Novo tratamento do Alzheimer restaura totalmente a função da memória

Novo tratamento do Alzheimer restaura totalmente a função da memória

Se uma pessoa tem a doença de Alzheimer, isso é geralmente o resultado de uma acumulação de dois tipos de lesões – placas amilóides e emaranhados neurofibrilares. As placas amilóides ficam entre os neurônios e criam aglomerados densos de moléculas de beta-amilóide.

Os emaranhados neurofibrilares são encontrados no interior dos neurónios do cérebro, e são causados por proteínas Tau defeituosas que se aglomeram numa massa espessa e insolúvel. Isso faz com que pequenos filamentos chamados microtúbulos fiquem torcidos, perturbando o transporte de materiais essenciais, como nutrientes e organelas.

Como não temos qualquer tipo de vacina ou medida preventiva para a doença de Alzheimer – uma doença que afeta 50 milhões de pessoas em todo o mundo – tem havido uma corrida para descobrir a melhor forma de tratá-la, começando com a forma de limpar as proteínas beta-amilóide e Tau defeituosas do cérebro dos pacientes.

Agora, uma equipa do Instituto do Cérebro de Queensland, da Universidade de Queensland, desenvolveu uma solução bastante promissora. Publicando na Science Translational Medicine, a equipa descreve a técnica como a utilização de um determinado tipo de ultra-som chamado de ultra-som de foco terapêutico, que envia feixes feixes de ondas sonoras para o tecido cerebral de forma não invasiva.

Por oscilarem de forma super-rápida, estas ondas sonoras são capazes de abrir suavemente a barreira hemato-encefálica, que é uma camada que protege o cérebro contra bactérias, e estimular as células microgliais do cérebro a moverem-se. As células da microglila são basicamente resíduos de remoção de células, sendo capazes de limpar os aglomerados de beta-amilóide tóxicos.

Os pesquisadores relataram um restauro total das memórias em 75 por cento dos ratos que serviram de cobaias para os testes, havendo zero danos ao tecido cerebral circundante. Eles descobriram que os ratos tratados apresentavam melhor desempenho em três tarefas de memória – um labirinto, um teste para levá-los a reconhecer novos objetos e um para levá-los a relembrar lugares que deviam evitar.

Fonte: Ciência On Line

Saiba mais sobre o Alzheimer- Sugestão de leitura:

O Bem no Mal de Alzheimer

 

Seu olhar tem muito mais poder do que você imagina. Entenda.

Seu olhar tem muito mais poder do que você imagina. Entenda.

Estudos dizem que 4 minutos de contato visual ininterrupto podem aumentar a intimidade. Para testar esta teoria, esse experimento trouxe seis pessoas em diferentes estágios de seu relacionamento para que vivenciassem a situação e depois pudessem nos contar como foi a sensação.

A maneira como a intimidade e a emoção foram crescendo durante esses minutos é algo que com certeza também emocionará a qualquer um que observe atentamente.

O vídeo está em inglês, mas a linguagem do amor e da intimidade são universais.

“Em 55 anos de casamento nós nunca nos olhamos nos olhos dessa maneira.”, disse a senhorinha ao esposo. E ele diz “Quando eu foquei em seus olhos eu percebi o quanto eu preciso de você e o quanto você é importante para mim.” (tradução livre)

Indicação de nosso parceiro Psique em Equilíbrio

Reinvenção

Reinvenção

A vida só é possível reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas. . .
Ah! tudo bolhas
que vêm de fundas piscinas
de ilusionismo… – mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço…
Só – no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só – na trevas
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Cecília Meireles, Poesia Completa

As esculturas teatralmente enigmáticas de Philip Jackson

As esculturas teatralmente enigmáticas de Philip Jackson

Philip Jackson é um escultor inglês de renome internacional.

Sua capacidade de transmitir a condição humana através do hábil uso da linguagem corporal tornou-se uma de suas características mais memoráveis. Ele cria figuras profundamente imponentes tanto pela mensagem que transmite quanto pela sua presença física no ambiente em que estão inseridas.

Poderosas e lindamente esculpidas, as posturas meticulosamente precisas que Jackson trabalha em cada peça criam uma enorme sensação de drama.

O  assombroso, a elegância e o resultado teatralmente enigmático das esculturas de Philip Jackson são verdadeiramente inspiradores – nunca deixam de causar perplexidade em quem por elas tem o privilégio de passar.

Nascido em Inverness, Jackson agora vive e trabalha em West Sussex. Ele foi nomeado Comandante da Royal Victorian Order ( CVO ) e esteve na lista de honra de aniversário da Rainha de 2009.

Página oficial do artista.

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7 sinais de que você está com a pessoa errada

7 sinais de que você está com a pessoa errada

Eu lembro que me disseram que se eu estivesse esperando o casamento perfeito, eu nunca iria encontrá-lo. Não existe o “perfeito”. Eu não acreditava, e ignorei o comentário.

Alguns anos mais tarde, me casei com alguém com quem eu estava em constante tumulto. Nossa relação sempre foi rochosa, e ainda insistimos em fazê-la dar certo. Tentamos forçar um relacionamento instável a se tornar perfeito. Logo percebemos que tínhamos cometido um erro enorme. Muitas vezes, o que começa mal termina mal.

No meu segundo casamento, meu marido e eu entendemos que a perfeição não existe. Temos nossas diferenças. Temos divergências. Mas o que torna um casamento perfeito são o amor e respeito que temos um pelo outro e a linha aberta de comunicação entre nós.

Forçar uma relação a dar certo, acreditando que ela acabará se tornando perfeita, é um equívoco. É raro um relacionamento instável melhorar depois do casamento. Às vezes, se o casamento é um erro, ou você escolhe permanecer infeliz no casamento, por medo do que outros possam dizer, ou o divórcio se acerca.

