Não sei- Cora Coralina

Não sei- Cora Coralina

NÃO SEI

Não sei se a vida é curta ou longa para nós,
mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser: colo que acolhe,
braço que envolve, palavra que conforta,
silencio que respeita, alegria que contagia,
lágrima que corre, olhar que acaricia,
desejo que sacia, amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais, mas que seja intensa,
verdadeira, pura enquanto durar.

Feliz aquele que transfere o que sabe
e aprende o que ensina”.

(Cora Coralina)

Pare o que está doendo.

Pare o que está doendo.

Tudo bem. Me enganei. Não eram só duas estações de metrô. Eram quatro. Andamos o equivalente a quatro estações de metrô a pé. Eu a convenci que seria fácil, rápido e bucólico, caminhar até a loja de discos pela calçada esburacada, de salto. Chega! Estou cansada! – e Monick parou, do nada, como se a tivessem jogado numa cápsula criogênica, daquelas em que congelam alguém para acordá-lo num futuro melhor.

Desde esse dia, sempre que escuto alguém, que consolo alguém, que consolo a mim mesmo, e sempre que aquelas mesmas palavras aparecem – Estou cansado! – a minha resposta é a mesma – Então pare, ué. Pare. Pare agora mesmo. Pare a confusão, pare o sofrimento, pare a dor, por dois segundos que sejam. Parar é uma escolha sua. Pare o medo, pare o apego, a dependência, a insegurança, o ego, pare de se vitimizar pela incapacidade dos outros de te amarem direito.

Tudo bem, talvez você tenha se enganado também. Talvez tenha superestimado sua capacidade, seu trajeto, o caráter dos outros, sua capacidade de permanecer puro nos seus próprios sentimentos. Então, se está cansado, só pare. Pare agora mesmo o que está evitando fazer. Muna-se do seu pijama que não julga, seus filmes que não exigem demais ou sua música preferida que já te conhece tão bem. Esse é seu dia maia fora do tempo, seu domingo sonolento em plena quarta-feira, sua greve serena até que o universo decida negociar.

Tudo espera, ainda que não por muito tempo. Se não sabe o que fazer, não faça. Se não sabe o que escolher, escolha não ter que escolher. Só pare. Não se sinta covarde ao fazê-lo. Os covardes não são os que param, mas os que fogem. Os que param ainda estão enfrentando seu oponente de frente, como um samurai que cumprimenta seu inimigo solenemente, antes de matá-lo. Mesmo na criogenia não há garantias de futuro melhor. Na pausa que cura, no espirar que revigora, na esperança futura, quem melhora é a gente.

Diego Engenho Novo

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Nem sempre o silêncio é esquecimento

Nem sempre o silêncio é esquecimento

Ao contrário do que possa aparentar, muitas vezes o silêncio tem muito a dizer, carregando em seu aparente vazio uma intensidade tamanha de sentimentos e de carga emocional muito mais significativa do que enxurradas de palavras ou gestos exacerbados. O silêncio pode acalmar, ferir, amparar ou até mesmo violentar, às vezes trazendo paz, outras vezes incitando tempestades – nem sempre o silêncio é pacífico.

O silêncio pode ser revolta, rebeldia, contrariedade contida. Nem sempre estamos prontos para expressar nossos pontos de vista, no sentido de verbalizar o que queremos, o que temos aqui dentro. Assim, mesmo que estejamos discordando de algo, silenciamos, pois nos falta a coragem necessária para que nos libertemos dessa prisão que nós próprios criamos, ou mesmo porque sabemos que qualquer tentativa de diálogo será inútil e cansativa naquele momento.

O silêncio também pode corresponder à reflexão, a um turbilhão de pensamentos pulsando dentro de nós. O pensamento e a fala devem conviver harmonicamente, de forma que um não atropele o outro, colocando-nos em situações constrangedoras. Palavras, após proferidas, não voltam mais, deixando suas marcas, muitas vezes negativas, nas nossas vidas e nas dos ouvintes. Pensar sobre o que se diz é necessário, pois, caso possamos machucar alguém ou a nós mesmos, sem razão, é preferível emudecer.

Às vezes, o silêncio é solidão, é vazio, solitude doída e emudecida. Mesmo acompanhados, ainda que em meio a muitas pessoas, podemos estar solitários, sentindo-nos sem acolhida, sem partilha, sem pertencimento. Como se não fizéssemos parte da vida do outro, como se fôssemos desimportantes, dispensáveis. Perdidos nessa irrelevância emocional, ruímos por dentro, minando nossa autoestima e nossa capacidade de ser feliz.

Outras vezes, o silêncio é desistência. Há momentos em que o mais prudente a se fazer é desistir de algo, de alguém, de tentar convencer, amar, de clamar por atenção e reciprocidade. Certas situações nos pedem que partamos para outra, que canalizemos nossas forças e energias em direção ao que nos trará contrapartida, retirando-nos dos apelos vazios, da mendicância afetiva, pelo bem de nossa saúde física e de nosso equilíbrio emocional.

