Relações simbióticas: o que são.

Relações simbióticas: o que são.

Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir*

Bem cantou Chico Buarque em sua canção “Eu Te Amo” como pode ser uma falsa relação de amor, vulgo simbiótica, entre dois apaixonados que não se desgrudam para nada. Que efetivamente vivem um para o outro. Que se jogaram de cabeça em um querer alucinado onde as trocas, comuns em todo tipo de relacionamento, deixaram de ser escolhas para, com o tempo, se tornarem obrigações.

Um dos primeiros a tratar da complexa relação simbiótica entre duas pessoas foi Erich Fromm, psicanalista alemão, filósofo e sociólogo, que atribuiu o termo simbiose incestuosa para esse tipo de relação onde geralmente um incorpora o papel de manipulador e o outro de manipulado, com possíveis inversões.

Um amor simbiótico começa com um ideal bonito de amor romântico, onde um supre todas as necessidades do outro. Contudo acaba se moldando gradativamente até se tornar um tipo de troca custosa, com altas exigências, quase sempre relacionadas ao fim de qualquer tipo de iniciativa individual. Com o tempo vai faltando a esse casal qualquer tipo de autonomia e independência.

Podemos denominar autonomia como a capacidade de realizar atividades por conta própria e independência como o poder de ter iniciativa por conta própria. Sem elas, sem essas duas características, a individualidade do casal lentamente se dissipa e os dois viram um todo uniforme no qual não se distingue mais quem é quem.

Então, essa relação deixa de se dar em função do desenvolvimento dos dois apaixonados, mas sim pela sobrevivência dos dois. Um não pode mais sobreviver sem o outro. Nenhum dos dois se lembra mais de quem efetivamente é.

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu*

Mas como a vida é infinita em suas possibilidades e quase sempre cobra mudanças, esse relacionamento tende a se desequilibrar no instante em que um dos envolvidos se sente sufocado, levando o outro à insegurança. Esses papéis passam a se alternar então, ora um assumindo o papel do inseguro, demonstrando crises de ciúmes e a vontade de impedir o outro de socializar, ora o outro assumindo o papel de quem não suporta mais qualquer tipo de controle e vigilância.

Esse “sentir-se sufocado” quase sempre nasce da vontade de novas experiências de um dos lados, vontades essas que podem ser bastante corriqueiras. Então tomar um sorvete na esquina, sem avisos prévios, pode levar esse relacionamento a uma crise, mas eu diria que essa é uma boa crise. Nesse ponto ou o relacionamento continua sem a simbiose ou ele efetivamente termina.

E terminar um relacionamento desses não é nem de longe fácil, tão pouco lutar pela manutenção dele sem cair em velhas armadilhas.

Depois de um longo tempo dentro de uma relação simbiótica é difícil lembrarmos de quem efetivamente somos. Quase sempre, por mais insatisfeita que uma pessoa esteja, ela não se recorda do que efetivamente apreciava fazer, falar, ouvir e comer antes dessa relação castradora e isso gera uma imensa insegurança.

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir*

Em grande parte das vezes uma pessoa precisa estar madura emocionalmente para conseguir dar um basta a essa simbiose comportamental, para não voltar a ela pelo medo do desconhecido, da solidão e de enfrentar fraquezas e tormentos interiores, velados por tantos anos.

É preciso saber enfrentar a angústia do fim com muita honestidade, coragem, disposição e diálogo para poder virar a página de um capítulo deveras longo e cheio de sacrifícios pessoais que quase sempre não levaram a lugar algum.

Um relacionamento só é saudável, quando não precisamos do outro para nossa sobrevivência. Todo casal precisa manter uma certa distinção entre um e outro, garantindo que a personalidade de cada um seja preservada. O amor verdadeiro soma, engrandece, corrige para a melhoria, norteia, aponta para as boas possibilidades, perdoa e aceita. Um casal saudável colabora um com o outro de forma respeitosa e juntos constroem projetos comuns que podem trazer felicidade para ambos e não só para uma das partes.

Aceitar uma relação simbiótica, tanto no papel de manipulador, nesse caso desconhecendo qualquer resquício do que é efetivamente o amor, ou de manipulado, recebendo ordens quase sempre contrárias ao ímpeto pessoal, é se deixar morrer vivo, é aceitar vagar pelo mundo como um zumbi que sorri ao falar de amor, mas que desconhece a felicidade trazida por ele.

Todos merecemos o amor verdadeiro e todas as suas maravilhosas possibilidades. E absolutamente todos nós corremos o risco de um dia nos equivocarmos quanto a ele. Cabe somente a nós, ao notarmos um caminho torto, nunca nos entregarmos rendidos a ele.

Sempre é tempo de reparar uma relação e se preciso recomeçar. Enquanto vivermos sempre haverá em nossa frente um leque de possibilidades. Escolher não é fácil, mas é imprescindível quando desejamos viver plenamente e não apenas sobreviver de forma apática e descontente por aí.

*_ Trecho da música “Eu Te Amo” de Chico Buarque.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Os outros não lhe ofendem, você se ofende

Os outros não lhe ofendem, você se ofende

 

Os pensamentos dos outros são apenas pensamentos dos outros. Se eu acreditar neles, permitirei que me afetem ou que me ofendam.

Portanto, sou eu mesmo, através do meu diálogo interno sobre a realidade, quem provoca sofrimento. Não são os outros que me ofendem, eu me ofendo quando acredito no que os outros pensam sobre mim.

Receba as críticas com tranquilidade e não permita que elas causem sofrimento ou desconforto.

Nós não podemos controlar ou alterar o que acontece “lá fora”, mas podemos mudar a forma como interpretamos os fatos. Se tenho esse poder, posso dizer que sou o dono das minhas emoções. Eu controlo as minhas emoções, não são elas que me controlam.

Muitos vão achar que isso é conformar-se com a situação. É injusto ser criticado por algo que você não é ou pelo que não fez. Bem vindo ao mundo e à vida! Ambos são injustos por definição, mas em contrapartida nos oferecem muitas coisas boas.

Como mudar os pensamentos e encarar as críticas com tranquilidade?
– O mais importante é se conhecer, amar e aceitar a si mesmo incondicionalmente. Se você se conhece profundamente e se aceita como realmente é, não importa o que os outros dizem. Isso não vai afetá-lo.

