Na minha época de garota, mamãe e outras mulheres da família repreendiam meu jeito nem aí de me vestir. Tudo que eu queria eram roupas que não tolhessem meus movimentos e sapatos que me permitissem deslizar. Na verdade tinha inveja dos garotos. Eles vestiam qualquer coisa e saiam para a rua. Voltavam sujos. Coisa de meninos, os adultos diziam. Já quando eu aprecia com roupa ou cara sujas, tinha que ouvir: Nem parece uma menina!
Com a chegada da adolescência as cobranças recrudesceram. Afinal eu me tornara uma mocinha. Mocinhas precisam se enfeitar. Mas eu odiava presilhas, pulseiras, brincos, sutiãs e saltos altos. Tudo que eu queria eram trajes que me deixassem confortável para subir e descer dos lotações, saltar poças d’água, entrar e sair do mar.
Mamãe sempre foi arrumadíssima. Até hoje – aos 82 anos e com problemas de memória – combina a cor do brinco com a sandália da hora. Então ela desesperava com o patinho desarrumado que veio na sua cesta. Muitas vezes me perguntou: Você não tem vaidade? Eu ficava quieta. Se ela perguntasse agora, responderia: É claro que sou vaidosa, mãe. Mas é que existem várias modalidades de vaidade. Entre elas, a vaidade de não se importar com roupas.
Na juventude, no final dos anos 1970, meu figurino deslanchou. Amigas e amigos da faculdade não cobravam modelos de vestir. Meus cabelos eram longos e despenteados. Usava uma eterna bolsa de couro bem riponga. Foram anos felizes, nos quais conjecturei sonhos, perspectivas, entusiasmos. Logo depois conheci as feministas. Foi o sinal verde para me vestir e desvestir como me desse na telha. Compreendi que a moda, como todo o resto, é política.
Agora cheguei aos sessenta. Curiosamente ando mais mulherzinha.Acho que me inspiro na irreverência libertária do cartunista Laerte. O fato é que tenho cuidado do corte do cabelo, pensado seriamente em combinar a cor da blusa com a cor da calça. Quem sabe no 2016 usarei batom. São bonitos os lábios vermelhos. Talvez mais arrumadinha eu possa por amor arrancar um bom sorriso de mamãe.
É comum encontrarmos “vítimas” constantes da “falta de sorte” – pode ser que você mesmo faça parte desse grupo. Permanecer muito tempo num emprego que o desagrada (ou até mesmo não ter emprego algum); estar num relacionamento no qual os descontentamentos são constantes (ou estar se sentindo solitário há tempos, sem conseguir se relacionar com alguém), dentre outras circunstâncias. Enfim, uma vida em que os objetivos nunca são alcançados. Tudo aquilo que se objetiva permanece constantemente longe, sem previsão de chegada.
Neste texto, trago-lhe uma boa e uma má notícia. Esta última é que você tem uma responsabilidade muito maior sobre esses insucessos do que imagina. A boa é que, do mesmo modo que é responsável, há a possibilidade de – a partir de seus esforços – mudar tudo isso que vem vivendo, experimentando uma vida bem diferente da atual.
Agora vem a grande questão: “De que forma posso ser responsável por tantas coisas que me fazem sofrer ou impedem minha felicidade?”
Há algum tempo, as pessoas lhe fizeram crer que não é merecedor da felicidade que deseja
Não há nada que impossibilite tanto os progressos da humanidade quanto a descrença no merecimento de êxitos. Quando a pessoa não acredita em seu merecimento, acaba por se comportar sempre de forma a sabotar suas possibilidades. Acredita estar empenhado em melhorias, porém, sem perceber, tudo o que faz é criar circunstâncias que confirmem o quão indigno é!
Pode ser que tenha se acomodado, afinal, há benefícios até mesmo no insucesso
Como escrevi anteriormente, acreditar que o amanhã será completamente diferente do hoje pode parecer romântico, porém, infelizmente não é real. É uma ilusão tão grande quanto crer que dormirá na pobreza e acordará milionário. Toda mudança provém de esforços, não de uma noite de sono.
Muitas vezes, não se está disposto a gastar toda a energia que um processo de mudança exige. É interessante verbalizar para todos – inclusive para si mesmo – o quão grande é o desejo de atingir determinados objetivos, porém, só de imaginar o trabalho que isso dará…
Há um histórico de frustrações que lhe parece indicar que as tentativas futuras estão condenadas aos mesmos resultados
Uma das piores consequências de tentar algo por diversas vezes, sem que haja um resultado positivo, é que, em uma tentativa de proteger-se, pode-se optar por não mais arriscar.
O garoto que foi enganado por seus pais todas aquelas vezes que confiou neles pode generalizar tal desconfiança para toda e qualquer outra forma de relacionamento: “Não me permito confiar, já que a confiança em minha história de vida é sinalizadora de que estou prestes a ser magoado”. A garota que ouvia vaias sempre que precisava ler algum texto em sala de aula pode vir a evitar quaisquer outras circunstâncias nas quais tenha de se expor na vida adulta.
É interessante observar que você não é mais o mesmo. As circunstâncias também não são as mesmas. Porém, os efeitos de tais ocorrências permanecem intactos. A melhor forma de resolver tal questão? Arriscando-se! Somente experimentando novamente as situações terá a possibilidade de perceber que seus resultados podem não ser mais tão ruins, ou, quem sabe, venham a ser melhores do que possa imaginar!
Lembre-se: a porta pela qual a frustração entra é a mesma utilizada pela chegada da felicidade. Defender-se da decepção, infelizmente, significa perder muitas das possibilidades de contentamento que a vida pode lhe oferecer.
