7 sinais de um indivíduo saudável em uma sociedade enferma- Victor Lisboa

7 sinais de um indivíduo saudável em uma sociedade enferma- Victor Lisboa

Por VICTOR LISBOA contioutra.com - 7 sinais de um indivíduo saudável em uma sociedade enferma- Victor Lisboa

Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente, disse o filósofo e educador indiano Jiddu Krishnamurti. E para pensadores do calibre de Guy Debord, Sam Harris, Adam Curtis, Zygmunt Bauman, Joel Birman, Gilles Lipovetsky e David Foster Wallaceestamos, de fato, em uma sociedade adoecida.

Mas se esses pensadores apresentam os sintomas de nossa enfermidade coletiva, há alguma forma de iniciarmos o processo de cura?

A verdade é que muitas pessoas atribuem as causas dessa doença a essa ou aquela característica estrutural de nossa sociedade: ora é a tecnologia, ora é o capitalismo, ora é a publicidade. Mas a experiência histórica demonstra que sempre que tentamos alterar as grandes estruturas sociais, além de muita violência e sofrimento, o que obtemos são novas e diferentes estruturas sociais que produzem o mesmo nível de adoecimento de toda a sociedade.

Talvez essa abordagem seja o equivalente a culpar a garganta pela irritação que sentimos nela quando ficamos gripados, ou afirmar que a causa da enxaqueca seja a existência da cabeça. A origem da enfermidade, na verdade, é sempre outra, e de natureza microscópica: assim como no caso da gripe a origem esteja em um vírus, a causa da enfermidade social talvez resida na forma como cada ser humano está vivendo sua vida individualmente.

Haveria, portanto, comportamentos virais na conduta humana que criam o adoecimento da sociedade? E, nesse caso, podemos nos transformar, de hospedeiros desse vírus, em anticorpos defensores dessa mesma sociedade, sem a necessidade de alterar as suas estruturas? Nesse caso, a nossa saúde comportamental teria o poder de induzir a saúde de toda a comunidade.

Sete grandes intelectos apresentaram sete características de um ser humano equilibrado e saudável. E talvez desenvolver em nós essas sete características seja o início do processo de cura coletiva.

1. TER AUTOCONSCIÊNCIA (DAVID FOSTER WALLACE)

David Foster Wallace proferiu em 2005 um discurso para uma turma que colava grau no Kenyon College. Esse discurso, que passou a ser conhecido pelo título “Isso é Água”, tornou-se talvez a obra mais popular e divulgada de Wallace nas redes sociais. E a essência de sua mensagem trata da importância de aprendermos a pensar.

“Pensar”, algo que consideramos uma atividade automática e natural, para Wallace é um processo a ser aprendido e praticado com consciência e treino, principalmente durante as atividades cotidianas. Pensar seria, na verdade, uma prática na qual podemos ser bem sucedidos ou falhar vergonhosamente, e desse resultado dependeria nossa realização pessoal.

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DAVID FOSTER WALLACE

A maior parte das pessoas deixa seu fluxo de pensamento conduzir-se aleatoriamente, à medida em que associações e lembranças lhe ocorrem. Numa sociedade que nos empurra para o automatismo e a pressa, em que ficamos presos em engarrafamentos e longas filas de supermercado, pensar dessa forma nos torna vítimas fáceis da manipulação e do controle externo. A “bovinização” humana é consequência de nossa inaptidão para pensar de um modo mais consciente e atento.

Mas pensar não se confunde com capacidade intelectual. Como Wallace deixa claro em seu discurso, indivíduos de invejável formação acadêmica podem ser completamente incompetentes nessa atividade, pois ela não implica apenas no raciocínio abstrato e teórico: pensar implica em analisar continuamente os pressupostos pessoais e emocionais sobre os quais estruturamos a nossa vida, a ponto de conseguirmos enxergar coisas tão óbvias que não as percebemos – tal como os peixes não percebem a água em que estão submersos.

Quando Wallace ressalta a importância de aprendermos a pensar, ele está falando daautoconsciência, daquela capacidade de pensarmos sobre nossos pensamentos, de questionarmos os pressupostos de nossas escolhas e de nossos sentimentos em relação ao mundo, adotando uma perspectiva situada além do protagonismo, da visão segundo a qual nós somos o centro dos eventos que nos ocorrem.

2. PRATICAR O AMOR COMO FORMA DE ARTE (ERICH FROMM)

O filósofo e psicanalista Erich Fromm publicou em 1956 sua obra A Arte de Amar. Segundo propõe nesse ensaio, o amor não seria um sentimento que vivenciamos com passivo arrebatamento: o amor seria, antes de tudo, uma prática a ser exercida com plena consciência. Mais ainda, é uma prática que precisa ser aprendida até o ponto em que nos tornemos artistas em sua expressão e desenvolvimento.

Fromm equiparava o amor, assim, a uma forma de arte, seja o amor entre um casal, o amor entre familiares, o amor entre os amigos e o amor pelo próximo. E como aprendemos uma habilidade artística? “O processo de aprendizado de uma arte pode ser dividido em duas partes: em primeiro lugar, o domínio da sua teoria; em segundo, o domínio da sua prática.” Mas Fromm ainda inclui um terceiro elemento: ao lado da teoria e da prática, a maestria em qualquer arte deve ser, para o artista, uma questão prioritária em sua vida.

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ERICH FROMM

Vivemos em uma cultura que hipervaloriza o amor romântico de forma idealizada e às vezes irreal, algo característico de indivíduos infantilizados. Porém, Fromm entendia que a real satisfação no amor romântico não pode ser atingida sem a capacidade de amarmos também a todas as outras pessoas ao nosso redor. Mais ainda, o verdadeiro amor exige humildade genuína, fé na natureza humana e disciplina emocional. E “numa cultura em que essas qualidades são raras, alcançar a capacidade de amar continua algo também raro”.

A construção de uma sociedade mais saudável depende, portanto, de que aprendamos não só a pensar, como propôs Wallace, mas também a amar, e como se fosse uma forma de arte.

3. SER SENHOR DO PRÓPRIO DESTINO (JEAN-PAUL SARTRE)

Em 1946, Jean-Paul Satre publicou O Existencialismo é um Humanismo. Resultado de uma conferência que o filósofo deu no ano anterior em Paris, a obra resume a essência de sua concepção sobre a condição humana.

Para Sartre, o que nos diferencia dos outros seres é a natureza da nossa consciência, pois ao nascermos ela não está orientada para nada – os nossos objetivos na vida, o que iremos ser e fazer não estão predeterminados; são, ao contrário, coisas que apenas posteriormente tomarão forma, à medida em que recebemos impressões do mundo externo. Este é o sentido de sua frase “a existência precede a essência”: nós nascemos antes de nos definirmos enquanto seres humanos, pois a “natureza humana” e o “destino humano” não estão preestabelecidos pela natureza – são, antes de tudo, coisas que precisamos construir a partir de nossas ações e escolhas ao longo de nossas vidas.

Daí a importância de um homem comandar o seu destino. “O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo”, afirma Sartre. O ser humano totalmente submetido à sociedade doente acredita que destino é algo que lhe acontece. Mas, na verdade, destino é algo que o ser humano constrói, e construindo esse destino é que o indivíduo cria a si mesmo, definindo sua própria natureza.

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JEAN-PAUL SARTRE

Com essa proposta, Sartre pretende afastar a ideia popular de que a sua filosofia é pessimista. Na verdade, ela é otimista e impulsiona o homem à ação. “O covarde se faz covarde”, enquanto “o herói se faz herói”, sendo que “existe sempre, para o covarde, uma possibilidade de não ser mais covarde”.

Porém, Sartre reconhece que a noção de que somos livres para construir nosso destino é tão desafiadora que muitos a consideram um fardo, um peso do qual buscam se livrar de todas as formas possíveis. E com isso abrimos as defesas imunológicas da sociedade ao ataque de agentes nocivos.

Toda vez que alguém deposita sua fé em uma doutrina espiritual segundo a qual forças insondáveis determinam o destino humano; toda vez que um indivíduo decide levar a vida “no piloto automático”, seguindo as regras sociais sobre o que ser e fazer sem questioná-las; toda vez em que alguém abdica de sua própria liberdade pessoal para tornar-se militante a serviço de uma ideologia ou líder político: em todas essas situações estamos comodamente abdicando de uma importante parcela de nossa autonomia, como uma espécie de preço que pagamos para viver sem a pressão da responsabilidade sobre nosso destino.

A maioria dos seres humanos ingressa na vida adulta e decide seguir o passo-a-passo tradicional que socialmente foi convencionado como certo e normal: universidade, trabalho, casamento, filhos, casa própria, aposentadoria e morte. Isso não é certo nem errado, o problema é fazer isso sem reflexão, somente por pressão social. Isso nos torna vítimas perfeitas dos aspectos mais adoecidos de nossa sociedade, como o hiperconsumismo. Num mundo enfermo, um indivíduo começa seu caminho em direção à cura quando reconhece que o seu destino é sua responsabilidade, e que precisa construir um projeto pessoal a respeito do que fará e de quem será na vida.

4. BUSCAR POR UM SENTIDO EXISTENCIAL (VIKTOR FRANKL)

Viktor Frankl acrescentou um outro elemento nessa dinâmica do princípio do prazer e do princípio da realidade, de modo que podemos encarar sua proposta como um complemento, e não uma negação do que expôs Freud. Para Frankl, a vontade de agir e viver com um sentido é mais forte nos seres humanos que a vontade de obter prazer.

Isso explicaria, por exemplo, porque mártires aceitariam tormentos físicos e até mesmo a própria morte por se recusarem a abdicar de suas convicções políticas ou religiosas: antes de tudo, o ser humano busca não a satisfação de seus desejos, mas a devoção a uma vida com plenitude de sentido. E se essa plenitude de sentido tiver de ser confirmada ao preço dessa própria vida, em casos extremos tal sacrifício é aceito.

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VIKTOR FRANKL

Dessa forma, a crise humana atual seria uma crise de vazio existencial. Inseridos em uma sociedade que não nos propõe um sentido e sequer valoriza a busca por um significado nas experiências humanas, substituímos neuroticamente essa aspiração fundamental pelo consumo irrefreado e pela espetacularização de nossas vidas.

É como estarmos em um palco no qual utilizamos recursos cênicos, iluminação colorida e efeitos especiais para disfarçarmos a total falta de um enredo.

Para Viktor Frankl, a vida de cada ser humano é uma jornada espiritual em busca da resposta à grande questão sobre o sentido dessa própria vida. Mas tal resposta não está pronta, esperando que a descubramos: ela precisa ser construída, e sua formulação não é feita por meio de explicações teóricas, mas por meio de atos concretos. Assim, o caminho para uma sociedade saudável dependeria de reconhecermos a importância de concebermos e implementarmos coletivamente um sentido para a existência humana.