– Entenda que o outro tem o direito de pensar, criticar, julgar e avaliar. Por mais que isso nos incomode não podemos mudar essa situação. O que os outros pensam a seu respeito não é um problema seu; é um problema deles.

Não temos como controlar ou influenciar o que os outros pensam a nosso respeito. Portanto, é inútil reagir negativamente; isso pode gerar mais críticas.

Ouça todas as críticas. Às vezes, elas nos trazem muitos ensinamentos e nos ajudam a crescer.

Responda às críticas com serenidade, tanto a nível verbal como não verbal. Não responda com sarcasmo, com ar de superioridade ou com “cara amarrada”. Isso enviará para a outra pessoa a mensagem de que você se preocupa mais com o que ela pensa a seu respeito do que com o que você pensa sobre si mesmo.

Olhe nos olhos do outro com tranquilidade, mas sem desafiá-lo. Mantenha uma postura relaxada e segura e diga-lhe que tem o direito de pensar o que quiser a seu respeito, mesmo que não concorde e sua opinião seja diferente.

A chave não é aceitar e discutir, mas aceitar sem concordar, o que é muito diferente.

É fácil agir dessa forma? Não! Não aprendemos a ser racionais e nem aceitar incondicionalmente a opinião alheia. Muitas vezes agimos contra a nossa vontade, simplesmente para não sermos julgados e criticados.

Mas de qualquer maneira, podemos tentar encarar as críticas com mais tranquilidade. Pratique com afinco as nossas sugestões, até que possa dizer a si mesmo: o que os outros pensam de mim são apenas seus pensamentos.

Fragmentos do original:  O que você pensa sobre mim são apenas seus pensamentos

Imagem de capa: Natacha Cortêz

10 ensinamentos de Shakespeare para viver o amor todos os dias

10 ensinamentos de Shakespeare para viver o amor todos os dias

Por Luis Batista Gonçalves

Atemporal e assertivo, o poeta e dramaturgo britânico imortalizou máximas que são verdadeiras lições de vida para os relacionamentos contemporâneos.

É o sentimento que mais emoções desperta. «De todas as questões que preocupam o ser humano, nenhuma tem tanta importância como o amor», considera mesmo Allan Percy, coaching e autor de livros de desenvolvimento pessoal. Em «Como sabes que é amor?», publicado em Portugal pela Marcador Editora, apresenta 72 ensinamentos de Shakespeare que mostram como viver o amor todos os dias. Abaixo foram separados 10 deles:

1. «Se não se lembra de uma pequena loucura que cometeu por amor, não amou»

A paixão, pelos benefícios que nos traz, «é um bálsamo», assegura Allan Percy. Estar apaixonado gera um reforço da autoestima «pelo simples fato de nos sentirmos amados, admirados e valorizados», refere. Esse estado de graça promove um aumento da criatividade. «Porque não queremos deixar de surpreender o outro», garante o coach.

2. «Na amizade e no amor somos mais felizes com a ignorância do que com o saber»

O que não sabemos não nos pode magoar e, por vezes, o excesso de informação e a vontade de querer saber tudo acaba por ter um efeito prejudicial. «O sentimento romântico é um ser delicado que pode morrer se for dissecado», considera o especialista.

3. «Para celebrar os rituais amorosos, os amantes só precisam da luz da própria beleza e, como o amor é cego, a noite é o melhor para eles»

Estas palavas de Julieta no terceiro ato do grande drama romântico de Shakespeare «Romeu e Julieta» devem ser levadas muito a sério. Para estimular a libido do casal, Allan Percy sugere a relação ocasional de um jantar afrodisíaco que deverá incluir ostras, vinho, champanhe, chocolate, mel e cravo-da-índia, alimentos e ingredientes com reconhecidos poderes afrodisíacos.

4. «O curso do amor verdadeiro nunca decorreu sem percalços»

As histórias de amor felizes só existem nos livros e no cinema. Nas relações do cotidiano, há todo um processo de concessões e de adaptações a fazer diariamente. «A paixão é, com frequência, uma miragem que fabricamos, pois alguém que passa despercebido a qualquer outra pessoa converte-se aos nossos olhos num modelo de virtudes e encantos», sugere Allan Percy.

Na reta final de «Como sabes que é amor?», o especialista cita M. Scott Peck, autor do livro «O caminho menos percorrido. «Para Peck, o amor verdadeiro, o que ultrapassa o desejo sexual e o medo da solidão, é aquele que nos leva a comprometermo-nos a longo prazo (…) Esse é o AMOR em maiúsculas», assegura.

5. «As nossas dúvidas são traidoras que muitas vezes nos fazem perder o bem que podíamos ganhar»

Manter uma relação amorosa nos dias que correm nem sempre é fácil, sobretudo para os mais ciumentos e para os mais inseguros. «No terreno do amor a dois, as dúvidas são minas explosivas que, mais cedo ou mais tarde, corremos o risco de pisar», escreve o autor. Uma situação que gera «um claro desequilíbrio no casal», adverte.

6. «É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que com a ponta da espada»

Esta frase do poeta e dramaturgo britânico tem uma versão popular portuguesa, que muitas pessoas hoje ainda utilizam e que diz que «não é com vinagre que se apanham moscas». «Na arte da sedução, não contam apenas as palavras (…) O sorriso é a cola natural de qualquer relação humana e, sobretudo, das relações amorosas», afiança Allan Percy.

7. «Não suje a fonte onde afogou a sua sede»

É uma verdade inquestionável. «Todas as relações começam bem, mas algumas acabam mal. A vida em casal pode ser um paraíso, mas também se pode converter num campo de batalha, onde os adversários tentam tornar a vida do outro impossível», escreve o coach de desenvolvimento pessoal.

Para contrariar esta tendência, o especialista sugere que se recupere «de forma periódica hábitos e rituais da etapa inicial do casal», incluindo «sessões de cinema, jantares em restaurantes românticos, sair para dançar…» e uma (re)aproximação através do diálogo. «Partilhar com o companheiro problemas e desejos individuais, mesmo que não sejam fáceis de resolver», sugere Allan Percy.