Revisão textual por: Alexandre Caroli Rocha
Diego Caroli atende em São Bernardo do Campo. Para mais informações e agendamentos entre em contato pelo email: [email protected]
2015 foi um ano curioso para o cinema. Pense nos maiores sucessos. Pensou? Como deve ter notado, as maiores bilheterias foram reboots ou sequências. Jurassic World, Velozes e Furiosos 7, Star Wars – O Despertar da Força, Mad Max: Estrada da Fúria, Jogos Vorazes, Os Vingadores, Minions, Cinderela…
Entretanto, muita coisa boa e original foi feita. Não só nos EUA, como no Brasil e, principalmente, na Europa. A cena independente, como sempre, conseguiu produzir pérolas e, algumas delas, devem até entrar para a história recente do cinema.
Confira, a seguir, os melhores destes ótimos filmes, mas que não possuem o mesmo impacto, audiência e divulgação do que aqueles citados no começo deste texto.
O Clã
Cinema argentino da melhor qualidade. Conta a vida dos Puccio, uma família de classe média que ganha dinheiro sequestrando pessoas. A surpreendente história real conta com atuações inspiradas de Guilhermo Francella (O Segredo dos seus Olhos), que interpreta Arquimedes, pai da família e mentor dos crimes; e de Juan Pedro Lanzani, ator da novela Chiquititas original e que faz o atormentado filho e cúmplice de Arquimedes. Além da ótima trilha sonora, a direção de Pablo Trapero (Elefante Branco) é certeira, com planos-sequência de ótima execução. Apesar de ter sido uma das maiores bilheterias da história da argentina, O Clã foi pouquíssimo divulgado no Brasil.
Ex Machina
Apesar de ter atores que estão em alta e contar com uma indicação ao Globo de Ouro, Ex Machina fez bem menos barulho do que merecia. Conta a história de Caleb (o ótimo Domhnall Gleeson), um funcionário de uma empresa de tecnologia – como um Google ou Facebook – que ganha como prêmio pelo seu trabalho uma semana na casa do seu estranho chefe, Nathan (Oscar Isaac). Lá, o jovem Caleb descobre que o chefe desenvolveu uma robô muito parecida com um ser humano, a bela Ava (Alicia Vikander). Agora, ele precisa decifrar as intenções da máquina. Excepcional roteiro, com um desfecho incrível. Compartilha com Blade Runner o posto de melhor filme sobre inteligência artificial.
https://youtu.be/HtBuBJxDlU8
Experimentos
Na década de 60, o psicólogo Stanley Milgram (Peter Sarsgaard) se tornou conhecido pelos seus experimentos de obediência. Ele fazia o seguinte: pessoas comuns eram levadas a dar dolorosos choques elétricos em outras pessoas, mesmo quando escutavam gritos de dor. Só que, na verdade, choque nenhum era aplicado. Era só uma experiência para ver até onde chega a maldade das pessoas quando recebem ordens. O resultado é incrível e o filme mais ainda. Apesar do ritmo lento e da repetição constante de acontecimentos, a história é interessante e conta com atuações inspiradas de Sarsgaard e de Winona Ryder, que interpreta a namorada de Milgram.
Boychoir
Se for parar para pensar, a história contata por Boychoir é uma falácia. Vou explicar: o filme conta a história de um garoto (o excelente Garrett Wareing) órfão de mãe e abandonado pelo pai que é aceito no coral da American Boychoir School, a mais conceituada escola para canto dos EUA. Lá, ele começa a receber os ensinamentos do maestro Carvelle (Dustin Hoffman), apesar dos problemas que enfrenta com os outros alunos. Boa história, com excelentes interpretações e uma direção firme de François Girard (O Violino Vermelho). O único problema, como disse no começo, é que a escola, no mundo real, era palco de abusos psicológicos gravíssimos praticados contra os garotos. Foi um escândalo. Mas, se o espectador entrar na história sem se preocupar com a verossimilhança com a realidade, o filme é um deleite.
Love & Mercy
Quando comecei a ver Love & Mercy não esperava nada. Mas o filme é uma das maiores pérolas do ano. Sem cair na pieguice das biografias musicais, o filme conta a história de Brian Wilson, o atormentado fundador do grupo Beach Boys. Paul Dano (Os Suspeitos) e John Cusack (Mapa para as Estrelas) interpretam Wilson jovem e um pouco mais velho, respectivamente, e dão um show. O elenco, que ainda tem o excelente Paul Giamatti (12 anos de escravidão) e Elizabeth Banks (Jogos Vorazes), está afinadíssimo. Destaque, ainda, para a trilha sonora nostálgica e para a ótima direção de Bill Pohlad (Livre), que consegue manter o ritmo do drama-biografia-musical, sem se confundir com os gêneros.
https://youtu.be/mnIUi7TzPqw
Goodnight Mommy
Assim como 2014 teve o Babadook, 2015 também tem uma ótima surpresa no gênero de terror. Goodnight Mommy começa com dois gêmeos esperando o retorno da mãe de uma cirurgia plástica. Quando ela volta, o rosto está coberto de ataduras e as atitudes ficam cada vez mais suspeitas. Aí surge a dúvida das crianças: será que esta mulher, com as ataduras no rosto, é a nossa mãe? Terror de primeiríssima qualidade e com ótimas atuações de Elias e Lukas Shwarz, os gêmeos. Destaque para o final, que tem uma reviravolta incrível.
https://youtu.be/VKrG1_RN_2U
Boulevard
Apesar de ter inúmeros problemas de roteiro e direção, o último filme de Robin Williams é de uma sensibilidade ímpar e pouco vista no cinema atual. A história é sobre Nolan Mack (Robin Williams), funcionário de um banco há 26 anos e que tem uma rotina que nunca muda. O seu casamento com Joy (Kathy Baker), então, acaba virando algo mentiroso e de pura conveniência. As coisas começam a mudar, entretanto, quando Nolan cruza com o jovem problemático Leo (Roberto Aguire), com quem começa a ter uma relação delicada e sensível. Atuação memorável de Robin Williams, que conseguiu entregar um último papel marcante.
