Não julgue a cultura alheia com teus olhos, diz muçulmana

Não julgue a cultura alheia com teus olhos, diz muçulmana

“A questão de orar ou de rezar nunca foi motivo de briga. A gente estuda o passado para entender o presente. Ninguém nunca matou o vizinho por causa de Deus, é só um pretexto”, avaliou a muçulmana Paloma Awada, de 32 anos, sobre possíveis conflitos que diferenças entre religiões podem causar nas relações humanas. Filha de um imigrante libanês muçulmano em São Paulo com uma brasileira católica, ela segue o islamismo desde criança.

Eu fiquei interessada em conversar com algum muçulmano sobre o sentido da vida por conta do atentado terrorista ao jornal Charlie Hebdo na França no começo de janeiro, que ampliou os debates sobre conflitos entre diferentes crenças no mundo. Encontrei Paloma pela internet e ela me recebeu para uma conversa em seu local de trabalho, no Centro de São Paulo.

Apesar de a família materna dela não seguir o Islã, a economista me disse que sempre conviveu com a colônia árabe na cidade de São Paulo por causa da família paterna, o que a aproximou da religião. Afirmou que as diferentes crenças nunca foram motivos de intrigas entre seus pais (que acabaram se separando, mas por outras razões).

“O quesito religião nunca atrapalhou. Religião nenhuma nunca atrapalha. São sempre outros interesses. Se você reza de um jeito e eu de outro normalmente isso não vai afetar minha relação com você, normalmente não é isso. O que tem por trás nunca é isso. Sempre é um cunho político ou financeiro. Na verdade, sempre é financeiro. A política dá poder e dá finanças.”

Sobre a questão do atentado na França, cravou acreditar ser errado matar em qualquer contexto. “Qualquer ato de morte é absurdo em qualquer lugar do mundo, mas é uma forma que esses povos têm de reivindicar algum direito que alguém algum dia tirou deles.”

Avaliou que essa violência é originada por outra violência anterior, citando toda a questão histórica que envolve desde colonização por países Europeus, guerras e até mesmo a soberania dos Estados Unidos no mundo. “Você ataca o país, você tira seus líderes, você mata, você denigre a imagem daquela cultura, daquele povo. Você vende para o mundo que aquele povo é terrorista.”

Na opinião dela, tudo isso faz com que o resto do mundo enxergue os países árabes como um lugar onde só tem bombas, terrorismo e mulheres apedrejadas. “Tem isso, mas não só isso. Tem uma cultura por trás disso. Quem vê de fora não adianta julgar, não julgue a cultura alheia com teus olhos, não faça isso, porque se eles estão assim há 1,4 mil anos é porque eles gostam, e quem não gosta, saia.”

Sentido da vida

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‘O quesito religião nunca atrapalhou. Religião nenhuma nunca atrapalha. São sempre outros interesses’, disse Paloma (Foto: Arquivo Pessoal)

Para Paloma, a vida é uma ponte, um aprendizado. “Você vem para fazer algumas coisas, para aprender e ensinar outras. E o mais importante, na minha opinião, é que a pessoa tem sempre se esforçar para viver da melhor forma possível.”

Avaliou que Deus concedeu ao ser humano a inteligência. “Com a sua inteligência você pode fazer milagres, você pode trabalhar, gerar, cair e levantar muitas vezes e procurar sempre, sempre fazer aquilo que faz você feliz, o que te traz felicidade, e o que te traz felicidade não pode ser alguma coisa que traga infelicidade aos outros. Se você quer ser feliz e está fazendo infeliz todo mundo ao seu redor, tem alguma coisa errada.”

Islamismo

Paloma afirmou que sempre gostou muito de estudar as diferenças entre as crenças e, quando pequena, chegou a frequentar outros templos religiosos. “Eu sigo o Islã porque minha família segue, e lógico que eu estudei isso, eu não sou muçulmana só porque me disseram ‘você é muçulmana’. A gente acredita em Deus, assim como outras religiões também.”

Afirmou que o Islã nada mais é do que uma continuação do cristianismo, do judaísmo, e que, para ela, Deus é um só. “Existe um criador de tudo isso. Ele se chama Deus. Em português é Deus, em árabe é Alá, em inglês é God. Deus que é uma luz suprema, uma energia suprema.”

Crê, ainda, que os profetas são mensageiros. “Na verdade, o profeta Muhhamad é uma continuação, ele não falou nada de diferente de Moisés, nada de diferente de Abraão, nada de diferente de Jesus Cristo. Nada.”

Véu

Já foi ao Líbano muitas vezes e disse que é bastante envolvida com as ações da colônia islâmica em São Paulo – em algumas épocas da vida mais, outras menos. Optou por usar o véu aos 14 anos. Revelou que sempre se sentiu mais protegida com o acessório, principalmente com relação ao assédio frequente de homens pelas ruas de São Paulo, que não mexem com a mulher quando está com véu, disse.

