Amor pelos livros: sírios constroem biblioteca subterrânea para proteger os livros da guerra

Amor pelos livros: sírios constroem biblioteca subterrânea para proteger os livros da guerra

Um grupo de jovens sírios constroem uma biblioteca sob a terra com a ideia de preservar a passagem do Estado Islâmico, que destruiu monumentos, bibliotecas e locais antigos, em geral, desde que começou sua ofensiva no país.

A ideia nasceu em 2012, quando os jovens tiveram de abandonar os estudos por causa da guerra. Foi então que a ideia de recuperar os livros que estavam sob os escombros.

“Os jovens como eu que tiveram que deixar a escola, graduados e jovens tiveram a ideia de recuperar os livros que estavam sob os escombros de casas demolidas. Tivemos o cuidado de classificar as casas destruídas e a identificação de seus proprietários. Uma vez que a guerra acabar, nós devolveremos aos seus donos. Também coletamos livros que não foram queimados em bibliotecas e livrarias da cidade. Era uma maneira de salvar o nosso patrimônio cultural “.

Aos poucos, o lugar, concebido como um armazém de livros, estava se tornando uma biblioteca pública que já conta com mais de 11.000 títulos, e onde as pessoas podem vir, sentar e desfrutar de algum texto. O local está localizado em um porão na cidade de Daraya.

“Temos obras árabes e de literatura estrangeira, filosofia, teologia. E nós criamos um espaço para leitura e estudo, através da instalação de mesas e cadeiras dentro da biblioteca “, disse Abu Malek, um dos fundadores deste espaço.

O projeto não só promoveu a revitalização de uma pequena parte da vida cultural da população síria afetada pela guerra, mas também motivou jovens a criaram um olhar para o além da guerra.

“Eu encontrei um propósito na minha vida com a criação desta biblioteca. Eu não aguentaria passar dias inteiros entre o tédio e o medo de novos ataques. Agora, eu aconselho aqueles que vêm para pedir um livro, discutirmos todas as nossas últimas leituras. Nosso próximo passo é completar a nossa coleção de filmes de documentários que podem ser vistos no site. Mas ainda nos falta dinheiro. ”

Fonte indicada: Economia Brasil

“Pássaro azul”, um poema de Cecília Meireles

“Pássaro azul”, um poema de Cecília Meireles

 

contioutra.com - "Pássaro azul", um poema de Cecília Meireles

Pássaro azul

Tua estirpe habitara alcândoras divinas.
Com os pés de prata e anil desceste antigos tempos.
E em minhas mãos pousaste, e o silêncio explicou-se,
por tua voz, que era de nunca e era de sempre.

Nomes de estrelas vinham sobre as tuas asas,
e era o teu corpo uma ampulheta pressurosa.
Entre as nuvens procuro o último azul que foste …
Mas, de tanto saber, nada mais se deplora.

Como te penso tanto, e tão longe procuro
tua música além das nuvens, não te esqueças
que posso estar um dia, em lágrima extraviada,
pólen do céu brilhando entre os altos planetas.

Mas não voltes aqui, pois é pesado e triste
o humano clima, para o teu destino aéreo.
Eu mal te posso amar, com o sonho do meu corpo,
condenado a este chão e sem gosto terrestre.

Cecília Meireles
in Mar Absoluto

Aos professores sobreviventes

Aos professores sobreviventes

Hoje, 15 de outubro, é Dia do Professor e sabemos que homenagens vãs cansam e incomodam. Quando a matéria é Educação, na maioria das vezes, não há o que se comemorar.

Nossos filhos são passarinhos coloridos que nascem e são engaiolados para que suas asas se atrofiem lentamente. Não voam mais em suas casas, não voam em suas brincadeiras e os pais não estão mais por trás para segurá-los ou empurrar suas bicicletas. Quando caem, a queda é fria e faltam braços para estimular seus próximos passos e tentativas. Falta educação, falta beleza na educação, falta encanto e falta afeto. Faltam também educados e educadores, mas há sobreviventes.

Assim, embora a data mereça comemoração, não é todo e qualquer professor que merece os nossos cumprimentos. Cumprimentamos, aqui, aqueles professores que estimulam a reabilitação das asas atrofiadas de nossas crianças. Aqueles que, sejam eles quem forem, tenham eles títulos ou não, se dediquem a  perpetuar a esperança dos seres em formação. Estes, sim, são professores de verdade.

Ler é fácil, difícil é saber o que escrever numa folha em branco.

Professor de verdade é aquele que consegue sobreviver às regras da escola tradicional e mostra ao aluno que educação não é algo a que se obrigue, que valoriza mais o acerto do que o erro do aluno e que, mais do que quantidade de conteúdo, ensina que para se viver é necessário que se aprenda a olhar, independente da direção escolhida…

Reproduzir conteúdo é fácil, difícil é humanizar.

Professor de verdade é aquele que ensina pelo exemplo, superando-se em face de seus  próprios erros. Provavelmente quando o lado mais fraco aparece é que as maiores lições podem ser tiradas. É aquele que disciplina a rotina ao mesmo tempo que indisciplina a alma do aluno, levando-o sempre ao questionamento.

Professor de verdade é aquele que ama o conhecimento, porém, mais do que a cultura, ama o ser humano que por ela deverá ser seduzido. Num tempo em que as regras e o respeito não são comportamentos esperados, é necessário descontruir barreiras, implodir redomas de autodefesa de quem tantas vezes nem aprendeu a receber afeto de forma construtiva.

Bem sabemos que amar não é fácil, mas que o futuro só é possível se a humanidade puder valer-se de professores que amam.

A vocês, a nossa homenagem: aos professores que amam.

“O terror que nos traz a onda da imigração”, por Bauman

“O terror que nos traz a onda da imigração”, por Bauman

Zygmunt Bauman, hoje um dos pensadores mais influentes do mundo, foi forçado ao exílio em várias ocasiões. A primeira vez em 1939, quando ele fugiu da Polônia para a Rússia, sendo um jovem judeu, semelhante aos refugiados que depois de sobreviver a guerras e atravessar o Mediterrâneo são agora objeto de nossos medos, ao invés de nossas condições de solidariedade. E a dialética da integração e expulsão de grupos sociais da modernidade é uma das questões que mais tem estudado.

Parece que não somos capazes de resolver a questão dos imigrantes.

O volume e a velocidade da onda atual de migração é uma novidade e um fenômeno. Não é de admirar que tenha encontrado os cidadãos e políticos desavisados: material e espiritualmente. A imagem de milhares de pessoas desenraizadas acampadas nas estações provoca um choque moral e um sentido de alarme e angústia, como sempre acontece em situações em que temos a impressão de que “coisas que estão além do nosso controle.” Mas se olharmos de perto os modelos sociais e políticos que respondem à “crise” na “emergência de imigração”, há poucas novidades. Desde o início da modernidade, refugiados da brutalidade da guerra e despotismo, da vida sem esperança, ter atingido as nossas portas. Para as pessoas desse lado da porta, essas pessoas eram sempre “estranhos”, “outros”.

