5 semanas para esquecer um grande amor

5 semanas para esquecer um grande amor

Para esquecer um grande amor, é preciso partir. Se tiver chance de viajar, ótimo. Se não tiver, a solução é partir de você mesmo e voltar com outro ponto de vista. Trocar os móveis de lugar, comprar umas roupas novas, dormir do lado contrário da cama, entrar numa aula de desenho ou de violão. Acordar cedo e tomar água de coco sentada na areia de praia. É preciso sair da rotina.

Semana 1 – Hora de sofrer tudo o que você tem para sofrer

Uma vontade de ficar deitada na cama (de preferência, no escuro) percorre meu corpo todo. Só quero chorar, porque a vida parece inútil. Nada faz sentido mais. Drama, drama, drama. Nesta semana, eu vou me permitir sentir tristeza. Eu mereço passar por esse luto. Minhas amigas me chamam para sair, mas eu não quero. Não quero fazer nada. Só tem gente idiota na rua, não quero conhecer ninguém novo. Ninguém é como ele. Nunca mais vou amar. Eu odeio o amor.

Chega uma amiga, em casa, falando que eu não posso ficar assim. Ele não me merece. Ninguém me merece. Eu sou um trapo. Até que ela fala uma cosia que ninguém mais me falou. Essa é a hora de curtir minha bad. Ficar no fundo do poço mesmo. Nenhum sentimento se desperdiça, nem mesmo os piores. Sofre, mas você tem uma semana para lavar esse rosto e sair para ver o dia lindo que faz lá fora. Choro de novo.

Passo uma semana sem forças. Produção no trabalho cai para zero. Não posso ser demitida por causa de homem. Não posso. Preciso sair para tomar uma cerveja.

Saio. Minha amiga leva uma amiga do trabalho. Passo a noite inteira falando sobre como a gente se conheceu e como é inacreditável a gente ter acabado. Todo mundo falava que a gente combinava. Eu realmente achava que a gente ia se casar. Todo mundo acha isso. É legal querer ficar com alguém para sempre, mas a gente não precisa apostar todas as fichas nisso. A gente tem que apostar as fichas em vários partes da vida, para nunca ficar sem nada.

A amiga da minha amiga está de saco cheio de me ouvir falar, mas sem graça de parar de ouvir. Ela já passou por isso, ela disse. Deve estar achando tudo um drama sem fim. E é mesmo. Mas esse é o meu momento de sofrer. Me-deixa-em-paz!

Semana 2 – Hora de viajar, sair da rotina, mudar o pensamento

Despertador toca e parece que tudo foi um sonho, mas logo todos os pensamentos começam a voltar e tudo vai ficando real. Foi tudo real. Começo a chorar, mas não posso me atrasar de novo para o trabalho. Saí o fim de semana todo, mas um dia voltei pra casa bêbada e chorando, no outro fiquei bêbada de novo e peguei um cara que não tinha nada a ver.

Não. Esse fim de semana, eu vou viajar. Eu preciso sair daqui. Ligo para meus amigos e combinamos de ir a uma cidade perto. A segunda etapa para esquecer é viajar. Mesmo que seja ali na esquina. Mas é preciso passar uns dias fazendo algo que você não fazia antes.

Na viagem, parece tudo mais distante. Aquele peso todo já saiu um pouco, apesar de a tristeza ainda estar instalada por todos os meus poros. Eu não consigo mais morrer de rir de nada. Até que alguma coisa seja realmente muito engraçada e eu esqueça, por um instante, tudo isso. Mas o pensando fica me puxando para baixo.
Nessa hora, é preciso ter bons amigos que nos façam rir de nada.

Um amigo da viagem falou uma coisa que eu não vou esquecer. Ele disse que o amor só existe com a esperança. Enquanto existe um fio de esperança na gente, não tem como esquecer. Ainda existe uma esperança, no fundo, de que ele vai voltar e eu não quero deixar o sentimento ir embora. Eu queria que ele viesse até aqui dizer que tudo acabou para sempre, mas eu sou a única que pode fazer isso morrer em mim.

Semana 3 – Hora de fazer atividades novas e se arriscar

Decidi que não vou mais ficar com ninguém por agora. Porque óbvio que eu sinto falta de sexo, mas toda vez que eu tento me aventurar para “esquecer”, é só ele que vem à minha mente. Então, esquece. Não dá para ficar me enganando. Eu não quero mais ninguém. Quando chegar a hora, eu vou saber. Não vai ser forçado. Cansei de gente querendo me apresentar gente. Eu quero ficar em paz. Eu preciso esquecer e forçar a barra só atrapalha tudo, porque eu sempre chego em casa chapada, chorando e querendo comer a geladeira inteira. Depois eu quero dormir. Para sempre.

Eu decidi dar um ponto final e sei que, para isso, eu preciso parar de fazer drama. Mas é tão difícil se acostumar com essa vida vazia. E, já que está tão vazia, nessa etapa eu vou aproveitar para fazer tudo o que eu ainda não fiz. Vou entrar numa aula de Francês. Sempre quis aprender Francês. Vai ser bom para ocupar a minha mente. Ou eu podia entrar numa aula de teatro, violão. Eu vou inventar uma vida nova, já que essa está chata demais. No mesmo dia, faço minha matrícula no Francês e peço indicação de um professor de violão. Será que também dá tempo de fazer aula de pintura?

Ocupo minha cabeça procurando atividades novas para fazer, em vez de assistir a mais um episódio de Girls. Durmo com uma faísca de ansiedade se acendendo.