Por outro lado, já perdeu vagas de emprego e até mesmo foi impedida de fazer uma prova num concurso público por estar com a cabeça coberta. Sem contar as brincadeiras frequentes que ouve de desconhecidos sobre a vestimenta. “Às vezes tem brincadeiras que pesam. Algum cliente que faz uma graça, como ‘vou te pedir desconto, mas não me explode’. Você até leva na brincadeira, mas tem situações que não é legal.”

Revelou que a maioria das mulheres de véu no Brasil acaba trabalhando com a família ou em entidades árabes. “O mercado de trabalho tem um padrão e ele não absorve, isso é fato.”

Por conta disso, trabalha com comércio no Centro de São Paulo. Afirmou que essa questão profissional é a que mais a coibiu ao usar o véu. “São coisas aqui no Brasil que ainda limitam um pouco, são normas. Eu respeito, quando isso vai acabar? Não sei.”

Difícil não é encontrar o amor da sua vida. É se dar conta de que ele chegou faz tempo.

Difícil não é encontrar o amor da sua vida. É se dar conta de que ele chegou faz tempo.

Você já deve ter ouvido a história do casal perfeito que se encontrou no congestionamento. Cada um em seu carro, seguiam rumos contrários quando suas janelas se emparelharam com perfeição no tráfego lento.

Um buscava uma estação no rádio, o outro caçava uma bala na bolsa, um roía as unhas e o outro pensava na vida, um fazia contas de cabeça, o outro fazia nada. Naquele instante, o universo inteiro se resumiu às duas almas paradas ali, em seu encontro. Não havia mais o resto, nem antes nem depois, hoje, amanhã, passado, futuro, não havia nada além dos dois ali e isso era tudo. Eram só ele e ela, ele e ele, ela e ela. Não importa. Fato é que se olharam e se amaram assim, sem mais, na eternidade de um segundo infinito.

Namoraram, fizeram planos, casaram, criaram filhos e viveram felizes para sempre. Até o trânsito seguir e eles nunca mais se encontrarem na vida. Pelo menos não nesta encarnação.

Penso nessa história sempre que vejo alguém pontificando sobre almas gêmeas, tampas da panela, metades da laranja e essas coisas que quase sempre só aumentam a ansiedade das almas afoitas, à espera. Porque eu tenho a impressão de que todo mundo já achou ou há de achar seu amor perfeito, mas quase ninguém se dá conta de quando ele chega. Não percebe quando ele está por perto. Talvez porque nem sempre o nosso “amor perfeito” seja exatamente assim: perfeito.

Tal como cada um de nós, bichos incompletos, aquele que nos espera também haverá de ser cheio de falhas, confuso como o sentimento amoroso que nasce sempre de nós, por nós, para nós.

Verdade é que o amor chega, sim. Chega para todos. Mas nem todo mundo percebe. Ora fica mais, ora menos. Ora parte, ora volta, começa do nada, acaba com tudo. Ora se reinventa e recomeça e dura até só Deus sabe quando. Imperfeito e inacabado em toda a sua perfeição.

Não, eu não sei bem o que estou dizendo, minha gente, não guardo certeza de nada. Mas me faz bem imaginar que no meu aqui dentro tem um jardinzinho, coisa pouca, umas mudas, duas, três ervas da gente fazer chá. E uma flor, sozinha entre as hortelãs e as cidreiras e os boldos e azedinhas, bem aqui comigo. Essa flor, pequena e bela, transpira da terra um perfume que é a calma impressão de que já encontrei por aí o amor da minha vida. E foi um bocado de vezes.

Cuido do jardinzinho inteiro, mas me demoro em minha flor. Ela me lembra quantas vezes o amor veio, ficou, partiu, voltou e o quanto revirou o melhor e o pior aqui dentro, porque é aqui dentro que o amor verdadeiro espera. Aqui ele nasce, vive, cresce, deita suas raízes com força na terra, espalha suas folhas no quintal e só então, mais tarde, floresce para fora, para o mundo. Para sempre.

Lá, em seu tempo sem hora, há de compartilhar suas cores e seu perfume com outras flores, até só Deus sabe quando. Quem sabe aconteça hoje, agora, amanhã, depois, mais tarde. Quem sabe já ou não mais nesta encarnação. Quem sabe.

Podíamos ser todos urubus

Podíamos ser todos urubus

É melhor ser urubu ou beija-flor? Assim, fazendo a pergunta à queima-roupa, acho que tem chance dessa pesquisa dar 100% de votos a favor do beija-flor. Mas eu vou tentar fazer a defesa do urubu.