Então, nós estamos com medo. Por que razão?

Porque parecem terrivelmente imprevisíveis em seus comportamentos, ao contrário das pessoas com quem nos relacionamos em nossas vidas diárias e que sabem o que esperar. Os estrangeiros poderiam destruir as coisas que gostamos e comprometer nosso modo de vida. Dos estrangeiros sabemos muito pouco para ler seus modos de comportamento, adivinhar suas intenções e o que eles vão fazer amanhã. Nossa ignorância sobre o que fazer em uma situação que não controlamos é a maior razão para o nosso medo.

-O medo leva a buscar bodes expiatórios? É por isso que se fala deles como portadores de doenças? Será que as doenças seriam metáforas de nosso desconforto social?”

Em tempos de uma acentuada falta de certezas existenciais, cada vez mais precárias, em um mundo à beira da desregulamentação, os novos imigrantes são vistos como portadores de más notícias. Eles nos lembram do que teríamos preferido esquecer: nos apresentam até que ponto forças poderosas, globais, distantes das que ouvimos falar, mas que permanecem indescritíveis para nós; em que medida estas forças misteriosas são capazes de determinar nossas vidas, independentemente de nossas próprias escolhas não sabemos. Agora, os novos nômades, imigrantes, vítimas colaterais dessas forças, por uma espécie de lógica perversa acabam sendo percebidos como a vanguarda de um exército hostil a serviço das forças misteriosas que estão colocando suas tendas no meio de nós. Os imigrantes lembram-nos de maneira irritante como é frágil nosso bem-estar, parece que temos um monte de trabalho. E para responder à pergunta, bode expiatório: é um hábito, um uso humano, demasiado humano, processar e punir o mensageiro pela mensagem de ódio que ele carrega. Nós desviamos nossa raiva das forças indescritíveis e distantes da globalização ao assunto, por assim dizer, “vigários” para com os imigrantes de forma justa.

– Fala do mecanismo graças ao qual cresce o consenso de forças políticas racistas e xenófobas. Há partidos acostumados a usar seu capital eleitoral fazendo oposição à “redistribuição de dificuldades” (ou benefícios), e isto rejeitando compartilhar o bem-estar de seus eleitores com a parte menos afortunada da nação, o país, o continente (por exemplo Liga do Norte). Esta é a tendência entrevista, ou melhor, preanunciada há muito tempo no filme Napoletani para Milano, de 1953, de Eduardo De Filippo, e manifestada nos últimos anos, na recusa de compartilhar o bem-estar dos lombardos com as partes menos afortunados país.

-Uma vez na Europa, foi a esquerda a que se integrava aos imigrantes, através de organizações no território, sindicatos, trabalho político … e agora não há mais bairros operários, faltando instituições e as formas de integrar os trabalhadores. Mas, principalmente, a esquerda, em seu programa faz um aceno de cabeça para a direita com uma promessa: nós faremos o que você faz, mas melhor. Todas estas reações estão longe de ser as verdadeiras causas da tragédia que estamos testemunhando. Eu estou falando, na verdade, uma retórica que não nos ajuda a evitar afundando cada vez mais nas águas turvas da indiferença e da desumanidade. Tudo isto é contrário ao imperativo kantiano de não fazer aos outros aquilo que não queremos que nos façam.

O que agora o que se deve fazer?

Necessita-se de nós que podemos nos unir, não dividir. Seja qual for o preço da solidariedade com garantia real e vítimas diretas das forças da globalização que prevalecem sobre o princípio “divide et impera”, seja qual for o preço dos sacrifícios que terão de pagar por isso imediatamente, solidariedade a longo prazo continua a ser a única maneira de dar uma esperança realista de conter futuros desastres e não piorar a catástrofe contínua.

Fonte indicada: Blog A Crítica

A alegria de ser professor

A alegria de ser professor
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Muito se ouve sobre o sofrimento dos professores. Eu, que ando sempre na direção oposta, quero falar sobre o contrário: a alegria de ser professor. A despeito de estar batendo de frente já há algum tempo com esse sistema educacional que não passa de uma máquina absurda pela qual nossas crianças e jovens são forçados a entrar em nome da educação, eu simplesmente me deleito não somente por ensinar, mas muito mais por todos os dias deixar muitas dúvidas na cabeça de meus alunos no lugar das certezas e sair de sala de aula, também, entendendo menos por discutir tanto com eles. Explico-me.

Ando horrorizada com a maioria das escolas. Dentre tantos problemas da cultura moderna, o que mais me preocupa é a educação não somente no Brasil como no resto do mundo. No espaço onde deveria ser usado para o aprendizado, é feito um treinamento brutal com o propósito de preparar vastos números de jovens, no menor espaço e tempo possível, para se tornarem usáveis e abusáveis por um sistema econômico. Nessa esteira, as escolas do Japão para mim são as piores , pois são o modelo de fábrica de abelhas ou formigas trabalhadoras e eu me recuso a desejar isso para meus filhos. Se ao menos tivéssemos alguma evidência de que os operários do mês – desses que tem foto na parede e tudo – são felizes, vá lá. O contrário, porém, já se evidencia, a dizer, a infelicidade de quem se torna um escravo do trabalho – ainda que bem remunerado. É significativo que países que muito produzem e consomem bens materiais e cujas escolas são consideradas um exemplo de disciplina e respeito ao professor sejam hoje locais com a mais alta taxa de suicídios no mundo, inclusive o de crianças. A eficiência dessa máquina educacional, a meu ver, está não na formação e sim na deformação que ela produz.

Os melhores alunos são aqueles que tiram as melhores notas e passam nas melhores Universidades nesse modelo educacional vigente. Contudo, dentro de um curto espaço de tempo, grande parte do conhecimento que adquiriu na escola não será mais lembrado, pois, o próprio corpo não aguenta tanta gordura inútil acumulada em forma de equações e nomes que jamais serão usados ou sequer ouvidos novamente. Eu mesma, como professora de física, só uso as equações de Torricelli nas minhas aulas. Nunca precisei usá-la aqui fora. Aliás!, quando tive dúvida se ia bater ou não com meu carro no poste, se tivesse a capacidade de fazer cálculos na velocidade maior que o “takimóvel” se locomovia talvez, naquele momento, usaria a equação que serviria somente para, segundos antes de bater, saber que iria bater. Não sei até que ponto isso seria uma vantagem. Fora isso, devo confessar, nunca precisei.