Aqui estão sete sinais que você está com a pessoa errada:

1. Brigas constantes

Vocês nunca concordam em nada. Vocês brigam por causa dos amigos, a falta de tempo juntos, o dinheiro, o ciúme – praticamente qualquer coisa. Por mais que você tente, nada que você faz é satisfatório.

2. Incerteza sobre seu amor

Você gosta muito do seu parceiro, mas você não tem certeza se o ama. Você vê essa pessoa como um confidente, uma pessoa com quem você pode sempre contar; no entanto, você não tem certeza de ver essa pessoa como uma parte permanente de seu futuro.

3. Instabilidade

Seu parceiro pula de emprego em emprego, usa mal o dinheiro, odeia trabalhar (mas gosta de festa) e coloca os amigos antes do relacionamento. As prioridades não estão em ordem.

4. Falta de apoio e respeito

Quando o seu parceiro acha suas metas irreais ou ridículas e zomba de você, ele ou ela não valoriza você como uma pessoa.

5. Mentiras

É uma bandeira vermelha se o seu parceiro sente a necessidade de mentir, e você sabe que ele ou ela está mentindo. Embora possamos perdoar e esquecer as mentiras insignificantes, entrar em um casamento com esse tipo de fundação é arriscado.

6. Diferentes sonhos

Vamos dizer que você quer se casar e começar uma família imediatamente. Seu parceiro quer esperar um pouco antes de ter filhos (ou não quer ter filhos). Você quer se casar e mudar, mas o seu parceiro quer viver juntos antes e permanecer onde está. Quando você tem um conjunto de sonhos e seu parceiro tem outro, e vocês não conseguem encontrar um meio-termo, as chances são de que você e seu parceiro não sejam a pessoa certa um para o outro.

7. Conveniência

Não é saudável ficar com seu parceiro porque você está confortável com ele ou ela e detesta a ideia de começar de novo. O casamento é feito de amor, compromisso e apoio – e não de conveniência.

Você vai saber que está com a pessoa certa, quando a relação é baseada em amor verdadeiro e respeito, e você sinceramente quer passar o resto de sua vida com o seu parceiro.

Por Mayra Bitsko, via Família

Traduzido e adaptado por Stael F. Pedrosa Metzger do original 7 signs you’re with the wrong person.

“Eu não vou perturbar a paz”, um singelo poema de Manoel de Barros

“Eu não vou perturbar a paz”, um singelo poema de Manoel de Barros

De tarde um homem tem esperanças.
Está sozinho, possui um banco.
De tarde um homem sorri.
Se eu me sentasse a seu lado
Saberia de seus mistérios
Ouviria até sua respiração leve.
Se eu me sentasse a seu lado
Descobriria o sinistro
Ou doce alento de vida
Que move suas pernas e braços.
Mas, ah! eu não vou perturbar a paz que ele depôs na praça, quieto.

Manoel de Barros, Poesia Completa.

Magia negra, um intrigante poema de Sérgio Vaz

Magia negra, um intrigante poema de Sérgio Vaz

Não é de hoje que as palavras negro e preto são utilizadas com conotações negativas ou mesmo pejojativas. Expressões como “A coisa tá preta”, “Mercado negro”, “Denegrir”,  “Não sou tuas negas”, entre tantas outras são apenas alguns exemplos.

E “Magia Negra”? O que pensamos quando refletimos sobre o tema? Leiam o poema de Sérgio Vaz e sintam.  A inversão do raciocínio nem sempre é tão simples quanto pode parecer e vale a reflexão.

Magia Negra

Magia negra era o Pelé jogando,
Cartola compondo,
Milton cantando.
Magia negra é o poema de Castro Alves, o samba de Jovelina…
Magia negra é Djavan,
Emicida, Mano Brow, Thalma de Mreitas, Simonal.
Magia negra é Drogba, Fela kuti, Jam.
Magia negra é dona Edith recitando no Sarau da Cooperifa.
Carolina de Jesus é pura magia negra.
Garrincha tinhas duas pernas mágicas e negras.
James Brow. Milton Santos é pura magia.
Não posso ouvir a palavra magia negra que me transformo num dragão.
Michael Jackson e Jordan é magia negra.
Cafu, Milton Gonçalves, Dona Ivone Lara, Jeferson
De, Robinho, Daiane dos Santos é magia negra.
Fabiana Cozza, Machado de Assis, James Baldwin, Alice Walker,
Nelson Mandela, Tupac, isso é o que chamo de magia negra.
Magia negra é Malcon X, Martin Luther King, Mussum, Zumbi, João Antônio,
Candeia e Paulinho da Viola. Usain Bolt, Elza Soares,
Sarah Vaughan, Billy Holliday e Nina Simone é magia mais do que negra.
Eu faço magia negra quando danço Fundo de Quintal e Bob Marley.
Cruz e Souza Zózimo, Spike Lee, tudo é magia negra neles.
Umoja, Espírito de Zumbi, Afro Koteban…
É mestre Bimba, é Vai-Vai,
é Mangueira todas as escolas transformando quartas-feira de cinza em alegria de primeira.
Magia negra é Sabotage, MV Bill, Anderson Silva.
Pepetela, Ondjaki, Ana Paula Tavares, João Mello… Magia negra.
Magia negra são os brancos que são solidários na luta contra o racismo.
Magia negra é o RAP, O Samba, o Blues, o Rock, Hip Hop de Africabambaataa.
Magia negra é magia que não acaba mais.
É isso e mais um monte de coisa que é magia negra.
O resto é feitiço racista.

Sérgio Vaz

Persistir, verbo intransigente!

Persistir, verbo intransigente!