5. LIDAR COM O PRINCÍPIO DO PRAZER COM MATURIDADE (FREUD)

Embora esteja em voga atualmente criticar as teorias de Freud, a verdade é que rejeitar integralmente suas ideias é tão tolo quanto abraçá-las como os dogmas de uma nova religião. Freud trouxe importantes contribuições para o atual entendimento da condição humana, embora tenha cometido, como qualquer um, seus equívocos (alguns dos quais posteriormente corrigidos pelos próprios teóricos da psicanálise).

E uma das principais de suas contribuições é a noção de que o ego humano está em constante relação com dois princípios fundamentais: o Princípio do Prazer e o Princípio da Realidade. O princípio do prazer consiste num mecanismo psíquico simples que faz o ego buscar o prazer de todas as formas e evitar o desconforto e a dor com todas as forças. Isso ocorre como um movimento que ignora as dificuldades e exigências do mundo real.

O princípio da realidade, por outro lado, também está relacionado com a busca de prazer pelo ego, mas em uma condição na qual as dificuldades e exigências da realidade são reconhecidas e aceitas, de modo que buscamos realizar o prazer e evitar a dor em uma constante relação com o mundo real e suas possibilidades efetivas.

De uma forma bem simplificada, imagine o princípio do prazer como uma criança mimada ao extremo, que “quer porque quer aquilo que quer”, e que não tem a mínima capacidade de aceitar ou sequer compreender as limitações do mundo real. Já o princípio da realidade é um indivíduo adulto e maduro o suficiente para entender que a realização de seus desejos demanda a constante tratativa com as exigências da realidade. São duas faces do nosso ego.

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FREUD

O ponto fundamental é que não há uma transição do princípio do prazer para o princípio da realidade. Ou seja, segundo Freud, o princípio da realidade (o indivíduo adulto e maduro), não substitui o princípio do prazer (a criança mimada e egoísta). Internamente, ambos coexistem, e sempre teremos um aspecto de nosso ego que busca o prazer de todas as formas, ignorando completamente as limitações da realidade. A questão é saber reconhecer essa característica de nossa mente e aprendermos a lidar de forma adequada com essa tendência humana.

Na sociedade atual, porém, temos adultos e jovens oriundos de famílias que não souberam impor os limites adequados, expondo gradualmente as crianças às demandas da realidade. Ao contrário, cada vez mais os pais adotam uma postura quase servil em relação a filhos mimados e despreparados para encarar o mundo real.

Assim, homens e mulheres crescem com a ilusão de onipotência e com a falsa impressão de que são especiais. Escravos da miragem de que seus desejos e sonhos serão satisfeitos sem esforço, quando isso não ocorre surge a tentação da desobediência da lei e da conduta antiética.

Como o princípio do prazer não encontra a contraposição eficiente do princípio da realidade, o resultado é uma sociedade composta por indivíduos egoístas, incapazes de lidarem com frustrações diárias e desprovidos da determinação necessária para a concretização possível de seus sonhos. O caminho para uma sociedade mais saudável passa pelo desenvolvimento de uma relação mais madura com o princípio do prazer que está dentro de todos nós, contrabalançando-o com o princípio da realidade, de forma que desenvolvamos a capacidade de tolerar frustrações e de resistirmos à satisfação imediata de nossos desejos mediante atos impulsivos e antiéticos.

6. SABER VIVER E AGIR NA PERMANENTE INCERTEZA (BERTRAND RUSSELL)

Reconhecer que precisamos aprender a amar e a pensar corretamente, bem como admitir que nosso destino e o sentido de nossas vidas não estão predeterminados, mas precisam ser diligentemente construídos por meio de nossos atos, exige um tipo muito particular de humildade: a capacidade de vivermos permanentemente na incerteza, com poucas convicções.

O filósofo, matemático e historiador britânico Bertrand Russell, em sua obraUnpopular Essays (Ensaios Impopulares), considerou a habilidade de conviver saudavelmente com a incerteza uma das maiores virtudes do ser humano. Essa aptidão seria o que impede um indivíduo de se tornar joguete nas mãos de crenças religiosas, ideologias políticas ou líderes messiânicos que nos prometem uma explicação totalizante para as maiores questões da complexa vida contemporânea.

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BERTRAND RUSSELL

“Ansiar pela certeza é algo inato na natureza humana, mas ainda assim é um grande vício intelectual”, escreveu Russell. O fundamentalismo (não só religioso, mas também político, em todas as suas facetas) tem por base uma certeza dogmática e inabalável, que retoricamente ou emocionalmente seduz os seus devotos.

Mas a incerteza não deve paralisar a ação, pois Bertrand Russell nos previne do perigo de os mais inteligentes abrirem espaço na vida pública a idiotas cheios de certezas equivocadas. “Agir com vigor, mesmo na falta de absoluta certeza”, mas mantendo um elemento de saudável dúvida, ainda que pequeno, em relação a cada assunto, é uma forma de evitar a um só tempo o radicalismo, o fundamentalismo, a alienação e o preconceito.

7. TER O ESPÍRITO LIVRE E CRIATIVO DE UMA CRIANÇA (NIETZSCHE)

Para Nietzsche, filósofo alemão que antecipou muitas das questões que desafiam o ser humano na atualidade, conduzir o próprio destino com irresponsabilidade é abdicar da própria autonomia e ceder a algo ou a alguém uma parcela importante de nosso poder pessoal.

É que num mundo regido por relações de poder, deixar que convenções sociais ou forças políticas/religiosas decidam o nosso destino implica em abraçar uma espécie disfarçada e envergonhada de escravidão. Quando não assumimos a integral responsabilidade pelas escolhas que precisamos fazer, alguém as fará por nós, e sem dúvida o critério utilizado não será o nosso benefício.

Nietzsche, que na vida pessoal experimentou os sofrimentos de longos períodos de enfermidade, tinha um especial apreço pela metáfora do ser humano integralmente saudável. Estamos espiritualmente adoecidos ao vivermos em uma sociedade enferma, e o espírito livre desse estado de adoecimento inicia seu processo de recuperação da saúde seguindo uma terapia que Nietzche apresentou na sua obraAssim Falou Zaratustra em três etapas, que chamou de As Três Transformações.

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NIETZSCHE

Na primeira, ainda enfermo, o ser humano é como um camelo, um escravo que aceita todas as cargas impostas a si sem questionar. Na segunda fase, a do leão, o indivíduo passa a destruir seu condicionamentos limitadores de forma veemente, resgatando o controle de sua vida das mãos daquelas pessoas, doutrinas ou ideologias para as quais anteriormente havia entregado o poder sobre si mesmo. Nesse momento, a pessoa diz “não” à sua prisão. Por fim, na fase mais importante, o ser humano livre e autônomo começa a reconstruir-se com a ludicidade e a criatividade de uma criança. Nessa etapa, o indivíduo diz “sim” à sua vida.

Nesse roteiro em três partes, podemos perceber com clareza o papel da ironia. Ela exerce um trabalho destruidor e depurador de antigos condicionamentos sociais e crenças tradicionais. Assim, a ironia integra o “rugido do leão” que nos liberta da sujeição a uma visão do mundo obsoleta e supersticiosa. Mas, após essa etapa, a ironia pode deixar de ser parte do remédio para converter-se em veneno. O espírito irônico é corroído pela desconfiança e pela amargura, sendo incapaz de acreditar até mesmo em si mesmo e nas mais nobres aspirações humanas. Por isso, Nietzsche exortava: “não jogue fora o herói que há em sua alma, mantém sagrada a sua mais alta esperança!”

Essa é a razão de a metáfora da criança ser central na proposta terapêutica de Nietzche. Se o ser humano precisa aprender a conduzir seus pensamentos da melhor forma, como propõe Wallace, e se a natureza e o destino de um indivíduo são coisas que ele precisa construir a partir de seus atos e escolhas, como afirma Sartre, a atividade humana é, portanto, essencialmente criadora. E esse processo criação deve ser realizado com o mesmo prazer lúdico que uma criança tem ao brincar, com a mesma esperança e aspiração ao heroísmo que uma criança tem ao olhar seu futuro.

Sobre o autor:

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Victor Lisboa é editor de Ano Zero, colunista do Papo de Homem e autor do blog Minha Distopia. Escreve não por achar que tem vocação ou talento, e muito menos com a pretensão de dizer algo importante. O problema é de outra ordem. É descaramento, é o prazer de se deixar levar por uma compulsão. Isso porque, de todas as perversões toleradas em sociedade, a mais inofensiva é escrever. Deixem que abuse, portanto.

O procurador e a verdadeira existência

O procurador e a verdadeira existência

Esta é a história de uma pessoa que poderíamos definir como procuradora. Tendo-se em conta que um procurador é alguém que faz uma busca e sua intenção é descobrir “algo”, não há por que tratar-se necessariamente daquele que apenas “encontra”.

Também não se trata de uma pessoa que sabe ou é consciente do que está procurando. Falamos simplesmente daqueles para os quais sua vida é uma linda procura.

A história começa quando, em um dia qualquer, um procurador sentiu vontade de ir até a cidade de Kammir. Ele havia aprendido a tratar de forma mais rigorosa estas sensações que vinham de um lugar desconhecido de si mesmo, então decidiu deixar tudo e partir.

Após dois dias de caminhada por caminhos empoeirados, vislumbrou Kammir de longe. Um pouco antes de chegar ao povoado, uma colina à direita do caminho o chamou a atenção. Estava encoberta por um verde maravilhoso e havia muitas árvores, pássaros e flores encantadoras.

Uma espécie de vala pequena de madeira lustrada a rodeava por completo… uma portinha de bronze o convidava a entrar. De imediato, sentiu que esquecia o povo e sucumbiu diante da tentação de descansar por um momento neste lugar.

O procurador atravessou o portal e começou a caminhar lentamente entre as pedras brancas que estavam distribuídas aleatoriamente entre as árvores. Deixou que seus olhos fossem os de um procurador; talvez por isso descobriu, sobre uma das pedras, aquela mensagem: “Abedul Tare viveu 8 anos, 6 meses, 2 semanas e 3 dias”.

Comoveu-se ao dar-se conta de que essa pedra não era simplesmente uma pedra. Era uma lápide, sentiu aflição ao pensar que uma criança de tão pouca idade estava enterrada neste lugar…

Olhando ao seu redor, o homem deu-se conta de que a pedra ao lado também tinha um registro, aproximou-se dela e constatou que dizia “Llamar Kalib viveu 5 anos, 8 meses e 3 semanas”.

O procurador sentiu-se terrivelmente comovido. Este lindo lugar era um cemitério e, cada pedra, uma lápide. Todas tinham inscrições semelhantes: um nome e o tempo de vida exato do morto.