Lembro-me que nunca tirei A nas redações por escrever sempre na primeira pessoa. “Penso que…”, “Acho que…”, “Percebi que…”, … todas essas expressões eram circuladas com caneta vermelha e sempre que recebia a redação corrigida os professores me avisavam que era errado eu falar no meu referencial. Como assim? Não conseguia fazer diferente! Demorei muito para ter coragem de voltar a escrever depois que saí da escola. Somente com mais de trinta anos, com muito receio, coloquei minhas ideias no papel cheias de eu para cá e eu para lá. E daí, meu irmão, foi um caminho sem volta. Criei meu blog onde publico há mais de dez anos crônicas sobre minha visão do mundo e tive um livro (que foi uma seleção de vinte e seis crônicas de mais de trezentas já escritas) premiado na categoria literatura em um concurso promovido em todo Brasil pela Editora Saraiva, uma das maiores editoras do país. Minha Vida é um Blog Aberto só tem contos e crônicas narrados em primeira pessoa. Não acho que o mundo ficou melhor com meus escritos, longe de mim querer dizer isso. Mas ‘eu’ estaria com toda certeza muito menor. Sendo mais clara: a escola quase acabou com o que é hoje um dos meus principais alicerces.

Crianças e jovens que fazem diferente do que o professor manda são castigados como eu sempre fui. O que o sistema quer é que façamos dos alunos um eco do que nós, professores, emitimos. Por outro lado, a maioria dos professores também não sabe e talvez nem queira fazer diferente. Aquele que representa teoricamente a nata intelectual da sociedade sequer se dá conta que ele também é uma marionete do sistema. E ainda que sejam alertados, muitos dão de ombro, pois o tal saber sedimentado nos poupa dos riscos e do trabalho da aventura de pensar. São esses os professores, de uma forma geral, que mais reclamam da profissão usando e abusando no discurso nostálgico dizendo que antigamente os alunos eram diferentes, mais obedientes, não existia o celular e bababá bububú. São esses professores que querem dar a mesma aula que expunham há dez anos atrás. Mas tem um detalhe: a aula hoje desse profissional do ensino se encontra facilmente na internet. Qual a solução? Obrigar a presença em sala sob a pena do aluno perder ponto caso tenha muitas faltas. E o inferno está instaurado. Não é sem motivo que vejo manchetes dizendo que nunca os professores andaram tão doentes e depressivos como agora.

Dizem por aí que quem não estuda não consegue ser alguém na vida. Pergunto-me o que é “ser alguém”? É uma pessoa bem sucedida profissionalmente e que, claro, ganha muito dinheiro, responderiam. Um médico, por exemplo. Um doutor em nossa sociedade, ainda que reclame, tem muito mais sucesso, financeiramente falando, do que, mais um exemplo, um filósofo, não? Bens materiais medem quem somos? E quando não conseguimos um saldo gordo na conta? Somos menores como seres humanos por causa disso? Somos intelectualmente inferiores que os que vestem jaleco branco e nos entopem de remédio? Oras, pelo que observo, não importa o retorno econômico que se possa obter ao fim deste processo. Permanece, a meu ver, um fato fundamental: que ele, em geral, só se realiza ao preço da morte de diversas potencialidades que um dia viveram no corpo em nós quando crianças. Não é de se estranhar, portanto, que as pessoas passem as suas vidas com a estranha sensação de que não são hoje bem aquilo que desejavam ser quando bem mais jovens. Elas foram transformadas em alguma coisa diferente dos seus sonhos. São essas várias amputações ao longo desse processo – quase criminoso – que nos condenam à infelicidade, essa tal tão íntima de tantos de nós. Vide a quantidade de adultos que consomem anti-depressivos e anti-ansiolíticos e que fazem terapia para sobreviver nesse “mundo mundo vasto mundo”. Groddeck, um dos inventores da psicanálise, afirmava que apenas o artista, o poeta e a criança conhecem o segredo da harmonia com a vida. O artista e o poeta são aqueles que foram, se não considerados rebeldes, expulsos da escola e a criança é aquela cuja curiosidade ainda não foi destruída pelo sistema.

Corrijam-me se falo alguma grande besteira: Criar é voar. Voar com o pensamento é sonhar. A criatividade é o trabalho que faz viver em nós aquilo que não existe. E, pergunto-vos, quem somos nós sem sonhos que, por definição, é aquilo que não faz parte da realidade? É o poder de criar e, portanto, o sonhar que nos torna humanos, acho eu. Somos mais do que ossos cobertos de carne, somos metafísicos, extrapolamos a matéria. Somos o que não existe: sonhos. Por isto que, diferente dos médicos, que apalpam, olham, examinam e medem os sintomas físicos do corpo, os artistas, os poetas e as crianças são sensíveis ao que transcende em nós. Pois é nesse impalpável onde se localiza os pensamentos que nos fazem voar.

O nosso corpo é um espaço onde cabem infinitos universos. Percebo que quanto mais semeados forem estes universos maior será a nossa capacidade de criar, de compreender e de amar. E de brincar. Muitos adultos não sabem (mais) e grande parte dos professores não percebeu ainda que a vida não é para ser levada tão a sério. É para ser brincada. Se não for divertido, nada vale à pena. E tudo o que ensinamos nas escolas, geografia, história, física, química, biologia, matemática, se não forem objetos de prazer, joguem no lixo, por favor. Quando brincamos, acredito eu, temos uma amostra do paraíso e, em verdade vos digo, a minha sala de aula é o Meu Paraíso.

Dizem que o trabalho enobrece. Mas não é que vemos por aí. Temos uma sociedade plena de adultos cansados, com preguiça de ler e de pensar e incapazes de criar. Que lindo seria se a única finalidade do saber adulto fosse permitir que a criança que mora em nós continue a se divertir, não? Pois então, não tenho absolutamente nada a reclamar de minha profissão e de meus alunos. Tenho me divertido um tanto dentro de sala de aula e quebrado, grazadeus, muitos paradigmas. A criatividade é muito estimulada em meus alunos e com eles sinto-me dentro de um parque de diversão.

Então, quando enuncio uma teoria, por exemplo, mostrando o quão criativo foi o trabalho do cientista ou do filósofo natural que a elaborou, geralmente, um aluno sempre me pergunta: Mas isso é verdade? É assim mesmo que acontece? E eu lá que vou saber?, respondo sempre. Está lhe parecendo razoável tudo isso?, provoco. Nesta hora, o aluno tem dúvidas e mais perguntas. Que bom. O aluno está pensando, refletindo.

Por fim, sou atéia, mas sugiro que inspiremo-nos em Jesus e parafraseemo-lo: Ame o seu aluno como a si mesmo e não faça com ele o que você não gostaria que fizessem com você.  Assim seguindo, concluo que não estou mais aqui para ensinar a tarefa sem brilho e sem graça de repetir respostas e sim para estimulá-los a perguntar. De uma certa forma, mostrar que, em geral, a ciência é construída pela ousadia dos que sonham. O conhecimento, para mim, tem que ser um mergulho pelo mar do desconhecido e não uma marcha em solos firmes. E são nas perguntas e nas dúvidas que se começa essa maravilhosa apnéia.

Feliz dia dos professores para todos que, como eu, são felizes todos os dias diante de seus alunos.