Existe um provérbio chinês que afirma que “a persistência realiza o impossível”. Muitas coisas há de realizar mesmo, mas, certamente o impossível de um é o banal do outro e, quando um não quer…

Uma grande conquista não representa nada a não ser para o conquistador. Muitas vezes é a desgraça do conquistado. É tudo pessoal e individual. Todo o peso fica por conta da persistência e resistência das partes interessadas.

Mas, ao invés de persistir, estamos falando de desistir, no sentido mais positivo possível, se é que alguém consegue ver algo de positivo nessas palavras que começam com “des”: despedir, despedaçar, desgastar, desamar, desesperar, desligar… desistir. Mas o fato é que cada uma delas nos liberta de um cenário para buscarmos outro.

Costumamos confundir teimosia com determinação, orgulho com amor próprio, arrogância com autoestima. E quando essa confusão acontece, algo nos impede de desistir e partir para outra direção. Podemos chamar de qualquer coisa, seja ela confortadora ou cruel, mas não podemos chamar de persistência.

Persistir é um ato de bravura, uma demonstração de força, de meta.

Uma qualidade inspiradora! E quem realmente persiste, sabe que tem reais chances de chegar onde aspira, muito embora nada lhe garanta o triunfo. Quem só teima, na verdade cobra da vida um êxito sonhado mas não merecido ou realizável. Para um teimoso, a vida está sempre lhe devendo algo!

E nós, somos teimosos ou persistentes? Valentes ou covardes? Sabemos o que realmente somos?

E resolvermos desistir de algo? Temos esse direito?

Pensar em desistir, em abrir mão de – e aí a lista é grande – sonhos, metas, pessoas, conquistas, compras, viagens, relacionamentos, é doloroso, até nevrálgico. Mas o que não funciona toma o espaço do que poderia funcionar.

Desistir do erro ganha de persistir no erro; Desistir de um mal trabalho, desistir daquela viagem, daquela paquera, da briga com o vizinho… Creio que esse pode ser o significado daquela frase famosa: “Nada melhor do que perder o bom e achar o ótimo”.

Precisamos dar sinais verdadeiros para a vida, precisamos enfim, persistir sempre no que for genuíno, real, recíproco, positivo, com muita coragem para deixar para trás os fracassos de todas as ordens, as ambições descabidas, os sapatos que nunca iremos usar, as promessas que jamais vamos cumprir, as saudades que não temos intenção de matar.

Saibamos decidir e desistir honradamente, abrindo espaço para outros desejos e conquistas, que, secretamente nos espreitam.

Saibamos nos desfazer dos resíduos, picotando fotos, agendas, cartões de visita, planos frustrados, mensagens não enviadas, trabalhos descartados, horas e esforços aguardando o que não virá! Algo certamente virá ocupar o espaço que ficou.

É quando desistir nos mostra o quanto somos vencedores!

Nota da CONTIoutra: A imagem de capa foi uma homenagem ao filme “A vida de Pi”, uma história de persistência e fé na vida.

O Amor é como letras soltas

O Amor é como letras soltas

Tudo poderia ser mais, bem mais leve como letras de músicas soltas. Daquelas que nosso coração compõe e pode narrar a história de qualquer um, a qualquer momento, como alguém que passa distraído na rua, e logo escuta uma música que desvia sua atenção para um lugar desconhecido, indo ao encontro do caldeirão de novos sons, ritmos e histórias incríveis.

Como seria escrever uma música? – tenho me perguntado. Por instinto, vocação, necessidade, ou sei lá mais o quê. O que importa é momento que extravasa essa tal necessidade, que não é tola, é espontânea e nasce por meio das coisas belas.

O líder maior de toda essa exaltação não poderia deixar de ser Ele, o ente que atravessou todas as épocas, e ainda caminha livre, atual, destemido, galanteador como um Don Juan entre todos os seres humanos: É Ele, o Amor!

Quando Renato Russo compôs Monte Castelo – música que também é poema do poeta português Luís Vaz de Camões e faz parte do Coríntios, da Bíblia – o que parecia algo novo, na verdade, foi uma das infinitas formas de cantar o sentimento mais nobre que existe na face da terra: “Ainda que eu falasse a língua dos homens / E falasse a língua dos anjos / Sem amor eu nada seria. ”

Pois bem. Como seria além de escrever e cantar, viver o amor? Cada um tem sua história. Eu tenho a minha. O amor, esse tema tão certo e controverso tem sua existência relatada desde os primeiros registros humanos, através do companheirismo, da defesa dos indivíduos que faziam parte do mesmo grupo, da relação entre os parentes; eram laços que de alguma forma evocavam amor.

Sabemos que dos clássicos romances, novelas, teatros, ficções ou toda trama que envolve relações muitas vezes surreais – querendo uma exclusividade desmedida – nasceram do tumulto interior de se buscar explicar algo que é tão profundo a ponto de ser inexplicável: o amor que entra violentamente com sua força avassaladora e o brilho indizível de uma noite estrelada, como Van Gogh pintou tão bem.

Amor de verdade também acaba

Amor de verdade também acaba

Se preocupe não, moça. Não é você. Sou eu. Não tenho jeito pra esse negócio de amor. Acho lindo, acho lindo nas canções que você e eu amamos juntos. Mas na verdade, assim, no tempo duro de um dia depois do outro, o amor toca desafinado para mim, obrigatório, repetido, música com refrão meloso. Não é você, moça. Sou eu. É que eu não tenho muito que dar. Não rendo, não sei telefonar à noite, não sustento conversas sem assunto, diálogos sem tema. Não é você, linda, doce, cheia de graça. Sou eu. Vazio, triste, estranho.