Não olhe para trás
Al Pacino, nos últimos anos, só decepciona os fãs. Afinal, quem diria que o ator deScarface faria um filme como Cada um tem a gêmea que merece? Sem dúvidas, Não olhe para trás não irá agradar os fãs dos filmes mais violentos do ator, mas é um bom passatempo. Neste longa, Al Pacino interpreta um cantor de sucesso e que vive há mais de 30 anos sem compor. A vida dele, então, é uma rotina de drogas e excessos. Até que um dia ele descobre uma carta que John Lennon escreveu para ele há décadas, mas que nunca tinha chegado às suas mãos. Inspirado pelas palavras do músico, Danny (Bobby Cannavale) decide interromper a carreira e tentar reatar com o filho já adulto, que ele nunca conheceu. Apesar de situações clichês e um final manjado, o filme consegue convencer e até emocionar. Destaque para a atuação de Al Pacino, que é sem excessos, e para a trilha sonora, grudenta e muito bem escrita.
Um pombo pousou num galho refletindo sobre sua existência
Muita gente vai começar a ver esse filme e desistir em 10 minutos. Para se ter uma ideia: em alguns momentos, achei que o longa tinha travado, de tão parado que estava. Em tese, o filme — que é baseado na imagem de uma pintura — acompanha a saga de dois vendedores ambulantes, que passam pelas mais diversas situações para tentarem vender algumas de suas bugigangas. Ao longa da história, que é recheada de cenas nonsense, a vida dos dois vai mostrando um pouquinho da realidade do ser humano. Estranho, perturbador e sensível, Um pombo pousou num galho refletindo sobre sua existência vai ficar em sua mente por um bom tempo (mesmo que você não entenda). Destaque ainda para a direção de Roy Andersson, que dirigiu o também estranho e excelente Vocês, os Vivos.
Bone Tomahawk
Numa definição rápida e simplista: um filme de faroeste com canibais. Não achou incrível? Mais um pouco: Kurt Russell (o “novo” ídolo cult do cinema) é o xerife da cidade, que terá que combater a tribo, que sequestrou alguns moradores. Ainda não está convencido? Para concluir, então: Russell só terá a ajuda de três pessoas para derrotar os nativos. Um idoso (o excepcional Richard Jenkins), um maluco (Matthew Fox) e um homem ferido (Patrick Wilson). Filme divertidíssimo, com cenas pesadas de canibalismo e que reinventa o faroeste da melhor maneira possível.
Ponte Aérea
Filme brasileiro e que foi esnobado por muitas pessoas. Livremente inspirado no livroAmor Líquido, do Bauman, o filme conta a história de Bruno (Caio Blat) e Amanda (Leticia Colin), que se conhecem durante um voo. Ela, de São Paulo. Ele, do Rio. E assim, com a distância, a paixão dos dois vai sendo consumida pela dificuldade em se manter um relacionamento hoje em dia, quando todos querem que tudo aconteça imediatamente. Relato extremamente atual, o filme é delicado e singelo — em um bom sentido. Lembra muito Loucamente Apaixonados, com a Felicity Jones, mas com uma pitada brasileira.
Gemma Bovery
Gemma Bovery (a belíssima e ótima Gemma Arterton) é uma inglesa que se muda com o marido para uma pequena cidade francesa, após sentirem que o casamento dos dois precisava de novos ares. Do outro lado da rua do casal, mora Martin Joubert (o incrível Fabrice Luchini) e sua esposa, um casal que foi morar na pequena cidade procurando fugir do caos de Paris. Após conhecer os novos vizinhos, entretanto, Martin fica totalmente encantado com a beleza de Gemma, fazendo com que ele fique obcecado pela vida dos vizinhos. Divertidíssimo e muito bem dirigido por Anne Fontaine, o filme é um deleite – seja pela fotografia, pela roteiro ou pelas atuações.
Chatô, o Rei do Brasil
Quem diria que o Boyhood brasileiro seria tão bom? Depois de passar 20 anos filmando, Guilherme Fontes lançou o mítico Chatô, o Rei do Brasil, longa que conta a história de Assis Chateaubriand, o primeiro magnata das comunicações brasileiras. Divertido e original, a história é contada sob o ponto de vista do empresário, que está delirando. Destaque ainda para as ótimas atuações de Andréa Beltrão e Marco Ricca.
Cyberbully
Passado apenas em um único cenário, Cyberbully acompanha momentos tensos da vida de uma adolescente britânica, que é forçada a atender os pedidos de um hacker que invade seu computador. Se ela recusar, ele promete divulgar fotos comprometedoras nas redes sociais. Com a ótima e madura atuação de Maisie Williams (a Arya, de Game of Thrones), o filme consegue ser tenso e desesperador na medida certa. Surpreende.
Respire
Mais uma daquelas pérolas que só são encontradas nos filmes franceses. Charlie (Joséphine Japy) tem 17 anos e é uma típica adolescente de classe média. Tudo vai bem até que uma nova garota, Sarah (Lou de Laage) entra em sua escola. As duas se sentem atraídas e começam a trocar intimidades, segredos e revelações. A amizade das duas vai bem, até que o relacionamento delas começa subitamente a mudar. Filme muito bem dirigido, com atuações espetaculares e um final de tirar o fôlego.
Que mal eu fiz a Deus?
Típica comédia francesa. O casal Verneuils tem quatro filhas. Católicos conservadores, eles são viam um futuro para elas: se casar com outros rapazes católicos. Só que as coisas acabam tomando um outro rumo e três delas se casam com homens de outras religiões. As coisas só começam a melhorar para o casal quando a quarta filha anuncia o casamento com um rapaz católico. Só que, como toda comédia francesas, várias reviravoltas vão surgir na ótima trama que, apesar de alguns exageros, diverte.