Cortem a energia mais vezes, por favor!

Cortem a energia mais vezes, por favor!

Quase sempre o tempo é curto e a ansiedade de viver tantas coisas juntas nos faz postergar o essencial.

Postergamos até que um dia nos cortam a energia da casa, da escola, do escritório, da academia e do prédio no qual moramos, fazendo, por vezes, parar o elevador que nos acolhe também.

E ao nos vermos no escuro, passado o pânico inicial, desencadeado pela surpresa do inesperado, uma luz se acende em nós.

Vai-se a televisão, adormece o computador, morre a máquina de lavar pratos e roupas e nós acordamos. Despertamos de um transe profundo e as tarefas antes urgentes tem então que ser adiadas.

Vai-se a energia, cortam a força e ficamos nós.

Em desespero há os que sacodem os filhos para as camas, a fim de que fechem os olhos sem sono, para que se evadam da realidade, daquela da proximidade, saciada por palavras, gestos e brincadeiras, para enfim acordarem em uma outra, em uma na qual o convívio e a atenção não recebem a devida medida.

Alguns se esquecem que, ao resistirmos à vontade de adormecer, podemos enfim contemplar um céu estrelado, exercitar a reflexão de nossas idéias, encontrar respostas particulares e buscar, na tênue penumbra, dois ou mais pares de olhos para compartilhar o nosso eu.

Puxemos então a cadeira no trabalho e em círculo, ladeando as margens de uma lanterna, entoemos palavras melódicas de esquecidos versos. Chamemos os filhos para perto de nós e contemos as mais belas histórias dos que antes de nós vieram. Puxemos os amigos da academia e conversemos sobre a saúde do corpo e como ela é importante no auxílio da saúde da alma. Enlacemos os braços dos colegas na escola e voltemos a brincar de roda, de dominó, de jogo da velha ao som de cantigas infantis.

O mundo desperta sem luz, o mundo redescobre a delícia de partilhar boas recordações, boas informações, boas soluções.

O estranho no elevador não é tão estranho. Ele também tem uma vida como a nossa, também tem preocupações infundadas e medos bobos. Ele estava adormecido e tinha se esquecido, assim como nós, de como é bom buscar no outro o melhor de si.

Que se apaguem as luzes mais vezes, para que possamos sentir as chamas das velas tremularem por nossas moradas e para que um inédito teatro de sombras possa ser encenado por nós e pelos nossos filhos, fazendo-os esquecer do vídeo game e do tablet recheado de avisos comerciais.

Cortem a energia mais vezes, por favor, para que nos lembremos que existe uma vida bonita por trás de toda a parafernália tecnológica, sem a qual erroneamente imaginamos não conseguir viver.

Cortem a força sempre que puderem, para que não nos sobrem desculpas para deixarmos de ser o melhor que podemos ser, no presente. No tempo do agora, no tempo em que somos tão belamente tudo de nós.

“Palavras são mágicas, são como encantamentos sublimes que nos levam para onde quisermos, seja esse onde um lugar ou uma pessoa”. Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

“Se a libertação não está em mim, não está, para mim, em parte alguma”, por Fernando Pessoa

“Se a libertação não está em mim, não está, para mim, em parte alguma”, por Fernando Pessoa

Há uma erudição do conhecimento, que é propriamente o que se chama erudição, e há uma erudição do entendimento, que é o que se chama cultura. Mas há também a erudição da sensibilidade.

A erudição da sensibilidade nada tem a ver com a experiência da vida. A experiência da vida na ensina, como a história nada informa. A verdadeira experiência consiste em restringir o contato com a realidade e aumentar a análise desse contato. Assim, a sensibilidade se alarga e se aprofunda, porque em nós está tudo; basta que procuremos e o saibamos procurar.

Que é viajar e para que serve viajar? Qualquer poente é o poente; não é mister ir vê-lo em Constantinopla. A sensação de libertação, que nasce das viagens? Posso tê-la saído de Lisboa até Benfica, e tê-lamais intensamente do que quem vá de Lisboa à China, porque se a libertação não está em mim, não está, para mim, em parte alguma. “Qualquer estrada”, disse Carlyle, “até essa estrada de Entepfuhl, te leva até ao fim do mundo.” Mas a estrada de Entefuhl, se for seguida em todas, e até ao fim, volta a Entepfhl; de modo que Entepfuhl, onde já estávamos, é aquele mesmo fim do mundo que íamos buscar.

Condillac começa o seu livro célebre, “Por mais alto que subamos e mais baixo que desçamos, nunca saímos das nossas sensações”. Nunca desembarcamos de nós. Nunca chegamos a outrem, senão outrando-nos pela imaginação sensível de nós mesmos. As verdadeiras paisagens são as que nós mesmos criamos, porque assim, sendo deus delas, as vemos como elas verdadeiramente são, que é como foram criadas. Não é nenhuma das sete partidas do mundo aquela que me interesssa e posso verdadeiramente ver; a oitava partida é a que percorro e é minha.

Quem cruzou todos os mares cruzou somente a monotonia de si mesmo. Já cruzei mais mares que todos. Já vi mais montanhas que as que há na terra. Passei já por cidades mais que as existentes, e os grandes rios de nenhuns mundos fluíram, absolutos, sob os meus olhos contemplativos. Se viajasse, encontraria a cópia débil do que já vira sem viajar.

Nos países que os outros visitam, visitam-nos anônimos e peregrinos. Nos países que tenho visitado, tenho sido não só o prazer o escolhido do viajante incógnito, mas a majestade do Rei que ali reina, e o povo cujo uso ali habita, e a historia inteira daquela nação e das outras. As mesmas paisagens, as mesmas casas eu as vi porque as fui, feitas em Deus com a substância da minha imaginação.

Fernando Pessoa, no “Livro do Desassossego” – pág. 155

7 hobbies que fazem seu cérebro ficar mais inteligente e rápido

7 hobbies que fazem seu cérebro ficar mais inteligente e rápido

Todas as partes do nosso corpo envelhecem, não é diferente com o nosso cérebro. Infelizmente, as pessoas mais velhas perdem a memória a curto prazo e ficam debilitadas em suas funções motoras, pois mesmo sem a temida doença de Alzheimer, a idade debilita.

A ciência diz que podemos atrasar este processo e, em alguns casos, até reverter, com o auxílio simples hobbies que tornam o nosso cérebro mais forte. Aqui estão 7 delas:

1) Leitura
contioutra.com - 7 hobbies que fazem seu cérebro ficar mais inteligente e rápidoNão importa o que você lê, a ciência já comprovou que a leitura ativa muitas áreas do cérebro, aumentando a atividade cerebral. Ler impulsiona a parte do cérebro que nos capacita a resolver problemas, melhora a memória e exercita a imaginação.

