Supera em criatividade, inteligência e humor. “Mario Prata Entrevista uns Brasileiros” é leitura obrigatória para quem aprecia textos leves, porém, substanciosos. Combinação magistral. E tratando-se de Mario Prata ela não é novidade. Um dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea é doutor em um dos mais importantes traços da cultura nacional: a arte de falar bobagens. Perspicaz, o mineiro sabe o momento exato de inserir a tirada irreverente. Publicado pela Record, a coletânea com 22 entrevistas, sendo oito inéditas, abusa da originalidade e o cronista garante que foi tudo verdade.
O objetivo maior de um entrevistador é revelar o que há de mais representativo em cada entrevistado. Prata imprimiu em cada uma das personalidades com as quais conversou um tempero particular. Todas as entrevistas possuem um gostinho de Brasil. Da herança portuguesa aos sem fim de idiossincrasias que compõem a identidade brasileira, a sensação do leitor é a de que todos eles são figuraças, cheios de histórias interessantes para serem esmiuçadas.
O escritor, dramaturgo e jornalista brasileiro entrevista, Pedro Álvares Cabral, Iça-Mirim, Padre Anchieta, Bispo Sardinha, Arariboia, Calabar, Chico Rei, Aleijadinho, Xica da Silva, Dona Maria I, Tiradentes, Dom João VI, Dom Pedro I, Maria Quitéria, Marquesa de Santos, Dona Beja, Madame Lynch, Carlos Gomes, Dom Casmurro, Castro Alves, Rui Barbosa e Charles Miller.
“Como eu ia dizendo, casei com o tio Pedro. Que não tinha mais nada a fazer na vida a não ser sexo. Tive sete filhos com ele em quinze anos. É mole? Agora vê, meu amigo, se não era para enlouquecer.”, disse Dona Maria I, segundo a cultura propagou, a louca. Em algumas passagens, o autor não poupa o leitor de um vocabulário de baixo calão quando o assunto – se realmente se desenrolasse em uma mesa de bar – requereria. E tudo é pela confissão que jamais tivemos.
Mario Prata, por exemplo, coloca Tiradentes na parede quando questiona sobre seus filhos. “Como é que o senhor sabe disso?”, pergunta o mártir. “Nasci em Uberaba, e ela [sobre uma neta, a Carolina Augusta Cesarina] teve alguma coisa com um Prata”, disse. “O senhor está querendo me dizer que é meu descendente?”.
O livro, obviamente, terá mais humor para quem conhecer minimamente a história dos personagens, mas não exclui quem não as conhece. Os mais empolgados até se sentirão inclinados a estudar um pouco mais de história do Brasil. “Mario Prata Entrevista uns Brasileiros” é a criatividade a serviço da educação, da formação de repertório porque instiga.
Outro show são as ilustrações de Lézio Junior. Formado em jornalismo, trabalha com ilustração para a Folha de S.Paulo. O caricaturista também já colaborou com outros veículos como a Revista Rolling Stone Brasil, Veja, Época, Playboy, entre outros. No livro, apresenta desenhos maravilhosos, todos com algum traço peculiar mencionado na entrevista. Sobre o substancial, os dados históricos contidos nas entrevistas são resultado de uma pesquisa cuidadosa, validada por um time de historiadores: Angela Marques da Costa, Mary Del Priore, Matthew Shirts e Fernando Morais.
Com mais de 80 trabalhos assinados, entre livros, novelas e peças teatrais, Mario Prata deu início a esse projeto quando a Revista Brasileiros o convidou para realizar algumas entrevistas. A proposta da publicação, a priori, era a de Mario entrevistar pessoas vivas, mas o autor fez uma contraproposta dizendo que só entrevistaria só se fossem pessoas mortas.
Com mais de 50 anos de carreira, Mario Prata tem entre os espetáculos de maior destaque “Fábrica de Chocolate” (1979) e “Besame Mucho” (1982). Na literatura, seus livros mais lidos são “Diário de um Magro” (1997), Sete de Paus” (2008) e “Minhas Vidas Passadas” (2011), só para citar três porque a lista é vasta. “Mario Prata Entrevista uns Brasileiros” é para divertir, informar e dar muito orgulho desse homem chamado Mario, um grande brasileiro.
Por Eliana de Castro (Texto reproduzido com a autorização da autora)
Fonte: Setor VIP
Na minha opinião, absolutamente todo mundo, em algum ponto da VIDA, vai sofrer um término amoroso. Como diz a diva Warsan Shire: “eu não vou glorificar ou romantizar términos, pra mim foi como uma morte e eu fosse obrigada a continuar vivendo”. É horrível, dói muito e dói por muito tempo – pode não doer na mesma intensidade todo esse tempo, mas não some assim da noite pro dia. Você sobrevive.
É quase sempre a mesma coisa, na verdade: você começa em negação, achando que logo voltam, que não é para valer; passa pela raiva por ele(a), por tudo o que passaram juntos ter sido jogado fora, por você não ter sido uma pessoa valorizada; então vem o desespero porque você percebe que é para valer, que não tem volta e uma parte da sua VIDAacabou. Às vezes, isso tudo acontece num dia só, às vezes leva semanas, meses e até anos. E então tem dois caminhos, que são: 1) superar ou 2) se afundar, chorar, se desesperar, se humilhar, apanhar das amigas e superar. Geralmente, vamos pela segunda opção porque o luto nos abate de tal forma que parece impossível simplesmente superar. E deixa eu te dizer que é okay ter esse período de luto e sofrimento. Você amou aquela pessoa, seria estranho não sofrer com o término. É algo muito difícil de lidar, você sente uma parte de si sendo levada, a vida parece que não tem mais rumo, os seus planos para o FUTUROnão fazem mais sentido porque ele(a) não está mais lá. Você morre um pouco. Você sofre muito.
Eu não sou uma expert no assunto, longe disso – só tive um término na vida, nesses 25 anos – porém conversando com amigas, me pareceu que quase sempre lidamos de uma forma bem parecida com as situações do término. Vamos aos mandamentos, onde podemos te dar uma ajudinha:
1. Não deverás manter contato. O clichezão de quem levou um pé na bunda, né? Mas você vai passar por muitos clichês nessa fase, amigue, pre-pa-ra. Não mande sms, nem whatsapp, não cheque a última vez que a pessoa ficou on no whatsapp, POR NADA nesse mundo cheque o facebook dela. Deixa eu te resumir o que vem com essa manutenção desnecessária de contato: a pessoa vai acabar querendo ser sua amiga (abordaremos o assunto logo).
2. Não fuçarás. Ai que lindo ser amigo de ex no facebook, né? Tão maduros. Até que chega um momento que você vai ver fotos da pessoa indo em festas, aproveitando a VIDA sem você muito bem aproveitada, vai ver outras pessoas dando em cima do(a) seu ex e, pior, ele(a) dando em cima de alguém. Você vai levar uma bela esfregada na cara que a pessoa está feliz sem você. Pode ser que não esteja completamente feliz, pois quem dá o pé na bunda também sofre – desconfio que nem metade do sofrimento de quem leva o pé, mas ainda assim, mas não importa, a pessoa está seguindo em frente. É bom ficar vendo isso? Não, não é. Então poupe sofrimento, se ame um pouco e não fuce. E tem uma situação bem embaraçosa, que acontece quando ele posta algo sobre amor e você acha que é recaída por você e, quando vê, tá namorando outra. Pra que se sujeitar a isso, amiga? De qualquer forma, se sentir que não é necessário desfazer a amizade nas redes sociais, ao menos não siga. Eu acho que não funciona, porque você vai lá na caixinha de busca, abre o perfil da pessoa e fuça em tudo. Amiga, melhore, não tem como te defender, bicha, eu te adoro.
3. Não ficarás amiga. A pior ideia, a pior de todas, pior até que ter recaída, é ficar amiga de ex. Apenas não. Ouve a tia Prih enquanto ela tá viva ensinando: NÃO. FIQUE. AMIGA. DE. EX. Não de imediato. Um dia, quem sabe. Mas de imediato não funciona porque 1) você se submete a isso porque tem esperança que a pessoa se re-apaixone pelo seu eu que vai ser s u p e r gente boa ou 2) você acha que, ficando amiga, consegue transformar seu amor em amizade. Clica aqui rapidinho e continua a ler. Amada, a pessoa não vai se re-apaixonar, porque do nada vai perceber que você é linda e maravilhosa. Ela já te achou tudo isso um dia, adivinha quando? Sim, quando estava contigo. E não está mais. Não passe um sofrimento maior ainda tentando reconquistar ex, você vale muito mais que isso. Se valorize. E, infelizmente, não tem como transformar amor em amizade na força, acreditem em mim, eu tentei demais por meses e no fundo eu continuava amando tanto quanto amava antes, a diferença é que eu sofria mais por absolutamente nada. Um dia, quando as coisas acalmarem e você naturalmente se desapaixonar, talvez haja uma chance de amizade, mas só o tempo vai dizer (play na música do Leonardo. Mentira, volta aqui). E vamos atentar ao detalhe que nem todo ex tem espírito de Deus no coração, então alguns vão usar essa amizade bacana, bonita e sincera para te machucar.
