Viramos a nossa própria droga e nós estamos viciados

Vivemos cercados por círculos viciosos. E não é só de substâncias como nicotina e álcool que eu estou falando.

O descaso, o desprezo, o medo e a falta de alteridade acabaram por dominar grande parte da vida cotidiana. Primeiro, porque nos falta empatia para enxergar o outro, para reconhecermos o outro como nosso igual e semelhante. Segundo, porque passamos a nos enaltecer demais. Nossas virtudes, nossas manias, nossos gostos. Viramos a nossa própria droga e nós estamos viciados.

Não é uma questão de ter ou não autoestima. Isso é diferente. Autoestima pressupõe avaliar a si mesmo subjetivamente e descobrir aspectos positivos e negativos. Ter uma boa autoestima não é e nunca foi sinônimo de exclusão.

Sua roupa ou seu status social não deveria fazer o outro desaparecer. O que você tem e o que você acredita ser não são ingredientes de uma fórmula de invisibilidade que faz com que as pessoas ao redor automaticamente desapareçam da vista.

Aristóteles definiu a natureza do homem como a de um Zoon Politikon (Animal Político). No seu tratado sobre a política, o filósofo de Estagira escreveu: “O homem é um animal social. O homem que por si só se basta, não é homem”. Pois é, meu amigo. Quer você queira ou não, nascemos para viver em sociedade. O problema é que cada vez mais temos esquecido o Politikon, e isso tem nos tornado simples animais pela falta de capacidade de se comunicar racionalmente com outros de nossa espécie.

Foi utilizando essa base aristotélica que o poeta inglês John Donne escreveu o célebre poema onde diz: “Nenhum homem é uma ilha; cada homem é uma partícula do continente […] a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram também por ti”.

Talvez seja necessária uma reabilitação; talvez só precisemos olhar mais para o lado, ao invés do próprio umbigo. Quem sabe? A misantropia anda em alta e todo mundo quer ser cult e descolado, aderindo à moda. A gente só esquece que gostar de si mesmo não é odiar quem quer que seja. Não é preciso abrir mão da individualidade para viver bem com o outro. No entanto, é preciso reconhecer que ele existe, o que não deveria configurar nenhuma dificuldade.

Existir não é um privilégio apenas seu e daqueles de quem você gosta. Lembre-se disso.







Editor, escritor e jornalista.