Você anda cheio de dúvidas? Ainda bem!

Só os idiotas têm certeza. Estão certos de que aquela sacanagem que aprontaram “foi para o seu bem”. Estão convencidos de que quando dá certo para eles é porque mereceram e que quando dá certo para você é porque alguém fez alguma coisa ilegal para te ajudar.

Certezas só habitam cabeças vazias. Cabeças ocupadas não disponibilizam espaço para certezas. Cabeças ocupadas criam, descobrem, aprendem, ensinam, evoluem. Cabecinhas coroadas de certeza habitam corpos ungidos pelo deus da hipocrisia. Sabem de tudo um pouco, mas nada tanto assim.

Não é que eu seja desprovida de certezas. Lógico que não! Também eu tenho meus momentos imbecis, dentro dos quais eu piro na batatinha e sento confortavelmente sobre fofos e convenientes pensamentos certeiros “claro que é assim!”, “agora foi!”, “nunca mais faço isso!”, “não falei que eu tinha razão?!”.

É uma delícia ter certeza de alguma coisa, qualquer coisa. Só assim temos uns abençoados momentos de trégua para, logo ali na outra curva, descobrir que NADA está garantido e que NUNCA estaremos prontos.

Sem esses oásis de certezas momentâneas nós teríamos um colapso nervoso por dia, não duraríamos nem um semestre depois de chegar à vida adulta. Isso porque enquanto somos crianças ou adolescentes não temos esse apego afetivo com o advento de estarmos certos. Criança se ocupa em viver; e adolescente se ocupa em contestar. Simples assim!

Eu agora, por exemplo, tenho uma certeza de estimação: o café da manhã. É um alívio enorme isso, me desobriga de pensar. Mamão com mel e aveia, café preto sem açúcar, pão integral com queijo branco e seis bolachas de maisena. Pronto! É quase um uniforme! É quase uma segunda pele!

E ando apaixonada por essa certeza! Ela é meu “Crush”! Mas… como me conheço há 55 anos, sei bem que isso não vai durar. E, em verdade, confesso que mesmo estando enamorada dessa pausa bendita, ando flertando com o sonho de, numa manhã qualquer acordar rebelde e cheia de dúvidas.

Já me vejo bradando a escova de dentes ao espelho pela manhã! Chega de mamão papaia! Joguem fora essa maldita aveia! Nunca mais quero ver uma gota de mel na minha frente! Quero açúcar de verdade no meu café! De agora em diante só queijo prato! E viva o pão francês!… a bolachinha de maisena pode ficar… hehehehe.

Mas… enquanto minha alma não acha outra confortável certeza para repousar… sigo obediente. Tranquila. E em paz com o meu frugal desjejum de baixas calorias. É o que temos pra hoje!







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"