Há muito tempo, li em algum lugar que os urubus têm o voo que é considerado o mais bonito de todos os pássaros. Essas coisas que a gente lê e depois não se lembra de onde leu, mas a informação fica estocada em algum lugar do cérebro. E vendo os urubus voarem, eu tive que concordar. Eles planam pelas correntes de ar quente, quase sem esforço. Olhando pra eles, parece que estão sempre voando só pelo gosto de voar, não pela necessidade de fazer alguma coisa, como fugir de um predador ou buscar comida, como os outros pássaros. Urubus são diferentes. Parece que nunca têm pressa e que só mesmo o prazer de voar é que os move… Ainda que racionalmente a gente saiba que eles devam estar sempre procurando comida, claro.

Pombas, pardais e sabiás dão a impressão de que estão sempre atrasados e que têm um horário pra cumprir ou um trabalho por fazer. Voam com pressa, não muito longe do chão, batendo as asas para ganhar velocidade, enquanto os urubus na maior parte do tempo planam e voam muito mais alto que todos eles.

Eu trabalho de frente para uma janela, no quarto andar de um prédio, o que quer dizer que eu tenho visto um monte de urubus. Eles têm aparecido bastante por aqui e costumam pousar no prédio em frente, voando em círculos perto dele, sempre tranquilos, com aquela elegância de quem sabe que vai dar tudo certo no final, gastando o mínimo de energia possível.

De uns tempos pra cá, também tenho visto um casal de carcarás (imagino que seja um casal, já que sempre voam juntos). Eles aparecem mais raramente, pela manhã e pela tarde, como se estivessem primeiro indo e depois voltando do trabalho, sempre com pressa, apesar de terem um voo mais conformado e mais tranquilo, próximo ao dos urubus, mas muito mais objetivo. Eles sabem que estão indo para algum lugar e parece que não podem se atrasar. Não têm tempo para planar, precisam bater suas grandes e potentes asas e chegar logo.

As maritacas, por outro lado, estão sempre em bando e em altíssima velocidade, fazendo muito barulho e apostando corrida, como se fossem adolescentes que acabaram de aprender a voar. Saindo pelas ruas da cidade, parece que somos todos maritacas.

Ou pior ainda, beija-flores. Um beija-flor está sempre voando rápida e desesperadamente para dar conta de um apetite voraz, que consome até 30 vezes o seu peso em alimento por dia, levando o coração a bater mais de 2000 vezes por minuto, enquanto as asas chegam a 90 vezes por segundo, gastando de 6.600 a 12.400 calorias por dia.

Tudo é tão rápido e desenfreado na vida de um colibri que o único objetivo que ele pode ter é conseguir se alimentar para manter o voo rápido em busca da comida que vai manter o voo rápido em busca da comida que vai manter o voo rápido em busca da comida, a cada segundo e a cada dia. Um beija-flor não tem tempo nem para olhar a paisagem, só o tempo de pousar em um galho e tomar fôlego, antes de sair novamente em um voo rápido atrás da comida que vai manter o voo rápido atrás da comida que vai manter o voo cada vez mais rápido de um beija-flor sempre insaciável, que nunca pensa que o sentido de tanta correria é só alimentar a própria correria que não permite que ele pense. Correria que vai consumir a sua vida enquanto ele voa cada vez mais rápido até a próxima flor, ou, se morar na cidade, até o próximo recipiente cheio de água açucarada, mais fácil de consumir que as flores que traz no nome.

E ainda assim, ninguém quer ser urubu. Que pena.

Talvez depois dessa argumentação, apresentando urubus e beija-flores através de pontos de vistas diferentes, a resposta possa mudar. Tudo é relativo. Alguém que nunca se viu como urubu, talvez agora já possa se imaginar planando em uma corrente de ar quente, acima dos prédios da sua cidade.

Em tempos tão binários, apreciar o voo dos urubus pode ser uma forma de começarmos a ampliar os nossos horizontes.

As sobrancelhas de Frida

As sobrancelhas de Frida

Deitada em sua cama, durante um longo período de convalescença, Frida pintava. Na arte, a sua figura encontrava expressão. De um espelho, seu retrato surgia na tela. Da imagem resultante, a mulher emblemática por suas cores intensas, dores constantes e intenso amor: o amor pelo México, seu país; o amor por Diego, seu marido infiel.

Frida pintava a si mesma porque, como ela mesma dizia, era o assunto que melhor conhecia.

Sobre seus olhos, uma ponte escura e densa emoldurava o olhar. Suas sobrancelhas eram expressão conectada assim como eram seus sentidos mais puros e sua dor. Nada poderia ser separado sem levar a destruição de todo o ser.

Todos nós, em proporções variadas, temos um pouco de “Frida” e, por isso, a adoramos. Nós também somos cores, intensidade, dores e amores. Somos o que a vida fez de nós e o que fizemos com o que fomos nos tornando. Somos, Frida bem o sabia, “integração e desintegração”, um ciclo perpétuo de reconstrução interna.

