem mais, quando tudo caminha em seu ritmo, quando sua rotina se acostuma a repetir obediente o percurso casa-trabalho-casa em modo automático, enquanto seus planos e sonhos finalmente parecem ter aprendido a viver em paz com a realidade de todo dia, então vem a vida e lhe bate na cara como quem diz: “acorda, acorda que um dia você vai morrer!”

Pois cá estou agora, senhor absoluto das dezoito horas diárias de trabalho, tão orgulhoso de sua capacidade de produção, tão convencido de sua saúde de ferro, aqui estou eu, de cama, completa e vergonhosamente vencido pela náusea e a tontura do que parece ser uma crise de labirintite, batucando à força no telefone celular o que é preciso dizer com urgência.

Tomara Deus seja só isso mesmo. Só uma doença de ocasião, um puxão de orelha, uma advertência. Porque, de todos os medrosos que há no mundo, confesso ser o mais maricas. Tenho medo, sim. Pior: tenho pavor do inevitável.

Por outro lado, ficar doente é dessas chances que a vida nos dá de “fazer a coisa certa”, e o certo agora é reconhecer: a vida é tão breve e a gente ainda insiste em viver no conflito. Perde tanto tempo com disputas bobocas, corridas inúteis, tentativas de provar o quanto somos isso e aquilo. E no fundo ninguém sabe o que virá no segundo seguinte.

Ontem à noitinha a vida me deu uma rasteira. Do nada, estremeci de zonzeira e caí doente. Bons amigos me estenderam a mão e me ajudaram a chegar até onde estou. Esta cama e este oceano de lembranças.

Para mim, lembrar é um remédio doce em dias de cama. Mas uma lembrança boa é sempre uma armadilha perigosa. Um buraco sem fundo, um sumidouro. Sou dessas pessoas que de quando em vez desaparecem em seu lá dentro. Vão de repente. Do nada. Afundam e se perdem em seu universo interior.

Impossível trazer essas pessoas de volta à superfície no tempo em que queremos. Você joga cordas, lança redes, manda equipes de resgate. Nada. Elas só voltam ao convívio social no tempo de sua vontade, quando quiserem e puderem.

A todo convite formal, informal, direto, insinuado, respondem com um vago movimento de cabeça, um aceno, um olhar para o nada, como quem diz “não, hoje não vou sair, obrigado. Vou ficar aqui dentro de mim mesmo.” Eu sou dessa gente que se sente assim. E que tem a sorte de contar com a mão estendida das pessoas certas, na hora certa.

Você há de me perdoar a conversa aborrecida. Mas eu preciso dizer que tenho medo e ao mesmo tempo gratidão. Nesses dias de “salve-se quem puder”, me faz bem acrescentar um desajeitado “amar” ao fim da frase.

E assim, com cada um cuidando de si e dos seus, quem sabe um dia seremos todos “os nossos”, tratando juntos de suas feridas, resgatando lembranças azuis de dentro de seus dias cinzas. Vivendo com amor e saúde nossos dias de doença e dor. Porque, você sabe, viver é só o que nos sobra até que um dia isso tudo nos falte.

Gente inconveniente- Mario Sérgio Cortella

Gente inconveniente- Mario Sérgio Cortella

Você conhece uma pessoa e ela se torna chata na convivência. Isso vale para qualquer pessoa que tenha a capacidade de abusar da nossa paciência. Uma das maneiras de fazer isso é querer esgotar um assunto até o final. O escritor e semiólogo italiano Umberto Eco tem um livro clássico, chamado Uma obra aberta. O que ele quer dizer com o título? Que todo texto, toda literatura, toda conversa é uma obra aberta. Ela não se conclui, pois tem a possibilidade de apresentar outras janelas e outras portas.

Tem gente, no entanto, que tem um hábito inconveniente: não é capaz de mudar de assunto ou de variar na hora do lazer, da brincadeira, da convivência boa. Quer ir até o fim em relação a qualquer tema. O escritor irlandês Oscal Wilde dizia que sempre que alguém quer esgotar um assunto, esgota também a paciência do leitor.

Quem escreve ou debate precisa ser capaz de deixar perguntas e não apenas respostas. E, mais do que tudo, não insistir em algo que levaria a um fechamento, a uma conclusão, ao esgotamento. Aquilo se torna chato porque fica monótono e a monotonia nos perturba.

Uma das fontes da monotonia é tentar fechar uma conclusão como se ela fosse definitiva. É inconveniente.

Mario Sérgio Cortella no livro Pensar bem nos faz bem-vol2

A importância das emoções negativas

A importância das emoções negativas

Entre os livros, os seminários e os blogs, o estudo de como viver uma vida feliz é praticamente um gênero por si só. Mas será que toda essa caça à felicidade funciona de fato?

O psicólogo Todd Kashdan disse ao Huffington Post que a ideia de que deveríamos nos sentir bem sempre nos faz mal. Algumas pesquisas sugerem que os americanos estão ficando menos felizes, na realidade, à medida que os anos passam. E, segundo Kashdan, é justamente nossa busca incansável da felicidade que pode nos estar levando no rumo errado.

Mas, dada a cultura de positividade em torno das pesquisas e dos textos sobre felicidade, é fácil esquecer que os sentimentos “ruins” são saudáveis e, na realidade, essenciais para compor o espectro emocional total da experiência humana. “Os dados científicos são muito claros: quando tentamos esconder nosso sofrimento, somos menos produtivos e eficazes e acabamos nos sentindo emocionalmente pior”, disse Kashdan.

Em seu novo livro, The Upside of Your Dark Side: Why Being Your Whole Self — Not Just Your ‘Good’ Self — Drives Success And Fulfillment, escrito em co-autoria com Robert Biswas-Diener, Kashdan advoga o valor dos sentimentos negativos. (O título pode ser traduzido como “O lado positivo de seu lado sombrio: por que ser seu eu inteiro – não apenas seu eu ‘bom’ – alimenta o sucesso e a realização”.)

Kashdan acha que essa procura concentrada da felicidade anda de mãos dadas com uma tendência forte a buscar o conforto e evitar qualquer tipo de desconforto, e isso, ele argumenta no livro, nos está enfraquecendo psicologicamente.

Então qual seria a solução? Para começar, é hora de abraçar o que é incômodo, aprendendo a vivenciar e apreciar plenamente as emoções negativas, enxergando-as como um aspecto natural e até útil de nossas vidas. Segundo o psicólogo, também deveríamos cultivar o que ele chama de “agilidade emocional”: a habilidade de reconhecer e atrelar emoções apropriadas (positivas ou negativas) para qualquer situação em que nos encontremos.