8. «Se dois cavalgam um cavalo, um deve ir atrás»

Numa relação a dois, há papéis a desempenhar que não podem (nem devem) ser confundidos, mas também há contas que não podem ser feitas. «Pode acontecer que no início do romance um dos membros do casal esteja mais apaixonado do que o outro e, um ano depois suceda o contrário (…) Em todo o caso, não é importante quem dá mais à relação, sempre que a assimetria não seja demasiado grande», refere o autor.

9. «O nosso destino não está nas estrelas mas em nós próprios»

Nos dias de hoje, estar sozinho e abatido em frente ao computador ou com o telemóvel nas mãos é uma realidade para muita gente. «As redes sociais converteram-se no grande ponto de encontro dos corações que desejam amar», sublinha o escritor, que considera que essa pode, contudo, ser a solução para muitos solitários. «Pensar que este tipo de relações não pode ser intensa e duradoura é um preconceito», diz.

10. «Um homem que não se alimenta dos seus sonhos envelhece rapidamente»

O sonho comanda a vida e William Shakespeare sabia-o. «O amor move montanhas e os nossos maiores êxitos, tanto os individuais como os coletivos, são impulsionados pelo amor por um sonho», considera também Allan Percy.

Fonte indicada: Sapo-Saber Viver

Carta aberta a quem sofre de esperança.

Carta aberta a quem sofre de esperança.

Ah… pessoa amiga! Bom ver você aqui. Andei longe, enfiado em caminhos por onde se encontra tudo menos gente como você, correta, valente, cheia de vida. Andei por baixo, mirando os desenhos e as ranhuras do chão, varrendo as calçadas com os olhos. Parti ladeira abaixo buscando sei lá o quê, fugindo já não sei de quem.

Arrastei a alma vazia no asfalto, feito saco plástico levado pelo vento, e caí em tantos buracos quanto os passos que dei, passos maiores que as pernas tomadas de câimbras e ansiedade. Você decerto não sabe o que é isso, e eu espero honestamente que jamais descubra, mas eu reconhecia as pessoas pelos pés, sabia quantas lajotas formavam uma tal calçada e desprezava uma multidão de moedas perdidas que encontrava em cantos tristes da rua. O sol queimava minha nuca e fazia da sombra do meu corpo um interlocutor persistente e dedicado, o único, caminhando comigo, perdido como eu.

Porque eu me perdi, sim, me perdi de tanto seguir. Fui andando, apertei o passo, caminhei para longe e me afastei demais. De lá, da lonjura a que fui chegar, o que eu gritava ninguém podia ouvir. Você também não podia ter ouvido. Minha voz não existia senão para mim mesmo. Já não passava de um murmúrio teimoso, exibindo a resistência inútil das árvores que despencam de tão velhas, os troncos apodrecidos, os galhos estalando secos, esbravejando na queda.

Fomos longe demais, me dizia a sombra aqui embaixo. Ela estava certa. Não fosse meu periscópio de segunda mão que achei no baú onde guardo os sonhos frustrados, os bilhetes de loteria perdidos, os números de telefone que não existem mais e os ossos que ainda não dei aos cachorros, meu contato com o mundo, que já era tão pouco, teria sido nenhum. Eu me afastei. Para longe, para o fundo.

E você? Andando por quais caminhos? Me conta! Eu parti e cheguei até onde não se sabe mais o rumo de volta. Mas voltei. Mais velho, mais cheio de novos medos, voltei. E na volta encontrei você como um bom presságio. Uma música linda, um sentimento de paz de domingo à tarde, depois do almoço, invade meu mundo por todos os poros. É uma canção quatro por quatro, batendo mansa, ventando tranquila, enchendo a casa, untando as formas de bolo do próximo aniversário. Um pensamento de tamanha limpeza percorre os corredores longos e os quartos largos das minhas lembranças, e uma ternura tão humana e tão sutil abre a janela e fica ali, apanhando vento na cara, os cabelos voando, a vida suando na pele, sob o calor generoso do sol. Você está aqui e é testemunha de que hoje um homem voltou a olhar para a frente, para o alto.

Sigo caminhando, em busca. Mas caminho com uma nova esperança. A esperança viveu de novo. Ela é sempre a primeira que vive. Não parto mais ladeira abaixo. Faço as malas e avanço para o mundo. Agarrado ao presente incalculável de existir. Feliz um dia ou outro, tristonho de quando em vez. Mas vivo, agradecido, correndo para a vida em sua devastadora, infinita e espantosa beleza.

Manipuladores cavam a própria cova. Deixemos que trabalhem em paz.

Manipuladores cavam a própria cova. Deixemos que trabalhem em paz.

Característica básica de quem se acha muito esperto é subestimar a inteligência do outro ou mesmo subvalorizar sua bondade.

Eis que chega o manipulador- que não se entende como tal- e com seus tentáculos de pseudo simpatia e afeto envolve a possível vítima que pretende sujeitar a seus desejos.

Invejoso e ressentido com o sucesso ou alguma outra característica alheia, ele se faz de amigo. Impõe sua presença mesmo sem ser convidado  e esforça-se para ludibriar as percepções de quem perto dele está e já percebe- a gente sente- que o carinho e interesse demonstrados não são positivos.

O manipulador, entretanto, não se satisfaz com a proximidade do “objeto de desejo. Ele não consegue ver na companhia adquirida uma forma de crescimento por aprendizagem e, a cada dia, mais incomodado fica. Ele quer mais, ele quer tudo. Olhar diariamente para um espelho do que não tem alimenta sua cobiça destrutiva e por isso ele sabota, ele fala mal, ele cria redes de intriga com outras pessoas próximas.

O “mal” dificilmente é assumido. O manipulador é bonzinho. É o pior de todos os bonzinhos: é o falso bonzinho.

Ele não é aquele que dirá que está com ciúmes, que tem inveja ou raiva; ele dirá que está preocupado com você para despertar em uma terceira vítima o interesse pelo assunto.

Ele não reconhecerá seus próprios erros e vacilos publicamente; ele procurará características que considera falhas no objeto de desejo. É triste, mas o manipulador é aquele que exalta a cristaleira para depois quebrar o prato.

O manipulador parece perspicaz e faz grandes estragos, mas no fundo é um ingênuo. Ele não percebe que o outro trilhou seus próprios caminhos e compara seu começo com meio ou o fim do outro. Gasta suas habilidades sociais na destruição, direciona toda uma energia que poderia construir para isso e, sim, isso é um caso patológico.

