Encha de ternura os silêncios da sua vida

Muitas vezes caminhamos na vida com a expectativa de recebermos algum tipo de resposta ou retorno de algo ou alguém. Projetamos nossas ansiedades no outro, projetamos um sonho em uma empresa, projetamos uma euforia desmedida em um projeto e ele morre, sem que saibamos qual a razão disso.

Aquela mensagem não chega, o telefone não toca, o encontro não acontece, a entrevista de emprego não dá em nada, o projeto não é aprovado e nós nos deixamos então envolver por um silêncio que nos soterra com razões fatalistas.

O que não podemos esquecer é que esse silêncio guarda um mundo de suposições e cabe apenas a nós escolher as melhores para tudo, as mais otimistas e as mais gentis. Devemos lembrar que é muito provável que as reais razões para nossas expectativas frustradas nunca nos cheguem realmente. Então por que escolher o pior para explicar o inexplicável?

Quando estamos afoitos por uma resposta e não a recebemos, sempre pensamos que não fomos bons o suficiente para vivermos uma nova relação, que não tivemos a qualificação necessária para o emprego dos sonhos, que não encontramos em nós a ousadia necessária para conquistarmos a promoção esperada. Quase sempre nos culpamos pelas razões do mundo. Mas as razões do mundo são do mundo, não nossas!

É comum que imaginemos que se tivéssemos feito de outra forma as coisas teriam tomado outra direção. Se tivéssemos falado ou agido de outro jeito tudo seria diferente. Mas não é assim que o mundo funciona. Muitas palavras se perdem, e-mails e mensagens não são respondidos e projetos são engavetados sem razão. Não nos cabe a culpa, não nos cabe apontar o dedo para nosso nariz como se fôssemos os responsáveis por todas as mazelas mundiais.

Cada cabeça é uma sentença e provavelmente aquela pessoa especial não estava interessada em algo mais sério. Aquela empresa não tinha interesse em contratar funcionários depois do fim do estágio. Um projeto muitas vezes não se encaixa no perfil de um concurso. Isso não nos desmerece em nada, nós devemos seguir tentando.

Então quando formos pincelar os motivos pelas não respostas. Os motivos pelo que não foi, que nós possamos nos acolher com imensa ternura. Que possamos nos amar e resguardar o melhor que nos habita. Que o silêncio vindo de onde esperávamos uma resposta possa dizer o melhor de nós.

Que nós possamos deixar de lado nossos complexos e não usá-los como razão para tudo. Muitas vezes eles incomodam apenas a nós mesmos e não tiveram nada a ver com a razão das coisas não terem saído como desejamos.

Devemos fazer o nosso melhor, emprestar aos nossos sonhos nossa parte mais otimista, ofertar ao mundo o nosso lado mais amistoso. Não nos cabe desistir na primeira tentativa. Não nos cabe qualquer tipo de flagelação pelo que não foi. Nos cabe amar o nosso esforço, nos cabe dar colo às nossas expectativas e nos cabe corajosamente tentar e tentar.

E quando o silêncio nos soprar, mais cedo ou mais tarde, que nós possamos ouvir nele, em sussurro, as palavras mais amigáveis, as frases mais construtivas e as razões mais compreensivas. Que nós possamos deixar esse silêncio nos abraçar e nos confortar. Que nós possamos encontrar nele a paz de ser quem somos, sem ressentimentos ou pesares por isso.

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Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.