Acordo, no outro dia, colocando “You get what you give” e aceito essas palavras tipo um presente. I got the music in me. Arrumo a cama, coloco um tênis e saio para passear pela rua, ouvindo as músicas novas que eu baixei. Hoje eu vou sair linda e não quero nem saber. Vou usar batom vermelho de dia, sim.

Começo as atividades novas e me esqueço dele durante o tempo todo em que estou nelas. É engraçado, mas fazer coisas novas ajudam, porque eu nunca fiz nenhuma dessas atividades com ele. Aprender alguma coisa nova me dá vontade de viver cada vez mais, para aprender cada vez mais, e uma onda de felicidade bate, depois de dias sem sentir nada. Descobri que o sentido da vida é aprender coisas novas. Quero aprender alguma coisa nova todos os dias.

 

Semana 4 – Hora de encarar o tal grande amor, ou ex grande amor, no caso

Comecei o Francês, mas todo mundo da minha turma é meio esquisito. Eu não me importo, porque descobri que tenho mais facilidade com línguas do que eu imaginava, e meu professor já elogiou duas vezes meu desempenho. Forço-me a fazer uma coisa diferente todos os dias. Estou fazendo tudo que eu realmente quero e descobri um prazer imenso em ficar sozinha. Penso no passado, mas tenho pensado muito no futuro, nas coisas que eu quero fazer, naquilo em que eu quero investir. Comecei a pesquisar umas bolsas de mestrado fora e uma amiga já topou ir comigo para a França.

Saio à noite com as meninas para um show insuportável, mas elas me convencem de ir. Eu sabia que existia chance de eu encontrá-lo por lá. Eu já estava tão bem, não precisava disso. E, claro, ele estava lá.

Nessa etapa, é preciso encontrar-se com ele. É bem provável que você tenha uma recaída, mas você está bem com você, está cheia de planos, cheia de ideias novas. Você não vai passar vexame.

Vejo ele, de longe, e meu coração começa a acelerar. Finjo que eu não o vi conversando com uma menina e saio de perto. Minhas amigas perguntam se está tudo bem e meus olhos enchem-se de água. Quero sair daqui. Parece que todo o trabalho que eu fiz para me reerguer, nesta semana, foi em vão. Voltou tudo de novo, como se fosse o primeiro dia.

Bebo mais uma cerveja e sinto meu corpo amolecer. Quero ir falar com ele, quero falar que não quero que ele fique com ela. Mas eu não tenho mais nada a ver com isso. Ele é meu ex. Não é meu amigo, nem meu namorado. Ele é uma pessoa que tinha meu coração, em quem eu tinha confiança, a quem eu contava os meus segredos. Mas terminar é arrancar um amigo da sua vida à força e dói pra cacete. Eu preciso arrancá-lo de mim, como se arranca uma erva daninha. Mas morro de medo, porque, se eu o arrancar, talvez eu arranque um pouco de mim também. E é isso. Eu preciso arrancar essa memória de mim, porque quem eu era com você não existe mais. E agora eu sou uma pessoa que faz francês e toca violão. E eu acordo cedo para andar pela orla. E a vida também pode ser boa sem você, porque eu sou uma nova eu.

Nossos olhares se cruzam e eu tenho vontade de que um buraco se abra diante de mim. Sorrio. Você não esperava que eu sorrisse. Você não esperava que eu estivesse ali, pronta para outra. E eu vejo que você se surpreende comigo. A gente se aproxima, cumprimenta-se, dando dois beijinhos. Meu Deus, isso é muito estranho. Quero me enrolar no seu peito, sentir sua barba arranhando meu rosto. Seu cheiro de vida medíocre me faz querer parar de respirar. Mas eu só pergunto se está tudo bem.
“Tudo, e você? Como andam as coisas?”

Quero dizer que sou uma nova pessoa, que talvez você não me reconhecesse, mas você não percebe nada de muito diferente.

Respondo que está tudo bem.

Vi você numa foto num curso de francês. Está fazendo aula? Só tem gente estranha naquela turma.

Por que ele andou fuxicando meu Facebook, se não quer mais nada comigo? Quero concordar que só tem gente estranha, mas percebo o quão imbecil foi esse comentário. Sem querer, lembro que ele sempre fazia comentários imbecis sobre as coisas, mas eu não queria ver. Quando a gente termina, percebe que o outro nem é tudo aquilo. Talvez o que eu gostasse mais em você era o jeito que eu me sentia quando eu estava com você. Mas agora eu estou construindo uma nova vida em cima dessa que eu já tenho e não posso recusar. Oi, quero trocar de vida, essa não me serviu bem.

Os pensamentos rasgam minha cabeça por dentro e tenho certeza de que ele percebe meu coração quase saindo pela boca. Falo que estou fazendo francês e violão e que a vida anda muito bem, obrigada, mas penso “quem é aquela otária com quem você está conversando?” Agora preciso encontrar minhas amigas. Tchau.

Você não esperava que fosse cortar a conversa e me olha sem entender, mas finge que está tudo bem. Encontro minhas amigas e falo que quero ir embora. Todas desistem da noite por mim, menos uma que já está quase ficando com um carinha. Saio impecável do show. Sem dar vexame, sem beber todas, sem falar merda. Viro a esquina e caio no meio fio de tanto chorar.

As meninas me abraçam e compram uma coxinha com muito catupiry e uma Cola-Cola. Aquele é o melhor gosto que eu já senti. A gente volta para casa e fica conversando um tempão na cozinha, tentando entender aquela situação toda, até que uma delas me faz a pergunta mais óbvia: mas você que voltar com ele? Eu quase respondi de supetão que claro que sim, mas paro para pensar na minha vida agora, no que ele me falou e percebo que não. Eu não queria voltar para minha rotina. Apesar de ainda sentir muita falta da companhia dele e das coisas que a gente fazia, eu prefiro não estar com ele agora. Talvez ele não sei encaixe mais nos meus planos. E não respondo nada.

