Quem será essa figura estranha que nos contempla do espelho?

Mudar, trocar, arejar, arriscar-se. É preciso coragem para mudar! Mais que coragem, é preciso paciência com aqueles que não estão prontos para entender a mudança! Mudanças assustam. Pegam desprevenido. Trazem desconforto.

Quando há mudanças à nossa volta, precisamos olhar o diferente e procurar nele algum sentido; ou desafio. Depois, precisamos parar por alguns instantes e olhar a nossa própria imagem no cenário novo. E, olhar-se é um grande risco.

Muitas vezes, não temos a menor ideia de quem somos, realmente! Imaginamos uma imagem projetada de nós mesmos; envoltas em artifícios de personagem. As outras pessoas veem outra coisa. Nunca saberemos quem somos aos olhos dos outros!

Quantas vezes já teremos assustado aqueles que convivem conosco; seja de perto ou de longe. Nossa alegria, ou melancolia, assustam! Nosso amor desmedido ou comedido, assusta! Nossa forma avassaladora ou cautelosa de demonstrar paixão pelo que fazemos, assusta!

Da mesma forma, há no mundo tantas coisas que aos olhos dos outros são triviais, passageiras, ou irrelevantes, mas nos enchem de temor. Pequenas ou grandes descompassos do mundo que nos tomam de surpresa ou nos fazem recuar.

Há tantas coisas incompreensíveis à nossa volta: ganância; intolerância; agressividade; frieza. Ingredientes de um estilo de vida que teimamos em ambicionar, acreditando que haverá alívio para a nossa falta de jeito em lidar com nossas fragilidades.

Queremos ser fortes; destemidos; corajosos. Sem perceber, permitimos que essa ambição cobre de nós um preço excessivamente alto. Abdicamos do direito de nos conhecermos um pouco melhor, vivemos com pressa, amamos com pressa. Exigimos demais, de nós e do outro.

O que pode nos salvar do perigo de nos acostumarmos com a cara feia; com o jeito desastrado de quem não permite erros; com a insatisfação permanente daqueles que querem sempre um pouco mais de nós; com o gelo dos olhos de quem não enxerga além de si mesmo!?

Nossos olhos, assustados e cansados merecem uma pausa. Vamos fechá-los por uns instantes. Respirar. Sentir o corpo amolecer e alma escoar o medo de não ser aceito, admirado, desejado. Só por uns instantes.

A coragem de romper um ciclo automático de vida pode nos salvar do abismo. Sejamos fiéis àquilo que ousamos sonhar um dia. Paremos de concordar silenciosamente com quem nos rouba o brilho nos olhos. Tenhamos fé em nós mesmos para abrir mão de uma armadura dourada que pesa muito mais do que adorna. Tomemos nas mãos o nosso próprio destino. Tenhamos pelo que nos orgulhar. Porque quem não honra sua própria missão nesse mundo não é digno de si mesmo; nunca reconhecerá em seu reflexo no espelho alguém em quem se pode confiar.







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"