O “misterioso” caso de quem é deixado porque faz tudo pra agradar

O “misterioso” caso de quem é deixado porque faz tudo pra agradar

Estava tudo bem entre a gente. De repente você me deixou.

Eu não sei o que houve, apenas senti que você foi se afastando, foi ficando distante, diferente, ou melhor, indiferente. Eu fui me desesperando e o meu desespero acabou piorando as coisas. Queria te segurar e quanto mais eu lhe segurava mais você foi me escapando. Do dia para a noite me vi lutando contra uma correnteza que me levava; que te levava para longe de mim. E hoje eu me sinto vencida.

Naquele dia você não me atendeu, as suas respostas às mensagens que eu enviara foram  monossilábicas e demoravam cada vez mais a chegar. Cada tentativa de me aproximar, de fazer com que tudo voltasse a ser como era antes contribuíam para este tão conhecido final: deixaram-me de novo. Você me deixou. Você também me deixou.

No começo foi tudo tão bom, parecia que eu estava sonhando, era perfeito, eu finalmente havia encontrado a pessoa da minha vida. Eu busco incessantemente a pessoa da minha vida e a vida sempre me engana. A pessoa nunca chega, ou ela chega e vai embora. Eu te amava tanto, eu fazia tudo para agradar. Pensava em você o dia todo, tudo me lembrava de você, queira estar ao seu lado o tempo todo, queria lhe encher de mimos.

Sou perseguida desde criança por um medo de que as pessoas me deixem e, quando começo a sentir esta conhecida sensação, logo acontece. Já fui deixada muitas vezes, meus relacionamentos parecem ser amaldiçoados por uma profecia malévola. As pessoas me deixam, parecem se desencantar, parecem se cansar ou se atraem por algo que lhes desvia a atenção de mim e do nosso relacionamento. Eu me dedico tanto, faço tudo para agradar. O que há de errado nisso?

Olho para as pessoas e me pergunto como elas conseguem se relacionar. Como e porque conseguem conquistar manter relacionamentos duradouros enquanto eu, que os procuro incessantemente, todos os dias e que, quando encontro, me dedico inteiramente a eles acabo sempre me deparando com o abandono e a solidão.

 Inúmeras foram as vezes nas quais ouvi relatos como este e muitas foram também as vezes nas quais eu observei de perto histórias como esta acontecerem. Dentro e fora do consultório é bem comum ver a dor das pessoas quando são abandonadas por quem estava se relacionando afetivamente com elas. Embora o mundo hoje seja de relações líquidas como incessantemente disse Bauman em sua obra, ainda há bastante gente sofrendo quando se desencontra do outro. Ainda há muita gente se relacionando afetivamente trazendo consigo resquícios de desamparo e abandono adquiridos ainda em idade tenra.

A psicanálise mostra com clareza as ligações entre as vivências da primeira infância e adultos que protagonizam relatos como o que lhes trouxe. É preciso sim superar o modelo das nossas primeiras relações para que não sigamos repetindo os mesmos erros, os mesmos padrões. Não quero aqui restringir-me a uma única abordagem teórica. Eu poderia diagnosticar e sugerir terapêutica psicanalítica ou comportamental para a queixa acima. O mais importante é: torna-se preciso, ou melhor, imprescindível que nos conheçamos antes de desbravarmos o desconhecido de uma relação afetiva.

É preciso que sejamos sustentáculo de nós mesmos para podermos depois nos aproximarmos do outro para acrescentar, para trocar e não para exigir que o outro seja coadjuvante na nossa história e que siga o modelo de comportamento que nossa expectativa criou. Vejo muita gente buscar incessantemente ao outro e que, quando o encontra, passa a agir como se este outro fosse uma espécie de fantoche desprovido de vontades, de história, de direito ao tempo e ao espaço.

Imagina-se amando tanto que, de tanto amar, ao outro sufoca.

É preciso medir o quanto há nisso de amor e o quanto há nisso de desamparo e da busca pelo que irá tapar os buracos que ficaram abertos lá atrás. Só o autoconhecimento pode ajudar a aceitar e a superar os obstáculos emocionais que a vida impõe a todos nós. Só quem torna-se capaz de caminhar sozinho consegue conduzir a caminhada em parceria com leveza e sanidade. Só quem sustenta-se sozinho, em pé sobre o solo, sem ter que se escorar, que se apoiar no outro, consegue o equilíbrio necessário para estar ao lado de alguém sem tornar-se aversivo.

Muitas são as vezes nas quais observamos pessoas interessantes, inteligentes e de bom caráter presas neste círculo vicioso; colecionando abandonos e imaginando-se seres de pouca sorte ou vítimas do karma, da inveja e da vontade de deus. Pessoas que acreditam cegamente que a felicidade está no relacionamento afetivo e que se tornam desesperadas como os que estão prestes a se afogar, agarrando-se desesperadamente aos que aparecem para lhes salvar. O desespero pode acabar afundando ambos ou levar o outro a lhes abandonar ali, sob o risco de se afogar junto. Relacionamento afetivo não é salva-vidas de ninguém.

A calmaria é sempre propícia nos relacionamentos. O encanto, o respeito e principalmente o bom senso de não jogar no outro todas as nossas expectativas, carências, traumas e necessidades pode escrever uma linda história.

Imagem de capa: Zivica Kerkez/shutterstock

Nem os grandes amores resistem a uma pequena paciência.

Nem os grandes amores resistem a uma pequena paciência.

Encontrar o amor não é tão difícil, se comparado à árdua tarefa que consiste em mantermos acesa a chama afetiva que nos mantém juntos de quem amamos. Após o encontro amoroso, afinal, existe um longo caminho a ser percorrido, para que os sentimentos se fortaleçam e tornem a jornada conjunta repleta de cumplicidade e admiração mútua.

As pessoas vêm de universos diferentes, passaram por vivências próprias, sobreviveram a tempestades únicas e, de repente, precisam confrontar tudo o que são com alguém de fora, tentando harmonizar perspectivas na maioria das vezes dissonantes e distantes, em favor da necessidade de amarem e serem amadas. A paixão chega, arrebata e nos lança ao encontro de um mundo outro, no qual mergulharemos às cegas, a fim de saciarmos a fome de amor que é tão nossa.

A convivência diária não é fácil, uma vez que o tempo nos mostra e nos desnuda em tudo o que somos, da mesma forma nos trazendo as verdades de quem está ali ao nosso lado, mesmo aquelas que nos incomodam. Infelizmente, poucos estão dispostos a enxergar, fora de si e em si mesmo, o que lhes retira da zona de conforto, o que lhes obriga a refletir sobre o que têm feito da vida. E o companheiro sempre será o espelho que reflete o que estamos ofertando, o tipo de amor que construímos ou desconstruímos diariamente.

E, se não nos permitirmos a entrega na totalidade que o amor requer, acabaremos fatalmente nos furtando de dedicar o mínimo de nós mesmos ao outro, relegando-o ao vazio solitário de nossa presença incompleta. Não abriremos mão de nada, não ouviremos os sussurros sofridos ali ao lado, não olharemos fundo nos olhos que nos buscam em vão, não sentiremos as acelerações do coração que pulsa pertinho, não responderemos aos desejos, não tocaremos a pele, não daremos, enfim, importância a quem sempre esteve conosco.

