A Lenda da Matrioska – A boneca russa

A Lenda da Matrioska – A boneca russa

Era uma vez em virtuoso carpinteiro russo chamado Serguei, que ganhava a vida talhando belos objetos de madeira: instrumentos musicais, brinquedos… Todas as semanas, ele enfrentava o frio do bosque para buscar madeira e assim construir novos objetos. Uma certa manhã ao sair para recolher a madeira, ele encontrou o campo todo coberto de uma grossa capa de neve. A noite havia sido difícil. Ele rezou. Toda a madeira que ele encontrava no caminho estava úmida e só lhe servia para fazer fogo.

Abatido pelo cansaço, ele decidiu retornar à sua casa e tentar a sorte no dia seguinte. Quando ele estava dando meia volta, lhe chamou a atenção um tronco de madeira esplêndido, o mais belo que ele havia visto em sua vida. Rápido como um raio ele retornou ao seu estúdio, porém vários dias se passaram até ele decidir o que talhar. Finalmente, decidiu fazer uma preciosa boneca.

Era tão bonita, que decidiu não vendê-la para lhe fazer companhia. “Você se chamara Matrioska” disse ele à inerte figura. Cada manhã, ao levantar-se ele falava com sua companheira. “Bom dia, Matrioska” . Um dia, ela lhe respondeu: “Bom dia Serguei”. O carpinteiro se surpreendeu, porém ao invés de sentir medo ele se sentiu feliz por ter alguém com quem conversar.

Com o tempo, o carpinteiro percebeu que Matrioska estava triste e lhe perguntou o que estava acontecendo. Ela lhe respondeu que via que todo mundo tinha um filho ou filha e ela desejava ter um. “Terei que te abrir e isso será doloroso” – respondeu Serguei.  E ela disse: “Na vida, as coisas importantes requerem um pequeno sacrifício”. E sem pensar  duas vezes ele talhou uma réplica, menor e lhe chamou de Trioska. Ela já não se sentia mais sozinha.

O instinto maternal se apoderou também de Trioska e Serguei concordou que está também teria um filho, se chamaria Oska. Mas Oska também queria um decendente. O carpinteiro contou que dessa vez a madeira poderia originar uma boneca má. Oska não desistiu. Após pensar, ele talhou um boneco, bem pequeno e com bigode e lhe batizou de Ka. E o colocou em frente ao espelho e disse: “Você é um homem, não pode ter filhos!”

Então colocou Ka dentro de Oska. A Oska dentro da Trioska e a Trioska dentro da Matrioska. Um dia, misteriosamente, Matrioska desapareceu com toda sua família dentro. Serguei ficou desolado.

Fonte indicada: Isadoracln

Olhar o céu é a oração mais bonita que existe!

Olhar o céu é a oração mais bonita que existe!

De manhã, à tardinha, de noite, faça chuva, faça sol, olhar para o alto simplesmente, olhar assim, por nada, é um dos jeitos mais bonitos de rezar.

Não é preciso decorar palavra, não carece nenhum ritual, vestimenta adequada, instrumento solene. Basta respirar fundo e mirar o céu lá em cima.

Olhando para o alto, a gente fica pequenininho, humilde como deve ser. Quem avista o céu esquece o que deve esquecer e lembra o que é bom lembrar. De quando em vez, pôr os olhos no céu nos devolve os pés no chão.

A moça abre os braços, fixa um espaço entre as nuvens e o vento lhe invade as narinas, renova-lhe os pulmões, levanta sua saia, passa voando baixo por sua pele num carinho imenso e lhe traz de volta o perfume da pessoa amada que anda longe.

Namorando o azul da tardinha, o menino imaginoso faz perguntas, cria teses, visita mundos, sonha com o infinito pra lá do sol, inventa o tratado geográfico das nuvens. Aprende a ser feliz mesmo quando está sozinho, esperançoso de que o pai volte logo do trabalho enquanto vai gerando em si mesmo, cá de fora, o caçula que vai dentro da barriga da mãe. Seu irmãozinho que, para todos os efeitos, também virá do céu, no bico seguro de uma cegonha.

E os velhos? Ahh… os velhos quando olham para o céu se transformam em poesia. São poemas de pernas e braços, de tempo e vento e luz e saudade.

No jeito manso dos velhos, olhando para o céu eu também sinto saudade. Lembro de quando éramos só nós. Você e eu e os nossos, refugiados de todo absurdo do mundo, voltando para casa depois de uma viagem de carnaval. Nós e nosso banzo de casa, nossos sentimentos domésticos, nossa pia de boca aberta para a louça suja, nossa vida limpa, nossas lâmpadas elétricas fazendo a festa dos bichinhos de asas que voam em círculos como loucos funcionários públicos da noite, nossa poeira sobre os móveis, nosso tapete enrugado sob o sofá, nossos planos de ter uma planta, nossos sonhos de amor eterno, nosso dia depois do outro.

Assim, quietinhos aqui embaixo, espiando a beleza que vai lá em cima, dá na gente a impressão de que Deus nos cuida de lá. Ele há de nos notar divertido e emocionado, apreciando seus filhos que O procuram daqui em usufruto da vista, da vida e do chão que nos sustenta e nos permite, com a humildade que nos cabe, de vez em quando parar os pés e erguer as mãos para o alto em franca, simples e honesta gratidão.

Ave Maria! Olhar o céu, esse lugar imenso onde mora o Pai Nosso e todos os anjos e os santos, é a oração mais bonita que existe!

O “misterioso” caso de quem é deixado porque faz tudo pra agradar

O “misterioso” caso de quem é deixado porque faz tudo pra agradar

Estava tudo bem entre a gente. De repente você me deixou.

