Aplauso em Cannes não é termômetro perfeito (tem filme que ganha o “clap” e some da conversa depois), mas Eddington não passou batido: a estreia no festival terminou com salva de aplausos em pé que a imprensa mediu entre cerca de 5 e quase 7 minutos, e teve até Joaquin Phoenix visivelmente emocionado no momento.
O curioso é que o filme usa justamente esse tipo de “barulho coletivo” — histeria, torcida, paranoia e disputa de narrativa — como combustível da história.
Dirigido e roteirizado por Ari Aster (Hereditário, Midsommar, Beau Is Afraid), Eddington é um neo-western/thriller que joga o espectador em maio de 2020, no auge do clima pandêmico, numa cidadezinha do Novo México onde uma briga política vira faísca num barril de pólvora.
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A premissa é direta: o xerife (Joaquin Phoenix) e o prefeito (Pedro Pascal) entram em rota de colisão e, no meio disso, vizinho vira inimigo em questão de minutos.
Pedro Pascal interpreta Ted Garcia, o prefeito que tenta sustentar autoridade e “progresso” enquanto a cidade ferve.
O que surpreende aqui é como ele foge do carimbo do “cara legal” ou do “vilão pronto”: o personagem tem presença, sabe falar com câmera e plateia, mas também carrega aquela frieza de quem enxerga pessoas como estatística — e Pascal entrega isso com um controle que cresce cena a cena.
Quando o confronto com Phoenix aperta, ele não precisa gritar para dominar o espaço; ele incomoda pela segurança com que empurra a narrativa a favor dele.
Do outro lado, Joaquin Phoenix vive Joe Cross, o xerife que transforma frustração em plataforma política.
Ari Aster filma essa escalada como uma sequência de pequenas decisões ruins que parecem “defensáveis” no momento — e é aí que Eddington pega: ninguém acha que está fazendo papel de vilão, todo mundo acredita que está “se protegendo”, “defendendo a cidade”, “falando a verdade”. O resultado é uma cidade desorientada, guiada por impulso, desinformação e competição por atenção.
A direção acerta ao usar o visual de faroeste (estradas, poeira, distância, clima de cerco) para falar de um tema muito atual: a política como briga de torcida e as redes como acelerador de caos.
E como Aster gosta de provocar, ele mistura tensão com um humor bem ácido — não para aliviar, mas para deixar a situação ainda mais incômoda, porque você ri e logo pensa “ok, isso é horrível”.
O elenco é um luxo, e não só de nome: Emma Stone entra como peça importante desse tabuleiro, e Austin Butler aparece em um conjunto que ajuda a manter o filme sempre “carregado”, mesmo quando a ação desacelera.
A vibe geral é de conflito crescendo por camadas, e o filme não tem pressa: são 149 minutos, o que exige que o público entre no ritmo e aceite o desconforto.
No fim das contas, Eddington funciona melhor quando você encara como uma sátira agressiva sobre um período recente (e ainda sensível) do que como um thriller “de conforto” com mocinhos claros. A reação forte em Cannes faz sentido: é o tipo de filme que divide, cutuca e rende discussão na saída — e, no meio desse fogo cruzado, Pedro Pascal entrega um dos trabalhos mais afiados e surpreendentes da carreira.
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