2) Tocar um instrumento musical
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Há muito tempo, neuro-cientistas têm realizado estudos sobre os benefícios do aprendizado de música para crianças em relação às funções cognitivas – memória, resolução de problemas, processamento seqüencial e reconhecimento de padrões, para verificar se ocorria uma melhora. Tocar instrumento aumenta a comunicação cerebral, assim, eles afirmam que aprender a tocar logo cedo, quando criança, melhora o processamento cerebral, principalmente para equações matemáticas.

3) Pratique um exercício físico
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O exercício produz uma proteína muito importante que corre pela corrente sanguínea. Como o sangue corre pelo corpo todo, o cérebro também a absorve, o que melhora a memória, e também a concentração. Foi feito um teste de memória com pessoas que se exercitaram antes e outras não, e o resultado foi esmagadoramente melhor para o grupo que se exercitou antes.

4) Aprenda uma nova língua
contioutra.com - 7 hobbies que fazem seu cérebro ficar mais inteligente e rápidoNo total, 4 áreas do cérebro são usadas para captar o som e dar a ele um significado. Pessoas bilíngues possuem uma maior raciocínio, concentração, planejamento e memória por possuírem o cérebro mais desenvolvido. Sabe-se que o aprendizado de uma língua, em qualquer idade, torna a pessoa mais inteligente.

5) Faça estudos cumulativos
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Aprendizagem cumulativa é o processo no qual aprendemos novas informações daquilo que já sabemos, formando uma nova camada de informações. Como as crianças, que aprendem matemática básica, depois vão aprendendo suas funções, assim cada nova camada vai em cima da antiga. Conforme vamos envelhecendo, essa capacidade vai desaparecendo, mas não se praticarmos sempre.

6) Games e Quebra-Cabeças
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Quanto mais informações colocamos em nossos cérebros, mais funções ele pode realizar. Quanto mais exercitamos, mais forte ele fica. Quando jogamos games ou quebra-cabeças, novas conexões cerebrais são feitas, fortalecendo o nosso cérebro.

7) Meditação / Ioga
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Pesquisas confirmaram: Meditação é algo surpreendente, ela faz com que você tenha um melhor controle do seu pensamento, mesmo quando você não estiver meditando. Este controle permitem maior foco em suas atividades.

Fonte: Lifehack.org

Explicação da Eternidade

Explicação da Eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.

José Luís Peixoto, in “A Casa, A Escuridão”

Fonte indicada: Citador

Doze indícios de lavagem cerebral

Doze indícios de lavagem cerebral

Lavagem cerebral não é algo restrito apenas aos movimentos e organizações religiosas. Ela pode estar acontecendo com qualquer pessoa, em qualquer lugar, em qualquer tipo de organização seja ela espiritual, militar, política, educacional ou empresarial. Por isso, analise e teste os doze indícios citados abaixo, com sorte você poderá acordar a tempo de se livrar ou amenizar os danos causados por uma  sutil – mas danosa- lavagem cerebral .

1. OS OPOSITORES SÃO  O “MAL”

Nesse tipo de estratégia , qualquer pessoa que se oponha ou critique o grupo- ou o líder- é  considerado alguém sob o domínio do mal, da ilusão ou do “ego”. Já os adeptos da organização- e seu(s) lídere(s)- se consideram “livres” disso. Esta atitude, dá a si mesmo uma sensação de liberdade e consequente felicidade. Pois se os outros são escravos do tal “ego” que bom fazer parte de uma organização livre de tal “mal”. Essa ilusória sensação de felicidade e liberdade torna a pessoa emocionalmente vulnerável e disposta a trabalhar para a organização/líder “salvador (a)” como forma de agradecimento e reconhecimento.

2. RENDA-SE!

Essa é uma das frases preferidas dos líderes espirituais mal intencionados: “renda-se, não resista!” O motivo é óbvio. Se você não se rende como poderá ser manipulado? E se você , por algum motivo, demonstrar algum traço de resistência, eles tentam derrubá-la com o velho clichê: “é seu ego que tá resistindo! Abandone-o e renda-se!”. Ou seja, é um assalto espiritual descarado.

3. O ABANDONO DA MENTE REFLEXIVA

Outra estratégia sutil é confundir propositadamente a mente com o pensamento. Tradicionalmente, na cultura oriental, os mestres verdadeiros pregam o silêncio da mente- que surge naturalmente- como pré-requisito ao despertar. Isso nada tem a ver com desprezar ou endemonizar a mente. Os líderes charlatães usam dessa estratégia de forma deturpada para impedir o pensamento reflexivo, a dúvida e a desconfiança que podem surgir na mente dos candidatos, neófitos e seguidores .

4. VOCÊ NUNCA VAI ENTENDER UM MESTRE!

Outra estratégia comum nas organizações e movimentos religiosos- principalmente os de inspiração oriental. Essa frase é usada para justificar alguma atitude estranha ou suspeita por parte do tal “mestre” ou “guru”. Ou seja, se o mestre é infinitamente superior a você, quem é você para criticar, julgar ou analisar as atitudes dele? É assim que o líder se sente à vontade para cometer todo tipo de abusos incluindo pedofilia, estupros,  bacanais, orgias, roubos, enganações, explorações etc etc etc.

5. “VOCÊ É LIVRE”… SÓ QUE NÃO!

Em geral os tais gurus fajutos pregam a liberdade- contanto que a pessoa obedeça as diretrizes do grupo e esteja sob o comando do líder. Ou seja, você é livre para fazer o que quiser, desde que continue na organização mantendo-a com seu trabalho, dedicação e dinheiro- caso tenha. Em suma não é liberdade, pois ela está condicionada a sua permanência no grupo, movimento ou organização. Inconscientemente a vítima é levada a acreditar que enquanto fizer parte do grupo estará livre- se sair cairá na escravidão da mente, das ilusões, do mal etc etc.

 

6. A VERDADE ÚNICA E ABSOLUTA!          

Os líderes carismáticos querem fazer crer que são detentores da verdade única e absoluta, por isso desprezam os ensinamentos de qualquer outra fonte. Através desta estratégia, eles se previnem contra ensinamentos que poderiam -de alguma forma -confundir, alertar ou influenciar alguém contra a organização. É bom lembrar que mesmo aqueles que aparentemente são mais tolerantes e universalistas- no fundo concentram em si a exclusividade das interpretações e direcionamento espiritual.

7. DESPREZO PELO CONHECIMENTO

Saber os limites e funções do conhecimento não é o mesmo que desprezá-lo. Os verdadeiros mestres e líderes sempre alertam para os limites do conhecimento. Os mestres fajutos enfatizam seu total desprezo. A razão é simples: a leitura abre a mente para novas percepções e visões. Isso seria um risco para o domínio mental exercido pelo tal “mestre” e sua organização . Estes desprezam as leituras para se certificarem que a vítima terá apenas o líder e seus ensinamentos como principal e único referencial.

