Pare de chamar quem não te ama de idiota!

O amor, entre outras coisas, é um efeito colateral da distração. Acontece quando menos esperamos. Quando não estamos vestidas de encontro, quando esquecemos o guarda-chuva em casa, a TV ligada, a alma vazando e um poema com o pé quebrado esperando conserto.

Dizer que o cara que não te ama é “idiota” não ajuda a aflição passar, mon chérie.

Diminuir uma pessoa não necessariamente faz com que você se sinta superior: trata-se de um paliativo, um simples bombom num momento de TPM.

“Não nos querer é um direito do outro! A gente precisa parar com essa mania de achar que só podemos amar quem nos ama. O amor não tem nada a ver com nossas carências e vaidades. O amor não espera reconhecimento ou retribuição para acontecer, ele acontece sem quê nem para quê; acontece quando não estamos procurando por nada e só é pleno em si quando não espera nada além de amplidão”. (trecho do livro Sexo, champanhe e tchau)

E não é porque nos esforçamos para sermos a Mulher-Maravilha, ou seja, porque fazemos dieta, pagamos fortunas em tratamentos estéticos, estudamos fora do país e aprendemos várias línguas, chefiamos empresas, assistimos a bons filmes, lemos bons livros, aprendemos culinária marroquina, usamos roupas descoladas, decoramos ambientes com bom gosto e criatividade, aprendemos técnicas de pompoarismo, etc e tal, que temos que receber um prêmio por isso: o amor da pessoa que desejamos.

A perfeição não existe e o resultado da busca incessante por ela é quase sempre a frustração, porque “perfeição” não é sinônimo de “garantia” –  garantia de amor, de sucesso, de nada.

Quando uma “senhora-perfeitinha” não consegue o que quer o resultado é um só: uma baita cara de ué e muitas, muitas lágrimas.

“Ué, mas eu fiz tudo certo, por que não recebi o prêmio no final: o amor dele”?

O incomodo que essa pergunta gera não é proveniente apenas do sentimento de rejeição, mas da sensação de ter sido traída, enganada pela vida, como se a busca pela perfeição estivesse diretamente associada a alguma recompensa.

Non, non, não está. E dizer que o cara que não te ama é idiota é uma idiotice tremenda. Ele não te ama porque não te ama, ora bolas. Pode ter amado um dia, mas deixou de amar. Dói? Dói, porém aceitar que não podemos controlar nada nessa vida –  inclusive e principalmente o afeto alheio – é um exercício diário. Além disso, o fato de uma pessoa não nos amar (ou ter deixado de nos amar) não quer dizer que não somos (ou fomos) suficientemente boas, quer dizer, apenas, que a febre não aconteceu para ela ou, como acontece em geral com as febres, passou.

Não existe explicação. O amor só acontece à primeira vista ou mais tardar ao primeiro toque e se não aconteceu para o outro… Paciência.

Tentar medir nosso valor pelo afeto que nos ofertam é uma tremenda roubada.

Antes de se perguntar “por que ele não me ama?”, pergunte-se por que você quer tanto ser amada por ele, ou, por que você espera que seu esforço de perfeição seja recompensado pela vida e pelos outros?

Esse questionamento certamente vai trazer ganhos muito mais efetivos do que chamar o outro de idiota.







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.