Sem a pólio, o acidente com o bonde, Diego e a dor, talvez Frida nunca tivesse chegado até nós. Ela seria uma outra Frida. Talvez não tão sofrida… Assim também somos nós, consequências de nossas próprias histórias, de nossos próprios acidentes, sobreviventes das etapas da vida, muitas vezes até vítimas de nós mesmos.

Para seguir é preciso engolir a culpa e a não aceitação. É necessário abandonar o gosto amargo dos problemas insolúveis e permitir que sejam digeridos e sigam seu caminho possível. Talvez não haja tanta saúde, dinheiro ou a beleza idealizada, mas é preciso que exista o perdão.

Quando perdoamos a nós mesmos, aprendemos a perdoar também aos outros. E o perdão, sentimento superior, é o material de que são feitas as pontes que abrem e reconstroem caminhos, que ligam o nosso melhor e o nosso pior, tornando-nos quem realmente somos, um todo.

Pontes como as das sobrancelhas de Frida, a mulher que pintava a si mesma e que sabia que somos nós mesmos, o nosso melhor material artístico. Somos inspiração, arte e contemplação. Somos começo, meio e fim.

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Frida, by Lita Cabellut

Os mais inesquecíveis trechos do livro “A insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera

Os mais inesquecíveis trechos do livro “A insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera

“Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está a nossa vida, e mais ela é real e verdadeira. Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes. Então, o que escolher? O peso ou a leveza?”

“Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço. No entanto, mesmo ‘esboço’ não é a palavra certa porque um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro.”

“Só é grave aquilo que é necessário, só tem valor aquilo que pesa.”

“‘Tem de ser assim’, Tomas repetia para si mesmo, mas logo começou a ter dúvidas: teria mesmo de ser?”

“Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento.”

“…será que um acontecimento não se torna mais importante e carregado de significados quando depende de um número maior de circunstâncias fortuitas?”

“Mas o amor nascente aguçou nela a percepção da beleza, e ela jamais esquecerá essa música. Toda vez que a ouvir, tudo o que acontecer em torno dela, nesse momento, ficará impregnado com seu brilho.”

“Aquele que deseja continuamente ‘elevar-se’ deve esperar um dia pela vertigem. O que é a vertigem? O medo de cair? Mas porque sentimos vertigem num mirante cercado por uma balaustrada? A vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio embaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual logo nos defendemos aterrorizados.”

“Mas era justamente o fraco que deveria saber ser forte e partir…”

“Aquilo que não é consequência de uma escolha não pode ser considerado como mérito ou fracasso. Diante de uma condição que nos é imposta, é preciso, pensa Sabina, encontrar a atitude certa. Parecia-lhe tão absurdo insurgir-se contra o fato de ter nascido mulher quanto glorificar-se disso.”

“Por mais cruel que tenha sido a vida, no cemitério sempre existe a mesma serenidade.”

“São precisamente as perguntas para as quais não existem respostas que marcam os limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras da nossa existência.”

“Os regimes criminosos não foram feitos por criminosos mas por entusiastas convencidos de terem descoberto o único caminho para o paraíso. Defendiam corajosamente esse caminho, executando, por isso, centenas de pessoas. Mais tarde ficou claro como o dia que o paraíso não existia e que, portanto, os entusiastas eram assassinos.”

“Quando nos defrontamos com alguém que é amável, atencioso e delicado, é muito difícil ficar convencido a cada instante de que nada do que é dito é verdadeiro, de que nada é sincero. Para duvidar (contínua e sistematicamente, sem um segundo de hesitação), é necessário um esforço gigantesco e muita prática.”

“Já havia compreendido que as pessoas se alegravam tanto com a humilhação moral do próximo, que jamais abriam mão desse prazer ouvindo explicações.”

“No começo do Gênese está escrito que Deus criou o homem para reinar sobre os pássaros, os peixes e os animais. É claro, o Gênese foi escrito por um homem e não por um cavalo.”

“Não estava certo de ter agido bem, mas estava certo de ter agido como queria.”

Da obra “A Insustentável Leveza do Ser“, de Milan Kundera.

Fonte: Fragmentos – uma coleção

Amar sozinho é desamor

Amar sozinho é desamor

Amar sozinho é o auge da resiliência. É se acostumar com a solidão por achar que a companhia do amor que sente é suficiente. Preferir sentir a frustração da falta de companhia do que a tristeza da partida do amor.

É ouvir as músicas que o outro ouve, ver os filmes que ele posta que viu, vasculhar os títulos que ele tem no Skoob. Amar sozinho é não perceber que é exatamente no que você conhece e o outro não que está a riqueza da vida e que dizer “nunca ouvi falar” é uma deixa muito mais instigante para uma conversa. Mas quem ama sozinho não quer estar com o outro para trocar, quer ser o outro para viver. Se moldar sem perceber que molde e forma são diferentes e não iguais.