Eu não sei o que houve, apenas senti que você foi se afastando, foi ficando distante, diferente, ou melhor, indiferente. Eu fui me desesperando e o meu desespero acabou piorando as coisas. Queria te segurar e quanto mais eu lhe segurava mais você foi me escapando. Do dia para a noite me vi lutando contra uma correnteza que me levava; que te levava para longe de mim. E hoje eu me sinto vencida.

Naquele dia você não me atendeu, as suas respostas às mensagens que eu enviara foram  monossilábicas e demoravam cada vez mais a chegar. Cada tentativa de me aproximar, de fazer com que tudo voltasse a ser como era antes contribuíam para este tão conhecido final: deixaram-me de novo. Você me deixou. Você também me deixou.

No começo foi tudo tão bom, parecia que eu estava sonhando, era perfeito, eu finalmente havia encontrado a pessoa da minha vida. Eu busco incessantemente a pessoa da minha vida e a vida sempre me engana. A pessoa nunca chega, ou ela chega e vai embora. Eu te amava tanto, eu fazia tudo para agradar. Pensava em você o dia todo, tudo me lembrava de você, queira estar ao seu lado o tempo todo, queria lhe encher de mimos.

Sou perseguida desde criança por um medo de que as pessoas me deixem e, quando começo a sentir esta conhecida sensação, logo acontece. Já fui deixada muitas vezes, meus relacionamentos parecem ser amaldiçoados por uma profecia malévola. As pessoas me deixam, parecem se desencantar, parecem se cansar ou se atraem por algo que lhes desvia a atenção de mim e do nosso relacionamento. Eu me dedico tanto, faço tudo para agradar. O que há de errado nisso?

Olho para as pessoas e me pergunto como elas conseguem se relacionar. Como e porque conseguem conquistar manter relacionamentos duradouros enquanto eu, que os procuro incessantemente, todos os dias e que, quando encontro, me dedico inteiramente a eles acabo sempre me deparando com o abandono e a solidão.

 Inúmeras foram as vezes nas quais ouvi relatos como este e muitas foram também as vezes nas quais eu observei de perto histórias como esta acontecerem. Dentro e fora do consultório é bem comum ver a dor das pessoas quando são abandonadas por quem estava se relacionando afetivamente com elas. Embora o mundo hoje seja de relações líquidas como incessantemente disse Bauman em sua obra, ainda há bastante gente sofrendo quando se desencontra do outro. Ainda há muita gente se relacionando afetivamente trazendo consigo resquícios de desamparo e abandono adquiridos ainda em idade tenra.

A psicanálise mostra com clareza as ligações entre as vivências da primeira infância e adultos que protagonizam relatos como o que lhes trouxe. É preciso sim superar o modelo das nossas primeiras relações para que não sigamos repetindo os mesmos erros, os mesmos padrões. Não quero aqui restringir-me a uma única abordagem teórica. Eu poderia diagnosticar e sugerir terapêutica psicanalítica ou comportamental para a queixa acima. O mais importante é: torna-se preciso, ou melhor, imprescindível que nos conheçamos antes de desbravarmos o desconhecido de uma relação afetiva.

É preciso que sejamos sustentáculo de nós mesmos para podermos depois nos aproximarmos do outro para acrescentar, para trocar e não para exigir que o outro seja coadjuvante na nossa história e que siga o modelo de comportamento que nossa expectativa criou. Vejo muita gente buscar incessantemente ao outro e que, quando o encontra, passa a agir como se este outro fosse uma espécie de fantoche desprovido de vontades, de história, de direito ao tempo e ao espaço.

Imagina-se amando tanto que, de tanto amar, ao outro sufoca.

É preciso medir o quanto há nisso de amor e o quanto há nisso de desamparo e da busca pelo que irá tapar os buracos que ficaram abertos lá atrás. Só o autoconhecimento pode ajudar a aceitar e a superar os obstáculos emocionais que a vida impõe a todos nós. Só quem torna-se capaz de caminhar sozinho consegue conduzir a caminhada em parceria com leveza e sanidade. Só quem sustenta-se sozinho, em pé sobre o solo, sem ter que se escorar, que se apoiar no outro, consegue o equilíbrio necessário para estar ao lado de alguém sem tornar-se aversivo.

Muitas são as vezes nas quais observamos pessoas interessantes, inteligentes e de bom caráter presas neste círculo vicioso; colecionando abandonos e imaginando-se seres de pouca sorte ou vítimas do karma, da inveja e da vontade de deus. Pessoas que acreditam cegamente que a felicidade está no relacionamento afetivo e que se tornam desesperadas como os que estão prestes a se afogar, agarrando-se desesperadamente aos que aparecem para lhes salvar. O desespero pode acabar afundando ambos ou levar o outro a lhes abandonar ali, sob o risco de se afogar junto. Relacionamento afetivo não é salva-vidas de ninguém.

A calmaria é sempre propícia nos relacionamentos. O encanto, o respeito e principalmente o bom senso de não jogar no outro todas as nossas expectativas, carências, traumas e necessidades pode escrever uma linda história.

Imagem de capa: Zivica Kerkez/shutterstock

Nem os grandes amores resistem a uma pequena paciência.

Nem os grandes amores resistem a uma pequena paciência.

Encontrar o amor não é tão difícil, se comparado à árdua tarefa que consiste em mantermos acesa a chama afetiva que nos mantém juntos de quem amamos. Após o encontro amoroso, afinal, existe um longo caminho a ser percorrido, para que os sentimentos se fortaleçam e tornem a jornada conjunta repleta de cumplicidade e admiração mútua.