4. Não terás recaídas. Apenas não. É emocionalmente desgastante e você só está dando uma chance pro espírito de capiroto te pisar mais uma vez ou te usar mais uma vez. Se a pessoa quisesse você, estaria contigo, então não faça isso consigo. Depois vai levar na cara das amigas e ainda vai achar ruim.
5. Não beberás. Faz favor. Se você for menor de 18, não é para beber, ouve a tia. Se for maior, também não. Não adianta tomar um porre porque vai continuar solteira, colega. E não adianta se fazer de louca e ligar bêbada, que bêbada não acerta discar número de ex – (porque espero que a essa altura você já tenha deletado o número dele da agenda). Não se faz de desmaiada, Juliana.
6. Não usarás gente aleatória. Não use emocionalmente aquela pessoa bacana que te quer há tempos para superar a cria do tinhoso, ok? Tem gente que prefere superar para, somente então, ficar com outras pessoas e tem gente que sente que quanto mais pessoas ficar, mais rápido supera. Isso vai de cada um. Só não faça isso no nível emocional porque duas pessoas podem sair machucadas, e você já não está muito bem.
7. Não surtarás quando a pessoa namorar alguém. Por favor, não. A pessoa está livre para ficar com quem quiser, não guarde mágoa, só vai machucar você mesma. A(o) nova(o) namorada(o) não tem culpa do término de vocês, mantenha isso em mente. E jamais se compare com a pessoa nova na VIDA dele(a), você não é pior, nem melhor. Não deu certo entre vocês, mas pode dar certo entre eles. Não emita energia ruim porque ela volta.
8. Não manterás contato com a família e amigos dele. Não são seus amigos! Não é mais sua sogra, nem seu cunhado. Você pode sim nutrir um carinho enorme por família de ex, e também pelos amigos, afinal foram parte da sua trajetória. Contudo, se afastar ajuda muito. Você se coloca no seu novo papel de uma forma mais clara pra si mesma, e esse papel é fora da VIDA do(a) ex.
9. Contarás com uma rede de apoio. Por último, mas não menos importante: ela, a rede de apoio. Serve família, amigos e até psicóloga. Conte com eles, desabafe, porque quanto mais falar sobre, melhor você processa. Só não vale ficar obcecada. Há uma diferença absurda entre desabafar e gastar 16 horas ao dia falando do de cujus. Seus amigos terão importância fundamental nessa fase, os ouça porque eles certamente querem seu bem e veem a situação de uma forma muito mais clara do que você, com essa visão embaçada de chorar. Confia nos conselhos.
O caminho para superar é complexo e diferente para cada pessoa. Não se sinta fraca por precisar de ajuda para superar alguém, pelo menos você está aceitando e está buscando ajuda, querendo ficar bem. Fique firme. Acima de tudo: faça coisas que te tragam felicidade e esteja com pessoas que te amam. Com o tempo, as coisas se ajeitam e você encontra alguém muito melhor para você. Ou não encontra. Não faz diferença, realmente, quem está no comando da sua felicidade é você mesma, não delegue esse poder a ninguém.
Recentemente li esse livro, Garota exemplar, um suspense sobre uma mulher que desaparece, e sobre o que seu marido faz diante disso. Ao longo do livro descobre-se que, na verdade, a protagonista finge seu próprio desaparecimento para dar uma lição no seu marido, que não estava agindo como ela gostaria dentro do relacionamento.
Além de todo o suspense, o livro levanta questões sobre o que é ideal em uma mulher e em um namoro. A protagonista fala sobre como ela estava interpretando o que chama de “Garota Legal”, quando conheceu o marido. A Garota Legal é uma mulher gata, que ama esportes, video games, arrotar, sexo e comer muito, mas ela é sempre magra. Além disso, a Garota Legal nunca fica com raiva, nunca reclama, nunca cobra, e seu parceiro vive num mundo de total liberdade, proporcionado por ela.
Esse ideal de relacionamentos, aliado à ideia estereotipada de que mulheres estão sempre atrás de compromisso – não estão, mas se estiverem também, qual é o grande problema? – faz com que muitas meninas sejam logo tachadas de loucas, que correm muito atrás de um romance, e, por isso, a ideia do relacionamento sem cobranças ganha uma cara ainda mais bonita.
No relacionamento sem cobranças, o cara pode combinar de ir no cinema com a mina e desistir sem avisar porque resolveu ir ao bar com os amigos, ele pode não querer nada sério, continuar ficando com a moça e dizer que um namoro seria ótimo “no plano das ideias”, mas que ele já tem muitas responsabilidades na vida, ou seja, no plano do dia a dia não ficaria tudo bem.
E, pasmem, esses exemplos são reais.
Não acredito que haja nada de intrinsecamente errado em resolver ir ao bar com os amigos em vez de ir ao cinema com a garota, ou então em não querer namorar alguém. O que acho é que não avisar que vai faltar e tratar o outro como um fardo é falta de consideração, de respeito e de compromisso.
A promessa do relacionamento sem cobranças então é, na verdade, a promessa do relacionamento sem consideração, sem respeito e sem compromisso. Infelizmente, isso significa dizer que não existe relação positiva nenhuma aí. Um namoro ou um relacionamento sério são marcados por determinadas regras, que são socialmente construídas, aceitas e disseminadas, mas modificáveis dentro de cada casal (ou trio, ou grupo, já que isso é flexível). Você pode considerar essas regras boas ou ruins e se ater ou não a elas.
A questão não é essa.
A questão é que qualquer relacionamento — que não seja sobre conflito — é marcado por algum grau de compromisso com o outro. Seja um relacionamento com amigos, colega de turma, vizinhos ou parentes. Se você vive deixando seus amigos te esperando na porta do cinema, você pode deixar de ser amigo em muito pouco tempo. Relações requerem trabalho, requerem mandar um SMS pra sua mãe quando chegar na casa de fulano, requerem avisar se você não vai poder ir em algum lugar, requerem dar uma ligada pra avisar que chegou bem, requerem alguma responsabilidade e consideração em relação ao outro.
O relacionamento sem compromisso pressupõe necessariamente que compromisso é uma coisa ruim, que responsabilidades devem ser evitadas, inclusive quando são sobre outras pessoas. Entretanto, não é assim que laços se constroem. Relações são sobre dar, receber e retribuir.
Cada um tem que saber o quanto está a fim de investir em cada relação. Mas achar que é possível viver com outra pessoa – veja, viver qualquer coisa, um rolo, um namoro, UMA AMIZADE – sem ter nenhum compromisso é falta de consideração com a outra parte, éumbigation. Infelizmente, o namoro sem cobranças tem se tornado um mito, assim como a Garota Legal, um mito do relacionamento perfeito, em que ninguém briga, ninguém fica com raiva porque não existem vacilos. E, na verdade, os vacilos só estão sendo ignorados.
Criar as próprias regras do seu relacionamento é uma ideia muito legal. Decidir se vocês querem exclusividade ou não, se faz diferença pra vocês ou não que um ligue pro outro pra dizer o que vai fazer no final de semana, se querem conhecer família e amigos ou não. Mas sempre vai existir algum nível de cobranças e responsabilidades, porque ter um laço com outra pessoa significa ter algum carinho e consideração. Os primeiros implicam os segundos.
Então, o mito do relacionamento sem cobranças não passa de um mito porque é um relacionamento em que uma das partes está decepcionada com a outra, em que uma pessoa não liga, não está a fim de se esforçar. O mito é uma narrativa, cheia de fantasia de algo que poderia ser, mas a prática de um relacionamento requer esforço, requer vontade e responsabilidades. Estas não são ruins, simplesmente mostram que você se importa, e que esse se importar é um gostar que está para além do plano das ideias.
Novo produto genial ajuda a perder 12 quilos em 4 semanas. Sopa detox, suco detox, água detox. Em um passeio rápido pelas notícias e listas engraçadas em sites de entretenimento, não é nada difícil pinçar alguns exemplos de uma obsessão pela magreza. As palavras-chave, ali em cima, não enganam – a gente acha exemplos demais, até. Mas por que queremos tanto emagrecer? Por que achamos que magreza = beleza?
