Carpe Diem, porque o tempo voa!

Carpe Diem, porque o tempo voa!

Há momentos em que a gente se dá conta da passagem de tempo, e o susto é inevitável. Um dia vivíamos o dilema de escolher a profissão, no outro, nos pegamos pensando na aposentadoria. E num piscar de olhos estaremos nela.

Nessas horas eu me pergunto sobre as prioridades, sobre as necessidades, sobre as vontades que temos, todos nós, em relação à vida. Pensar que os anos passam disciplinadamente rápido e levam consigo parte das nossas vidas, provoca uma reflexão sobre coisas que só mesmo o tempo tem poder para enfrentar. Como queremos que o tempo passe por nós? Sabemos organizar a vida para que tudo aconteça a seu tempo? Ou deixamos o tempo levar o que queremos?

Queremos informação, conhecimento, desenvolvimento de habilidades. Estudamos, nos especializamos, viramos mestres, doutores, sumidades em determinados assuntos. A negociação com o tempo envolve grande esforço, mas muito prazer e reconhecimento também.

Queremos segurança, dinheiro no banco, uma casa, um carro, estabilidade,  poupança para viagens… Alguns de nós conseguem tudo. Muitos de nós conseguem parte. Parte de nós não consegue, ou abre mão de conseguir. Isso vai depender de muitas coisas, mas também de quanto tempo será investido. Tempo este que não dá garantias. Hoje estamos, mas amanhã, quem sabe? E quanto mais queremos, mais tempo teremos que negociar.

Queremos nos divertir, viver a vida, contabilizar aventuras, ver o mundo, abraçar os amigos, brincar com os filhos, brindar, cantar,  amar, não deixar a festa acabar. E nessas horas, digam o que quiserem, mas o tempo dá sempre um jeito de passar mais rápido. Guardamos pedacinhos desse tempo em milhares de fotografias, filmes, recordações, mas mesmo assim ele não volta.

No final, não importa o que queremos nem quanto tempo isso leva de nossas vidas. O que vale é entender como nos acertamos com esse tempo, como negociamos para que ele seja  aliado dos nossos desejos ,necessidades e aspirações, de forma que, ao final do nosso tempo, possamos constatar que vivemos em harmonia com o tempo, a vida que escolhemos ter.

Que não tenhamos motivos para lamentações sobre tempos perdidos ou desperdiçados. Isso sim é uma forma cruel de matar o tempo.

“Cada minuto que passa é um milagre que não se repete”

(Chamada da extinta rádio relógio, há muito tempo atrás, que também já ficou no passado).

Carpe Diem, portanto, todos os dias!

Euforia: alegria em carne viva

Euforia: alegria em carne viva

A cabeça gira confusa. Mais uma noite de amores desconhecidos. Amores? Não, amores não. Mais uma noite de louca procura pela satisfação da necessidade gritante de afeto. Bocas, olhos, olhares sorrisos, tudo misturado e borrado numa pintura caótica de fragilidade e falsa postura destemida. No espelho o reflexo de um rosto familiar. Alguém vagamente conhecido. Alguém que se contempla do outro lado. Saiu à procura de prazer e risos e voltou para casa em busca de uma paz que se perdeu no tempo. Faz tempo.

A sede desesperada pela alegria cegou a razão. A euforia do corpo na dança; da boca no copo, no outro corpo, na outra boca. Sumiu no ar, volátil, volúvel. A pele macia que esperava o toque, agora arde pela dor de ter se ferido na ilusão da alegria insana. Está de volta à reflexão solitária sobre seus desejos irresponsáveis. Precisa se curar da exaustão da busca. Precisa se cobrir, descansar, tratar a pele que de tão exposta ficou em carne viva.

A necessidade de encontrar um ponto de equilíbrio acompanha o ser humano desde que ele entendeu que em companhia de outros seres humanos tem mais chance de sobreviver. No contato e interlocução com o outro é que descobrimos, percebemos ou intuímos quais são nossas virtudes, habilidades, necessidades, dificuldades e questões de ordem emocional. Desejamos caber no logotipo da normalidade. Queremos ter a garantia de que estamos raciocinando numa linha lógica, que faça sentido pra nós e que, principalmente, faça sentido para o outro. São as fugas do padrão nas relações sociais que deflagram um possível transtorno afetivo. Há uma falha no sistema. Alguma conexão não corresponde. O encaixe não poderá ocorrer. O indivíduo que carrega o transtorno fica literalmente desorientado. Está perdido e assim continuará, até que seja diagnosticado. Então, não estará mais perdido. Mas, será alguém reclassificado. Perde o logo da normalidade e ganha outro. Ganha um logo deformado, corrompido, transtornado.

Um dos transtornos afetivos que mais atinge a humanidade atual é o Transtorno Bipolar. Estima-se que cerca de 1,8 a 15 milhões de brasileiros sejam portadores do TAB, nas suas diferentes formas de apresentação. O Transtorno Bipolar é um distúrbio associado a alterações funcionais do cérebro; sobretudo relacionadas às alterações de humor. Pacientes portadores de TAB apresentam períodos de depressão, durante os quais sentem uma tristeza profunda e dolorosa, acompanhada  desesperança e pensamentos de menos-valia; alternados com períodos de mania, ou euforia, durante os quais ficam acelerados, apresentam fuga da realidade e podem, inclusive, colocar sua integridade física (e dos outros) em perigo pela falta de capacidade de calcular riscos.

Uma pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde revela que O TAB é a sexta maior causa de incapacitação para o trabalho no mundo. Quando tratados e diagnosticados precocemente, os indivíduos afetados podem economizar anos de suas vidas que seriam perdidos em todos os setores, desde a esfera afetiva até a profissional.

Portadores de TAB são extremamente vulneráveis às pressões sociais do entorno (familiares e amigos); sentem-se deslocados e inadequados ao perceberem que não funcionam psicologicamente como aqueles que receberam o logo da normalidade. Eles são reféns de suas alterações de humor, mesmo que, por uma incrível tacada de sorte, tenham recebido atendimento médico adequado e não tenham sido vítimas de diagnósticos equivocados; mesmo que estejam corretamente medicados; que recebam o apoio das pessoas mais próximas e afetivamente importantes; mesmo que consigam (e isso é incrível!!!) manter uma rotina de trabalho e estudo; mesmo que frequentem com regularidade ortodoxa os consultórios do psiquiatra e do psicólogo .