Todos nós caímos em suas garras e, muitas vezes, fazemos seus gostos apenas para nos livrarmos de seu assédio. Mas a lei do retorno deve ter sido criada inspirada nesse “tipo” de comportamento:

Os manipuladores não cansam só você, não invejam só você, não falam mal só de você.

O manipuladores cavam a sua própria cova. Deixemos que trabalhem em paz.

As curiosidades da vida de Édith Piaf

As curiosidades da vida de Édith Piaf

Por Daniela Costa

Édith Piaf teve uma carreira recheada de sucessos, mas há algumas curiosidades na sua vida que provavelmente você desconhece. Saiba mais sobre ela no aniversário dos 100 anos do seu nascimento.

É uma das cantoras de referência francesas e, apesar de ter falecido na década de 1960, a sua fama persiste até aos dias de hoje.

Piaf teve uma vida cheia de histórias. Lenda ou verdade, saiba algumas curiosidades da vida dessa grande cantora.

1. O nascimento de uma estrela

Conta a história que Édith Piaf nasceu na calçada da Rue de Belleville 72, em Paris, quando a sua mãe procurava ajuda por se encontrar em trabalho de parto. No entanto, a sua certidão de nascimento refere que Piaf nasceu no Hospital de Tenon, local que se situa em Belleville.

2. Nome de enfermeira

Acredita-se que o seu nome, Édith, foi escolhido como homenagem a uma enfermeira britânica, que foi executada por ajudar soldados franceses a escapar dos alemães na Primeira Guerra Mundial.

3. Uma família pouco tradicional

Filha de mãe cantora em cafés e de pai acrobata com experiência em teatro, diz a história que a pequena Édith foi abandonada pelos pais ainda bebé, tendo ficado aos cuidados da avó materna durante 18 meses. O pai de Piaf, antes de se alistar no exército, levou-a para os cuidados da avó paterna, proprietária de um bordel, na Normandia. Nesse tempo, eram as prostitutas do bordel que tomavam conta do bebê.

4. A cegueira que chega na infância

Diz a lenda que Édith Piaf ficou cega quando era criança por causa de uma ceratite (inflamação na córnea). A cura chegou quando as prostitutas com quem viviam a levaram a rezar no túmulo de Santa Teresinha. A cantora foi devota desta santa durante toda a sua vida.

5. Uma jovem que não estava preparada para ser mãe

Com 17 anos, Édith deu à luz a sua única filha, em 1933, que batizou de Marcelle, fruto da sua relação com Louis Dupont, um entregador. A menina viria a padecer de meningite aos dois anos de idade.

6. “La Môme Piaf”

Édith foi descoberta pelo dono do cabaré “Le Gerny’s”, Louis Leplée, quando cantava na rua. Foi nesse momento que a sua carreira artística melhorou substancialmente. Foi ele que a batizou de “La Môme Piaf” (O pequeno pardal), uma vez que a cantora media apenas 1,47 m. Mas foi Raymond Asso que, mais tarde, mudou o seu nome artístico para Édith Piaf.

7. Às voltas com a justiça

Em 1936, Louis Leplée é assassinado em casa e Édith Piaf é acusada de ser cúmplice da sua morte. A cantora acabou por ser absolvida destas acusações. No entanto, este episódio chamou sobre si muita publicidade negativa, que Piaf conseguiu superar.

8.  Charles Aznavour, o motorista

É um dos músicos referência na França mas, em 1951, Charles Aznavour era um aspirante a cantor que tinha sido contratado como assistente e motorista de Édith Piaf. Foi a cantora que impulsionou a sua carreira.

9. Os casamentos da diva

Édith Piaf casou duas vezes. O primeiro marido foi o francês Jacques Pills e a madrinha de casamento foi a célebre atriz Marlene Dietrich. O segundo marido da cantora foi Theo Sarapo, um cabeleireiro de origem grega, 20 anos mais jovem. Diz-se que, após a sua morte, apesar de Piaf ser católica, foram proibidas as obséquias religiosas por ser divorciada. No entanto, o Arcebispo de Paris autoriza a presença de um padre no cemitério para rezar pela artista.

10. A morte em Paris

Édith Piaf sempre tinha manifestado o desejo de morrer em Paris, mas quis o destino que a morte da artista chegasse quando a cantora de encontrava em Plascassier, em Grasse, nos Alpes, a 10 de outubro de 1963. O seu corpo foi movido em segredo e a sua morte anunciada no dia seguinte, 11 de outubro, em Paris.

Fonte indicada: Sapo

Carrego o mundo nas costas e ninguém reconhece

Carrego o mundo nas costas e ninguém reconhece

“Faço tudo por tal pessoa, penso nela primeiro do que em mim, carrego o mundo nas costas, e, em troca, recebo maus-tratos e ingratidão.”

Sempre que ouço isso, lembro de quando viajava muito a trabalho e ao sentar no avião eu ouvia: “Em caso de despressurização do ar, máscaras de oxigênio cairão à sua frente, coloque-a sobre sua boca e nariz para só então auxiliar crianças, idosos e quem necessitar”.

Pela minha natureza empática e pelo meu vício de “cuidar dos outros primeiro”, ficava inconformada com tamanho egoísmo. Como deixar uma criança ou um ser amado morrendo ao seu lado enquanto você cuida do seu próprio bem estar primeiro?

Com essa minha inquietação, eu tocava a vida seguindo as instruções de voo, sem jamais entender que eram instruções a serem seguidas também em terra firme, na vida prática.

Quando “a ficha caiu” já tinha experimentado um número sem fim de frustrações e ingratidão. A vida não funcionava bem, simplesmente não engrenava nada. Eu me doava e me desdobrava e não recebia nem um mísero “valeu aí”.

Um dia, desolada com uma enésima frustração, me sentei num voo para “esquecer a minha doação não reconhecida” e foi bem ali, ao ouvir as instruções de voo, que concluí que para sobreviver em todos os aspectos da vida é preciso usar o que chamei de:

TEORIA DO AR DESPRESSURIZADO

É bem simples. Num ambiente onde há despressurização do ar, a falta de oxigênio leva o ser humano a perder os sentidos rapidamente, cessando em seguida suas funções cerebrais. Ou seja, ao se deparar com uma situação de emergência em pleno voo, se você não colocar sua máscara rapidamente, morrerá e morto, não poderá ajudar as pessoas que são necessitadas, levando-as também, à morte.