Peter Paul Rubens/Reprodução
A preocupação com o ponteiro da balança está longe de ser apenas uma preocupação com a saúde. Essa neura com o peso não vem dos tempos mais remotos. Basta espiar as obras de arte dos séculos passados e ver que a figura feminina idealizada ali concentrava mais gordura do que as top models de hoje. O quadril largo, as coxas generosas, o rosto mais cheinho eram traços pra lá de valorizados nas musas – o que você pode conferir na obra abaixo, As Três Graças, de Peter Paul Rubens, feita em 1635. Ainda que o padrão em si tenha mudado pra valer, a lógica por trás dele permanece. “Os padrões que aparecem ao longo da História são, como regra, acessíveis a poucos”, aponta a psicóloga Joana de Vilhena Novaes, Coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza e representante da Fundação Dove para a Autoestima no Brasil. Quando fazer as três refeições básicas diariamente era um luxo e morrer de fome era um destino comum para as pessoas, a gordura alcançava status de privilégio. Agora, já que temos mais comida à disposição, mais jeitos de conservá-la e nossos armários ficam carregados de biscoitos, salgadinhos e similares, comer é fácil. Portanto, não é de estranhar que as modelos extremamente magras sejam colocadas em um pedestal. É mais difícil ser muito magra com tantas calorias à disposição. O corpo magro e jovem também exige cada vez mais procedimentos estéticos e cirurgias para atingir a dita “perfeição” – ou, pra ser mais direto, exige grana, que vira mais um obstáculo. Imagina só o dinheiro necessário para bancar o 1,5 milhão de cirurgias plásticas realizadas anualmente só no Brasil, de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética.
Mas não é essa a única explicação que surgiu para a mudança nos padrões. Uma delas veio do livro O Mito da Beleza, da jornalista americana Naomi Wolf, publicado na década de 90. A sacada dessa publicação foi relacionar o novo modelo com a emancipação das mulheres, quando tantas delas assumiram postos de trabalho e quando seus direitos passaram a ser assegurados. Em poucas palavras, Naomi defende que há mecanismos que dominam a mulher na sociedade – e, depois de se libertar de um deles, surgiu outro, o tal mito da beleza. E daí viriam os sacrifícios todos, as dietas malucas, as técnicas cirúrgicas incrementadas a cada mês – justamente porque a sociedade passou a pregar que os malabarismos eram necessários para que as mulheres fossem aceitas. E os dados trazidos pela autora assustam, já que demonstram como, pouco a pouco, o problema avançou e tomou forma. As modelos passaram a ser 23% mais magras do que uma mulher padrão (e não mais 8%, como costumava ser, com as moças mais cheinhas). De 1966 e 1969, a porcentagem de alunas que se consideravam gordas saltou de 50 para 80%. Com a onda de dieta ganhando força, Naomi Wolf comparou as calorias que “deveriam” ser ingeridas para alcançar o corpo perfeito – 800, 1000 calorias diariamente. Para ter uma ideia, no gueto de Lodz, em 1941, em pleno nazismo, os judeus se alimentavam de rações que tinham de 500 a 1200 calorias por dia. Não é à toa que chegamos a extremos de magreza por aí.
Modelo que desfilou no Guy Laroche Fashion Show, na Paris Fashion Week de 2007
Hoje, só no Brasil, um terço das meninas que estão no 9º ano do Ensino Fundamental já se preocupam com o peso, de acordo com uma pesquisa de 2013 do IBGE. A nível global, a probabilidade de que uma moça com idade entre 15 e 24 anos morra em decorrência de anorexia é 12 vezes maior que por qualquer outra causa. O Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry constatou que cerca de 60% das alunas no ensino médio já fazem dieta. A preocupação com a balança chega a atingir meninas com 5 anos de idade.
E não é à toa que as vítimas mais comuns sejam as mulheres. A nutricionista Paola Altheia, responsável pelo blog Não Sou Exposição, vai além para explicar a tendência. “Enquanto a moeda de valor masculina na sociedade é dinheiro, poder e influência, a das mulheres é a aparência”, crava. Para a ala feminina, essa pressão toda desemboca em não apenas um modelo estético, mas um modelo de vida. Para ser linda e desejada, para ter um marido perfeito, o emprego dos sonhos, você só tem que ser… magra. Simples né? Mas nem tanto: um dos casos clássicos foi o da dieta da princesa, que fez muito sucesso há algum tempo atrás – no caso, era a princesa Kate Middleton, esposa do Príncipe William, do Reino Unido. Ela, como toda princesa deve ser, é bem magra. O corpo vem de um sacríficio que Kate teve de fazer: o regime incluía muitas proteínas e quase nada de carboidrato. Já dá para perceber que não é lá muito saudável. O que repercutia no imaginário feminino era muito mais a idealização da princesa: a dieta era só mais um modo de alcançá-la. E essa estrutura se repete por aí. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (a Unifesp), em 2002, analisou o valor nutricional de 112 dietas que apareciam nas revistas brasileiras à época. Resultado: só uma delas atendia a requisitos mínimos para garantir a nutrição da pessoa, e a maioria esmagadora era cilada, prejudicando a saúde da pessoa que buscava a boa forma.
Com a ascensão da internet, a coisa piorou. Tumblr, Facebook, Instagram, Twitter e as outras tantas redes sociais colaboram para a obsessão por corpos cada vez mais magros. Esses sites espalham com uma velocidade assustadora ideias sobre a imagem corporal que atingem pessoas do mundo todo, de todas as idades, até mesmo aquela priminha de 12 anos que dá os primeiros passos na web. Exemplos disso são os desafios, que rodam por aí, a fim de “comprovar” que determinada pessoa é magra. Se você consegue cumpri-los, parabéns, você é uma vencedora. Se não, feche a boca. O mais recente é o “collarbone challenge”, que começou na China. Mulheres têm que enfileirar o maior número possível de moedas na clavícula, as famosas “saboneteiras”. Quanto mais moedas, mais enxuta a moça é. Já o “bellybutton challenge” quer que as mulheres encostem no umbigo passando o braço por trás do corpo. Mas atingir tal proeza não é só uma questão de ser ou não magra: fatores como flexibilidade e estrutura óssea também entram em jogo. Encostar no umbigo não é indicativo de nada: muito menos de que alguém está magro ou gordo. A gravidez, que antes era um território seguro, aparentemente entrou no jogo. A nova moda é a “mãe fitness”, com barriga pequena e sarada (mesmo com o volume extra, já que abriga um bebê). Se uma mulher “comum” já se sentia fracassada por não conseguir voltar ao seu peso original – ao contrário das famosas, como vemos por aí -, imagine agora que a obrigação de ser sarada também afeta o período gestacional. São mais e mais imagens (muitas vezes retocadas) que ditam um modelo só. “A imagem da modelo alta, magra, longilínea, caucasiana, sem rugas, manchas ou mesmo poros incessantemente repetida, como uma norma. Esta é a origem do sentimento de inadequação”, reforça Altheia.
A constatação também aparece no livro de Naomi Wolf, que citamos lá em cima. “Uma fixação cultural na magreza feminina não é uma obsessão pela beleza feminina, mas uma obsessão pela obediência feminina”. Qualquer mulher que desobedeça um padrão, voluntariamente ou involuntariamente, é taxada de feia, estranha ou desleixada. Afinal, o corpo da mulher está aí para ser observado.
Santo Agostinho, nas suas Confissões, conta dos seus pecados da juventude, entre eles o seu deleite no furto. Furtava peras azedas do pomar de um vizinho quando, no seu próprio pomar, havia peras doces. É que ele não estava à procura das peras. O seu deleite estava no próprio ato de furtar. Agostinho confessava seu pecado, arrependido. Mas confissões nem sempre implicam arrependimento. É o caso de Picasso, que afirmou, com um sorriso malicioso: “Se existe algo que possa ser roubado, eu roubo”. De fato roubar é algo delicioso. Eu, mais tímido, só me lembro de um modesto roubo de pitangas, já confessado publicamente sem arrependimento. Pecado grave vou confessar agora, também sem arrependimento, muito embora me sinta coberto de vergonha: quando adolescente, a minha leitura favorita, afora o Globo Juvenil, o Gibi e o X-9, de que não me envergonho, era a Seleções do Reader´s Digest. Engolia tudo sem ter a menor ideia de que aquilo era propaganda da american way of life que, diga-se de passagem, tem coisas deliciosas e boas. Pois dentre os artigos havia uma série com o título “O meu tipo inesquecível”. Era sempre um relato sobre alguma pessoa diferente- por isso que se chamava “tipo”-, tão diferente e sedutora que era “inesquecível”.
