Que Camões era romântico assumido todos sabiam. Que pregava um amor realista, poucos.

As discussões a cerca de Camões são inúmeras, visto que o poeta possui obras complexas e de difícil entendimento. Porém, entre extremo romantismo, idealização da pessoa amada e frustração diante da rejeição, Camões defendia algo que poucos estudiosos perceberam: reciprocidade de amores realistas.

Diferente do que se pensa, Camões não era um romântico iludido, nem pregava um amor platônico inatingível. Pelo contrário, para o autor o amor deveria ser tão intenso quanto recíproco. Como o próprio poeta dizia “coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las”.

A história nunca teve grandes informações da vida do poeta e, as poucas que possuía, eram especulações. Resumindo: conhecemos Camões por seus versos e, com exatidão, somente por eles.

Camões está mais perto da sua realidade do que você imagina. Há até um famoso questionamento que afirma: “o que seria da Língua Portuguesa sem Camões?”. Ele é o autor de “Os Lusíadas” (aquele poema épico de 8.816 versos que você foi obrigado a ler no Ensino Médio e que, provavelmente, odiou) e o grande inspirador da música de Renato Russo, Monte Castelo, que você canta alto, como se não houvesse amanhã.

O amor de Camões é intenso, extremo, forte, mas coerente. Se, por um lado o poeta enfatiza que, para viver um grande amor, é preciso intensidade; por outro, utiliza-se de antíteses para demonstrar a fragilidade humana perante o amor.

Para Camões o amor é “um fogo que arde sem se ver”, e, por isso mesmo, deve ser pensado antes de ser sentido. Segundo o próprio poeta, o amor “é ferida que dói, e não se sente. É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer. É um andar solitário entre a gente. É nunca contentar-se e contente. É um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade. É servir a quem vence; o vencedor. É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor. Nos corações humanos amizade. Se tão contrário a si é o mesmo amor?”.

Nota-se que, enquanto para muitos autores o amor é visto como cura para os cansados, para Camões a antítese é encarada como uma faca de dois gumes: de um lado, remédio para as almas sãs, do outro, veneno para as doentes. Cabendo a, cada um, escolher o lado que prefere.

Camões entendia que, por mais que o amor doesse, não poderia ser dividido “o amor é um só, não pode ser partido” e a continuidade da vida necessária, visto que somos passíveis de mudança e que, sofrer era uma opção e não uma condição: “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.”

A leitura das obras não é fácil, a linguagem não é agradável e as obras são extensas. Mas, se eu pudesse lhe dar um conselho, seria: leia! Arrisque-se, permita-se, cresça intelectualmente. Camões é tão complexo, quanto encantador.







A literatura vista por vários ângulos e apresentada de forma bem diferente.