Silêncio, da mesma forma, pode significar desapego, libertação, livramento de amarras que nos impedem o caminhar tranquilo de nossa jornada. Precisamos nos despedir de tudo aquilo que pesa em nossos ombros, emperrando a visualização serena das possibilidades que nos aguarda o futuro. Temos que serenar a celeridade que intranquiliza os nossos corações, jogando fora bagagens sem as quais conseguiremos viver melhor.

O silêncio, infelizmente, muitas vezes é mágoa, ressentimento, lamentação acumulada. Na impossibilidade de encontrarmos coragem de vivermos nossas verdades por inteiro, de refutarmos o que não nos completa, tampouco nos define, de impormos aquilo em que acreditamos, sufocamos nossos sentimentos mais íntimos sob a infelicidade de aparências condizentes com o que todo mundo espera – exceto nós próprios. Nesses casos, o silêncio é o crepúsculo moroso de nossa existência.

Felizmente, no entanto, o silêncio também pode – e sempre o deveria – implicar felicidade, certezas, convicção e força. Sabermos os momentos certos para calarmos e guardarmos para nós aquilo que pensamos nos salva de problemas dispensáveis com gente que não significa nada na nossa vida. Quando estamos seguros quanto ao que somos, quanto aos nossos sonhos e planos de vida, nenhum barulho é capaz de abalar as nossas verdades, minimamente que seja. Quando o silêncio guarda o que temos de mais precioso, estaremos então caminhando rumo ao alcance de nossos sonhos, para que possamos dividi-los com quem compartilhamos amor de verdade, e com ninguém mais.

Incentivando a leitura infantil.

Incentivando a leitura infantil.

Eu poderia escrever por horas listando os benefícios da leitura para o ser humano. Em algum nível todos nós sabemos da importância de ler. Eu ando meio assustada com a forma com que crianças e adolescentes tem escrito nas redes sociais e levado essa forma de comunicação escrita para a vida. Sou contra o incorreto da língua portuguesa, porém talvez esse nem seja o maior benefício que a leitura nos dá. Além de ensinar a escrever corretamente e melhorar o vocabulário, a leitura estimula raciocínio, criatividade, memória, curiosidade, dentre tantos outros constructos e por isso, é importante ler e ter contato com obras literárias desde os primeiros meses de vida.

Mas como fazer com que crianças em fase de alfabetização se interessem pelos livros? É verdade que, em meio a brinquedos cada vez mais lúdicos e cheios de recursos tecnológicos, essa não é uma tarefa fácil, porém pequenas ações podem fazer a diferença.

Para chamar a atenção das crianças pela leitura, há diversas atividades que os pais e outros familiares podem colocar em prática e, assim, fazer do ato de ler um momento divertido. No período da alfabetização, antes dela e um pouco depois também, especialistas sugerem que se misture a leitura com brincadeira, fazendo, por exemplo, representações da história lida, incentivando a criança a criar os próprios livros e pedindo que a criança ilustre uma história.

Seguem algumas dicas de especialistas sobre o que os pais podem (e devem) fazer:

– Transforme as idas a livrarias, bibliotecas e feiras do livro em um programa de fim de semana. Hoje,  muitas livrarias e bibliotecas oferecem atividades aos finais de semana e esse programa ainda é de graça. Algumas livrarias, inclusive, têm espaços para leitura (sem que os livros precisem ser comprados!).

-Muitas crianças ficam frustradas por ler muito devagar em voz alta. Se este é o caso do seu filho, você pode ajudá-lo fazendo exercícios, como cronometrar o tempo que ele leva para ler um texto ou o trecho de um livro em voz alta. A atividade pode ser repetida várias vezes em dias diferentes e, assim, a criança vai poder comprovar o próprio desenvolvimento. Outra dica legal é fazer com que ele faça diferentes vozes para cada personagem – eles adoram!

-Incentive o seu filho a ler todas as noites. E, se ele ainda não for alfabetizado, conte histórias para ele antes de dormir. Por isso, é importante que ele tenha uma fonte de iluminação direta ao lado da cama, como um abajur. Uma ideia bacana é dar um presente para a criança nos fins de semana: permita que ela fique acordada até um pouco mais tarde para ler na antes de dormir.

-No seu tempo livre, procure fazer atividades com o seu filho que você possa relacionar com um livro. Uma ida ao zoológico, por exemplo, torna-se muito mais interessante depois que a criança leu um livro sobre o reino animal. E vice-versa: uma leitura sobre animais é mais bacana depois que a criança teve a oportunidade de ver de perto os bichinhos. E, assim como essa, há muitas outras maneiras de juntar passeios de fim de semana com a leitura: livro de experiências junto de uma visita ao museu de ciências, livro de história e passeio em local histórico, visita a museu de arte e um livro infantil sobre arte… As possibilidades são inúmeras!