Assim funciona nas relações interpessoais em pleno voo da vida. Ao esquecer-se de si para alimentar primeiro a necessidade do outro, você deixa de suprir-se da energia vital necessária para continuar vivo de modo a poder dar ao outro aquilo que já se deu.

Portanto, passageiros e passageiras desse lindo voo chamado vida, quando acharem que estão “carregando o mundo nas costas, dando mais do que recebendo e cuidando primeiro dos outros”, fazendo com que lhe falte o mínimo de energia necessária para manter seu próprio sorriso no rosto, lembrem-se da “teoria do ar despressurizado” e coloquem imediatamente sua máscara de oxigênio. RESPIRE pela boca e pelo nariz, sinta-se FORTE e CONSCIENTE, de modo a ter condições para preservar a vida e a alegria de pessoas importantes: VOCÊ e as pessoas que você ama.

 

15 palavras que mudam de sentido após os 30 anos (ótima)

15 palavras que mudam de sentido após os 30 anos (ótima)

1 – Tarde

Antes: entre as 03:00h e 04:00h da madrugada.

Agora: qualquer hora depois das 23.00h da noite.

2 – Friends

Antes: aquela serie de televisão sobre pessoas que pareciam tão tão tão velhas.

Agora: uma série sobre pessoas mais novas do que eu.

3 – Protetor solar

Antes: Protetor de fator 10 passado só nas zonas mais sensíveis antes de chegar à praia.
Agora: Besuntar o corpo todo com fator 50 e repor várias vezes ao longo do dia de praia.

4 – Estar bêbado

Antes: beber diversas cervejas e bebidas destiladas.

Agora: beber dois copos de vinho branco com o estômago vazio.

5 – Jovens

Antes: aqueles que estavam na escola secundária.

Agora: literalmente todas as pessoas com vinte e poucos anos.

 

6 – Metabolismo

Antes: algo muito bom que permite comer e beber o que se quiser.

Agora: uma maldição que faz com que a pizza e as pipocas vão diretamente para as pernas, a barriga e o bumbum.

7 – Rejeição

Antes: Algo que me afetava completamente.

Agora: que venha o próximo/a.

8 – Azia

Antes: Aquilo de que os seus pais se queixavam.

Agora: Ai meu deus, não aguento mais..!

9 – Quando eu tinha a tua idade

Antes: aquilo que se dizia ironicamente.

Agora: aquilo que se diz com total sinceridade e melancolia.

10 – Apagado/Morto

Antes: o excesso de bebidas alcoólicas que levavam à perda de memórias de certas partes da noite anterior.

Agora: estar cansado demais e ir dormir  às 20:00h, ainda com a roupa do trabalho.

11 – Creme para rugas

Antes: aqueles produtos que a sua mãe comprava sem parar.

Agora: conversa que tem com as suas amigas quando toma café.

12 – Olheiras

Antes: aquilo que ficava sob os olhos quando não dormia o suficiente.

Agora: aquilo com que acorda todos os dias.

13 – Acordar cedo

Antes: acordar às 07:00h para ir para as aulas.

Agora: acordar às 6:30h para chegar cedo ao mercado e levar os melhores vegetais e peixe fresco.

14 – Show

Antes: curtir a noite toda.

Agora: eu só quero sentar e apreciar um pouco de boa música.

15 – Divórcio

Antes: aquilo que acontecia aos seus pais ou pais dos seus amigos.

Agora: aquilo que acontece com você e com os seus amigos

Artigo adaptado para o português-BR pela CONTI outra. Fonte original Sapo/ MustStrazzera

Imagem de capa: Alice Mason

Pássaros engaiolados

Pássaros engaiolados

Meu pai gostava, assim como inúmeras pessoas gostam, de ter pássaros em casa. Através de suas gaiolas ele admirava a beleza e o canto.

Eram bem tratados, tinham água e comida.
Mas, não tinham algo indispensável: a liberdade!

Como meu pai tinha pássaros em casa, em especial canários belgas, cresci acostumada a ouvir o trinar e o lindo canto deles e nunca havia parado para pensar na liberdade que eles deveriam ter.

Um dia, meu irmão escreveu um texto para um jornal local comentando sobre esse assunto, e comparou a prisão de pássaros à prisão de seres humanos.

Bem, a prisão de pessoas se torna necessária dado às suas atitudes delinquentes. Mas, não é da natureza humana, ficar aprisionado, como não o é também a natureza das criaturas aladas.

Diziam que os canários belgas não sobrevivem se fossem libertos, mas, e se nunca tivessem ficado presos numa gaiola? Pensei!

Fomos feitos dotados da necessidade de liberdade, assim como os pássaros necessitam alçar voos , cantar livres e se acasalarem.

Por mais que, às vezes, desejemos ter em casa um pássaro de estimação, é bom pensarmos com sensatez que eles nasceram com a genética da liberdade de voar livres, de cantarem soltos…

Vamos apreciar os pássaros nas árvores, em praças, jardins, nas matas…
Que fiquem livres para o voo ao vento, assim como queremos ser livres na terra.

Medo, todo mundo tem! E criança tem também!

Medo, todo mundo tem! E criança tem também!

O medo é um sentimento orgânico. Sua manifestação provoca reações emocionais e físicas, além de alterar a nossa percepção do mundo ao redor. Não há quem nunca tenha experimentado o medo, em alguma esfera, intensidade ou circunstância. E, para compreender minimamente este senhor tão antigo quanto implacável, é preciso antes respeitá-lo e, sobretudo, abrir mão de julgá-lo.

De uma hora para outra, aquele bebê risonho e sociável muda de comportamento; começa a estranhar pessoas que não estranhava antes, parece assustado, esconde o rostinho no colo seguro; por vezes, a rejeição é  tão forte que o bebê chega a apresentar um choro sentido e expressivo. Essa alteração de comportamento costuma surgir por volta de seis a oito meses de idade e está relacionada com o desenvolvimento motor e emocional da criança. Nessa fase o bebê inicia um processo de percepção de si mesmo como uma outra pessoa e, não mais, como uma extensão de sua mãe. Assim, é natural que surja um sentimento ligado à sensação de ameaça, quando se está diante de alguém desconhecido. A mudança é motivo de comemoração, visto que este comportamento está relacionado ao amadurecimento das funções motoras, neurológicas e emocionais do bebê.