Semana 5 – Hora de se abrir pra alguém novo

Minha rotina continua a mesma da semana passada. Tenho aula de violão, Francês, e meu trabalho está parecendo mais legal do que era antes. Estou com uns novos planos. Resolvi que, sábado de manhã, eu vou fazer stand up na Lagoa. Nunca fiz essas coisas, mas as pessoas que o fazem parecem bem felizes ali, então resolvi tentar. Eu podia aprender a surfar, pintar o cabelo de loiro e virar aquelas pessoas que são ratas de praia. Eu gosto dessa visão de mim. Eu posso seguir o caminho que eu quiser e não tenho nada a perder. Não preciso me preocupar com dar satisfação e nem evitar brigas por causa de ciúmes. Namorar é ótimo, mas descobri que a vida também pode ser muito incrível sendo solteira.

***

Esse fim de semana, eu fui a uma festa na casa de um amigo de um amigo. Agora eu vou para tudo que me chamam.

Nessa festa, eu fiquei conversando um tempão com um cara que veio do Espirito Santo fazer mestrado aqui. A gente ficou fumando um cigarro na janela e eu nem percebi que se passaram 2 horas enquanto a gente trocava uma ideia sobre tudo. Falei do meu ex, ele falou que também saiu há pouco de um relacionamento e percebo que os dois estão satisfeitos de estarem ali, agora, presenciando as coisas boas da vida. Pela primeira vez, desde que eu terminei, sinto uma vontade inexplicável de beijar outro cara. Aqueles olhos castanhos profundos me engolem e eu só tenho vontade de agarrar ele ali mesmo, na frente de todo mundo. A gente não ficou nesse dia, porque ainda não sei se estou preparada para me decepcionar de novo, mas eu percebo um interesse da parte dele. A gente troca telefone, Facebook e tudo mais, e combina de se encontrar durante a semana. Estou ansiosa pra encontrar com outro cara e meu ex começa a se transformar em lembrança.

***

No outro dia, saio de casa pensando onde foi que eu errei no relacionamento, de uma forma bem racional mesmo, sem dramas. Queria saber onde eu errei, para não cometer esse erro de novo. Chego à conclusão de que eu errei não começando essa vida nova antes e até a rua aqui de casa parece mais bonita.

6 maneiras de dizer eu te amo

6 maneiras de dizer eu te amo

Muito mais do que um clichê, todos nós sabemos que demostrar amor é algo que, na prática, vai muito além das palavras.

Selecionei parte de uma lista de um artigo maior do site Família onde algumas reflexões são feitas sobre outras maneiras de comunicar o mais nobre dos sentimentos. Você também pode ler o artigo completo aqui.

1.Ouça

Nosso amor é comunicado através da nossa escuta tanto quanto através de nossas palavras. Ouvir envia uma mensagem poderosa que silenciosamente diz, “Eu te amo. Eu gosto de você. Eu respeito você, e eu valorizo o que você tem a dizer.”

2. Seja específico

É bom dizer: “Eu te amo”, mas também é importante comunicar claramente atributos específicos que você ama sobre o outro. Dizer coisas como: “Eu amo a sua criatividade. Você me ajuda a criar novos pensamentos.” Ou “Eu amo a sua compaixão. Você me estimula a ser uma pessoa melhor” Ou “Eu amo a grande mãe/pai que você é”.

3. Escreva uma carta de amor

Em nossa era digital, enviamos mensagens de texto durante todo o dia, mas quantas vezes o seu cônjuge recebeu algo escrito à mão por você? Escreva uma carta de amor para ele/ela. Isso provavelmente irá se tornar uma lembrança querida para os próximos anos.

4. Valorize o que o outro valoriza

Você e seu cônjuge têm personalidades diferentes, e terão interesses diferentes. Mostrar interesse por aquilo que interessa ao seu par o fará se sentir valorizado e amado. Adote um dos hobbies que o outro ama. Junte-se a ele/ela em uma causa que o apaixona. Isso vai aproximá-los muito.

5. Olhe para quem ama enquanto conversa

A pessoa amada precisa ter a confiança de saber que você a ama e só a ela. Mantenha seus olhos, seus pensamentos e seu flerte com foco exclusivo em seu cônjuge.

6. Continue na conquista

Não deixe seu relacionamento no piloto automático e não pense que o amor do outro já está garantido! Continue a cortejar, conquistar, adorar, namorar, seduzir, apreciar e amar um ao outro através de todas as estações de seu casamento.

Novo tratamento do Alzheimer restaura totalmente a função da memória

Novo tratamento do Alzheimer restaura totalmente a função da memória

Se uma pessoa tem a doença de Alzheimer, isso é geralmente o resultado de uma acumulação de dois tipos de lesões – placas amilóides e emaranhados neurofibrilares. As placas amilóides ficam entre os neurônios e criam aglomerados densos de moléculas de beta-amilóide.

Os emaranhados neurofibrilares são encontrados no interior dos neurónios do cérebro, e são causados por proteínas Tau defeituosas que se aglomeram numa massa espessa e insolúvel. Isso faz com que pequenos filamentos chamados microtúbulos fiquem torcidos, perturbando o transporte de materiais essenciais, como nutrientes e organelas.