Pois hoje quero falar sobre um dos meus tipos inesquecíveis. É um pedreiro. Ah! Que injustiça: definir uma pessoa dizendo qual é a sua profissão. Esse é o jeito corriqueiro, bem sei. Sou pedreiro, sou físico, sou padre, sou motorista, sou psicanalista- assim vamos perpetuando essa perversa equação entre o “ser” e o “fazer”, sem nos dar conta de que o “fazer” é apenas um pedacinho de praia nesse mar imenso que é a alma humana. Não. O seu João Januário sabe ser pedreiro, pedreiro muito bom, dos melhores que já conheci. Mas pedreiros bons há muitos. Bons pedreiros são todos iguais. O que me interessa no seu João não é especificamente a sua ciência de construtor. É a sua sabedoria. Eu podia ficar jogando papo fora com eles por horas a fio, sem nunca me cansar. Eu estava sempre aprendendo. Quando não estava aprendendo, estava me divertindo. Quando não estava me divertindo, estava me comovendo, como, por exemplo, ao ver a primeira coisa que ele fazia ao chegar à minha casa. pegava a peneirada piscina e salvava todas as abelhas que estavam se afogando. Foi numa dessas ocasiões que lhe contei a estória de um homem pecador dos piores que foi salvo do inferno por uma única aranha que ele havia salvo: ela se compadeceu dele e jogou, no abismo escuro, um fino fio pelo qual ele subiu. Aí ele redobrou seu cuidado com as abelhas, muito embora, eu tenha certeza de que, se ele não for para o céu, é possível que as privadas de lá se entupam sem que ninguém de lá saiba como desintupi-las. Será que eu disse heresia? No céu tem privada? Deve haver. Claro que tem. Onde há comida tem de haver privada, e está dito que no céu vai hazer um grande banquete. Só que, no céu, tudo é perfumado e bonito. Posso até imaginar que as nuvens branquinhas sejam o que sai dos anjinhos novinhos, as nuvens cor-de-rosa, o que sai dos anjos apaixonados, as nuvens negras, o que sai dos anjos trevosos. Eu e o seu João conversávamos sobre essas profundas questões metafísicas, com a seriedade própria de dois meninos, o que me faz lembrar a definição definitiva de Nietzsche sobre a maturidade como aquela condição em que recuperamos a seriedade que as crianças têm ao brincar.
Voltando às privadas. Aconteceu que uma privada da minha casa ficou entupida, e inúteis foram todos os artifícios comuns aplicados em tais eventualidades. Eu já tinha perdido a esperança e me preparava para mandar arrancar a privada quando o seu João disse, tranquilamente, “Desentope com extintor de incêncio…”. Assustei-me. Achei que fosse brincadeira. Mas ele confirmou sério e acrescentou: “Daqueles que têm uma mangueira de borracha”. Aluguei um extintor, ele enfiou o tubo dentro da privada, calçou muito bem com sacos, segurou firme e disse: “Dê só uma beliscadinha no gatilho”. Foi Vapt-vupt. A privada desentupiu.
Mas a sabedoria dele era ampla, coisa inimaginável. Estávamos, os dois, chupando umas jabuticabas que estavam ficando difíceis de apanhar, lá na ponta dos galhos finos, as mais doces. Lamentei deixá-las para os morcegos. Ele observou: “Aquelas jabuticabas na ponta dos galhos, a gente apanha com um cano de PVC”. Dito isso, pôs-se a andar no quintak, à procura do tal cano que ele logo trouxe. Levou o cano até a gorda e distante jaboticaba, encaixou-a no oco do cano, deu uma chuchada, e esperou que ela escorregasse cano abaixo, até cair na sua mão que, em concha, a esperava na saída do cano.
Mas a maior virtude do seu João era a literatura. Não literatura escrita: literatura oral, fantástica, grande contador de casos impossíveis. Relatou, por exemplo, que, quando era criança, morava numa cidadezinha no alto de uma colina, lugar onde não passavam nem rio nem ribeirão, houve uma chuvarada horrenda, temporal nunca visto. Acabado aquele anúncio de fim de mundo, a meninada foi brincar na enxurrada, coisa deliciosa, os adultos bem que morrem de vontade, não brincam por pura vergonha, coitados, pois o seu João contou e jurou ser verdade que na enxurrada vinham peixes endurecidos, cobertos de gelo, que foram catados, escamados, fritos e comidos. Pensei numa repetição do milagre do maná que Jeová fazia chover no deserto sobre o povo faminto, mas milagres como aquele parece que não acontecem mais; descri, ri, caçoei do seu João, lorota de pescador. Aí, falando sobre o tal causo com um ilustre professor de física da Unicamp, cujo nome não vou revelar para que ele não caia em descrédito, ele me disse que ele mesmo já havia presenciado portento parecido, só que não eram peixinhos, mas sapinhos congelados. E logo me ofereceu uma teoria meteorológica para explicar o milagre- quem sabe o professor Sabatini, que fala sempre sobre as maravilhas da ciência, poderia lançar um pouco de luz sobre o caso. O que seria irrelevante para o causo do seu João, pois literatura não se faz com acontecidos ou por acontecer, mas com o maravilhoso, o fantástico, tal como escreveu o Saramago, fazendo voar a passarola de Bartolomeu de Gusmão, o padre voador, às custa das vontades dos homens morrentes que a vidente Blimunda engarrafava no momento mesmo em que deixavam o corpo dos moribundos em campos de batalha e de peste. Se o Saramago pode, o seu João pode também.
Depois foi o caso das seriguelas, frutinhas amarelas lindas que recebi de presente pelo correio de Maria Antonia, ex-aluna poetisa. Foi o início de um outro causo. seu João disse que os pés de seriguela crescem nas margens dos rios, sendo grandemente apreciados pelos pintados, peixes enormes. Aí ele relatou um acontecido maravilhoso. Estavam ele e uns companheiros numa praia de rio, pescando descuidados, deitados à sombra de uma seriguela e se deleitando com seus doces frutos amarelos. Não sabiam que aquela árvore e seus frutos eram propriedade particular de um enorme pintado que, vendo assim invadidos os seus domínios por tão desavergonhados gatunos, irou-se do outro lado do rio onde havia ido visitar a namorada, e veio num nado furioso na direção dos ladrões. “Aí, seu Rubem, quando ele chegou perto, saltou para fora do rio e deu uma rabanada tão forte na água que ficamos todos ensopados.” Eu nada disse, sabedor que os causos do seu João são sempre verdadeiros. Apenas lhe ofereci uma seriguela, não sem antes me certificar de que não havia nenhum pintado nas proximidades.
Foram os piores anos da minha vida.” A frase ainda é dita com sofrimento pela estudante carioca Chanel de Andrade Rodrigues, de 18 anos. Ela está no 1o ano da faculdade de artes, mas não esquece o período em que estudou no Santo Agostinho, do Rio de Janeiro, um dos colégios mais tradicionais e bem-conceituados do país. Do 7o ano do ensino fundamental ao 1o ano do ensino médio, passou seus dias perdida entre aulas que não acompanhava, um enorme volume de conteúdos para memorizar, provas difíceis, notas baixas e um séquito de professores particulares a cada final de ano letivo. Na escola, não gostava de sair para o recreio e não comia nada. Em casa, compensava a ansiedade comendo demais. Na escola anterior, menos rígida, onde tirava boas notas, costumava nadar e fazer aulas de dança. No Santo Agostinho, evitava as aulas de educação física. Chanel entrou em depressão e engordou 20 quilos.
A mãe tentou convencê-la a fazer terapia, mas ela se recusava. “Eu só queria ser invisível”, afirma. “Odiava a competitividade que estava sempre no ar.” Só depois que Chanel foi reprovada, no 1o ano, sua mãe decidiu trocá-la de escola. (Procurado por ÉPOCA, o Santo Agostinho não respondeu aos pedidos de entrevista.) O caso de Chanel é apenas um entre centenas que revelam uma realidade incômoda: o custo emocional alto – muitas vezes altíssimo – do modelo de eficiência adotado naquelas escolas que exigem alto desempenho dos alunos e garantem todo ano boas colocações nos melhores vestibulares.
Consideradas as melhores do país, quase sempre campeãs nas provas nacionais de avaliação, as escolas de ensino tradicional representam, na mente de muitos pais, uma esperança de sucesso para a vida dos filhos num mercado de trabalho competitivo. Apesar de seus resultados inquestionáveis e da procura crescente por escolas desse tipo, esse modelo agora começa a ser mais e mais questionado por seus efeitos colaterais.
SOB MEDIDA Giulianna Freitas, de 12 anos, no colégio tradicional em que estuda, em São Paulo. Ela tira de letra regras como uniforme impecável e contato restrito com meninos
O ensino tradicional surgiu na Europa do século XVIII como um modelo em que os alunos são ensinados e avaliados de forma padronizada. Ele se inspira na ideia de que a mente das crianças é uma tabula rasa, um espaço em branco sobre o qual os diversos conteúdos – gramática, matemática, ciências, história etc. – devem ser inscritos seguindo um método rigoroso de exposição e avaliação. Mais do que qualquer outra aptidão, valoriza o acúmulo de conhecimento: quanto mais fatos e fórmulas o aluno aprende, mais bem avaliado ele é.