Você já viu tanta gente tão certa de que o amor mesmo, amor no duro, não acaba? E se acaba é porque não era amor? Dá até inveja, né? Eu invejo mesmo essas pessoas. Queria ter certeza e amor que durassem para sempre. Mas não. Comigo ainda não é assim. Meu amor vem e vai. Começa agora, acaba amanhã, volta mais tarde.

Ser de ninguém é meu único jeito de ser alguém, minha querida. Tomo remédio pros nervos e você não sabia. Sou dessa gente que precisa ser só, mesmo em comunidade, como unidade. Só. E você não queria. O sol que bate agora recende aqui dentro uma saudade dolorida do que já foi e do que sequer aconteceu. Minha cidade perdida, minha casa na infância, uma lambreta alaranjada que me leva a passear no quarteirão, o carro velho e batido do pai, a mãe que custa a voltar do trabalho, a alegria das avós.

Essa saudade, para mim, é o que mais se parece com o que tanta gente chama de amor. É só o que eu tenho, moça. E é tão pouquinho que mal dá pra mim sozinho. É um foguinho de palha que eu tento — ah, como eu tento! — alimentar e espalhar e incendiar o quarteirão. Mas não dá, minha amiga. Não deu. Meu amor anda pequeno. É uma saudadinha que dói mansa, um fio de água, um cheiro distante, um raio morno de luz patética quase apagando. É muito pouco. Não dá pra dois.

Você merece mais. Muito mais do que isso. Merece amor inteiro, forte, amor de casa grande, segura, quintal na frente, jardins e flores, pés de jabuticaba, caqui, laranja lima, limão galego. Eu tenho nada além dessa barraca de um só, montada na grama aqui e ali, esperando a hora de mudar e partir.

Foi bom, moça. Foi lindo. Você fica além de toda expectativa. Mas eu não dou conta. Preciso ir adiante, abrir o portão e liberar os cachorros que vivem cá dentro de mim. Se os deixo por aqui, trancados em casa, uma hora eles terão destruído tudo. Preciso conduzi-los à rua, deixá-los mijar nos postes, tombar as latas, rasgar os sacos, revirar o lixo alheio. E para isso eu tenho de ser só. Não por nada. Não é você, lembra? Sou eu. Para dar amor a alguém aí fora, eu antes preciso encontrá-lo aqui dentro. E aqui dentro ele se esconde tão bem, tão pequeno, que eu custo a achar. Vez ou outra eu encontro, mas ele logo se perde de novo, como bolinha de gude debaixo do sofá da sala. Como agora.

Se preocupe não, menina linda. Não é você. Sou eu. E isso é tudo. Agora vai, minha querida. Vai em frente. Vai ser feliz. Vai porque o mundo é seu. Eu, não. Eu ainda preciso ser de mim mesmo.

Sensibilidade crônica – vida e carreira de Nina Simone

Sensibilidade crônica – vida e carreira de Nina Simone

Há alguns dias, assisti o documentário “What Happened, Miss Simone?“, produzido pela Netflix e dirigido pela cineasta Liz Garbus, sobre a carreira da cantora americana Nina Simone e, como tudo o que realmente nos marca e emociona, continuo pensando sobre tudo o que eu vi, ouvi e senti.

Em pouco mais de uma hora e meia, nossas emoções são bombardeadas ao conhecermos a história da menina de pele cor de ébano que cresceu em meio à segregação racial sem entender exatamente do que se tratava, que estudou com afinco para se tornar a primeira pianista de música clássica negra dos EUA e que caminhou para uma juventude, em que sua cor fecharia mais portas do que o seu talento, na época, seria capaz de abrir.

Em bares noturnos e adotando o nome de Nina Simone, conseguiu o sustento da família na cidade grande. Após a fama e já casada com um marido abusivo que se tornou seu agente, Nina se sentia escravizada pelo trabalho e pela agenda sempre excessivamente lotada. Havia uma relação controversa com a fama e com o preço a pagar por tanta exposição, tais como o cansaço constante, a impessoalidade da vida em hotéis e camarins, e a distância da família.

Durante anos, os amigos acompanharam suas oscilações de humor. Nina, onde quer que estivesse, era capaz de parar um show para pedir que alguém da plateia ficasse em silêncio ou se sentasse. Esse humor volátil, com o passar dos anos e o acúmulo de estresse, teria ficado cada vez mais imprevisível, principalmente, depois de sua forte militância política a favor da igualdade entre brancos e negros. Nina esteve presente em todo o movimento que marcou a década de 60 nos Estados Unidos. Esteve lado a lado com Martin Luther King, embora acreditasse em uma abordagem que usasse da força para conseguir mudanças. E, devido a isso e ao direcionamento de suas canções para temáticas da causa, sua carreira foi afetada.

Em um momento de sua carreira, abandonou tudo, inclusive sua filha, e foi morar na África. Tempos depois, mandou buscar sua filha, mas, a menina não encontrou mais a mesma mãe e sim uma mulher mais violenta e que a espanca frente a qualquer adversidade. Nina, sem renda e após dissipar todos os bens, volta para tentar reconstruir a carreira. Dessa vez, na Europa. Em Paris, trabalha em um local tão ruim, que nem é reconhecida… as pessoas pensam que não é ela. Tempos depois, alguns de seus amigos a ajudam a reconstruir sua carreira. É feito o diagnóstico de transtorno maníaco-depressivo (atual Transtorno Bipolar) e ela passa a ser tratada e se mantém mais estável até o fim de sua vida.

Quais seriam os limites humanos que nos permitem manter ou perder a nossa sanidade? Racismo, um casamento abusivo, envolvimento político fortemente militante em uma época de profunda repressão, feridas de uma infância, em que passava cerca de 7 horas por dia estudando piano, agendas lotadas e quase nenhum descanso? Solidão… como uma alma tão sensível como a de uma artista com a intensidade de Nina Simone poderia sobreviver intacta a tantas agressões e provas de realidade?