E ninguém há de suportar o desprezo, a indiferença, a agressividade silenciosa e a companhia vazia de quem lhe prometera amar pelo resto da vida. O amor não aceita desaforo, não sobrevive de passado, tampouco se alimenta de esperanças unilaterais e de correspondência nula. Só amor, somente amar, apenas as lembranças do que já foi mas não é mais, nada disso será capaz de manter duas pessoas juntas. Porque o amor é, sim paciente, mas tem o limite exato da dignidade que nos sobra ao fim do dia. Nada mais do que isso.

Você é presa fácil para um abusador?

Você é presa fácil para um abusador?

Qualquer pessoa que interesse ou que convenha, fica na mira de sociopatas. Eles são atraídos por pessoa que possam fornecer-lhes suprimento narcísico. Seu pó de pirlimpimpim, cheio charme e bombardeamente de amor é poderoso e atrai a maioria das pessoas. Mas se você estiver com seu “radar anti-narc” funcionando, sairá ileso rapidamente, assim que perceber com quem está lidando.


Existem pessoas, porém, que, por suas características pessoais, são mais suscetíveis a serem presa fácil para um perturbado.

Então observe: Você, seja homem ou mulher, é uma pessoa:

Cuidadora?

Doadora?

Empática?

Otimista?

Generosa?

Sonhadora?

Idealizadora?

Romântica?

Independente?

Solitária?

Bem sucedida?

Cheia de vida?

Sente-se facilmente culpada?

Tem dificuldade para dizer NÃO?

Tem dificuldade para impor limites?

Confiável e que confia facilmente?

Atraente, mas insegura?

Tem problemas de autoestima?

Está fora de uma relação estável?

Estável financeiramente?

Com boas aspirações para o futuro?

Mora só ou com filhos pequenos?

Acredita no bem da humanidade?

Querida pelos amigos e familiares?

Comprometida com sua palavra?

Teve a figura materna ou paterna emocionalmente ausente?

Se você respondeu sim para um número importante destas características, você pode ser uma presa fácil para sociopatas e abusadores em geral. Eles buscam em você aquilo eles não possuem e desejam para si, incluindo coisas materiais, mas não somente. Sua energia, seu sorriso, sua generosidade e empatia são coisas que eles desejam tomar de você. E com pouquíssimo tempo, conseguirão. Depois que você tiver dado o que tem e perdido seu brilho, você será LIXO DESCARTÁVEL.

Mas atenção! Esses perfis abusivos não largam de sua presa fácil e lançam mão de promessas e mímicas de bons comportamentos para que você não se distancie antes que eles “terminem o trabalho”.

Espere. Talvez você esteja dizendo para si mesmo “ah, mas sou eu que sempre vou atrás quando terminamos”. Bem, pense duas vezes. Sociopatas e abusadores em geral são experts em manipular de modo que VOCÊ se movimente para voltar. Se você não o faz, logo passam a stalkear e a fazer promessas de amor eterno, vitimizando-se, dizendo-se abandonados, arrependidos ou inculcando-lhe culpa.

Quando nada disso funciona, passam a desfilar seus novas alvos diante de seus olhos, propagando uma felicidade aparente que, se sua memória estiver boa, vai saber que não é real. Fazem isso na esperança de fazer você pensar “no que está perdendo” e que talvez o problema esteja em você.

Portanto, mantenha essa informação em mente e fique alerta. Eduque-se e ao primeiro sinal de abuso, saia por uma porta que não seja possível abrir atrás de você. Feche a porta de entrada desses tipos em sua vida, e se já estiver com um, feche o portal de comunicação entre vocês AGORA e PRESERVE-SE!

CONTATO ZERO é o nome desse jogo, se você quiser vencê-lo.

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A morte de Ivan Ilitch e a queda da máscara existencial

A morte de Ivan Ilitch e a queda da máscara existencial

Já dizia o poeta que a morte é o único mal que não pode ser remediado. Outros podem dizer que a morte é a última fronteira. E alguns dirão que a morte é apenas a libertação da alma. Fato é que ela, de um jeito ou de outro, amedronta. Para Ivan Ilitch, não foi diferente.

A novela de Tolstói é uma obra que fascina, por tratar de um dos temas mais importantes da história do pensamento humano, a saber, a morte. A vida de Ivan é definida, logo no início da obra, como uma das mais simples, mais comuns e, portanto, mais terríveis.

Essa definição é primordial, pois o medo da morte nos coloca num ponto de introspecção, em que refletimos sobre nossa vida e se esta valeu a pena. Sendo assim, inicialmente já se percebe que a vida do protagonista não foi bem vivida como o próprio acreditava.
Ivan Ilitch era um sujeito pragmático e racional. Desse modo, levava sua vida segundo um princípio básico: viver de maneira leve, agradável e decente. Qualquer coisa que atrapalhasse essa ordem lógica era um entrave ao que Ivan acreditava ser felicidade. Como racionalista, as suas alegrias vinham de pontos bem específicos:

“A alegria que Ivan Ilitch encontrava no trabalho era a alegria da ambição; as alegrias da vida social eram as da vaidade; mas as verdadeiras alegrias era proporcionadas pelo uíste.”

Fica claro que as alegrias começam e terminam em Ivan Ilitch, o que demonstra o seu egoísmo, mas, ao ver do protagonista, condizem com uma vida decente. Em verdade, não condizem, contudo, ao longo da vida, cada indivíduo cria uma definição de si mesmo, a qual se busca manter como uma espécie de auto-crença. Montaigne nos diz que: “A vida vivida ao longo da vida, é um teatro de simulações, onde somos, em grande medida, escravizados por aquilo que acreditamos que somos!”.

Essa máscara existencial, a qual Ivan Ilitch usava, só começa a ser percebida a partir da sua doença, pois é somente no instante da morte que podemos julgar toda uma vida. Assim, é a doença que permite, ao protagonista, olhar para dentro de si criticamente.
O medo da morte o faz perceber a finitude da vida, logo ele, que entendia fim com apenas um sentido, qual seja, finalidade. De modo que procurou viver de forma racional em tudo o que fazia. Nietzsche já advertia que é muito ingênuo acreditar que as coisas só podem resolver-se pela lógica. E, assim, a morte (tão ilógica) é o estopim da  mudança na cosmovisão de Ivan Ilitch.

Essa mudança acontece, pois o medo da morte o fez perceber o teatro que o cercava, que, por trás do requinte, escondiam-se mentiras, as quais eram mantidas pela “decência” que ele defendeu por toda uma vida. E eram essas mentiras que alimentavam a dor moral de Ilitch.

“O que mais fazia Ilitch sofrer era a mentira, aquela mentira aceita por todos.”

Ilitch se viu impotente em relação à morte, uma vez que a morte é toda relação que apequena, entristece, tira a potência (Espinosa). Assim sendo, à medida que as relações entristecem Ivan, este vai morrendo. Em outras palavras, o medo é uma queda de potência determinada pela consciência, isto é, se Ivan tem medo da morte, é porque ele não viveu como deveria e, portanto, entristece-se ao saber que não viveu da forma decente como sempre acreditara.

“E ele começou a repassar na imaginação os melhores momentos da sua vida. Mas – coisa estranha! – tais momentos não lhe pareciam agora tão agradáveis como cuidava que fossem, salvo as primeiras recordações da infância.”

A doença que acabara com a decência da vida de Ivan foi a mesma que o fez perceber que a sua vida foi tão fútil e mesquinha quanto a dos outros. Ora, a doença mostrou-lhe que, até ali, a sua vida não fora decente, que ele era incapaz de colocar-se no lugar dos outros, de viver para alguém além de si mesmo, de criar laços. E, assim, via a falsidade nos olhos dos outros, enxergava, ao mesmo tempo, a própria falsidade da sua vida.