A seguir, quatro ensinamentos importantes de The Upside of Your Dark Side.

O sentimento de culpa nos torna pessoas melhores.
“O sentimento de culpa fortalece nossa fibra moral, nos motiva a ser cidadãos mais socialmente sensíveis e conscientes do que seríamos de outro modo. Por exemplo, pesquisadores descobriram que adultos que tendem a sentir culpa têm menos probabilidade de dirigir embriagados, consumir drogas ilegais, roubar ou agredir outra pessoa. Se o caráter se reflete no que você faz quando ninguém está olhando, então a emoção moral chamada culpa é um dos blocos básicos dos quais o caráter é construído.”

Duvidar de si mesmo fortalece seu desempenho.
“Uma coisa que muitas pessoas não percebem é o fato de que a dúvida, em doses moderadas, exerce uma função salutar. A dúvida é um estado psicológico que nos leva a avaliar nossas habilidades e nos esforçar para melhorar em áreas onde podemos ser insuficientes. Karl Wheatley, pesquisador da universidade Cleveland State, argumenta que a dúvida pode ser benéfica, pelo menos no caso de professores escolares. Ele observa que, quando professores sentem incerteza quanto a seu desempenho, esses sentimentos incentivam a colaboração com outros, fomentam a reflexão pessoal, motivam o desenvolvimento pessoal e preparam a pessoa para aceitar mudanças.”

A ansiedade nos ajuda a encontrar soluções para problemas.
“Nas zonas de perigo, a ansiedade fala mais alto que a positividade. Em situações em que o perigo é uma possibilidade mas os indícios podem ser obscuros, complicados ou incertos, a ansiedade pesa mais que a positividade. Em tais casos, as pessoas ansiosas rapidamente descobrem soluções, e, quando há uma equipe em volta delas (amigos, família, colegas de trabalho), elas compartilham o problema e as soluções. Os grupos são mais bem-sucedidos quando incluem um misto de vários tipos de personalidade, com pontos fortes diferentes – e incluindo pelo menos uma sentinela ansiosa.”

Deixar a mente vagar à toa nos deixa mais criativos.
“A criatividade é associada há muito tempo à incubação inconsciente. Você provavelmente já conhece a ideia do ‘momento aha’, aquele insight repentino que de repente traz a solução de um problema ou apresenta uma ideia relevante, no momento mais inesperado. Parece que há algo de inventivo na atenção solta, não focada. As pesquisas fundamentam a ideia de que a criatividade nos pega de surpresa.”

Por Carolyn Gregoire

 Fonte indicada Brasil Post

Sabedoria, por Rubem Alves

Sabedoria, por Rubem Alves

Segundo Nietzsche, a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. É através dos olhos que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo. Os olhos têm de ser educados para que a nossa alegria aumente. As crianças não vêem “a fim de”. Seu olhar não tem nenhum objetivo prático. Vêem porque é divertido ver.

Educar é mostrar a vida a quem ainda não viu. O educador diz:”Veja!” – e, ao falar, aponta. O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. O seu mundo se expande. Ele fica mais rico interiormente. E, ficando mais rico interiormente, ele pode sentir mais alegria e dar mais alegria – que é a razão pela qual vivemos.

Já li muitos livros sobre Psicologia da Educação, Sociologia da Educação, Filosofia da Educação, Didática – mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à educação do olhar, ou à importância do olhar na Educação, em qualquer um deles.
A palavra amor se tornou maldita entre os educadores. Envergonham-se de que a Educação seja coisa do amor – piegas. Mas o amor – Platão, Nietzsche e Freud o sabiam – nada tem de piegas. O amor marca o impreciso e forte círculo de prazer que liga os corpos aos objetos. Sem o amor tudo nos seria indiferente – indigno de ser aprendido, inclusive a ciência. Não teríamos sentido de direção ou não teríamos prioridades.

Prova de inteligência não é possuir todas as ferramentas. É possuir as ferramentas de que se vai necessitar. Sabedoria oriental: “O tolo soma ferramentas. O sábio diminui as ferramentas.” O importante não é ter. É saber onde encontrar.
A Educação se divide em duas partes: Educação das habilidades e Educação da sensibilidade. Sem a educação da sensibilidade, todas as habilidades são tolas e sem sentido.

Os saberes – que os professores ensinam – nos dão meios para viver.

Os sabores – que os educadores despertam – nos dão razões para viver.

Nunca houve tanta possibilidade de felicidade quanto agora. Aquilo que já sabemos chega para a gente fazer um paraíso na terra. E por que é que não o fazemos? Porque o conhecimento não basta. Sabedoria não se consegue com a soma de conhecimentos.

“Formatura”: “formar” é colocar na fôrma, fechar. Um ser humano “formado” é um ser humano fechado, emburrecido. Educar é abrir. Educar é “desformar”. Uma festa de “desformatura”…

Educação não é a transmissão de uma soma de conhecimentos. Conhecimentos podem ser mortos e inertes: uma carga que se carrega sem saber sua utilidade e sem que ela dê alegria. Educar é ensinar a pensar, isto é, brincar com os conhecimentos.

A memória não carrega peso inútil em suas malas. Viaja leve. Leva sempre duas malas. Numa, estão os objetos úteis. Noutra, estão os objetos que dão prazer.

Se o conhecimento científico fosse condição para se fazer amor, os professores de anatomia seriam amantes insuperáveis. Se o conhecimento acadêmico de gramática fosse condição para se fazer literatura, os gramáticos seriam escritores insuperáveis.

Texto de Rubem Alves.
Conheça o Instituto Rubem Alves e participe de seus projetos.

Dica de livro: Sete Vezes Rubem (Fruto do trabalho de uma década, esta obra reúne sete livros de Rubem Alves publicados pela Papirus entre 1996 e 2005.)

Jovem faz de dificuldade um ‘trampolim’ e cria encontro de yoga todo domingo no parque

Jovem faz de dificuldade um ‘trampolim’ e cria encontro de yoga todo domingo no parque

Todo domingo de céu aberto, um grupo de pessoas cada vez maior se reúne para praticar yoga no Parque da Juventude, área verde implantada onde uma vez funcionou o antigo Complexo Penitenciário Carandiru, na zona norte de São Paulo, implodido em 2002.

O encontro, gratuito, é organizado por Juliana Figueira de Souza, 32 anos – ou a “Ju”, como é carinhosamente chamada pelos frequentadores. Há mais de um ano, ela promove religiosamente as reuniões no local por um propósito de vida: compartilhar o conhecimento que adquire com a yoga a quem se interessar, “de forma aberta, livre e democrática”, em suas próprias, e calmas, palavras.