-Não se preocupe se o livro escolhido pelo seu filho parecer infantil demais. Cada criança tem um ritmo diferente. O importante é que o livro esteja sempre presente. A criança costuma dar sinais quando se sente preparada para passar para um próximo nível de leitura, é só ficar atento.

-Proponha para o seu filho que ele faça o próprio livro. As crianças gostam de criar histórias, viver personagens, imaginar paisagens. Primeiro, peça que ele tire fotos (e imprima-as) ou recorte figuras de revistas antigas. Depois, a partir das imagens, peça que ele escreva uma história. Ajude-o a criar uma capa para o livro e, por fim, coloque-o na estante, junto com outros livros. Que criança não adoraria ter um livro de sua autoria na biblioteca de casa?

-Convide amigos e colegas de escola do seu filho para uma espécie de festa da leitura. No início, cada criança lê o trecho de um livro que pode até ser escolhido por eles (mas com orientação dos adultos). Depois de lida a obra, organize um debate sobre a história. Tudo isso pode ser feito durante uma tarde de sábado ou domingo, com direito a guloseimas que as crianças adoram, como cachorro-quente e chocolate quente (no fim de semana, pode!). Na infância, a leitura tem de estar ligada a uma atividade divertida.

-Concluída a leitura de um livro, os pais podem organizar peças de teatro baseadas na obra. Uma boa ideia é convidar outras crianças para participar da atividade. Os adultos podem ajudá-las a elaborar uma espécie de roteiro e pensar nas vestimentas e nos cenários a serem criados. Depois dos ensaios, a peça pode ser apresentada para um grupo de pais ou para toda a família. Também é interessante gravar com o celular ou uma filmadora a encenação da peça, para que depois a criança possa ver o próprio desempenho.

 

Mulher Independente- Martha Medeiros

Mulher Independente- Martha Medeiros

Estava autografando meu livro na Feira quando uma senhora alta, elegante, já bem madura, chegou sorridente pra mim e disse: “Acho-te uma mulher fenomenal”. Eu, toda sorrisos, tomei o livro que ela tinha em mãos e me preparei para escrever uma dedicatória bem carinhosa. Ela então complementou: “Mas eu não queria ser casada contigo: tu és muito independente!”.

Concluí a dedicatória, agradeci a gentil presença dela, enquanto que meu coração começou a bater de forma mais lenta. “O que estou sentindo?”, perguntei a mim mesma, em silêncio. Tristeza, respondi a mim mesma, em silêncio, enquanto a próxima pessoa da fila se aproximava.

Em que eu seria mais independente do que qualquer outra mulher? Quase todas as que conheço trabalham, ganham seu próprio sustento, defendem suas opiniões e votam em seus próprios candidatos. Algumas não gostam de ir ao cinema sozinhas, já eu não me importo. Poucas moraram sozinhas antes de casar, eu morei. Quase nenhuma, que eu lembre, viajou sozinha, eu já. E nisso consta toda minha independência, o que não me parece suficiente para assustar ninguém.

Fico imaginando que essa tal “mulher independente”, aos olhos dos outros, pareça ser uma pessoa que nunca precise de ninguém, que nunca peça apoio, que jamais chore, que não tenha dúvidas, que não valorize um cafuné. Enfim, um bloco de cimento.

Quando eu comecei a ter idade pra sonhar com independência, passei a ler afoitamente os livros de Marina Colasanti – foram eles que me ensinaram a importância de abrir mão de tutelas e a se colocar na vida com uma postura própria, autônoma, mas nem por isso menos amorosa e sensível. Independência nada mais é do que ter poder de escolha. Conceder-se a liberdade de ir e vir, atendendo suas necessidades e vontades próprias, mas sem dispensar a magia de se viver um grande amor. Independência não é sinônimo de solidão. É sinônimo de honestidade: estou onde quero, com quem quero, porque quero.

Sobre a questão da independência afugentar os homens, Marina Colasanti brincava: “Se isso for verdade, então ficarão longe de nós os competitivos, os que sonham com mulheres submissas, os que não são muito seguros de si. Que ótima triagem”.

Infelizmente, a ameaça que aquela senhora acredita que as independentes representam não é um pensamento arcaico: no aqui e agora ainda há quem acredite que ser um bibelô (ou fazer-se de) tem lá suas vantagens. Eu não vejo quais. Acredito que a independência feminina é estimulante, alegre, desafiadora, vital; enfim, uma qualidade que promove movimentação e avanço à sociedade como um todo e aos familiares e amigos em particular. “Eu preciso de você” talvez seja uma frase que os homens estejam escutando pouco de nós, e isso talvez lhes esteja fazendo falta. Por outro lado, nunca o “eu amo você” foi pronunciado com tanta verdade.

