“Quando minha filha anunciou que não era mais uma menina, perdi o chão”
Foto: Reprodução/ Daily Mail

Lizzie, que era uma menina que adorava bonecas, tinha um quarto cor de rosa, com seu nome pintado na parede e até participou de um concurso de princesas na infância, revelou à mãe que agora gostaria de ser chamado de Zack. “Senti como se tivesse levado um chute na cara”, relatou a mãe, que, no início, pensou que aquilo seria uma fase e que ia passar.

Três anos depois, o filho dela ainda se chama Zack e planeja mudar seu nome de verdade no próximo ano, quando completar 16. “Tive três anos para chorar pela garotinha que eu amava – e conhecer uma pessoa completamente diferente, que eu não amo menos, mas por um tempo mal reconheci”, declarou.

A mãe de 38 anos disse que nunca tinha pensado no debate sobre gênero, já que imaginou que isso nunca a afetaria diretamente. No entanto, com a mudança do filho, passou a tentar compreender melhor o assunto.

Na escola, Zack não era o único a se identificar como não-binário. Quando ligou para conversar com a equipe e autorizar que Lizzie fosse, a partir daquele momento, chamada de Zack, ela marcou uma reunião e, lá, o diretor disse que esse não era um caso isolado.

“Muitas crianças estão mudando de nome na escola”, disse o diretor, que estava acompanhado por professores de apoio à aprendizagem. “Está se tornando uma coisa e tanto”.

De acordo com uma pesquisa publicada na revista americana Pediatrics em 2021, quase 10% dos adolescentes agora se identificam com “diversidade de gênero”, relatando “incongruências entre seus sexos atribuídos no nascimento e suas identidades de gênero experimentadas”. Em outras palavras, eles não sentem que o gênero com o qual nasceram e cresceram se encaixa em sua verdadeira identidade.

Segundo a mãe, os adolescentes amigos de Zack que estavam passando por isso eram meninas, que pediam para ser chamadas como meninos, vestiam roupas largas, faixas para esconder os seios.

Dez em cada 200 crianças da idade de Zack se identificam como não-binárias. “A maioria compõe o novo grupo de amizade de Zack e nasceu menina – não consigo pensar em uma que fosse menino. Não acho que todos sejam genuínos – acho que alguns só querem se sentir parte de algo”, opina. “Não posso deixar de me perguntar se a pressão da sociedade sobre as meninas, seja da mídia social vendendo perfeição ou filtros de smartphones que fazem com que elas não se sintam bonitas o suficiente, é um fator”, pondera, embora não ache que esse é o caso de Zack. “Embora eu concorde que alguns jovens, principalmente meninas, estão entrando na onda para escapar da pressão, muitas vezes, insuportável que a sociedade exerce sobre eles, não acredito que meu filho seja um deles”, diz.

“A maioria dos pais está lamentavelmente despreparada para lidar com isso. Eu certamente estava. Se você tivesse me dito há cinco anos que meu filho não se identificava nem como menina nem como menino, eu teria rido – mal sabia o que não-binário significava”, contou a mãe. “Em dezembro de 2018, quando ela anunciou que não era mais uma menina, perdi o chão”, desabafa.

Apesar do choque, a mãe só queria que ele e seus amigos fossem felizes. Zack levou outros amigos não-binários em casa. Todos, antes, se identificavam como garotas e agora tinham cabelos curtinhos e usavam roupas largas.

Dar a notícia para seu marido, Michael, 40, também não foi fácil. No princípio, ele não aceitou bem. “Sua reação inicial foi de frustração. Ele estava convencido de que Zack estava sendo ridículo; era tudo por atenção. A falta de apoio dele me decepcionou e causou atrito entre nós, mas, ao mesmo tempo, eu entendi. Como eu, ele estava em negação sobre a perda de nossa garotinha”, explica.

Durante meses, o clima ficou estranho entre eles e Zack evitava o pai. Com o tempo, porém, Michael percebeu que não se tratava apenas de fase. Um dia, enquanto a mãe estava no trabalho, Zack precisou pedir uma carona para o pai e, durante o trajeto, eles se conectaram. “Naquela noite, Michael me abraçou e disse: ‘Este é o novo normal, não é?’ Senti alívio. Depois de meses tentando forçá-los a falar, eles fizeram isso sem a minha intervenção”, relata.

O irmão de 10 anos de Zack, por outro lado, aceitou imediatamente. “A fluidez de gênero faz parte da sua geração”, disse a mãe. Segundo ela, eles passaram a se dar melhor depois da mudança.

Zack tinha um cabelo curto na altura da cintura e disse para a mãe que queria cortar. Ela aceitou, mas confessa que não foi fácil. Ele voltou parecendo um menino e disse que um peso enorme parecia ter sido retirado de suas costas. “Murmurei algo sobre isso parecer legal e sai da sala para chorar – eu nunca quis mostrar minhas dificuldades porque não quero que Zack se sinta culpado”, explica a mãe.

Zack também trocou todo o guarda-roupa, tirando os vestidos e tops e substituindo-os por calças largas e moletons, que ocultassem as curvas do corpo. Ele pediu que a mãe tirasse as fotos da casa em que ele aparecia como menina. “Tirar a tela da minha estampa favorita – meu filho subindo em uma árvore, cabelos longos esvoaçando ao vento – foi de partir o coração”, lembra.

Apesar das dificuldades, ela disse que prefere apoiar as decisões do filho, nos pontos em que isso é possível. “Zack me conta que vários amigos não-binários não foram aceitos por seus pais, que se referem a eles pelo nome antigo. Alguns ficaram deprimidos. Um fugiu de casa — recebi um telefonema da polícia quando eles desapareceram. Não é melhor que Zack se sinta aceito, não importa o que aconteça, em vez de se sentir envergonhado?”, questiona.

A mãe, no entanto, disse que não permitirá que ele tome decisões precipitadas, que alterem o corpo, como o bloqueio hormonal ou cirurgias. “Claro, não poderei impedi-lo de fazer uma cirurgia de remoção de seios depois dos 18, mas, permitir qualquer coisa que possa alterar irreversivelmente seu corpo – incluindo tomar bloqueadores de hormônios, o que, felizmente, Zack não pediu – me dá medo”, disse ela. “Me preocupo que possa ser uma decisão precipitada e acho que vai precisar de muito mais terapia antes que a intervenção médica seja uma opção”, aponta. “Se Zack quiser fazer a transição como adulto, é claro que vou apoiá-lo, mas me preocupo que possa mudar de ideia mais tarde”.

O adolescente e a mãe fazem acompanhamento psicológico uma vez por semana. Além disso, na escola, uma organização LGBTQ+ também oferece apoio, conversando com os alunos não-binários sobre várias questões.

“Sim, passou pela minha cabeça que eu tenho sido muito tolerante – eu sei que outras mães não teriam agido do jeito que eu agi e diriam ao filho para não ser ridículo. Por outro lado, há um risco maior de suicídio entre os jovens trans. Em última análise, eu só quero que meu filho permaneça vivo. Mas Zack e eu nos aproximamos por meio desse processo”, afirma. “Garota ou garoto, e qualquer que seja o futuro, Zack é meu filho e eu não poderia amá-los mais”, finaliza.

Veja também: Universidade de Stanford oferece curso sobre identidade de gênero de sensibilidade inestimável

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Fonte Daily Mail. Tradução e adaptação brasileira:  Revista Crescer







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