A prática só não acontece em dias de chuva, quando a grama do parque fica molhada, o que os participantes lamentam profundamente, inclusive a Ju: “Quando chove eu fico mal. Para mim não é um compromisso, aqui eu me divirto, eu aprendo. É uma coisa boa. Eu deixo de fazer coisas para vir para cá.”

Yoga ao Ar Livre

Foi pelo Facebook que eu conheci o Yoga ao Ar Livre, nome que a Ju deu para o projeto. Fui a uma das aulas há alguns meses. Gostei tanto da proposta e vi tanta entrega de Juliana ao trabalho que fiquei com vontade conhecer sua história.

Essa vontade aumentou quando ela compartilhou um depoimento no Facebook dizendo ter iniciado o projeto após passar por uma fase muito difícil da vida. No post, revelou que a maior beneficiada com a ação era ela mesma. Depois de um tempo, perguntei se ela aceitava contar mais um pouco de sua história aqui pro Vidaria.

A entrevista aconteceu num ensolarado domingo após a aula (entre a aula de yoga da manhã e o grupo de estudos que realiza à tarde, após o piquenique na grama). No intervalo dos encontros, a Ju me explicou com mais detalhes o que a motivou criar o Yoga ao Ar Livre. “No final de 2011, eu tive um fato na minha vida que me marcou demais. Eu era casada, me separei, e essa separação foi bem dolorosa. Estavam envolvidas muitas coisas e eu fiquei bem mal.”

Quando estava bem mal, percebeu que eu tinha duas escolhas: ou afundava de vez e desistia, “abria mão, desistia de tudo, da vida”, ou pegava essa força que estava a empurrando para baixo e a “usava como um trampolim”. Escolheu a segunda opção. “Resolvi usar isso que eu estava vivendo a meu favor. E aí foi quando o projeto nasceu.”

Juliana “juntou todos os caquinhos”, reuniu forças e chamou alguns conhecidos para a primeira prática de yoga em grupo, ocorrida no parque Villa Lobos – a decisão de ir para o Parque da Juventude apareceu depois.

“Eu pensei, se a vida está me dando uma oportunidade de recomeçar, eu vou começar promovendo aquilo que eu quero para a minha vida: eu quero isso, as pessoas tentando ser melhores. Eu quero ser melhor, eu quero evoluir como ser humano.”

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Despertar

Além da aula de yoga, ao final de todo encontro é feita uma grande roda onde todos compartilham reflexões e aprendizados com a prática – que tem sempre um tema voltado ao autoconhecimento como inspiração. No dia da entrevista, por exemplo, o tema proposto foi a “não-violência” (para os outros e inclusive para nós mesmos).

E foi muito boa a sensação de ver as cerca de 60 pessoas (sim, a aula estava bastante cheia!) praticando yoga e discutindo melhores formas de viver na sociedade justamente naquele mesmo local, onde, no passado, foi marcado por mortes e violência. Após a prática, saíram dos participantes percepções como: “Estou 30 quilos mais leve” ou “tive a impressão que acordei com esse exercício. Foi um despertar.”

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Fiz questão de tirar uma foto no dia da aula/entrevista

Propósito

A Ju explicou que teve o primeiro contato com a yoga aos 16 anos. Ela sofria de problemas respiratórios e os exercícios de respiração foram indicados para ela pelos médicos. Não parou mais. Aos 21 anos fez o primeiro curso de formação na área (já foram três). Ela disse que também estudou magistério e fisioterapia, cursos que dão respaldo a ela no dia a dia da profissão. Hoje ela “respira” o yoga 24 horas por dia: trabalha como professora de yoga particular, com terapia Ayurveda e produz mandalas. “Então é tudo uma coisa só, eu uno todo esse conhecimento para um propósito de vida.”

Sobre o sentido da vida

Juliana disse ser difícil dar uma resposta sobe o sentido da vida, mas arriscou que seja entrar em contato com a nossa verdadeira essência. E explicou: “Sabe quando você está trabalhando com uma caneta na mão e por distração você esquece a caneta, coloca no bolso e depois fica igual uma doida procurando a caneta, só que ela está no seu bolso? É a mesma coisa. A essência já aqui, mas a gente se distrai com todas essas coisas. E aí a vida é aquela que te fala, cara, tá aí ó, dentro de você, é só despertar. É esse o sentido da vida, é a gente entrar em contato com a nossa verdadeira natureza.”

Avaliou, contudo, que encontrar essa essência, livre de máscaras e julgamentos, não é nada fácil. “Acho que não é nem para essa vida. Isso aqui é só o ensaio… Mas só o fato de a gente estar tentando… Eu não me preocupo mais aonde eu vou chegar. Eu quero caminhar, entendeu? Só o fato de a gente estar caminhando, acordar no domingão para olhar para dentro, já está de bom tamanho!”

Receita (sem regras) para viver bem a vida

Receita (sem regras) para viver bem a vida

Para viver bem a vida, cerque-se do que interessa – pessoas, assuntos, programas. O resto elimine, que a boa vida, assim como a boa poesia, precisa de cortes. O menos é mais. E não há tempo a perder com o que não faz crescer.

Para viver bem a vida, flexibilize-se, não fale de verdades, fale de impressões, sensações e sentimentos. Mude de ideia. Conteste suas verdades, sempre. Ouça, esteja aberto a entender outros posicionamentos e opiniões, esteja aberto a perceber o que faz os olhos do outro brilharem e esteja aberto para virar a casaca, se de repente a camisa que o outro veste lhe parecer mais apropriada.

Multiplique-se, teste diferentes ritmos, realidades, histórias na sua própria pele. Não tenha medo de experimentar o que parece que vai caber e depois perceber que na verdade aquela roupa, aquela pessoa, aquela situação, não tinham nada a ver com o seu real estilo de encarar o mundo.

Tão importante quanto aprender e realizar é desaprender e desvencilhar.

Tenha a humildade de ser amplo, recomece quantas vezes for preciso.

Para viver bem a vida, desmistifique. Deixe de fazer com que temas como sexo, moral, felicidade e dinheiro virem ditadores deuses. Não se submeta, quebre as regras, interrompa os jogos, redistribua valores, tire alguns seres e coisas do palco e os jogue no depósito. Mude as importâncias. Da sua própria vida você é ator, diretor e roteirista. O coração é mais devagar, mas ele também se adapta aos novos modelos impostos pelo olhar.