Como não temos qualquer tipo de vacina ou medida preventiva para a doença de Alzheimer – uma doença que afeta 50 milhões de pessoas em todo o mundo – tem havido uma corrida para descobrir a melhor forma de tratá-la, começando com a forma de limpar as proteínas beta-amilóide e Tau defeituosas do cérebro dos pacientes.

Agora, uma equipa do Instituto do Cérebro de Queensland, da Universidade de Queensland, desenvolveu uma solução bastante promissora. Publicando na Science Translational Medicine, a equipa descreve a técnica como a utilização de um determinado tipo de ultra-som chamado de ultra-som de foco terapêutico, que envia feixes feixes de ondas sonoras para o tecido cerebral de forma não invasiva.

Por oscilarem de forma super-rápida, estas ondas sonoras são capazes de abrir suavemente a barreira hemato-encefálica, que é uma camada que protege o cérebro contra bactérias, e estimular as células microgliais do cérebro a moverem-se. As células da microglila são basicamente resíduos de remoção de células, sendo capazes de limpar os aglomerados de beta-amilóide tóxicos.

Os pesquisadores relataram um restauro total das memórias em 75 por cento dos ratos que serviram de cobaias para os testes, havendo zero danos ao tecido cerebral circundante. Eles descobriram que os ratos tratados apresentavam melhor desempenho em três tarefas de memória – um labirinto, um teste para levá-los a reconhecer novos objetos e um para levá-los a relembrar lugares que deviam evitar.

Fonte: Ciência On Line

Saiba mais sobre o Alzheimer- Sugestão de leitura:

O Bem no Mal de Alzheimer

 

Seu olhar tem muito mais poder do que você imagina. Entenda.

Seu olhar tem muito mais poder do que você imagina. Entenda.

Estudos dizem que 4 minutos de contato visual ininterrupto podem aumentar a intimidade. Para testar esta teoria, esse experimento trouxe seis pessoas em diferentes estágios de seu relacionamento para que vivenciassem a situação e depois pudessem nos contar como foi a sensação.

A maneira como a intimidade e a emoção foram crescendo durante esses minutos é algo que com certeza também emocionará a qualquer um que observe atentamente.

O vídeo está em inglês, mas a linguagem do amor e da intimidade são universais.

“Em 55 anos de casamento nós nunca nos olhamos nos olhos dessa maneira.”, disse a senhorinha ao esposo. E ele diz “Quando eu foquei em seus olhos eu percebi o quanto eu preciso de você e o quanto você é importante para mim.” (tradução livre)

Indicação de nosso parceiro Psique em Equilíbrio

Reinvenção

Reinvenção

A vida só é possível reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas. . .
Ah! tudo bolhas
que vêm de fundas piscinas
de ilusionismo… – mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço…
Só – no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só – na trevas
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Cecília Meireles, Poesia Completa

As esculturas teatralmente enigmáticas de Philip Jackson

As esculturas teatralmente enigmáticas de Philip Jackson

Philip Jackson é um escultor inglês de renome internacional.

Sua capacidade de transmitir a condição humana através do hábil uso da linguagem corporal tornou-se uma de suas características mais memoráveis. Ele cria figuras profundamente imponentes tanto pela mensagem que transmite quanto pela sua presença física no ambiente em que estão inseridas.

Poderosas e lindamente esculpidas, as posturas meticulosamente precisas que Jackson trabalha em cada peça criam uma enorme sensação de drama.

O  assombroso, a elegância e o resultado teatralmente enigmático das esculturas de Philip Jackson são verdadeiramente inspiradores – nunca deixam de causar perplexidade em quem por elas tem o privilégio de passar.

Nascido em Inverness, Jackson agora vive e trabalha em West Sussex. Ele foi nomeado Comandante da Royal Victorian Order ( CVO ) e esteve na lista de honra de aniversário da Rainha de 2009.

Página oficial do artista.

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7 sinais de que você está com a pessoa errada

7 sinais de que você está com a pessoa errada

Eu lembro que me disseram que se eu estivesse esperando o casamento perfeito, eu nunca iria encontrá-lo. Não existe o “perfeito”. Eu não acreditava, e ignorei o comentário.

Alguns anos mais tarde, me casei com alguém com quem eu estava em constante tumulto. Nossa relação sempre foi rochosa, e ainda insistimos em fazê-la dar certo. Tentamos forçar um relacionamento instável a se tornar perfeito. Logo percebemos que tínhamos cometido um erro enorme. Muitas vezes, o que começa mal termina mal.

No meu segundo casamento, meu marido e eu entendemos que a perfeição não existe. Temos nossas diferenças. Temos divergências. Mas o que torna um casamento perfeito são o amor e respeito que temos um pelo outro e a linha aberta de comunicação entre nós.

Forçar uma relação a dar certo, acreditando que ela acabará se tornando perfeita, é um equívoco. É raro um relacionamento instável melhorar depois do casamento. Às vezes, se o casamento é um erro, ou você escolhe permanecer infeliz no casamento, por medo do que outros possam dizer, ou o divórcio se acerca.

Aqui estão sete sinais que você está com a pessoa errada:

1. Brigas constantes

Vocês nunca concordam em nada. Vocês brigam por causa dos amigos, a falta de tempo juntos, o dinheiro, o ciúme – praticamente qualquer coisa. Por mais que você tente, nada que você faz é satisfatório.

2. Incerteza sobre seu amor

Você gosta muito do seu parceiro, mas você não tem certeza se o ama. Você vê essa pessoa como um confidente, uma pessoa com quem você pode sempre contar; no entanto, você não tem certeza de ver essa pessoa como uma parte permanente de seu futuro.