Também doenças clínicas como obesidade, diabetes, e problemas cardiovasculares são mais frequentes entre portadores de TAB do que na população geral. A associação com a dependência de álcool e drogas não apenas é comum (41% de dependência de álcool e 12% de dependência de alguma droga ilícita), como agrava o curso e o prognóstico do TAB, piora a adesão ao tratamento e aumenta em duas vezes o risco de suicídio.

Na fase de euforia, os indivíduos portadores de TAB têm os níveis de energia elevados; perdem o sono; apresentam fala acelerada; o pensamento fica rápido, porém difuso; vários projetos são iniciados e morrem inacabados; há uma intensificação do desejo sexual; as ideias podem ser delirantes, pois a capacidade crítica fica severamente prejudicada. Todo esse caos emocional, ganha contornos de felicidade. No entanto, não passa de um desconhecido que está de passagem para trazer uma aparente e fugaz alegria. O “bipolar” vive numa eterna montanha-russa de infinitos loopings. A fase da euforia não passa de um inebriante trecho desse brinquedo que tanto assusta quanto encanta.

A euforia é o looping que vai encontrar seu fim logo ali, depois da próxima curva. Quando a energia escoar pelo ralo; a mente voltar a ficar lentificada; as ruínas dos projetos que nunca decolaram servirem de obstáculos pra novos tropeços; a culpa invadir o peito; a libido voltar a morar na terra do nunca e a tristeza voltar a morder as bordas do coração que ousou acreditar que aquilo era afinal a felicidade. A euforia derrete como o gelo no copo de bebida. Era tão real, tão sólida e agora… Agora escorre, pelos dedos, pela boca, pelos olhos. A euforia vira lágrima de gelo derretido. Escoa dos olhos, mas veio de um lugar bem mais abissal. Veio do profundo desejo de parar de arder, de cicatrizar, de dar um fim ao ciclo de viver em carne viva.

Ana Macarini

Eu gosto de te adivinhar

Eu gosto de te adivinhar

De que lado da cama você dorme? Quando você chora? O que te faz sorrir? Onde mora sua paz? Qual a parte do seu corpo que mais sente cócegas? Qual é o sonho que mais te visita? Você prefere a noite ou o dia? Areia ou terra? Café ou chá? Cerveja ou vinho? O que você faz num domingo à tarde? Qual é o seu medo que de tão grande fica num cantinho esquecido do seu pensamento? O que te orgulha nesta vida? O que te dá sentido? O que te faz vibrar? O que te faz bocejar? O que te causa revolta? O que você já aprendeu vivendo? O que o sofrimento lhe trouxe? e a ternura? e a alegria? Quem é a pessoa que te habita quando fica sozinho? E a pessoa social? Você é sociável? Gosta de crianças? E de bichos? Gosta de cachoeira? e de mar? Gosta de cidade grande? E de viajar? Gosta do silêncio? E de falar? Tem um amuleto? Tem um orixá? Tem o corpo fechado? Tem o coração pronto para amar? Nasceu há quantos anos? Em que dia? Qual é o seu signo? E o ascendente? Acredita em vidente? E em Deus? É ateu? Agnóstico? Budista? Filósofo? Humanista? Tem fé em que? O que te faz sentir? O que te faz partir? E querer ficar? Em que se pautam as suas escolhas na vida? Você luta? Ou deixar estar? Como você dorme? se esparrama na cama ou se comprime? Nu ou vestido? Acompanhado ou sozinho? O que faz seus olhos brilharem? Qual é o caminho do seu coração? É pelo estômago? É pelo sorriso? É pela magia de uma história sem sentido? Qual é o seu tipo de sangue? Com qual mão você escreve? Prefere papel e caneta ou teclado? Gosta de tecnologia? De bicicleta? Qual música te desperta? E que te faz cantar? Você canta? Você fala? Você sorri? Você existe mesmo? Não foi uma alucinação? Você acredita em destino? E em acasos? E em milagres? Confia na vida? Ou no livre arbítrio? Você é real? Ou foi inventado?

Shh, não responda…. Eu não me importo muito com tudo isso, por enquanto só me interessa sentir o encaixe do seu abraço, respirar o conforto de sua companhia, encontrar um brilho familiar no seu olhar. Por enquanto não me interessa saber qual é o número do seu sapato, se você me deixar seguir seus passos numa tarde dessas feita para se perder, não precisa me dizer qual é o seu signo, seu time, seu tipo sanguíneo, mas eu gostaria de conhecer mais de perto a textura de sua pele e sentir o timbre de sua voz quando chega assim perto do ouvido. E quem sabe, averiguar com cuidado a palma da sua mão, para ver se eu caberia bem nela. Não quero saber da sua história de vida, dos seus planos para o futuro, dos seus caminhos, mas ficaria feliz de ouvir você narrar o seu sonho da noite passada, me falar do seu doce predileto e descrever um dia da sua infância.
Não quero te traçar, quero te sentir. Quero te intuir.
Eu gosto de adivinhar. Eu gosto desse conhecimento pré-conhecimento. Do olhar inaugural.

Meus sentidos entendem mais que a minha razão. Te reconheço pelos dedos, te encontro pelo cheiro. Pelo beijo te desenho um corpo de amor. No descompasso da respiração, na paralisação do tempo. Quero experimentar as cores desse dia desconhecido. E me encontrar de repente perdida em seus vales.

E então, só então, perceber, quase sem querer, de que lado da cama você dorme.

A importância da desobediência

A importância da desobediência

Não, você não leu errado! Ensinar a criança a desobedecer é tão importante quanto colocar limites na sua educação.

Como assim? Antes de explicar, vou contar uma historinha.

Hoje de manhã, enquanto caminhava por um parque, vi um menino correndo livremente, próximo a mãe, em um local gramado, com uma sombra deliciosa, sem qualquer indício de perigo por perto. Ambos pareciam muito felizes! Ao ver a cena, só pude abrir um sorriso bem largo – daqueles de orelha a orelha. A mãe sorriu-me de volta e falou com uma voz bem aflita, como se me devesse alguma explicação: “Eu já falei para ele parar de correr, mas ele não me obedece!”