Ivan Ilitch percebe que, à medida que sua vida escoa, os momentos que viveu e, sobretudo, não viveu são irrecuperáveis. Percebe que a doença encontrou terreno farto para se reproduzir, pois tudo o que vivera não passava de mentiras, mentiras que agora o entristeciam e irrigavam o terreno da dor moral que sentia, fazendo esta ser muito maior do que a dor física que sentia.

“Quando entrou a repassar o período que gerava o atual Ivan Ilitch, tudo o que lhe parecera ser alegria se desmoronava ante seus olhos, reduzindo-se a algo desprezível e vil.”

A morte foi, para Ivan, uma libertação do teatro que o cercava, mas, ainda assim, o deixava impotente. A morte nos amedronta, faz querer fugir; fugir da verdade da morte, que mostra a nossa finitude e todas as redes de mentiras que tecem a vida social. Mas, acima de tudo, entristece ao próprio ser, que, ao deparar-se com a morte, percebe o quão vazia foi sua vida.

Assim, a boa vida não é aquela que se preocupa tão somente com a finalidade das coisas, mas com o término, pois é por ter um fim que a vida possui valor e devemos atribuir-lhe valor. Não como Ivan e sua monótona vida burocrática, mas com aquilo que nos permite olhar nos olhos do outro e enxergar que a vida, de fato, foi decente, que o amor se fez presente e que, quando se for, seja importante; não para a alta sociedade, mas para quem possa portá-lo dentro de si, como um pedacinho seu que continua vivo.

Encha de ternura os silêncios da sua vida

Encha de ternura os silêncios da sua vida

Muitas vezes caminhamos na vida com a expectativa de recebermos algum tipo de resposta ou retorno de algo ou alguém. Projetamos nossas ansiedades no outro, projetamos um sonho em uma empresa, projetamos uma euforia desmedida em um projeto e ele morre, sem que saibamos qual a razão disso.

Aquela mensagem não chega, o telefone não toca, o encontro não acontece, a entrevista de emprego não dá em nada, o projeto não é aprovado e nós nos deixamos então envolver por um silêncio que nos soterra com razões fatalistas.

O que não podemos esquecer é que esse silêncio guarda um mundo de suposições e cabe apenas a nós escolher as melhores para tudo, as mais otimistas e as mais gentis. Devemos lembrar que é muito provável que as reais razões para nossas expectativas frustradas nunca nos cheguem realmente. Então por que escolher o pior para explicar o inexplicável?

Quando estamos afoitos por uma resposta e não a recebemos, sempre pensamos que não fomos bons o suficiente para vivermos uma nova relação, que não tivemos a qualificação necessária para o emprego dos sonhos, que não encontramos em nós a ousadia necessária para conquistarmos a promoção esperada. Quase sempre nos culpamos pelas razões do mundo. Mas as razões do mundo são do mundo, não nossas!

É comum que imaginemos que se tivéssemos feito de outra forma as coisas teriam tomado outra direção. Se tivéssemos falado ou agido de outro jeito tudo seria diferente. Mas não é assim que o mundo funciona. Muitas palavras se perdem, e-mails e mensagens não são respondidos e projetos são engavetados sem razão. Não nos cabe a culpa, não nos cabe apontar o dedo para nosso nariz como se fôssemos os responsáveis por todas as mazelas mundiais.

Cada cabeça é uma sentença e provavelmente aquela pessoa especial não estava interessada em algo mais sério. Aquela empresa não tinha interesse em contratar funcionários depois do fim do estágio. Um projeto muitas vezes não se encaixa no perfil de um concurso. Isso não nos desmerece em nada, nós devemos seguir tentando.

Então quando formos pincelar os motivos pelas não respostas. Os motivos pelo que não foi, que nós possamos nos acolher com imensa ternura. Que possamos nos amar e resguardar o melhor que nos habita. Que o silêncio vindo de onde esperávamos uma resposta possa dizer o melhor de nós.

Que nós possamos deixar de lado nossos complexos e não usá-los como razão para tudo. Muitas vezes eles incomodam apenas a nós mesmos e não tiveram nada a ver com a razão das coisas não terem saído como desejamos.

Devemos fazer o nosso melhor, emprestar aos nossos sonhos nossa parte mais otimista, ofertar ao mundo o nosso lado mais amistoso. Não nos cabe desistir na primeira tentativa. Não nos cabe qualquer tipo de flagelação pelo que não foi. Nos cabe amar o nosso esforço, nos cabe dar colo às nossas expectativas e nos cabe corajosamente tentar e tentar.

E quando o silêncio nos soprar, mais cedo ou mais tarde, que nós possamos ouvir nele, em sussurro, as palavras mais amigáveis, as frases mais construtivas e as razões mais compreensivas. Que nós possamos deixar esse silêncio nos abraçar e nos confortar. Que nós possamos encontrar nele a paz de ser quem somos, sem ressentimentos ou pesares por isso.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Eu escolhi viver num mundo onde tudo é possível

Eu escolhi viver num mundo onde tudo é possível

É possível que alguém acredite no bom senso num mundo como o de hoje?

E na palavra de outro alguém? E nas intenções? Na vontade de fazer o certo?

Geralmente se acredita no que convém, no que parece mais com a verdade e senso de justiça que se conhece.

O mundo encolhe ou se expande no ritmo de cada respiração, de cada arquear de ombros ou dobra de joelhos.

Eu escolhi viver num mundo onde tudo é possível. Um mundo que me convém, que me permite olhar para tudo e me fixar somente no que me interessa, um mundo que eu não conheço mais pelos jornais, mas também não faço uso de suas notícias para vomitar revolta nem desesperança.

Escolhi o mundo que se relaciona comigo, que me oferece ferramentas para crescer, instrumentos para trabalhar. Não olho mais para o mundo distante que não faz parte da minha existência. Não quero entender de tudo, não preciso saber de tudo, não me interessam competições, gincanas, corridas. Só encararia a corrida contra o tempo, de tanto gostar do meu mundo, mas em briga perdida não se entra.

Eu escolhi o mundo de pessoas que olha profundamente nos olhos de seus semelhantes, de gente que se esforça para ser mais do que um espantalho enfeitado no milharal, que não tem medo de abrir mão de coisas em favor de pessoas, que coloca o dinheiro no seu devido lugar e que acredita que poder mesmo só tem que é livre!

No meu mundo, ninguém maltrata gente nem bicho.  Nesse mundo a gente troca fácil uma festa pomposa por aquela reunião barulhenta de amigos, com direito a confissões e gargalhadas até a barriga doer.

E que vai me condenar por escolher e decorar o meu mundo da forma como quero vê-lo? Mais fácil batalhar essa utopia do que tentar se enquadrar no mundo como ele é. Mais lucro mudar um milímetro de mundo, do que comprimir uma vida inteira no milímetro que conseguiu vislumbrar, de muito longe.

E só para terminar, no mundo que eu escolhi viver, há dor, sofrimento e morte. Mas, sendo nele tudo possível, é possível também que eu entenda que tudo isso é perfeitamente normal, não coisa de outro mundo.

Os limites, os abismos e as linhas de chegada

Os limites, os abismos e as linhas de chegada

Há quem ainda tenha fé no bom senso de todos os seres humanos. Essas pessoas tocam suas vidas acreditando que os outros à sua volta conseguem, de forma natural, entender até onde vai a sua liberdade de interferir, ou de depender, ou de controlar.

