Você lembra de mim, logo existo

Imagem: HBRH/shutterstock

Depois que um relacionamento acaba e passamos pelas cinco fases do luto (negação, raiva, barganha, depressão e aceitação) é bastante comum aparecer um zunido estranho em nossa mente, o zum zum zum “ele (a) nem lembra que eu existo”.

Mas por que necessitamos da certeza de que somos inesquecíveis?

Vaidade? Não, não creio que seja somente por vaidade, embora gostemos de alimentar a fantasia de que fomos a pessoa mais importante da vida do outro e detestemos a possibilidade de sermos esquecidos.

Talvez o incômodo que sentimos ao constatar que o outro sequer se lembra da nossa existência coloque em xeque a nossa própria existência: quem sou, ou quem posso ser ao deixar de ser o amor daquele alguém?

Quanto menos vivenciamos a nossa realidade de maneira íntegra, realista, completa e verdadeira; quanto menos assumimos nossos medos e erros e deixamos o barco dos nossos pensamentos e emoções à deriva, mais precisamos que o outro – neste caso, um (a) ex – se lembre de nós para que tenhamos um papel em nossa fantasia e criemos uma certa ordem interna e uma pseudo-existência.

Os rapazes costumam ser mais altivos e discretos, disfarçam melhor a necessidade de serem inesquecíveis, mas nós, as moças…

Tendemos a desejar o título de “Miss Universo” – a primeira, única, grande, absoluta e insubstituível dona do coração dos guris, mesmo que eles não representem mais nada para nós.

Não, definitivamente não aceitamos a coroa de “Miss Brasil”, “Garota Primavera”, “Garota Verão”, “Miss Catanduva”: queremos ter a certeza de que fomos (somos!) a “Miss Universo” do mundinho dos gajos.

Existem garotas, aliás, que passam anos sendo espancadas emocionalmente e se autossabotando – mantendo janelas abertas  e nefastas com certos ex – porque precisam desesperadamente desse tipo de título (reconhecimento). Uma perda de energia danada.

Muito melhor do que ser “Miss Universo” de uma galáxia distante chamada “o coração do outro”, é ser desbravadora e conquistadora de si, não?

Muito melhor uma bandeira fincada na autoaceitação do que uma coroa de falso brilhante que só servirá para juntar poeira na estante e poderá ser passada a outra a qualquer momento.

Portanto, fiquemos atentos: se a dor de (possivelmente) termos sido esquecidos estiver muito latente, se a necessidade de ser a (o) top master do universo alheio estiver pulsando, devemos desconfiar! Talvez isso seja um sinal de que NÓS não estamos nos lembrando de nós mesmos.

Antes de querer que não se esqueçam da nossa existência, devemos nos lembrar, nós mesmos, dela. Mais que isso! Devemos criar a nossa existência a cada dia e lutarmos com unhas e dentes para vencermos a necessidade de validação pelo outro.







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.