O menino olhou para a mãe com aquele olhar de quem está fazendo algo muito divertido, e ela não se conteve: “Acho que aqui não machuca se cair. Pode correr, vai….” E o menino voltou para a gostosa atividade, mas dessa vez com o incentivo da mãe e essa com a suposta autorização de uma desconhecida – no caso, eu!

Passei o caminho todo pensando na cena, na justificativa da mulher, na colocação de um limite tão contraditório à vontade dos dois e comecei a refletir sobre a desobediência.

Muitas mães, amigas, professoras me pedem dicas, simpatias e rezas (rs) no intuito de conquistarem a obediência das crianças. Quando as escuto falar sobre obediência, uma luzinha vermelha se acende e começa a girar na minha cabeça, pois por detrás dessa palavrinha, que soa tão inofensiva, se esconde um grande perigo!

Primeiramente, vamos pensar no significado dela:

s.f. Ação de quem obedece, de quem é submisso, dócil.
Disposição para obedecer.
Ato pelo qual alguém se conforma com ordens recebidas.
Autoridade, mando, domínio.

Obediência é sinônimo de: dependência, submissão, subordinação, sujeição.

Forte, não é mesmo?! No final da conversa, quase sempre chegamos a conclusão de que a busca é por respeito e que isso só acontecerá se o outro lado for respeitado também. É uma via de mão dupla.

Para respeitarmos precisamos ter empatia e o discernimento de que o outro tem vontade própria e que não tem a obrigação de suprir as expectativas de quem quer que seja. Somando-se a isso, necessitamos compreender que existem habilidades a serem exploradas, talentos a serem lapidados e um desejo que vem do coração, o qual aguarda pacientemente o momento certo para tomar as rédeas nas escolhas da vida.

Quando a obediência passa a ser elo nas relações, quem obedece começa a se sentir castrado, podado, limitado e passa a agir segundo o interesse de quem exerce a autoridade. Com o passar do tempo, esse padrão de relação se torna normal. Quem obedecia reproduz o modelo recebido em suas relações futuras, perpetuando esse ciclo nada saudável. E por que não é saudável? Porque ele nos torna sombras de outras pessoas, de outros desejos, de outros interesses, nos impede de sermos nós mesmos, de seguirmos nossas vontades, de realizarmos com prazer nossas escolhas e nossas funções. As decisões passam a ser tomadas a partir do olhar do outro.

E sabe o pior? Essa relação que iniciamos em casa é validada nas escolas com seus métodos de ensino. Ensino – palavra que também carrega o fardo da obediência, pois sugere uma via de mão única, não condizente com a definição de respeito que deveríamos alimentar.

Por isso precisamos aprender a desobedecer o mais urgente possível!

As pessoas mais criativas e que surpreendem nesse mundo são as que aprenderam que é preciso desobedecer. Quando aprendemos a desobedecer, (re)descobrimos o prazer da vida, aquela felicidade genuína da infância e passamos a obedecer (aí sim), a nós mesmos, ao nosso coração.

Quantos adolescentes não escolhem suas profissões embasados pela questão financeira ou para agradarem suas famílias? Não aprenderam a desobedecer!

Qual o número de pessoas que se contentam com uma vida mais ou menos e adiam seus sonhos, seus planos a espera de um momento ideal para colocá-los em prática? Só sei lhes falar que são muitas. Não aprenderam a desobedecer também.

A lista é grande. Não vou me estender.

Sabe menino do parque, esse mesmo mundo que hoje ordena para que você não corra, um dia lhe cobrará o contrário. Pedirá, ferozmente, para que sua caminhada seja veloz, pois você estará atrasado para reuniões, cheios de prazos e metas para cumprir,
COMPROMISSOS SÉRIOS inadiáveis, festas tradicionais de família entre uma porção de coisas que anulam suas vontades. Por isso, tome cuidado! Leve com você esse sorriso que traduz seu desejo e que conquista e contamina o outro. Saiba dizer não, gentilmente, mas diga não! Respeite a você primeiramente, para que aprenda a respeitar as pessoas de seu convívio e entender suas verdadeiras essências, tão escondidas, tão sufocadas por máscaras e defesas. Que você e sua mãe sejam muito felizes e que ela compreenda que não precisa se justificar para alguém.

Quanto mais permitimos que o outro siga a sua própria vontade e criamos um ambiente de condições favoráveis e saudáveis para que isso ocorra, mais respeito conquistamos nessa relação e, de lambuja, contribuímos para quebrar esse ciclo autoritário, competitivo e dominador que impera em nosso contexto social.

Pode parecer utópico, exagerado, mas eu prefiro chamar de atitude corajosa. É de extrema coragem lutar pela nossa felicidade nesse mundo que pré-determina nossas ações!

Por Bruna Gomes

Fonte indicada: Brincando por aí

O jarro da vida: uma história que você nunca mais vai esquecer

O jarro da vida: uma história que você nunca mais vai esquecer

Por WAGNER BRENNER

“Big Rocks” (ou “Jarro da vida”) é uma historia curtinha, sobre a importância do conceito de prioridade, bastante utilizada por professores, filósofos, palestrantes e em muitos textos pela internet. Por aqui acho que ainda não tinha sido publicada, então vamos lá.

Um professor coloca um grande jarro de vidro vazio sobre uma mesa.

Em seguida, pega uma sacola cheia de bolas de golfe e vira todas dentro do jarro, até a boca.
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PROF: “Muito bem. Meus caríssimos alunos, como vocês puderam observar, acabei de encher esse jarro de vidro. Certo?”
ALUNO: “Certo.”

PROF: “Não. Errado.”

O professor agora pega outra sacolinha, cheia de pedrinhas bem pequenas e, segurando o jarro com as mãos, dá umas chacoalhadas até elas irem preenchendo os espaços vazios.

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PROF: “Ahá. Como vocês podem ver, o jarro não estava cheio! Ainda cabiam umas pedrinhas nos espaços vazios. Agora sim está cheio! Ou … não está?

ALUNO: (…)

Mais uma vez o professor pega outra sacolinha, cheia de açúcar.

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E sorrindo para a turma, que já desconfiava que vinha algo assim pela frente, fala:

PROF: “Muito bem, o jarro ainda não estava cheio – como vocês desconfiaram – e ainda dá para colocar um monte de açúcar aqui dentro. Agora sim! Cheio! Certo?”

