O que você faz com o que fazem com você?!

O que você faz com o que fazem com você?!

Por VANESSA ROSSI

Começo esse texto com uma frase atribuída a Sartre que diz assim: ” Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.” Carrego essa frase no bolso. Uma verdadeira lição de vida.

Me alinho muito com esse pensamento porque todos nós passamos por arranhões e quedas na vida. Nesse filme chamado existência humana, torna-se praticamente impossível sairmos ilesos por mais que sejamos super protegidos na infância, adolescência e vida adulta. Seria o mundo um lugar cruel? Não necessariamente. Depende da formação, da personalidade e da estrutura familiar de cada um de nós. Esses são os pilares básicos para construirmos pouco a pouco a consciência necessária para nos adaptarmos as circunstancias da vida.

Ora, não desejamos certos acontecimentos para nós, no entanto eles acontecem. Uma criança órfã certamente não desejaria ser órfã, mas vítima das circunstancias, do destino, da sociedade ou da família ela é. E como lidar com isso? Como lidar com essa série de acontecimentos que nos atinge a todos, cada um de uma forma e não depende de nós escaparmos dela ou não?

Outro caso seria uma pessoa acometida com uma doença grave, cujas causas ela não procurou. Somado a esses pensamentos
dir-se-ia que somos todos vitimas? Claro que não. Mas somos obrigados a concordar que há situações chave em nossas vidas que são como acontecimentos fatais; Não depende de nós alterarmos a rota daquele acontecimento.

Mais uma vez surge a pergunta: E o que fazer mediante a isso? Cada um digere de uma forma. Uns utilizam-se da desgraça para tornarem-se pessoas ainda melhores e servirem de exemplo ao mundo de como é possível ser feliz mesmo com restrições físicas, financeiras ou emocionais. Outros utilizam-se das mesmas dificuldades para revoltarem-se contra o destino, contra as pessoas, contra Deus.

A ideia dessa reflexão não é expor como cada um deve agir perante as dificuldades da vida, mas sim uma nuance de como as pessoas reagem diferentemente diante de circunstâncias parecidas.

O que fazemos com aquilo que fazem conosco? Já paramos para pensar como nos sobressaímos em situações de mágoa, traição, inveja, ciúme, desrespeito? Claro que esses tipos de situações podemos nos esquivar, peneirando as nossas relações. Mas é impossível fugir de tudo.

Já na infância em contato com outros coleguinhas na escola percebemos o quanto as pessoas podem ser cruéis umas com as outras, seja na prática do bullying, da intolerância, do preconceito racial ou social.

Como se sobressair, para além de um divã de um psicólogo, ou consultas psiquiátricas toda a intempérie de contrariedades que sofremos todos os dias? O que fazemos com aquilo que fizeram conosco? Convido a vocês, leitores amigos, a refletirem e se possível contarem suas experiências pessoais. A incrível frase do Lacan, objetivo de nossa reflexão, me leva a correlacionar com outra frase atribuída a Fernando Pessoa:

” Pedras no caminho? Guardo todas, um dia construirei um castelo…”

E são de pedras em pedras, que vamos decidindo o que fazer com elas…

De tanto tentar “fazer a diferença”, esquecemos o quanto somos iguais

De tanto tentar “fazer a diferença”, esquecemos o quanto somos iguais

A despeito das nossas diferenças. À revelia de seus protestos. Apesar das picuinhas que nos separam, das tolices que nos jogam um contra o outro, da ilusão de pertencermos a lados opostos, ainda assim nós somos iguais.

Embora você não admita, e por isso insista na ideia tola de medirmos força, insultando um ao outro como moscas ziziando de asas presas na teia de uma aranha faminta, dá no mesmo. Você e eu somos iguais.

Enquanto o fogo se alastra, o ralo entope, a bomba estoura. Ao tempo em que confabulam, conspiram, atentam, conjuram. Durante conchavos e arranjos, complôs e conluios, quando nas sombras se arranjam manobras, embrulhos, enganos e ardis, não tem jeito. Nós seguimos iguais.

Declarem-se as guerras, explodam as crises, espalhem discursos de ódio, espirrem ofensas, alastrem os gritos, estourem as vozes, quebrem-se as caras, lasquem os ossos, chamusquem as peles! Nós ainda seremos iguais.

Separem-nos em classes, castas, guetos, cores, credos. Advoguem em causa própria, desviem dinheiro, garantam-se terras, loteiem os cargos. Isolem as minorias, elejam os escolhidos, nomeiem-se os reis, subjuguem os súditos. Aqui, entre nós, a verdade é que somos eternamente iguais.

No riso insano de quem ganha mora a dor de quem perde. Na agonia de quem cai arde a fúria de quem sobe. A vida dos que matam também parte com os que morrem. E os que morrem seguem vivos, indeléveis, sob as unhas de seu algoz. Porque ainda que você duvide, conteste, rejeite, nós somos iguais.