As pessoas vêm de universos diferentes, passaram por vivências próprias, sobreviveram a tempestades únicas e, de repente, precisam confrontar tudo o que são com alguém de fora, tentando harmonizar perspectivas na maioria das vezes dissonantes e distantes, em favor da necessidade de amarem e serem amadas. A paixão chega, arrebata e nos lança ao encontro de um mundo outro, no qual mergulharemos às cegas, a fim de saciarmos a fome de amor que é tão nossa.

A convivência diária não é fácil, uma vez que o tempo nos mostra e nos desnuda em tudo o que somos, da mesma forma nos trazendo as verdades de quem está ali ao nosso lado, mesmo aquelas que nos incomodam. Infelizmente, poucos estão dispostos a enxergar, fora de si e em si mesmo, o que lhes retira da zona de conforto, o que lhes obriga a refletir sobre o que têm feito da vida. E o companheiro sempre será o espelho que reflete o que estamos ofertando, o tipo de amor que construímos ou desconstruímos diariamente.

E, se não nos permitirmos a entrega na totalidade que o amor requer, acabaremos fatalmente nos furtando de dedicar o mínimo de nós mesmos ao outro, relegando-o ao vazio solitário de nossa presença incompleta. Não abriremos mão de nada, não ouviremos os sussurros sofridos ali ao lado, não olharemos fundo nos olhos que nos buscam em vão, não sentiremos as acelerações do coração que pulsa pertinho, não responderemos aos desejos, não tocaremos a pele, não daremos, enfim, importância a quem sempre esteve conosco.

E ninguém há de suportar o desprezo, a indiferença, a agressividade silenciosa e a companhia vazia de quem lhe prometera amar pelo resto da vida. O amor não aceita desaforo, não sobrevive de passado, tampouco se alimenta de esperanças unilaterais e de correspondência nula. Só amor, somente amar, apenas as lembranças do que já foi mas não é mais, nada disso será capaz de manter duas pessoas juntas. Porque o amor é, sim paciente, mas tem o limite exato da dignidade que nos sobra ao fim do dia. Nada mais do que isso.

Você é presa fácil para um abusador?

Você é presa fácil para um abusador?

Qualquer pessoa que interesse ou que convenha, fica na mira de sociopatas. Eles são atraídos por pessoa que possam fornecer-lhes suprimento narcísico. Seu pó de pirlimpimpim, cheio charme e bombardeamente de amor é poderoso e atrai a maioria das pessoas. Mas se você estiver com seu “radar anti-narc” funcionando, sairá ileso rapidamente, assim que perceber com quem está lidando.


Existem pessoas, porém, que, por suas características pessoais, são mais suscetíveis a serem presa fácil para um perturbado.

Então observe: Você, seja homem ou mulher, é uma pessoa:

Cuidadora?

Doadora?

Empática?

Otimista?

Generosa?

Sonhadora?

Idealizadora?

Romântica?

Independente?

Solitária?

Bem sucedida?

Cheia de vida?

Sente-se facilmente culpada?

Tem dificuldade para dizer NÃO?

Tem dificuldade para impor limites?

Confiável e que confia facilmente?

Atraente, mas insegura?

Tem problemas de autoestima?

Está fora de uma relação estável?

Estável financeiramente?

Com boas aspirações para o futuro?

Mora só ou com filhos pequenos?

Acredita no bem da humanidade?

Querida pelos amigos e familiares?

Comprometida com sua palavra?

Teve a figura materna ou paterna emocionalmente ausente?

Se você respondeu sim para um número importante destas características, você pode ser uma presa fácil para sociopatas e abusadores em geral. Eles buscam em você aquilo eles não possuem e desejam para si, incluindo coisas materiais, mas não somente. Sua energia, seu sorriso, sua generosidade e empatia são coisas que eles desejam tomar de você. E com pouquíssimo tempo, conseguirão. Depois que você tiver dado o que tem e perdido seu brilho, você será LIXO DESCARTÁVEL.

Mas atenção! Esses perfis abusivos não largam de sua presa fácil e lançam mão de promessas e mímicas de bons comportamentos para que você não se distancie antes que eles “terminem o trabalho”.

Espere. Talvez você esteja dizendo para si mesmo “ah, mas sou eu que sempre vou atrás quando terminamos”. Bem, pense duas vezes. Sociopatas e abusadores em geral são experts em manipular de modo que VOCÊ se movimente para voltar. Se você não o faz, logo passam a stalkear e a fazer promessas de amor eterno, vitimizando-se, dizendo-se abandonados, arrependidos ou inculcando-lhe culpa.

Quando nada disso funciona, passam a desfilar seus novas alvos diante de seus olhos, propagando uma felicidade aparente que, se sua memória estiver boa, vai saber que não é real. Fazem isso na esperança de fazer você pensar “no que está perdendo” e que talvez o problema esteja em você.

Portanto, mantenha essa informação em mente e fique alerta. Eduque-se e ao primeiro sinal de abuso, saia por uma porta que não seja possível abrir atrás de você. Feche a porta de entrada desses tipos em sua vida, e se já estiver com um, feche o portal de comunicação entre vocês AGORA e PRESERVE-SE!

CONTATO ZERO é o nome desse jogo, se você quiser vencê-lo.

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A morte de Ivan Ilitch e a queda da máscara existencial

A morte de Ivan Ilitch e a queda da máscara existencial

Já dizia o poeta que a morte é o único mal que não pode ser remediado. Outros podem dizer que a morte é a última fronteira. E alguns dirão que a morte é apenas a libertação da alma. Fato é que ela, de um jeito ou de outro, amedronta. Para Ivan Ilitch, não foi diferente.

A novela de Tolstói é uma obra que fascina, por tratar de um dos temas mais importantes da história do pensamento humano, a saber, a morte. A vida de Ivan é definida, logo no início da obra, como uma das mais simples, mais comuns e, portanto, mais terríveis.