ALUNOS: “Hmmm acho que agora sim”

O professor pega então seu cafezinho que estava em cima da mesa, levanta à sua frente como quem faz um brinde e abre um sorriso esperto. Os alunos dão risada. E o café é despejado beeeeeeem lentamente no jarro.

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A CONCLUSÃO

PROF: “O jarro é a sua vida. As bolas de golfe são as coisas que você acha mais importantes: sua família, sua saúde, seus amigos, suas crenças, seus valores, suas paixões. São aquelas coisas que, se todo o resto faltasse, ainda assim sua vida estaria preenchida.

As pedrinhas são as outras coisas que você vai acumulando: a sua casa, o seu carro, suas músicas, seus filmes, o seu emprego, seu smartphone, etc.

E o açúcar é todo o resto, é o seu cotidiano.

Então… qual é a melhor conclusão dessa história?”

ALUNOS: “Hãnn.., tem sempre espaço para tudo na sua vida?”

PROF: “Melhor que isso. A parte importante é a sequência.

Se eu tivesse começado pelas pedrinhas pequenas, ou pelo açúcar, não teria conseguido preencher totalmente o jarro. É uma demonstração da importância das prioridades e da consequente hierarquia dessas coisas. De outra forma, nem todos os espaços teriam sido preenchidos.

Se você usar toda a sua energia e seu foco só nas coisinhas pequenas o tempo todo, vai chegar uma hora que aquilo te ocupa tanto que não sobra espaço para coisas maiores. Saber dar prioridade para as coisas que são realmente importantes é algo crítico nas tomadas de decisões. Investir tempo na sua família, fazer seus check-ups médicos, viajar com alguém importante para você são bolas de golfe. Mas muitas vezes a gente fica só brincando no açúcar o tempo todo porque distrações docinhas não faltam por aí.

Aprenda a despejar as coisas na ordem certa. Aprenda a dizer sim, aprenda a dizer não. Aprenda a priorizar.
Escreve aí um post it: “BOLAS DE GOLFE” e gruda no monitor. Faz uma telinha de fundo “BOLAS DE GOLFE” pro celular. Dois lugares muito indicados para o lembrete.

ALUNO: “Professor, mas e o café? Representa o quê?”

PROF: “Ah é! O café! O café é só pra lembrar que sempre dá pra enfiar um cafezinho despretensioso com alguém na sua agenda. Esse sempre cabe”

Nota do autor: essa história, que era contada inicialmente com pedras grandes (e por isso o “Big Rocks”) é de autor desconhecido, mas há registros na internet que datam lá de 2005. Existem também alguns videos, são fáceis de achar pelo Google. A narrativa acima é uma adaptação livre minha, de texto e também do açúcar ao invés da areia original 😉

Fonte indicada e recomendada: Updateordie

Facebook planeja lançar satélite para levar internet a partes remotas da África em 2016

Facebook planeja lançar satélite para levar internet a partes remotas da África em 2016

O Facebook lançará um satélite para fornecer internet de baixo custo em partes remotas do continente africano, segundo anunciou o fundador da rede social, Mark Zuckerberg. Em parceria com a empresa europeia Eutelsat, a empresa espera ter um satélite em órbita em 2016.

Hoje, diversas companhias já fornecem internet por satélite, mas trata-se de um serviço mais caro e inacessível por muitas pessoas de países em desenvolvimento. “Continuaremos a trabalhar para conectar o mundo – mesmo que isso signifique ir além de nosso planeta”, disse Zuckerberg em um post.

Críticas
O projeto é parte da iniciativa Internet.org, que busca ampliar o acesso à rede e vem sendo alvo de críticas em vários países.

Em algumas regiões, especialmente na Índia, algumas companhias se manifestaram contra os planos da empresa, dizendo que isso dará vantagens a ela e seus parceiros no mercados de internet de países em desenvolvimento.

A Internet.org vem testando diferentes formas de prover acesso à internet a um baixo custo em locais de difícil acesso. Recentemente, a companhia disse estar planejando usar drones para conectar lugares assim.

Este projeto mais recente busca adaptar a tecnolgia de satélites já existente.

‘Novas tecnologias’
“No último ano, o Facebook vem explorando meios de usar aeronaves e satélites para enviar o sinal de internet para estas comunidades pelo ar”, escreveu Zuckerberg. “Para conectar pessoas nestas regiões remotas, a infraestrutura tradicional é com frequência difícil e ineficiente, então, precisamos inventar novas tecnologias.”

Em um comunicado, a Eutelsat disse que os usuários poderão acessar o novo serviço de internet usando aparelhos já disponíveis no mercado.

A previsão é que seja lançado no segundo semestre de 2016.

Fonte indicada: G1

Dependência de ‘memória digital’ está prejudicando memória humana, diz estudo

Dependência de ‘memória digital’ está prejudicando memória humana, diz estudo

O uso indiscriminado de tecnologias digitais está enfraquecendo a memória dos seres humanos, revelou uma nova pesquisa.

O estudo, conduzido por uma empresa de cibersegurança sediada no Reino Unido, constatou que as pessoas vêm recorrendo a computadores e dispositivos móveis para guardar novas informações em vez de usar seus próprios cérebros.

Segundo a pesquisa, muitos adultos que ainda se lembravam de números de telefone durante a infância não conseguiam memorizar os números de telefone do trabalho ou de parentes próximos.

Maria Wimber, da Universidade de Birmingham, na região central da Inglaterra, disse que o hábito de usar as máquinas para buscar informação “impede a construção de memórias de longo prazo”.

O estudo, que analisou os hábitos de memória de 6 mil adultos no Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, constatou que mais de um terço dos entrevistados afirmou que recorreria primeiro a computadores e dispositivos móveis para buscar informações do que à própria memória.

Memória externa
A pesquisa revelou que a dependência dos computadores gera um impacto de longo prazo no desenvolvimento das memórias.

“Nosso cérebro parece guardar informações cada vez que tentamos nos lembrar delas, e ao mesmo tempo esquecer aquelas que não são tão importantes”, explica Wimber.

Wimber explica que o processo de memorização de dados é “uma forma muito eficiente para criar uma memória permanente”.

“Por outro lado, buscar informações continuamente na internet não cria uma memória sólida e duradoura.”

Entre os adultos que participaram da pesquisa no Reino Unido, 45% conseguiam lembrar-se do número de casa quando tinha 10 anos, enquanto 29% conseguiam lembrar-se dos números de telefone de seus filhos e 43% conseguiam lembrar-se do número de telefone do trabalho.