3. Instabilidade

Seu parceiro pula de emprego em emprego, usa mal o dinheiro, odeia trabalhar (mas gosta de festa) e coloca os amigos antes do relacionamento. As prioridades não estão em ordem.

4. Falta de apoio e respeito

Quando o seu parceiro acha suas metas irreais ou ridículas e zomba de você, ele ou ela não valoriza você como uma pessoa.

5. Mentiras

É uma bandeira vermelha se o seu parceiro sente a necessidade de mentir, e você sabe que ele ou ela está mentindo. Embora possamos perdoar e esquecer as mentiras insignificantes, entrar em um casamento com esse tipo de fundação é arriscado.

6. Diferentes sonhos

Vamos dizer que você quer se casar e começar uma família imediatamente. Seu parceiro quer esperar um pouco antes de ter filhos (ou não quer ter filhos). Você quer se casar e mudar, mas o seu parceiro quer viver juntos antes e permanecer onde está. Quando você tem um conjunto de sonhos e seu parceiro tem outro, e vocês não conseguem encontrar um meio-termo, as chances são de que você e seu parceiro não sejam a pessoa certa um para o outro.

7. Conveniência

Não é saudável ficar com seu parceiro porque você está confortável com ele ou ela e detesta a ideia de começar de novo. O casamento é feito de amor, compromisso e apoio – e não de conveniência.

Você vai saber que está com a pessoa certa, quando a relação é baseada em amor verdadeiro e respeito, e você sinceramente quer passar o resto de sua vida com o seu parceiro.

Por Mayra Bitsko, via Família

Traduzido e adaptado por Stael F. Pedrosa Metzger do original 7 signs you’re with the wrong person.

“Eu não vou perturbar a paz”, um singelo poema de Manoel de Barros

“Eu não vou perturbar a paz”, um singelo poema de Manoel de Barros

De tarde um homem tem esperanças.
Está sozinho, possui um banco.
De tarde um homem sorri.
Se eu me sentasse a seu lado
Saberia de seus mistérios
Ouviria até sua respiração leve.
Se eu me sentasse a seu lado
Descobriria o sinistro
Ou doce alento de vida
Que move suas pernas e braços.
Mas, ah! eu não vou perturbar a paz que ele depôs na praça, quieto.

Manoel de Barros, Poesia Completa.

Magia negra, um intrigante poema de Sérgio Vaz

Magia negra, um intrigante poema de Sérgio Vaz

Não é de hoje que as palavras negro e preto são utilizadas com conotações negativas ou mesmo pejojativas. Expressões como “A coisa tá preta”, “Mercado negro”, “Denegrir”,  “Não sou tuas negas”, entre tantas outras são apenas alguns exemplos.

E “Magia Negra”? O que pensamos quando refletimos sobre o tema? Leiam o poema de Sérgio Vaz e sintam.  A inversão do raciocínio nem sempre é tão simples quanto pode parecer e vale a reflexão.

Magia Negra

Magia negra era o Pelé jogando,
Cartola compondo,
Milton cantando.
Magia negra é o poema de Castro Alves, o samba de Jovelina…
Magia negra é Djavan,
Emicida, Mano Brow, Thalma de Mreitas, Simonal.
Magia negra é Drogba, Fela kuti, Jam.
Magia negra é dona Edith recitando no Sarau da Cooperifa.
Carolina de Jesus é pura magia negra.
Garrincha tinhas duas pernas mágicas e negras.
James Brow. Milton Santos é pura magia.
Não posso ouvir a palavra magia negra que me transformo num dragão.
Michael Jackson e Jordan é magia negra.
Cafu, Milton Gonçalves, Dona Ivone Lara, Jeferson
De, Robinho, Daiane dos Santos é magia negra.
Fabiana Cozza, Machado de Assis, James Baldwin, Alice Walker,
Nelson Mandela, Tupac, isso é o que chamo de magia negra.
Magia negra é Malcon X, Martin Luther King, Mussum, Zumbi, João Antônio,
Candeia e Paulinho da Viola. Usain Bolt, Elza Soares,
Sarah Vaughan, Billy Holliday e Nina Simone é magia mais do que negra.
Eu faço magia negra quando danço Fundo de Quintal e Bob Marley.
Cruz e Souza Zózimo, Spike Lee, tudo é magia negra neles.
Umoja, Espírito de Zumbi, Afro Koteban…
É mestre Bimba, é Vai-Vai,
é Mangueira todas as escolas transformando quartas-feira de cinza em alegria de primeira.
Magia negra é Sabotage, MV Bill, Anderson Silva.
Pepetela, Ondjaki, Ana Paula Tavares, João Mello… Magia negra.
Magia negra são os brancos que são solidários na luta contra o racismo.
Magia negra é o RAP, O Samba, o Blues, o Rock, Hip Hop de Africabambaataa.
Magia negra é magia que não acaba mais.
É isso e mais um monte de coisa que é magia negra.
O resto é feitiço racista.

Sérgio Vaz

Persistir, verbo intransigente!

Persistir, verbo intransigente!

Existe um provérbio chinês que afirma que “a persistência realiza o impossível”. Muitas coisas há de realizar mesmo, mas, certamente o impossível de um é o banal do outro e, quando um não quer…

Uma grande conquista não representa nada a não ser para o conquistador. Muitas vezes é a desgraça do conquistado. É tudo pessoal e individual. Todo o peso fica por conta da persistência e resistência das partes interessadas.

Mas, ao invés de persistir, estamos falando de desistir, no sentido mais positivo possível, se é que alguém consegue ver algo de positivo nessas palavras que começam com “des”: despedir, despedaçar, desgastar, desamar, desesperar, desligar… desistir. Mas o fato é que cada uma delas nos liberta de um cenário para buscarmos outro.