Mas o que o deixou mais espantado foi comprovar que, o que mais tempo havia vivido, apenas havia chegado aos 11 anos de idade. Acometido por uma dor terrível, sentou-se e começou a chorar.

O zelador do cemitério passava por perto e se aproximou. Olhou o procurador chorar por um tempo em silêncio e, em seguida, perguntou se chorava por algum familiar.

– Não, nenhum familiar – disse o procurador – O que acontece com este povo? Que coisa tão horrível acontece nesta cidade? Por que tantas crianças morrem e são enterradas neste lugar? Qual é a terrível maldição que paira sobre estas pessoas, que os obrigou a construir um cemitério de crianças?

O ancião sorriu e disse:

– Você pode se acalmar, não há nenhuma maldição. O que acontece é que aqui temos um velho costume. Contarei-lhe: quando um jovem cumpre 15 anos, seus pais o presenteiam com um caderno, como este que tenho pendurado em meu pescoço.

É tradição entre nós que, a partir de então, cada vez que alguém desfruta imensamente de algo, abra o caderno e anote nele: à esquerda, o que foi aproveitado, e à direita, quanto tempo durou este deleite.

Conheceu a sua namorada e apaixonou-se por ela? Quanto tempo durou esta paixão enorme e o prazer de conhecê-la? E a emoção do primeiro beijo, quanto durou? E a gravidez ou o nascimento do primeiro filho? E a viagem mais desejada? E o encontro com o irmão que volta de um país distante? Quanto durou o deleite destas situações? Horas? Dias?

Assim, vamos anotando no caderno cada momento. Quando alguém morre, é nosso costume abrir seu caderno e somar o tempo aproveitado para colocá-lo em seu túmulo. Porque este é, para nós, o único e verdadeiro tempo vivido.

Fonte indicada: A mente é maravilhosa

Dr. Drauzio Varella lê comentários maldosos no YouTube e o resultado é sensacional

Dr. Drauzio Varella lê comentários maldosos no YouTube e o resultado é sensacional

O Dr. Drauzio Varella publicou um vídeo especial nesta segunda-feira, 23, para comemorar os 50 mil inscritos em seu canal no YouTube. E esse registro é provavelmente a coisa mais divertida da internet brasileira nesta semana.

Nele, o médico mais famoso do Brasil lê a caixa de comentários de seus vídeos. Entre elogios e declarações desconexas, Drauzio é chamado de “velho lixo”, “defensor de vagabundo”, “fdp” e até “doutor canalha”. A reação dele? Bom-humor e muitas gargalhadas.

Confira abaixo:

Fonte indicada: Catraca Livre

Catarina, o amor não enxerga gênero

Catarina, o amor não enxerga gênero

Fui buscar Catarina na delegacia de novo. Pela segunda vez, neste mês. Ela não consegue ir a uma festa e não se meter em confusão. E eu já estou cansada de tirá-la dessas burradas. Catarina é minha melhor amiga, desde que eu aprendi a reconhecer o que é uma amizade. A diferença é que, naquela época, a Catarina se chamava Felipe. Ninguém entendia muito bem o que se passava na cabeça dela, muito menos eu. Eu falava que Felipe era meu namoradinho, mas ele não gostava de mim. As tias da escola falavam que os meninos eram assim mesmo, que se afastavam das meninas e gostavam de implicar com elas, quando estavam gostando. A diferença é que a Catarina nunca me esnobou como quem sente uma atração e não sabe como reagir. Enquanto era Felipe, sempre foi muito próximo de mim, mas não demonstrava nenhuma atração. Quando eu era menor, eu sabia exatamente o efeito que o sexo oposto causava em mim. Queria ficar perto, mas ao mesmo tempo longe. Eu era só uma amiga e ele sempre me dava língua quando eu falava que ele era meu namorado.

Ficamos melhores amigos e o Felipe tinha mania de pegar minhas coisas. Meus colares, meus sapatos e meus lápis de pompom. Eu achava graça em tudo isso, mas o resto da sala caía em cima com aquele bullying moral que todo mundo já sabe de cor. Eu não sei onde a gente aprende a julgar os outros desde tão novos. Será que são nossos pais, a mídia, os desenhos? De onde vem essa irracionalidade cultural? Alguma coisa acontecia na vida do Felipe, mas eu não conseguia perceber. Ele brincava de boneca comigo, não tinha amigos meninos e sempre dava um jeito de colocar saia.  Por sorte, minha mãe nunca me pediu pra eu me afastar do Felipe, mas tentou me explicar ,de alguma forma, que ele era diferente, que ele tinha alma de menina, mas eu achava que era só uma metáfora bem feita, por ele entender tanto esse universo feminino, que era o meu. Felipe saiu da escola por causa das piadas maldosas e só voltamos a nos ver na faculdade. Mas não era mais o Felipe. Ele tinha se transformado numa mulher maravilhosa, chamada Catarina.

Nossa aproximação foi como de dois amantes que são separados pela guerra e não querem se desgrudar nunca mais. No caso, não éramos amantes, mas confidentes inconsoláveis. Ninguém me entendia como a Catarina e ela dizia que ninguém a tratava com tanta naturalidade como eu.  Eu tinha minhas amigas da época, mas, depois que Catarina reapareceu, minha vida realmente voltou para os trilhos. Eu até sentia uma pontinha de inveja, porque ela era bem mais bonita do que eu. Eu nunca soube entender muito bem esse sentimento. Não sei até que ponto era uma admiração absurda.

Percebi que ela tinha uma visão diferente do mundo, fora daquela fla x flu ou preto no branco. Estudou tanto sobre gênero, que passou a dar palestras em algumas universidades, tinha artigos publicados em revistas. Mas ela gostava de ficar no anonimato. Odiava esse fuzuê todo que as pessoas faziam em relação a ela. O assunto precisava ser discutido por inúmeros motivos, mas não tratado como uma anomalia ou algo extraordinário. Catarina teve sorte. Seus pais eram separados e ela viveu a vida toda com a mãe que, depois de sair de um relacionamento abusivo com o pai, abriu-se para a vida e se livrou de todos os preconceitos dos outros e dela mesma. Quando percebeu que seu filho, na verdade, era filha, tratou logo de entender tudo sobre o assunto. Talvez essa força toda de Catarina venha do apoio da mãe.

Mas essa confiança toda tinha efeito rebote quando Catarina se apaixonava. E ela se apaixonava muito. Em todos os lugares a que a gente ia, todos os caras davam em cima dela. E, quando descobriam que ela é transgênero, eu tinha que dar um jeito de tirá-la do lugar antes que nós duas saíssemos mortas. É claro que os boatos se espalhavam e nós éramos namoradas, ETs, eu era transgênero, travesti, a porra toda, já que a maioria das pessoas não sabe diferenciar muito bem uma coisa da outra. Eu mesma não entendo muita sobre essas diferenciações e nomenclaturas, mas a Catarina sempre diz que é importante saber. Para mim, todo mundo é gente. As nomenclaturas são só uma forma de a gente querer enquadrar os sentimentos que não se permite sentir. Uma forma de nos sentirmos únicos e, mesmo assim, parte de um grupo. Somos todos a mesma bosta moldada pela nossa cultura competitiva e tediosa.

Catarina sempre foi mestre em se meter em confusão. Pegava os caras e, quando eles descobriam, era porradaria na certa. Sendo que a Catarina, por mais que nenhum cara acreditasse, é uma mulher. E a Lei Maria da Penha também se aplica a ela. Mas eles não querem nem saber. Metem a porrada mesmo. Ela tem uma cicatriz no rosto por causa de uma dessas confusões. Eu não estava nesse dia, mas fui levá-la para o hospital e, depois, à delegacia. Lugar que a gente já conhecia bem. Falava para ela avisar antes, que tinham caras bacanas que iam gostar dela pelo que ela era, mas sempre me respondia que essa era ela e que ela não precisava ficar contando do passado para alguém gostar de quem ela é hoje. Calava-me, mas não conseguia entender.

Aos poucos, fui nutrindo um sentimento de raiva. Por ela e por todo mundo que não entende ou não quer entender. Não faz o mínimo esforço e nunca se perguntou por que se consideram homem ou mulher. O que o faz se sentir homem? O que a faz se sentir mulher? Quando você decidiu isso? Você realmente decidiu ou parou de negar o que realmente sente? Pois bem. Você não decide ser o que é. Você é o que é. E falam que temos que ser nós mesmos, mas qual é o custo que se paga por ser quem realmente somos?

Afastei-me dela por um tempo, para entender essa confusão toda que se passava em mim. Fui injusta e infantil por não ter percebido que essa raiva tinha outro sentimento. Esse sentimento de admiração pela força e coragem que a Catarina sempre teve e eu não tive. Eu era fraca demais para entender que esse preconceito vinha de mim, da minha completa incapacidade de me enxergar. Catarina é e sempre vai ser o amor da minha vida. O amor que eu sentia pelo Felipe, quando eu falava que a gente era namoradinho na escola, não passou. Eu sempre fui apaixonada pela Catarina, mas sabia que esse sentimento não poderia ser mútuo. A Catariana gostava de meninos, assim como eu sempre gostei. Considerava -me hétero, porque nunca sentira atração por mulher alguma, mas a Catarina era além de homem ou mulher. Catarina era uma pessoa incrível, que me fazia questionar tudo, menos eu mesma. Sempre tive medo de olhar para ela desse jeito, porque eu mesma não aceitava. Claro que um pouco pelo medo da rejeição dela, mas, principalmente, da minha rejeição, de como eu me olharia sabendo que fui, a vida toda, perdidamente apaixonada por uma mulher. Uma transgênero. Eu, que me achava super cabeça aberta e não entendia a rejeição dos outros.

Catarina sempre soube disso, mas não queria insistir. Ela não sentia o mesmo por mim e sabia que eu nunca aceitaria, se ela me falasse. E eu fiquei tão confusa e não entendi nada, porque até nisso a gente se limita. Ou você é gay ou não é. Ou você se considera mulher ou não. Mas existem tantas, mas tantas formas de amar e ser você, sem precisar se enquadrar em nenhum desses estereótipos. Ser hétero também é um estereótipo. Você sabe que é, do fundo do seu coração, então não se permite enxergar além. Não existe nada disso. Dá para ser mulher a vida inteira e decidir que, a partir de hoje, quer ser homem porque você se sente homem, e tudo bem. Dá para ser gay a vida inteira, mas se apaixonar por uma mulher porque somos pessoas e atração e sentimento não enxergam gênero. Nós somos o que somos hoje e não tem regra. De onde tiraram isso de que você tem que se definir e pronto, acabou? O que é mais bonito no ser humano é que ele muda constantemente e nossas vontades se misturam. E todo mundo é assim, mas nossa cultura não permite sair da linha nunca. E meu amor pela Catarina foi construído por tudo que ela lutou e luta até hoje. Porque ela já tinha me falado tudo isso, porque ela já experimentou sair de todas as linhas, de todas as formas, da sua zona de conforto. E, como a gente vai enxergar tão além, se ainda estamos discutindo machismo ou casamento gay? Ela cresceu assim, sabendo disso. E eu cresci ao lado dela e não me permiti.

