Se o mundo tira você do sério, nem sempre o problema é você. Pode ser o mundo mesmo.

Ahh… por favor, donas frases prontas! Deem um tempo, tá? Por gentileza, senhoras verdades absolutas, cavalheiros chavões, doutores clichês, tenham a bondade de tomar o caminho da rua. Esta alma aqui não sabe ler manual de instrução, não.

Aqui não cabem receitas, raciocínios-padrão, fórmulas mágicas. Não se aceitam conselhos vazios matraqueados em tom professoral. “Precisamos disso, devemos aquilo, somos assim, somos assado…”. Coisa mais chata! Não, aqui não, obrigado.

Que história é essa agora de remédio fácil para todos os males? Quem foi que inventou essa moda? Que negócio é esse de receitar tratamento sem olhar o paciente? De catalogar a problemática universal em meia dúzia de mandamentos furados, batidos, roubados de todo canto em completo descaramento?

Olhe em volta. Tem sempre alguém por aí, do alto de sua cara de pau, exibindo a verdade de todas as coisas, clamando a quem passa: “se não deu certo ainda é porque não chegou ao fim, porque você não se adaptou ao mundo, porque o mundo não muda, porque é você quem precisa se adaptar…”. E dá-lhe abobrinha. Dá-lhe blá-blá-blá.

Será mesmo? Será que “dar certo” não é uma coisa pessoal demais para ser reduzida a impressões e ensinamentos do primeiro charlatão posando de pensador?

Será que tanto discurso simplório não serve mesmo é para viciar as pessoas em alívios passageiros como drogas sintéticas? Será que não passa de pura covardia o velho expediente de dizer a todas as almas apenas o que elas querem ouvir?

Será que esse mundo de verborragia analgésica, conselhos irresponsáveis e poções mágicas oferecidos como em uma feira não tem feito mais mal do que bem? Será que essa enxurrada de conselhos pasteurizados, listas edificantes e lições universais não arrasta uma multidão perdida para conclusões de aluguel em vez de fazê-la pensar?

Concordo. Pensar dói. Sentir dor, então, é pior. Por mais necessária que seja, a dor de um sentimento rasga a carne da gente, né? Concordo que é mais fácil pular essa parte e se acomodar logo numa sensação confortável de bem-estar. Saltar depressa a um canto onde tudo é bonito e agradável mas, perdoem-me as madames verdades prontas e os cavalheiros jargões, é tudo falso. Descaradamente ilusório e mentiroso.

Ninguém quer sentir a carne rasgando. É melhor a anestesia de uma frase feita, um sentimento de encomenda, um chavão emocional, uma receita fácil. “Devemos isso, precisamos daquilo…”. Essas mentiras que nos contam em tom professoral. Esses cantos de sereias falsas que o desespero da gente aceita.

Não quero, não. Eu ainda tenho vergonha na cara. Não embarco nessa. A quem se interessar, ofereço o meu lugar na janela. Eu prefiro o caminho mais longo, a pé. Prefiro deixar a dor doer que encher a cara de drogas baratas, remédios genéricos e autoajuda paliativa. Prefiro falar sozinho a fazer coro com uma multidão de zumbis, famintos por sentimentos inventados, verdades alheias e resoluções definitivas.

E quando o mundo me tirar do sério, vou me permitir sem culpa cogitar que talvez o mundo é que esteja equivocado. Por que não?







Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.