Casar-se de novo- Stephen Kanitz

Casar-se de novo- Stephen Kanitz

Meus amigos separados não cansam de me perguntar como eu consegui ficar casado trinta anos com a mesma mulher. As mulheres, sempre mais maldosas que os homens, não perguntam a minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo. Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo. Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos sabem, mas, dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue.

Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém agüenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade, já estou em meu terceiro casamento – a única diferença é que me casei três vezes com a mesma mulher. Minha esposa, se não me engano, está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes do que eu.

O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher. O segredo no fundo, é renovar o casamento, e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos, é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, voltar a se vender, seduzir e ser seduzido.

Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo não fazem uma lua de mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção? Sem falar nos inúmeros quilos que se acrescentaram a você, depois do casamento. Mulher e marido que se separam perdem 10 quilos num único mês, por que vocês não podem conseguir o mesmo? Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a freqüentar lugares desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo e a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge.

Vamos ser honestos: ninguém agüenta a mesma mulher ou marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é sua esposa que está ficando chata e mofada, são os amigos dela (e talvez os seus), são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo círculo de amigos.

Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento. Mas, se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas, e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior.

Não existe essa tal “estabilidade do casamento”, nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos. A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma “relação estável”, mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensando fazer no início do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, por que não fazer na própria família? É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo.

Portanto, descubra o novo homem ou a nova mulher que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo e interessante par. Tenho certeza de que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso, de vez em quando é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.

Errata: A autoria correta desse texto é de Stephen Kanitz e não de Arnaldo Jabor- corrigido 29-12- 2015, às 22:41h

5 filmes sobre perdas

5 filmes sobre perdas

Amigos, filhos, pais, mães… A perda de alguém emocionalmente importante pode ser devastadora… Ou impulsionar a pessoa e fazê-la crescer, mesmo que tardiamente. De qualquer maneira, nunca é fácil, seja em qualquer idade.

Alguns filmes conseguem tocar neste tão espinhoso tema com muita delicadeza, sem deixar de oferecer uma reflexão importante, ao mesmo tempo em que entretêm. Há obras de arte que fazem o espectador se sentir como quem vê o resultado da mega da virada online e percebe ter acertado prêmio principal. Filmes enriquecedores!

Eis uma pequena lista deles:

O Labirinto do Fauno

contioutra.com - 5 filmes sobre perdas

Filme espetacular, que lida com fábulas e mitos nem um pouco fáceis de se viver. De uma sensibilidade absoluta, chama a atenção o trabalho da direção de arte e a trilha sonora desta obra prima. Prepare os lencinhos…

Livre

contioutra.com - 5 filmes sobre perdas

Reese Whiterspoon vive uma mulher em busca de si mesma. A maneira que ela encontra para melhor se conhecer é partir numa jornada espiritual como andarilha em lugares inóspitos dos Estados Unidos. Um filme muito bonito, cuja reflexão faz pensar sobre o que é realmente importante.

Ponte para Terabítia

contioutra.com - 5 filmes sobre perdas

Pré-adolescentes descobrindo a amizade e deixando a imaginação tomar conta de realidades nem sempre agradáveis. Sensível.

O segredo de Brokeback Mountain

contioutra.com - 5 filmes sobre perdas

A temática gay da história acaba não chamando tanta atenção quanto à direção afinada do chinês Ang Lee e as atuações soberbas de Heath Ledger e Jake Gillenhall. É, acima de tudo, um drama muito bem construído sobre a dificuldade nas relações humanas, sejam elas hetero ou homossexuais. Imperdível.

Amnésia

contioutra.com - 5 filmes sobre perdas

Uma vingança é contada numa ordem inversa, graças ao brilhante trabalho de edição do filme de Christopher Nolan. Difícil de ser entendido, a princípio, mas se revela espetacular com o passar do tempo, tanto pelo exuberante apuro técnico do roteiro e edição quanto pela complexidade psicológica que ele acaba revelando ao final.

Os amores de uma vida

Os amores de uma vida

Por Rafael Souza Carvalho

Quando estamos próximos dos 40 anos de idade é comum que aprofundemos a reflexão sobre muitas áreas de nossa existência. Uma delas é o que chamamos de “amores de nossas vidas”.

Essas etapas cíclicas que também acometem a quem adentra os 50, 60 e assim até que a vida permita, servem para revermos mentalmente a quem depositamos nosso amor. Um dia entregamos uma flor, uma carta, um beijo roubado, alianças trocadas e uma cama a dividir. Não para por aí. Em alguns casos, a flor não mais chegou, a carta esquecida se encontra na gaveta, o beijo é recusado, alianças retiradas e a cama já não comporta os dois. Aquele grande amor fica inscrito no passado em belas histórias de nossas vidas.