É no oitavo mês de vida que a criança passa a manifestar medo de ficar sozinha. Isso acontece porque é nesse período que ela começa a se socializar e expressar real interesse pela presença e companhia do outro. A criança chega a sonhar que está sem os pais nesta fase, e fica muito angustiada com isso. No entanto, é  preciso entender que o sonho com a separação dos pais é outra manifestação de amadurecimento que se baseia no desejo de explorar o mundo.

Dos oito meses até aproximadamente um ano, além da perda dos pais manifesta durante o sono, a criança pode passar a temer perdê-los durante o dia também. A explicação vem do fato de que os pequenos acreditam que as pessoas desaparecem quando saem de seu campo de visão. Situações e lugares novos também costumam causar algum desconforto nessa fase; por isso, é importante que as novidades sejam apresentadas na presença dos pais ou do cuidador do bebê.

É bem nessa deliciosa fase que vai de um a três anos, quando a criança se torna um explorador do mundo que pode surgir o medo de máscaras ou pessoas fantasiadas; esse desconforto é explicado pela falta de intimidade da criança com tudo o que é diferente ou exagerado.

Já maiorzinhos, entre três e cinco anos, é comum a manifestação do medo de monstros, fantasmas, bruxas, trovão, de se perder. Esses medos têm relação com o imaginário, pois nessa fase de desenvolvimento a criança vai experimentando e começando a perceber o que é verdade e o que é fantasia. Assim, a fonte do temor ora é fantasiosa, ora é absolutamente real.

Dos cinco anos em diante, os pequenos podem ser mais facilmente atingidos pelas ameaças que fazem parte do mundo dos adultos. Por isso passam a ter medo de bandidos, de serem esquecidos na escola, de desastres naturais e da violência. Esses temores entram para o repertório da criança porque nessa faixa etária ela fica muito interessada pelo “mundo dos grandes”; e, junto com o fascínio pelas profissões, pela habilidade de dirigir um automóvel ou tomar decisões, vem uma maior aproximação com as tragédias cotidianas.

A partir dos seis ou sete anos, a criança entra em contato com o medo da própria morte mas, principalmente da morte dos pais; e, também tem horror a ser criticado, não agradar ou perder o amor do pai e da mãe. Esse temor vem com a percepção que a criança tem de que há situações irreversíveis que assolam as pessoas. E o receio de não agradar é uma manifestação íntima da percepção que a criança possui de que o amor dos pais depende de seus êxitos e comportamentos adequados.

As crianças de oito ou nove anos têm uma consciência mais ampliada acerca dos perigos e complicações que nos rondam. Elas sofrem com a possilidade dos pais se separarem, perderem o emprego, ficarem doentes ou sofrerem um acidente. Temem também pela segurança daqueles que amam e sofrem com a possibilidade de perder os amigos ou serem deixados de lado pelo grupo. São medos muito mais racionais e ligados à elementos que permeiam a vida afetiva e os relacionamentos.

Diante de tantas variações e modulações relativas ao medo no decorrer da infancia, é natural que surjam dúvidas acerca da melhor forma de lidar com cada situação.

No caso do bebê que começa a estranhar as pessoas ou manifestar medo, entra a sabedoria de compreender que tudo que essa pequena criança precisa é de tempo e da garantia de estar inserida num ambiente seguro, para que as pessoas, situações e experiências novas sejam vividas com tranquilidade e prazer; diante do desconforto do bebê, nunca force um enfrentamento; acolha-o,  respeite-o e conduza-o com afeto a cada nova descoberta.

Quando a criança maiorzinha ficar com medo do palhaço na festa de aniversário, da bruxa no filme do cinema ou do Papai Noel no shoping,  entenda que ela está buscando entender o que existe de fato, o que existe só no livro de histórias fantásticas e o que existe só na sua imaginação. Ajude-a a fazer essa “leitura” do mundo. Uma estratégia simples que pode ajudar muito é levar a criança a uma loja de fantasias e deixar que ela olhe, explore, toque, experimente. Fazer fantasias improvisadas em casa também pode ser uma atividade lúdica e prazerosa para ajudar a administrar este temor.

Os medos do cotidiano, como ser esquecido na escola, sofrer um assalto ou perder-se dos pais precisam ser tratados como são: reais e eventualmente passíveis de acontecer. Assim, diante de um temor dessa natureza, é  necessário garantir à criança que ela sempre poderá contar com a proteção de um adulto conhecido; a garantia de segurança ajuda a criança a equalizador o medo. Outra orientação, igualmente importante é ter o cuidado de filtrar os conteúdos a que a criança tem acesso pela televisão, computador e outros veículos de mídia. Assistir a noticiários sensacionalistas, assistir filmes ou fazer uso de games violentos não traz nenhum tipo de benefício.

O medo de não ser aceito costuma ser mais frequente do que se imagina. Assim é preciso refletir sobre as dinâmicas da família para lidar com o erro, o fracasso e as frustrações. Pais extremamente exigentes e competitivos criam filhos ansiosos, tensos e cheios de dificuldades de auto aceitação. Pais extremamente permissivos ou superprotetores, criam filhos frágeis emocionalmente, inseguros diante dos desafios da vida e incapazes de lidar positivamente com as inevitáveis frustrações. Num caso ou no outro, as crianças crescem despreparadas para vivenciar situações não planejadas ou que exijam delas que se posicionem e façam escolhas; serão adultos com medo de crescer e enfrentar a vida.

O medo é componente desse caldo de emoções que modulam a nossa personalidade. Uma porção adequada dele nos é necessária, pois nos faz buscar proteção diante de uma situação de perigo real. Precisamos compreender que toda manifestação de medo é legitimamente humana; merece respeito, acolhimento e disponibilidade para estender a mão e ajudar aquele que sofre a comprendê-lo, seja para administrá-lo ou libertar-se dele.

Entre vítima ou refém, escolha ser livre!

Entre vítima ou refém, escolha ser livre!

Toda liberdade tem seu preço e em igual medida, seu valor.
Quando você diz que escolhe ser livre, diz também que vai ser preciso discordar muito, transgredir um pouco, decepcionar às vezes, contrariar um monte, espantar, escandalizar, atrapalhar planos, fechar ciclos, quebrar paradigmas, destruir tabus. Não é pequeno o estrago que a liberdade produz.