Essa definição é primordial, pois o medo da morte nos coloca num ponto de introspecção, em que refletimos sobre nossa vida e se esta valeu a pena. Sendo assim, inicialmente já se percebe que a vida do protagonista não foi bem vivida como o próprio acreditava.
Ivan Ilitch era um sujeito pragmático e racional. Desse modo, levava sua vida segundo um princípio básico: viver de maneira leve, agradável e decente. Qualquer coisa que atrapalhasse essa ordem lógica era um entrave ao que Ivan acreditava ser felicidade. Como racionalista, as suas alegrias vinham de pontos bem específicos:

“A alegria que Ivan Ilitch encontrava no trabalho era a alegria da ambição; as alegrias da vida social eram as da vaidade; mas as verdadeiras alegrias era proporcionadas pelo uíste.”

Fica claro que as alegrias começam e terminam em Ivan Ilitch, o que demonstra o seu egoísmo, mas, ao ver do protagonista, condizem com uma vida decente. Em verdade, não condizem, contudo, ao longo da vida, cada indivíduo cria uma definição de si mesmo, a qual se busca manter como uma espécie de auto-crença. Montaigne nos diz que: “A vida vivida ao longo da vida, é um teatro de simulações, onde somos, em grande medida, escravizados por aquilo que acreditamos que somos!”.

Essa máscara existencial, a qual Ivan Ilitch usava, só começa a ser percebida a partir da sua doença, pois é somente no instante da morte que podemos julgar toda uma vida. Assim, é a doença que permite, ao protagonista, olhar para dentro de si criticamente.
O medo da morte o faz perceber a finitude da vida, logo ele, que entendia fim com apenas um sentido, qual seja, finalidade. De modo que procurou viver de forma racional em tudo o que fazia. Nietzsche já advertia que é muito ingênuo acreditar que as coisas só podem resolver-se pela lógica. E, assim, a morte (tão ilógica) é o estopim da  mudança na cosmovisão de Ivan Ilitch.

Essa mudança acontece, pois o medo da morte o fez perceber o teatro que o cercava, que, por trás do requinte, escondiam-se mentiras, as quais eram mantidas pela “decência” que ele defendeu por toda uma vida. E eram essas mentiras que alimentavam a dor moral de Ilitch.

“O que mais fazia Ilitch sofrer era a mentira, aquela mentira aceita por todos.”

Ilitch se viu impotente em relação à morte, uma vez que a morte é toda relação que apequena, entristece, tira a potência (Espinosa). Assim sendo, à medida que as relações entristecem Ivan, este vai morrendo. Em outras palavras, o medo é uma queda de potência determinada pela consciência, isto é, se Ivan tem medo da morte, é porque ele não viveu como deveria e, portanto, entristece-se ao saber que não viveu da forma decente como sempre acreditara.

“E ele começou a repassar na imaginação os melhores momentos da sua vida. Mas – coisa estranha! – tais momentos não lhe pareciam agora tão agradáveis como cuidava que fossem, salvo as primeiras recordações da infância.”

A doença que acabara com a decência da vida de Ivan foi a mesma que o fez perceber que a sua vida foi tão fútil e mesquinha quanto a dos outros. Ora, a doença mostrou-lhe que, até ali, a sua vida não fora decente, que ele era incapaz de colocar-se no lugar dos outros, de viver para alguém além de si mesmo, de criar laços. E, assim, via a falsidade nos olhos dos outros, enxergava, ao mesmo tempo, a própria falsidade da sua vida.

Ivan Ilitch percebe que, à medida que sua vida escoa, os momentos que viveu e, sobretudo, não viveu são irrecuperáveis. Percebe que a doença encontrou terreno farto para se reproduzir, pois tudo o que vivera não passava de mentiras, mentiras que agora o entristeciam e irrigavam o terreno da dor moral que sentia, fazendo esta ser muito maior do que a dor física que sentia.

“Quando entrou a repassar o período que gerava o atual Ivan Ilitch, tudo o que lhe parecera ser alegria se desmoronava ante seus olhos, reduzindo-se a algo desprezível e vil.”

A morte foi, para Ivan, uma libertação do teatro que o cercava, mas, ainda assim, o deixava impotente. A morte nos amedronta, faz querer fugir; fugir da verdade da morte, que mostra a nossa finitude e todas as redes de mentiras que tecem a vida social. Mas, acima de tudo, entristece ao próprio ser, que, ao deparar-se com a morte, percebe o quão vazia foi sua vida.

Assim, a boa vida não é aquela que se preocupa tão somente com a finalidade das coisas, mas com o término, pois é por ter um fim que a vida possui valor e devemos atribuir-lhe valor. Não como Ivan e sua monótona vida burocrática, mas com aquilo que nos permite olhar nos olhos do outro e enxergar que a vida, de fato, foi decente, que o amor se fez presente e que, quando se for, seja importante; não para a alta sociedade, mas para quem possa portá-lo dentro de si, como um pedacinho seu que continua vivo.

Encha de ternura os silêncios da sua vida

Encha de ternura os silêncios da sua vida

Muitas vezes caminhamos na vida com a expectativa de recebermos algum tipo de resposta ou retorno de algo ou alguém. Projetamos nossas ansiedades no outro, projetamos um sonho em uma empresa, projetamos uma euforia desmedida em um projeto e ele morre, sem que saibamos qual a razão disso.

Aquela mensagem não chega, o telefone não toca, o encontro não acontece, a entrevista de emprego não dá em nada, o projeto não é aprovado e nós nos deixamos então envolver por um silêncio que nos soterra com razões fatalistas.