É recorrente a afirmação conservadora de que possuímos apenas um único grande amor em nossa história, o que viria desqualificar os sentimentos subsequentes de uma relação afetiva. Todas as demais experiências intensas apresentariam uma deficiência, e assim, nunca estariam à altura do “grande amor”.

E se o “grande amor” for uma farsa? E se pudéssemos ter vários “grandes amores” de nossas vidas? Penso que seria conveniente afirmar que para cada época de nossas vidas temos um grande amor. É comum viúvas e divorciados lamentarem que o amor de suas vidas ficou no passado e dificilmente conseguirão amar novamente. Tomaria a liberdade em dizer que uma vida de grandes amores é uma grande vida. Há uma riqueza em pessoas que após a ruptura conseguem renascer para um sentimento intenso. O amor tem uma plasticidade que se adéqua a várias fases da vida.

No colégio o coração do menino bateu forte quando chamou a menina para dançar; sonhou com ela à noite.  A arritmia não foi diferente quando se casou – disse na frente do padre que era para sempre – mas começaram a brigar e resolveram se separar. Separados, encontraram pessoas fantásticas, fizeram novas juras sob a orquestra de um coração saltitante de menino colegial. O tempo se adiantou, as mãos já enrugadas revezavam-se em se esquentar e segurar o controle remoto. O amor do colégio não é diferente daquele que nos motiva para o casamento ou que conhecemos em uma nova vida de solteiro. O coração é um só, perde o compasso na possibilidade de se ver desejado

Seria bom rever o conceito de um grande amor que está sujeito as nossas fixações e ampliarmos para os múltiplos amores possíveis em nossas vidas, não imunes a decepções, mas encorajados em subir ao palco de nossa existência e aceitar a sua encenação real, admitindo que o coração que me apertou na infância é o mesmo que me atira em outros braços. Assim como não há a chuva da minha vida, também não há o amor da minha vida – alguns irão discordar – mas aquele amor de infância deve ser considerado, em menor proporção ele existiu. A água que me molhou na juventude foi embora, não voltará, mas ainda sou capaz de pegar um temporal; as nuvens estão se formando. O abraço que um dia me arrancou o suspiro, aqui não se encontra, mas ainda respiro um ar diferente e sou capaz de outro fôlego; a ventania sopra na esquina.

Somos intensos demais em desejar para afirmar que somos feitos para um único temporal ou para uma única batida no peito que nos faz perder o rumo. Quem o faz, também possui riquezas, mas não o faz superior. Perder o caminho pode ser um excelente atalho para o encontro futuro. Um porta-retrato substituído não configura uma perda, e sim um acréscimo na história de quem opta em amar.

Não faças da tua vida um rascunho. Poderás não ter tempo de passá-la a limpo

Não faças da tua vida um rascunho. Poderás não ter tempo de passá-la a limpo

Conforme o fim do ano se aproxima, um emaranhado de sentimentos se mistura dentro de nós, de modo que nos sentimentos angustiados diante da dualidade de sentimentos que acumulamos e que encontram, nessa época do ano, o seu principal florescimento. Diante disso, devemos, antes de tudo, considerar o que é essencial para que nos mantenhamos vivos, a felicidade.

Não existe meio de definir o que faz alguém feliz, assim sendo, as inúmeras fórmulas de felicidade que o mercado oferece constantemente através da publicidade não se aplicam ao que entendo como felicidade, uma vez que todo ser humano carrega uma subjetividade e, portanto, a sua felicidade estará condicionada a fatores intrínsecos a sua personalidade.

Posto isso, submeter-se a leis do mercado, apenas para enquadrar-se ao protocolo social, não é felicidade ou, pelo menos, não a toca no seu âmago. Ser feliz requer coragem para que se viva do modo que lhe apraz, isto é, do jeito que lhe faça verdadeiramente se sentir bem. Contemporaneamente, observamos que, ainda que se pregue ininterruptamente sobre liberdade, as pessoas estão cada vez mais automatizadas e padronizadas, de maneira que buscam atender ao protocolo social supracitado, mesmo que isso não lhes faça felizes.

Ao vivermos de acordo com o padrão, deixamos de ser nós mesmos e passamos a ser representações frágeis de algo que não faz o nosso coração mais forte. O grande problema é que, com o passar do tempo, vamos nos afastando mais e mais de nós mesmos, até que nos tornemos estranhos do eu que outrora existiu. Mais: o tempo não volta para que possamos preencher as lacunas que deixamos ou para consertar aquilo que devíamos ter feito com mais afinco.

Esse sentimento de impotência diante do tempo, que é natural a qualquer pessoa, piora em relação a pessoas que vivem como verdadeiros soldados adestrados, pois, na medida em que nos damos conta de que, a cada ano, as areias da ampulheta diminuem, percebemos que as nossas vidas não passam de um rascunho feito como outro qualquer.