Para viver bem a vida, dance no seu ritmo, seja um samba mesmo que todos à sua volta dancem rock. Resgate suas essências, aquelas vontades e verdades que andam se escondendo na urgência do desvairado cotidiano. Pare, olhe para dentro e respire um pouco a si mesmo.

Para viver bem a vida, perdoe-se! Aprenda a dar risada de suas próprias ignorâncias, fraquezas, desajustes, falhas. Perceba o erro, entenda-o e depois o abandone. Não fique ruminando suas imperfeições achando que assim elas se resolverão, que assim serão mais bem digeridas. Isso só faz amargar a memória e consequentemente a vida. Isso é auto tortura. E já é comprovado que a gente aprende mais com uma conversa franca consigo mesmo do que com repreensão.

Para viver bem a vida, cultive os momentos, as pessoas e os lugares que te fazem sorrir quase sem querer, que te afrouxam a alma do peso de existir. Que colocam na vida uma conotação de contemplação mais do que de exigência.

Para viver bem a vida, se dê uns mimos, se dê um tempo, se dê uma folga (às vezes de si mesmo), se dê uma poesia.

Para viver bem a vida seja você mesmo a sua melhor companhia.

Algumas discussões não fazem o menor sentido

Algumas discussões não fazem o menor sentido

Maioridade Penal, por exemplo. E se a gente saísse da esfera do contra ou a favor e olhasse a questão um pouco mais de longe e pensasse realmente sobre ela e o que ela significa. Já tentei analisar por vários lados e não encontrei nenhum que justifique que esse assunto esteja em pauta, ocupando tanto a vida da gente quanto os noticiários e espalhando tanta, digamos, paixão por aí. Vamos dar uma olhada em dois pontos:

1- Nós vivemos em um país que definitivamente não é seguro. Os índices de homicídios, roubos, estupros e largo etc batem recordes ano após ano. Temos esta questão de um lado.

2 – Também temos uma população que quer poder sair na rua e se sentir segura para passear e voltar viva para casa. Outra questão.

Agora, olhando para essas duas questões, como é possível que a melhor forma de se acabar com o problema da primeira questão e dar o que se quer na segunda, possa sequer passar pela discussão da Maioridade Penal? É óbvio que tem alguma coisa muito errada nisso tudo. Por que todo este esforço não está sendo direcionado para medidas que possam começar a resolver, de fato, o problema da segurança em todo país? Acho que uma resposta fácil é sempre a mesma, em questões assim: é porque é difícil.

É difícil pensar nas causas, como as que expliquem porque morrem mais de 50 mil pessoas no país todos os anos; é difícil pensar em um modelo punitivo eficiente, que dê conta da 4ª maior população carcerária do mundo; ou seja, por todo lado, só tem questões difíceis. Questões que precisam ser estudadas. Que precisam que a sociedade se engaje e participe da solução.

É difícil, mas não quer dizer que a gente não possa encontrar formas de lidar com ela, se a gente parar pra enfrentar essas dificuldades. E nesse contexto, uma discussão como a da redução da Maioridade Penal, só atrapalha. Perto do que realmente pode fazer a diferença, é uma discussão fácil. Só pede que você seja contra ou a favor, posicionamento que se toma geralmente com pouquíssima reflexão, daí a facilidade de que eu falo. Eventualmente, a redução para 16 anos vai ser ou não aprovada. Tanto faz. Isso vai acontecer e nada vai mudar. O Brasil vai continuar sendo um dos países mais violentos do mundo. Se a redução passar, quem é a favor vai experimentar um breve período de segurança, uma ilusão que vai durar até que um crime midiático seja cometido por um menor de, digamos, 14 anos. E aí, foi-se a sensação de segurança e vai começar uma nova discussão, novamente incapaz de mudar alguma coisa de fato. Acho que pensando nisso, foi que algumas pessoas já se posicionaram, como nesse comentário:

a penalidade de acordo com o crime praticado! uma criança de 8 anos sabe perfeitamente destinguir uma chupeta de uma escopeta!!!!

(Comentário retirado de site de notícias)

Alguém sabe como foi que essa discussão começou? Procurei descobrir a origem e não consegui nada. Se alguém souber, por favor, escreva nos comentários, ok? A única coisa que achei parece um pouco teoria da conspiração, que dizem que isso faz parte do começo de planos para privatização do sistema penitenciário. Não sei. Aceito ajuda.

Eu, assim como todo mundo, resolvi ter uma opinião sobre o assunto. Assim como todo mundo, precisei de uns segundos para decidir se era a favor ou contra. Mas, ao contrário de muita gente, fui dar uma pesquisada, pra fundamentar a opinião. Sem paixões exacerbadas. Assim como todo mundo, eu também quero viver em um país seguro. Por isso, a minha opção não passou por questões ideológicas. Isso de certa forma é um pouco mentira, se a gente levar em conta que as nossas decisões são resultado de quem somos. Ou é o contrário? Bom, o que importa aqui é que eu não vou tomar uma decisão que afete a minha vida só pra defender um ponto de vista ideológico, ok? Isto posto, pensei bastante e vi que eu era mesmo contra a redução da Maioridade Penal. Isto também posto, acho que vou ter que lidar com aqueles modelos de pensamento pré-fabricados que quem é e contra costuma ouvir:

– Tá com dó? Leva pra casa!!!

– É porque não aconteceu com a sua família!!!!!!

– Vai pra Cuba!!!!!!!!!!!!

Vamos lá. Sobre a primeira questão, ela sempre gera uma vergonha alheia, porque é usada por pessoas que partem de um preconceito estranho, o de que quem é contra, não quer punição, só quer “passar a mão” na cabeça do menor. Não conheço ninguém que não queira punição. Eu quero punição. E com ou sem redução, ela já acontece e geralmente não é bonita. Basta ver o desenrolar do caso do Piauí. Uma discussão muito mais produtiva seria sobre as formas de restrição de liberdade, da validade de modelos como a Fundação Casa, entre outras, mas aí começa a ficar tudo mais difícil. É mais fácil pensar em mandar o menor de 16 anos para a cadeia, pura e simplesmente. Sobre a “dó”, essa seria uma outra discussão, bem mais complexa.

Sobre a segunda, não, graças a Deus. Não aconteceu com a minha família. Mas um dos casos mais famosos envolvendo menores é exemplar. Um adolescente de 16 anos matou um casal de namorados, estuprando a menina. Hoje, com 28 anos, ele continua preso. Está internado há nove anos em uma Unidade Experimental de Saúde e em maio de 2015, foi avaliado e teve a internação prorrogada. O que mostra que a Justiça já tem formas de lidar com casos de crimes hediondos cometidos por menores, casos que são pouquíssimos. Ah, sim, a questão da família: o pai da menina que foi assassinada é contra a redução.