Quem ama sozinho tem tão pouco, que se apega à quase nada. Amar sozinho é transformar uma mensagem boba num motivo para acreditar, uma noite em declaração de amor. É ler e buscar entrelinhas onde elas não existem, esquecer o discurso e se preocupar em tentar achar nos pronomes escondidos um motivo para se sentir atingido por cada frase.

Criar uma expectativa que excede o bom senso e a sanidade. É saber como o outro vai executar cada movimento em direção ao beijo, mesmo sabendo que ele pode nunca mais acontecer. É sonhar com o tato da ponta dos dedos se arrastando pelo seu corpo e acordar com a frustração dormindo ao lado.

Quem ama sozinho prefere sempre o passado ou o futuro, e nunca o presente. Fica na estação parado vendo o trem passar e não aceita um novo destino nunca, porque pra quem deposita todas as suas esperanças no outro, ele é o caminho. O sonho não é andar lado a lado, é acompanhar o outro onde ele for.

Quando se ama sozinho, é fácil ver no outro a perfeição e fechar os olhos para possibilidades imperfeitas e reais. Porque amar sozinho é acreditar que só existe uma chance de ser feliz. É perder o bilhete da loteria sem saber se ele estava premiado e sofrer mesmo assim.

Amar sozinho é sentir a crueldade de um sentimento que só existe para a plenitude. Amar sozinho é a pior forma de desamar a si mesmo.
Por Marina Melz
Fonte: Entenda os Homens

Eu sou do tamanho do que vejo- Alberto Caeiro

Eu sou do tamanho do que vejo- Alberto Caeiro

Alberto Caeiro foi uma personagem ficcional (heterônimo) criada por Fernando Pessoa, sendo considerado o Mestre Ingenuo dos restantes heterônimos (Álvaro de Campos e Ricardo Reis) e do seu próprio autor, apesar de apenas ter feito a instrução primária.

Foi um poeta ligado à natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, afirmando que pensar obstrui a visão (“pensar é estar doente dos olhos”). Proclama-se assim um anti-metafísico. Afirma que, ao pensar, entramos num mundo complexo e problemático onde tudo é incerto e obscuro. À superfície é fácil reconhecê-lo pela sua objetividade visual, que faz lembrar Cesário Verde, citado muitas vezes nos poemas de Caeiro por seu interesse pela natureza, pelo verso livre e pela linguagem simples e familiar. Apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos” que só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade. É um poeta de completa simplicidade, e considera que a sensação é a única realidade. (Wikipédia)

Abaixo, um de seus poemas mais conhecidos.

Eu sou do tamanho do que vejo


Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer

Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura…
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, in “O Guardador de Rebanhos – Poema VII”
Heterónimo de Fernando Pessoa

Bonito é ver um ‘eu te amo’ surgindo do nada

Bonito é ver um ‘eu te amo’ surgindo do nada

Bonito é ver o ‘eu te amo’ saindo do corpo antes das palavras, antes da boca, antes do orgulho ceder e da razão concordar. Antes da vida se encaixar.

Bonito é ver o ‘eu te amo’ estampado na temperatura da pele, no vermelho da face, nos olhos surpresos, nos gestos, no afeto cru e sem jeito. Nas vontades dos pelos.

Bonito é ver um ‘eu te amo’ encontrando o outro, em plena explosão de coincidências.

Bonito é ver que ‘eu te amo’ é química, é magnetismo que age com as próprias leis.

Instintivo, encontra seu coração-alvo pela variação químico-física das ondas sonoras da aura. Bonito é ver um ‘eu te amo’ que não precisa ser inventado pela situação e nem precisa ser dito. Ele está muito longe de ser frases para dizer bom dia e até a próxima.

Bonito é ver o ‘eu te amo’ girando o mundo. Encurtando as distâncias, derrubando as máscaras. Querendo ser maior que tudo.

Bonito é ver um ‘eu te amo’ que não sabe mais se esconder. Bonito é sentir o ‘eu te amo’ crescendo em meu peito antes de me dar conta dele. Bonito é acordar de sobressalto no meio dos dias e perceber o inesperado, um ‘eu te amo’ tão vivo e pronto para alçar voo.

Bonito é ver o ‘eu te amo’ amadurecendo antes de mim, de você, de nós. E seguirmos nossas vidas, e fingirmos que não vimos, mas vimos. E fingirmos que ele não existe, mas existe. E quer colo e quer leito e seiva. E quer se fazer notar.

Bonito é ver um ‘eu te amo’, reconhecê-lo e o deixa-lo ser, e abrir caminhos para ele passar. Bonito é ter olhos e corações de ver e viver ‘eu te amos’.