Para ser livre, não se pode entregar os comandos da vida a nada ou a ninguém. Não se pode ser vítima do outro, nem da própria fraqueza, tampouco trapacear, fingindo-se frágil e incapaz, terceirizando responsabilidades e decisões.

Liberdade é poder esticar os braços e as pernas e nenhum obstáculo interferir.
Liberdade é levar os pensamentos até onde desejar e, no retorno, vê-los transformando-se em ações e resultados.
Liberdade é encarar com altivez os monstros que nos espreitam, fazer escolhas e sustentá-las, não se entregar às lábias, não se entregar ao canto da sereia.

Sempre que se abre mão da liberdade, alguém a toma para si. E desse alguém viramos vítimas, reféns, escravos, criaturas submissas, sem voto nem opinião.
Há quem acredite nas vantagens de uma vida assim. Mas há cada vez menos. Quem já desfrutou do gostinho da liberdade, mesmo que momentânea, não volta para o cativeiro. Não por sua própria vontade.

A escolha é tão difícil quanto recompensadora. Libertar é romper, cortar, rasgar, puxar e empurrar. É ocupar um espaço individual, solitário, silencioso, espelhado. Nada se esconde neste espaço. Tudo fica à mostra e tudo lhe pertence. O bom e o ruim.

Mas libertar é também escolher, decidir, ir, voltar, girar, dançar, flutuar, gritar e calar, sem consentimento ou reprovação. Libertar é estar no espaço ocupado, o espaço individual, solitário, silencioso e espelhado, e ainda assim se sentir dono e propriedade do mundo. Não ser de ninguém.

Ser livre é assustador, no entanto, ser refém, propriedade, vítima ou qualquer outro nome que possa se dar, é não ser nada, é ser utensílio em mãos alheias.
Faça a sua escolha.

Quando o Santo não bate.

Quando o Santo não bate.

Às vezes não adianta. Não bate mesmo. Na pausa do – Muito prazer! – da pessoa a gente percebe que não vai com a cara dela e pronto. E estranhamente a gente começa a cavoucar os defeitos, procurar ironias, atento a uma opinião que a gente possa demonizar. A gente procura até que encontra um motivo, ou milhares, que confirmem aquele azedume precoce. Nosso santo não bate, minha filha.

Há uns anos cruzei com o Marcelo no aeroporto. Ambos íamos de Brasília pra Palmas. Não posso dizer que não gostava dele. Eu não o conhecia. Mas nem precisava: o tal do santo não batia de jeito nenhum. Nossos tantos amigos em comum só tornavam a implicância mais estranha ainda. Mas eu permaneci no meu papel de manter-me a uma distância segura. Distância que ele cruzou com seis palavrinhas mágicas – Porque você não gosta de mim? – gelei – Eu não tenho nada contra você Marcelo. A gente só não se conhece, né? – parecia primitivo demais admitir pra ele o real motivo.

No saguão da sala de embarque ecoou o aviso de que nosso voo havia sido mudado de portão, atrasado, atropelado uma garça, ficado preso no Nepal. O universo me queria ali, em banho-maria de constrangimento. Marcelo me chamou pra um café e ficamos ali conversando por cerca de duas horas. Reclamando do atraso juntos. Rindo das mesmas situações. Adorando os mesmos autores. Até aniversário a gente fazia no mesmo dia. Marcelo, para meu pavor, era um cara muito bacana. E eu nunca me senti tão pequeno.

Claro, às vezes o santo que não bate tem fundamento. E ele já nos livrou tantas vezes de gente esquisita. Mas entre seus acertos, penso eu, quantos erros cometi pela vida? Quanta gente foi taxada de antipática por ser tímida? Quanta gente passou por grosseira por estar em um mau dia? Todo mundo pode ter um dia bem ruim. Quanta gente foi repelida por um dizer que a gente escutou errado? Quanto amor abortado antes mesmo de vir à luz? Quanta chance perdida? Quanta gente querida que passou sem nem mesmo ter tempo de encostar-se na vida da gente? Quanta verdade perdida por preguiça, medo ou intolerância nossa? Quantas meias verdades vendidas a preço de ouro?

Perdão a todos vocês que foram vítimas minhas da primeira impressão. É ela que fica, mas não devia. Todo mundo pode errar e isso não o tornar uma pessoa má. Todo mundo pode acordar por dentro de um dia ruim. Inclusive a gente. Inclusive a nossa intuição. Às vezes nosso santo não bate por pura preguiça de olhar para os nossos próprios pecadinhos.

Pelo direito de ser você mesma

Pelo direito de ser você mesma

Enrolei muito para escrever sobre gordofobia, que é algo tratado como “bobagem” e mimimi por quem nunca sofreu na pele algum tipo de discriminação ou constrangimento pelo seu peso.  Esse texto não é polarizado, não é uma ode ao ganho de peso e nem uma censura à perda dele. A busca é começar um diálogo, falar da importância da sororidade e sinalizar a opressão que está acontecendo.

Estamos massacrando umas as outras por estarem acima do peso e do padrão de beleza considerado como “aceitável”. Precisamos conversar sobre isso quando mulheres são destratadas, discriminadas e são alvo de preconceitos por uma marca que é ícone fashion carioca, que é considerada uma das marcas mais influentes de moda jovem feminina.

Em tempos que blogueiras fitness tem milhares de seguidores no Instagram e no Youtube, deixando claro o crescente interesse de alcançar aquele corpo idealizado. O preocupante não é a viralização do que elas postam, mas o poder de influência que essas blogueiras têm. Elas dão dicas para treinos, dietas e detox com uma restrição que beira ao radicalismo, padronizando dietas que deveriam ser individualizadas.

Fazendo parecer que é apenas seguir um “manual de instruções” que iremos alcançar o peso ideal, mas na realidade não é bem assim que funciona. Pode até funcionar um período, porque essas dietas restritivas causam um efeito rebote quando são quebradas. Como nós sendo tão diferentes, podermos fazer a mesma dieta e querer que funcione?

A nossa diversidade é tão rica, e o poder da nossa individualidade é o que nos torna únicas, mas apesar disso, o padrão vendido é um só, a receita é uma: a perda de peso, às vezes em detrimento da própria saúde, a busca desenfreada pelo corpo ideal, como ser magra modo de usar.