Hoje, eu fui buscar a Catarina de novo na delegacia e vou buscar mais mil vezes, se for preciso. A gente nunca vai viver esse amor da forma como eu queria, porque ela tem todo o direito de não se apaixonar por mim e eu não posso culpá-la por isso. Por mais que eu seja a pessoa que mais a apoie em tudo, que esteja com ela para tudo. Vou viver esse amor como eu sempre vivi, ao lado dela, sem me martirizar. Posso até me apaixonar por outra pessoa, mas a Catarina sempre vai ser a última pessoa em que penso quando vou dormir.

Mulheres Malvadas.

Mulheres Malvadas.

Eu estava na área de recreação infantil de um hotel, no litoral, onde fomos passar o último feriado. Arthur brincava entre outras crianças, até que, resolveu pegar e esconder a bolinha de pebolim interrompendo assim a brincadeira das “crianças grandes”. Imediatamente os meninos me olharam e pareciam dizer: “mãe, olha seu filho e faça alguma coisa!”. Eu me levantei, peguei a bolinha das mãos do Arthur, a devolvi aos meninos e comecei a ouvir o choro e as lamentações do meu filho. Eu disse apenas: “-Arthur a bolinha é da mesa de pebolim e eles estão jogando. Você não pode pegá-la e esconder.” Voltei então ao sofá de onde eu o observava de longe. Ele só tem três anos e meio, ainda preciso vigiar quando ele brinca em locais estranhos. Ao ouvir a reação natural do meu filho à frustração outra mãe se levantou, olhou para mim e disse: “-Deixa ele!” Além disso, foi em direção ao Arthur e começou a consolá-lo. Ele, claro, respondeu positivamente enquanto ela brincava, falava mansamente com ele, o agradava e, ao mesmo tempo, me olhava com condenação e parecia dizer: “Está vendo como se faz”! Como psicóloga comportamental eu afirmo que reforçar um comportamento negativo o tornará mais comum, ou seja, se o Arthur for agradado e consolado quando roubar e esconder bolinhas, ele vai fazer isso sempre.

Agora entra o meu tema dessa semana. Por que as mulheres, mesmo nessa situação tão complexa que é a de educar e mostrar aos filhos como o mundo funciona, competem entre si e se mostram tão pouco afetivas e solidárias umas com as outras? Ao ver a cena eu ignorei ambos e então comecei a me lembrar de que infinitas foram às vezes nas quais eu ouvi outras mães, algumas muito amigas e bem próximas, discursarem sobre a quase perfeição de seus atos enquanto eu contava ou dividia da forma mais humana possível as minhas falhas, os meus medos ou as minhas dúvidas enquanto mãe. Mães erram sim, mas erram tentando acertar. Responder relatando a sua forma perfeita, adequada e sempre correta quando outra mãe lhe confessa algo é no mínimo cruel, e mostra uma incapacidade de ouvir e uma necessidade grande de autoafirmação – coisa de gente que precisa “enfrentar o divã”.

Penso que, se na cena acima fossem dois pais, eles teriam conversado entre si, compartilhado das dificuldades enfrentadas com os filhos de três anos e meio, talvez um dissesse ao outro: “o meu é igualzinho” e a conversa seguiria com empatia e com frases como: “ah deixe chorar, faz parte, a vida é assim”. E é mesmo.

A competição agressiva e desenfreada entre as mulheres, chamada no senso comum de falsidade é vista desde a infância. Menininhas antes dos sete anos já se boicotam e se envolvem em episódios maldosos. Homens são mais sinceros sim, porque não tem a necessidade constante de competir e vencer. Os homens parecem se identificar mais uns com os outros; existem até piadas e chavões que mostram bem esse padrão de comportamento.

Por que somos tão “falsas”? Por que temos essa dificuldade imensa de nos desarmarmos, de nos ajudarmos, de confessar nossas fraquezas, nossos medos, nossos fracassos e nossas celulites? Acabamos por saborear uma solidão desnecessária. Seres humanos, por espécie, vivem em bandos. A amizade é uma das formas mais saudáveis e mais prazerosas de convívio. Ter com quem contar para quem contar é muito importante para nossa saúde mental durante toda a nossa vida. Vejo com frequência mulheres que, na terceira idade não têm amigas, e tê-las seria tão bom e tão importante nessa fase mais calma da vida, nas quais não se ouvem mais as birras, mas se lembram delas com saudade.

Vindo de uma estranha ou de uma grande amiga, a verdade é que, ao ser vista no papel de mãe, todas nós já fomos condenadas – porque julgar ou simplesmente falar da outra é a coisa mais fácil e mais gostosa do mundo para quem não é capaz de se identificar com o outro nem tampouco de amar. Tenho me dedicado atualmente aos autores contemporâneos que escrevem sobre amor em seu mais profundo significado. Amor está em extinção. Ao começar desabafando sobre meu filho que demorou a falar e terminar ouvindo o perfeito desempenho do filho da outra que com pouco mais de um ano falava frases inteiras o que sinto é solidão e a mais pura falta de afeto e empatia. Quem tem prazer ao ouvir a dor alheia sem se comover precisa se lapidar enquanto gente. Há quem diga que a necessidade de tanto aplauso e a incapacidade de ouvir e de acolher o outro um dia há de fazer dessas mães mulheres ausentes e solitárias.

Por que não trocarmos nossas experiências? Por que não se abrir e se ajudar? Por que não caminharmos juntas como semelhantes que somos? Ninguém é melhor do que ninguém e aqui vou abrir um parêntese e confessar: ser psicóloga não faz de mim uma mãe melhor do que qualquer outra; conheço a técnica, mas na teoria é muito fácil e na prática eu me permito como diz Carl Jung, a “ser apenas uma alma humana”.

É uma reflexão complexa demais para o pouco espaço que tenho aqui, mas minha proposta é sempre nos levar a pensar e a mudar. A difícil tarefa da maternidade é apenas um dos aspectos da nossa vida. Nós mulheres precisamos umas das outras, como profissionais, como companheiras, como gente. Por que competimos tanto? Por um homem? Por uma promoção profissional? Por um, ou muitos olhares de admiração? As mulheres dizem ter medo e asco da inveja enquanto que, hipocritamente o tempo todo buscam olhares invejosos. Já ouviram falar em empatia? A empatia é a resposta afetiva a outras pessoas, ou melhor, uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à própria situação. Talvez seja o momento de começarmos a praticá-la, a nos colocar no lugar do outro ao invés de mostrar o quanto, em nossa opinião, nos achamos tão melhores. Quem propaga uma vida perfeita esconde sujeira debaixo do  tapete.

PS: Quero agradecer a todos os e-mails e mensagens via Facebook que chegaram e que continuam chegando. Esse foi o primeiro texto que escrevi já da minha nova residência em São Paulo. Espero que continuem escrevendo e solicitando temas. Vamos continuar refletindo juntos. A vida na capital tem me proporcionado novas possibilidades de aprimoramento dentro da minha ciência e quero dividir cada nova descoberta com vocês.

 

#meuamigosecreto

#meuamigosecreto

‪#‎meuamigosecreto‬ é um cara, um companheiro, um amigo. Uma pessoa rara que aprendeu a se deixar lapidar mais pelo Amor do que pelas convenções sociais. E se libertou.

Ele sorri sozinho, pois é doce a leveza de não precisar ser um macho alfa, de não ter que sempre olhar as mulheres como objetos sexuais, de não ter que mostrar para os amigos que ele pode pegar e foder várias gostosas por aí.

Ele é um cara que se assume, que se respeita, que sabe que seu pinto não é movido à energia alcoólica e não vai necessariamente e sempre Turn ON quando cair uma calcinha no chão. Que sabe que o êxtase divulgado pelos vídeos pornôs e pela cultura midiática que, implícita ou explicitamente, colocam o ato de gozar como a maior das conquistas, é algo muito pequeno e limitado perto do tipo de experiência que ele conhece e vive.

Ele não tem tesão por uma bunda dura, um par de seios, uma vagina, ele tem tesão por uma pessoa. É a inteireza que o excita. Ele é tão esperto que sabe quão afrodisíacos podem ser uma boa conversa, uma troca de afinidades, risadas, brincadeiras… Quão afrodisíacos podem ser os pensamentos de uma mulher que se abre inteiramente. Ele sabe ouvir e sabe se fazer ouvir, ele gosta da troca, do começo ao fim. Ele gosta de se envolver com mulheres despertas, que dizem o que pensam, que se abrem completamente, sem culpas, sem medos, sem fazer tipo, porque querem ser o que são. E ele aceita e gosta desse feminino derramado, ele vê a doçura disso e se apaixona pela coragem dessa mulher. Com prazer, ele mergulha nesse oceano de possibilidades.

Ele percebeu a graça de caminhar sem posses, às vezes até sem dar as mãos, mas com os corações livremente entrelaçados. Ele não quer uma mulherzinha pronta, normal, previsível. Ele quer uma companheira para desvendar e experimentar essa selva de aventuras que é a vida.

Meu amigo secreto existe. E é um homem evoluído, um cara que está contagiando as pessoas e se tornando referência para os outros homens. Porque os outros homens se encantam e querem entender de onde vem essa Paz maior que esse cara alcançou e exala pelo olhar. Esse homem colhe tantas recompensas por ter aprendido a ser assim que sua alma virou puro magnetismo.‬

15 filmes que nos ajudam a refletir sobre o lado sombrio da humanidade

15 filmes que nos ajudam a refletir sobre o lado sombrio da humanidade

Conflitos, guerras, violências de toda ordem, exploração do humano, destruição do planeta, entre tantas outras ações nos deixam a cada dia mais perplexos diante da capacidade destrutiva e sombria da humanidade. Refletir profundamente sobre o que está por trás de tantos fenômenos de brutalidade torna-se uma responsabilidade urgente diante da realidade à qual todos nós estamos expostos.

Alguns documentários, filmes ficcionais e relatos baseados em fatos reais nos ajudam no mergulho na natureza sombria do ser humano e na busca pelo entendimento da origem de tantos males. Questões antropológicas, históricas, culturais, morais, éticas, sociais, econômicas, religiosas e psicológicas estão expostas sobre diferentes óticas e olhares, complementando nossa visão acerca dos acontecimentos atuais.