Quando é preciso dar um gelo

Quando é preciso dar um gelo

Tínhamos em casa um peixinho azul,  um beta de um olho só – Pedro Caolho- que teve uma vida feliz e tediosa em seu diminuto aquário, até que ficou velhinho e já estava caminhando para as últimas nadadas. Um dia, ligamos para o veterinário com o peixinho agonizando, e ele deu as seguintes instruções: Coloquem-no em um saquinho  plástico, fechem e ponham no freezer. O frio vai anestesiá-lo e ele vai dessa para melhor sem agonia nem dor. E assim foi. O gelo trouxe a libertação do nosso peixinho.

Isso me fez lembrar a expressão: Dar um gelo em alguém, ou colocar na geladeira. Colocar na geladeira é fantástico! Você envolve a criatura que te prejudicou ou magoou, ou qualquer coisa que você não caiu bem no clima polar da indiferença. Você demonstra como um abraço caloroso poderia ser tão mais feliz de que a solidão numa caixa branca gelada, quando a luz se apaga e tudo é inércia e frio.

No caso do nosso peixe,  a geladeira foi um alívio para ele. No nosso caso, a vantagem troca de lado. Somos nós que nos aliviamos guardando a distância do que nos faz mal.

Não é bom ser vingativo, é péssimo. Mas não estamos falando de vingança, e sim de uma chance de defesa para quem não tem pronta resposta, não é bom de briga, não sabe jogar os jogos humanos com a devida frieza (opa, mais gelo). Não é cabível viver em desvantagem, há que se tirar vantagem de alguma outra estratégia.

Nesse contexto e com toda a falta de lógica que nos é particular, eu diria.:

Coloque na geladeira, para que você não estrague: Quem não se importa com você, quem suga sua boa disposição, quem não tem tempo para estar com você, quem te machuca ,  quem compete o tempo todo com você, quem não reconhece você como você…

Uma vez na geladeira, feche a porta e não ouse abrir com a desculpa de que está com fome. Fome de aquecer o que te tira o sono? Beliscar o que te esvazia a alma?  Segure as pontas e não abra essa porta. Deixe um tempo na geladeira todas as pessoas e os sentimentos que atrapalham o  seu caminho. Deixe que o frio entorpeça as mentiras, que o gelo desmaie os abusos. E, quando abrir a porta branca novamente, aqueça só o que estiver bom, saudável e nutritivo para a sua vida. Se algo estragou ou morreu, descarte dignamente,  sem apego, sem culpa. Não foi seu gelo que matou a relação , foi a falta de calor que nunca foi suficiente para mantê-la viva.

Eu gosto de gente doida

Eu gosto de gente doida

Eu gosto de gente doida.

Gente que coloca cor na vida, que fala demais, que tem ideias próprias e impróprias, que perde o senso e os limites do politicamente correto e do permitido. Que fala alto, que ri alto, que vive alto. Que canta, mesmo desafinando. Que dança, mesmo descompassando. Que é bobo alegre e feliz por nada. E quando triste, sabe fazer piada.

Gosto de gente que não fere ninguém, assim diretamente, às vezes só com as indiretas.

Pessoas doidas e livres, que são o que são. Que têm a liberdade de não enxergar os seus excessos. Que não se podam. Que têm opinião sobre tudo e que são donas de suas verdade – apesar de sabe-las efêmeras. Seus mundos são fantasias concretas. E tão estáveis quanto uma nuvem.

Perdem horas palestrando sobre seus universos e vivem neles diariamente. Não querem sair, querem que as pessoas entrem.

Gosto de gente doida, que se diferencia, e que por isso inspira.

Gente que escancara as portas do peito e deixa a vida entrar.

Gente que se move, que discorda, que sofre, que não se entrega, que não sabe voltar a ser o que era, se é que já foi, algum dia, outra coisa além de doida.

Gente que tem personalidade, tanta, que vira história, que vira referência, que vira centro das atenções e nem precisa subir num palco. Gente que vira assunto naqueles momentos chatos.

Gosto de gente forte na doidice. Gente assumida! Que saiu do armário ainda criança.
Eu sigo essa gente, eu rio com essa gente, eu choro com essa gente, eu me encontro nessa gente.

Eu fico hipnotizada com os doidinhos que equilibram a falta de sensatez do mundo.

Elos saudáveis se constituem bem mais devagar

Elos saudáveis se constituem bem mais devagar

Certas pessoas, em especial algumas mulheres, logo depois uma intimidade erótica “casual”, rapidamente estabelecem um forte elo sentimental.

As pessoas que se ligam sentimentalmente muito rapidamente costumam fazê-lo sem prestar atenção ao que está acontecendo com seu interlocutor.

Quando uma pessoa se liga sentimentalmente à outra que não foi consultada e não pretendia isso, fica criada uma situação de difícil solução.

Aqueles que se ligam rápida e intensamente tendem a acreditar que o parceiro também esteja sentindo o mesmo: e isso não costuma ser verdade.