Este pode ser um risco mal calculado. A grande maioria de nós, não nasce com bons instrumentos de geografia emocional. Infelizmente, a chance de esbarrarmos com verdadeiros sugadores de alma, energia e vida, cresce numa escala geométrica a cada dia.

O culto à uma postura pautada na satisfação imediata dos desejos e necessidades pessoais, produz indivíduos extremamente autocentrados, cuja percepção dos limites alheios vive no mundo do desconhecido.

Houve um tempo em que ousou-se acreditar que o comportamento individualista ficava restrito, ou prioritariamente concentrado a centros urbanos capitalistas, ou ambientes corporativos voltados à produção de riquezas, ou, até mesmo a grupos familiares cuja dinâmica de funcionamento fosse regida pela competição entre seus membros, seja por bens materiais, atenção ou afeto.

Essa crença cai por terra diante de uma realidade concreta e mundial, segundo a qual as condições de sobrevivência, material ou filosófica, aparecem cada vez mais ligadas às habilidades de cada um em juntar bens de consumo, conquistar a admiração alheia e ostentar um sucesso que pode ser duradouro ou meteórico, tanto faz.

Assim, focados num objetivo estabelecido pelo outro, já que dependemos da sua audiência para sermos felizes, acabamos perdendo a noção dos limites. Vamos tocando a vida meio que de forma tão automática quanto irrefletida, e nos afastamos dos valores que deveríamos ter cultivado com o mesmo empenho que utilizamos para sermos bem-sucedidos socialmente.

Limites são linhas invisíveis; porém, absolutamente necessárias para garantir nossa opção pela vida e não, pela sobrevivência.

Precisamos conhecer nossos limites físicos, caso contrário viveremos em rota de colisão certa, porém não agendada, com um completo colapso das nossas capacidades de agir, sentir e pensar.

Precisamos conhecer nossos limites morais e éticos, porque sem eles tornamo-nos presas fáceis de nossa vaidade e loucura pelo poder. Loucura esta que, mais dia ou menos dia, fará de nós réplicas daquelas pessoas cujos comportamentos imorais e criminosos já criticamos um dia.

Precisamos conhecer nossos limites emocionais para que consigamos ser algo mais parecido com gente, e menos parecido com máquinas. É a linha afetiva que confere a cada um de nós a figura humana que apresentamos ao outro, quando o outro não tem nada para nos oferecer; quer seja o poder tão cobiçado; quer seja o sofrimento para nos garantir que existe alguém em situação pior do que a nossa.

Precisamos estabelecer limites à nossa autoindulgência, uma vez que essa excessiva permissividade certamente fará de nós pessoas molengas demais diante das dificuldades e demasiado empedernidas diante das falhas e dificuldades alheias.

Mas, não nos basta conhecer os próprios limites. Esse conhecimento, ainda que faça de nós seres humanos mais dignos e merecedores de confiança, não é capaz de nos garantir a paz. A paz, vem da nossa capacidade de estabelecer para o outro até que ponto ele tem permissão de tocar, conhecer e penetrar o nosso íntimo. Quando não somos capazes de fornecer ao outro o conhecimento da linha que determina quem é ele e quem somos nós; ficamos perdidos. E perdidos de nós mesmos, nunca poderemos nos encontrar, muito menos estaremos aptos para conviver. Sem termos conhecimento de nossas intersecções com o outro, nunca seremos capazes de ver a diferença entre limite, abismo e linha de chegada. Assim, podemos ser surpreendidos por uma queda fatal, quando pensávamos estar chegando no topo.

Especialista em sons da natureza adverte: o mundo animal está cada vez mais silencioso

Especialista em sons da natureza adverte: o mundo animal está cada vez mais silencioso

músico americano Bernie Krause já gravou com lendas como Bob Dylan, George Harrison e Stevie Wonder. Nos últimos 47 anos, porém, dedica-se a outro tipo de música: a orquestra da natureza. Krause se especializou em bioacústica e grava os sons de animais em florestas, mares, pântanos e desertos em várias partes do mundo. Hoje, ele possui um centro de pesquisa dos sons do mundo animal, com mais de quatro mil horas de gravações e 15 mil espécies em seu habitat natural.

O trabalho de Krause tem um valor inestimável já que, à medida que florestas são desmatadas e o clima se transforma, boa parte de seu trabalho é composto de sons que não existem mais. “Tudo está mudando por causa do aquecimento global, o nível dos mares e o desmatamento em geral. Metade dos meus arquivos vêm de habitats que ou foram radicalmente transformados pela ação do homem ou já estão em silêncio. Metade desses arquivos você já não pode ouvir de outra forma”, diz. Em entrevista a GALILEU, Krause explicou por que ele acredita que o mundo natural é uma narrativa que nos conta tudo que precisamos saber. Confira:

GALILEU: Antes de se dedicar à “orquestra da natureza” você era músico. O que o fez mudar de carreira?

Eu até conheci Tom Jobim e tivemos muitas discussões sobre isso também. Eu entrei nessa área porque como um músico eu sempre trabalhava em ambientes fechados e eu queria trabalhar ao ar livre. Em 1967, desisti da música de vez e fiz minha especialização em bioacústica, o estudo do som de animais vivos, e desde então trabalho na área. O que eu descobri no ramo dos animais foi a origem da vida, algo que o Tom fez, na verdade. Boa parte de suas músicas se baseiam nos sons da Mata Atlântica que ele ouviu ao crescer no Rio de Janeiro.

Você acha que nosso conceito de música é inspirado na natureza?

Toda nossa música é inspirada pelos sons da natureza porque somos mímicos. Nós aprendemos a imitar o que ouvimos no mundo ao nosso redor. Quando vivemos mais perto do mundo natural, organizamos os sons como os animais o fazem, imitamos o som solo de animais como pássaros e mamíferos e tiramos música daí. Quando começamos, éramos uma parte pequena da orquestra animal, porque precisávamos organizar esses sons para mostrar que fazíamos parte do mesmo grupo, para sobreviver.

Você tem experiência gravando os sons da natureza brasileira?

Eu gravei os sons de muitos lugares no Brasil, como Minas Gerais, Amazônia, a Mata Atlântica, eu fui ao Brasil muitas vezes e graveis em vários locais diferentes. Meu lugar preferido é a Amazônia porque lá o som é muito mais rico. É verdadeiramente mágico. Na Mata Atlântica, o problema é que o habitat foi tão prejudicado que é muito complicado gravar lá, você simplesmente não encontra mais muita diversidade.

Estamos enfrentando um sério problema de desmatamento na Amazônia agora também. Você tem uma comparação entre os sons da Amazônia ao longo de alguns anos?

Faz muito tempo que eu não vou ao Brasil, quero voltar à Amazônia, mas ainda não consegui financiamento para isso. O que sabemos é que, ao gravar sons naturais, você pode interpretar muito rapidamente as consequências da atividade humana, e as pessoas têm muito medo disso. Muitas indústrias não querem isso, então é muito difícil de conseguir financiamento. Porque mostra muito rapidamente os resultados do desmatamento, realmente mostra o antes e o depois das atividades do homem.

Por que usar gravadores e não câmeras para arquivar os sons da natureza?

Com uma câmera, é muito fácil enquadrar uma imagem que faz com que um habitat pareça saudável, mesmo quando ele não está. Já os microfones gravam em 360 graus, o habitat completo, e o som mostra uma perspectiva completa. O que eu falo aos meus alunos é que uma foto pode valer mil palavras, mas um som vale mais que mil imagens, porque o som nos fala a verdade, quantas espécies de pássaros, mamíferos, insetos e répteis estão ativos no lugar.