Vídeoaulas podem ser acompanhadas pela plataforma online de educação superior no Brasil: Veduca
A internet é uma ferramenta poderosa, que vai muito além das redes sociais. Ela pode ser utilizada para estudos a fim de garantir conhecimento, com várias alternativas interessantes e, muitas vezes, gratuitas.
Uma boa possibilidade para quem gosta de aprender de forma online é o Curso de Ética oferecido pelo Veduca, plataforma online de educação superior no Brasil, que reúne mais de 300.000 estudantes. O curso, totalmente gratuito, é ministrado pelo Clóvis de Barros Filho, da Escola e Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
“A palavra ‘ética’ está na boca de todos, talvez como nunca antes. No entanto, poucas pessoas conhecem a fundo seus múltiplos sentidos. A proposta do curso é passar pelos vários significados e usos do termo ao longo da história e ajudar o estudante a formar uma perspectiva menos ingênua e mais abrangente sobre o tema“, explica Clóvis.
O curso tem duração de 60 horas e é composto por vídeos: um introdutório e doze videoaulas, divididas em partes e acrescidas de quizzes para melhor fixação do conteúdo. São abordados tópicos como Introdução à Ética; Primeiros passos da Ética; Ética, o invisível e o virtuoso; Tolerância e laicidade; O Valor da Ação; Fé e Virtude; Discutir a Ética; Vontade x Desejo (Kant); A Dignidade Moral (Kant); O Martelo de Nietzsche; Negar a fórmula, viver a vida; Eterno Retorno: o amor à vida.
Para garantir maior interação com o conteúdo e com outros estudantes na plataforma, o Veduca disponibiliza algumas ferramentas, como um caderno virtual para anotações pessoais, e o fórum de discussão.
Qualquer pessoa pode realizar o curso, pois não é exigida nenhuma formação específica. Além disso, todo conteúdo é aberto e gratuito.
Quem quiser receber um certificado do professor, atestando que domina o assunto abordado, poderá optar por fazer uma prova presencial.
O fim de um relacionamento encontra duas pessoas absolutamente diferentes daquelas que outrora estiveram apaixonadas. Aqui, neste ponto, há memórias que fazem brotar sorrisos inevitáveis e francos; há lembranças que fazem arder os olhos como reflexo das dores sofridas; há feridas; cicatrizes; metamorfoses. O casal que deu o primeiro passo naquele momento em que não se sabe se o arrepio é da alma ou da pele; agora pensa que se pudesse “voltar a fita” teria feito outras escolhas; teria lutado por mais momentos de pele arrepiada e menos momentos de lábios crispados. Esse casal aqui está perdido e se pergunta “Era amor?”; “E se era, o que aconteceu com esse amor?”.
Somos tão ingenuamente afetados pelas definitivas verdades que ouvimos por aí, que insistimos em acreditar que tudo o que é maravilhoso tem de ser perfeito. Ora, se isso fosse verdade, pobres criaturas seríamos! Posto que a perfeição não existe, teríamos de negar a extraordinária beleza dos nossos primeiros passos; a arrebatadora excitação do primeiro beijo; a avassaladora libertação advinda das primeiras conquistas por conta própria. Maravilhas imperfeitas que fazem a nossa vida ganhar sentido; sabor; cor e luz.
Negar a beleza da imperfeição é como abrir mão das experiências em troca de uma vida pasteurizada e absolutamente insossa. A graça dessa aventura aqui está, justamente, na experimentação; nas tentativas desajeitadas; no jeito único que cada um de nós tem de interpretar e interagir com o mundo. O tempero da vida é a mistura de suor; riso e lágrimas que faz da nossa jornada algo que valha a pena.
A jornada será tão espetacular quanto verdadeira, a depender de quanto amor tenha sido injetado, desde que fomos concebidos até nosso último sopro de vida. É o amor a única doutrina capaz de agregar e acolher as mais diferentes crenças e, ainda, aqueles que não creem em nada. O amor, em sua forma legítima; aquele amor que entende o diferente, apesar de discordar dele; que fica feliz a partir da conquista do outro; que liberta, em vez de aprisionar; que faz crescer, em vez de sobrepujar. Esse amor é chama de vida e precisa estar presente, como essência e não como adorno, em qualquer relação à qual escolhamos nos entregar.
Assim, ainda que não dure para sempre; ou mesmo, que só dure alguns dias; ou até mesmo que seja um amor de almas, terá sido amor e será amor para sempre. Ainda que no fim da história, a dureza dos conflitos e da falta de atenção, tragam aos olhos e à boca expressões ásperas e hostis, ainda assim; essa mágoa, se for torcida em todos os choros necessários, há de mostrar no fundo dos olhos, vermelhos e tristes, algum traço de amor.
Então, antes que acabemos por acreditar que nossos sonhos foram tolos; que acreditar na felicidade é ilusão; que a solidão é a melhor companheira; que não levamos jeito para “esse tal de amor”, tenhamos a coragem de raspar a tinta velha da superfície, e guardar com delicado carinho a imagem crua e bela do início. Tomemos a audaciosa atitude de acreditar que mesmo tendo chegado ao fim, haveremos de ser gratos e justos, porque era amor. E, se não era, quem além de nós poderá assumir a responsabilidade por um dia ter teimado em insistir que fosse?
Era amor, pode acreditar! E é ainda. Só que com outras folhas, flores, frutos e cascas. É amor, mesmo depois de não mais sê-lo. Porque tendo sido amor um dia, fez germinar dentro de nós, os nossos melhores brotos; fez de nós seres menos empedernidos e ariscos; despertou em nós o desejo de experimentar o amor de novo, e de novo, e de novo. E, mesmo que a nossa incrédula alma sofrida tenha dificuldades em concordar… Era amor, e ainda é, pode acreditar!