Enquanto a arte era um contraponto ela pode continuar, mas, quando a música se tornou também um peso, o que lhe restaria?

O documentário enfoca a carreira da atriz dando diversos destaques para suas oscilações de humor e, mesmo no final de sua vida, eles enfatizam o diagnóstico de bipolaridade e a cronicidade da doença para justificar as mudanças bruscas de comportamento.

A questão é, dentro de sua profunda humanidade, teria Nina Simone se perdido em uma patologia ou em sua própria sensibilidade que, contraditoriamente ao que pensaríamos de uma cantora, terai ela perdido sua voz?

Nina foi uma vitoriosa em todos os sentidos e, mesmo quando talvez não tenha feito suas melhores escolhas (não cabe a nós julgar), acertou tentando ser fiel a si mesma e aos seus sentimentos. Tentou a todo custo libertar-se do racismo e ajudar seus semelhantes, lutou para libertar-se do marido abusivo, lutou para libertar-se até de si mesma, mesmo quando mal conseguia sobreviver à convivência com a pessoa que se tornou.

Sua filha fala dela com lágrimas e amor, o amor de quem entendeu o que a mãe sofreu para deixar de ser Eunice Kathleen Waymon, a filha da ministra metodista que tocava piano na igreja e tornar-se o ícone Nina Simone.

Nina se faz em nós e é eterna lembrança não somente porque foi pianista, cantora, compositora ou mesmo ativista pelos direitos civis norteamericanos. Nina rasga nossa compreensão e penetra nossa alma porque, mais do que tudo isso, mais do que alguém que sofreu com um transtorno bipolar e um marido abusivo, mais do que aquela que cantou porque precisava do dinheiro ou trocou de nome, mais do que o temor de envergonhar a família religiosa, ela deu voz à mais elevada forma de expressão humana: ela foi sensibilidade extrema em forma de música e de ideias.

Faleceu dormindo, depois de lutar vários anos contra um câncer de mama.
Penso, entretanto, que o que realmente a matou foi a sensibilidade crônica…

Abaixo, o trailer do documentário

Não existe botox para o vazio existencial

Não existe botox para o vazio existencial

Não somos nada nem ninguém sem consumir. Você já parou para pensar nisso? Vivemos numa sociedade de consumo, disso todos nós sabemos. Acontece que a nossa ânsia por obtenção palpável se estendeu até os desejos mais íntimos. Não adquirimos por ímpeto apenas roupas, sapatos, objetos. Nós consumimos sentimento, gente, sexo, prazeres, tempo. Tudo. Parece que sem consumo não existe vida. Nem bem-estar. Nem alegria. Nem amor. Nem nada.

As pessoas estão cada vez mais insatisfeitas com elas mesmas e com o mundo. Querem preencher a qualquer custo os seus buracos. Consomem tudo e todos ao mesmo tempo, na ânsia desesperada de abarrotar os espaços vazios que levam por dentro.

Começam se enchendo de coisas, mas logo o tangível passa a não bastar. Então, encontram nos outros a possibilidade da sensação de plenitude, de prazer e satisfação. É uma perseguição efêmera atrás da saciedade.

Aí vem a primordialidade de ter e sentir, a carestia da posse, que comanda os sentidos e determina as ações. Objetos já não suprem a ausência física de uma companhia, o desamor que maltratou o coração, o desejo carnal irrefreável. É preciso sentir que alguém lhe pertence, nem que seja por algumas horas, até atingir um nível de contentamento. A ideia da posse acalma.

O problema é que depois que o refém é liberado, um rombo maior se abre por dentro, e você vai precisar preenchê-lo outra vez. E mais outra. E assim, sucessivamente. Até que uma sombra equilibre a sua e, juntos, consigam fechar todos os rasgos.

Enquanto isso não acontece a busca pelo prazer e pela companhia entra em um círculo vicioso. É preciso se sentir querida, desejada, amada, reverenciada. Se consome amizade, se consome sexo, se consome o tempo dos outros, a atenção. Aliás, o tempo é uma coisa curiosa.

Tem gente que só se sente vivo, de fato, se estiver abusando de todo e qualquer sopro de segundo. Perder tempo ou sentir que não está fazendo nada com ele é infelicidade na certa, é causa mortis. Abusam do tempo, o tempo todo, a fim de afirmar-se vivo.

A busca por sexo também é uma forma de consumo, porque se associa o prazer ao amor, confunde-se a proximidade com a companhia, a carência com a presença. Depois a solidão chega e toma o seu lugar. É quando o consumista, novamente, persegue quem possa lhe preencher, para suprir o vazio e a necessidade de afirmação.

E assim, o consumo se expande junto das vontades cada vez mais ansiosas e caprichosas. O eu grita mais e mais alto, faz as suas birras, é exigente. Você cede. Até porque a sensação é de que uma vida sem consumo é chata, vazia e sem nenhum propósito. O pensamento é que só é possível ser feliz quando se adquire, seja lá o que for.

As pessoas gastam dinheiro, gastam tempo, investem os seus planos e sonhos, se desgastam em expectativas e frustrações. Tudo em busca de um sentimento de verdade. Não precisa ser imenso, não, mas que seja inteiro.

A verdade é que enquanto faltar amor aqui dentro nós continuaremos procurando lá fora por alguém que nos baste. Miraremos alvos incertos, consumiremos o mundo freneticamente, expostos ao tiroteio dos corações caçadores.

A esperança é que, no meio da artilharia, em lados opostos, nos reconheceremos dentre tantos atiradores; nós e o nosso amor próprio. Só quando nos encontrarmos deixaremos de ser ávidos consumidores de gente.