O que não podemos esquecer é que esse silêncio guarda um mundo de suposições e cabe apenas a nós escolher as melhores para tudo, as mais otimistas e as mais gentis. Devemos lembrar que é muito provável que as reais razões para nossas expectativas frustradas nunca nos cheguem realmente. Então por que escolher o pior para explicar o inexplicável?

Quando estamos afoitos por uma resposta e não a recebemos, sempre pensamos que não fomos bons o suficiente para vivermos uma nova relação, que não tivemos a qualificação necessária para o emprego dos sonhos, que não encontramos em nós a ousadia necessária para conquistarmos a promoção esperada. Quase sempre nos culpamos pelas razões do mundo. Mas as razões do mundo são do mundo, não nossas!

É comum que imaginemos que se tivéssemos feito de outra forma as coisas teriam tomado outra direção. Se tivéssemos falado ou agido de outro jeito tudo seria diferente. Mas não é assim que o mundo funciona. Muitas palavras se perdem, e-mails e mensagens não são respondidos e projetos são engavetados sem razão. Não nos cabe a culpa, não nos cabe apontar o dedo para nosso nariz como se fôssemos os responsáveis por todas as mazelas mundiais.

Cada cabeça é uma sentença e provavelmente aquela pessoa especial não estava interessada em algo mais sério. Aquela empresa não tinha interesse em contratar funcionários depois do fim do estágio. Um projeto muitas vezes não se encaixa no perfil de um concurso. Isso não nos desmerece em nada, nós devemos seguir tentando.

Então quando formos pincelar os motivos pelas não respostas. Os motivos pelo que não foi, que nós possamos nos acolher com imensa ternura. Que possamos nos amar e resguardar o melhor que nos habita. Que o silêncio vindo de onde esperávamos uma resposta possa dizer o melhor de nós.

Que nós possamos deixar de lado nossos complexos e não usá-los como razão para tudo. Muitas vezes eles incomodam apenas a nós mesmos e não tiveram nada a ver com a razão das coisas não terem saído como desejamos.

Devemos fazer o nosso melhor, emprestar aos nossos sonhos nossa parte mais otimista, ofertar ao mundo o nosso lado mais amistoso. Não nos cabe desistir na primeira tentativa. Não nos cabe qualquer tipo de flagelação pelo que não foi. Nos cabe amar o nosso esforço, nos cabe dar colo às nossas expectativas e nos cabe corajosamente tentar e tentar.

E quando o silêncio nos soprar, mais cedo ou mais tarde, que nós possamos ouvir nele, em sussurro, as palavras mais amigáveis, as frases mais construtivas e as razões mais compreensivas. Que nós possamos deixar esse silêncio nos abraçar e nos confortar. Que nós possamos encontrar nele a paz de ser quem somos, sem ressentimentos ou pesares por isso.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Eu escolhi viver num mundo onde tudo é possível

Eu escolhi viver num mundo onde tudo é possível

É possível que alguém acredite no bom senso num mundo como o de hoje?

E na palavra de outro alguém? E nas intenções? Na vontade de fazer o certo?

Geralmente se acredita no que convém, no que parece mais com a verdade e senso de justiça que se conhece.

O mundo encolhe ou se expande no ritmo de cada respiração, de cada arquear de ombros ou dobra de joelhos.

Eu escolhi viver num mundo onde tudo é possível. Um mundo que me convém, que me permite olhar para tudo e me fixar somente no que me interessa, um mundo que eu não conheço mais pelos jornais, mas também não faço uso de suas notícias para vomitar revolta nem desesperança.

Escolhi o mundo que se relaciona comigo, que me oferece ferramentas para crescer, instrumentos para trabalhar. Não olho mais para o mundo distante que não faz parte da minha existência. Não quero entender de tudo, não preciso saber de tudo, não me interessam competições, gincanas, corridas. Só encararia a corrida contra o tempo, de tanto gostar do meu mundo, mas em briga perdida não se entra.

Eu escolhi o mundo de pessoas que olha profundamente nos olhos de seus semelhantes, de gente que se esforça para ser mais do que um espantalho enfeitado no milharal, que não tem medo de abrir mão de coisas em favor de pessoas, que coloca o dinheiro no seu devido lugar e que acredita que poder mesmo só tem que é livre!

No meu mundo, ninguém maltrata gente nem bicho.  Nesse mundo a gente troca fácil uma festa pomposa por aquela reunião barulhenta de amigos, com direito a confissões e gargalhadas até a barriga doer.

E que vai me condenar por escolher e decorar o meu mundo da forma como quero vê-lo? Mais fácil batalhar essa utopia do que tentar se enquadrar no mundo como ele é. Mais lucro mudar um milímetro de mundo, do que comprimir uma vida inteira no milímetro que conseguiu vislumbrar, de muito longe.

E só para terminar, no mundo que eu escolhi viver, há dor, sofrimento e morte. Mas, sendo nele tudo possível, é possível também que eu entenda que tudo isso é perfeitamente normal, não coisa de outro mundo.

Os limites, os abismos e as linhas de chegada

Os limites, os abismos e as linhas de chegada

Há quem ainda tenha fé no bom senso de todos os seres humanos. Essas pessoas tocam suas vidas acreditando que os outros à sua volta conseguem, de forma natural, entender até onde vai a sua liberdade de interferir, ou de depender, ou de controlar.

Este pode ser um risco mal calculado. A grande maioria de nós, não nasce com bons instrumentos de geografia emocional. Infelizmente, a chance de esbarrarmos com verdadeiros sugadores de alma, energia e vida, cresce numa escala geométrica a cada dia.

O culto à uma postura pautada na satisfação imediata dos desejos e necessidades pessoais, produz indivíduos extremamente autocentrados, cuja percepção dos limites alheios vive no mundo do desconhecido.