A capacidade de lembrar-se do número de telefone do parceiro foi mais baixo no Reino Unido do que em qualquer outro lugar da Europa. Enquanto apenas a metade dos entrevistados (51%) britânicos sabia de cor o número de telefone do parceiro, a proporção na Itália era de 80%.

O estudo, realizado pela KASPERSKY, empresa de cibersegurança sediada no Reino Unido, constata que as pessoas se acostumaram a usar computadores como uma “extensão” de seus próprios cérebros.

Trata-se da chamada “amnésia digital”, pela qual as pessoas se esquecem de informações importantes pois acreditam que podem buscá-las imediatamente na internet, informa a pesquisa.

A pesquisa destaca também que há uma tendência cada vez maior de guardar memórias pessoais em formato digital. Fotografias de momentos importantes, por exemplo, deixaram de ser impressas para serem armazenadas somente no universo virtual, com o risco de serem roubadas ou perdidas.

“Existe também o risco de que o registro constante de informação em dispositivos digitais nos torna menos propensos a guardar informações de longo prazo, e até nos distrair de memorizar corretamente um acontecimento da forma como ele ocorre”, afirmou Wimber.

Por Sean Coughlan

Fonte indicada: BBC

Por que presentear crianças com livros?

Por que presentear crianças com livros?

Livre tradução do artigo escrito por Yolanda Reyes em seu blog Espantapájaros Taller.

1.  Porque as crianças gostam de histórias. Porque, no fundo, cada vida é uma história. E ao espreitar as páginas de um livro, as crianças abrem os olhos para as inúmeras histórias de vida das pessoas.

2. Porque as crianças são curiosas, como qualquer um de nós. E querem saber o que as outras pessoas pensam, como se sentem, como resolvem problemas, como se apaixonam, por que choram e riem, sonham e têm pesadelos.

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3. Porque as crianças não têm muitos anos de experiência. E os livros “emprestam” a elas a experiência de outros que viveram mais tempo para que possam “lê-las”.

4. Porque as crianças sabem que junto de uma história, há uma mãe ou um pai que virá lê-la todas as noites. E elas também sabem que eles vão ficar na beira da cama e não irão se ocupar de seus assuntos de adultos ou desligar a luz, pelo menos até que a história seja concluída. E, por isso, sempre pedem que leiam de novo e de novo e de novo …

5. Porque um livro é como um barco que conecta duas margens: dia e noite, para dormir e acordar, luz e sombra. E nesse barco, as crianças deslizam lentamente a partir do mundo real para o mundo dos sonhos.

6. Por uma série de razões práticas que as crianças não se preocupam, mas que são importantes para suas mães. Por exemplo: os livros não se desmontam em milhares de pequenos pedaços de plástico que precisam ser recolhidos pela casa  quando a festa de aniversário acabou. Nem precisam de baterias ou têm mecanismos complicados ou exigem a compreensão das instruções de montagem escritas no manual.

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7.  Como nem todos os meninos nem meninas são iguais, os livros também são diferentes. Há aqueles sobre múmias, dinossauros e reinos distantes, sobre monstros e fadas, sobre a vida real e a vida imaginária. Alguns são para chorar e outros para rir, alguns cantam, outros são como museus abertos todas as horas e todos os dias da semana. Há alguns para serem lidos pelo toque, com os ouvidos e dentes como bebês – para ler e reler um pouco mais para a imaginação, com o coração, com espanto.

8. E porque muitos livros – e sabemos disso depois de muitos aniversários – permanecem na memória. Seus efeitos não expiram com o tempo, mas o contrário. O rumor das histórias que lemos quando éramos crianças permanece conosco, como a música, como uma voz, como um encanto … E nos fortalece, ajudando-nos a construir um abrigo imaginário onde podemos passar algum tempo jogando no reino do “era uma vez, há muitos anos atrás “… jogando no reino dos mundo possíveis e impossíveis que nunca termina.

Por Denise Guilherme

Fonte indicada: Ataba

O resto é silêncio

O resto é silêncio

“To be, or not to be, that is the question:
Whether ‘tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune,
Or to take arms against a sea of troubles,
And by opposing end them? To die, to sleep,
No more; and by a sleep to say we end
The heart-ache, and the thousand natural shocks
That flesh is heir to: ‘tis a consummation
Devoutly to be wished. To die, to sleep;
To sleep, perchance to dream – ay, there’s the rub:
For in that sleep of death what dreams may come,
When we have shuffled off this mortal coil,
Must give us pause – there’s the respect
That makes calamity of so long life.
For who would bear the whips and scorns of time,
The oppressor’s wrong, the proud man’s contumely,
The pangs of despised love, the law’s delay,
The insolence of office, and the spurns
That patient merit of the unworthy takes,
When he himself might his quietus make
With a bare bodkin? Who would fardels bear,
To grunt and sweat under a weary life,
But that the dread of something after death,
The undiscovered country from whose bourn
No traveller returns, puzzles the will,
And makes us rather bear those ills we have
Than fly to others that we know not of?
Thus conscience does make cowards of us all,
And thus the native hue of resolution
Is sicklied o’er with the pale cast of thought,
And enterprises of great pith and moment,
With this regard their currents turn awry,
And lose the name of action.”[…]*

Dia desses, deparei-me com um longo vídeo (final do artigo) do professor e historiador brasileiro Leandro Karnal, uma fala de mais de sessenta minutos. Sei que assistir à um monólogo de mais de sessenta minutos nos dias de hoje, onde paciência é virtude em falta, parece quase coisa de maluco, bom, maluca ou não, eu assisti. Duas vezes. E não só assisti ao vídeo, como também me dei o trabalho de transformar boa parte de sua fala em texto. Porque, no momento atual, quando todo o tipo de informação nos invade olhos e ouvidos, quase sempre sem pedir licença, é imprescindível que eu encontre espaço para escutar, para ler e reler, aquilo que me desperta consciência, que por um breve momento me faz sentirmesmo que ilusoriamente, que não estou só em meus mais profundos questionamentos.

E um monólogo de mais de sessenta minutos, se não for muito bem embasado, com certeza não prenderia minha atenção ou de muitos outros. Karnal faz uma leitura espetacular de Hamlet, de maneira que nunca antes havia visto, até porque confesso que nunca tive paciência para ler uma obra de Shakespeare completa. E com Hamlet não poderia ser diferente, é densa, é lenta, é longa.