Costumamos confundir teimosia com determinação, orgulho com amor próprio, arrogância com autoestima. E quando essa confusão acontece, algo nos impede de desistir e partir para outra direção. Podemos chamar de qualquer coisa, seja ela confortadora ou cruel, mas não podemos chamar de persistência.

Persistir é um ato de bravura, uma demonstração de força, de meta.

Uma qualidade inspiradora! E quem realmente persiste, sabe que tem reais chances de chegar onde aspira, muito embora nada lhe garanta o triunfo. Quem só teima, na verdade cobra da vida um êxito sonhado mas não merecido ou realizável. Para um teimoso, a vida está sempre lhe devendo algo!

E nós, somos teimosos ou persistentes? Valentes ou covardes? Sabemos o que realmente somos?

E resolvermos desistir de algo? Temos esse direito?

Pensar em desistir, em abrir mão de – e aí a lista é grande – sonhos, metas, pessoas, conquistas, compras, viagens, relacionamentos, é doloroso, até nevrálgico. Mas o que não funciona toma o espaço do que poderia funcionar.

Desistir do erro ganha de persistir no erro; Desistir de um mal trabalho, desistir daquela viagem, daquela paquera, da briga com o vizinho… Creio que esse pode ser o significado daquela frase famosa: “Nada melhor do que perder o bom e achar o ótimo”.

Precisamos dar sinais verdadeiros para a vida, precisamos enfim, persistir sempre no que for genuíno, real, recíproco, positivo, com muita coragem para deixar para trás os fracassos de todas as ordens, as ambições descabidas, os sapatos que nunca iremos usar, as promessas que jamais vamos cumprir, as saudades que não temos intenção de matar.

Saibamos decidir e desistir honradamente, abrindo espaço para outros desejos e conquistas, que, secretamente nos espreitam.

Saibamos nos desfazer dos resíduos, picotando fotos, agendas, cartões de visita, planos frustrados, mensagens não enviadas, trabalhos descartados, horas e esforços aguardando o que não virá! Algo certamente virá ocupar o espaço que ficou.

É quando desistir nos mostra o quanto somos vencedores!

Nota da CONTIoutra: A imagem de capa foi uma homenagem ao filme “A vida de Pi”, uma história de persistência e fé na vida.

O Amor é como letras soltas

O Amor é como letras soltas

Tudo poderia ser mais, bem mais leve como letras de músicas soltas. Daquelas que nosso coração compõe e pode narrar a história de qualquer um, a qualquer momento, como alguém que passa distraído na rua, e logo escuta uma música que desvia sua atenção para um lugar desconhecido, indo ao encontro do caldeirão de novos sons, ritmos e histórias incríveis.

Como seria escrever uma música? – tenho me perguntado. Por instinto, vocação, necessidade, ou sei lá mais o quê. O que importa é momento que extravasa essa tal necessidade, que não é tola, é espontânea e nasce por meio das coisas belas.

O líder maior de toda essa exaltação não poderia deixar de ser Ele, o ente que atravessou todas as épocas, e ainda caminha livre, atual, destemido, galanteador como um Don Juan entre todos os seres humanos: É Ele, o Amor!

Quando Renato Russo compôs Monte Castelo – música que também é poema do poeta português Luís Vaz de Camões e faz parte do Coríntios, da Bíblia – o que parecia algo novo, na verdade, foi uma das infinitas formas de cantar o sentimento mais nobre que existe na face da terra: “Ainda que eu falasse a língua dos homens / E falasse a língua dos anjos / Sem amor eu nada seria. ”

Pois bem. Como seria além de escrever e cantar, viver o amor? Cada um tem sua história. Eu tenho a minha. O amor, esse tema tão certo e controverso tem sua existência relatada desde os primeiros registros humanos, através do companheirismo, da defesa dos indivíduos que faziam parte do mesmo grupo, da relação entre os parentes; eram laços que de alguma forma evocavam amor.

Sabemos que dos clássicos romances, novelas, teatros, ficções ou toda trama que envolve relações muitas vezes surreais – querendo uma exclusividade desmedida – nasceram do tumulto interior de se buscar explicar algo que é tão profundo a ponto de ser inexplicável: o amor que entra violentamente com sua força avassaladora e o brilho indizível de uma noite estrelada, como Van Gogh pintou tão bem.

Amor de verdade também acaba

Amor de verdade também acaba

Se preocupe não, moça. Não é você. Sou eu. Não tenho jeito pra esse negócio de amor. Acho lindo, acho lindo nas canções que você e eu amamos juntos. Mas na verdade, assim, no tempo duro de um dia depois do outro, o amor toca desafinado para mim, obrigatório, repetido, música com refrão meloso. Não é você, moça. Sou eu. É que eu não tenho muito que dar. Não rendo, não sei telefonar à noite, não sustento conversas sem assunto, diálogos sem tema. Não é você, linda, doce, cheia de graça. Sou eu. Vazio, triste, estranho.

Você já viu tanta gente tão certa de que o amor mesmo, amor no duro, não acaba? E se acaba é porque não era amor? Dá até inveja, né? Eu invejo mesmo essas pessoas. Queria ter certeza e amor que durassem para sempre. Mas não. Comigo ainda não é assim. Meu amor vem e vai. Começa agora, acaba amanhã, volta mais tarde.