Houve um tempo em que ousou-se acreditar que o comportamento individualista ficava restrito, ou prioritariamente concentrado a centros urbanos capitalistas, ou ambientes corporativos voltados à produção de riquezas, ou, até mesmo a grupos familiares cuja dinâmica de funcionamento fosse regida pela competição entre seus membros, seja por bens materiais, atenção ou afeto.

Essa crença cai por terra diante de uma realidade concreta e mundial, segundo a qual as condições de sobrevivência, material ou filosófica, aparecem cada vez mais ligadas às habilidades de cada um em juntar bens de consumo, conquistar a admiração alheia e ostentar um sucesso que pode ser duradouro ou meteórico, tanto faz.

Assim, focados num objetivo estabelecido pelo outro, já que dependemos da sua audiência para sermos felizes, acabamos perdendo a noção dos limites. Vamos tocando a vida meio que de forma tão automática quanto irrefletida, e nos afastamos dos valores que deveríamos ter cultivado com o mesmo empenho que utilizamos para sermos bem-sucedidos socialmente.

Limites são linhas invisíveis; porém, absolutamente necessárias para garantir nossa opção pela vida e não, pela sobrevivência.

Precisamos conhecer nossos limites físicos, caso contrário viveremos em rota de colisão certa, porém não agendada, com um completo colapso das nossas capacidades de agir, sentir e pensar.

Precisamos conhecer nossos limites morais e éticos, porque sem eles tornamo-nos presas fáceis de nossa vaidade e loucura pelo poder. Loucura esta que, mais dia ou menos dia, fará de nós réplicas daquelas pessoas cujos comportamentos imorais e criminosos já criticamos um dia.

Precisamos conhecer nossos limites emocionais para que consigamos ser algo mais parecido com gente, e menos parecido com máquinas. É a linha afetiva que confere a cada um de nós a figura humana que apresentamos ao outro, quando o outro não tem nada para nos oferecer; quer seja o poder tão cobiçado; quer seja o sofrimento para nos garantir que existe alguém em situação pior do que a nossa.

Precisamos estabelecer limites à nossa autoindulgência, uma vez que essa excessiva permissividade certamente fará de nós pessoas molengas demais diante das dificuldades e demasiado empedernidas diante das falhas e dificuldades alheias.

Mas, não nos basta conhecer os próprios limites. Esse conhecimento, ainda que faça de nós seres humanos mais dignos e merecedores de confiança, não é capaz de nos garantir a paz. A paz, vem da nossa capacidade de estabelecer para o outro até que ponto ele tem permissão de tocar, conhecer e penetrar o nosso íntimo. Quando não somos capazes de fornecer ao outro o conhecimento da linha que determina quem é ele e quem somos nós; ficamos perdidos. E perdidos de nós mesmos, nunca poderemos nos encontrar, muito menos estaremos aptos para conviver. Sem termos conhecimento de nossas intersecções com o outro, nunca seremos capazes de ver a diferença entre limite, abismo e linha de chegada. Assim, podemos ser surpreendidos por uma queda fatal, quando pensávamos estar chegando no topo.

Especialista em sons da natureza adverte: o mundo animal está cada vez mais silencioso

Especialista em sons da natureza adverte: o mundo animal está cada vez mais silencioso

músico americano Bernie Krause já gravou com lendas como Bob Dylan, George Harrison e Stevie Wonder. Nos últimos 47 anos, porém, dedica-se a outro tipo de música: a orquestra da natureza. Krause se especializou em bioacústica e grava os sons de animais em florestas, mares, pântanos e desertos em várias partes do mundo. Hoje, ele possui um centro de pesquisa dos sons do mundo animal, com mais de quatro mil horas de gravações e 15 mil espécies em seu habitat natural.

O trabalho de Krause tem um valor inestimável já que, à medida que florestas são desmatadas e o clima se transforma, boa parte de seu trabalho é composto de sons que não existem mais. “Tudo está mudando por causa do aquecimento global, o nível dos mares e o desmatamento em geral. Metade dos meus arquivos vêm de habitats que ou foram radicalmente transformados pela ação do homem ou já estão em silêncio. Metade desses arquivos você já não pode ouvir de outra forma”, diz. Em entrevista a GALILEU, Krause explicou por que ele acredita que o mundo natural é uma narrativa que nos conta tudo que precisamos saber. Confira:

GALILEU: Antes de se dedicar à “orquestra da natureza” você era músico. O que o fez mudar de carreira?

Eu até conheci Tom Jobim e tivemos muitas discussões sobre isso também. Eu entrei nessa área porque como um músico eu sempre trabalhava em ambientes fechados e eu queria trabalhar ao ar livre. Em 1967, desisti da música de vez e fiz minha especialização em bioacústica, o estudo do som de animais vivos, e desde então trabalho na área. O que eu descobri no ramo dos animais foi a origem da vida, algo que o Tom fez, na verdade. Boa parte de suas músicas se baseiam nos sons da Mata Atlântica que ele ouviu ao crescer no Rio de Janeiro.

Você acha que nosso conceito de música é inspirado na natureza?

Toda nossa música é inspirada pelos sons da natureza porque somos mímicos. Nós aprendemos a imitar o que ouvimos no mundo ao nosso redor. Quando vivemos mais perto do mundo natural, organizamos os sons como os animais o fazem, imitamos o som solo de animais como pássaros e mamíferos e tiramos música daí. Quando começamos, éramos uma parte pequena da orquestra animal, porque precisávamos organizar esses sons para mostrar que fazíamos parte do mesmo grupo, para sobreviver.

Você tem experiência gravando os sons da natureza brasileira?