A partir de agora o que vou escrever vem muito da minha leitura sobre a leitura de Karnal da leitura de Shakespeare, mas precisamente, Hamlet, e prometo tentar fazê-la bem mais simples e curta (mesmo que uma obra como essa mereça leituras muito mais longas e complexas).

Dissociação na psicologia é um termo usado para falar de processos de inconsciência. Existem várias abordagens para o tema e a minha abordagem é puramente leiga, sem embasamento teórico algum, até porque se eu quisesse embasamento teórico estaria na Academia e não escrevendo em um blog. Então, colocando em leigas palavras, o ser-humano dissociado é aquele que detém grandes vãos entre seu discurso e suas atitudes. O ser-humano dissociado é aquele em que partes de sua “consciência” não conversam entre si. E como somos solitários em nossos próprios processos, existem inúmeros graus e processos dissociativos.

Eu já vivi fases de dissociação extrema e hoje ao olhar para trás e refletir sobre elas entendo muito bem porque eu não queria olhar para o que deveria ser olhado, para o essencial e porque passei tanto tempo me distraindo com dores paralelas, me anestesiando com relacionamentos e amizades rasas, remontando dramas, revivendo as mesmas histórias, me sabotando. Hoje e somente hoje, entendo porque passei tantos anos nesse “limbo”. Fiz isso porque olhar para nossas feridas, nossos traumas, nossas dores existenciais profundas é uma paulada na cabeça, ter consciência é algo que nos torna extremamente solitários, mais solitários do que já somos. E é uma solidão que corrói.

E Karnal nos lembra que fazer esse trabalho intenso de obter consciência sobre seus atos vai muito longe do espírito de autoajuda que diz “aceite-se e você será feliz”, é muito mais grave que isso, é “tente descobrir vagamente quem você é, então você não será feliz, mas sua consciência vai pelo menos fazer com que você não seja falso, vazio e comum”.

O ser humano integralizado é o contrário do ser humano dissociado, e assim como a dissociação, a integralização também existe em diversos graus e formatos. Mas, apesar de ser um processo bem distinto para cada um, existe algumas maneiras de percebê-la. O meu termômetro para medir consciência é a quantidade de desculpas que nós damos, quanto mais desculpas, mais dissociados estamos. Assumir a responsabilidade por nossos atos falhos é um grande passo no processo de consciência.

A pergunta mais famosa de Hamlet, que vem sendo repetida por quatro séculos e que muitos, inclusive eu, interpretam de maneira equivocada (começando por sua tradução para o português), “to be or not to be?” (ser ou não ser, estar ou não estar), parece simples, mas o que muitos não se deram conta é que essa pergunta nos remete diretamente para a problemática da consciência. O príncipe Hamlet é extremamente consciente, e sozinho em sua consciência ele se indaga: ” – Quando é que as pessoas vão parar de me dizer o que deve ser dito para me dizer o que as coisas realmente são?”.

A leitura de Karnal me comoveu porque eu me sinto sozinha, mesmo não tendo metade da grandiosidade do Hamlet de Shakespeare, mesmo não tendo metade do conhecimento de Karnal, me sinto sozinha em minha consciência. E sinto que é difícil viver em um mundo extremamente dissociado.

E por eu ter chegado até aqui entendo que não é um feito para me gabar, porque vejo que não foi difícil, só demandou (muita) vontade. Vontade de olhar para as coisas como elas realmente são. Por isso não acredito que chegar a um pequeno nível de consciência ou muito maior seja algo impossível para ninguém que está lendo esse texto ou ninguém no mundo. Já começa pelo fato de que ninguém precisa ler nada, nem fazer curso de nada para tanto.

Hamlet nos lembra que o caminho das pedras é simples (e ainda tão complexo): basta que comecemos a estar presentes naquilo que dizemos. Quando fazemos isso, estamos aos poucos saindo dos nossos processos de inconsciência, de dissociação e começamos a criar integridade, coerência, consciência.

Segundo a leitura de Karnal, o que Hamlet parece dialogar conosco é que: – E se as dores que nós inventamos, dores financeiras, dores físicas, dores de problemas familiares fossem o disfarce de uma grande dor maior? A dor que nós não conseguimos nominar, por isso estabelecemos dores laterais, por isso estabelecemos que eu esteja bem ou não naquele momento ou dia. Hamlet diz exatamente que essa dor nasce do fato de que todos naquela peça, em quase quatro mil e quinhentos versos, estão dizendo a ele o que ele deve ou não deve ouvir e não exatamente o que as coisas são.  Hamlet objetivamente está olhando para o mundo e dizendo:

“- Quando é que haverá alguém que vai me dizer o que as coisas são? Quando alguém parará de dizer o que deve ser dito? Quando alguém parará de colocar fantasias, de beber muito (ele reclama da bebedeira da corte), de disfarçar sua dor? Quando alguém começará a estar presente naquilo que fala? Quando as pessoas começarão a ser e deixarão de não ser?”

Pois é Karnal, pois é Shakespeare, ser ou não ser? Essa pergunta também me faço todos os dias e sei que apesar de sozinha, nesse questionamento não estou sozinha. As últimas palavras de Hamlet (e de Karnal) nos trazem a principal reflexão que surge de toda a peça: depois que Hamlet disse tudo que deveria ser dito, o  que sobra é silêncio. Quando todo esse barulho que faço para não me enfrentar, quando eu decidir acabar com toda a distração ao meu redor, quando eu parar de me anestesiar e resolver enfim olhar para dentro de mim, então tudo que restará será silêncio. Em uma singela homenagem às belas e sábias palavras que me inspiraram a escrever esse relato, encerro esse texto como o príncipe Hamlet encerrou sua vida, que também foram ditas por Karnal em seu encerramento:

– O resto é silêncio.

Abaixo o vídeo:

A Morte e a Vida das Coisas

A Morte e a Vida das Coisas

Outro dia, enquanto assistia ao meu celular carregando, fiquei pensando sobre a morte e a vida das coisas.

Um notebook se cala e uma tomada lhe oferece outra chance, uma ressureição;  o controle do vídeo game silencia, e um carregador de pilhas já o espera na tomada; a câmera fotográfica está pronto para, novamente,  tornar a imagem estática quando lhe oferecem meia horinha de energia à bateria.