8. NÃO EXISTE “ALGUÉM” AÍ!

Ora, é preciso minar uma possível resistência desde o começo. Ao enfatizar a ausência de um “alguém” quebra-se parte da força da pessoa que já entra na organização como sendo um “objeto”, uma “coisa”- abalando assim sua auto-estima. Afinal de contas, coisas são facilmente manipuláveis- enquanto que uma “pessoa” é mais difícil de ser controlada. Isso nada tem a ver com o que foi dito pelos grandes mestres- pelo contrário- é a deturpação deliberada de verdades eternas a serviço da exploração e manipulação mental.

9. TESTEMUNHOS POSITIVOS

Essa é uma estratégia simples mas muito útil. Pede-se a alguém do grupo para fazer um breve testemunho sobre as vantagens e benefícios de se fazer parte do movimento. Esse testemunho pode ser presencial- durante as reuniões- ou escrito em blogs e propagandas de divulgação dos eventos da organização. O processo é o mesmo do conhecido jogo da “pretinha”  em que a pessoa tem que descobrir onde está a bolinha ou a carta e no qual tem sempre alguém muito feliz ganhando muito dinheiro- previamente combinado- é claro. Inconscientemente a mente pensa assim  “Ora, se os outros encontraram a felicidade, quero encontrá-la também”. E aí começa a desejar a mesma felicidade que os outros dizem sentir e para alcançar isso estarão dispostos a muita coisa.

10.  SÍNDROME DO POVO ESCOLHIDO

Essa estratégia é famosa, antiga e poderosa pois reforça na mente do sujeito a sensação de ser alguém privilegiado, especial e superior- o que causa uma prazerosa sensação de satisfação. Algumas vezes isso é dito de forma explícita, noutras de forma velada e sutil. Frases como ” temos a sorte de ter encontrado tal mestre…”. ” Temos a o privilégio de fazer parte de tal grupo”, ” Foi Deus/a Graça que nos escolheu para este trabalho”, “Somos o futuro da humanidade…” E assim por diante , reforçam a síndrome do povo “eleito”.

11. ÊNFASE NA FELICIDADE!

Essa estratégia é uma das mais poderosas e perigosas.  Ela apela para um sentimento universal: a busca pela felicidade.  Ora quem não quer ser feliz? Então o que fazem os líderes e suas organizações? Usam e abusam desta palavra em seus sites, fotos, blogs, discursos, propagandas, folders e campanhas em geral. Não somente isso,  o líder se apresenta sempre sorridente e feliz. E também os colaboradores e adeptos mais próximos. A ideia é passar a imagem de que a felicidade está ali . O pior de tudo é que quando a pessoa entra no grupo, passa a se sentir “out” caso não sinta a mesma coisa. Então sua mente usa um mecanismo de defesa para não se sentir-se mal: passa a produzir uma felicidade mental fajuta e superficial que durará um bom tempo até que- por alguma graça, acidente ou sorte- a pessoa de repente acorde para o fato de estar ela mesma criando um sentimento que no fundo é falso.

12. TUDO É UMA BRINCADEIRA!

Quando os líderes e colaboradores são confrontados  e não têm para onde correr, se saem com essa pérola: “tudo é uma brincadeira! Nada é real! Não estamos aqui. Tudo é uma ilusão!” É o último recurso de quem não tem mais argumentos: desqualificar a realidade óbvia! Ora, se tudo é uma grande “brincadeira” e nada está acontecendo então não tem porque sair da organização, ou desmascarar o charlatão! Vamos comer uma pizza, beber um refrigerante e rir juntos! Esqueça toda essa história de exploração, gurus, organização etc etc. Vamos festejar e celebrar… Uma forma simples de desarmar qualquer sujeito mais esperto, desconfiado e resistente.

Faça você mesmo o teste: se a tal organização, movimento ou grupo que você faz parte tiver pelo menos cinco das dez características apontadas, cuidado: você pode estar sendo vítima de uma lavagem cerebral. É claro que, dependendo do nível de domínio mental a que você foi submetido, você não vai perceber nada e, talvez, até condene e critique este artigo. Possivelmente o líder irá rir e fazer chacota, juntamente com você e alguns dos seus companheiros. Todavia, se um dia você “acordar”, “despertar” para a realidade dos fatos, não vai poder dizer que ninguém o avisou.

Fonte indicada: Alsibar

O amor começa quando a picuinha acaba. Menos falatório e mais beijo na boca!

O amor começa quando a picuinha acaba. Menos falatório e mais beijo na boca!

Acontece. O amigo pode discordar, a amiga há de torcer o nariz. Mas eu tenho cá pra mim que andamos perdendo muito tempo com tanta reclamação. É gente se queixando daqui, fulano resmungando dali, beltrana mandando indireta acolá. Eu mesmo, agorinha, ando a fazer a mesma coisa: reclamando de quem reclama. Mas acontece também.

O fato é que tanto tempo investido em diz-que-me-disse, futrica, pendenga, fofoca, sexo dos anjos, acusações, dedo em riste, pelo em ovo e afins não pode dar em boa coisa, não.

É muita objeção e pouco objetivo, minha gente! Aí, já viu. Nossos pontos de vista gritados a qualquer custo se tornam pontos de desencontro. Só nos afastamos cada vez mais. Não pode!

Todo mundo reivindicando razão, postulando a verdade das coisas, esgoelando, repetindo teses prontas. Cada um agarrado a seu pedaço ilusório de bom senso, feito um osso de boi carcomido, roído por mil cães. Em contendas inúteis, sentamos nos próprios rabos, agarrados a nossos preconceitos de estimação, e nada mais fazemos senão tagarelar à espera da sexta-feira seguinte. Do feriado seguinte. Do réveillon seguinte. Do Ano Novo seguinte. Só para seguir fazendo tudo exatamente do mesmo jeito.

E dá-lhe falação, discurso, pelejas e filosofices com a profundidade das tábuas de bater carne. Enquanto isso, a vida passa.

Ela passa, sim. Passa rápido. Lá pelas tantas a gente se pergunta: “cadê?”. E um vento livre, impetuoso, invade a casa, bate a porta e nos conta num susto: “passou!”.

Eu mesmo, ainda ontem – ontem! – brincava debaixo da mesa da cozinha de cutucar o pé da minha bisavó, enquanto ela escolhia o arroz. Hoje sou pouco mais que um velho bicho sozinho, escolhendo lembranças de uma infância perdida para contar ao meu filho.

Cá o tempo vai passando – o tempo que é o outro nome da vida – e eu vou desconfiando de que viver é o que acontece entre uma reclamação e outra. Se olharmos bem, é muito pouca vida para tanta conjectura!

E até que um anjo nos prove o contrário, a vida é uma vez só. Então vamos de uma vez a ela! Chega de queixa e vamos à vida. Reclamemos menos. Vivamos mais! Menos falatório e mais beijo na boca!