Não adianta. Ao fim do jogo todas as peças retornam à caixa e os placares voltam ao zero. Mesmo que você não aprove, nós estamos juntos e somos iguais.

Os que perdem e os que ganham, os que ficam e os que vão, depois de tudo seremos nada. Todos passaremos porque tudo é passagem. No fim, tanta diferença só há de provar o quanto seguimos idênticos. E que nós somos, para sempre, de qualquer sorte, apesar de tudo, nós todos somos iguais.

40 filmes para quem ama História

40 filmes para quem ama História

Lista de quarenta filmes com temas relacionados com História, para quem gosta do gênero.

Nós que aqui estamos por vós esperamos (1999) – Direção: Marcello Masagão.
Um documentário sensacional. Com recortes biográficos reais para representar o século XX e toda sua efervescência. Sem seguir a típica e didática linha cronológica dos documentários tradicionais, este, além de dispensar a também típica narração, se revela um experimento totalmente original. Com uma mescla de música, citações, imagens de personalidades conhecidas e personagens até então anônimos, temos um excelente retrato do século XX, incluindo seus grandes pensadores, os dois grandes conflitos mundiais, as invenções, a mudança da presença feminina na sociedade e as diversas outras transformações que se sucederam. A maior genialidade do filme, entretanto, é saber retirar das imagens muitas histórias que geralmente passam despercebidas. É preciso ter uma visão centrada, como Marcello Masagão explicita nesse filme, para perceber que mesmo sendo muitas, as pessoas que pelo mundo passaram foram importantes para ele de alguma maneira, criando-o, inventando-o, modificando-o ou simplesmente vivendo-o. Suas histórias, mesmo enterradas, ainda existem. Em um lugar para qual todos vamos, e eles esperam por nós. Até um dia, quem sabe!

O Nome da Rosa (1986) – Direção: Jean-Jacques Annaud
Em 1327 William de Baskerville (Sean Connery), um monge franciscano, e Adso von Melk (Christian Slater), um noviço que o acompanha, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. William de Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se a Igreja deve doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários assassinatos que acontecem no mosteiro. William de Baskerville começa a investigar o caso, que se mostra bastante intrincando, além dos mais religiosos acreditarem que é obra do Demônio.

Diários de Motocicleta (2004) – Direção: Walter Salles
Que belo filme. Che Guevara (Gael García Bernal) era um jovem estudante de Medicina que, em 1952, decide viajar pela América do Sul com seu amigo Alberto Granado (Rodrigo de la Serna). Porém, quando chegam a Machu Pichu, a dupla conhece uma colônia de leprosos e passam a questionar a validade do progresso econômico da região, que privilegia apenas uma pequena parte da população.

A Guerra do Fogo (1981) – Direção: Jean-Jacques Annaud
Um dos meus prediletos. Ótimo para ser usado nas aulas de introdução à psicologia para mostrar a natureza humana primitiva. A reconstituição da pré-história, tendo como eixo a descoberta do fogo. A saga de uma tribo e seu líder, Naoh, que tenta recuperar o precioso fogo recém-descoberto e já roubado. Através dos pântanos e da neve, Naoh, encontra três outras tribos, cada uma em um estágio diferente de evolução, caminhando para a atual civilização em que vivemos.

Tempos Modernos (1939) – Direção: Charlie Chaplin
Um operário de uma linha de montagem, que testou uma “máquina revolucionária” para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela “monotonia frenética” do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Só vendo!

Z (1969) – Direção: Costa-Gavras
Conheça o caso Lambrakis, onde a morte de um político foi encoberta vergonhosamente por políticos e policiais, na Grécia dos anos 60. Vencedor dos Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Edição, foi o primeiro filme a ser indicado também na categoria Melhor Filme.

Dawson, Ilha 10 (2009) – Direção: Miguel Littin
Dawson, Ilha 10, aborda o golpe militar que em 1973 derrubou o governo democrático de Salvador Allende e vitimou milhares de chilenos, dando início a uma das mais longas e sangrentas ditaduras da América Latina. O filme mostra o sofrimento de ministros do governo Allende que foram aprisionados em uma ilha gelada, de clima antártico, onde funcionou um campo de concentração projetado pelo criminoso nazista Walter Rauff, então refugiado no Chile.

Ivan, o Terrível – Parte I (1944) – Direção: Sergei M. Eisenstein
Em 1547, Ivan IV (1530-1584), arquiduque de Moscou, se auto-proclama o Czar de Rússia e se prepara para retomar territórios russos perdidos. Superando uma série de dificuldades e intrigas, Ivan consegue manipular as pessoas destramente e consolidar seu poder.

Alexander Nevsky (1938) – Direção: Sergei M. Eisenstein
Na Rússia do século 13, invadida por estrangeiros, o príncipe Alexander Nevsky arregimenta a população para formar um exército e conter a invasão de cavaleiros teutônicos. Baseado em fatos históricos.