De verdade, desconfio muito de gente que sempre tem certeza de tudo, que não hesita em momento algum e sempre quer fazer parecer estar um passo à frente. Nada contra, mas talvez tanta convicção deixe passar alguns lampejos de loucura essenciais pra vida da gente.
Aquele que não hesita frente ao momento decisivo de algum primeiro beijo (são muitos os primeiros beijos dessa estrada), não me representa. Menos ainda aquele que afirma com todas as letras que tem certeza daquilo que quer pra vida toda. Pessoas assim costumam se fechar a qualquer coisa que vá contra o seu plano, tornam-se duras feito pedras, esquecendo do ditado essencial que ensina que água mole em pedra dura… vocês sabem o resto.
Hoje, quero. Amanhã, também. Depois, quem sabe? Não se trata de ser volúvel, mas de assumir que somos inconstantes como as marés. O desejo é água de mar, umas vezes tranquila e convidativa, outras vezes forma vagas gigantescas e assustadoras que rebentam contra as pedras que mais cedo ou mais tarde vão ceder às incessantes investidas da natureza cega. Metamorfose ambulante, como diria Raul.
Prefiro a flexibilidade da dúvida à rigidez das certezas.
Quero poder hesitar entre pedir carne ou peixe, entre cinema francês e escandinavo, entre Cindy Lauper e Madonna, entre Count Basie e Jimmy Smith, entre bolacha e biscoito.Quero ter dúvidas sobre o que a mulher amada acha disso ou daquilo, pois quero dar a mim e a ela o direito de errar, de fazer escolhas duvidosas e voltar atrás.
Não é pelo direito de ficar em cima do muro, é pelo direito de explorar os terrenos pelos quais se interessar e poder ver com os próprios olhos a terra mais fértil, o caminho menos íngreme, mais arborizado. A certeza pode representar fraqueza quando acompanhada daquele orgulho que impede o capitão de abandonar o navio. Se a dúvida é um vício, deveria ser considerado os mais benéfico deles. A dúvida é bambu (sem piadinhas estilo Silvio Santos), forte e adaptável às intempéries do tempo, enquanto a certeza é rude carvalho a ser abatido pelas tempestades interiores.
Acho bonito tanto o sim quanto o não, mesmo que sejam para a mesma coisa em momentos diferentes. Me cativa o desafio que é dizer “não sei”. Só sei que nada sei, dito assim, de supetão. O fascínio de conversar com a parceira antes de fazer uma escolha qualquer, seja ela sobre casamento ou prato para o jantar.
Não estou dizendo que todos devemos ser interrogações ambulantes; apenas lembro que reticências são tão importantes quanto pontos finais.
Se for para ajudar a enfrentar, consolar um pouco, encorajar, dar uma força, tudo bem.
Cada um se segura e se pendura na desculpa que prefere, porque afinal de contas, há horas em que a coisa fica realmente complicada.
A verdade é áspera quando vem de encontro, e suave quando a perseguimos. Depende do lado do espelho, da face da moeda, de poder ou obedecer.
Mas inegável é que a verdade não negocia. É e pronto!
Aceitar uma verdade como legítima é libertar um monte de recursos fantasiosos, é entrar em contato com o inflexível, com o que não é possível manipular.
Mas, teimosos que somos, insistimos em tentar dissuadir a verdade. Colorimos, maquiamos, inventamos traços e estilos únicos para o cenário metafórico que preferimos para viver, pensando estar enganando a verdade.
Aceitar duras verdades nos liberta, muda o fuso da vida, nos tira um fardo pesado das costas. A dor é só da hora, do momento. Depois suaviza, acostuma, entra na rotina.
Fugir das verdades, contar uma vida que não existe, para si e a para o mundo, não ameniza as verdades que se carrega, nem tampouco as que foram deixadas ao longo do caminho. Elas voltam, elas nos encontram na curva do tempo, nos pegam desprevenidos, vulneráveis, distraídos.
Verdade é matemática, é incontrolável, indomável, espontânea. Boa ou ruim, favorável ou prejudicial, é a verdade. E verdade é o que sempre queremos do outro, das coisas, da vida. Mas oferecemos a mesma verdade em troca? Verdade é sinceridade. Mas mentimos mais do que podemos controlar. E mesmo assim não aceitamos menos do que a verdade.
Verdade ou não, a verdade é que cada um deseja sempre ter a sua própria verdade, mas, de verdade, não há verdade criada, inventada, manejada. A vida é verdade até prova em contrário.
Ela anda pela vida sem narrador, abrindo histórias com seus passos incertos, com olhares distraídos, com o corpo querendo decidir mais do que a cabeça.
Gosta de idealizar o futuro como tela em branco, a vida como uma paleta de cores e ela nunca sabe se vai preferir o amarelo ou o roxo, as luzes e sombras ou o delineado. As escolhas vêm de um respirar depois do primeiro café, e são tomadas de supetão como um movimento involuntário da alma.
Não que tudo seja aleatório, não que tudo seja o que ela quer, não que a vida seja massa submissa a essa mulher, mas é justamente por saber disso, das incertezas e da dança solta do tempo, que ela relaxa os ombros, sente o dia e vai brincando com o que vier e vai desenhando com o que tiver às voltas de sua possibilidade de viver e sentir.
Talvez tenha sido sem querer que ela tirou da vida a necessidade de se amparar num destino onisciente, por sentir que a história é escrita nos próprios passos, nos próprios pensamentos e todo flashforward é sonho e de todo modo a vida já é tão boa agora – cheia de tramas, mistérios, dramas, comédias, clímax, desfechos, nascimentos… – pra que se preocupar em criar um futuro sublime se todo ‘feliz para sempre’ significa morte? Para que querer idealizar uma ilha onde tudo será pleno, onde haverá calmaria, se plenitude na verdade é o próprio movimento harmônico entre dilúvios e céus abertos?