O silêncio é o som da extinção?

Nos anos 1960, uma mulher chamada Rachel Carson escreveu um livro chamado “A Primavera Silenciosa”, no qual ela explica o que vai acontecer se o mundo natural ficar silencioso por causa do homem. O que eu vejo é que estamos nos aproximando não só de uma primavera silenciosa, mas inverno, outono e verão silenciosos.

Mesmo em uma floresta densa como a da Amazônia, se você cortar apenas algumas árvores ali, as consequências serão sentidas em grande escala pelos animais que ocupam esse lugar há muito tempo. Ou seja, um efeito profundo no som que será sentido muito rapidamente. Nós temos que pensar nas formas como estamos afetando esses lugares e perguntar a nós mesmos se é isso o que queremos, o silêncio do mundo natural. São organismos vivos, essa é a vida de onde viemos, se a aniquilarmos, estaremos destruindo a vida à nossa volta. Essa é a voz divina, as pessoas falam em religiões, mas essa é a voz divina que está implorando por proteção. As nossas vidas dependem dela.

Confira, abaixo, a comparação de sons gravados por Bernie Krause em áreas que tiveram algumas áreas derrubadas:

Fonte indicada: Revista Galileu

Corações sujos

Corações sujos

Sair de casa com a roupinha cheirosa, sapato limpo, tudo arrumado e no seu lugar, e, no meio do dia já parecer um boneco amarrotado, é da vida. Para permanecer impecável, não se pode sair da vitrine. Esse é o ciclo suja-limpa-suja de todos os dias, com o corpo, as roupas, a casa, as ideias, as meias, as palavras.

A sujeira em si não é nada, é fuligem, poeira, voa para longe num sopro mais forte. A permanência da sujeira é que a fortalece, cria visgo, adesão, crosta.

Um sapato muito sujo ainda pode ser lavado e esfregado até que fique limpo novamente, embora com manchas e partes desgastadas.
Para um coração sujo não há alvejante no supermercado. Para décadas de depósito de poeiras e sujeiras, não há equipamento que aspire nem lave.

Alguns corações são sujos porque se permitiram virar depósito. Outros porque sentiram preguiça de efetuar as limpezas regulares, não encarando o lixo acumulado. Outros ainda talvez nem reparem, talvez pensem que está bem assim, que é normal olhar pela janela “cinzenta” e não enxergar o céu azul.

A limpeza de um coração exige renúncia. Renúncia ao lixo que virou escudo, cortina, fechadura.
Um coração sujo contamina os demais, exala veneno e ar tóxico, nem sempre porque quer, mas porque não sabe fazer diferente.

Como uma casa inabitável, um coração sujo precisa de faxina, de reforma, de uma grande caçamba na porta que caiba tudo o que não deve ficar mais, de um incinerador de mágoas e cobranças, de uma boa mão de tinta depois de lixado e lavado.

Não se condena uma roupa ou um sapato ao lixo porque estão sujos. Tampouco uma casa. O trabalho pode parecer impossível. E para alguns corações, é impossível mesmo dar conta sozinhos.
É preciso pedir ajudar. Família, amigos, profissionais, estudos, viagens, músicas, exemplos… Todo recurso é bem-vindo.

Ajudar um coração sujo a reaver sua cor e seu vigor é contribuir para a limpeza e manutenção do seu próprio coração, é entender o que quer dizer esse símbolo usado mundialmente para expressar o amor.

Só um brasileiro aparece entre os 100 livros mais pedidos nas universidades dos EUA: Paulo Freire

Só um brasileiro aparece entre os 100 livros mais pedidos nas universidades dos EUA: Paulo Freire

Apenas um livro de autor brasileiro aparece entre os 100 títulos mais pedidos pelas universidades dos Estados Unidos, de acordo com o projeto Open Syllabus. O projeto reúne ementas de disciplinas de instituições de ensino superior em todo o país e descobre quais são os livros mais solicitados pelos professores.

O único livro brasileiro a aparecer nos “100 mais” da lista é de Paulo Freire. Pedagogia do Oprimido, publicado pela primeira vez em 1974, aparece na 99.ª posição da lista. Segundo o Open Syllabus, o livro é requisitado em 1.021 ementas de universidades e faculdades dos EUA. Não é pouca coisa: o livro fica à frente de clássicos como Rei Lear, de Shakespeare; Moby Dick, de Herman Melville; e O Banquete, de Platão.

Pedagogia do Oprimido, de acordo com o projeto, também é o segundo livro mais pedido dentre todos os da área de educação. Perde apenas para Teaching for Quality Learning in University: What the Student Does, de John Biggs.

Outro livro bastante citado de um brasileiro (pelo menos dos que o blog conseguiu rastrear) é do ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Dependência e Desenvolvimento na América Latina tem 141 citações.

Como curiosidade, outros brasileiros que aparecem nas ementas são Clarice Lispector (A Hora da Estrela tem 40 citações); Machado de Assis (Dom Casmurro, com 33); e Euclides da Cunha (Os Sertõesaparece 27 vezes).

Dentre os paranaenses, há Dalton Trevisan, com duas citações, e Cristovão Tezza (O Filho Eterno, com uma citação).

Fonte indicada: Gazeta do Povo

92% dos estudantes universitários preferem o livro impresso ao digital

92% dos estudantes universitários preferem o livro impresso ao digital

Por Caio Delcolli

Se você é um leitor voraz, com certeza deve conhecer o prazer sem igual que é segurar um livro de papel em suas mãos e se deixar levar pela história impressa nele.

Você não está sozinho nisso. Uma recente pesquisa da American University, em Washington DC, Estados Unidos, mostra que mesmo hoje, com a possibilidade de leitura em várias plataformas digitais, como smartphones e tablets, e a forte presença dessa tecnologia na vida dos jovens, o livro de papel segue firme e forte entre os estudantes universitários, no que se refere a preferência.

Naomi Baron, professora de linguística da universidade, descobriu que 92% dos universitários preferem os livros impressos aos digitais para leituras sérias.

A pesquisa é parte do novo livro de Baron, Words Onscreen: the Fate of Reading in a Digital World (“palavras na tela: o destino da leitura no mundo digital”, em português). Ela e sua equipe entrevistaram 300 estudantes de países como EUA, Japão, Alemanha e Eslováquia.

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Alexis Bledel em cena de ‘Gilmore Girls’, série na qual ela interpreta Rory, uma leitora ávida | Reprodução

Segundo a professora, a atividade da leitura no papel tem componentes singulares, como o “físico, tátil e cinestético”. (Cinestesia é o sentido que nos diz quando partes do corpo se movem.)

“Nos dados eslovacos, quando eu perguntei o que ‘você’ mais gosta nas cópias impressas, um em cada dez falaram sobre o cheiro dos livros”, disse Baron, em entrevista à New Republic.

Outra característica apontada pelos estudantes foi a sensação de realização ao concluir um livro e vê-lo na estante.

Mas por que a geração digital ainda prefere o livro de papel?

“Há dois grandes problemas”, disse a professora, na mesma entrevista. “O primeiro é que eles dizem se distrair [facilmente], se afastar para outras coisas. O segundo tem a ver com o cansaço nos olhos, dores de cabeça e desconforto físico.”

“Um argumento que os estudantes deram a favor da mídia eletrônica é a preservação do meio ambiente. Mas essa é uma coisa difícil de se medir bem. Se você lê 400 livros no tempo de vida útil do seu kindle, ele foi eficiente à energia? Provavelmente”, explicou.