Mas será que nossas vidas não são mais valiosas que um simples rascunho? Será que a subjetividade que nos forma, as nossas idiossincrasias, a nossa beleza, não merecem ser consideradas e mostradas nos traços do nosso existir? Parece-me que sim e, por isso, devemos aproveitar cada instante que possuímos, para que possamos deixar a nossa marca no mundo. Sim, cada instante, já que não sabemos quando esse instante será o último, além de o tempo, por mais que seja clichê, passar muito depressa.

De repente, a gente acorda, as marcas de expressão já são mais difíceis de serem escondidas, os cabelos brancos se misturam aos pretos e nós somos apenas o acúmulo de uma vida vazia. Vidas que não vibraram, porque preferiram se “adequar”. Vidas que sorriram pouco, porque só sorriam quando outros sorriam. Vidas secas, porque não foram molhadas por lágrimas de amor.

Para que seja mais do que um simples rascunho, não se mantenha em silencioso desespero. Grite a pessoa que há dentro de você. Não se preocupe tanto com as opiniões alheias, para que não se torne alheio a si próprio. Sê inteiro em tudo que faz, sem máscaras, para que seja terno tudo que toques. A brevidade da vida é o que a torna valiosa; assim, aproveite-a, sendo você e não o que querem que você seja.

Somente dessa forma terá colorido suficiente para fazer da tua vida um belo quadro, com traços que somente serão encontrados nele, pois um ano que se encerra é um ano que se vai, sobretudo quando voltamos e nada conseguimos enxergar. A felicidade está para aqueles que saem da vida, mas deixam sua história, contada em primeira pessoa, em alto e bom som. Sê corajoso para dar traços fortes a tua vida, porque, se fizeres da tua via apenas um rascunho, como disse um tal de Mario – “Poderás não ter tempo de passá-la a limpo”.

O que você gostaria de mudar no seu corpo?

O que você gostaria de mudar no seu corpo?

Por Psique em Equilíbrio

O que você gostaria de mudar no seu corpo? Quem nunca se deparou com essa pergunta e não enumerou partes de si mesmo que gostaria de transformar, retirar ou incorporar?

Este vídeo nos mostra esta questão pelas perspectivas de adultos e de crianças e o resultado é realmente surpreendente!

Assista:

A questão que fica é: Quando perdemos a capacidade de nos amarmos da forma como somos e de nos aceitar integralmente?

A cultura nos impõe padrões estéticos muitas vezes inatingíveis, porém não nascemos com eles, mas sim, os adquirimos ao longo dos anos. Eles são formados através das opiniões alheias, dos padrões de beleza exigidos pela sociedade, por aquilo que é tido como belo, atraente e aceitável numa determinada época.

Como disse C.G Jung: ” Todos nós nascemos originais e morremos cópias“.

Alguém que cresce se sentindo um peixe fora d’água não aceitará o próprio corpo e a própria natureza com facilidade. E como nos mostra o vídeo, isso acaba por limitar a visão e as possibilidades de existir no mundo.

A criança carrega a pureza de enxergar além da aparência, trazendo aquilo que nos liga ao fantástico e ao inimaginável. O que mais uma criança poderia querer do que superpoderes capazes de proporcionar a ela uma expansão da sua vivência no espaço e no tempo? E por que nós adultos perdemos essa capacidade criativa?

É hora de entendermos que a humanidade, assim como a natureza, encontra sua beleza e vitalidade justamente na diversidade! E isso não se faz através de corpos perfeitos e alterados, mas sim de pessoas adaptáveis, criativas e que estão em busca de sua plenitude!

18 características de um bom mentiroso

18 características de um bom mentiroso

POR Ana Carolina Prado

A revista Scientific American mencionou recentemente o trabalho de uma equipe de pesquisadores liderados pelo psicólogo  holandês Aldert Vrij, da Universidade de Portsmouth, que listou características típicas de mentirosos convicentes para ajudar a identificá-los:

1- São manipuladores. Segundo o artigo, manipuladores mentem frequentemente e não têm escrúpulos morais – por isso, sentem menos culpa. Eles também não têm medo de que as pessoas desconfiem e não precisam de muito esforço cognitivo para fazer isso. A coisa meio que acontece naturalmente.

2- São bons atores. Quem sabe atuar tem mais facilidade em mentir e se sente confiante ao fazer isso, pois sabe que é capaz de fingir muito bem. (Antes que comece a polêmica, não estamos dizendo aqui que bons atores são necessariamente mentirosos. A lógica é oposta: bons mentirosos é que são, geralmente, bons atores)

3- Conseguem se expressar bem. “Pessoas expressivas geralmente são benquistas”, dizem os pesquisadores.  Elas dão uma impressão de honestidade porque seu comportamento sedutor desarma suspeitas logo de início, além de conseguirem distrair os outros facilmente.