Não. Eu não estou defendendo a alienação. Estou apoiando o beijo na boca. Simples e só assim. Reclame. Você tem o direito. Meta a boca no trombone! Mas não seria mal dedicar um bocadinho de saúde e vigor labial a um bom e velho beijo na boca, às palavras ora doces, ora safadas, ditas no portão da orelha do ser amado, às simples e poderosas declarações de amor e desejo.

É certo que o amigo e a amiga vão me dar razão. Então, se estiver por aí perto aquele ou aquela que caminha ao seu lado, não perca nem mais um segundo: tome a pessoa nos braços e dê-lhe um beijo de novela! Se ela estiver longe, passe a mão no telefone e avise que se prepare, porque você vai abrir a janela e mandar-lhe uma beijoca no vento. Na boca, claro! A vida é só isso e não é só “osso”. É esse o nosso presente. O nosso agora! Beijemos na boca! E o futuro? Ahh… o futuro a Deus pertence! E Ele há de nos beijar também!

Você é maior do que você pensa

Você é maior do que você pensa

Fui uma criança que se achava feia. Uma adolescente que se sentia inadequada. E agora, mais madura, tenho me esforçado para me ver com olhos generosos, que enxergam mais beleza e adequação do que eu poderia atribuir a mim mesma.

É difícil nos assumirmos por completo. E nessa incompletude, damos mais vazão aos defeitos do que às qualidades.

Você não é o cabelo escorrido que fica oleoso antes do fim do dia ou os cachos despenteados que só ganham contornos com uma porção de creme melado. Você é mais que as estrias que fizeram morada em suas coxas, e maior que as dobras que insistem em habitar sua cintura. Você é melhor que as unhas quebradiças e as espinhas na pós adolescência. Você é maior que o pescoço flácido e as rugas desproporcionais que surgiram no último ano. Você não é o pé chato, cheio de calos e joanete, e muito menos a curvatura acentuada na sua coluna.

A beleza tem espaço dentro de nós tanto quanto o desencanto. E mesmo que haja um dia ou outro em que nossos espelhos revelam menos do que gostaríamos, não são eles os donos da verdade do que somos de fato, pois não estão lá quando nos apaixonamos, quando estamos em um momento de oração, quando deixamos as lágrimas virem à tona num momento de pura emoção. Eles não estão lá quando você sorri espontaneamente ou faz um carinho verdadeiro em alguém especial. Não estão lá quando você se entristece, ou fica com raiva por causa de uma injustiça qualquer.

Eu te proponho acariciar-se ao invés de criticar-se. Te proponho olhar-se com os mesmos olhos amorosos da pessoa que te ama e só por um instante deixar de se lamentar para dar espaço para se elogiar. Eu te proponho sair um pouco de seus espaços e imaginar estar vendo a si mesmo de fora. Que você encontre beleza no momento em que está de pijama de algodão e cara limpa, que se admire sob a luz do dia quando o sol fizer brilhar o seu cabelo, e que se alegre ao perceber seu perfil num momento de absoluta concentração. Te proponho olhar-se de uma maneira mais gentil, sendo tolerante com os defeitinhos que imagina ter. Que você tolere o fio de cabelo fora do lugar, a gordurinha na barriga querendo saltar, o ângulo do nariz saliente demais, o vinco em torno dos lábios que não te deixa em paz, os fios brancos surgindo do nada, as marcas de uma vida apaixonada.

Que você se presenteie com amorosidade, permitindo ser visto como os outros te enxergam quando recebem de você o melhor que você pode ser. Que você perceba que merece o mesmo tipo de amor que irradia, e com isso passe a irradiar o melhor que puder.

Eu te proponho ser mais gentil com a alma que habita o seu corpo, elogiando seu olhar, agradando seu paladar, acreditando que é belo e digno de se amar.

Que você experimente o amor que vem de si mesmo, independente do que te disseram ou fizeram acreditar. Que você encontre paz ao reconhecer suas novas marcas, cicatrizes de um tempo que foi vivido, e que se alegre se elas ainda não chegaram. Que você faça as pazes com seu cabelo e não omita sua natureza. Que você cuide de seus dentes, e preste atenção à sua saúde. Que descanse quando houver cansaço e dance quando houver música.

Que você descubra os filmes que lhe falam à alma, as melodias que lhe fazem dançar de olhos fechados, os sabores que lhe fazem suspirar. Que você descubra o que aquece seu coração e, acima de tudo, que você aprenda que, se não está nesse mundo sozinho, grande parte de você atrai as pessoas. Essa parte é sua essência, a porção de amorosidade que deve ser cultivada para que cresça e floresça. E, se posso dar-lhe um conselho, acredite: você é maior do que todas essas coisinhas que lhe fazem tropeçar de vez em quando. Você é maior do que todas elas, e maior do que você pensa…

As crianças que não sabem brincar

As crianças que não sabem brincar

Estamos diante de uma alarmante realidade: as crianças do século XXI, vítimas do acúmulo de tarefas e compromissos diários vivem rotinas dignas de altos executivos, sofrem de transtornos de ansiedade, dormem mal, comem todo tipo de porcaria industrializada, estão viciadas em aparatos tecnológicos, vivem atoladas em bens materiais cujo interesse dura um pouco além do tempo usado para desembrulhá-los e sofrem de solidão. Mas, o mais triste nisso tudo é o terrível efeito colateral da aceleração do crescimento: estamos criando crianças que não sabem, não podem ou não têm tempo de brincar. No que vai dar tudo isso?! É melhor que estejamos preparados para a próxima geração de adultos que, a julgar pelo tanto que tiveram suas reais necessidades negligenciadas, será constituída por pessoas enrijecidas, dispersas, incapazes de se colocar no lugar do outro, absolutamente insatisfeitas consigo mesmas e, por isso mesmo, sem condições de ler o mundo, a ponto de interpretá-lo e construir uma vida plena de interligações com seus semelhantes.

O apelo externo é muito grande. A mídia bombardeia os pequenos e os grandes com sedutoras novas invenções e artefatos que, a julgar pela expressão de plenitude e alegria daqueles que as possuem, são objetos indispensáveis. A propaganda conta com  recursos sofisticados de neurociência, garantindo-lhes um eficiente acesso aos níveis subconscientes de cabecinhas incautas. Ao ver o produto estampado em veículos publicitários, brota no íntimo dos pequenos um desejo quase incontrolável de possuir os maravilhosos objetos contemplados.

Vítimas de um consumismo irrefletido, os adultos mal dão conta de controlar sua relação com o ato de adquirir coisas. Isso posto, fica claro o porquê de esses mesmos adultos sofrerem com uma enorme dificuldade de educar suas crianças de forma a que valorizem mais as relações de afeto e os momentos de convivência, em detrimento da aquisição de coisas e mais coisas para aplacar uma sede que é afetiva, mas foi traduzida em sede de consumo porque é muito mais simples comprar do que conquistar.