“Mas há a questão de energia e reciclagem. Onde esses dispositivos são reciclados? Quem faz a reciclagem? Que tipo de equipamento de proteção eles têm? E sobre toda madeira que usamos para [fazer] o papel – nós sempre tivemos maneiras criativas de usar lascas de madeira ou outras coisas para fazer papel.”

O digital, entretanto, não foram jogados para escanteio. As novas plataformas são as preferidas para leituras de forte aspecto visual ou notícias.

Fonte indicada: Brasil Post

Carta de garotinha à marca de bebidas é um soco no estômago

Carta de garotinha à marca de bebidas é um soco no estômago

O alcoolismo é um dos vícios mais subestimados pela sociedade. Há muito tempo a indústria cultural – e isso inclui a propaganda – estimula o consumo ao atrelar bebida alcoólica à diversão.

O que dificilmente se vê são os impactos que a dependência pode causar não só no indivíduo, mas em todos que estão em sua volta. Por trás da descontraída mesa de bar dos comerciais de cerveja e do elegante “gentleman” sempre vistos nas peças de whiskys, há homens e mulheres que perdem família, carreira e o pior, a personalidade.

Com objetivo de encontrar uma forma de mostrar a gravidade do alcoolismo, a ONG Bandeiras Brancas criou um filme que é um verdadeiro soco no estômago.

Baseado em uma história real, o vídeo “Carta para Jack” remonta a carta escrita por Laura, uma menina de 8 anos que, ao se deparar com mudanças de comportamento do seu pai, resolveu escrever para o possível amigo responsável pelas alterações de atitudes.

Na carta, narrada em primeira pessoa, a garota conta os seus traumas e frustrações conforme as mudanças de caráter do pai. Segunda a menina, não apenas ela, mas a família inteira sofre com os atos. Dificuldades como ver a mãe passar fome, seu pai perder o emprego e violência doméstica é contada pela menina.

O pedido final é que o suposto amigo de seu pai afaste-se dele, deixando assim a família em paz. Após a leitura da carta um final surpreendente trágico é revelado.

“A ideia é que o vídeo alcance o seu público alvo e alerte os seus familiares, que tanto quanto, precisam de ajuda”, afirma Brunno Barbosa, idealizador da ONG.

Veja:

Fonte indicada: Exame

30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos

30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos

O Oscar é um prêmio concedido anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, fundada em 11 de maio de 1927, em Los Angeles, Califórnia. São prêmios entregues pela Academia em reconhecimento aos profissionais da indústria cinematográfica que se destacam pela excelência do seu trabalho. A cerimônia é a mais antiga premiação na mídia e inspirou muitas outras, como o Grammy, o Emmy e o Globo de Ouro.

Em 1929 aconteceu a primeira entrega dos Prêmios da Academia e a partir daí a premiação se tornou referência na indústria cinematográfica, sendo bastante disputada.

A escolha dos filmes listados é subjetiva. Com isso não se pretende afirmar que os 30 filmes abaixo são os melhores do Oscar de todos os tempos, mas que esses, como outros, marcaram definitivamente seu lugar na história do cinema.

1- E O VENTO LEVOU

Oscar: 1940

Dirigido por Victor Fleming, o famoso clássico do cinema conta a saga de Scarlet O’Hara (Vivien Leigh), seus romances, desilusões e dificuldades, no período da Guerra Civil Americana. Clark Gable faz o papel de Rett Butler que luta pelo amor de Scartlet em uma relação marcada por conflitos, mas também por cenas inesquecíveis de amor.

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2. CASABLANCA

Oscar: 1944

Dirigido por Michael Curtiz, o filme retrata o período da Segunda Guerra Mundial, quando muitos fugitivos tentavam fugir dos nazistas utilizando uma rota que passava pela cidade de Casablanca. O americano Rick Blaine (Humphrey Bogart), cínico e amargo, dirige uma das casas noturnas da região. Contudo, a razão da amargura de Rick reaparece em sua vida. É o reencontro dele com sua grande paixão do passado, Ilsa (Ingrid Bergman). A partir daí, nem o casamento de Ilsa os impede de reviver esse grande amor.

contioutra.com - 30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos3- A MALVADA

 

Oscar: 1951

Dirigido por Joseph L. Mankiewicz, o filme conta por flashback a vida de Eve Harrington (Anne Baxter), desde quando conheceu Margo Channing (Bette Davis), uma grande estrela da Broadway, até ela própria alcançar o estrelato. Durante o longa é mostrado os artifícios utilizados pela astuta Eve para tomar o lugar de Margo na Broadway.  Este clássico do cinema recebeu várias indicações ao Oscar, uma das maiores da história do cinema.

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4- A UM PASSO DA ETERNIDADE

Oscar: 1954

Dirigido por Fred Zinnemann, o filme tem como pano de fundo a segunda guerra mundial, quando Robert Prewitt (Montgomery Cliff), ex-boxeador, pede transferência do exército e segue para a base militar no Havaí. Seu novo capitão pretende que ele faça parte da equipe de boxe, mas ele recusa a proposta e por isso sua vida é transformada num inferno. Em paralelo, o Sargento Warden (Burt Lancaster) começa a se envolver com a esposa do seu superior.  Ainda,  Maggio (Frank Sinatra) sofre na mão do sargento Fatso (Ernest Borgnine) e Prewitt acaba por se apaixonar por uma prostituta. Mas a vida de cada um dos personagens mudará com o ataque japonês a Pearl Harbor.

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5- SINDICATO DOS LADRÕES

Oscar: 1955

Dirigido por Elia Kazan, o filme conta os percalços do ex-boxeador Terry Malloy (Marlon Brando) que trabalha num porto e acaba por se envolver com cruel Johnny Friendly (Lee J. Cobb). Terry é usado por Jonnny e acaba por se sentir culpado pela morte do trabalhador Joey Doyle (John F. Hamilton). Depois de vários acontecimentos que incluem sua paixão por Edie Doyle (Eva Marie Saint), irmã de Joey, Terry passa a lutar contra o sindicato.

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6- BEN-HUR

Oscar: 1960

O épico dirigido por William Wyler conta a trajetória de Ben-Hur (Charlton Heston), um rico mercador judeu que é condenado a viver como escravo por Messala (Stephen Boyd), chefe das legiões romanas na cidade, mesmo sendo inocente. Ben-Hur terá uma oportunidade de vingança e redenção.

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7- AMOR, SUBLIME AMOR

Oscar: 1962

Dirigido por Robert Wise/Jerome Robbins, o filme conta a história de duas gangues inimigas, os Sharks, de porto-riquenhos, e os Jets, de brancos de origem anglo-saxônica, que disputam uma área. Tony (Richard Beymer), antigo líder dos Jets, e Maria (Natalie Wood), irmã do líder dos Sharks, apaixonam-se. Esse amor vai acirrar ainda mais a disputa entre as duas gangues.

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8- LAWRENCE DA ARÁBIA

Oscar: 1963

Dirigido por David Lean, o filme conta a história de T.E.Lawrence (Peter O’Toole) que ao morrer em um acidente de moto é lembrado em seu funeral. Em flashback é contada a história do tenente do Exército Inglês no Norte da África, que durante a 1ª Guerra Mundial aceita uma missão como observador na atual Arábia Saudita e acaba por colaborar com a união das tribos árabes contra os turcos.

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9- MY FAIR LADY

Oscar: 1965

Dirigido por George Cukor. O professor de fonética Henry Higgins (Rex Harrison) aposta que conseguirá transformar Eliza Doolittle (Audrey Hepburn), uma pobre florista de rua que não fala direito, em uma dama no prazo de seis meses. Mas a tarefa não será tão simples assim.