Há, ainda, uma forte pressão por desempenho nas provas e um grande volume de conteúdo a estudar. As escolas tradicionais também costumam ser mais rígidas em regras de comportamento, como respeito ao horário, frequência às aulas, uso de uniforme e atitude no recreio. Apesar de ter incorporado conceitos pedagógicos mais modernos, a essência do modelo tradicional de ensino permanece a mesma – e a educação tradicional está em alta no mundo, com filas de espera para matrículas e salas abarrotadas de alunos.
A grande procura por uma vaga numa dessas escolas se explica pelo desempenho acima da média de seus alunos. No Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que classifica as escolas públicas e particulares a partir das notas tiradas numa prova feita pelos alunos, é decisivo para a família na hora de escolher onde matricular seus filhos. Há anos, os colégios mais tradicionais e rígidos ocupam o topo da lista. “É comum hoje em dia pais e mães compararem as posições das instituições em que seus filhos estudam. Se os resultados das escolas não são bons, bate o sentimento de que se está fazendo algo errado”, afirma Quézia Bombonato, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia.
Em Vinhedo, no interior de São Paulo, uma escola aberta em 2001 mostra essa tendência. O Colégio de Vinhedo, que busca alunos de classe média alta, reproduz uma escola tradicional europeia. Os alunos usam uniformes formais, os professores vestem ternos e tailleurs. A própria decoração da escola parece de outro tempo – embora, dentro da sala de aula, haja lousas interativas, câmeras e laptops para cada aluno. Há ênfase no conteúdo e na disciplina. “Nossa ideia é resgatar valores que são esquecidos”, diz o diretor, Eduardo Cumone. “Também temos uma carga horária maior, para que haja melhores resultados.” A proposta da escola encontra eco nos pais. A procura triplicou nos últimos cinco anos. Em 2001, havia uma única turma por série; em 2012, haverá duas ou três.
OPOSTOS Os irmãos Gustavo e Leonardo, de 15 e 12 anos, no bairro onde moram, em São Paulo. Gustavo pediu um colégio mais rigoroso. Leonardo se deu bem em uma escola com menos cobrança
Os rankings de avaliação também puxam a educação para o lado mais rígido em outros países. “Nos Estados Unidos, está havendo um retorno à tradição, amparado na crença de que pontos na competição internacional são importantes”, diz o psicólogo americano Howard Gardner, criador da Teoria das Inteligências Múltiplas, que propõe vários tipos de inteligência além daquela medida por testes de Q.I. Na Europa, acontece o mesmo. O Reino Unido é um bom exemplo. No fim de 2010, a Secretaria de Educação anunciou uma reforma no ensino que inclui o “retorno aos valores tradicionais”: mais conteúdo, mais disciplina – e até a obrigatoriedade de roupas s mais formais na rede pública, com aventais para as meninas e terno e gravata para os meninos. No anúncio, o secretário Michael Gove mostrou sua preocupação com a queda do país nos rankings mundiais de educação. “Vamos voltar ao topo”, disse.
O ensino tradicional ganhou ainda mais adeptos recentemente com o lançamento do livro Grito de guerra da mãe tigre. Nele, a advogada sino-americana Amy Chua relata sua experiência na criação de duas filhas com rigidez e exigências que beiravam o absurdo. Ambas eram proibidas de ficar abaixo do 1o lugar na classe e tinham de realizar atividades extracurriculares dificílimas escolhidas pela mãe – uma se tornou exímia violinista e a outra pianista. Pela defesa desses padrões quase marciais de ensino, Amy chegou a ser ameaçada de morte na internet. Mas seu livro entrou rapidamente na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos. Isso expõe o medo de toda a nação de se ver rebaixada nas listas internacionais de melhores alunos.
Para quem consegue seguir em frente e encarar tantas exigências, o ensino tradicional pode dar certo. Giulianna Freitas, de 12 anos, cursa o 7o ano do colégio Dante Alighieri, um dos mais antigos e tradicionais de São Paulo. Está lá desde os 3 anos. Ela diz que adora. Afirma tirar de letra as regras rígidas da escola, entre elas uniforme impecável e as restrições ao contato afetivo entre meninas e meninos. “Não me vejo em outro colégio”, diz. Sua mãe, a dentista Ana Claudia Garcia de Freitas, afirma ter escolhido o Dante pelos ótimos laboratórios e pelas bibliotecas. E também por ter sido sua escola – e a de sua mãe. “É uma tradição na família.”
Mas os educadores têm visto com ceticismo cada vez maior o sucesso desse modelo. Eles alertam sobre vários problemas que decorrem da estratégia convencional, baseada na combinação de competitividade e pressão por notas. A primeira limitação é a seleção natural que põe em prática. Esses colégios selecionam os alunos na hora da matrícula – com os famosos “vestibulinhos” – e, depois disso, acabam selecionando, pelo grau de dificuldade em acompanhar o ritmo, aqueles que ficam. “Valorizamos o conteúdo e somos inflexíveis em nossa filosofia de foco no professor, cultura clássica e disciplina”, diz Maria Elisa Penna Forte, supervisora do colégio carioca São Bento, que só aceita meninos e foi quatro vezes campeão nacional do Enem. “Os pais querem que os filhos se saiam bem aqui, mas, em muitos casos, isso não acontece. Aí o melhor é mudar de escola.”
A pressão por boas notas pode causar estresse e doenças emocionais. E não garante sucesso no futuro
São escolas que, naturalmente, funcionam para os melhores. E os melhores, por motivos óbvios, não são todos. Nem sequer são a maioria. “No caso das escolas tradicionais e seus vestibulinhos, não são os pais que escolhem a escola. É a escola que acaba escolhendo os alunos que quer”, diz Victor Paro, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Para ele, essa situação põe em xeque a própria qualidade desse tipo de ensino. Essas instituições têm as melhores médias de desempenho por terem a melhor pedagogia ou porque os alunos que passam pelo funil são os mais inteligentes, portanto serão os melhores, independentemente do método de ensino? “Certamente, elas têm valor. Mas é fato que, para entrar, os alunos já têm de ser bons”, diz Paro.
SENSIBILIDADE A estudante de artes Chanel Rodrigues, de 18 anos, faz desenhos em casa, no Rio. Ela entrou em depressão nos anos em que estudou em um colégio tradicional
Uma das grandes dificuldades dos pais é aceitar que a maioria dos filhos não se enquadra ou não tem condição de acompanhar o grau de exigência das escolas mais competitivas. Alguns pais acreditam que tirar o filho da escola mais conceituada é sinal de fracasso. Insistem nela – e isso acaba pesando ainda mais sobre os ombros do estudante. “A criança sofre porque não tem o perfil para aquele tipo de colégio”, diz Fábio Barbirato, chefe do setor de Neuropsiquiatria da Infância e da Adolescência da Santa Casa, no Rio de Janeiro. “Os pais precisam conhecer o perfil de seus filhos.”
A política de seleção dos melhores não pode servir para educar a média das crianças, uma exigência social. Não há nada a opor a uma política de seleção rigorosa. Mas um país que precisa oferecer educação de qualidade para todos precisa se preocupar com aqueles que não passam por esse funil – a ampla maioria.
O ambiente de alta pressão tem ainda um custo emocional para aqueles que não se adaptam. Em geral, aumenta o nervosismo da criança, que fica exposta a um grau elevado de exigência antes de ter amadurecido. Os sintomas são noites maldormidas ou mesmo crises nervosas antes de algumas provas. Em alguns casos, o peso da cobrança pode gerar traumas. O médico Barbirato tem promovido uma cruzada contra os transtornos de ansiedade causados pela vida escolar. Diz que, diariamente, na clínica e em seu consultório particular, atende crianças em sofrimento decorrente da pressão dos estudos. Para Jorge Harada, chefe da área de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria, o estresse dessas escolas desencadeia um processo orgânico que pode levar à perda da imunidade e causar até anemia. “Vivemos numa sociedade competitiva, mas a escola não pode ser uma fábrica de pessoas em série. É preciso respeitar as singularidades de cada um”, diz.
MOTIVAÇÃO Artur e Olívia na Escola Parque, de linha construtivista, no Rio de Janeiro. A mãe deles os tirou de uma escola tradicional, embora tivessem boas notas. Ela diz que eles estavam “no automático”
Nos Estados Unidos, a mãe de uma adolescente que recebeu diagnóstico de estresse agudo não se conformou em reclamar com a escola sobre o ritmo puxado das aulas e lições de casa. A advogada Vicki Abeles, depois de perceber que o drama de sua filha era vivido também em outras famílias, fez um documentário sobre o que chamou de massacre do ensino competitivo, imposto em quase todas as redes de escolas públicas americanas graças a incentivos do governo. O documentário, que ouviu dezenas de alunos e famílias que desenvolveram doenças emocionais por causa da alta pressão, virou sensação. Já arrecadou mais de R$ 10 milhões (custou R$ 800 mil), sem exibições em cinemas, apenas em escolas ou auditórios. “Quero que minhas filhas cresçam saudáveis e criativas. Não acredito no ensino que educa para tirar boas notas em rankings”, afirma Vicki (leia a entrevista na página 95).