Ela anda flutuando sobre o determinismo, gostando de deixar o dia ser um mistério, um presente sempre novo a ser descoberto, carregando um saco de ‘não sei!’ para as perguntas sobre os seus próximos passos, levando também o resultado das páginas vividas no coração na forma de aprendizado e agindo de improviso toda vez que se depara com caminhos apaixonadamente desconhecidos.
1. Faça o que é certo, não o que é fácil. O nome disso é Ética.
2. Para realizar coisas grandes, comece pequeno. O nome disso é Planejamento.
3. Aprenda a dizer ‘não’. O nome disso é Foco.
4. Parou de ventar? Comece a remar. O nome disso é Garra.
5. Não tenha medo de errar, nem de rir dos seus erros. O nome disso é Criatividade.
6. Sua melhor desculpa não pode ser mais forte que seu desejo. O nome disso é Vontade.
7. Não basta iniciativa. Também é preciso ter ‘acabativa’. O nome disso é Efetividade.
8. Se você acha que o tempo voa, trate de ser o piloto. O nome disso é Produtividade.
9. Desafie-se um pouco mais a cada dia. O nome disso é Superação.
10. Pra todo ‘game over’, existe um ‘play again’. O nome disso é Vida.
Nota da página: a lista apresentada acima está sendo veiculada na internet sem autoria. Entretanto, registramos e reitemamos a autoria do profissional de comunicação, escritor e palestrante Eduardo Zugaib.
O Facebook calcula que em 2098 o número de usuários mortos será maior do que o de vivos.
Li esta manchete, mas confesso que não li a notícia toda e não sei como a administração da rede social chegou a esses números. Sempre me impressionei com os perfis das pessoas que morrem. Acho hilária a manifestação de tristeza e pesar pela partida de alguém através das mensagens deixadas nas redes sociais que não serão lidas por quem já partiu. Eu mesma já vi muitas vezes os perfis de pessoas cuja morte me foram noticiadas e sempre sinto um pesar que não deveria e culpa pela curiosidade mórbida que parece ser como pele em nós humanos.
A morte é mal aceita no mundo ocidental e as manifestações culturais pela partida de alguém são catastróficas. O povo latino, com seu bom e velho melodrama, faz da morte uma tragédia grega. Como se ela não fosse uma certeza…
No oriente, onde se vive mais intensamente a crença na vida após a passagem pela terra, o luto caminha mais brando, apesar de não menos dolorido. No oriente os povos passam de geração para geração um entendimento melhor sobre a fase final de nossa estadia por aqui, mesmo sofrendo pela separação.
A dor inevitável pela morte é a dor da separação.
Enfrentar a separação é para todos. Talvez os ateus engulam melhor a morte – confesso que chego a inveja-los por isso – mas eu que, quando criança – como toda menina católica – fui ensinada que um dia iria morrer e que iria viver eternamente no céu se eu fosse boazinha, sigo atormentada por esse tal de “eternamente”. Aos oito anos eu não entendia o que isso significava e nem tampouco o que significava o adjetivo infinito dado ao universo. Passei algumas noites acordadas pensando se eu encontraria alguém conhecido, se eu saberia me defender, se haveria alguém para me ajudar a chegar ao céu quando eu morresse – afinal, eu não sei o caminho! E quanto mais pensava, mais a angústia crescia.
Talvez ali eu tenha desenvolvido o medo da morte. Eu não era boazinha o tempo todo e isso me possibilitava ir para o inferno que a mim foi descrito inspirado em Dante Alighieri. A minha vida era bacana e eu não tinha a menor vontade de deixar este mundo nem para ir para o desconhecido céu, que dirá para um lugar horrível como o inferno. Cresci vendo e ouvindo que a morte existia para ser temida, que era dolorosa e que poderia nos pegar de surpresa. Aos quinze anos perdi um amigo com quem conversei quinze dias antes e cujo caixão foi lacrado porque ele estava muito machucado quando morreu decorrente de um acidente de trânsito e olhar para aquela caixa foi para mim uma tortura. Depois disso enfrentei muitos velórios e constatei que aquelas horas que precedem o enterro são as piores da nossa vida quando perdemos quem amamos. Eu confesso que se pudesse eu legalizaria o enterro imediato porque velório para mim é ficar dizendo a mim mesma por horas, que eu nunca mais verei, nem conversarei, nem ouvirei a voz daquela pessoa neste mundo.
O tempo para mim passou, mas a minha reflexão sobre a morte continua a mesma. Assim como a maioria dos ocidentais, descendentes de latinos e criados dentro do cristianismo, não é tranquilo e nem favorável para mim, pensar na morte mas quando eu percebi que ela está sempre ali ao nosso lado, cada dia vivo se tornou um milagre e isso motiva a viver.
Os vampiros são melancólicos exatamente por possuírem a vida eterna e há também muita tristeza nos personagens highlanders daquele filme bacana no qual eles não morriam a não ser quando degolados e que, por isso, passavam pela vida vendo a partida de entes queridos enquanto ficavam e iam sendo obrigados a estabelecer novos vínculos.
Ah, não morrer deve ser horrível…
Talvez ficar para sempre assistindo todos irem embora seja triste.
Talvez a nossa fé, crença, denominação religiosa, ajude a aceitar que a morte é o fim de um ciclo.
Talvez a morte não deva ser temida, e sim aceita como uma certeza de separação.
Talvez esta certeza derrube por terra a mágoa, o rancor, o orgulho.