Os que se ligam dessa forma unilateral e sem consultar os sentimentos dos parceiros tendem a ser autoritários e exigentes de reciprocidade.

Os que exigem reciprocidade se tornam bastante inconvenientes e desagradáveis, afastando quem lhes interessa ao invés de atrair e encantar.

Os que são “vítimas” desse tipo de assédio sentimental costumam se sentir ameaçados e, dependendo do temperamento, reagem de modo bem hostil.

As pessoas que “amam depressa e demais” costumam ter grande dificuldade de romper elos: se ligam depressa e se separam com enorme lentidão!

Elos saudáveis se constituem bem mais devagar: cada um vai sentindo o encantamento e prestando atenção para ver se está sendo correspondido.

Texto de Flávio Gikovate

De uma certa idade

De uma certa idade

Numa era em que a beleza é considerada um valor imperativo, principalmente para as mulheres, certos padrões são impostos e as características de um corpo envelhecido não estão entre eles. No entanto, envelhecer não tem de significar a perda de qualidades, beleza, sensualidade e sexualidade.

Há cerca de dois anos, a atriz brasileira Betty Faria, com 72 anos, foi fotografada na praia em biquíni. Esta situação poderia não ter nada especial se a atriz não tivesse sido insultada nas redes sociais. E porque é que foi insultada? Porque se achou que foi uma”falta de bom senso” e que “uma senhora de 72 anos deveria ter mais dignidade” e, portanto, não usar um biquíni. O policiamento do corpo envelhecido de Betty Faria não foi uma situação única, visto que muitas outras pessoas, em grande parte, mulheres, celebridades ou não, passam pelo mesmo.

contioutra.com - De uma certa idade
A atriz brasileira Betty Faria, com 72 anos, na praia de biquíni

A repulsa que outros sentem pelo corpo de uma mulher “de uma certa idade” faz com que ela própria não se sinta confortável na sua pele e que lute com unhas e dentes contra o passar dos anos.

/de-uma-certa-idade/

Ser-se belx prende-se, essencialmente, com o ser-se jovem visto que a maioria das sociedades, principalmente as ocidentais, relacionam a felicidade e a beleza com a juventude. Os ideais de beleza, que podem ser um valor fundamental principalmente para a Mulher, vão para além das mudanças no corpo – ele tem de permanecer jovem e bonito para sempre. Não é aceitável, nem tolerável, alguém feio, e este facto é-nos apresentado pelas inúmeras imagens comercializadas, publicidade e indústrias da moda e da cosmética. Toda a imagética e o imaginário de alguém velho e bonito não é permitido e, quando ambos estão em sintonia, é porque, aos olhos da sociedade normativa, essa pessoa parece mais jovem do que realmente é.

contioutra.com - De uma certa idade
A atriz norte-americana Cindy Crawford, com 49 anos, numa fotografia sem Photoshop onde mostra a barriga depois de duas gestações.

Para a escritora americana Susan Sontag, no seu artigo “The Double Standarts Of Aging”, “envelhecer é muito mais um julgamento social do que uma eventualidade biológica”. Inevitavelmente, os corpos mudam à medida que se envelhece: a pele perde tom e elasticidade, o cabelo vai ficando grisalho e, no caso das pessoas com útero, o papel social ligado à maternidade chega ao fim com a vinda da menopausa. Então, para a Mulher, envelhecer representa a perda da beleza e sensualidade, que lhe atribuíram valor enquanto jovem, mas também da sua sexualidade. A sexualidade de uma mulher mais velha é, muitas vezes, vista com repulsa pelo facto de se pensar que o corpo perdeu a sua validade e que agora, que já se tem “uma certa idade”, não pode ser mostrado, visto, apreciado e/ou venerado.

Estas normas sociais, que fazem as pessoas pensar de uma dada maneira, reforçam estruturas de poder e dominação masculina.Sentir repulsa do corpo velho de uma mulher é reforçar estruturas de opressão feminina. A depreciação do valor de uma Mulher “de uma certa idade ” enquanto ser humano em função do seu corpo é reforçar uma visão da Mulher apropriada e objectificada.

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A modelo Jacky O’Shaughnessy, com 62 anos, numa campanha da marca American Aparell cujo lema foi “A                                                               sensualidade não tem data de validade”.

O que vale é que estas normas, apesar de persistirem na sociedade e residirem nas mentalidades de cada um, podem ser desobedecidas.Deixem-se envelhecer, sem embaraço. Abracem os corpos e mostrem as vidas que viveram. Sejam felizes.