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10- A NOVIÇA REBELDE

Oscar: 1966

Dirigido por Robert Wise, conta a história de uma noviça (Julie Andrews) que vai trabalhar como governanta na casa do capitão viúvo Von Trapp (Christopher Plummer), que tem sete filhos. Quando chega na casa ela transforma a vida de todos com sua alegria contagiante, conquistando o afeto das crianças e, também,  do capitão que está comprometido.

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11- O PODEROSO CHEFÃO

Oscar: 1973

Uma obra-prima do cinema, dirigida por Francis Ford Coppola, conta a saga da família Corleone e o seu envolvimento com o crime organizado. Nesse primeiro filme Marlon Brando brilha como o patriarca do clã siciliano na América. O longa foi baseado no livro do escritor estadunidense Mario Puzo.

contioutra.com - 30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos12- O PODEROSO CHEFÃO – PARTE 2

Oscar: 1975

A saga do Poderoso Chefão continua e conta duas histórias paralelas. Uma delas volta ao tempo para contar a origem e a ascensão do jovem Don Vito, interpretado por Robert De Niro e a outra é a ascensão de Michael (Al Pacino) como o novo patriarca da família.  Atuações inesquecíveis de De Niro e Al Pacino neste filme.

contioutra.com - 30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos13- UM ESTRANHO NO NINHO

Oscar: 1976

Dirigido por Milos Forman, conta a história de McMurphy (Jack Nicholson), um prisioneiro que simula estar louco e vai parar numa instituição para doentes mentais. Lá ele começa a incitar os internos a se revoltarem contra as rígidas normas impostas pela enfermeira-chefe Ratched (Louise Fletcher), mas não sabe o que o espera.

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14- AMADEUS

Oscar: 1985

Dirigido por Milos Forman,  o longa conta a história de Salieri (F. Murray Abraham) que após uma tentativa de suicídio confessa a um padre que foi o responsável pela morte de Mozart (Tom Hulce) e a partir daí começa a relembrar com detalhes como conheceu e conviveu com o genial compositor. O filme volta ao tempo junto às lembranças de Salieri.

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15- PLATOON

Oscar: 1987

Platoon foi escrito e dirigido por Oliver Stone. Até hoje é considerado por vários críticos como um dos melhores filmes de guerra do cinema. Chris (Charlie Sheen) é um recruta enviado a um batalhão americano em meio à Guerra do Vietnã. O idealista recruta vai aos poucos perdendo sua inocência e passa a experimentar toda a violência e insanidade de uma guerra brutal e sangrenta.

contioutra.com - 30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos16- O ÚLTIMO IMPERADOR

Oscar: 1988

O filme dirigido por Bernardo Bertolucci conta a  saga de Pu Yi (John Lone), o último imperador da China, que se tornou imperador com três anos e viveu na Cidade Proibida. Após ser deposto pelo governo revolucionário conhece o mundo pela primeira vez aos 24 anos. Muitas coisas acontecem neste período até ele ser aprisionado pelos soviéticos e devolvido à China como prisioneiro político no início da década de 50. É neste período que o filme começa, mas retorna ao ano em que Pu Yi se tornou imperador.

contioutra.com - 30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos17- RAIN MAN

Oscar: 1989

Filme dirigido por Barry Levinson. Charlie (Tom Cruise), após a morte do seu pai, descobre que herdou um carro e algumas roseiras premiadas, enquanto seu irmão, Raymond (Dustin Hoffman), que ele não conhecia havia herdado três milhões de dólares. Autista, Raymond é levado pelo irmão para Los Angeles, onde Charlie pretende exigir metade do dinheiro, mas durante a viagem os dois irmãos vão se aproximando.

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18- CONDUZINDO MISS DAISY

Oscar: 1990

Dirigido por Bruce Beresford, o filme retrata a bela amizade de uma rica senhora judia (Jessica Tandy) com o seu motorista negro (Morgan Freeman). No início Miss Daisy rejeita a ideia de ter por perto o novo empregado, mas aos poucos eles superam as suas diferenças, dando início a uma belíssima amizade.

contioutra.com - 30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos19- O SILÊNCIO DOS INOCENTES

Oscar: 1992

Dirigido por Jonathan Demme, o longa conta a experiência da agente do FBI, Clarice Starling (Jodie Foster), que precisa encontrar um cruel assassino em série. Para entender como ele pensa, Clarice passa a conversar com o psicopata Hannibal Lecter (Anthony Hopkins) que está preso por canibalismo. Os dois dão início a um jogo psicológico intrigante.

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20- A LISTA DE SCHINDLER

Oscar: 1994

Dirigido por Steven Spilberg, o filme conta a história de Oskar Schindler (Liam Neeson), um comerciante oportunista que se relacionava bem com o regime nazista para tirar proveito da guerra. Contudo, algo dentro dele não permite que fique indiferente a cruel situação dos judeus, o que o faz perder sua fortuna para salvar mais de mil judeus dos campos de concentração.

contioutra.com - 30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos21- O PACIENTE INGLÊS

Oscar: 1997

No final da Segunda Guerra Mundial, um desconhecido desfigurado por queimaduras (Ralph Fiennes) é tratado apenas como o paciente inglês. Ele é cuidado por uma enfermeira (Juliette Binoche) e aos poucos começa a relembrar fatos de sua vida, como o forte envolvimento que teve com a mulher (Kristin Scott Thomas) do seu melhor amigo (Colin Firth).

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22- TITANIC

Oscar: 1998

Dirigido por James Cameron, o longa conta a história de amor de Jack (Leonardo DiCaprio), um jovem aventureiro, e  Rose (Kate Winslet), a jovem noiva do aristocrata Caledon Hockley (Billy Zane), a bordo do navio Titanic.  O romance vivido pelo casal fica dramático quando o luxuoso navio se choca com um iceberg e começa a afundar.

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23- BELEZA AMERICANA

Oscar: 2000

Dirigido por Sam Mendes. Lester (Kevin Spacey) não está feliz com seu trabalho, nem com sua vida. Casado com Carolyn (Annette Bening) e pai da adolescente Jane (Tora Birch), ele se sente entediado. Tudo muda quando Lester conhece Angela Hayes (Mena Suvari), amiga de Jane. Deslumbrado com a beleza de Angela ele resolve dar a volta por cima, mas nada será tão fácil assim.

 

24- GLADIADOR

Oscar: 2001

Dirigido por Ridley Scott. Nos seus dias finais o imperador Marcus Aurelius (Richard Harris) provoca o ódio do seu filho Commodus (Joaquin Phoenix) ao tornar pública sua predileção por Maximus (Russell Crowe), o comandante do exército romano. Commodus mata o pai, assume o poder e ordena a morte de Maximus, que escapa da morte e se torna escravo e gladiador do Império Romano. Maximus e Commodus irão se reencontrar novamente.

contioutra.com - 30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos25- UMA MENTE BRILHANTE

Oscar: 2002

Dirigido por Ron Howard. O filme conta a história do gênio da matemática John Nash (Russell Crowe). Ainda jovem Nash formulou um teorema que provou sua genialidade e o tornou aclamado em seu meio. Contudo, Nash é atormentado por delírios e alucinações, o que o leva ao diagnóstico de esquizofrenia.  Após anos de luta contra a doença, ele consegue retornar à sociedade e acaba sendo premiado com o Nobel. A esposa de Nash, Alicia (Jennifer Connelly) tem uma forte participação na vida do matemático.