Apesar da expectativa dos pais, o ensino tradicional, também não garante sucesso na carreira. “Mesmo no caso de crianças que suportam a pressão das escolas tradicionais, não existe certeza de que serão adultos bem-sucedidos”, diz Quezia Bombonato. “Muitas vezes são alunos com capacidade de absorção de conteúdos e boa memória, mas cujos dons específicos não são devidamente explorados.” Segundo Quezia, o processo completo de aprendizado de um jovem é formado de muitas variáveis. Se o que ele aprende não faz sentido para a vida, isso poderá ser percebido num futuro mais distante, quando ele estiver frente a frente com suas decisões profissionais. “As pressões que ele sofreu nos bancos escolares podem se transformar em problemas de percepção ou relacionamento na vida adulta, comprometendo o sucesso de suas realizações”, diz ela.
Diante dos efeitos colaterais da pressão educacional, muitos pais se voltam para as escolas com propostas alternativas. Elas não têm uma fórmula única e vêm se desenvolvendo desde os anos 1960, com propostas pedagógicas modernas. Esses métodos de ensino começaram a ganhar relevância nos anos 1970, quando novas teorias sobre como as crianças aprendem começaram a ser usadas pelas escolas. No geral, elas priorizam o estímulo aos talentos pessoais, as artes, o contato com a natureza e o lado emocional dos alunos. O método mais difundido no Brasil é o construtivista, inspirado nas ideias do psicólogo suíço Jean Piaget, segundo o qual as crianças aprendem em conjunto e sempre usando a realidade de cada um como referência. A linha montessoriana, proposta pela pedagoga italiana Maria Montessori, foi uma das primeiras a inserir questões afetivas na educação. Na pedagogia Waldorf, do filósofo alemão Rudolf Steiner, o aprendizado anda de mãos dadas com atividades corporais e artesanais. Com resultados não tão satisfat ios em avaliações nacionais, muitas dessas escolas se reorganizaram para melhorar sua competitividade. Hoje, tentam combinar o melhor dos dois mundos, incorporando parte da disciplina e da exigência de bom desempenho das escolas tradicionais.
Para alguns pais, só o ensino de alto desempenho garante um futuro de sucesso para os filhos
Essas alternativas também podem ser um caminho para o sucesso na vida real. Os americanos Larry Page e Sergei Brin, fundadores do Google, estudaram em escola montessoriana. Eles afirmam que a escola é um dos principais fatores de seu êxito empreendedor. Lá, segundo eles, aprenderam a trabalhar sozinhos, com ideias próprias. Dizem que a educação montessoriana lhes deu liberdade para perseguir seus sonhos e paixões. Outros inovadores da era digital, como Jeff Bezos, fundador da loja virtual Amazon, e Jimmy Wales, criador da Wikipédia, também vieram de escolas montessorianas.
Um dos apelos dessas linhas alternativas é oferecer um ensino que pretende despertar mais iniciativa e a criatividade das crianças. Isso pode ser salutar mesmo para os alunos que, aparentemente, se dão bem no esquema das escolas competitivas. Foi o que percebeu a empresária carioca Tatiana Queiroz, mãe de Artur, de 15 anos, e Olívia, de 12. “Eles tiravam boas notas, mas faziam tudo no automático. Sentia que não estavam motivados. O conteúdo era muita memorização e pouca análise”, diz. Quando os filhos entraram no ensino fundamental, Tatiana optou pelo tradicional Colégio Santo Inácio, pelos bons resultados nos rankings e pela disciplina que complementava os limites que ela estabelecia em casa. Com o tempo, sentiu falta de mais estímulo criativo para os filhos.
A maioria dos colégios tradicionais tem classes numerosas, e, por isso, o diálogo casa-escola fica difícil. Há dois anos, ela transferiu os dois filhos para um colégio alternativo. A coordenadora pedagógica do Santo Inácio, Ana Maria Loureiro, diz que a tradição dá segurança a quem procura a escola. Segundo ela, 70% dos alunos são filhos de ex-alunos. Um sinal de sucesso da instituição. “Mas estamos buscando a modernidade, especialmente no que diz respeito às novas tecnologias e à necessidade de formar professores antenados com a realidade”, afirma.
Diante das críticas, as escolas tradicionais tentam se renovar. Para conciliar educação de qualidade sem sofrer as consequências indesejadas, começam a buscar o caminho do meio. O colégio marista São José, no Rio, mantém suas aulas de religião, mas introduziu aulas especiais para ensinar os alunos a associar o mundo atual ao que é estudado. A ideia reforça a tendência de que mais importante do que decorar informação é saber analisá-la. No Dante, segundo seu diretor, Lauro Spaggiari, há a filosofia de que é preciso trabalhar apenas com o essencial do conteúdo e muita discussão, mas sem abrir mão do rigor na disciplina. “Não vivemos mais no tempo em que o professor era o único provedor da informação”, diz Spaggiari. “Sabemos que, em tempos de internet, a informação está ao alcance de todos. Nosso papel principal é ensinar ao aluno o que fazer com ela.”
Mesmo que essas escolas consigam se atualizar, ainda assim não serão o modelo ideal para todas as crianças. A família da auxiliar administrativa Fernanda Sato descobriu de forma inusitada que não há um único caminho para a educação dos filhos. Há cinco anos, mudou-se para um bairro em São Paulo onde os filhos, Gustavo e Leonardo, na época com 10 e 7 anos, iriam a pé para o novo colégio, de estilo tradicional e dirigido por freiras. Por quatro anos, o plano funcionou. No fim de 2010, os meninos procuraram os pais com um pedido: queriam mudar de escola. Para complicar, cada um pediu um colégio. Leonardo, o mais novo, não gostava do método tradicional. “Ele não reagia bem às cobranças dos professores e começou a perder o interesse pelos estudos”, diz Fernanda. Gustavo, fã da área de exatas, pediu para estudar num colégio ainda mais rigoroso, com carga horária pesada, muita competição e voltado para o vestibular. “Penso em ser engenheiro e queria uma escola que me preparasse melhor”, afirma. Hoje, a logística da família ficou mais complicada, mas Fernanda não se arrepende. “Descobri que cada filho é de um jeito.”
“Amar é vexame”, uma vez me disseram. Não que fosse uma conotação negativa, mas é como tantas vezes são taxadas as emoções. Declarar-se já foi um nobre ato de coragem, agora é brega. Auto amor é a nova moda, mas mais vivido enquanto fuga do que enquanto tal: aquele nível de amadurecimento em que uma pessoa consegue aceitar-se e compreender-se o suficiente para amar a si e multiplicar amor aos outros, para aceitar um não, sentir-se magoada, mas seguir em frente – o que é diferente de atropelar todos no caminho. Não se trata de uma recusa de sentir pelo outro, mas de uma recusa em depender do outro para sentir. Triste os vacilos da linha tênue entre amadurecer e endurecer.
É fato que as emoções não são muito ligadas às convenções. Elas não escolhem o melhor partido, nem o melhor momento, nem o que é mais fácil. Escolhem à reveria a quem querem tocar. Tocam o “sentidor” mas nem sempre tocam o outro. A sensação no fundo do estômago é a dor de quem permanece com os braços estendidos, sem no entanto conseguir alcançar o pretendido. Sentir dor. Esse problema inaceitável na era da felicidade barata. Todavia, é verdade, quando uma coisa não tem jeito, seguir em frente é necessário.
Não é como tomar uma pílula e ter os sentimentos dissolvidos. Chegar à conclusão de que é momento de abortar os sentimentos não correspondidos ou mal correspondidos, muitas das vezes, é uma decisão no escuro. Há sempre aquela interrogação que projeta esperanças no futuro. A decisão pode vir de um limite em suportar, ou talvez, de uma incapacidade de esperar… Medo de esperar em vão. Não é tão raro ser surpreendido alguns meses depois de ter vencido uma “queda” por alguém, com o fato de acabar sendo correspondido, mas em um momento no qual já não pode corresponder. Desencontros.
A solução então é pagar pra ver? Esperar sentado pelo dia iluminado da realização? Espera ou luta? Quando tentar já não é uma opção e os sentimentos estão fazendo fuzarca por todas as esferas da vida, nada mais natural que optar pela decisão firme em rompê-los. Há casos em que essa realmente é a melhor opção. Todavia, não creio que seja o amor e seus primogênitos que nos causam essa euforia desconstrutivista de afetos. Uma vez coletivamente ansiosos, é esta ansiedade que nos impede de conviver com as emoções em stand by, precisamos de correspondência, e precisamos bem rápido, mesmo que seja para que tudo dilua em uma semana. Por outro lado, também temos aí a nos envenenar o orgulho ferido, de não sermos encantadores o suficiente para despertar no outro uma paixão desesperada como ele despertou em nós.