Sobre a terceira, adoraria, mesmo sem apoiar o regime de lá… Mas escuta, por que Cuba entrou nessa discussão?

Só coloquei a minha opinião pra não dizerem que fiquei em cima do muro, mas ela não faz diferença nenhuma. Mesmo. E, com todo o respeito, a sua opinião também não faz diferença nenhuma, porque essa é a discussão errada, a discussão que só vai tomar nosso tempo e que não vai mudar nada, seja qual for o resultado. O que a gente tem que se perguntar também é: Por que é que a gente tá discutindo isso? ou Qual é a discussão que realmente vai mudar alguma coisa? Se não começarmos a pensar isso juntos, as chances das coisas mudarem são bem pequenas.

 

Por que as pessoas falam tanto? Por Eliane Brum

Por que as pessoas falam tanto?  Por Eliane Brum

Uma vez passei dez dias num retiro de meditação vipassana, no interior do Rio de Janeiro, para fazer uma reportagem para ÉPOCA. Havia muitas regras. Uma delas era o silêncio. Por dez dias era proibido falar. Também devíamos evitar olhar para as outras pessoas. O objetivo era silenciar a mente até que não houvesse nenhum ruído também dentro de nós. Foi uma experiência fantástica, que me mudou para sempre. Nunca antes estive tão em mim. E nunca depois voltei a estar.

O silêncio e um progressivo mergulho interno, em vez de me alienar do mundo, me conectaram a ele de um modo até então inédito para mim. Eu sentia cada segundo, por que eles demoravam a passar. Percebia o vento e as nuances das cores do céu e das folhas das árvores em detalhes. Olhava, cheirava, ouvia e tocava o mundo como se tudo fosse novo. Cada centímetro de terra era capaz de me ocupar por minutos. Sem palavras, a realidade me alcançava com mais força. Finalmente eu não apenas compreendia, mas vivia a poesia de Alberto Caeiro: “Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo”.

Antes que alguém tenha ideias, experimentei tudo isso sem nenhuma droga. Nenhuma mesmo. Não podíamos tomar álcool, fumar ou ingerir qualquer medicamento, nem mesmo aspirina. Minha droga era a lucidez. Naqueles dez dias, ouvi com mais clareza a mim mesma. E passei a escutar melhor o mundo em que vivia. Senti que finalmente estava no mundo. Eu era.

No décimo dia, voltamos a falar. O retiro acabaria no dia seguinte e precisávamos nos preparar para retornar a uma realidade cotidiana de ruídos e demandas excessivas. Lembro que eu não queria falar. Fiquei assustada quando todo mundo começou a falar ao mesmo tempo. Percebi que a maioria do que se dizia nunca deveria ter sido dito. Sobrava.

Uma parte eram fofocas que haviam sido guardadas por dias. E que poderiam ter ficado impronunciadas para sempre. Percebi, principalmente, que depois de dez dias de silêncio muitas de nós não queriam ouvir. Só falar. Poucas eram aquelas que realmente desejavam escutar a experiência da outra, a voz da outra. A maioria só queria contar da sua. Não tinham sentido falta de outras vozes, apenas do som da sua. Dez dias de silêncio não tinham sido suficientes para acabar com nossa surdez à voz alheia.

A reportagem foi publicada, com o título de “O inimigo sou eu”. Eu segui, guardando em parte o que aprendi lá. E tenho sentido falta daqueles dez dias de silêncio, agora que aumenta em níveis quase insuportáveis a poluição sonora dentro e fora de mim.

Acho que nunca escutamos tão pouco. E talvez por isso nunca fomos tão solitários. Quando faço palestras sobre reportagem, os estudantes de jornalismo costumam perguntar o que devem fazer para se tornarem bons repórteres. Minha resposta é sempre a mesma: escutem. Acredito que mais importante do que saber perguntar é saber escutar a resposta. Não apenas para ser um bom jornalista, mas para ser uma boa pessoa. Escutar é mais do que ouvir. Como repórter e como gente esforço-me para ser uma boa “escutadeira”.

É a escuta que nos leva ao mundo. E é a escuta que nos leva ao outro. Quando não escutamos, nos tornamos solitários, mesmo que estejamos no meio de uma festa, falando sem parar para um monte de gente. Condenamo-nos não à solidão necessária para elaborar a vida, mas à solidão que massacra, por que não faz conexão com nada. Não escutamos nem somos escutados. Somos planetas fechados em si mesmos. Suspeito que essa é uma época de tantos solitários em grande parte pela dificuldade de escutar.

Basta observar. As pessoas não querem escutar, só querem falar. Depois de muita observação, classifiquei cinco tipos básicos de surdos. Há aqueles que só falam e pronto. Emendam um assunto no outro. Fico prestando atenção para detectar quando respiram e não consigo. Acho que inventaram um jeito de falar sem respirar. E ganhariam mais dinheiro se entrassem em algum concurso de tempo sem oxigênio embaixo d’água. Aí, pelo menos, ficariam quietas.

Existem aqueles que falam e falam e, de repente, percebem que deveriam perguntar alguma coisa a você, por educação. Perguntam. Mas quando você está abrindo a boca para responder, já enveredaram para mais algum aspecto sobre o único tema fascinante que conhecem: eles mesmos.

Há aqueles que fingem ouvir o que você está dizendo. Você consegue responder. Mas, quando coloca o primeiro ponto final, percebe que não escutaram uma palavra. De imediato, eles retomam do ponto em que haviam parado. E não há nenhuma conexão entre o que você acabou de dizer e o que eles começaram a falar.

Existem aqueles que ouvem o que você diz, mas apenas para mostrar em seguida que já haviam pensado nisso ou que sabem mais do que você, o que é só mais um jeito de não escutar.

Há ainda os que só ouvem o que você está dizendo para rapidamente reagir. Enquanto você fala, eles estão vasculhando o cérebro em busca de argumentos para demolir os seus e vencer a discussão. Gostam de ganhar. Para eles, qualquer conversa é um jogo em que devem sempre sair vitoriosos. E o outro, de preferência, massacrado. Só conhecem uma verdade, a sua. E não aprendem nada, por acreditarem que ninguém está à altura de lhes ensinar algo.

É claro que há um mix das várias espécies de surdos. E devem existir outras modalidades que você deve ter detectado, e eu não. O fato é que vivemos num mundo de surdos sem deficiência auditiva. E uma boa parte deles se queixa de solidão.