A mensagem que fica subentendida no ar das relações sociais é que a sua realização pessoal precisa ser representada por bens de consumo que reflitam uma aura de sucesso e respeitabilidade. Desesperados por aceitação, nós corremos o risco de nos empanturrar de coisas que não precisamos: dezenas de pares de sapato; coleções de bolsas dos mais variados formatos e cores; aparelhos celulares que vão virando lixo eletrônico acumulado nas gavetas; automóveis sofisticados e equipados com alta tecnologia, cuja manutenção pode nos custar dias de trabalho e de sono; aparelhos de TV de última geração capazes de acessar mais de 300 canais com todo tipo de programação pronta para nos entorpecer; notebooks e tablets carísimos, espalhados pela casa; uma profusão de carregadores e fones de ouvido, embaraçados em gavetas; armários abarrotados de roupas que até nos esquecemos de ter comprado; coisas, coisas e mais coisas para dar algum sentido ao fato de que trabalhamos demais e vivemos de menos.

Criadas à sombra dessa configuração, as crianças adquirem naturalmente o gosto por tornarem-se ávidas consumidoras das indispensáveis bugigangas que o mercado de brinquedos e afins produz, seguindo os preceitos de complexas pesquisas de interesse e desejo dos pequenos. A indústria do consumismo brilha na competência de atender os mais estranhos desejos que as crianças possam ter: balas com sabor de vômito, cocô de cachorro ou caca de nariz; armas idênticas às reais e que (pasmem!) atiram de verdade; jogos de videogame que premiam quem conseguir atropelar mais velhinhas; bonecas de compleições físicas anoréxicas e mais toda sorte de lixo consumível a preços nada módicos.

O resultado da voracidade por consumir mais e mais são crianças soterradas em brinquedos e objetos cujo interesse é substituído pela próxima coisa vislumbrada e imediatamente desejada. A consequência mais perturbadora dessa compulsão é o surgimento de uma espécie de pequeno triturador de objetos consumíveis. Mas, a responsabilidade não pode ser atribuída aos pequenos; eles não passam de vítimas de um comportamento adotado e idolatrado pelos adultos. Quem sabe já não esteja na hora de sairmos da rodinha viciante de adquirir maravilhas da modernidade sem moderação. Quem sabe não esteja na hora de recuperarmos a consciência perdida nas sacolas de compras e descobrirmos dentro de nós pessoas que podem ser felizes sem a obrigação de vestir o uniforme da “pessoa bem-sucedida”? Quem sabe já não estejamos prontos para reverter a ordem das coisas e agir na recuperação desses pequenos consumistas vorazes. Quem sabe na próxima oportunidade, nosso presente não venha embrulhado numa caixa cara a ser parcelada na fatura do cartão de crédito; mas seja algo capaz de fazer brilharem os olhos e criar memórias afetivas que não podem ser compradas nem reproduzidas em objetos de consumo. Em vez de coisas, procuremos oferecer nosso tempo, nossa disponibilidade em conviver.

O presente? Sejamos ousados a ponto de recriar experiências perdidas no tempo. O presente pode ser algo maravilhoso, impossível de ser embrulhado: um pic-nic no parque; um banho de esguicho; uma cabana de lençol feita na mesa da sala; uma noite de acampamento no quintal; uma casinha feita de caixa de papelão; um almoço feito em conjunto; uma sessão de contação de histórias no escuro, cada um com uma lanterna; um tempo vivido junto, com afeto, presença e disponibilidade afetiva. Esse tipo de presente tem a propriedade mágica de não poder ser guardado em caixas e de desencaixotar de dentro de nós a inata capacidade de desejar o amor em sua forma original: livre e imaterial!

Visitar a infância é ver a dor de ser gente ali, no seu nascedouro

Visitar a infância é ver a dor de ser gente ali, no seu nascedouro

Visitar o passado é tarefa preocupante. Nunca se sabe o que a alma trará daqueles porões, ao regressar. Mas vale correr o risco: abrir a porta da infância é um bem necessário. Contemplar os olhos da criança que fomos, reviver os seus anseios, os seus sonhos, a inquietação, a nostalgia… Ver a dor de ser gente ali, em seu nascedouro, quando, em pequeninos detalhes, você se percebe humano.

Eu ainda não tinha oito anos. O quintal da minha casa, visto com os meus olhos de então, era imenso. Mangueiras, goiabeiras e diversos outros frutos habitavam aquele meu reduto de sonho e de traquinagem. A goiabeira era o meu destino predileto. Do solo ao topo, a estonteante altura de um metro e meio que eu, a custo, escalava pela metade. Certo dia, ao descer, esbarrei, com o pé direito, em uma borboleta pousada no tronco.

A borboleta ficou inerte e o meu coração parou. Eu acabara de destruir, por descuido, uma beleza que me aprisionava os olhos. O tronco da goiabeira, verde-escuro, contrastava com o seu brancor e denunciava a asinha quebrada. Eu, arrependida do existir, sentia-me a precursora de algum apocalipse. Encostei o indicador na asa fraturada: “Como faço para ouvir o coração da borboleta?”, pensei.
“Será que ela está respirando, Deus do céu”…

Eu me sentei ao pé da goiabeira e o universo inteiro sentou-se ao meu lado. Sóis, planetas, caramujos, galáxias… Todos ali, olhando para mim, uma criança ajoelhada a tentar redimir-se do caos que causara. Eu queria chorar, mas o mais urgente era compreender a dor de residir em um mundo em que a inocência causa feridas a si mesma, em que a beleza é efêmera, em que a dor por vezes é tão intensa que nenhuma lágrima lhe pode dar voz.

Hoje, décadas depois, sou a mesma criança ao pé da goiabeira a contemplar o caos. A humanidade inteira é essa criança. Destruímos a beleza por descuido: por negligenciar o trajeto dos pés, por descurar dos detalhes, por, hávidos do alcance de patamares mais altos, olvidarmos o contemplar do caminho e desprezarmos os companheiros de jornada.

Segurei a borboleta pela outra asa e a coloquei na palma da mão esquerda. Vi, caída no chão, uma colherzinha plástica que eu usava para cavoucar a terra e a coloquei sobre essa colher, em solene observação.

Minutos depois, corro para casa:
“Mãe, a borboleta. Eu pisei a borboleta e ela estava morta. Morta. Mortinha. Ela não tinha nem respiração. Mas eu coloquei a borboleta na colher e fiz a oração de reviver borboleta e ela saiu voando de novo, mãe, e voou até o lado de lá do muro. É um milagre, mãe! Não é milagre? Uma borboleta reviver assim?”

A minha mãe me pegou pela mão e fomos ver o lugar e as circunstâncias do referido milagre. Incrédula, como de regra toda mãe o é.

“Filha, a borboleta está aqui na colherinha. Você se enganou.”

Percebi que a minha mãe recriminava-me por minha inverdade. Pensei: “Será que explico ou não explico?”, e tive pena. Ela talvez já pudesse entender.

“Não, mãe. Eu não me enganei. O milagre é a borboleta viver sem o corpo da asinha que quebrei.”

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