Insegurança, ciúme, inveja, críticas. O velho alvo do amor que não nos respondeu como um espelho, à nossa imagem e semelhança, se torna alvo desses e de tantos outros afetos, tão distantes desse sentimento que embora indefinido, é certamente bem diferente daqueles outros. A dor então já não é da saudade, da impossibilidade, mas de uma ferida que tendemos a abrir cada vez mais, até estarmos tão infeccionados que a simples aproximação de um outro provoque uma reação arredia.
Sempre fui dessas pessoas tendenciosas à ansiedade, querendo romper tudo quanto não me respondesse como esperava, demolidora de sentimentos que partiram para a estrada sem certeza de acolhida na parada. Até que, um dia, pensava ter rompido definitivamente um sentimento, e de escorregão ele voltou do imprevisto, surpreendendo, assustando. Ainda não era o melhor momento, nem a mais fácil das situações, ainda tão longe do ideal, ainda reticente uma correspondência, situação cheia de embaraços e entraves. Recomeçou a luta e então veio o cansaço.
Simplifiquei. Deixei de estender os braços na espera de alcançar o que parece inalcançável. Porquanto também não travei batalha alguma contra o que sentia, nem deixei de lado, nem transformei em tirania de mágoas e injúrias imaginárias.
Deixo o sentimento quietinho ali, converso com ele e sinto vibrar os gemidos da sua existência lamuriosa. Deixo-o ali amadurecendo, pois nada é amanhã o mesmo que foi ontem. Deixo-o seguir crescendo para ver o que é de fato. Deixo-o viver porque sei que ele é meu e não do outro. Em algum momento a dor passa, os olhos enxergam em outras direções, e a vida continua, não vazia e deteriorada pelas lutas travadas contra os afetos, mas cheia de emoções para o que vier.
Ensinem suas filhas e filhos a pegar ônibus logo cedo, primeiro com vocês, depois sozinhos. Eles vão precisar disso um dia na adolescência ou na vida adulta e mesmo que você seja muito rico e pense que não precisarão, não há como ter certeza. Se nunca andaram, terão tendência a ficarem abobalhados, pouco espertos e mais propensos a sofrerem assaltos ou atropelamentos.
Ensinem seus filhos e filhas a andar a pé, porque só se aprende a atravessar ruas andando a pé. Bicicleta só para recreação, com você carregando o malinha e sua mala rampa acima, não vai dar boa coisa. Molequinhos e molequinhas precisam saber ir e voltar. Carregarem seus casaquinhos, bonequinhas e carrinhos faz parte da missão: mãe e pai não são cabides.
Ensinem suas filhas e filhos desde bebês a descascar bananas, maiorezinhos devem saber comer maçã sem ser picada, devem aprender a espremer um suco no muque, usar garfo e faca, colocar a roupa suja no cesto, lavar, secar e guardar louça. Assim não serão os malas na casa da tia no dia do pijama. No mínimo.
Ensinem seus filhos e filhas adolescentes a lavar o próprio par de tênis, lavar, pendurar, recolher e dobrar roupas, cozinhar algo básico, trocar lâmpadas e resistência do chuveiro.
Ensine que isso pode não ser prazeroso como tomar um sorvete ou jogar no celular, mas é importante e necessário.
Ensinem suas filhas e filhos a plantar, colher e entenderem a diferença entre um pé de alface e um pé de couve. Você pode não acreditar, mas por falta de ensinamentos básicos muita criança se cria achando que leite é um produto que nasce em caixas. Isso não é engraçado, é um efeito colateral involutivo do nosso tempo.
Não tema o fogo, o fogão, a chaleira nas mãos dos coitadinhos. Se você não ensinar, eles vão fazer muita bobagem e vão se queimar. Educar é confiar nas capacidades e na inteligência deles. É mostrar perigos e ensinar a lidar com perigos.
Eduquem seus filhos para a vida, para capacidades. Prazer não precisa ser ensinado, é um benefício, um privilégio. Ter empregada doméstica em casa não deve ser visto e sentido como alguém que vem acoplado ao lar, quase uma “coisa” um “objeto humano” de limpar e organizar sem parar.
Essas não são dicas moralistas. Educar para a solidariedade é um ato até egoísta e nada poético. Ao ensinar coisas básicas de sobrevivência aos filhos, estamos promovendo confiança e capacidade, auto-estima, senso de dever e responsabilidade.
Evite produzir e multiplicar pessoas que um dia serão adultos entediados, mimados que acharão eternamente que vieram ao mundo a passeio, sem a menor noção do que é resiliência, inaptos para cuidar de si mesmos e de outros, caso se multipliquem preguiçosamente.
A vida pode ser bela, a vida pode não ser dura para herdeiros, mas ela cobrará sempre, de qualquer um de nós, firmeza e força de vontade. Isso não é nato, depende de adversidades e luta pela sobrevivência e nada tem a ver com capacidade de apertar um botão ou deslizar os dedões no Iphone.
Um novo estudo reforça a associação entre a depressão e doenças cardíacas
Os cardiologistas norte-americanos incluem a tristeza profunda entre os fatores de risco
A tristeza não parece ser uma causa clinicamente válida para ser registrada no atestado de óbito. Ou para explicar aos familiares o motivo da internação de um paciente cardíaco. Entretanto, são cada vez mais conclusivos os dados que relacionam a tristeza extrema com os infartes e as patologias do coração em geral.
O mais recente desses trabalhos sugere que as vítimas de depressão moderada a severa apresentam um aumento de 40% no risco de sofrer insuficiência cardíaca. O estudo foi divulgado nesta sexta-feira no encontro EuroheartCare, que a Sociedade Europeia de Cardiologia realiza na Noruega. Para sua elaboração, os pesquisadores monitoraram durante 11 anos o estado psíquico e físico (com dados sobre o índice de massa muscular, atividade física, tabagismo e pressão arterial) de 63.000 dos 97.000 moradores da região norueguesa de Nord-Trondelag, e compararam essas informações com as internações e mortes por insuficiência cardíaca. “Concluímos que quanto maiores eram os sintomas depressivos, maior era o risco de sofrer problemas cardíacos”, afirma Lise Tuset Gustad, enfermeira intensivista responsável pelo trabalho. Entre os pacientes com depressão menos grave, a possibilidade de desenvolver problemas cardíacos era apenas 5% superior à média.
Mulheres participam de sessão de tratamento contra a depressão no hospital St. Goran, em Estocolmo. / REUTERS
“Os indícios [de correlação] entre a depressão e a patologia cardíaca são cada vez mais sólidos”, acrescenta o presidente da Sociedade Espanhola de Cardiologia (SEC), José Ramón González-Juanatey. A ponto de que a principal sociedade norte-americana de cardiologistas (a American Heart Association) propôs em fevereiro acrescentar a depressão à lista de fatores de risco clássicos para pacientes com síndrome coronariana aguda (infarto), que já inclui hipertensão, diabetes, tabagismo, sedentarismo e colesterol alto.
“Já tínhamos visto trabalhos prévios sobre os efeitos da depressão entre pacientes que haviam sofrido infarto ou como fator de risco da doença coronariana”, aponta o presidente da SEC. Mas o trabalho apresentado ontem dá um passo além ao relacionar essa doença psiquiátrica com um âmbito mais extenso das lesões cardiovasculares, como é o caso da insuficiência cardíaca, o lance final de muitas cardiopatias, que se apresenta quando o coração é incapaz de bombear o sangue com força suficiente. Sua origem é muito diversa, podendo estar ligada a um infarto, a problemas com as válvulas cardíacas ou a um quadro de diabetes ou hipertensão em pacientes com evolução prolongada.
O trabalho norueguês também ofereceu outro aspecto interessante: a relação direta que se estabelece entre o desequilíbrio metabólico (hormonal, distúrbios em neurotransmissores) que caracteriza a depressão e os efeitos na saúde do coração.
Boa parte dos trabalhos publicados até agora incidia sobre os efeitos indiretos. A depressão severa é identificada pela tristeza, a apatia e a desesperança dos doentes, inclusive com ideias de morte e suicídio nos casos mais graves. Esse estado de ânimo afeta o estilo de vida dos pacientes. Se precisarem ser medicados, é fácil que deixem de fazê-lo ou esqueçam doses. Além disso, costumam fumar mais, comer pior, praticar menos ou nada de exercício e adquirir mais peso.
O estudo apresentado nesta sexta-feira admite essa associação. Mas, após excluir os efeitos potenciais do tabagismo e da obesidade nas pessoas analisadas, o trabalho destaca outros fatores diretos que vinculam a depressão à insuficiência cardíaca. “A depressão estimula a aparição de hormônios vinculados ao estresse, que induzem à aparição de fenômenos inflamatórios ou aterosclerose [a deterioração das paredes arteriais, num processo que pode provocar um infarto]”.
