“Só queria dizer que estou feliz”

Por Patrícia Pinheiro

Na noite de réveillon, após jantar, esperar o relógio marcar meia noite e abraçar os que me rodeavam, por morar relativamente perto da praia, decidi que seria bom ir até lá. Busquei o chinelo de dedo mais confortável que tinha e fui caminhando lentamente pela madrugada chuvosa, enquanto observava tudo o que acontecia ao meu redor: os fogos ainda explodiam no céu e uma multidão se encaminhava para o mar.

Em meio a diversas pessoas trajando branco, falando alto, bebendo e tirando fotos, notei que uma menina, com seus, no máximo, 6 anos, puxava incessantemente o vestido da mãe, na tentativa de ter a atenção que precisava para dizer-lhe algo. “Mãe, mãe!”, ela gritava, e, quando a mãe finalmente voltou os olhos para a criança e perguntou o que ela queria, veio a resposta: “Só queria dizer que estou feliz”.

Desde então, a fala daquela criança me acompanha. Será que, como ela, somos capazes de reconhecer – e, principalmente, em voz alta – os momentos de felicidade? Mas, o mais importante: sabemos que ela reside em momentos?

Acho que, nessa busca pelo “felizes para sempre”, acabamos, muitas vezes, perdendo a capacidade e sensibilidade para buscarmos e reconhecermos os momentos felizes. Ocupados construindo nossa felicidade, esquecemos que ela não é um estado a ser alcançado somente quando concluirmos nosso doutorado ou comprarmos um carro, é, sim, embriagante e passageira como o otimismo e fé que nos preenchem na noite de ano novo.

Além disso, penso no quanto é positivo para os que nos acompanham – seja por breves momentos ou por uma vida – esse pronunciamento de felicidade. Um “eu estou feliz por estar aqui contigo” é gostoso demais de se ouvir. A certeza da alegria de quem eu amo é capaz de renovar a minha.

Assim como sentimos necessidade de externalizar e compartilhar nossas tristezas, que possamos, também, estar receptíveis para todas as doses de felicidade que se encontram espalhadas por aí, sem medo de gritá-las. Naquela noite, antes de dormir, fui ao quarto da minha mãe, e disse: “Só queria dizer que estou feliz”.







Patrícia Pinheiro tem 25 anos, é natural de Santa Maria - RS, morando em Florianópolis -SC. É formada em Psicologia e amante das palavras. Poeta e escritora, compartilha seu trabalho em suas redes sociais e é colunista do site Conti outra.