Talvez essa realidade possa nos abrir os olhos para o bom da vida, talvez nos faça levantar da cama todos os dias comemorando estarmos aqui mais um dia.
Talvez a morte nos torne gratos por nossa existência.
Talvez todo o tempo gasto com medo da morte seja em vão.
Talvez a certeza da morte alimente os nossos sonhos.
Talvez o melhor seja deixar que ela venha quando quiser e que nos alcance só no final e que até lá tenhamos vivido intensamente esta aventura chamada vida.
Pessoas que sofrem da Doença de Alzheimer podem não ter “perdido” a memória e têm apenas dificuldades em recuperá-la, concluem investigadores conduzidos pelo Nobel da Medicina Susumu Tonegawa, que na quarta-feira revelaram a possibilidade de um tratamento curar os estragos provocados pela demência.
O prêmio Nobel da Medicina Susumu Tonegawa (1987) defende que o estímulo de áreas específicas do cérebro com luz azul permite a ratos de laboratório recuperarem experiências e memórias que pareciam esquecidas.
Os resultados fornecem algumas das primeiras evidências de que a doença de Alzheimer não destrói por completo as memórias específicas, torna-as “apenas inacessíveis”.
“Como seres humanos e ratos camundongos tendem a ter princípios comuns em termos de memória, os nossos resultados sugerem que os pacientes com a doença de Alzheimer, pelo menos nos estádios iniciais, podem preservar a memória. Ou seja há hipóteses de cura”, comentou Susumu Tonegawa à agência de notícias France Presse.
A equipe de Tonegawa usou este tipo de animais geneticamente modificados para mostrar sintomas semelhantes aos dos seres humanos que sofrem de Alzheimer, uma doença degenerativa do cérebro que afeta milhões de adultos em todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde estima que em 2050 a demência afete 131 milhões de pessoas.
Os animais foram colocados em caixas cuja superfície inferior estava eletrificada, causando uma descarga desagradável, mas não perigosa, sobre os seus membros sempre que os animais tocassem nessa estrutura.
Um rato que não tem Alzheimer desenvolve comportamentos medrosos, evitando a sensação desagradável.
Camundongos com Alzheimer não reagem da mesma forma, indicando que não guardam nenhuma memória da experiência dolorosa.
No entanto, quando os cientistas estimulam áreas específicas do cérebro dos animais – as chamadas “células de engramas” relacionadas com a memória – usando uma luz azul, os ratos acabam por se lembrar da sensação desagradável ou pelo menos desenvolvem comportamentos para evitar os choques elétricos.
Imagem mostra uma célula de engrama, relacionada à memória, de modelo de camundongo para a doença de Alzheimer: uso de luz foi capaz de fazer animal recobrar memória (Foto: Riken/Divulgação)
O mesmo resultado foi observado também quando os animais eram colocados num recipiente diferente durante o estímulo, o que sugere que a memória se manteve.
Ao analisar a estrutura física do cérebro dos ratos, os investigadores mostraram que os animais afetados com a doença de Alzheimer tinham menos “espinhas dendríticas”, através das quais as conexões sinápticas são formadas.
Com a repetição dos estímulos lumínicos, os animais podem incrementar o número de espinhas dendríticas atingindo o níveis dos ratos saudáveis.
“A memória de ratos foi recuperada através de um sinal natural”, disse Tonegawa, referindo-se ao recipiente que causava o comportamento de medo.
“Isto significa que os sintomas da doença de Alzheimer em camundongos foram curados, pelo menos nos estádios iniciais”, disse.
A investigação, patrocinada pelo Centro RIKEN-MIT para Genética de Circuitos Neurais, é a primeira a mostrar que o problema não é a memória, mas as dificuldades na sua recuperação, explica o centro com sede no Japão.
“É uma boa notícia para os pacientes de Alzheimer”, acrescenta Tonegawa por telefone à AFP, a partir do escritório em Massachusetts. Tonegawa obteve em 1987 o prémio Nobel da Medicina.
“Ajuda-me que já não sei o que faço com o que te sinto”, dizes-me, a voz roçada pelas lágrimas. E eu sorrio, limpo-te as lágrimas. E amo-te.
É sempre com amor que se ajuda quem se ama.
“Queria viver sem precisar do teu abraço, sem depender dos teus lábios”, atiras, enquanto me abraças e me beijas. E a ironia deixa que eu fique em silêncio.
É sempre em silêncio que se ajuda quem se ama.
Preciso-te para depois do que se sente. Preciso-te para além do que é saudável. Mas quem disse que o amor é saudável?
É sempre com deficiências que se ama com perfeição.
“Abraça-me como se me fodesses” pedes-me. E todo o amor, numa simples frase, fica dito.
Amo-te cada abraço como se te fodesse. Como se por dentro dos braços estivesse todo o prazer do mundo, todo o encanto de existir. Como se não houvesse depois para um abraço que se vive agora.
É sempre em agora que está o tempo de quem se ama.
“Não quero que me ajudes se não te estiveres a ajudar”, explicas, a tua mão a ajudar-me o sexo a erguer-se. E depois chega o momento do corpo, o instante em que todos os suores servem para amar.
Se tiver de beber que seja de ti, se tiver de morrer que seja por ti. Se tiver de doer que seja a sério, sem remissões. Não admito dores pequenas para algo tão grande assim.
É sempre em tão grande assim quando se ama assim.
“Ouço Deus no teu orgasmo”, confessas, já ajoelhada diante do que gememos. E nem as paredes conseguem ouvir o que nos dizemos em gritos. E nem a gramática explica uma sintaxe assim: duas orações unidas por um parágrafo no centro do mundo.
Nem o ponto final nos consegue terminar. Nem a água escorre com tanta força, nem a pedra é tão forte como o que nos ensina. E nenhuma sala de aula tem o que nós temos: dois alunos unidos pela certeza de que só o que se desaprende é capaz de ensinar.