Por Karen Curi – Jornalista

Publicado originalmente na Revista Bula, Via Sou Psicólogo com muito orgulho

Fronteiras da solidão: os lados bom e ruim

Fronteiras da solidão: os lados bom e ruim

Enquanto você estiver lendo esse texto, o sul-matogrossense Gen Kelsang Togden, de 54 anos, que morou em Curitiba boa parte da vida, estará provavelmente em silêncio e só. Por cerca de dez dias começando nesse fim de junho de 2015, a única companhia de Togden será a dos seus pensamentos, durante o retiro em um mosteiro budista na Inglaterra. Ele sabe bem o que esperar da experiência. A primeira vez que fez essa profunda imersão interior foi durante o inverno em uma cidadezinha no Canadá, quando tinha 32 anos. Durou uma semana e o marcou para sempre.

“Foi impressionante poder ver o meu próprio interior. Tive sonhos cheios de significado simbólico. Vi e senti coisas maravilhosas e assustadoras”, recorda-se. “Posso entender perfeitamente por que as pessoas não gostam da solidão. Elas têm medo do que verão no seu coração, temem ficar com seus pensamentos. Muitas acham isso insuportável. Assim que estejam sós precisam ouvir música ou ver televisão. Mas para alguém que busca uma consciência mais elevada sobre si mesmo e o mundo em que vive, a experiência de introspecção na solidão é imprescindível”.

Ninguém está só ao se reconhecer na fala do monge Togden – cujo nome de nascimento é Marcos Bittencourt do Amaral. Evitar estar (e parecer) solitário talvez seja a maior preocupação das pessoas ao nosso redor atualmente. E no mundo todo.

Na Coréia do Sul, atores são pagos para comer em frente a uma webcam, proporcionando aos assinantes do serviço a sensação de ter companhia durante as refeições. Chama-se “mukbang” – ou “comer e transmitir”. Há quem pague R$ 49,90 por uma semana do serviço de uma empresa brasileira que forja namoros virtuais. E sim, existem os que ligam a tevê ou o computador para “abafar” os próprios pensamentos – eu e certamente você. O fato (e conflito) é que momentos de solidão não trazem apenas dor, mas autoconhecimento. Para muitas pessoas, estar só é poder se planejar, ou arrumar os sentimentos nas “gavetas” – como mostram as histórias ao longo dessa reportagem.

Saúde pública

Em nossa defesa, podemos argumentar que a solidão mata. É o que apontam estudos como o do Instituto de Epidemiologia e Saúde da University College London. Há 15 anos o professor de Psicologia Andrew Steptoe pesquisa a maior probabilidade de idosos solitários desenvolverem doenças cardíacas e degenerativas. A equipe de Steptoe determinou uma escala de solidão, em que contam aspectos como coabitar ou não com alguém, manter contato (vale até por rede social) pelo menos uma vez por mês com familiares e amigos, e participar de grupos.

“É um problema porque estamos vendo mudanças na forma em que vivemos”, disse o pesquisador ao Viver Bem. Ele cita que, no Reino Unido, um terço das pessoas com mais de 65 anos vivem sozinhas. “Cada vez mais pessoas de meia idade vivem sós porque os laços de casamento não são tão fortes e o divórcio é mais socialmente aceito. E existe uma crescente mobilidade da população, em especial jovens mudando de cidade e de país, e isso é receita para se ‘fazerem’ mais solitários”. Nem tudo é individual, porém. A tudo isso soma-se um problema social a ser combatido por governos e sociedade, que é o isolamento de grupos marginalizados – caso mesmo dos idosos.

Steptoe ressaltou, no entanto, que é determinante para essas pesquisas considerar a forma com que cada indivíduo encara o hábito de estar só. É a dor em estar sozinho que leva pessoas a adoecerem, afirma o estudioso. “Definitivamente algumas pessoas parecem socialmente isoladas – têm poucos amigos e contato com familiares –, mas não se descrevem como solitários. Nesses casos, não esperamos que os aspectos negativos se manifestem”.

Peso

Mas isso não parece ser o mais comum. Dos cerca de 900 atendimentos mensais feitos pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) em Curitiba, a esmagadora maioria trata de pessoas infelizes por causa da solidão. E essa sensação não necessariamente está ligada a isolamento físico. “Notamos que, ao mesmo tempo em que vivemos uma era de comunicação, as pessoas estão se distanciando”, afirma Claudiane Araújo, coordenadora e voluntária do centro curitibano. “Isso aumenta a sensação de solidão. Às vezes as pessoas não estão sós, têm família e amigos, mas falta acolhimento, falta ouvir”.

O CVV, que atua há cerca de 30 anos na capital do Paraná, não oferece conselhos, mas tenta fazer o usuário do serviço ter percepções próprias. É com essa tática que, às vezes, voluntários conseguem fazer uma pessoa que sofre com a solidão mudar de perspectiva. “Tudo depende de como você aceita a situação. Às vezes a pessoa só enxerga que o quadro é positivo depois que passou por aquilo. Creio que é a maturidade emocional que faz com que momentos solitários sejam bons ou não”, diz Claudiane, que é especialista em gestão. “O fato é que pode ser uma desgraça ou um aprendizado, mas é preciso passar para realmente entender”.

Hoje em dia

Então, ainda que a palavra em português que dá sentido positivo ao estar só – a solitude – seja bem menos usada do que a sua irmã pejorativa – a solidão –, estar só e se sentir solitário não são sinônimos. Então, de onde vem esse pavor de que a falta de companhia traga dor, doenças, desesperança? Para o psicanalista Mauro Mendes Dias, a base de tudo isso está na “elevada exigência” que as pessoas se forçam para corresponder a expectativas imaginárias, e mais e mais altas.