“É um pouco parecido com o que acontece com a raiva”, comenta González-Juanatey. O presidente da SEC cita um recente artigo publicado na European Heart Journal que descrevia como uma brusca descarga de catecolaminas (hormônios associados ao estresse) tinha impacto direto na hipertensão e no aumento de plaquetas no sangue, o que por sua vez elevava o risco de coágulos nas paredes vasculares. “Associava-se esse aumento do tom simpático [do sistema nervoso] a um maior risco de infarto e AVC”. A alteração hormonal ligada à depressão explicaria um fenômeno similar nessas pessoas, segundo González-Juanatey.
“Observamos a associação entre depressão e problemas cardiovasculares na prática clínica, com os pacientes”, comenta Rafael Tabarés-Seisdedos, catedrático de psiquiatria da Universidade de Valência. Esse psiquiatra, membro do Centro de Pesquisa Biomédica em Rede de Saúde Mental (Cibesam, na sigla em espanhol), destaca como o trabalho norueguês e outros similares demonstram que é frequente a presença em uma mesma pessoa de dois ou mais problemas médicos aparentemente não relacionados (depressão e lesões cardíacas, neste caso), mas que, no fundo, estão conectados, “seja por compartilhar os mesmos fatores de risco físicos ou psicossociais ou porque uma patologia leva à outra”, explica. Ou inclusive quando a relação é inversa, como o próprio Tabarés-Seisdedos e pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas descreveram recentemente no caso do câncer e do Alzheimer. “Devemos dar uma resposta assistencial adequada, que leve em conta essas associações e corrija a segmentação atual por especialidades”, observa.
Todo mundo conhece alguém que tem ou teve depressão. Não sem razão. A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que 350 milhões de pessoas sofram do problema em todo o mundo. Além disso, a depressão é considerada a doença mais incapacitante, ou seja, que impede a pessoa de fazer qualquer outra atividade. Aqui no Brasil, só no ano passado, quase 22 mil pessoas passaram a receber auxílio-doença por causa do transtorno depressivo recorrente, segundo dados do Ministério da Previdência Social.
A doença pode ainda, na pior das hipóteses, levar ao suicídio. Segundo levantamento divulgado no ano passado, em 16 anos, as mortes causadas pela depressão cresceram 705% no Brasil, estando incluídos nessa estatística casos de suicídio e outras mortes motivadas por problemas de saúde decorrentes de episódios depressivos.
Essa desordem mental tão comum tem uma série de sinais e sintomas, que vão desde alterações físicas até quadros emocionais. O professor associado do Departamento de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), o psiquiatra Cássio Bottino, separou alguns dos aspectos mais importantes da doença. Se houver identificação com os principais sintomas, a indicação é sempre procurar um psiquiatra. O acompanhamento feito com psicoterapia e medicação é eficaz para a maioria dos casos.
Passar muito tempo remoendo situações difíceis
É normal ficar triste depois de um acontecimento negativo, como uma separação conjugal ou a perda do emprego. Mas, a tendência de supervalorizar esses acontecimentos pode ser um sinal que merece atenção.
Atividades que antes eram prazerosas perdem a graça
Pessoas depressivas têm a capacidade de sentir prazer reduzida. Além disso, elas tendem a se enxergar como alguém sem valor, indesejável ou inadequado, que se irrita com facilidade e tem crises inexplicáveis de choro.
A redução do prazer atinge a libido
Muitos pacientes com depressão se queixam de redução do interesse pelo sexo e do prazer sexual. Muitas vezes, isso resulta da própria apatia em que a pessoa se encontra, tomada pela fadiga e pela sensação de perda de energia.
Diminuição do aproveitamento profissional
Lentidão de raciocínio, e até de movimentos, fazem parte dos sintomas da depressão. Pode haver dificuldades de memorização e de concentração.
Insônia ou muito sono e cansaço
Os sinais físicos da depressão também incluem alterações no sono. Alguns pacientes se queixam de falta de sono, já outros, reclamam que, mesmo dormindo por várias horas, se sentem cansados, apáticos e sem energia.
Falta de apetite ou apetite exagerado
Alterações do apetite fazem parte dos sintomas fisiológicos da depressão. No geral, se percebe uma perda no apetite, mas alguns pacientes podem apresentar aumento da fome.
Passar muito tempo de luto pela morte de um ente querido
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da APA (Associação Americana de Psiquiatria), a tristeza decorrente do luto pode indicar transtorno depressivo quando se prolonga por mais de duas semanas. Muitos profissionais brasileiros, contudo, consideram normal um período de luto de até seis meses.
Fique atento aos sinais, caso persistam os sintomas por mais de duas semanas, procure um especialista. Só ele pode pode fazer o diagnóstico seguro.
“A culpa é uma ilusão. Porque na realidade você nunca fez nada errado, nunca. Neste momento tudo está perfeito. Se você fez algo que te trouxe sofrimento, que não te traz amor, neste momento, escolha algo novo. Se você segue vivendo esse sentimento, de culpa, de novo e de novo, e vive através desse reflexo (imagem), isso é violência. É violência contra você mesmo, e isso não serve pra nada. Isso não muda o ocorrido, somente está arrastando o passado para o futuro. E está vivendo o futuro em uma vibração mais baixa, porque está tingido de medo. Então o que escolho? Bem, fiz todas essas escolhas e tiveram consequências. Não gostei das consequências. Agora, de um lugar de inocência, vou fazer uma nova escolha. Isso é tudo. E solto, deixo seguir. E se alguém me critica e isso me afeta, é porque ainda não soltei, não deixei ir. Isso é sempre interessante nos casais. Sempre gostam de trazer e arrastar aquilo que fizeram há 4 anos. Todos fazem isso, mas seguem juntos. Mas gostam de ter isso, essas munições aí. “Mas lembre-se quando você fez blá, blá, blá…” E então isso justifica o que você está fazendo neste momento. Porque se sente culpado, mas esta é a sua justificativa (usar a munição). Somos loucos assim. Em vez de focar no amor, de focar no que queremos, de focar no louvor e na gratidão, Focamos no ressentimento. Porque temos ressentimento? Porque nos abandonamos.”
Esse doce período da vida, no cinema, nem sempre foi fácil. Jovens esbofeteados, marginalizados, largados pelos pais – às vezes com tudo ao mesmo tempo. Os filmes abaixo captam a infância como ela é: longe dos contornos belos que Hollywood tentou perpetrar em alguns clássicos, distante da eterna bondade à qual os pequeninos sempre são associados. Veja qualquer um deles e encontre um grande filme. À lista.
25) Tomboy, de Céline Sciamma
24) Minha Vida de Cachorro, de Lasse Hallstrom
23) O Labirinto do Fauno, de Guillermo Del Toro
22) Filhos do Paraíso, de Majid Majidi
21) O Garoto da Bicicleta, de Jean-Pierre e Luc Dardenne
20) Vítimas da Tormenta, de Vittorio De Sica
19) Alemanha, Ano Zero, de Roberto Rossellini
18) A Infância de Ivan, de Andrei Tarkovski
17) Brinquedo Proibido, de René Clement
16) Adeus, Meninos, de Louis Malle
15) Meu Amigo Totoro, de Hayao Miyazaki
14) O Pequeno Fugitivo, de Ray Ashley, Morris Engel e Ruth Orkin
13) Cria Cuervos, de Carlos Saura
12) Zero em Comportamento, de Jean Vigo
11) Onde Fica a Casa de Meu Amigo?, de Abbas Kiarostami
Meu pai cresceu descendo ruas com carrinhos de rolimã. Minha mãe, fazia vestidos para suas bonecas. Meu tio, caçava rãs em charcos.
Eu nunca andei de carrinho de rolimã, costurei roupas de bonecas ou cacei rã, mas tive uma infância cercada de amigos que brincavam pelas ruas ou pátios de condomínios. Mesmo quando o assunto era o videogame, jogávamos em grupos, indo na casa de um quando queríamos jogar Phantom System, na de outro quando era Master e na de outro quando era MegaDrive. Naquela época, o melhor dos combates em grupo não tinha conexão com internet e se fazia com a tela dividida em 4, enquanto 007s tentavam matar uns aos outros.
As pipas subiam ao céu, as bicicletas se sujavam de lama, encontrávamos bichos da goiaba pela metade comendo a fruta direto do pé, os coquinhos acertavam nossas cabeças e os joelhos viviam com casquinhas de machucados, que insistíamos em puxar quando estávamos em casa esperando o amigo que tocaria a campainha.
Esse vídeo é uma excelente campanha sobre infância. Sobre as crianças das gerações de um mundo que mudou como nunca antes.
Fala também sobre natureza, sobre sentir o vento batendo no rosto enquanto se pedala uma bicicleta e sobre a felicidade de dar uma bomba no lago e molhar todo mundo em volta.
Habilite as legendas e assista o que essas 3 gerações tem a dizer.