É um mundo de faladores compulsivos o nosso. Compulsivos e auto-referentes. Não conheço estatísticas sobre isso, mas eu chutaria, por baixo, que mais da metade das pessoas só falam sobre si mesmas. Seu mundo torna-se, portanto, muito restrito. E muito chato. Por mais fascinantes que possamos ser, não é o suficiente para preencher o assunto de uma vida inteira.

Num ótimo artigo, intitulado Escutatória, o escritor Rubem Alves diz: “Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular”.

Quando não escutamos o mundo do outro, não aprendemos nada. Acontece com o chefe que não consegue escutar de verdade o que seu subordinado tem a dizer. A priori ele já sabe – e já sabe mais. Assim como acontece com a mulher que não consegue escutar o companheiro. Ou o amigo que não é capaz de escutar você. E vice-versa.

Tornamo-nos muito sozinhos no gesto de não escutar. Em Revolutionary Road (Sam Mendes, 2008), traduzido para as telas de cinema do Brasil como “Foi apenas um sonho”, a cena final é a síntese dessa relação simbiótica entre surdez e solidão. Não a surdez causada pela deficiência auditiva, mas essa outra de que falamos, esta que é mais triste por ser escolha. Quem viu, não esqueceu. Quem não viu, pode pegar o dvd em qualquer locadora. Essa cena final vale por alguns milhares de palavras.

Sempre pensei muito sobre por que as pessoas falam tanto – e por que têm tanta dificuldade de escutar. Qual é a ameaça contida no silêncio? O que temem tanto ouvir se calarem a sua voz por um momento? Por que precisamos preencher nosso mundo – inclusive o interior – com tantos ruídos?

Acho que cada um de nós poderia parar alguns minutos e fazer a si mesmo estas perguntas.

Percebo também que há uma pressão para que nos tornemos falantes. Ser falante supostamente seria uma vantagem no mundo, especialmente no mundo do trabalho. Mesmo que você não diga nada de novo, mesmo que você repita o que o chefe disse com outras palavras. Mas falar, qualquer coisa, é marcar presença, é uma tentativa de garantir-se necessário. E ser quieto, calado, é visto como um tipo invisível de deficiência. Como se lhe faltasse algo, palavras. Mas será que as palavras estão ali, nessa falação desenfreada? Ou melhor, será que quem fala está realmente naquele discurso? Tenho dúvidas.

Por qualquer caminho que se possa pensar, me parece que o silêncio soa ameaçador. Em parte, pelo que ele pode dizer sobre nós. Enchemos nossa vida de barulho, da mesma forma que atulhamos nossos dias de tarefas, com medo do vazio. Tarefas em uma agenda cheia constituem outro tipo de ruído. E o vazio também é uma forma de silêncio.

Em rasgos de intolerância, achava que os falantes compulsivos eram apenas muito chatos e muito egocêntricos. Que as pessoas não escutavam – o silêncio e o outro – por prepotência. Mas acredito que é bem mais complicado que isso.

Há dois livros muito interessantes que pensam sobre a escuta. A Hermenêutica do Sujeito, de Michel Foucault (Martins Fontes), e Como Ouvir (Martins Fontes), um livrinho pequeno e precioso de Plutarco. Eles mostram que escutar é se arriscar ao novo, ao desconhecido. Na audição, mais do que em qualquer outro sentido, a alma encontra-se passiva em relação ao mundo exterior e exposta a todos os acontecimentos que dele lhe advêm e que podem surpreendê-la. Ao ouvir, nos arriscamos a sermos surpreendidos e abalados pelo que ouvimos, muito mais do que por qualquer objeto que possa nos ser apresentado pela visão e pelo tato.

Faz muito sentido. As pessoas não escutam porque escutar é se arriscar. É se abrir para a possibilidade do espanto. Escancarar-se para o mundo do outro – e também para o outro de si mesmo.

Escutar é talvez a capacidade mais fascinante do humano, por que nos dá a possibilidade de conexão. Não há conhecimento nem aprendizado sem escuta real. Fechar-se à escuta é condenar-se à solidão, é bater a porta ao novo, ao inesperado.

Escutar é também um profundo ato de amor. Em todas as suas encarnações. Amor de amigos, de pais e de filhos, de amantes. Nesse mundo em que o sexo está tão banalizado, como me disse um amigo, escutar o homem ou mulher que se ama pode ser um ato muito erótico. Quem sabe a gente não experimenta?

Escutar de verdade implica despir-se de todos os seus preconceitos, de suas verdades de pedra, de suas tantas certezas, para se colocar no lugar do outro. Seja o filho, o pai, o amigo, o amante. E até o chefe ou o subordinado. O que ele realmente está me dizendo?
Observe algumas conversas entre casais, famílias. Cada um está paralisado em suas certezas, convicto de sua visão de mundo. Não entendo por que se espantam que ao final não exista encontro, só mais desencontro. Quem só tem certezas não dialoga. Não precisa. Conversas são para quem duvida de suas certezas, para quem realmente está aberto para ouvir – e não para fingir que ouve. Diálogos honestos têm mais pontos de interrogação que pontos finais. E “não sei” é sempre uma boa resposta.

Escutar de verdade é se entregar. É esvaziar-se para se deixar preencher pelo mundo do outro. E vice-versa. Nesta troca, aprendemos, nos transformamos, exercemos esse ato purificador da reinvenção constante. E, o melhor de tudo, alcançamos o outro. Acredite: não há nada mais extraordinário do que alcançar um outro ser humano. Se conseguirmos essa proeza em uma vida, já terá valido a pena.
Escutar é fazer a intersecção dos mundos. Conectar-se ao mundo do outro com toda a generosidade do mundo que é você. Algo que mesmo deficientes auditivos são capazes de fazer.

Texto de Eliane Brum
Fonte indicada: Revista Época

Meu cérebro toca música

Meu cérebro toca música

Minha mãe sempre me contava que, quando eu era bebê, meu pai tocava flauta para eu dormir.

Cresci ao som da música, pois em minha família havia vários músicos amadores. Minha mãe tocava piano, meu pai tocava flauta e cavaquinho, dois dos meus tios tocavam acordeon e um deles era cantor.

Meu tio Alberto, mais conhecido como Tata, morava perto da minha casa e eu ouvia quando ele estava tocando. Ia correndo para lá e ficava fascinada olhando o seu dedilhado nas teclas e quando ele sacudia o fole do acordeon.

Bem perto dali, em uma simples garagem, um marceneiro trabalhava durante o dia, mas à noite, naquele mesmo espaço, alguns músicos se reuniam: o marceneiro, que tocava violão era o seu “Ditinho do Mestre”, apelido que recebeu porque era filho do maestro da banda, o sr. José Pedro, que viveu até cem anos.