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26- O SENHOR DOS ANÉIS: O RETORNO DO REI

Oscar: 2004

O filme dirigido por Peter Jackson é a terceira e última sequência da trilogia O Senhor dos Anéis. Neste filme as forças do Bem e do Mal vão se enfrentar de forma definitiva, dando fim à Guerra do Anel. Enquanto todos os outros personagens lutam contra os avanços dos seus adversários, Frodo (Elijah Wood) e Sam (Sean Astin), os portadores do Anel, precisam concluir sua missão.

contioutra.com - 30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos27- CRASH – NO LIMITE

Oscar: 2006

Dirigido por Paul Haggis. Crash é um filme que retrata uma sociedade marcada de preconceito. Os personagens do filme são de diversas origens étnicas e classes sociais distintas: uma dona de casa casada com um promotor público, um lojista persa, dois policiais, um diretor de televisão afro-americano e sua esposa, um mexicano especialista em chaves, dois ladrões de carros da periferia. Todos vivem em Los Angeles e terão, nas próximas 36 horas, suas vidas cruzadas.

contioutra.com - 30 filmes vencedores do Oscar para serem vistos ou revistos28- OS INFILTRADOS

Oscar: 2007

Dirigido por Martin Scorsese. O policial Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) recebe a missão de se infiltrar na quadrilha comandado por Frank Costello (Jack Nicholson). Ao mesmo tempo, o criminoso Colin Sullivan (Matt Damon) é infiltrado na polícia como informante de Costello. Contudo, quando a quadrilha e a polícia descobrem que entre eles há um espião, os dois passam a correr perigo.

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29- O DISCURSO DO REI

Oscar: 2011

Dirigido por Tom Hooper. O filme conta a história de George VI (Colin Firth) que precisa assumir o trono do rei da Inglaterra, após a abdicação se seu irmão (Guy Pearce) em 1936. O detalhe é que George precisa discursar para a nação, mas ele sofre de gagueira. O novo rei pede a ajuda de um especialista em discursos, Lionel Logue (Geoffrey Rush), para superar o seu problema.

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30- DOZE ANOS DE ESCRAVIDÃO

Oscar: 2014

Dirigido por Steve McQueen. O filme conta a história de  Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um escravo liberto que leva uma vida tranquila ao lado da sua esposa e filhos. Quando sai da sua cidade a trabalho, ele é sequestrado e vendido como se fosse escravo. Ao longo de intermináveis doze anos Solomon passa por dois senhores, Ford (Benedict Cumberbatch) e o cruel Edwin Epps (Michael Fassbender), até ser libertado.

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Nós: as “máquinas” que choram

Nós: as “máquinas” que choram

Nós acordamos cedo e dormimos tarde. Lacramos dores com pílulas. Embalamos sonhos com papel filme, ilusões em séries, autoafirmações, livros de autoajuda. Já não ajudamos ninguém, porque não acreditamos que podemos ajudar. Estamos sempre diminuídos, tentando almejar aquele topo que nos contaram um dia – era o lugar onde deveríamos chegar. No entanto passamos a vida andando em círculos asfaltados com paradas programadas – do trabalho para casa, da casa para o trabalho, rotinas infinitas, diversões vazias, cansaços invencíveis. Por vezes, até o lazer se torna uma estranha obrigação. Corremos maratonas para sermos valorizados, recebemos não, recebemos pouco, recebemos nada: acreditamos que é nossa culpa nos encontrarmos cada vez mais longe daquele lugar. Recebemos foras, recebemos rasgos, recebemos restos.

Há quem pense que existam privilegiados, nosso mito de imagens em HD, resoluções cada vez mais definidas, e a vida cada vez mais pixels – quadrada. Estamos vivendo para quê? Temos radicais de todos os lados e de lado a razão. Temos soluções para combater radicais livres: preservar o rosto comido pelo desgosto, nenhuma solução para gostar mais. Do tempo que nos resta encontramos pouco – a agenda cheia, o coração vazio. Escolhas feitas de PVC. Recusamos nossas veias, nossos afetos, nossa humanidade em troca de status, a troco de quê? Quando te pedem para “vestir a camisa” (de força), esquecem-se de te avisar que o mundo continua sem você.

Não seremos eternamente jovens, não seremos eternamente saudáveis, não seremos eternamente produtivos, não seremos eternos (mas os que correm o risco podem ser infinitos). Vivemos boa parte da nossa vida, dessa forma que desde cedo nos acostumam, vivendo para o futuro. Estudando para ter um bom trabalho, trabalhando para ter uma boa aposentadoria – provavelmente gastaremos com remédios a mixaria. Escolhemos relacionamentos por conveniência, nos recusamos ao desafio de conviver com o desafio, e pelo desafeto ou pelo tédio o divórcio, as amizades desfeitas, os afetos nunca colhidos. Escolhemos sem saber que temos escolha de tão acostumados que estamos a receber pronta a experiência da vida que deixamos de experimentar. Nos recusamos a viver – é perigoso de mais.

Estamos tão sozinhos que não pensamos que tantos outros também estão sozinhos, e neste sentimento solitário-coletivo nos perdemos de qualquer noção de que se nos uníssemos poderíamos fazer algo realmente maior. Pela descrença ou pelo egoísmo acabamos todos no mesmo barco furado da impotência. Não aceitamos limitações: errar é tão grotesco! Esquecemos que não somos feitos de códigos binários. Esquecemos que não somos feitos: estamos sempre por fazer. Esquecemos que não somos – estamos por aí, e a vida é só uma, mesmo que existam outras.

Construindo ideais para nos salvar dos momentos, perdemo-nos numa odisseia sem fim na busca pela vida ideal – alguns jogam na loteria, outros fazem cursos, outros concursos, outros enfim… Estamos sempre competindo pelas maiores notas, pelas maiores honrarias, pelo maior reconhecimento, tão diminuídos e desorientados precisamos sempre de um maior que sustente nossa autoestima por algum tempo. Deixamos que nos façam de galo de briga, uns contra os outros, e mesmo estes outros, que nos fazem galo de briga, galos de briga também são de outros galos. Um sem fim de cristas agitadas incitando outras cristas agitadas. Mas, ninguém mais canta quando o sol nasce. E, no fim do dia, curamos nossas dores, atamos as feridas, rejuntamos os ossos, nos recuperamos para a próxima briga. Postamos curativos de covardia, recusamos diálogos: estamos tão cansados que não desejamos correr o risco de sermos persuadidos a mudar. Não nos damos conta de tantos que também estão assim, e por fim vão nos ignorando enquanto são ignorados – e vamos afundando em silêncios ruidosos de alegria importada. Cada um com as suas dores. Até que o corpo fale.

Pois, por mais que tentem nos automatizar, sempre haverá o momento do travesseiro, aquele lugar que conversa com você antes do sono, e por vezes te tira o sono. O travesseiro questionando sobre a sua vida. O travesseiro te fazendo pensar. Esse travesseiro perturbador! É que sempre quando paramos não temos como evitar – há um “si mesmo” ali faminto, buscando alimento onde não há, te fazendo revirar para tirar força de onde não tem, para decidir sem conhecer as opções, para colher interrogações numa plantação de imperativos. Há o travesseiro que amarrota, que molha, que é abraçado, que é “socado”, agredido, o travesseiro que sufoca o grito, que recolhe o suor frio, que apara a baba quente. O travesseiro ali para nos lembrar que não somos máquinas – que temos sono, que temos sonhos, que temos lágrimas para sorrir.

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