Ser de ninguém é meu único jeito de ser alguém, minha querida. Tomo remédio pros nervos e você não sabia. Sou dessa gente que precisa ser só, mesmo em comunidade, como unidade. Só. E você não queria. O sol que bate agora recende aqui dentro uma saudade dolorida do que já foi e do que sequer aconteceu. Minha cidade perdida, minha casa na infância, uma lambreta alaranjada que me leva a passear no quarteirão, o carro velho e batido do pai, a mãe que custa a voltar do trabalho, a alegria das avós.

Essa saudade, para mim, é o que mais se parece com o que tanta gente chama de amor. É só o que eu tenho, moça. E é tão pouquinho que mal dá pra mim sozinho. É um foguinho de palha que eu tento — ah, como eu tento! — alimentar e espalhar e incendiar o quarteirão. Mas não dá, minha amiga. Não deu. Meu amor anda pequeno. É uma saudadinha que dói mansa, um fio de água, um cheiro distante, um raio morno de luz patética quase apagando. É muito pouco. Não dá pra dois.

Você merece mais. Muito mais do que isso. Merece amor inteiro, forte, amor de casa grande, segura, quintal na frente, jardins e flores, pés de jabuticaba, caqui, laranja lima, limão galego. Eu tenho nada além dessa barraca de um só, montada na grama aqui e ali, esperando a hora de mudar e partir.

Foi bom, moça. Foi lindo. Você fica além de toda expectativa. Mas eu não dou conta. Preciso ir adiante, abrir o portão e liberar os cachorros que vivem cá dentro de mim. Se os deixo por aqui, trancados em casa, uma hora eles terão destruído tudo. Preciso conduzi-los à rua, deixá-los mijar nos postes, tombar as latas, rasgar os sacos, revirar o lixo alheio. E para isso eu tenho de ser só. Não por nada. Não é você, lembra? Sou eu. Para dar amor a alguém aí fora, eu antes preciso encontrá-lo aqui dentro. E aqui dentro ele se esconde tão bem, tão pequeno, que eu custo a achar. Vez ou outra eu encontro, mas ele logo se perde de novo, como bolinha de gude debaixo do sofá da sala. Como agora.

Se preocupe não, menina linda. Não é você. Sou eu. E isso é tudo. Agora vai, minha querida. Vai em frente. Vai ser feliz. Vai porque o mundo é seu. Eu, não. Eu ainda preciso ser de mim mesmo.

Sensibilidade crônica – vida e carreira de Nina Simone

Sensibilidade crônica – vida e carreira de Nina Simone

Há alguns dias, assisti o documentário “What Happened, Miss Simone?“, produzido pela Netflix e dirigido pela cineasta Liz Garbus, sobre a carreira da cantora americana Nina Simone e, como tudo o que realmente nos marca e emociona, continuo pensando sobre tudo o que eu vi, ouvi e senti.

Em pouco mais de uma hora e meia, nossas emoções são bombardeadas ao conhecermos a história da menina de pele cor de ébano que cresceu em meio à segregação racial sem entender exatamente do que se tratava, que estudou com afinco para se tornar a primeira pianista de música clássica negra dos EUA e que caminhou para uma juventude, em que sua cor fecharia mais portas do que o seu talento, na época, seria capaz de abrir.

Em bares noturnos e adotando o nome de Nina Simone, conseguiu o sustento da família na cidade grande. Após a fama e já casada com um marido abusivo que se tornou seu agente, Nina se sentia escravizada pelo trabalho e pela agenda sempre excessivamente lotada. Havia uma relação controversa com a fama e com o preço a pagar por tanta exposição, tais como o cansaço constante, a impessoalidade da vida em hotéis e camarins, e a distância da família.

Durante anos, os amigos acompanharam suas oscilações de humor. Nina, onde quer que estivesse, era capaz de parar um show para pedir que alguém da plateia ficasse em silêncio ou se sentasse. Esse humor volátil, com o passar dos anos e o acúmulo de estresse, teria ficado cada vez mais imprevisível, principalmente, depois de sua forte militância política a favor da igualdade entre brancos e negros. Nina esteve presente em todo o movimento que marcou a década de 60 nos Estados Unidos. Esteve lado a lado com Martin Luther King, embora acreditasse em uma abordagem que usasse da força para conseguir mudanças. E, devido a isso e ao direcionamento de suas canções para temáticas da causa, sua carreira foi afetada.

Em um momento de sua carreira, abandonou tudo, inclusive sua filha, e foi morar na África. Tempos depois, mandou buscar sua filha, mas, a menina não encontrou mais a mesma mãe e sim uma mulher mais violenta e que a espanca frente a qualquer adversidade. Nina, sem renda e após dissipar todos os bens, volta para tentar reconstruir a carreira. Dessa vez, na Europa. Em Paris, trabalha em um local tão ruim, que nem é reconhecida… as pessoas pensam que não é ela. Tempos depois, alguns de seus amigos a ajudam a reconstruir sua carreira. É feito o diagnóstico de transtorno maníaco-depressivo (atual Transtorno Bipolar) e ela passa a ser tratada e se mantém mais estável até o fim de sua vida.

Quais seriam os limites humanos que nos permitem manter ou perder a nossa sanidade? Racismo, um casamento abusivo, envolvimento político fortemente militante em uma época de profunda repressão, feridas de uma infância, em que passava cerca de 7 horas por dia estudando piano, agendas lotadas e quase nenhum descanso? Solidão… como uma alma tão sensível como a de uma artista com a intensidade de Nina Simone poderia sobreviver intacta a tantas agressões e provas de realidade?

Enquanto a arte era um contraponto ela pode continuar, mas, quando a música se tornou também um peso, o que lhe restaria?