Havia também o Joaquim, que todos chamavam de “Minhoca”, que tocava bandolim e o “Lino Frô”, cantor. A respeito desses dois apelidos nunca descobri o motivo.

Outro cantor era o Eurico e mais um violeiro: o Mário.

Depois do jantar, meu pai me falava: – Hoje vamos à boate!

Naquela época eu não sabia o significado da palavra boate. Para mim era aquele pequeno espaço cheio de alegria, onde meu pai tocava cavaquinho.

Quando eu tinha mais ou menos onze anos, quis aprender a tocar acordeon.

Havia uma professora que dava aulas e comecei a aprender na casa dela. O que eu queria muito era ter o meu próprio instrumento. Porém meu pai não podia comprá-lo.

Quando meu avô faleceu, minha mãe recebeu uma herança e a primeira coisa que ela pensou foi em comprar um acordeon para mim.

Havia uma loja em minha cidade e lá fui eu muito feliz com a minha mãe para comprar o instrumento. O dono da loja pediu para que eu experimentasse o acordeon e então toquei uma das músicas que já sabia de cor.

Minha mãe ficou muito orgulhosa e aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida.

Passei a treinar várias vezes ao dia. Chegava até a ter dor nas costas.

Um dia os amigos do seu “Ditinho do Mestre” resolveram comemorar o aniversário dele em um espaço maior, com palco e tudo.

Havia muitos números musicais e também comes e bebes.

Meu nome estava incluído para tocar uma música, mas, quando me chamaram, não tive coragem de tocar para toda aquela gente, pois era muito tímida. Meu pai quase morreu de desgosto.

Então percebi que tinha que enfrentar aquela timidez. Comecei a tocar no aniversário de minhas primas, nas festas juninas da vizinhança, nas homenagens que fazíamos para os professores da escola.

Durante à noite eu sonhava com as melodias diferentes com suas notas musicais. Quando me levantava, pegava meu instrumento e colocava meus sonhos em prática. Descobri que estava compondo.

Na rádio eu ouvia as paradas de sucesso e já ia correndo tocá-las de ouvido. Minha mãe dizia que eu não devia fazer isso porque corria o risco de ter erros. Na época, quando queríamos uma partitura tínhamos que encomendá-la para alguém trazer da capital.

Quando completei dezoito anos, me formei professora e aí começou outra etapa da minha vida.

Lecionei em zona rural e na cidade, fazendo com que as crianças também gostassem e dessem valor à música.

Eu tocava e eles cantavam. Preparava teatros e sempre fazia o fundo musical. Tempos depois, comecei a ensaiar bandinhas rítmicas.

Meus alunos adoravam tudo isso.

Uma vez fui convidada para tocar quadrilha na APAE (Associação de Pais e Amigos do Excepcional). Fiquei emocionada ao ver que algumas crianças participavam da dança em cadeiras de rodas. Foi fantástico!

Aos vinte e quatro anos eu me casei e fui morar em outro Estado, bem longe de minha terra natal. Mas levei comigo o meu querido instrumento musical, meu companheiro das horas tristes e alegres.

Quando estava feliz, tocava músicas animadas, quando triste, músicas melancólicas e às vezes até chorava.

Meus vizinhos gostavam de me ouvir tocar, até que um dia meu marido disse que aquilo era serviço de quem não tinha o que fazer. Meu mundo desmoronou, mas mesmo assim eu continuava com as minhas músicas quando ele não estava em casa.

Depois de alguns anos, nasceram minhas filhas e meu tempo foi ficando curto. Na época, elas passaram a ser minha nova paixão.

Já tinha voltado a residir em minha cidade e às vezes tocava o acordeon, principalmente nas escolas onde lecionava.

Até que chegou a minha aposentadoria. Chegaram também minhas netas e o meu acordeon ficou de férias. Está guardado na caixa, num cantinho do meu quarto, aquele mesmo instrumento que minha mãe comprou com o dinheiro da herança.

Mas a música continua no meu cérebro. Às vezes, de madrugada, eu penso nas músicas que mais tocava, principalmente naquela que mais gostava: O tango La Cumparsita.

Deitada em minha cama, abraçadinha com a felicidade, fico pensando nas notas que compõem as canções e ouço as medodias em meu cérebro. É maravilhoso.

Parece que “meu cérebro toca música!”

Enide Niero Conti

01/08/2015

16 frases impactantes de Frida Kahlo

16 frases impactantes de Frida Kahlo

A mulher de flores na cabeça, bordado colorido e testa proeminente. Ela encontrou na arte o melhor caminho para uma mente cansada e um corpo exaurido pela dor. Uma mulher que conheceu bem o sofrimento: passou por mais de 30 cirurgias, mas reuniu forças para continuar. No mais, muito sofreu por amor; um amor doentio e volátil. Falamos, é claro, Magdalena Carmen Frida Kahlo Calderón: Frida Kahlo.

Trata-se da pintora autodidata mexicana que ainda hoje é sinônimo de empoderamento e liberdade, inteligência e personalidade. Ela é a feminista que vestiu o orgulho de ser mexicana, de ser mulher apaixonada e sonhadora.

É reconhecida como um dos maiores nomes da pintura mexicana, e seu trabalho, documento metafórico que retrata a sua vida, é um dos mais valorizados e admirados não só no México, como internacionalmente. Trouxemos aqui não a pintura, mas algumas das frases mais conhecidas de Frida para que conheçamos a sua visão poética do mundo.

“Pés, por quê os amaria, se eu tenho asas para voar?”

“Se eu pudesse lhe dar alguma coisa na vida, eu lhe daria a capacidade de ver a si mesmo através dos meus olhos. Só então você perceberia como é especial para mim. ”

“Eu sou a desintegração.”

“Amuralhar o próprio sofrimento é arriscar que ele te devore a partir do teu interior.”

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“Bebia para afogar as mágoas, mas as malditas aprenderam a nadar.”

“Pinto a mim mesma porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor.”

“Acho que é melhor nos separarmos e eu ir tocar a minha música em outro lugar, com todos os meus preconceitos burgueses de fidelidade.”

“Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como o gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.”

“(E o que mais dói) é viver num corpo que é o sepulcro que nos aprisiona (segundo Platão), do mesmo modo como a concha aprisiona a ostra.”

“Espero que a partida seja feliz e espero nunca mais voltar.”

“Se existe vida após a morte, não me esperem, porque eu não vou.”

“Diego, houve dois grandes acidentes na minha vida: o bonde e você. Você, sem dúvida, foi o pior deles.”