Eu gravei os sons de muitos lugares no Brasil, como Minas Gerais, Amazônia, a Mata Atlântica, eu fui ao Brasil muitas vezes e graveis em vários locais diferentes. Meu lugar preferido é a Amazônia porque lá o som é muito mais rico. É verdadeiramente mágico. Na Mata Atlântica, o problema é que o habitat foi tão prejudicado que é muito complicado gravar lá, você simplesmente não encontra mais muita diversidade.

Estamos enfrentando um sério problema de desmatamento na Amazônia agora também. Você tem uma comparação entre os sons da Amazônia ao longo de alguns anos?

Faz muito tempo que eu não vou ao Brasil, quero voltar à Amazônia, mas ainda não consegui financiamento para isso. O que sabemos é que, ao gravar sons naturais, você pode interpretar muito rapidamente as consequências da atividade humana, e as pessoas têm muito medo disso. Muitas indústrias não querem isso, então é muito difícil de conseguir financiamento. Porque mostra muito rapidamente os resultados do desmatamento, realmente mostra o antes e o depois das atividades do homem.

Por que usar gravadores e não câmeras para arquivar os sons da natureza?

Com uma câmera, é muito fácil enquadrar uma imagem que faz com que um habitat pareça saudável, mesmo quando ele não está. Já os microfones gravam em 360 graus, o habitat completo, e o som mostra uma perspectiva completa. O que eu falo aos meus alunos é que uma foto pode valer mil palavras, mas um som vale mais que mil imagens, porque o som nos fala a verdade, quantas espécies de pássaros, mamíferos, insetos e répteis estão ativos no lugar.

O silêncio é o som da extinção?

Nos anos 1960, uma mulher chamada Rachel Carson escreveu um livro chamado “A Primavera Silenciosa”, no qual ela explica o que vai acontecer se o mundo natural ficar silencioso por causa do homem. O que eu vejo é que estamos nos aproximando não só de uma primavera silenciosa, mas inverno, outono e verão silenciosos.

Mesmo em uma floresta densa como a da Amazônia, se você cortar apenas algumas árvores ali, as consequências serão sentidas em grande escala pelos animais que ocupam esse lugar há muito tempo. Ou seja, um efeito profundo no som que será sentido muito rapidamente. Nós temos que pensar nas formas como estamos afetando esses lugares e perguntar a nós mesmos se é isso o que queremos, o silêncio do mundo natural. São organismos vivos, essa é a vida de onde viemos, se a aniquilarmos, estaremos destruindo a vida à nossa volta. Essa é a voz divina, as pessoas falam em religiões, mas essa é a voz divina que está implorando por proteção. As nossas vidas dependem dela.

Confira, abaixo, a comparação de sons gravados por Bernie Krause em áreas que tiveram algumas áreas derrubadas:

Fonte indicada: Revista Galileu

Corações sujos

Corações sujos

Sair de casa com a roupinha cheirosa, sapato limpo, tudo arrumado e no seu lugar, e, no meio do dia já parecer um boneco amarrotado, é da vida. Para permanecer impecável, não se pode sair da vitrine. Esse é o ciclo suja-limpa-suja de todos os dias, com o corpo, as roupas, a casa, as ideias, as meias, as palavras.

A sujeira em si não é nada, é fuligem, poeira, voa para longe num sopro mais forte. A permanência da sujeira é que a fortalece, cria visgo, adesão, crosta.

Um sapato muito sujo ainda pode ser lavado e esfregado até que fique limpo novamente, embora com manchas e partes desgastadas.
Para um coração sujo não há alvejante no supermercado. Para décadas de depósito de poeiras e sujeiras, não há equipamento que aspire nem lave.

Alguns corações são sujos porque se permitiram virar depósito. Outros porque sentiram preguiça de efetuar as limpezas regulares, não encarando o lixo acumulado. Outros ainda talvez nem reparem, talvez pensem que está bem assim, que é normal olhar pela janela “cinzenta” e não enxergar o céu azul.

A limpeza de um coração exige renúncia. Renúncia ao lixo que virou escudo, cortina, fechadura.
Um coração sujo contamina os demais, exala veneno e ar tóxico, nem sempre porque quer, mas porque não sabe fazer diferente.

Como uma casa inabitável, um coração sujo precisa de faxina, de reforma, de uma grande caçamba na porta que caiba tudo o que não deve ficar mais, de um incinerador de mágoas e cobranças, de uma boa mão de tinta depois de lixado e lavado.

Não se condena uma roupa ou um sapato ao lixo porque estão sujos. Tampouco uma casa. O trabalho pode parecer impossível. E para alguns corações, é impossível mesmo dar conta sozinhos.
É preciso pedir ajudar. Família, amigos, profissionais, estudos, viagens, músicas, exemplos… Todo recurso é bem-vindo.

Ajudar um coração sujo a reaver sua cor e seu vigor é contribuir para a limpeza e manutenção do seu próprio coração, é entender o que quer dizer esse símbolo usado mundialmente para expressar o amor.

Só um brasileiro aparece entre os 100 livros mais pedidos nas universidades dos EUA: Paulo Freire

Só um brasileiro aparece entre os 100 livros mais pedidos nas universidades dos EUA: Paulo Freire

Apenas um livro de autor brasileiro aparece entre os 100 títulos mais pedidos pelas universidades dos Estados Unidos, de acordo com o projeto Open Syllabus. O projeto reúne ementas de disciplinas de instituições de ensino superior em todo o país e descobre quais são os livros mais solicitados pelos professores.