Inventamo-nos diversas vidas para os objetos e a isso damos o nome de Ciência. Quantas milhares de horas na vida de cientistas foram sacrificadas para que tenhamos a garantia da sobrevivência das coisas? Quantas mãos não caminharam entrelaçadas porque um carregador mais rápido e potente estava sendo criado por estudiosos que não aprenderam, ou tiveram tempo, de ao menos soletrar “eu te amo”?

Penso que o ser, sabendo da sua incapacidade em garantir sua perpetuação, revive no que inventa. Semana passada mesmo,  vi um rapaz quebrando o carregador de um telefone porque ele já não funcionava tão bem. Pisava o aparelho, xingava-o em palavrões que aqui não cabem.

Não agredia o telefone com a tela escura, morta, agredia a inércia daquele que foi criado para fazer reviver. Atacava o único capaz de lhe mostrar a sua incapacidade de se reinventar.

Felicidade é uma promessa que só se paga adiantado.

Felicidade é uma promessa que só se paga adiantado.

Demorou, né? Quanto tempo! Deu trabalho. Tanto caminho torto, buraco, barranco, beco sem saída. Tanta curva, tanto engano! Quanta espera, incerteza, desalento. Quanto medo de morrer antes do nosso tempo, de partir antes do seu dia de chegar, de me perder e não encontrar você!

Cá estamos, pois. Um para o outro. Restamos vivos. Sobreviventes. Cada escorregão, tropeço, rasteira, suadouro, todo instante inseguro, cada choro solitário no fundo da noite. Tudo valeu, valeu, valeu muito. Valeu porque nos trouxe até aqui, este ponto exato no tempo e no espaço em que nos tornamos nossos. Jovens amantes de frente, começando a vida depois dos quarenta.

Toma devagarinho meu coração de pai em suas mãos de mãe. Descansa seus braços dados a tanto peso em meus ombros simples. Debruça seu corpo pequeno e forte sobre o meu. Repousa os músculos de suas pernas nos pensamentos mansos que juntei de você. Guarda seu coração junto ao meu em nosso abraço de vida inteira.

Nosso tempo enfim se avizinha. A saudade do que ainda não vivemos juntos doeu em horas infinitas, como hérnias de disco estouradas, nervos inflamados, joelhos torcidos sob bolsas de gelo, compressas de água morna e essas coisas que ajudam a tocar a vida.

Mas passou. A saudade deu lugar a esse gostinho de chá e amor no fogo, vindouro, escancarado, nascendo valente por entre os galhos novos e as flores vermelhas das paixões súbitas. Amor que cresce para o céu depois de anos arraigando sob a terra, entranhando intenções subterrâneas, fortalecendo nossa espera de sempre. Amor que arrebenta os muros erguidos ao redor de nossos pés e avança para a vida.

Entre nós há hoje um mundo inteiro. Amores, perdas, ganhos, filhos. Questões largas, medos fundos, decisões turbulentas. Mas visto na perspectiva de que a vida é assim tão curta, tudo isso se torna simples. Amanhã há de ser assustadoramente trivial.

Em algum pedacinho gramado de terra no sul do país, a vida nos espera como a moça grávida, gestando em festa nosso futuro manso, fresco, perfeito, posto que no frio nos sentimos em casa.

Desastrada, você se arranha nos galhos da goiabeira e me pede que pincele merthiolate em seus machucados. Eu aproveito e lambuzo de ternura toda a extensão do seu corpo.

E nós seguimos e crescemos, juntos como duas mangueiras, até nossas festas de cem anos, velhos amantes cansados da lei da gravidade, das contas, dos juros e outras burocracias, mas tão famintos ainda um do outro. Vivendo seu amor resistente.

Porque o amor, ahh… o amor resiste a tudo, como o matinho que nasce entre os paralelepípedos da rua antiga, as famílias que guardam os retratos de seus antepassados e preservam seus conselhos, seus valores e suas lembranças sem nome, sem cor, sem rosto. Resiste como as pessoas que ainda se importam com as outras. Como você e eu. Como a promessa de felicidade que passamos a vida inteira pagando adiantado. E que agora nos sorri deliberada em sua graça, lavando o mundo de bons e simples sentimentos de amor.

Se você está pensando como os outros, não está pensando

Se você está pensando como os outros, não está pensando

“Dizem que, numa cidade do interior, um grupo de pessoas se divertia com o “faz-me rir” do povoado, um pobre infeliz, de pouca inteligência, que vivia fazendo pequenas diligências e pedindo gorjetas.

Diariamente, alguns homens chamavam o homem no bar onde se reuniam e lhe ofereciam escolher entre duas moedas: uma de tamanho grande de 400 coroas e outra menor de tamanho, mas de 2.000 coroas.

Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risada para todos.

Um dia alguém que observava o grupo se divertindo com o homem inocente o chamou de canto e lhe perguntou se ainda não tinha percebido que a moeda de maior tamanho valia menos e ele respondeu: eu sei, eu não sou tão bobo. Ela vale cinco vezes menos, mas o dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e eu não vou ganhar mais nenhuma moeda.”

Esta história poderia terminar aqui, como uma simples piada, mas é possível tirar várias conclusões:

A primeira: Quem parece bobo, nem sempre é.
A segunda: Quem eram os verdadeiros bobos da história?
A terceira: Uma ambição desmedida pode acabar cortando a sua fonte de renda.

1 – Você pode estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião sobre você.

Você não precisa que os outros tenham uma opinião sobre cada passo que você dá na sua vida. Nem precisa, nem deveria procurá-la; o importante é que você esteja bem com quem você é.

Nos enganamos tentando colocar rótulos nas pessoas e nos seus comportamentos. Você é muito mais do que a opinião dos outros. Entre outras coisas, você deveria lutar contra si mesmo durante um tempo até alcançar a capacidade de se sentir bem, sem saber o que os outros pensam a seu respeito.

As pessoas mais infelizes neste mundo são as que se preocupam demais com o que os outros pensam.

2 – Portanto, não importa o que os outros pensam de você e sim o que você pensa de você.

As pessoas vão pensar o que quiserem pensar. Não vai fazer diferença você sempre procurar as palavras exatas ou cuidar dos seus gestos nos mínimos detalhes; alguém sempre irá distorcê-los. No fim das contas, no resumo da sua vida, pouco importará o que as outras pessoas falaram ou deixaram de falar.