O documentário enfoca a carreira da atriz dando diversos destaques para suas oscilações de humor e, mesmo no final de sua vida, eles enfatizam o diagnóstico de bipolaridade e a cronicidade da doença para justificar as mudanças bruscas de comportamento.

A questão é, dentro de sua profunda humanidade, teria Nina Simone se perdido em uma patologia ou em sua própria sensibilidade que, contraditoriamente ao que pensaríamos de uma cantora, terai ela perdido sua voz?

Nina foi uma vitoriosa em todos os sentidos e, mesmo quando talvez não tenha feito suas melhores escolhas (não cabe a nós julgar), acertou tentando ser fiel a si mesma e aos seus sentimentos. Tentou a todo custo libertar-se do racismo e ajudar seus semelhantes, lutou para libertar-se do marido abusivo, lutou para libertar-se até de si mesma, mesmo quando mal conseguia sobreviver à convivência com a pessoa que se tornou.

Sua filha fala dela com lágrimas e amor, o amor de quem entendeu o que a mãe sofreu para deixar de ser Eunice Kathleen Waymon, a filha da ministra metodista que tocava piano na igreja e tornar-se o ícone Nina Simone.

Nina se faz em nós e é eterna lembrança não somente porque foi pianista, cantora, compositora ou mesmo ativista pelos direitos civis norteamericanos. Nina rasga nossa compreensão e penetra nossa alma porque, mais do que tudo isso, mais do que alguém que sofreu com um transtorno bipolar e um marido abusivo, mais do que aquela que cantou porque precisava do dinheiro ou trocou de nome, mais do que o temor de envergonhar a família religiosa, ela deu voz à mais elevada forma de expressão humana: ela foi sensibilidade extrema em forma de música e de ideias.

Faleceu dormindo, depois de lutar vários anos contra um câncer de mama.
Penso, entretanto, que o que realmente a matou foi a sensibilidade crônica…

Abaixo, o trailer do documentário

Não existe botox para o vazio existencial

Não existe botox para o vazio existencial

Não somos nada nem ninguém sem consumir. Você já parou para pensar nisso? Vivemos numa sociedade de consumo, disso todos nós sabemos. Acontece que a nossa ânsia por obtenção palpável se estendeu até os desejos mais íntimos. Não adquirimos por ímpeto apenas roupas, sapatos, objetos. Nós consumimos sentimento, gente, sexo, prazeres, tempo. Tudo. Parece que sem consumo não existe vida. Nem bem-estar. Nem alegria. Nem amor. Nem nada.

As pessoas estão cada vez mais insatisfeitas com elas mesmas e com o mundo. Querem preencher a qualquer custo os seus buracos. Consomem tudo e todos ao mesmo tempo, na ânsia desesperada de abarrotar os espaços vazios que levam por dentro.

Começam se enchendo de coisas, mas logo o tangível passa a não bastar. Então, encontram nos outros a possibilidade da sensação de plenitude, de prazer e satisfação. É uma perseguição efêmera atrás da saciedade.

Aí vem a primordialidade de ter e sentir, a carestia da posse, que comanda os sentidos e determina as ações. Objetos já não suprem a ausência física de uma companhia, o desamor que maltratou o coração, o desejo carnal irrefreável. É preciso sentir que alguém lhe pertence, nem que seja por algumas horas, até atingir um nível de contentamento. A ideia da posse acalma.

O problema é que depois que o refém é liberado, um rombo maior se abre por dentro, e você vai precisar preenchê-lo outra vez. E mais outra. E assim, sucessivamente. Até que uma sombra equilibre a sua e, juntos, consigam fechar todos os rasgos.

Enquanto isso não acontece a busca pelo prazer e pela companhia entra em um círculo vicioso. É preciso se sentir querida, desejada, amada, reverenciada. Se consome amizade, se consome sexo, se consome o tempo dos outros, a atenção. Aliás, o tempo é uma coisa curiosa.

Tem gente que só se sente vivo, de fato, se estiver abusando de todo e qualquer sopro de segundo. Perder tempo ou sentir que não está fazendo nada com ele é infelicidade na certa, é causa mortis. Abusam do tempo, o tempo todo, a fim de afirmar-se vivo.

A busca por sexo também é uma forma de consumo, porque se associa o prazer ao amor, confunde-se a proximidade com a companhia, a carência com a presença. Depois a solidão chega e toma o seu lugar. É quando o consumista, novamente, persegue quem possa lhe preencher, para suprir o vazio e a necessidade de afirmação.

E assim, o consumo se expande junto das vontades cada vez mais ansiosas e caprichosas. O eu grita mais e mais alto, faz as suas birras, é exigente. Você cede. Até porque a sensação é de que uma vida sem consumo é chata, vazia e sem nenhum propósito. O pensamento é que só é possível ser feliz quando se adquire, seja lá o que for.

As pessoas gastam dinheiro, gastam tempo, investem os seus planos e sonhos, se desgastam em expectativas e frustrações. Tudo em busca de um sentimento de verdade. Não precisa ser imenso, não, mas que seja inteiro.

A verdade é que enquanto faltar amor aqui dentro nós continuaremos procurando lá fora por alguém que nos baste. Miraremos alvos incertos, consumiremos o mundo freneticamente, expostos ao tiroteio dos corações caçadores.

A esperança é que, no meio da artilharia, em lados opostos, nos reconheceremos dentre tantos atiradores; nós e o nosso amor próprio. Só quando nos encontrarmos deixaremos de ser ávidos consumidores de gente.

Por Karen Curi – Jornalista

Publicado originalmente na Revista Bula, Via Sou Psicólogo com muito orgulho

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