Alguns dos enredos nos inspiram a esperança pela ampliação da consciência humana em busca de uma relação de igualdade, justiça e amorosidade com os outros e com o mundo. Personagens que, apesar das adversidades impostas pelo momento em que vivem, conseguem superar condições traumáticas e extremas para se tornarem verdadeiros pontos de luz em meio à escuridão.

1- AS FILHAS DA ÍNDIA

O documentário fala da história da jovem estudante de medicina de 23 anos, Jyoti Singh, que em 2012 foi vítima de um estupro coletivo dentro de um ônibus em Nova Déli, na Índia, quando voltava para a casa com seu amigo. Mesclando depoimentos dos pais da vítima, de um dos criminosos condenados e das famílias e dos advogados de alguns dos estupradores, o filme refaz a trajetória da jovem rumo ao abuso e a sua morte extremamente dolorosa. Um relato chocante que nos mostra as divergências entre as formas de pensar sobre a questão da liberdade e da expressão do feminino nos tempos atuais.

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AS FILHAS DA ÍNDIA

2- A BOA MENTIRA

O filme é estrelado por Reese Witherspoon, Corey Stoll, Sarah Baker e Arnold Oceng. O longa, que é baseado em fatos reais, narra a chegada de quatro irmãos sudaneses, refugiados de guerras que assolavam o país. Depois de uma longa e impetuosa jornada pelo interior da África, os jovens chegam a um campo de refugiados por onde permanecem por mais treze anos Os jovens então embarcam para os Estados Unidos, onde são recebidos pela Carrie Davis, personagem de Reese Witherspoon, que ajuda os jovens (conhecidos como Garotos Perdidos do Sudão) a se adaptarem a nova vida.

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A BOA MENTIRA

3- UMA GARRAFA NO MAR DE GAZA

Tal tem 17 anos, é judia e mora em Jerusalém, enquanto que Naim tem 20 anos, é palestino e mora em Gaza. Apenas 60 milhas os separam em relação à distância, mas o histórico de guerra entre os povos é um grande complicador. Só que uma garrafa jogada ao mar pode mudar a situação entre eles, trazendo forças para que suportem esta dura realidade.

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UMA GARRAFA NO MAR DE GAZA

4- COCO ANTES DE CHANEL

Quando criança Gabrielle (Audrey Tautou) é deixada, junto com a irmã Adrienne (Marie Gillain), em um orfanato. Ao crescer ela divide seu tempo como cantora de cabaré e costureira, fazendo bainha nos fundos da alfaiataria de uma pequena cidade. Até que ela recebe o apoio de Étienne Balsan (Benoît Poelvoorde), que passa a ser seu protetor. Recusando-se a ser a esposa de alguém, até mesmo de seu amado Arthur Capel (Alessandro Nivola), ela revoluciona a moda ao passar a se vestir costumeiramente com as roupas de homem, abolindo os espartilhos e adereços exagerados típicos da época.

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COCO ANTES DE CHANEL

5- SELMA – A LUTA PELA IGUALDADE

Em 1964, enquanto Martin Luther King Jr. recebe seu Nobel da Paz, diversos afro-americanos, como Annie Lee Cooper de Selma, ainda não têm acesso a inscrição nos cadernos eleitorais. Para garantir o direito de voto para todos os afro-americanos, Martin Luther King então reúne-se com o Presidente Lyndon B. Johnson, para que ele possa criar uma lei que proteja os negros que querem votar. Martin, em seguida, vai para Selma, no interior do Alabama, com Ralph Abernathy, Andrew Young e Diane Nash. Lá eles encontram vários ativistas da Conferência da Liderança Cristã do Sul (SCLC). Como Martin Luther King se torna importante, John Edgar Hoover tenta convencer o presidente Johnson para monitorar e prejudicar ainda mais seu casamento com Coretta King. Como as tensões vão aumentando, King e seus sócios decidem realizar as Marchas de Selma a Montgomery, enfrentando a violência das forças policiais locais, liderados pelo xerife Jim Clark e o Governador George Wallace.

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SELMA – A LUTA PELA IGUALDADE

6- ANJOS DO SOL

Anjos do Sol conta a saga da menina chamada Maria, de quase doze anos, que no verão de 2002 é vendida pela família, que vive no interior do Maranhão, a um recrutador de prostitutas, imaginando que a garota estaria indo viver em um local melhor que vivia, pois não sabiam que se tratava exatamente o recrutamento. Depois de ser comprada em um leilão de meninas virgens, Maria é enviada para um prostíbulo localizado numa pequena cidade, vizinha a um garimpo, na floresta amazônica. Após meses sofrendo abusos, Maria consegue fugir e atravessa o Brasil na carona de caminhões. Ao chegar ao seu novo destino, o Rio de Janeiro, a prostituição se coloca novamente no seu caminho e suas atitudes, frente aos novos desafios, se tornam inesperadas e surpreendente.

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ANJOS DO SOL

7- A ONDA (WAVE)

Em uma escola da Alemanha, alunos tem de escolher entre duas disciplinas eletivas, uma sobre anarquia e a outra sobre autocracia. O professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) é colocado para dar aulas sobre autocracia, mesmo sendo contra sua vontade. Após alguns minutos da primeira aula, ele decide, para exemplificar melhor aos alunos, formar um governo fascista dentro da sala de aula. Eles dão o nome de “A Onda” ao movimento, e escolhem um uniforme e até mesmo uma saudação. Só que o professor acaba perdendo o controle da situação, e os alunos começam a propagar “A Onda” pela cidade, tornando o projeto da escola um movimento real. Quando as coisas começam a ficar sérias e fanáticas demais, Wenger tenta acabar com “A Onda”, mas aí já é tarde demais.

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A ONDA (WAVE)

8- ALÉM DA LIBERDADE (THE LADY)

Filha de um herói da independência da Birmânia, Aung San Suu Kyi (Michelle Yeoh) foi morar no exterior ainda jovem. Na Inglaterra se casou com Michael Aris (David Thewlis) e teve dois filhos, Kim (Jonathan Raggett) e Alex (Jonathan Woodhouse), mantendo contato com o país através de livros publicados e o acompanhamento das notícias locais. Ao saber que sua mãe está internada em um hospital, Aung decide voltar à Birmânia para revê-la. Logo ao chegar ela é procurada por vários líderes locais, que desejam que ela coopere com o movimento pela implementação da democracia no país. Aung aceita o convite e, pouco a pouco, torna-se um ícone do movimento. A situação não agrada a ditadura militar local, que passa a acompanhar todos os seus passos e tenta impedi-la de promover manifestações. Até que, na esperança de fazer com que o povo se esqueça de Aung, o governo ordena que ela permaneça em prisão domiciliar por 15 anos.

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ALÉM DA LIBERDADE (THE LADY)

9- O CORAÇÃO CORAJOSO DE IRENA SENDLER

Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Irena Sendler, uma assistente social poloca que durante a Segunda Guerra Mundial é presa pelos nazistas por ajudar cerca de 2500 crianças Judias à fugir do Gueto de Varsóvia.

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O CORAÇÃO CORAJOSO DE IRENA SENDLER

10- CAÇADOR DE PIPAS

Caçador de Pipas conta a história de Amir, um garoto rico de Cabul, no Afeganistão, que é atormentado pela culpa de ter traído seu criado e melhor amigo, Hassan, filho de Ali, também empregado do seu pai. A história tem como cenário uma série de acontecimentos políticos tumultuosos, que começa com a queda da monarquia do Afeganistão em Julho de 1973, com deposição do rei Zahir Shah, golpe de estado comunista, em abril de 1978, invasão soviética, em Dezembro de 1979, a consequente massa de emigrantes refugiados para o Paquistão e para os EUA e a implantação do regime Militar pelos Talibã.

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CAÇADOR DE PIPAS

11- SAL DA TERRA

O filme conta um pouco da longa trajetória do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e apresenta seu ambicioso projeto “Gênesis”, expedição que tem como objetivo registrar, a partir de imagens, civilizações e regiões do planeta até então inexploradas.

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SAL DA TERRA

12- RELATOS SELVAGENS

Diante de uma realidade crua e imprevisível, os personagens deste filme caminham sobre a linha tênue que separa a civilização da barbárie. Uma traição amorosa, o retorno do passado, uma tragédia ou mesmo a violência de um pequeno detalhe cotidiano são capazes de empurrar estes personagens para um lugar fora de controle.

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RELATOS SELVAGENS

13- A FITA BRANCA

Em um vilarejo no norte da Alemanha (1913) vivem as crianças e adolescentes de um coral, dirigido por um professor primário (Christian Friedel). O estranho acidente com o médico (Rainer Bock), cujo cavalo tropeça em um arame afiado, faz com que uma busca pelo responsável seja realizada. Logo outros estranhos eventos ocorrem, levantando um clima de desconfiança geral.

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A FITA BRANCA

14- PERFUME

Paris, 1738. Jean-Baptiste Grenouille (Ben Whishaw) nasceu em um mercado de peixe, onde sua mãe (Birgit Minichmayr) trabalhava como vendedora. Ela o tinha abandonado, mas o choro de Jean-Baptiste faz com que seja descoberto pelos presentes na feira. Isto também faz com que sua mãe seja presa e condenada à morte. Entregue aos cuidados da Madame Gaillard (Sian Thomas), que explora crianças órfãs, Jean-Baptiste cresce e logo descobre que possui um dom incomum: ele é capaz de diferenciar os mais diversos odores à sua volta. Intrigado, Jean-Baptiste logo demonstra vontade de conhecer todos os odores existentes, conseguindo diferenciá-los mesmo que estejam longe do local em que está. Já adulto, ele torna-se aprendiz na perfumaria de Giuseppe Baldini (Dustin Hoffman), que passa por um período de pouca clientela. Logo Jean-Baptiste supera Baldini e, criando novos perfumes, revitaliza a perfumaria. Jean-Baptiste cada vez mais se interessa em manter o odor de forma permanente, o que faz com que busque meios que possibilitem que seu sonho se torne realidade. Só que, em suas experiências, ele passa a tentar capturar o odor dos próprios seres humanos.

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PERFUME

15- EFEITO SOMBRA

Um documentário que mostra que todos nós temos um lado obscuro. O que é a Sombra? Bem, a Sombra é tudo aquilo que não queremos ser, mas somos. É aquele sentimento escondido de todos, e aquele desvio de comportamento que uma pessoa considerada boazinha possui. É o desejo de se entregar ao vício, de explodir, de brigar. É toda a energia que tentamos não ter. Mas descoberta e compreendida, a Sombra nos levará ao caminho da plenitude! Sairemos da ilusão de que nossa obscuridade nos dominará e, em vez disso, veremos o mundo sob uma nova luz.

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EFEITO SOMBRA

*sinopses: www.wikipedia.com  e www.adorocinema.com

Carta para um Ex.