O único livro brasileiro a aparecer nos “100 mais” da lista é de Paulo Freire. Pedagogia do Oprimido, publicado pela primeira vez em 1974, aparece na 99.ª posição da lista. Segundo o Open Syllabus, o livro é requisitado em 1.021 ementas de universidades e faculdades dos EUA. Não é pouca coisa: o livro fica à frente de clássicos como Rei Lear, de Shakespeare; Moby Dick, de Herman Melville; e O Banquete, de Platão.

Pedagogia do Oprimido, de acordo com o projeto, também é o segundo livro mais pedido dentre todos os da área de educação. Perde apenas para Teaching for Quality Learning in University: What the Student Does, de John Biggs.

Outro livro bastante citado de um brasileiro (pelo menos dos que o blog conseguiu rastrear) é do ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Dependência e Desenvolvimento na América Latina tem 141 citações.

Como curiosidade, outros brasileiros que aparecem nas ementas são Clarice Lispector (A Hora da Estrela tem 40 citações); Machado de Assis (Dom Casmurro, com 33); e Euclides da Cunha (Os Sertõesaparece 27 vezes).

Dentre os paranaenses, há Dalton Trevisan, com duas citações, e Cristovão Tezza (O Filho Eterno, com uma citação).

Fonte indicada: Gazeta do Povo

92% dos estudantes universitários preferem o livro impresso ao digital

92% dos estudantes universitários preferem o livro impresso ao digital

Por Caio Delcolli

Se você é um leitor voraz, com certeza deve conhecer o prazer sem igual que é segurar um livro de papel em suas mãos e se deixar levar pela história impressa nele.

Você não está sozinho nisso. Uma recente pesquisa da American University, em Washington DC, Estados Unidos, mostra que mesmo hoje, com a possibilidade de leitura em várias plataformas digitais, como smartphones e tablets, e a forte presença dessa tecnologia na vida dos jovens, o livro de papel segue firme e forte entre os estudantes universitários, no que se refere a preferência.

Naomi Baron, professora de linguística da universidade, descobriu que 92% dos universitários preferem os livros impressos aos digitais para leituras sérias.

A pesquisa é parte do novo livro de Baron, Words Onscreen: the Fate of Reading in a Digital World (“palavras na tela: o destino da leitura no mundo digital”, em português). Ela e sua equipe entrevistaram 300 estudantes de países como EUA, Japão, Alemanha e Eslováquia.

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Alexis Bledel em cena de ‘Gilmore Girls’, série na qual ela interpreta Rory, uma leitora ávida | Reprodução

Segundo a professora, a atividade da leitura no papel tem componentes singulares, como o “físico, tátil e cinestético”. (Cinestesia é o sentido que nos diz quando partes do corpo se movem.)

“Nos dados eslovacos, quando eu perguntei o que ‘você’ mais gosta nas cópias impressas, um em cada dez falaram sobre o cheiro dos livros”, disse Baron, em entrevista à New Republic.

Outra característica apontada pelos estudantes foi a sensação de realização ao concluir um livro e vê-lo na estante.

Mas por que a geração digital ainda prefere o livro de papel?

“Há dois grandes problemas”, disse a professora, na mesma entrevista. “O primeiro é que eles dizem se distrair [facilmente], se afastar para outras coisas. O segundo tem a ver com o cansaço nos olhos, dores de cabeça e desconforto físico.”

“Um argumento que os estudantes deram a favor da mídia eletrônica é a preservação do meio ambiente. Mas essa é uma coisa difícil de se medir bem. Se você lê 400 livros no tempo de vida útil do seu kindle, ele foi eficiente à energia? Provavelmente”, explicou.

“Mas há a questão de energia e reciclagem. Onde esses dispositivos são reciclados? Quem faz a reciclagem? Que tipo de equipamento de proteção eles têm? E sobre toda madeira que usamos para [fazer] o papel – nós sempre tivemos maneiras criativas de usar lascas de madeira ou outras coisas para fazer papel.”

O digital, entretanto, não foram jogados para escanteio. As novas plataformas são as preferidas para leituras de forte aspecto visual ou notícias.

Fonte indicada: Brasil Post

Carta de garotinha à marca de bebidas é um soco no estômago

Carta de garotinha à marca de bebidas é um soco no estômago

O alcoolismo é um dos vícios mais subestimados pela sociedade. Há muito tempo a indústria cultural – e isso inclui a propaganda – estimula o consumo ao atrelar bebida alcoólica à diversão.

O que dificilmente se vê são os impactos que a dependência pode causar não só no indivíduo, mas em todos que estão em sua volta. Por trás da descontraída mesa de bar dos comerciais de cerveja e do elegante “gentleman” sempre vistos nas peças de whiskys, há homens e mulheres que perdem família, carreira e o pior, a personalidade.

Com objetivo de encontrar uma forma de mostrar a gravidade do alcoolismo, a ONG Bandeiras Brancas criou um filme que é um verdadeiro soco no estômago.

Baseado em uma história real, o vídeo “Carta para Jack” remonta a carta escrita por Laura, uma menina de 8 anos que, ao se deparar com mudanças de comportamento do seu pai, resolveu escrever para o possível amigo responsável pelas alterações de atitudes.

Na carta, narrada em primeira pessoa, a garota conta os seus traumas e frustrações conforme as mudanças de caráter do pai. Segunda a menina, não apenas ela, mas a família inteira sofre com os atos. Dificuldades como ver a mãe passar fome, seu pai perder o emprego e violência doméstica é contada pela menina.

O pedido final é que o suposto amigo de seu pai afaste-se dele, deixando assim a família em paz. Após a leitura da carta um final surpreendente trágico é revelado.

“A ideia é que o vídeo alcance o seu público alvo e alerte os seus familiares, que tanto quanto, precisam de ajuda”, afirma Brunno Barbosa, idealizador da ONG.

Veja:

Fonte indicada: Exame

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