4- Têm boa aparência. Pesquisas já mostraram que pessoas bonitas tendem a ser mais queridas e vistas como honestas, o que ajuda quem curte enganar os outros.

5- São espontâneos. Para acreditarmos num discurso, ele precisa parecer natural. Quem não tem a capacidade de ser espontâneo acaba parecendo artificial – e fica difícil convencer alguém desse jeito.

6- São confiantes enquanto mentem. Bons mentirosos geralmente sentem menos medo de serem desmascarados do que as outras pessoas. Então, mantêm uma atitude confiante em relação à sua habilidade de mentir.

7- Têm bastante experiência em mentir. Assim como nas outras coisas, o treino também leva à perfeição quando se trata de mentir. Quem está acostumado a isso já sabe bem o que é necessário para convencer as pessoas e conseguem lidar mais facilmente com suas próprias emoções.

8- Conseguem esconder facilmente as emoções. Em algumas situações mais arriscadas, mesmo um mentiroso veterano pode sentir medo e insegurança. Nesse caso, é fundamental conseguir camuflar bem essas emoções. Além disso, já dissemos que mentirosos geralmente são pessoas expressivas, né? Pois é: eles costumam ser bons em fingir sentimentos que não estão realmente sentindo, mas também tendem a manifestar seus verdadeiros sentimentos espontaneamente. Por isso, é necessário ter habilidade em mascará-los para que não venham à tona.

9- São eloquentes. Pessoas eloquentes conseguem confundir mais facilmente as pessoas com jogos de palavras e conseguem enrolar mais nas respostas caso lhe perguntem algo que exija outras mentiras.

10- São bem preparados. Mentirosos planejam com antecedência o que vão fazer ou dizer para evitar contradições.

11- Improvisam bem. Mesmo estando preparado, é preciso estar pronto a improvisar caso alguém comece a desconfiar da história que ele inventou ou as coisas não saiam como esperava.

12- Pensam rápido. Para improvisar bem, é preciso pensar rápido. Quando imprevistos acontecem, e fica fácil desconfiar quando a pessoa fica sem resposta ou tenta ganhar tempo dizendo “ahhn” ou “eee”. Bons mentirosos não têm esse problema e conseguem pensar em uma saída rapidamente.

13- São bons em interpretar sinais não verbais. Um bom mentiroso está sempre atento à linguagem corporal do seu ouvinte e consegue interpretar sinais não-verbais que possam indicar desconfiança. Caso identifique indícios de suspeitas, ele muda de atitude ou melhora a história.

14- Afirmam coisas que são impossíveis de se verificar. Por motivos óbvios, bons mentirosos costumam fazer afirmações sobre fatos que sejam impossíveis de se provar e evitam inventar histórias mirabolantes que poderiam ser facilmente desmascaradas.

15- Falam o mínimo possível. Quando é impossível falar algo que não pode ser verificado, o mentiroso simplesmente não diz nada. Se a peguete pergunta ao mentiroso onde estava naquela noite em que não atendeu ao telefone, ele vai preferir responder algo como “honestamente, eu não me lembro”. Melhor do que inventar que teve de levar a avó ao médico. Quanto menos informação fornecer, menos oportunidade ele terá de ser desmascarado.

16- Têm boa memória. Quem quer desmascarar um mentiroso procura por contradições no seu discurso, porque muitas vezes eles podem simplesmente se confundir ou esquecer detalhes que inventaram. Mas não se impressione se a pessoa conseguir se lembrar e repetir cada vírgula do que lhe contou anteriormente. Bons mentirosos geralmente têm ótima memória.

17- São criativos. Eles conseguem pensar em saídas e estratégias que você nunca imaginaria. Mas não se deixe levar pelo seu brilhantismo – afinal, é isso o que eles querem.

18- Imitam pessoas honestas. Mentirosos procuram imitar o comportamento que, no imaginário das pessoas em geral, são típicos de quem só diz a verdade – e evitam se parecer com a imagem que se tem dos mentirosos.

Apesar deste parecer um manual para ajudar as pessoas a mentir melhor, os pesquisadores têm certeza de que essa lista não é capaz de melhorar a capacidade mentirosa de ninguém. Isso porque a maioria dessas características são inerentes à pessoa e têm a ver com aspectos da sua personalidade. Para a ciência, o melhor mentiroso é aquele que nasceu assim.

Fonte indicada: Superinteressante

A Dança/ Soneto XVII- Pablo Neruda

A Dança/ Soneto XVII- Pablo Neruda

A Dança/ Soneto XVII

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Pablo Neruda

Uma boa faxina de final de ano!

Uma boa faxina de final de ano!