Carta para um Ex.

Se você está lendo isso agora, já deve saber que não, eu não morri sem você. Foi quase. Cheguei o mais perto que pude de um caminho sem volta, mas voltei. Cheguei quase ao ponto de não poder continuar, mas continuei. Porque antes de você, outros me ensinaram que na manhã seguinte posso estar caída, mas na semana adiante, estarei melhor e na semana seguinte, estarei de pé. Sou dessas. Do tipo que se levanta.

E terei meus pés fincados na terra, como uma bandeira em um país que se conquista, uma guerra que se vence, uma dor que dissipa. Algo me diz que fará bem pro seu ego saber que eu chorei. Às vezes, no meio do dia, no hábito do nada, eu chorava pensando se a culpa era minha. E eu a levei, pequena, delicada, como um bebê nos braços, por meses. Aquela culpa tardia que me acompanhava nada mais era que a falta velada de você.

Carreguei-a até entender que na guerra e no amor todos conhecem as regras – sobreviver. Por isso escrevo, não pra destrinchar minha dor em mil partes, não diante de você. Escrevo pra contar que você não tem culpa nenhuma afinal. No fundo, eu sempre soube quem você era. Talvez em algum momento eu também tenha amado isso, esse seu jeito de ver a vida, mesmo que depois ele tenha se virado contra mim. Não há culpados. Alforrie-se também.

Dia desses, pensei ter visto você saindo de uma loja e meio que corri. Sabe-se lá o motivo. Na verdade, corri feito uma doida. Agarrada com a bolsa frente ao peito, como que tentando guardar meu coração dentro nela. Não sei se era você, se não era. Mas hoje tudo isso me faz rir, muito. Você sempre me destemperou um pouco. Mas acostumar meus olhos a não ver-te criou isso, uma falta de costume de te ver. Também estou escrevendo pra dizer que não fugirei mais. Já posso olhar nos seus olhos sem doer. Serei apenas grata enquanto te olho.

Grata inclusive pela dor que me causou. Porque me recompor, me reconstruir noite a após noite, mostrou como amar é inexplicavelmente bom. Porque no fundo não era sua falta que doía, mas a falta dele, do amor. Amor que nem você, nem eu mesma pude me dar. Mas, como você pode ver, isso também mudou. Não, ficar sem você não me matou. Só me deu uma nova vida que também aprendi a amar. Não fiquei amarga, não perdi a fé, apenas uns quilos, talvez. Aprendi também que os erros são aceitáveis quando o que a gente vive é ensaio. E todo ensaio é sinal de que algo grandioso e real ainda está por vir. Fique bem. Eu estou.

Colabore, mas colabore mesmo hein, com a publicação do livro de crônicas do Diego Engenho Novo

Saiba mais em: www.kickante.com.br/amarmododeusar

 

Sou psicóloga e tive depressão pós parto.

Sou psicóloga e tive depressão pós parto.

O meu depoimento é real e fidedigno.

Meu nome é Viviane, sou psicóloga sou a mãe do Arthur. Meu objetivo com este depoimento é não só alertar, mas desmistificar um assunto rodeado de tabus e falsos conceitos: a Depressão pós-parto. Acredito que todas vocês já tenha lido inúmeros artigos sobre o assunto, teóricos e técnicos, além do mais, hoje em dia é bem fácil conseguir informações sobre isso. Difícil é falar de como, de fato, a depressão pós=parto acomete mulheres de todas as idades.

A pergunta mais sem nexo que ouvi quando estava doente foi:

-“Mas você? Psicóloga, teve depressão pós-parto?” Como se médicos não adoecessem, e cirurgiões dentistas não tivessem dor de dente!

Eu tive depressão pós-parto e é disso que quero falar com vocês. Acredito que contando minha história possa ajudar muitas mulheres e muitas famílias a perceber e conduzir melhor o problema. Quero também lembrar que, todas nós mulheres, podemos passar por este quadro no período pós-parto, e que, ser psicóloga me ajudou a perceber o que eu tinha, mas não me isentou de sentir, e de sofrer. Somos humanos e, cada vez mais temos que entender que esta condição implica sempre em dualidade, seja de sentimentos, seja de pensamentos. Por mais que a maternidade seja um momento repleto de magia, há que se ter consciência de que não é só seu lado poético que existe. Seu corpo muda, a sua vida muda, a sua mente muda.

Eu tive uma gestação tranquila e sem intercorrências físicas, porém, emocionalmente foi um pouco conturbado e intenso. Logo depois do parto, vieram outros problemas de ordem profissional e acredito que tenham também me deixado mais sensível, porém, essencialmente, a queda brusca de hormônios, associada à mudança radical das atividades da vida diária, me levaram a um estado de profundo desânimo e distorção da realidade.

Via minha vida sem perspectiva nenhuma, não tinha forças nem físicas nem mentais para levantar da cama. Cuidar do meu filho se tornou um fardo e eu não me sentia mais segura longe das pessoas. Ao ouvi-lo chorar, queria correr, fugir e parecia que nunca mais eu seria feliz. Junto disso sentia uma culpa enorme por não estar “radiante” com a chegada de um filho que foi muito esperado e planejado e sentia-me impotente diante do choro dele, não sabia o que fazer. Comecei a ter muitos medos, muitas inseguranças e meus sentimentos eram confusos. Não queria visitas e meu cansaço físico era imenso.  Depois de quinze dias comecei a perceber meu estado e então pedi ajuda à minha família e à enfermeira que estava vindo para cuidar do meu filho.

Acredito, não só por conta da minha profissão, no poder da mente humana e me propus a sair dessa sem eles. Iniciei o uso de vitaminas e fitoterápicos, sempre deixando claro o que eu sentia: as minhas fraquezas, meus limites. Acredito que esconder é sempre uma péssima decisão.

Procurei não me julgar e entender o que eu estava passando, mesmo que muitos ao meu redor não entendiam. Acredito que a maior dificuldade das mulheres que passam por este estado seja a culpa e a cobrança, tanto do meio quanto de si mesma. Os dias foram passando, as coisas foram se encaixando e hoje estou seguindo minha vida normalmente. É possível enfrentar o problema e passar por ele, desde que se aceite, enfrente e haja com acolhimento e aceitação. Negar nunca resolveu nada, e neste caso vale a regra.

Eis algumas informações que podem ser úteis sobre o assunto:

-Segundo pesquisas A Depressão Pós-parto atinge aproximadamente 15% das mães de todo o mundo, porém acredita-se que este número seja bem maior.

-Não se preocupe com isso durante a gravidez, somente após o parto, caso sinta-se deprimida, procure seu obstetra e conte a sua família seus sentimentos e suas sensações.

-Aos familiares vai uma dica: procurem ficar atentos, entendam, não julguem e principalmente, apoiem.

-Mantenha uma alimentação equilibrada e consuma bastante água. Isso ajuda no funcionamento global do ser organismo e por consequência no reequilíbrio dos hormônios.

-A ingestão de antidepressivos é eficaz e ajuda muito, mas deve ser feita com acompanhamento médico.

-Tenha clareza dos seus limites físicos e emocionais, peça ajuda para quem lhe for mais próximo e confiável.

-Não se culpe. Você não é menos mãe e nem ama menos seu filho por conta do que está sentindo. Seus hormônios estão em desequilíbrio, isso altera a forma como você vê o mundo, as pessoas e as situações. Tudo vai passar, acredite.

-Ter depressão pós-parto não significa que você ame menos seu filho.

-Procure ajuda de um psicólogo, ele vai te ajudar a sair mais rápido do estado depressivo.

Quero finalizar lembrando que todos nós estamos sujeitos a tudo, viver é essencialmente experienciar, tanto o bom quanto o mal. Saiba que a condição humana não deve jamais ser idealizada e quanto mais humana for sua vivência, melhor você irá preparar seu filho para o mundo. Ser feliz faz parte da vida. Ao decidir ser mãe você escolheu ser feliz, apesar dos pesares (sim, porque tudo na vida é “apesar dos pesares”)

Nós, seres humanos fomos feitos para “dar certo”, este é o curso natural da vida.

A parte que nos cabe desse latifúndio – ou dessa pampa pobre

A parte que nos cabe desse latifúndio – ou dessa pampa pobre

Não, antes de qualquer coisa, eu não estou isentando os responsáveis pelas tragédias atuais (nem por qualquer outra) de responderem pelo que fizeram. Não estou pregando a impunidade. Mas proponho uma reflexão sobre a nossa obsessão pela punição, como se fosse a única solução ou a única preocupação relevante diante das catástrofes que homem causa no mundo.

Nem “olho por olho e dente por dente”, nem a sonhada justiça poderão recuperar o que foi perdido devido a uma má ação. Podemos encontrar os culpados pela morte de nossas águas e puni-los. Eles poderão pagar milhões, poderão morrer, e até mesmo que pudéssemos linchá-los, tudo isso serviria apenas para direcionarmos a nossa raiva, a nossa angústia em ver destruído um bem doado pela natureza por interesses particulares e mesquinhos.

Poderia também servir para causar temor ao responsável e aos outros, de modo a impedir que algo assim se repita – e é mais ou menos nesse sentido que a nossa “justiça” se sustenta. Será? Honestamente não me permito mais crer num tal idealismo. A triste verdade é que a punição estimula naqueles realmente mal-intencionados, que enxergam apenas a própria ambição, estratégias mais mirabolantes para passarem incólumes pelos desvios que cometeram ou que pretendem cometer.

Nenhuma punição purificará as nossas águas, nem ressuscitará os inocentes mortos na Síria ou as vítimas dos ataques terroristas na França. Não apagará as mazelas deixadas pelos regimes totalitários em nenhum país, estas que até hoje assombram como fantasmas as gerações que nasceram dessas aflições. Nenhuma desculpa anula as feridas de violência, seja ela física ou verbal, nenhum dinheiro paga pelas perdas subjetivas, nenhuma gratificação preenche o vazio infeccionado da negligência. Que justiça é essa que só trabalha nas urgências, tentando tapar com ideais os estragos concretos?

Me parece que um dos maiores problemas dos nossos tempos é tentar responder sempre com uma ideia de justiça, com revolta, com punição, a situações que por si só estão perdidas. Com isso não afirmo que estas medidas não devam existir, afinal, digamos que o mal feito precisa ser de alguma forma recompensado, porque é o que nos resta. Mas não é bem por aí que as coisas funcionam.

Também não há essa história de carma. Uma coisa absurda! Não consigo pensar em carma, que um bem ou um mal feito é recompensado pelo universo, quando vejo tantos inocentes em situação de calamidade e tantas pessoas vis desfrutando de mais, muito mais do que precisam. Que esperança nos resta num mundo sem carma, sem justiça, sem retorno, sem solução?

