Sobre vidas e mortes

É claro que ninguém gosta da morte, em todos os aspectos. No entanto, como ela é uma das únicas coisas inevitáveis da vida – tanto para nós, quanto para os outros -, deveria ser melhor abordada. E tornar o ritual da despedida um momento mais sublime poderia ser um bom começo…

Morte sempre foi um tema meio que proibido. Melhor nem mencionar… Pra que falar disso?! Parece até que atrairia, anteciparia o dia fatídico. Que é triste é fato. Todavia, ela é inevitável, todos cruzaremos com ela, uma hora ou outra. E, como tal, a morte deveria sim ser pensada, conversada, amadurecida. Melhor se estivermos minimamente conscientes dela quando ela chegar. Que as pessoas próximas a nós saibam o que pensamos a respeito dos seus desdobramentos, para que ajam da melhor maneira, assim como nós para com elas.

Nesse contexto, o ritual de despedida em si deveria ser muito diferente, na minha opinião. Apesar da dor imensa e inerente, seria muito melhor se ele – o ritual – consistisse na celebração daquela vida, e não daquela morte. Seria tão mais fácil, emocionante e reconfortante para os que ficam… e uma grande homenagem ao que se foi.

Afinal, se está diante de uma história que teve a oportunidade de acontecer, o que é um privilégio enorme. Quantas nem acontecem?! Independentemente do tempo que durou, se 10 ou se 90 anos, há toda uma caminhada a ser rememorada. Há a gravidez, o parto, os laços criados e recriados com os pais e demais familiares, os amiguinhos, o primeiro amor, um trabalho feito, vidas que foram tocadas, filhos que sobrevieram.

O amor compartilhado, as risadas dadas, as viagens inesquecíveis, aquele natal especial. Com certeza, há inúmeros momentos que mereceriam ser lembrados e consagrados. Seria a oportunidade perfeita para aquele filminho de retrospectiva que se passa geralmente nas festas de 15 anos e nos casamentos. E com o mesmo objetivo: lembrar, celebrar, alegrar!

Com uma trilha sonora tocante – as músicas preferidas -, o poema predileto, as fotos destacadas, até mesmo algumas pessoas homenageadas, as que realmente marcaram aquela vida. Tudo bem, não precisava ser uma festa propriamente, mas uma linda celebração.

Celebração numa perspectiva positiva e não fúnebre, tanto daquela pessoa e da vida que ela teve, como da oportunidade de tantas outras conviverem com ela por um tempo (aquele que é decidido por desígnios superiores, que refogem à nossa compreensão).

Além disso, uma celebração à vida em si. De todos: dos que ficaram, do que estão presentes e dos que não estão. Um momento de todos lembrarem da sua finitude e da grandeza da experiência que estão vivendo. De se recordarem da necessidade de aproveitar cada segundo e cada pessoa, de deixar de lado os pequenos desagrados que, ao fim e ao cabo, nada significam.

Uma celebração, sobretudo, do amor. Afinal, um ser humano sozinho não se reconhece. É nos relacionamentos e nas trocas com nossos companheiros de jornada que vivenciamos as experiências e evoluímos. Por isso deveríamos ser imensamente gratos por estarmos aqui, dure quanto durar.

Também por esta razão deveríamos nos engrandecer com a oportunidade de ter convivido com aquele que se foi, mesmo que este relacionamento, por motivos alheios às nossas vontades, tenha durado menos do que gostaríamos. Afinal, ele ocorreu! Você ocorreu! E isso é a sensacional!

Imagem de capa: areebarbar/shutterstock







“Servidora Pública da área jurídica, porém estudante das questões da alma. Inquieta e sonhadora por natureza, acha a zona de conforto nada confortável. Ao perder-se nas palavras, busca encontrar um sentido para sua existência...”