 

Mera formalidade, a vida e o tempo ignoram o calendário, mas gostamos de fechamentos e conclusões. Final do ano sempre sugere limpeza, descarte, reforma, mudança de ares e vibes.

A faxina da casa é a parte mais fácil. Descartamos aquelas coisas de cozinha que compramos prometendo uma inovadora utilidade e jamais usamos; jogamos fora revistas, jornais, etiquetas e notinhas fiscais; doamos livros, roupas, bibelôs e outras tranqueiras que, por final concluímos que só serviram para acumular poeira. O ambiente se renova, a casa fica mais aliviada, parece que tudo vai andar bem no novo formato e pensaremos duas vezes antes de comprar tudo de novo…

Então, chega o momento do check list das pendências, promessas, compromissos e sentimentos empoeirados e acumulados na estante pesada. Por onde se começa uma limpeza como essa? De onde retirar coisas, de modo que a estante não se desequilibre e tombe com tudo por completo?

Abolir o mais pesado pode parecer um grande alívio, mas, se por um segundo isso escorrega, o estrago será grande!

Melhor começar pelas poeirinhas que voam, aquelas que pensamos que já foram, mas que, quando viramos as costas, pousam novamente nos móveis e em nossas consciências.  As poeirinhas teimosas das implicâncias, desejos de revanche, invejas e ciúmes descabidos, tantas vezes sutis, mas que causam grandes e sofridos estragos.

Feito isso, uma boa ideia seria aspirar todas as palavras que não foram ditas, as brigas internas, as discussões ensaiadas e jamais travadas, os insultos e difamações cogitados em momentos mais tensos. Aspirar e liberar, esvaziar o coletor.

Por fim, para clarear e perfumar novamente o que já andava cinzento e sem vida, distribuir, mesmo que em pensamento, todos os votos possíveis de saúde e paz aos desafetos,  compreensão aos mais difíceis, paciência, entusiasmo, criatividade e muita vontade de viver a nós mesmos e a todos os que pudermos afetar com o nosso convívio.

E, com a faxina em progresso, já seremos capazes de olhar através das vidraças o amanhecer do próximo ano, que promete ser exatamente do jeito que lidarmos com ele. Que comece limpo e claro!

O mundo não precisa de gente “melhor do que os outros”. Precisa de gente melhor

O mundo não precisa de gente “melhor do que os outros”. Precisa de gente melhor

Aos que se convenceram do quanto o trabalho honesto, o respeito, a tolerância e a gentileza vão melhorar este mundo aos poucos, a partir das ações de cada um.

A quem percebeu que ser “bom” é bem diferente de ser “bonzinho”. E que a segunda opção é só mais um disfarce das pessoas ruins.

Aos que aproveitam toda angústia para aprender sobre si mesmos e os outros. Aos que encaram a aflição com firmeza como quem diz “não, eu não quero você aqui e vou trabalhar para isso!”

A quem descobriu que amar liberta e jamais aprisiona. Que cada um tem seu jeito de oferecer e receber amor. E aos que, justamente por isso, não admitem dar o nome de “amor” a qualquer sentimento mesquinho, tacanho e egoísta cujos únicos fins são a posse e o sofrimento.

Aos seres de boa vontade que aprendem com seus erros e trabalham duro para melhorar tanto quanto possam. A quem compreendeu que ser melhor “para o outro” é melhor do que ser “melhor do que os outros”.

Aos que de repente se deram conta de que a vida é um instante precário e fugaz, como um passarinho diferente que aparece em sua janela, e que é preciso ter alguém com quem dividir a visão. Alguém além de você para atestar: “é verdade, um dia um passarinho engraçado parou na janela, mirou sorrateiro as coisas lá dentro e depois foi embora.”

Aos que desconfiam de que viver é uma “ação entre amigos”. E que não tomar parte na vida de alguém ou não deixar que alguém se torne parte da sua é mais ou menos como arrancar da vida sua fatia mais preciosa.

Aos que sofrem e choram, aos que perdem e ganham e compreendem o quanto isso tudo é relativo.

Àqueles que têm o sorriso manchado de amor e de dor, de esperança e saudade.

Aos que ainda acreditam que fazer uma coisa bela, qualquer coisa, um bolo de presente ao casal amigo, uma gentileza inesperada, um elogio sem pretensão, um telefonema de aniversário, qualquer coisa à toa dessas, é o mesmo que construir algo de útil entre tanta inutilidade e aspereza.

A quem valoriza os amigos, a gratidão, os bons modos, a inteligência e as perguntas mais do que qualquer resposta.

A todos esses e, sobretudo, aos que não se encaixarem em nenhuma das alternativas acima, desejo com honestidade um Ano Novo melhor, mas muito melhor do que este, em que sejamos melhores, mas muito melhores do que somos agora.

INDICADOS