Com ou sem carma, com ou sem justiça, o que nos resta, se quisermos acordar e deixar de ver e mesmo sentir na pele tantas atrocidades acontecendo diariamente, é tomarmos em nossas mãos a responsabilidade de transformar o mundo num lugar melhor. Não é algo fácil, não é algo simples e não devemos esperar gratificações por isso, mas, pense bem: se cada pessoa capaz de se indignar com os dramas do mundo mudasse a forma de lidar com as coisas em seu cotidiano, qual efeito isso teria?

Não, não é mesmo justo que tenhamos que nos ver como responsáveis pelo mundo, pois já é bem difícil ser responsável pela própria vida. Mas dentro de um raciocínio lógico, a justiça, de fato não existe. Talvez seja apenas a partir dessa consciência que poderemos deixar de lado aquilo que nos abala e seguir o nosso curso em vez de descontar a nossa raiva nas pessoas que tem o azar de compartilhar conosco o convívio num dia ruim. Talvez seja apenas assim que paremos de pensar que se os políticos estão roubando, desviando dinheiro, etecetera e tal, então, porque não podemos deixar um troco passar a mais em vez de devolver a diferença para o caixa? E assim, poderíamos também procurar ajudar as vítimas diante de uma situação de calamidade em vez de postar denúncias inúteis aos causadores da mesma – infelizmente, a nossa revolta online, se não é organizada, se não é racionalmente direcionada, se perde em si mesma.

Em vez de colocar bandeiras nos perfis, poderíamos deixar de consumir coisas de empresas irresponsáveis, que tantas vezes, pelo status da marca temos orgulho em exibir. Dar mais valor ao que é sustentável, ao que é produzido por pequenos produtores em vez daquilo que é produzido por grandes indústrias, que tal? Comprar do feirante da esquina em vez de verduras embaladas ou enlatadas. Andar de ônibus sempre que possível e se reunir à luta por um transporte público mais digno. Colocar os filhos em escola pública e exigir melhor educação. Rever as próprias ideias, antes de entrar numa discussão séria por simples disputa. Ouvir o outro em vez de responder com dez pedras na mão antes que ele finalize a frase. Rever nossos preconceitos. Não gastar mais do que precisamos. Compartilhar o que temos quando nos sobra. Isso e muito mais, quem quer?

É muito fácil ser politicamente correto no discurso. Mas no discurso, todos estes que hoje temos como vilões também podem logo converterem-se em vítimas. Se a vida alheia nos interessasse mais para intervirmos nos abusos que identificamos do que para sabermos quem traiu quem, quem é “piriguete” e quem é charlatão, até mesmo isso teria um efeito fenomenal! Quando tudo o que nos resta fazer são atitudes simples, parece sem valor. Afinal o que isso tem a ver com os incidentes que estão ocorrendo no mundo? Essa descrença no valor das próprias ações, da própria mudança de vida, vem da ideia de que somos seres individuais. Os responsáveis por esses incidentes também pensam em si mesmos como pessoas individuais, não pensam nas consequências que suas ações têm para milhões de pessoas, ou simplesmente não se importam com isso.

Quando agimos como pessoas que não se importam com as consequências que suas ações exercem sobre os outros e sobre o ambiente onde vivem estamos sendo exatamente como esses grandes vilões, mas sem o mesmo poder que eles têm nas mãos, poder esse que muitas vezes somos nós que concedemos. Alimentando um mundo que funciona com essa lógica individualista e irresponsável acabamos por contribuir para que as coisas continuem assim, não importa quantas postagens indignadas compartilhemos na internet.

Enquanto apenas nos lamentamos e esperamos por justiça, enquanto desejamos punição com frases de efeito, enquanto acreditamos que vamos salvar o mundo com “energia positiva”, mas não somos capazes de ser gentis nem na nossa forma de andar em uma rua lotada no centro de uma cidade, o mundo mergulha em lama, em bombas, em discórdia, em balas, em crises econômicas, e pode ser que amanhã seja um de nós, que hoje está tranquilo em mesclar todas as suas frustrações pessoais a uma suposta preocupação com o mundo, sem fazer nada sobre um ou sobre outro, que será atropelado por uma nova tragédia.

Embora já não acredite em justiça, e possivelmente por isso, eu sonho que essa consciência possa fazer com que voltemos a ser “caudilhos” dessa pampa pobre, em vez de sermos soldados em marcha pela sua destruição…

Imagem de capa:  Herone Fernandes – Últimos Refúgios

É preciso deixar ir quem nunca fez nada para permanecer

É preciso deixar ir quem nunca fez nada para permanecer

É preciso deixar ir quem nunca fez questão de ficar, essas pessoas de sentimentos temporários, que nos fizeram investir tempo e imaginação. Deixar ir requer coragem, mas longe de aceitar tal ato como um final, devemos vê-lo como o começo de algo novo.

Quem nunca se viu obrigado, em certa ocasião, a ter que encerrar uma etapa de sua vida? Às vezes chamam isso de “fechar ciclos”.

No entanto, esta ideia de circularidade, mais que nos dar a visão de algo que se encerra com um início e um final, nos faz visualizar melhor uma entidade que nunca termina, como uma espécie de ciclo eterno. Devemos ver estas etapas da nossa vida como uma linha pela qual avançamos, pela qual fluímos conforme crescemos.

E para crescer nos desprendemos de certas coisas, ao mesmo tempo em que ganhamos outras. A vida é um avanço que não se pode parar, que nos esmaga e tira nosso fôlego, e de nada adianta ficarmos encalhados em algo ou em alguém que nos puxa para baixo, como faz a pedra ao cair num poço.

Quem não nos reconhece, quem nos faz mal e causa erosões em nosso ser, em nossa essência como pessoa, está violando nosso crescimento.

Entretanto, pode ser que demoremos para nos darmos conta, que não desejemos ver isso durante um tempo, mas a infelicidade é algo que ninguém pode esconder. Dói, murcha e nos apaga. Então não permita que isso aconteça. Na vida, sempre chega um momento no qual é melhor melhor soltar, deixar ir…

É preciso deixar ir até quem nos abandonou

O deixar ir, encerrar uma etapa de nossa vida, não se refere somente a dizer adeus a quem compartilha a vida conosco, num ato de decisão ou coragem.

É possível que não seja você quem esteja abandonando, pode ser que, na realidade, você tenha sido abandonado. Neste caso, a ideia de soltar, de assumir essa ruptura e avançar de novo em frente, é algo vital.

Devemos deixar ir quem nos abandonou, porque ao não fazê-lo nós seguiremos presos num infinito de emoções negativas que vão nos ferir cada dia mais. E os responsáveis, nesse caso, seremos nós mesmos.

Fechar esse ciclo de nossa vida, no qual ainda existe uma dor tremenda do abandono, requer tempo. O luto deve ser vivido, chorado, assumido e, mais tarde, deve-se aceitar o ocorrido até ser possível chegar a um perdão. Uma vez cauterizada a ferida, e quando nos encontremos livre de cargas por ter podido perdoar, nos sentiremos mais aptos para deixar ir com máxima plenitude.

Um abandono é a ruptura de um vínculo, e como tal, devemos “retornar” a nós mesmos.

Até pouco tempo, tal laço era nutrido pelo amor existente na relação. Agora que o cordão umbilical está partido, devemos nos reencontrar, nos cuidar, e nos entender para podermos reforçar o vínculo com a nossa autoestima, para volar a olhar em frente. Fortalecidos.

Não alimente nostalgias, não focalize seu olhar no ontem, porque o passado não existe mais, se foi, não está mais aqui… E lembre-se, acima de tudo, de que quem vive de nostalgia não faz mais do que alimentar o sofrimento, e se prender, enquanto idealiza um passado, deixando que o presente se perca. Sua oportunidade de ser feliz é “aqui e agora”.

É preciso deixar ir sem ressentimentos

Quem alimenta a raiva, o despeito e o ressentimento torna-se prisioneiro de quem lhe fez mal. É simples assim e contundente assim, também. Quem lhe provoca a raiva e focaliza todo o seu desprezo, faz com que você seja um eterno cativo de suas próprias emoções negativas.

Perdoar não é fácil. Às vezes, assumimos que o perdão é uma renúncia a nós mesmos, que é como vacilar e nos vermos como vítimas. Nada mais longe da realidade…

Para perdoar, você deve conseguir, de novo, ter confiança em si mesmo. Ninguém é tão forte quanto a pessoa que pode conceder o perdão a quem lhe fez mal, porque demonstra, por sua vez, que superou o medo, que já não teme o inimigo e que se sente mais livre.

Ao nos desprendermos dos ressentimentos e da raiva, voltamos ao nosso estado inicial, nosso coração volta a se curar e deixa de lado as emoções negativas. Só então o ato de “deixar ir”, se transforma em algo mais fácil de se conseguir, ao mesmo tempo em que é libertador.

Não invista tempo em quem não merece, em quem não fez nada para permanecer ao seu lado ou para lutar por você. Abra o caminho e ofereça liberdade para essa pessoa, deixe-a ir. Porque não vale a pena lutar contra a corrente, porque toda porta que se fecha, é uma oportunidade que se abre.

Créditos da imagem: Mila Marquis, Shawna Erback, Lucy Campbel

Texto original em espanhol de Valeria Sabater

Fonte indicada: A mente é maravilhosa

Paixão: o poderoso sentimento que nos faz perder a razão

Paixão: o poderoso sentimento que nos faz perder a razão

Seja na literatura, na história ou nas mais diversas manifestações da arte, a paixão está presente como um sentimento poderoso, arrebatador, insaciável, que escraviza e nos faz perder a razão.

Shakespeare, em Hamlet, já afirmava: “Dá-me o homem que não é escravo da paixão, e eu o usarei no cerne de meu coração, sim, no coração do coração, como faço a ti”.

Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Páris e Helena de Troia, Abelardo e Heloísa, Anna Karenina e Vronsky, Mata Hari e Vadim Maslov, Victor Hugo e Juliette Drouet, Ana de Assis e Dilermano, são exemplos de personagens da literatura, da mitologia ou mesmo da história que movidos pela paixão não mediram as consequências para ficarem juntos.

A paixão na sua forma apocalíptica pode ser muito bem representada no romance de Leon Tolstói. A aristocrata russa Anna Karenina, que dá nome a obra, deixa o marido, o filho e as convenções da época para viver a paixão pelo Conde Vronsky. Rejeitada pela sociedade e sem amigos, ela fica cada dia mais paranoica quanto à possibilidade do fim do relacionamento. Ciumenta, irracional e sem controle, a angustiada e apaixonada Anna se mata, dando fim, talvez, a mais dramática história da literatura.