Dias lembra que o solitário “infeliz” é alguém que se afasta das pessoas por achar que não corresponde a ideais físicos e psíquicos – tem alguma doença, por exemplo. O problema é que essa sensação é cada vez mais típica de pessoas saudáveis, que a princípio não teriam por que se sentir mal. “Há uma tendência a tratar a solidão como uma doença, principalmente em nosso momento histórico marcado pela dominância das imagens e dos ideais estéticos”, reflete. “Tais ideais fazem das vidas um parecer ser, mostrando o que não se é de fato. Por isso mesmo estamos habitados por uma profunda fuga da verdade em nosso cotidiano”.

“A promessa [dos dias de hoje] é de que ninguém estará sozinho se ficar conectado. Nesse sentido é esperado que a solidão seja catalogada como doença e condição a ser evitada, já que pelo princípio das imagens e das conexões ininterruptas, ninguém deve ficar de fora.”
Mauro Dias, psicanalista.
“Quem não consegue ficar bem a sós depende demais dos outros e vai projetar suas carências nas pessoas ao seu redor: na família, no trabalho, etc. Isso normalmente cria muitos problemas de relacionamento.”
Gen Togden, 54 anos, monge.

Momento de criação para a artista

Autora de uma canção chamada “O Lado Bom [da solidão]”, Zélia Duncan aprendeu na adolescência o gosto por estar só. “Foi quando comecei a ouvir música”, conta. “Esperava todos saírem para ter a vitrola só para mim, coisa rara numa casa de quatro irmãos. Apagava a luz e mergulhava nas vozes, instrumentos e arranjos. Assim comecei a sonhar em ser artista”.

A letra da música (“Sento no meio-fio dos meus pensamentos / na beira do que eu invento / e aproveito o lado bom da solidão”) trata da “percepção de cores e sentimentos que só a solidão proporciona”, diz a cantora. “Mas também um poema do (Fernando) Pessoa, um verso que diz: ‘sentir é estar distraído’… Achei que tinha a ver com essa solidão boa, de estar livre para sentir tudo. E fiz a letra”.

Momentos de solidão são essenciais, diz Zélia. Para descansar olhos ou ouvidos ou para criar, no caso dos artistas. “A solidão escolhida não tem sofrimento, não te vitimiza. Devemos nos orgulhar dela. Não saber ficar sozinho é muito triste, creio eu. É mal conseguir ler um livro”, afirma. Para ela, essa impaciência é fruto de um mundo cheio de “chamados, ruídos, vaidade e necessidade de se mostrar”. “Vivemos nesse mundo de estímulos externos, de depositar na mão do outro a sua vida, o seu divertimento. Parte grande do público entra no teatro, cruza os braços e diz: ‘divirta-me’. Mas e você, o que trouxe?”

“É preciso saber estar só para poder estar com alguém. Não esperar que o outro supra esse vazio de sermos únicos, pois afinal, esse vazio é comum a todos e nos une também.”
Zélia Duncan, cantora e compositora de “O Lado Bom (da Solidão)”.

Tempo para pensar durante o luto

O senso comum diz que é preciso “chegar ao fundo do poço” para enxergar luz. Assim Rosangela Cassiano, de 49 anos, vê um momento solitário da sua vida, uma época em que ela se isolou e não quis ver ninguém. Foi pouco depois da morte do filho, em 2004, em um acidente de trânsito. Era a primeira vez que lidava com o luto, e ela sentia que as pessoas não tinham nada a dizer.

“Tudo o que elas falavam era para me calar. E eu queria chorar”, lembra-se. Hoje Rosangela vê esse período a sós com os próprios pensamentos como um mergulho difícil, mas essencial para enfrentar a situação. O que é surpreendente, visto que todos os pensamentos eram negativos. “Eu ruminava e só vinham coisas ruins. Era autodestrutivo”.

Até que ela começou a organizar as ideias. Sozinha, passou a conversar consigo mesma. “Uma coisa que aprendi é a escrever, fazer listas do que faz bem e do que poderia me deixar melhor”, diz. “A princípio veem mil coisas ruins para duas, três boas. Aprendi a focar nas boas, mesmo sendo poucas. Começava a construir, a viajar”.

Hoje coach de pessoas enlutadas em São Paulo, ela está acostumada a mostrar os dois lados da moeda para quem a procura. Foi o caso da mulher que contou ter medo de ficar sozinha em casa depois que o filho mudasse de país. “Perguntei a ela o que faria sozinha em casa. Ela começou a pensar em coisas como viajar, em hobbies que a interessavam e que não fazia porque estava sempre centrada no filho”.

Por CAMILLE BROPP CARDOSO
Fonte: Gazeta do Povo

A magia de conversar

A magia de conversar

Desde o surgimento das redes sociais e das mensagens por celular, realizar uma conversa cara a cara tornou-se algo quase exótico. Estamos em contato de forma breve e superficial com um número cada vez maior de pessoas, mas cada vez nos sentimos mais sozinhos.

Para melhorar nossas relações com os outros, compreendê-los e sermos compreendido, é essencial recuperar o bom hábito de conversar com tempo e verdadeira atenção.

Parece demonstrado que um déficit de conversação faz com que o sujeito fique mais propenso a sofrer de transtornos psicológicos. A falta de comunicação, direta e interativa, com outras pessoas que podem dar a sua opinião e relativizar os acontecimentos faz com que estes fiquem presos na mente.

Quando uma experiência fica estancada no circuito fechado de um único indivíduo, as emoções são amplificadas e os próprios fatos acabam distorcidos, algo que poderia ter sido evitado com uma conversa em boa companhia.