Faça o que você gosta, não o que você acha que os outros gostariam que você fizesse.

Como você se vê a si mesmo é o que verdadeiramente importa. Mantenha-se fiel a si mesmo, guie-se de acordo com as suas opiniões e não pelo que os outros esperam ou opinam. No fim das contas, você é a única pessoa indispensável na sua vida, e é a você mesmo que você terá que “aguentar” minuto após minuto.

Se você está pensando como os outros, não está pensando E se você não está pensando, não está realmente vivendo.

3 – A vantagem de ser inteligente é que você pode fingir ser bobo, enquanto o oposto é impossível. Woody Allen

Dizem que ser inteligente não é saber onde ir, mas sim onde não se quer voltar e o que não se deve permitir.

Uma pessoa inteligente sabe que todos têm direito de pensar o que quiserem, mas outra coisa muito diferente é tomá-lo ou não como algo pessoal. Além disso, ser único e analisar as atitudes que os outros manifestam frente a você lhe dá a vantagem de criar situações que não lhe prejudiquem.

Texto original em espanhol de: Raquel Aldana

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa

Casamentos que duram, casamentos que acabam

Casamentos que duram, casamentos que acabam

Por Fabrício Carpinejar

Não quebro nenhum cálice de vinho na hora de lavar.

A taça jamais se parte, apesar do vidro finíssimo, da redoma absolutamente inofensiva, da delicada superfície de gelo.

Estou invicto. Cuido tanto, tiro qualquer louça da pia para evitar choques, não arrisco nenhum movimento impetuoso, eu me fixo suavemente ao esfregar a esponja nas extremidades.

Já vivo quebrando os copos mais resistentes. Não controlo o excesso de espuma, eu me distraio com os pensamentos, eles escorregam ou trincam na torneira.

É uma grande metáfora para os relacionamentos.

Casamento que dura é o mais difícil. Casamento que acaba é o mais fácil.

Quando é um casamento brigado, que tem a fragilidade como marca, somos condicionados a prestar mais atenção aos riscos e problemas e mergulhamos diariamente num estado de alerta.

Temos a consciência de que pode terminar a qualquer momento, então preservamos mais as palavras e os gestos, dedicamos um maior tempo para prevenir mensagens desagradáveis e ofensas. O medo da ruptura, sempre próxima, faz com que redobremos a apreensão com os laços.

Já quando o casamento é estável e sem sobressaltos, abandonamos a companhia ao léu porque não precisamos de muito esforço. O piloto automático desenvolve a insensibilidade diante do aumento e da diminuição da velocidade. Há o risco do tédio e da indiferença. Não nos preocupamos em agradar, e podemos nos distanciar do romance e da atração.

Casal que se desentende é obrigado a escutar o contraponto incessantemente. Casal que se entende pensa que conhece o seu par, adivinha, não escuta e fala pelos dois.

Casal com temperamentos antagônicos entra em disputa de atenção e não desiste de seduzir e de surpreender. Casal com afinidades custa a perceber a insatisfação do próximo.

Casal com diferenças gritantes pede desculpa e se prontifica a reparar o erro. Casal que age por identificação não espera nenhuma frustração e não perdoa com facilidade.

Casal que discute aumenta o contato e a intensidade sexual. Casal que não se aborrece desemboca na amizade assexuada.

A convivência entre os opostos é superior em termos de cuidados do que a convivência entre os iguais.
O apocalipse iminente gera a salvação. O paraíso previsível gera acomodação.

Uma linha de costura prende mais o casal do que uma corrente ou uma corda. A possibilidade de romper o nó sensível permite que os dois se olhem a todo momento para verificar se permanecem juntos. Estão infinitamente se reparando e se observando para evitar o desligamento da união. Por sua vez, a firmeza da corrente e da corda criam um relaxamento e um dos dois pode se mexer bruscamente e derrubar o outro e demorar para descobrir e, mais ainda, para socorrer.

Texto de Fabrício Carpinejar.

Mundo que me faz sorrir com lágrimas nos olhos.

Mundo que me faz sorrir com lágrimas nos olhos.

Como poderia estar plena de felicidade se o vizinho de 80 anos acaba de ver morrer seu cachorro, único companheiro de tantos anos e nem lágrimas rolaram. E objetos de três gerações se amontoam e tomam chuva na calçada, dispensados, ofertados ao mundo de hoje, sem valia, entulhos que atrapalham vistas e passagens. E os livros soltam páginas amarelas ao vento, histórias perdidas, apagadas, excluídas. E alguém dorme no banco da praça movimentada, embaixo de um sobretudo grosso que frequentou a opera no corpo de uma senhora aristocrata, nos tempos em que se ia à opera. Dorme esperando a vida passar, sem força para carregar o próprio corpo, sem vontade para mudar a realidade, ressequido de sonhos. E na TV dá que mataram 15 médicos fazendo trabalho social no Afeganistão. E um coração foi partido na esquina. O moço de 30 anos teve um infarto porque seus dias seguem na frente do jogo de computador, cigarros e pacotes de salgadinho. E um pai apressado puxa o filho pelo braço, chora sentido. A puta fica em pé na porta às 2 horas da tarde de sábado, com uma cara de ontem e uma placa na cabeça ‘estamos abertos’. E um pássaro velho, sem condições de voar, se encantoa embaixo de um arbusto com os olhos triste de quem tem poucos dias nesse mundo, nem do voo pode se despedir.

Tudo isso num caminho, nos poucos quarteirões entre minha casa e o supermercado.

Como poderia estar plena de felicidade se felicidade é um ostracismo. Cabe numa pílula, numa bolha, numa porta fechada de um apartamento. Cabe numa xícara de café e num pedaço de bolo. Cabe numa concha que guarda o barulho do mar, num porta retrato, numa carta, num poema. A felicidade é tão pequena que cabe na mão. Eu posso ter as mãos cheias de felicidade. Mas o mundo não é uma ostra, e eu não consigo esquecer os olhares, eu não consigo fechar as janelas. Felicidade é um individualismo.

Mas eu também não poderia estar plena de tristeza. Se da janela mesmo ainda vejo sorrisos, e do vaso nasceu uma flor, e do azul do céu nascem notas de músicas e das pequenas gentilezas nasce o amor.

 A vida que se abre e se fecha a cada passo.

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