Já na sua forma mais aprazível, a paixão pode ser representada pela história de Victor Hugo e Juliette Drouet. Ela, atriz, abandona a sua vida artística para se dedicar a ele, tendo o acompanhado durante quase meio século. Porém, sempre independente, Juliette recusou-se a dividir a mesma casa com o escritor, para que a paixão permanecesse acesa até o fim. Ela foi a musa inspiradora de Victor Hugo por mais de meio século.

A maioria das histórias mostra que os apaixonados desprezaram os acontecimentos alheios, não se intimidaram, ignoraram as críticas e o preconceito, exibiram seus afetos com ardor, não se desculparam, nem negociaram o que sentiam.

Não interessa se os envolvidos juraram castidade, eram casados, noivos ou namorados, eles foram capazes de romper quaisquer juras e promessas em nome da paixão.

No entanto, muitos sofreram e fizeram sofrer para viver o sentimento. Não há o que julgar. Não há certo ou errado, vilão ou mocinho. Tudo que existia era a vontade de estar ao lado da pessoa desejada.

A paixão é um sentimento poderoso, que nos deixa a flor da pele, mexe com os nossos instintos mais primitivos e, por isso, não pode ser racionalizada, explicada ou reprimida, mas apenas sentida.

Não existem diferentes tipos de paixão, toda ela é ardente e nenhuma é suave. A paixão não é escolha, pode ser uma dádiva ou uma sentença.

Viver uma paixão é dar uma chance ao amor. É também um ato de coragem, porque a dor pode ser inevitável, mas sufoca-la também não levará a um caminho melhor.

As pessoas que muito tentam se proteger do sofrimento, acabam se protegendo também da felicidade. Nas palavras de Voltaire: “Paixão é uma infinidade de ilusões que serve de analgésico para a alma. As paixões são como ventanias que enfurnam as velas dos navios, fazendo-os navegar. Outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens nem aventuras nem novas descobertas.”

Para os que abrem mão de uma paixão, deixando-a contida, restam apenas a serenidade dissimulada, a alegria fingida e o olhar opaco de quem não sabe o que é sentir o coração bater descompassado ao simples olhar da pessoa desejada.

Seja como for, ninguém está imune à paixão e quando ela chega, sem avisar, não tem remédio que a cure, não tem aguardente que a sacie, não tem reza que a faça sumir. Assim já cantava Chico Buarque:

“O que será que será\ Que dá dentro da gente e que não devia\Que desacata a gente, que é revelia\Que é feito uma aguardente que não sacia\ Que é feito estar doente de uma folia\ Que nem dez mandamentos vão conciliar\ Nem todos os unguentos vão aliviar\ Nem todos os quebrantos, toda alquimia\ E nem todos os santos, será que será\ O que não tem descanso, nem nunca terá\ O que não tem cansaço, nem nunca terá\ O que não tem limite.”

Segundo o filósofo Friedrich Hegel “nada existe de grandioso sem paixão”, então vamos celebrar esse sentimento arrebatador, irracional e poderoso.

Para ler com os olhos e entender com a alma

Para ler com os olhos e entender com a alma

Por Ana Luíza Santana

Costumo sempre pensar na vida e em tudo que acontece durante nossa -breve- passagem por esse plano. É uma mania. Uma terapia. Uma loucura. Mas, sem dúvida, é a forma que encontro para refletir, tentar achar respostas, encontrar novas perguntas e buscar evoluir, tanto emocionalmente quanto espiritualmente. Tudo, absolutamente tudo que acontece em nossa vida traz uma grande carga de lições e não podemos tapar os olhos para esse fato.

Desde nova me dei conta disso, pois fui ensinada cedo, pelos acontecimentos em minha trajetória, a fazer isso. A entender que é preciso ter um olhar mais profundo sobre tudo que passamos e vivemos, e a estender esse olhar a vida do próximo. Não, não com curiosidade ou intuito de fazer fofoca, jamais. Mas com empatia e para saber que nossa evolução também se encontra no outro.
A perda de uma amiga próxima me fez, mais uma vez, refletir sobre tudo. Uma morte, literalmente, inesperada. Pegou a todos de surpresa. Despedidas são sempre tristes. Acho que por mais evoluído que o ser humano seja, a dor da partida de uma pessoa amada sempre irá doer. Sempre ficaremos com uma sensação de impotência. Mãos atadas. Coração sangrando. É difícil acreditar que uma alma boa, de aura leve, coração transbordante de amor e energia boa nos foi tirada, assim, de uma hora para outra. Mas é assim, de repente mesmo que acontece. Sem aviso prévio. Sem dar tempo para algum preparo. Acontece de um jeito que foge do nosso entendimento. E é aí que a gente precisa se propôr a refletir. Estamos doando quais tipos de sentimentos? Estamos transmitindo quais tipos de coisas? Estamos perdendo/ganhando tempo com o que? É preciso parar e pensar.

Deixamos de falar o que sentimos as pessoas que amamos porque nos disseram que é sinal de fraqueza. Porque bonito é ser “casca grossa” e correr atrás é coisa de gente idiota. Demonstrar por atitudes é pior. É pedir para ser “trouxa”. Perdemos tempo com orgulho, medo, falta de tempo ou por acharmos que o temos demais. Deixamos para amanhã. E quando chega o amanhã a gente adia de novo. Guardamos mágoas. Sentimentos que em NADA, eu digo NADA de bom, nos acrescentam. Deixamos de perdoar porque achamos que isso é querer tapar o sol com a peneira, afinal é impossível esquecer o que o outro fez, quando na verdade, perdoar é soltar o pescoço do outro e ver que quem consegue ficar aliviado e respirando melhor somos nós mesmos. Evitamos pedir desculpas e/ou perdão porque nos disseram que é humilhante. Alimentamos ressentimentos. Tem gente se achando melhor do que os outros. Gente puxando o tapete do “amigo” na primeira oportunidade e sem pensar duas vezes. Gente que sofre ao ver o outro feliz.

Mágoa, inveja, rancor, orgulho, prepotência, arrogância, julgamentos… e assim acumulam-se toneladas de lixo emocional. Mas por quê? Não consigo encontrar uma lógica coerente que explique por que perdemos tempo com tanta coisa que só devastam e regressam nossa alma. Procuro a cada dia aprender e tenho a consciência tranquila que não me limito aos meus textos. Sou melhor escrevendo e todos que me conhecem sabe disso. Quando falo, sou desastrada, desajeitada, mas ainda assim procuro através dos gestos e atitudes demonstrar aos que amo o amor que trago comigo. Com os conhecidos e desconhecidos busco ter pudor com o que digo e faço. Erro. E como eu erro. Sei que tenho muito que aprender e mudar. Mas estou em paz porque estou de braços e coração aberto para isso. Para a vida. E que todos estejamos.

Que a gente não se limite a frases lindas e reflexivas de redes sociais. São importantes, claro. Os textos e as palavras em si possuem um poder enorme sobre nós e por isso sou tão apaixonada pela escrita e encontro nela a chave para abrir a janela de minha alma e coração. Mas precisamos levar tudo conosco. Precisamos que nossas atitudes sejam condizentes com nossos dizeres. Que a gente sorria de verdade e com verdade, que nossos abraços sejam apertados, que nosso orgulho seja deixado de lado, que o amor seja a maior arma que a gente carregue.

Que a gente valorize os que nos amam e deixemos de lado os que não se agradam com nossa presença. E que, dia após dia, a gente aprenda. Evolua. Nossa passagem é breve, mas os sentimentos que plantamos, as almas que tocamos, os corações que entramos, as pessoas que convivemos e vivemos não são. Uma hora eu vou, você vai, nós vamos. Mas o que fizemos e passamos aos outros a gente deixa aqui. Propõe-se a pensar também no que você deixará quando for. ♡

Ana Luíza Santana

contioutra.com - Para ler com os olhos e entender com a almaPernambucana por naturalidade e baiana por amor,apaixonada por abraços apertados e cafunés e fascinada pelo comportamento humano e suas facetas. 
Para mais textos da autora visite seu blog: Bagunça Boa

A lama que soterra o Brasil

A lama que soterra o Brasil

Por Lílian Paula Serra e Deus

É estarrecedor ver a imprensa brasileira noticiar o rompimento da barragem em Mariana valendo-se da palavra tragédia. À tragédia competem desgraças inevitáveis, cujo destino é o maior responsável. No caso do rompimento da barragem de “responsabilidade” da Samarco, juntamente à Vale e à australiana BHP, o adjetivo trágico não qualifica. Nesse caso, para entender os verdadeiros motivos da irresponsabilidade acontecida em Bento Rodrigues, é preciso perscrutar o mar de lama que encobriu a Vale nas últimas décadas e, quem sabe assim, alguns nomes possam emergir do barro em que se afundam em prol da elevação do capital ao mais alto patamar. Nesse sentido, faz-se necessário desenrolar um novelo histórico para trazer a lume personagens que, há tempos, lutam para submergir o Brasil em águas lamacentas: A quem pertencia a Vale anteriormente ao mandato de FHC? Por que se lutou tanto pela sua venda? Foi ela vendida ao preço que valia à época? Por que a honesta mídia brasileira faz questão de omitir o vínculo entre a Samarco e a Vale? Quem patrocina a mídia no Brasil? Quem determina quanto “Vale” a vida nesse país?

Imbricadas às questões aqui trazidas estão as respostas que direcionam para o que efetivamente aconteceu e, infelizmente, ainda acontecerá no Brasil.  E é triste perceber que os nomes perscrutados são os mesmos que lutam, com as mãos ainda  sujas de lama, pela venda de mais uma estatal: a  Petrobras. Para entender por que a memória de tantos seres humanos inocentes continuará sendo cruelmente engolida pela lama, há que se fazer emergir memórias outras. Há que se perceber que todo rio tem seus afluentes, que a água que desembocou no mar do Espírito Santo, teve sua nascente em outro estado. Para entender Bento Rodrigues é preciso entretecer nascente, afluentes e foz. Somente dessa maneira, entender-se-á que o rio de lama que hoje encobre a cidade mineira, teve sua nascente para além das águas de Minas Gerais. Dessa maneira, perceber-se-á que as nascentes nem sempre são minas de água, muitas vezes as fontes encobrem outras minas. E como o caminho comum aos rios é o oceano, vai assim, o rio de lama, se convertendo em mar, atravessando o país como enxurrada e exibindo, para além do encadeamento das águas, a desconexão entre o ser humano e natureza: a  lama manchando as águas, as vidas se desfazendo em sangue, o capital afogando o homem.

Ao que parece, na maioria das vezes, a privatização coloca o capital, principalmente o estrangeiro, em um altar, posto para além das correntezas, enquanto seres humanos inocentes são, cotidianamente, varridos pela lama.

(Lílian Paula Serra e Deus)

Nota da Página: a CONTI outra agradece o envio do artigo e autorização para publicação.

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