Por MARGARIDA HENRIQUE
Fonte:O C da Razão

Oração de um apaixonado

Oração de um apaixonado

Que toda queda seja em seus braços

Que toda lágrima seja amparado por seu lenço

Que todo calor que necessite esteja em meu corpo

Que toda umidade seja da minha boca

Que toda calamidade seja ciúmes

Que toda conversa comece com “eu te amo”

Que toda frase trocada tenha a palavra “amor”

 

Que todo espaço seja uma cama

Que toda briga dure um minuto

Que todo silêncio seja um beijo

Que todo ruído seja desejo

Que todo esse amor dure para sempre

Pois quero para sempre ser teu

E tu seres para sempre minha.

 

Amém!

Mario Prata, um grande brasileiro

Mario Prata, um grande brasileiro

Supera em criatividade, inteligência e humor. “Mario Prata Entrevista uns Brasileiros” é leitura obrigatória para quem aprecia textos leves, porém, substanciosos. Combinação magistral. E tratando-se de Mario Prata ela não é novidade. Um dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea é doutor em um dos mais importantes traços da cultura nacional: a arte de falar bobagens. Perspicaz, o mineiro sabe o momento exato de inserir a tirada irreverente. Publicado pela Record, a coletânea com 22 entrevistas, sendo oito inéditas, abusa da originalidade e o cronista garante que foi tudo verdade.

O objetivo maior de um entrevistador é revelar o que há de mais representativo em cada entrevistado. Prata imprimiu em cada uma das personalidades com as quais conversou um tempero particular. Todas as entrevistas possuem um gostinho de Brasil. Da herança portuguesa aos sem fim de idiossincrasias que compõem a identidade brasileira, a sensação do leitor é a de que todos eles são figuraças, cheios de histórias interessantes para serem esmiuçadas.

O escritor, dramaturgo e jornalista brasileiro entrevista, Pedro Álvares Cabral, Iça-Mirim, Padre Anchieta, Bispo Sardinha, Arariboia, Calabar, Chico Rei, Aleijadinho, Xica da Silva, Dona Maria I, Tiradentes, Dom João VI, Dom Pedro I, Maria Quitéria, Marquesa de Santos, Dona Beja, Madame Lynch, Carlos Gomes, Dom Casmurro, Castro Alves, Rui Barbosa e Charles Miller.

“Como eu ia dizendo, casei com o tio Pedro. Que não tinha mais nada a fazer na vida a não ser sexo. Tive sete filhos com ele em quinze anos. É mole? Agora vê, meu amigo, se não era para enlouquecer.”, disse Dona Maria I, segundo a cultura propagou, a louca. Em algumas passagens, o autor não poupa o leitor de um vocabulário de baixo calão quando o assunto – se realmente se desenrolasse em uma mesa de bar – requereria. E tudo é pela confissão que jamais tivemos.

Mario Prata, por exemplo, coloca Tiradentes na parede quando questiona sobre seus filhos. “Como é que o senhor sabe disso?”, pergunta o mártir. “Nasci em Uberaba, e ela [sobre uma neta, a Carolina Augusta Cesarina] teve alguma coisa com um Prata”, disse. “O senhor está querendo me dizer que é meu descendente?”.

O livro, obviamente, terá mais humor para quem conhecer minimamente a história dos personagens, mas não exclui quem não as conhece. Os mais empolgados até se sentirão inclinados a estudar um pouco mais de história do Brasil. “Mario Prata Entrevista uns Brasileiros” é a criatividade a serviço da educação, da formação de repertório porque instiga.

Outro show são as ilustrações de Lézio Junior. Formado em jornalismo, trabalha com ilustração para a Folha de S.Paulo. O caricaturista também já colaborou com outros veículos como a Revista Rolling Stone Brasil, Veja, Época, Playboy, entre outros. No livro, apresenta desenhos maravilhosos, todos com algum traço peculiar mencionado na entrevista. Sobre o substancial, os dados históricos contidos nas entrevistas são resultado de uma pesquisa cuidadosa, validada por um time de historiadores: Angela Marques da Costa, Mary Del Priore, Matthew Shirts e Fernando Morais.

Com mais de 80 trabalhos assinados, entre livros, novelas e peças teatrais, Mario Prata deu início a esse projeto quando a Revista Brasileiros o convidou para realizar algumas entrevistas. A proposta da publicação, a priori, era a de Mario entrevistar pessoas vivas, mas o autor fez uma contraproposta dizendo que só entrevistaria só se fossem pessoas mortas.

Com mais de 50 anos de carreira, Mario Prata tem entre os espetáculos de maior destaque “Fábrica de Chocolate” (1979) e “Besame Mucho” (1982). Na literatura, seus livros mais lidos são “Diário de um Magro” (1997), Sete de Paus” (2008) e “Minhas Vidas Passadas” (2011), só para citar três porque a lista é vasta. “Mario Prata Entrevista uns Brasileiros” é para divertir, informar e dar muito orgulho desse homem chamado Mario, um grande brasileiro.
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Por Eliana de Castro  (Texto reproduzido com a autorização da autora)
Fonte: Setor VIP

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