Síndrome da impostora

Você já se sentiu menos do que é? Você já pensou que tudo que conseguiu conquistar até agora foi por pura sorte e não pelo seu mérito, esforço e dedicação? Você tem medo de expor suas ideias, por falta de acreditar em suas capacidades? Você sempre acha que não vale tanto quanto aqueles que a admiram afirmam que você vale? Se você respondeu “sim” a algumas destas perguntas, ou pensou em outras similares para as quais também responderia “sim”, isso que você sente e que te joga para baixo tem nome: Síndrome da impostora.

Esta Síndrome pode acometer tanto mulheres quanto homens, mas é infinitamente mais comum no universo feminino. Uma pesquisa feita pela Hewlett Packard, a HP – Empresa especializada em eletroeletrônicos – por meio de uma pesquisa interna, constatou que os homens se arriscam a preencher uma vaga quando seus currículos atingem 60% dos requisitos exigidos para a mesma; já as mulheres, só se candidatam quando entendem que suas qualificações beiram os 100%. E este é apenas um recorte, baseado na análise dos fatos em torno das questões profissionais.

Desde muito pequenas, as meninas são expostas a níveis de exigência mais altos, em uma diversidade maior de setores. As dinâmicas familiares ainda funcionam em torno de uma crença de que os meninos podem e devem ser criados com mais liberdade, mais soltos e menos cerceados por regras e limites sociais. É muito comum, mesmo hoje em dia, que apenas as meninas sejam incluídas nas tarefas domésticas, por exemplo; ou que mantenham suas coisas, seus quartos, seus brinquedos e materiais escolares sempre organizados; ou ainda, que observem com muito cuidado a adequação de seus comportamentos em público. Este descompasso entre a educação de meninos e meninas, traz para as garotas um peso muito maior nas costas; peso este que, mais tarde, pode se converter em posturas muito rígidas e perfeccionistas ou, ao contrário, gerar tanta insegurança que as meninas crescem acreditando que por mais que se esforcem, nunca atenderam o padrão exigido; e assim, acabem por nem se arriscar em inúmeras situações por puro medo de fracassar.

Há casos de meninas que são tão dedicadas aos estudos, tão exigentes com suas performances acadêmicas que acabam por não desenvolver recursos sociais; terminam os estudos com pouquíssimas ferramentas adaptativas para lidar com críticas, elogios, interação com o outro e, até mesmo capacidade de analisar-se enquanto ser humano social. No outro extremo, há aquelas que, por não conseguirem se destacar positivamente nos estudos, acabam virando a “popular” da classe, ou a “engraçada”, a “descolada”, aquela que tem mais “jeito de menino” e, por isso carrega um fardo enorme vida afora de ser sempre a que anima a festa, ri das próprias desgraças e nunca fica triste ou desanimada.

No aspecto familiar, mesmo que estejamos vivendo os tempos do EMPODERAMENTO FEMININO, ainda é a mulher que carrega nas costas a maior parte das responsabilidades com a organização da casa, a administração da família e a criação dos filhos; além de ser parte fundamental na composição da renda familiar para garantir o sustento de todos. E, não podemos deixar de considerar as “mães solo” desde o início do projeto de ter um filho, ou as que se tornaram solo, com a saída do companheiro ou companheira da relação.

Essa sobrecarga de expectativas ainda vem acompanhada de uma crença cruel e antiga de que: “mulher é mais forte”; “mulher é guerreira”; “mulher dá conta de tudo, com um sorriso nos lábios”; rotulam-nos como se fôssemos deusas, quando temos todo o direito do mundo de sermos humanas, seres em conflito eterno, cheias de virtudes, falhas, defeitos, coragens, medos, racionalidade e emoção.

Precisamos começar a rejeitar essa capinha fake de super-heroína, porque ela é mais um instrumento de opressão do que de poder. Precisamos iniciar um processo de auto amor e auto acolhimento, para sermos capazes de enxergar o quanto demos duro para chegar até aqui. O quanto tivemos de abrir mão de confortos e lugares estáveis, para nos arriscarmos para fora da bolha de “mulherzinha” onde nos colaram durante séculos de supremacia masculina. Precisamos valorizar cada passo do nosso caminho, porque não foi sorte, não foi estar no lugar certo e na hora certa, foi mérito mesmo! Mérito que alcançamos com o suor do nosso corpo e o perfume da nossa alma linda e feminina!

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Texto inspirado no Podcast “Elas com Elas – Rádio Bandnews FM. Organizado e apresentado por Gabriela Mayer e com a participação das convidadas Elisangela Ferreira da Silva, Camila Fremder e Natália Leão.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “O Diabo Veste Prada”







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"