Que atire a primeira pedra!

Por Lorenna Mesquita
Foto de capa: Vagner Click

A praça pública de hoje é a internet. É nela que tu te expressas e dizes o que queres. Por vezes, te exaltas. Com sangue nos olhos, escreves o que estava há muito tempo engasgado e trancafiado no mais íntimo do teu ser. Também ofendes aqueles partidários de um pensamento diferente do teu e esqueces que muitos dos ofendidos podem ser teus amigos bem próximos. É fato que muitas dessas ofensas são feitas no tal calor das emoções. Tu falas da forma mais agressiva possível para “vencer” a briga (apesar de que numa briga, creio eu, todos saem perdendo).

Passados alguns dias, com o coração mais tranquilo, chega a hora do arrependimento e da ressaca moral. E mesmo pedindo desculpas aos ofendidos e lamentares o que escreveste, tu não podes mais voltar atrás. Ninguém perdoa. Mesmo que apagues teu post, já não podes fazer nada, porque já deram um print screen e compartilharam tua mensagem no Facebook e no WhatsApp. Tu pensas no maldito momento em que escreveste aquele monte de barbaridade e clicaste em “enviar”. Não dá mais. Enquanto tu te consomes e morres por dentro, a rede está te ofendendo ou rindo de ti e chamando mais gente para engrossar o caldo e acabar contigo.

O que se faz hoje na internet é achincalhar em praça pública uma pessoa. Condená-la e jogá-la aos leões pelo erro que cometeu. Esquecem que todo mundo erra. Todo mundo corre o risco de se exaltar e publicar alguma coisa sem lembrar que o conteúdo dentro desta tela estará exposto a centenas, milhares de pessoas. Eu mesma errei ao combater o ódio com o ódio. Nos últimos dias, excluí amigos que me decepcionaram com um discurso xenofóbico e usei as palavras “nojo” e “escroto” para me referir a eles e ao que escreveram. Eles estavam tomados pela raiva e eu embarquei na mesma energia. Sim, quem fala o que quer tem que se responsabilizar pelos seus atos. E nesse caso específico, Xenofobia é crime.

Mas o que lanço aqui é uma reflexão sobre como temos sido cruéis com quem erra. É muito fácil massacrar alguém publicamente. O que se tem feito na internet é um linchamento virtual. E isso gera uma dor tão grande quanto ou maior do que uma surra física.

Há mais de dois mil anos, um homem muito sábio nos deu uma grande lição. Percebendo a iminência do apedrejamento de uma mulher, ele disse: “Aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra.” Então antes de atirar, pensa que um dia o apedrejado poderás ser tu.

E antes que atires alguma pedra em mim, te digo: Não sou a Boa Samaritana. Cometo erros como todo mundo. Acredito que estamos aqui para evoluir e cada pequena conquista é um passo nessa caminhada que é longa, bem longa. #menosodio #maisamor

“A vida é apenas isto: um encadeamento de acasos bons e maus, encadeamento sem lógica, nem razão; é preciso a gente olhá-la de frente com coragem e pensar, mas sem desfalecimentos, que a nossa hora há-de vir, que a gente há-de ter um dia em que há-de poder dormir, e não ouvir, não ver, não compreender nada.” Florbela Espanca







Lorenna Mesquita é, como diz Florbela Espanca, uma mulher, uma criança, uma artista que se julga alguém. No Facebook é administradora da página sobre Florbela Espanca- Florbela Espanca- Poeta No momento está com a peça Florbela Espanca, a hora que passa em cartaz em São Paulo no Top Teatro.