Para aonde?

por Fernanda Pompeu

imagem: Régine Ferrandis

Sempre me fascinou a imagem da encruzilhada. No fundo não se trata de uma imagem, mas de uma concretude! Qual o caminho a caminhar é questão que nos envolve da infância à velhice. O curioso – e gracioso – é que nunca estamos 100% seguros da trilha, picada, atalho que pegamos.

Aquele que se casou com Maria, não se casou com Arlete. Quem viveu uma vida com o Marcus, abriu mão de uma existência com o Eduardo. Para ser engenheira, ela sufocou a carreira de desenhista. Pela carteira assinada, ele abandonou o violoncelo. Para se sentir mais livre, ela deixou o emprego promissor.

Caminhos! Melhor, decisões. A poeta Cecília Meireles (1901-1964) traduz a encruzilhada das decisões nos seus deliciosos versos: “Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro. Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo e vivo escolhendo o dia inteiro! Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo.”

As dúvidas do poema Ou isto ou aquilo dizem respeito ao universo infantil. Doce, anel, brincar, fazer lição de casa. Mas sua essência ganhar algo perdendo algo nos perseguirá em todas as idades. Ontem mesmo na Praça Pôr-do-Sol – na atualidade, a mais filmada das praças de Sampa – observei um senhorzinho, para lá de seus oitenta, decidindo se ele e seu andador tomavam o rumo à direita ou à esquerda.

Pude por alguns segundos flagrar a dúvida em seu rosto. Com certeza, esse homem viveu uma vida inteira tendo que escolher caminhos a seguir. Pois é isso que todos fazemos, todos os dias, desde o momento em que saímos da cama até voltarmos a ela. Talvez só o estado inconsciente escape do nosso arbítrio. Ninguém escolhe um pesadelo ao sonho.

De qualquer maneira, e por conta de ter que escolher, sempre teremos um sentimento de nostalgia por aqueles caminhos que não trilhamos. Aquela vida que não vivemos. Como teria sido com a Arlete e não com a Maria? Com Eduardo e não com o Marcus? O emprego chato me permitiria a gostosa varanda daquele apartamento próprio?

Quem cobra juros mais altos? A liberdade ou a adequação? A constância ou a mudança? Quantas vezes pude escolher? Quantas vezes escolheram por mim? Ou isto ou aquilo. Única certeza é que andamos o tempo todo, seja atrás do porto seguro ou do mar aberto. O ponto de chegada é só no último suspiro.







Fernanda Pompeu é escritora especializada na produção de textos para a internet. Seu gênero preferencial é a crônica. Ela também ministra aulas, palestras e workshops de escrita criativa e aplicada. Está muito entusiasmada em participar do CONTI outra, artes e afins.