É sempre ignorância amar tanto assim.
“Uma histórianão deve ser lida como uma estrada, um caminho a seguir…é mais como uma casa.Vocêentra efica lápor um tempo, andandopara tráse para a frente, a decidir os cômodos que mais gosta e descobrindo como os quartos e o corredor se relacionam entre si oucomo omundo exteriorfica alterado aoser visualizadoa partir de suasjanelas.
E você, o visitante, o leitor, vai também se alterando por permanecer nesteespaço. Tudo vai depender se ele é amplo, iluminado, cheio decurvastortuosas, poucoouopulentamentemobiliado.Vocêpode retornar à casa quantas vezes quiser, ea casa,a história, sempre mostrarámais do que vocêviupela última vez.
A história, assim como as casas, são erguidas com regras particulares de construção, com um robusto sensode si mesmas. O encanto reside no que elas estabelecem em nós –desconforto, acolhimento ou sedução. “ Alice Munro
A sociedade contemporânea, a qual muitos definem como pós-moderna, é uma sociedade caracterizada por um discurso polissêmico, dito de outra forma, não há um sentido próprio ao ser, tampouco à vida. Desse modo, cabe ao indivíduo a busca por aquilo que lhe defina e, assim, sirva-lhe de norte, dada a sua extrema liberdade.
Apesar de toda essa liberdade, existe uma lei, a qual todos ainda devem seguir, a saber, a lei do mercado. O mercado se apresenta como uma forma de sentido à vida, moldando a “personalidade” dos indivíduos e construindo os seus valores. Entretanto, na sociedade de consumo, as mercadorias não possuem apenas o valor de uso e de troca (visão marxista), mas, sobretudo, o valor simbólico. Isto é, os objetos passam a determinar um referencial para as pessoas.
Essa ideia é proposta pelo francês Jean Baudrillard, o qual aduz que os objetos possuem signos, os quais são impostos pelo sistema hegemônico. Ou seja, a sociedade, por meio do sistema hegemônico, como a mídia, determina o valor que os produtos possuem, com slogans do tipo: “Se não é um Iphone, não é um Iphone”. Dessa forma, somos retribalizados segundo o que consumimos, já que não é a minha personalidade que me define, mas sim o que eu consumo.
É nesse ponto que o mercado age, associando o consumo de determinados produtos a vidas bem sucedidas e felizes, ao passo que aqueles que não consomem, ou consomem produtos “chinfrins”, são tristes, infelizes e perdidos na vida. O mercado utiliza-se, portanto, do consumismo, para definir aquilo que devemos ser (e ninguém projeta uma vida infeliz).
As mercadorias, nesse contexto, são analisadas pelo signo que comunicam – como uma vida bem sucedida –, deixando de considerar a sua utilidade. Sendo assim, pouco importa se preciso ou não de determinado produto, essa relação está obsoleta, devo considerar o seu valor sígnico, ou seja, qual a mensagem que possuo ao consumir tal produto.
Nesse contexto de extrema liberdade, ser livre é poder consumir o que se deseja. Todavia, aceitando o “consumo, logo existo”, como brinde ganhamos a lei do mercado e nela você não é apenas consumidor, é também mercadoria. Sendo mercadorias, como qualquer outra, somos analisados pelos signos que possuímos perante a sociedade. Assim, à luz de Zygmunt Bauman, buscamos, pelo consumo, aumentar o nosso valor sígnico, pois:
“Na sociedade de consumidores, todos nós somos consumidores de mercadorias, e estas são destinadas ao consumo; uma vez que somos mercadorias, nos vemos obrigados a criar uma demanda de nós mesmos.”
Essa demanda de nós mesmos, como dito, é construída pelo que consumismos, posto que, em uma sociedade onde os valores são determinados por aquilo que se consome, faz-se necessário consumir para possuir valor, inclusive enquanto indivíduos socialmente e sexualmente atrativos para o mercado. E não se esqueça de que há sempre outras oportunidades no mercado acenando com valores maiores.
Desse modo, quando não consumimos, sobretudo os produtos com valores sígnicos relevantes, ficamos fora do mercado. Em outras palavras, não somos socialmente aceitos. No entanto, não vejo sentido em adequar-se ou em ser “socialmente aceito” por um sistema que cria escravos de si mesmo.
A tentativa de dar sentido à vida por meio do consumo parece-me uma tentativa frustrante, dado que não se conseguiu estabelecer um sentido à vida das pessoas. Pelo contrário, fortaleceu a lei do mercado e aumentou ainda mais o vazio deixado pela morte de Deus e/ou da razão, na medida em que a lei do mercado transforma cada vez mais as pessoas em mercadorias e, sem pessoa humana de verdade, é impossível estabelecer um sentido para a vida.
É claro que há de se considerar a possibilidade de que a vida não possua sentido. Mas esse não é o cerne da questão e sim a tentativa de dá-la por meio do consumo, uma vez que apenas somos retribalizados, excluídos e tratados sem grandes diferenças em relação a uma barrinha de cereal (ser fitness está na moda).
Por trás do culto da liberdade pregada pela modernidade líquida, existem inúmeras ditaduras como essa, a qual altera de forma substancial o pensar e o agir das pessoas, distorcendo a realidade e construindo uma hiper-realidade, caracterizada pela perda do referencial de identidade, atendendo a uma imposição econômico-cultural.
Sendo assim, vivemos, produzimos e consumimos artificialidade. Mas, se você é um consumista assumido (é difícil), não se preocupe, estamos em tempos líquidos, ninguém dá muita bola para nada. Apenas, cuidado, pois, como a lei que o rege é a lei do mercado, talvez possa amanhecer em uma vitrine, em dia de liquidação.