Isso é arbitrário, a imposição de um padrão de beleza absoluto, sendo que nós somos milhares e não poderíamos ser mais diferentes entre si. O estereótipo vendido obriga se enquadrar nessa padronização, nessa camisa de força para ser considerada desejável ou atraente.

O importante não é ser magra, o que importa é ter saúde, é amar cada pedaço de si mesma, é não ter vergonha da própria imagem refletida no espelho. É escolher o que é melhor para você e não o que a mídia, a moda te impõe como padrão de beleza. Afinal essa não é apenas uma questão estética, é um assunto de saúde pública, pois meninas e adolescentes adoecem e por vezes, morrem oprimidas por um padrão inatingível de beleza.

Nós mulheres temos que pensar na mensagem que estamos reproduzindo, conscientemente ou não. Repensar se nós temos que emagrecer para caber nas roupas ou se as roupas que devem ser feitas para caber no nosso corpo?  Que imagem queremos passar para as meninas, para as adolescentes, que só existe um modelo de corpo ideal, que só existe um padrão aceitável de beleza, que uma mulher só é considerada bonita se ela for magra? Ou iremos mostrar outros tamanhos, outras curvas, outros corpos e finalmente rompermos com esse padrão engessado e mostrarmos que mulher bonita é mulher à vontade na própria pele, independente do seu peso e suas medidas?

Cada corpo tem uma história, cada quilo a mais ou menos, cada marca de expressão, cada olheira, cada cicatriz, cada peça desse quebra-cabeça conta a nossa trajetória, como chegamos até aqui. A vida não é simplista, nem as pessoas, nem suas bagagens de vida. A gente tem que respeitar a história das pessoas! A gente não deve projetar nossos ideais particulares do que é belo ou atraente no outro, usar nossa régua para fazer o outro se sentir mal. Devemos parar com a insatisfação seletiva e nos colocar no lugar do outro.

Você acha bonito ser magra? Maravilha, mas não desqualifique quem não estiver no seu padrão ideal, use-o somente para você. O seu corpo é seu, o meu corpo é território meu, me deixe ser o que sou e permita me emancipar com ele.

Não vamos oprimir as outras mulheres, os meios de comunicação e a indústria da moda já fazem isso sem precisar da nossa ajuda. Não vamos competir com outras mulheres, humilhá-las por não ser magras, o machismo já nos segrega e objetifica desde sempre.

Nós temos que ser amigas uma das outras e não rivalizar em uma quebra de braço invisível. Estamos começando a nos dar conta que juntas somos mais fortes, somos irmãs e que a sororidade nos torna uma potência. Enquanto uma mulher for oprimida, seja em qualquer esfera, nenhuma de nós está livre.

O feminismo nos dias atuais é só um sinônimo para igualdade de gênero, isso implica também nos direitos e não só nos deveres como tem sido. Cada vez que usamos a empatia, quando somos solidárias e defendemos umas às outras nos fortalecemos e enfraquecemos a sociedade patriarcal, o machismo, o sexismo, a misoginia. E damos mais um passo na direção do que queremos ser. Livres, para sermos quem quisermos.

Verdades que parecem mentira

Verdades que parecem mentira

A vida nos reservas inúmeras surpresas, muitas delas agradáveis, outras nem tanto. E ainda haverá aqueles momentos em que não seremos capazes de compreender o porquê daquilo que acontecerá conosco, quando encararemos certas constatações inevitáveis que teimamos em negar ou em deixar esquecidas. Não adianta, acabaremos, cedo ou tarde, carregando conosco o peso das decepções e a dor da incompreensão, no entanto, sobreviver a tudo isso com vida nos trará esperanças renovadas.

Parece mentira, mas muitas pessoas irão usar contra nós tudo o que dissermos, descontextualizando nossas frases e jogando-as de volta em situações que nos fragilizarão, pois distorcerão nossas verdades injustamente. Isso provavelmente virá de quem nos é alguém próximo, íntimo, especial, o que aumentará o peso de nossa dor. Será o preço que pagaremos por nem sempre confiarmos nas pessoas certas.

Parece mentira, mas quem diz nos amar para sempre poderá destruir nossos corações sem aviso prévio, deixando-nos sozinhos, traindo nosso corpo, nossa confiança, jogando fora tudo o que construímos em troca de uma vida mais cômoda, de uma outra pessoa qualquer, de apelos ilusórios do mundo lá fora do relacionamento. Será uma possível e dolorosa experiência a que estaremos sujeitos, por sermos fiéis e adeptos do amor para a vida toda.

Parece mentira, mas nos depararemos com a ingratidão de pessoas a quem ajudamos, em quem confiamos, a quem demos as mãos durante as ventanias, sendo cobrados por não termos dado ainda mais de nós, como se não tivéssemos nos doado o quanto poderíamos e deveríamos. Nossa doação voluntária será então confundida com um dever para uma vida toda, algo a que estaremos obrigados de forma vitalícia; e tudo se anulará quando não respondermos às expectativas alheias. Será uma reação indigesta que colheremos por não sermos egoístas.

Parece mentira, mas seremos julgados por nossa posição social, por nossa etnia, por nossos estilos de vida, pelas escolhas que fizermos, mesmo que não machuquemos ninguém, mesmo que se trate apenas de nossa própria vida. Cobrarão de nós que ajamos de acordo com o que as convenções sociais preconizam, mesmo que aquilo fira as nossas convicções, mesmo que aquilo tudo nada tenha a ver com os nossos sonhos, com a direção de nossos desejos, com as verdades que nos dignificam e nos constituem. Será uma indignação alheia incompreensível que nos acompanhará, por nossa coragem de viver o que temos dentro de nós.

Ninguém disse que a vida iria ser fácil, mas haverá decepções que nem cogitaríamos poder existir, com quem deveria tão somente nos apoiar ou então nos deixar em paz e seguir seu rumo. Teremos pela frente muitos dissabores, encontraremos pessoas infelizes, maldosas e que tentarão nos desestruturar, sem mais nem porquê. Cabe-nos manter firme nosso propósito em ser feliz e em encontrar quem nos tornará a vida mais especial e fácil de viver. Porque ninguém será capaz de nos desviar de nossas buscas, quando estivermos certos do que e de quem realmente queremos para nós.

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