“Creio que o melhor é partir, ir-me e não fugir. Que tudo acabe num instante.”

“Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade.”

“A dor é parte da vida e pode se tornar a própria vida.”

Tive um sonho, de Hugo Santos (Interpretação de José-António Moreira)

Tive um sonho, de Hugo Santos (Interpretação de José-António Moreira)

Tive um sonho
(Hugo Santos)

Tive um sonho: uma escola aberta, voltada para a luz dos astros, com uma vozinha a inquirir-me do fundo da sala: «Eh, professor, tu sabes isto?». E eu a dizer que não e a esperar que me ensinem.

Tive um sonho: uma escola sem horários, aberta de manhã à noite, com as paredes forradas de pássaros e de sonhos, e com bolas de sabão voando por dentro do coração das palavras e dos números.

Tive um sonho: uma escola sem planos, sem fichas, sem esboços, com a vida sentada a nosso lado, a ensinar-nos as canções de todas as infâncias e a mostrar-nos por onde passam os rios de todas as memórias.

Tive um sonho: uma escola com o chão atapetado de música, para que nos passos ressoem os acordes dos assombramentos.

Tive um sonho: uma escola dentro dum oceano, para que todos pudéssemos ser pescadores de pérolas e utopias.

Tive um sonho: uma escola debruçada para o país que somos e para o país que temos, para que professores e alunos aprendam todos os dias onde descansam os vales, vigiam as serras e o coração das coisas adormece no justo lugar em que as palavras e as emoções se confundem.

Tive um sonho: uma escola com uma floresta crescendo por dentro das salas, alcatifada de nenúfares, com a luz a bater nas folhas das palavras e os frutos crescendo nas pequenas mãos entreabertas.

Tive um sonho: uma escola que diga: «Aqui é a tua casa. Entra». E, ao entrar nos apercebamos de que aquela é a nossa casa e que, para lá dela, todas as outras casas nos pertencem.

Tive um sonho: uma escola onde o olhar saiba adormecer serenamente como os silêncios e não seja precisa a voz para proclamarmos a festa de estarmos.

Tive um sonho: uma escola onde ensinar e aprender sejam sinónimos e não se saiba nunca o suficiente para nos congratularmos com o êxtase da sabedoria.

Tive um sonho: uma escola, um álamo, um rouxinol anunciando as albas e os crepúsculos. E nós a garatujarmos em papel transparente o coral duma lágrima de emoção inesperadamente sobrevinda.

Tive um sonho: e por dentro do sonho uma casa, uma escola, um regato de peixes prateados. E o Sol, grande, de mil cores, dos desenhos das crianças a pousar-nos nas mãos enternecidas.

Interpretação de José-António Moreira

Não sei quantas almas tenho, Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho, Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu ?”
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

No vídeo, interpretação de José-António Moreira

Um retorno à casa da infância

Um retorno à casa da infância

Não é por acaso que quando retornamos à casa onde crescemos, tudo parece menor. Os cômodos são vistos por diferentes perspectivas e o que parecia uma caverna secreta sob a escada, nada mais é do que um pequeno vão estrutural.

Assim como a nossa visão da casa transmuta-se em novas formas, mudam também as memórias e os sentimentos relacionados a elas.

Na casa da minha infância, o pai não era bem-vindo. Como ele sempre teve seus negócios em outros estados, sua chegada era um momento de tristeza e perda da liberdade para brincar e sonhar sem censura. Muitas de suas falas eram brindadas com um sorriso irônico e palavras de desdém e humor debochado que sempre desvalorizava a esposa e aos filhos. Era daquele tipo clássico: bom para as pessoas de fora e ruim para a família.

Apesar de tudo, havia em sua chegada uma esperança que surgia da minha ingenuidade infantil: ganhar um brinquedinho novo! Do sofá da sala, ele ouvia meus pedidos. Às vezes comprava, em outras, negava e em outras ainda, em atitude de humilhação, amassava a uma nota de dinheiro e jogava para eu correr pegar. Minha mãe, já com o olhar de sonho desgastado, intervinha e interrompia o ciclo do abuso. Com seu salário suado de professora, dava um jeito e comprava o brinquedinho, assim como sustentava a casa sozinha.

Na época, a sequência de atitudes como essa, traçava suas marcas na carne, mas o tempo apaga os rancores e, das lembranças de maior crueldade, só restou o desinteresse afetivo pela figura paterna.

Naquela casa, entretanto, existia amor de mãe e, atravessando a rua, todo o aconchego do afeto dos avós. Embora também não houvesse cumplicidade fraterna, pois a irmã saiu ao pai, no quintal reinava um espaço de sonhos para satisfazer a imaginação de qualquer criança. Muita terra, galinheiro, balanço na árvore. A distração das tardes era seguir carreira de formiga, brincar com os gatos e fazer expedições aos pontos mais distantes do quintal – desafiando todo o medo que a empreitada exigia. Com relação ao taquaral, a mãe avisava do risco de cobra ou de alguém escondido. Mas sabe como é criança, vai onde não pode e vê para crer. Quem construiu o balanço? Claro que foi o avô!

No quintal da minha infância, desvendei mistérios, encontrei pedras que, para mim, eram preciosas, testei os limites do fogo, tive contato e respeito pela natureza em encontros com lagartos, cobras, gambazinhos e um dia até um tatu-bola que pensei ser um gato enrolado. Cresci, balançando em pé de ameixa, comendo a goiaba na árvore e fazendo milhares de bolinhos de barro. Eram bem servidas as minhas bonecas.

Crescer, trouxe a consciência das atitudes perversas, mas como um plano distante. Não há perfeição em família e é só essa compreensão que permite que o espaço vago seja destinado ao cultivo de pequenas margaridas. Onde um dia foi encontrada terra seca e infértil, é possível achar os caminhos para a criação dos sonhos pelo afeto que transborda de outros familiares. No brincar, extravasar frustrações e construir novos sonhos. Em outras pessoas queridas, encontrar as figuras substitutas que nos regam com amor e exemplo.

Para olhos tristes, violetas na janela. Para o suspiro pesado do desabafo, brisa com cheiro de mato. Para os momentos tensos, abraço de mãe e o mimo dos avós.

Passeando pela casa da minha infância, conheci nuanças da maldade humana, mas, encontrei abrigo na fantasia e na proteção familiar. As marcas não tão bonitas de desamor paterno cicatrizaram devagarinho. Não sei exatamente se trouxeram alguma maturidade, mas, com certeza banharam-me de poesia.

Hoje já não há pai, mas, a casa continua repleta de sonhos.

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