Colocar a criança para pensar só faz aumentar a vontade que ela tem de te desafiar!

Não pense em um unicórnio lilás!

Viu como imediatamente desenhou-se em sua tela mental um bichinho que sequer existe e numa cor absolutamente incomum, inclusive para bichinhos que existem?

Somos teimosos por natureza e, a simples proibição sobre um pensamento, nos faz acolhê-lo sem questionar. É claro que, aqui neste caso, imaginar ou não imaginar um unicórnio, seja ele lilás ou furta-cor, não acarretará nenhum prejuízo. Entretanto, utilizar a negação como forma recorrente de educar, pode criar nos pequenos uma instantânea necessidade de transgredir.

Quer experimentar? Se você tem filhos, ou sobrinhos ou irmãos pequenos, com pelo menos 3 anos de idade, tente deixar casualmente uma caixa – pode ser uma simples caixa de sapato, sem nenhum atrativo externo -, em cima de uma superfície onde a criança esteja. Diga a ela: “Não abra essa caixa!”; e saia do ambiente. Bingo! O “meliante” vai dar um jeitinho de espiar lá dentro, só pela coceirinha que o “não” terá provocado em sua fértil imaginação.

Chega a ser desleal fazer isso com uma criança! E, para dizer bem a verdade, suspeito que muitos adultos também acabariam por sucumbir ao desejo de burlar a ordem.

Por um lado, isso é de fato um atributo positivo. Pense em quantos “nãos” na sua vida você teve de ignorar para dar conta de inúmeros desafios. Pense em quantos outros “nãos”, nem eram “nãos” de verdade. Eram apenas circunstâncias adversas, parte do processo de desenvolvimento a que somos submetidos e do qual saímos tão bem-sucedidos, principalmente pelo fato de não nos conformarmos com as limitantes negações da vida.

O fato é que a criança, desde muito pequena, entende que essa palavrinha indigesta, caso seja recebida com a forma adequada de afronta, acaba sendo revertida a seu favor.

É muito comum, que os pais, ou outros responsáveis acabem por disparar “nãos” automáticos – e algumas vezes desnecessários -, que acabam sendo desmoralizados por alguns minutos de choro estridente, uma birrinha caprichada em pleno supermercado, ou uma carinha de “coelho sem dono”, pedindo: Ahhh… por favor! Por isso, caso tenha feito a escolha por negar o que quer que seja ao voluntarioso pimpolho, segure a onda e mantenha o “não” até o fim! Caso contrário, vai criar um comportamento vicioso e cansativo, a partir do qual vai disparar uma disputa de força, da qual já sabemos quem sairá vencedor, não é mesmo? E aí, meu pobre leitor… Já era!

A mesma coisa acontece com o uso dessa inútil e ingênua estratégia de “colocar a criança para pensar”. Porque se tem uma coisa que a gente não controla, de jeito nenhum é o pensamento alheio, sobretudo o pensamento infantil alheio. Lembra do unicórnio lilás! Pois é…

A criança vai resignada para o tal “cantinho” pensar, e pensa mesmo! Pensa no amigo que ficou brincando! Pensa no bolo de chocolate que está na geladeira! Pensa no Dragon Ball Z, na Peppa Pig, no Deadpool, na próxima fase do Minecraft. Pensa em qualquer outra coisa; menos no que você mandou que ela pensasse! Pode acreditar!

E, rapidinho, o pequeno transgressor vai sacar que há uma listinha facilmente memorizada de versinhos recitados que são uma chave garantida para evadir do cantinho do pensamento. A criança vai aprender que basta ela dizer o que você quer que ela diga, para resolver o problema. E assim, nasce um mini-politicamente-correto-cidadão! É isso que você quer? Aposto que não!

O que fazer então? Palmada, nem pensar! MESMO!

Não haverá solução para educar crianças no século XXI?

A boa notícia é a seguinte: bote a cabeça para pensar! Sim, porque, ao contrário do que supõe a vã filosofia, criança sente como adulto, mas pensa como criança. Logo, você tem anos de experiência e, com um pouquinho de boa vontade, tem também muito mais oportunidades de se informar do que aquele pequeno desafiador que ostenta, uns bons vinte anos a menos que você, certo?

Então. Como é que você se sente quando faz uma tremenda besteira no trabalho e sabe que terá de enfrentar a ira do seu chefe, do seu cliente, do seu paciente, seja lá de quem for esse outro com o qual você inegavelmente precisa estabelecer algum tipo de interlocução?

O que você escolheria:

1 – Uma esculhambação em público?
2 – Quinze minutos no cantinho do escritório para pensar no que você fez?
3 – Uma semana sem direito a salário, honorário, cacau, bufunfa?
4 – Umas boas palmadas no bumbum?
5 – Uma honesta, porém nada fácil conversa (conversa, não monólogo), durante a qual ficassem claras as suas faltas; o que se espera de você, de forma explícita e mais uma sugestão sobre o que fazer para reparar o dano?

Viu? Não é tão difícil assim.

E, antes que alguém comece a esbravejar que aposta que essa escritora nunca teve filhos e que se teve, devem ser uns perdidos, inúteis e pervertidos… Sinto decepcionar! Filhos absolutamente bem-criados, que nunca “tiraram farofa” comigo, adultos formados, amorosos e independentes. E eu garanto, nunca encostei a mão ou elevei o tom de voz para nenhum dos dois.
Criança pequena entende sim, o que é certo e errado. Aprende a agir conforme as consequências. Aprende a ser gente, como se diz por aí, desde que seja tratada como tal por outros que se se portem como tal. E, nunca é demais lembrar:

BONS EXEMPLOS VALEM MUITO MAIS DO QUE MIL PALAVRAS!







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"