Deborah Tannen, professora de linguística da Universidade de Georgetown, explica que “uma conversa bem realizada é uma visão de sensatez, uma confirmação do nosso próprio modo de ser humano e do nosso próprio lugar no mundo”. No entanto, essa atividade tão humana pode se virar contra nós quando não é realizada de forma saudável ou com as pessoas certas. “Não há nada mais profundamente inquietante que uma conversa que não funciona (…) Se isso acontece com frequência, também pode desequilibrar nossa sensação de bem-estar psicológico”.

A autora diz em seu ensaio “Hablando se entiende la gente” (Conversando entendemos as pessoas) que muitas das disputas que ocorrem em casais heterossexuais têm sua origem em nossa formação social, durante a infância e a adolescência, com amigos do mesmo sexo. Isso faz com que, em muitos casos, sejam criados estilos de conversação separados por falta de interação entre gêneros.

A partir daqui são gerados mitos como que “os homens não sabem ouvir” ou “as mulheres falam sobre os seus problemas sem parar”, o que são claros preconceitos de gênero. Como acontece em qualquer outra atividade humana, existem diferentes graus de implicação e domínio na comunicação oral com os outros. No lado mais leve desta arte estaria a conversa informal que, de acordo com Debra Fine, é injustamente pouca valorizada:

“O bate-papo tem o estigma de ser considerado o enteado pobre da verdadeira conversação, mesmo quando cumpre uma função extremamente importante. Sem ela é muito difícil realizar um verdadeiro debate. Quem domina a conversa informal é especialista em conseguir que os outros se sintam envolvidos, valorizados e cômodos, e isso ajuda a reforçar uma relação de trabalho, fechar um negócio, deixar a porta aberta para um novo relacionamento amoroso ou começar uma amizade”.

De acordo com essa especialista em oratória, a conversa informal é o primeiro passo para que possa surgir a empatia entre duas pessoas. Embora a conversa seja sobre algum assunto pouco importante, nesse primeiro contato na verdade estamos falando muito, porque começamos a criar um vínculo que já transmite proximidade ou distância, confiança ou reservas para o outro.

Nas palavras de Debra Fine: “A conversa intranscedente é o equivalente verbal à primeira peça do dominó: desencadeia uma reação em cadeia, com todo tipo de consequência”. Contra o preconceito de que um desconhecido não terá nada em comum conosco, ao nos arriscarmos podemos terminar com uma surpresa agradável.

Quantos casais, bons negócios ou amizades têm sua origem em uma conversa casual? Provavelmente, a maioria. Além das habilidades de comunicação de cada um, a arte da conversação pode ser aprendida e reforçada. Os antigos gregos davam grande importância ao exercício da oratória e, nos tempos modernos, em 1875 Cecil B. Hartley mencionava em seu “Guia de um Cavalheiro de Etiqueta”, um conjunto de códigos que ainda são válidos, apesar de que, ainda hoje negligenciamos muitos deles.

Podemos resumir nestes 10 pontos:

1. Apesar de estar convencido de que o outro está totalmente errado, em vez de argumentar é aconselhável mudar habilmente de conversa. É absurdo pretender que os outros concordem com você.

2. Nunca interrompa ou antecipe a história do interlocutor. Saber ouvir é a regra de ouro do bom conversador.

3. Evite fazer cara de cansaço durante o discurso da outra pessoa, assim como se distrair com outra coisa enquanto está falando. Hartley mencionava como entretenimento “olhar o relógio, ler uma carta ou folhear um livro”. O equivalente atual seria o hábito irritante de olhar o celular.

4. A modéstia vai evitar muitas antipatias. Não se deve ficar exibindo conhecimentos, méritos ou posses para fazer com que os outros se sintam em desvantagem.

5. Não é necessário falar de si mesmo, a menos que seja perguntado. Os interlocutores vão ficar sabendo sobre suas virtudes sem necessidade de ficar contando.

6. A brevidade criativa é sempre mais eficaz que os discursos longos ou as histórias chatas.

7. Criticar ou comparar umas pessoas com outras, além de atacar alguém ausente, pode parecer divertido, mas vai acabar causando uma má impressão.

8. Nunca se deve apontar ou corrigir os erros na linguagem dos outros, mesmo que sejam estrangeiros, já que vão se sentir humilhados pela observação.

9. Não se deve oferecer assistência ou aconselhamento a menos que o conselho seja pedido expressamente.

10. O elogio excessivo cria desconfiança, porque o interlocutor pode pensar que você tem intenções ocultas.

No final, a essência do bom diálogo é a nossa capacidade de nos entregarmos ao intercâmbio com o outro, como se fosse uma coreografia. Os participantes fazem suas ideias dançarem juntas, se encontrarem e se separarem –para expandir seu horizonte de opiniões– e voltam a se unir para criar novos significados.

É por isso que depois de uma conversa profunda nos sentimos transformados. Terminamos alimentados por novas ideias e submetemos nossa visão a uma abordagem diferente que expande nossa compreensão sobre o mundo e sobre nós mesmos.

Em seu livro “Conversação”, o pensador Theodore Zeldin afirma que “dois indivíduos, conversando honestamente, podem se sentir inspirados pelo sentimento de que estão unidos em um empreendimento comum com o objetivo de inventar uma arte de viver juntos que não foi tentada antes”.

Já que é um dos poucos prazeres que não exige outro investimento além do tempo, vale a pena recuperar esta velha arte para que possamos voltar a nos sentir humanos.

Se o tempo gasto em enviar ou responder centenas de mensagens fosse dedicado a compartilhar nosso universo com pessoas que possam enriquecê-lo, viveríamos com uma “largura de banda” maior e poderíamos enfrentar os problemas que a vida trouxesse de forma mais inteligente e serena.

Por FRANCESC MIRALLES
Fonte: El País

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