Em Nome do Pai (1993) – Direção: Jim Sheridan
Em 1974, um atentado a bomba produzido pelo IRA (Exército Republicano Irlandês) mata cinco pessoas num pub de Guilford, arredores de Londres. O filme conta a história real do jovem rebelde irlandês Gerry Conlon, que junto de três amigos, é injustamente preso e condenado pelo crime. Giuseppe Conlon, pai de Gerry, tenta ajudá-lo e também é condenado, mas pede ajuda à advogada Gareth Peirce, que investiga as irregularidades do caso.

Doutor Jivago (1965) – Direção: David Lean
O filme conta sobre os anos que antecederam, durante e após a Revolução Russa pela ótica de Yuri Zhivago (Omar Sharif), um médico e poeta. Enquanto Strelnikoff representa o “mal”, Yevgraf representa o “bom” elemento da Revolução Bolchevique.

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No (2012) – Direção: Pablo Larraín
História do plebiscito que, em 1988, pôs fim a uma ditadura de 15 anos imposta por Augusto Pinochet. No conta a história de René Saavedra (Gael Garcia Bernal), um exilado que volta ao chile e vai trabalhar como publicitário a serviço da campanha “Não”, que tem como objetivo influenciar o eleitorado a votar contra a permanência de Augusto Pinochet no poder durante um referendo, feito sob pressão internacional, pelo próprio ditador.

A Onda (2008) – Direção: Dennis Gansel
Rainer Wegner, professor de ensino médio, deve ensinar seus alunos sobre autocracia. Devido ao desinteresse deles, propõe um experimento que explique na prática os mecanismos do fascismo e do poder. Wegner se denomina o líder daquele grupo, escolhe o lema “força pela disciplina” e dá ao movimento o nome de A Onda. Em pouco tempo, os alunos começam a propagar o poder da unidade e ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério, Wegner decide interrompê-lo. Mas é tarde demais, e A Onda já saiu de seu controle. Baseado em uma história real ocorrida na Califórnia em 1967.

Amém (2002) – Direção: Costa-Gavras
Kurt Gerstein (Ulrich Tukur) é um oficial do Terceiro Reich que trabalhou na elaboração do Zyklon B, gás mortífero originalmente desenvolvido para a matança de animais mas usado para exterminar milhares de judeus durante a 2ª Guerra Mundial. Gerstein se revolta com o que testemunha e tenta informar os aliados sobre as atrocidades nos campos de concentração. Católico, busca chamar a atenção do Vaticano, mas suas denúncias são ignoradas pelo alto clero. Apenas um jovem jesuíta lhe dá ouvidos e o ajuda a organizar uma campanha para que o Papa (Marcel Iures) quebre o silêncio e se manifeste contra as violências ocorridas em nome de uma suposta supremacia racial.

O Encouraçado Potemkin (1925) – Direção: Sergei M. Eisenstein
Em 1905, na Rússia czarista, aconteceu um levante que pressagiou a Revolução de 1917. Tudo começou no navio de guerra Potemkin, quando os marinheiros estavam cansados de serem maltratados, sendo que até carne estragada lhes era dada, com o médico de bordo insistindo que ela era perfeitamente comestível. Alguns marinheiros se recusam a comer esta carne, então os oficiais do navio ordenam a execução deles.

A Paixão de Joana D’Arc (1928) – Direção: Carl Theodor Dreyer
França, século XV, Joana de Domrémy, filha do povo, resiste bravamente a ocupação de seu país. É presa, humilhada, torturada e interrogada de maneira impiedosa por um tribunal eclesiástico, que a levou, involuntariamente, a blasfemar. É colocada na fogueira e morre por Deus e pela França.

Persépolis (2007) – Direção: Marjane Satrapi, Vincent Paronnaud
Marjane Satrapi (Gabrielle Lopes) é uma garota iraniana de 8 anos, que sonha em se tornar uma profetisa para poder salvar o mundo. Querida pelos pais e adorada pela avó, Marjane acompanha os acontecimentos que levam à queda do xá em seu país, juntamente com seu regime brutal.

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Adeus, Lenin! (2003) – Direção: Wolfgang Becker
Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra. Kerner (Katrin Sab) passa mal, entra em coma e fica desacordada durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista. Quando ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Oriental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel Brühl), temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos.

Lawrence da Arábia (1962) – Direção: David Lean
Em 1916, em plena I Guerra Mundial, o jovem tenente do exército britânico estacionado no Cairo pede transferência para a península arábica, onde vem a ser oficial de ligação entre os rebeldes árabes e o exercito britânico, aliados contra os turcos, que desejavam anexar ao seu Império Otomano a península arábica. Lawrence, admirador confesso do deserto e do estilo de vida beduíno, oferece-se para ajudar os árabes a se libertarem dos turcos.

Glória Feita de Sangue (1957) – Direção: Stanley Kubrick
Em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, Mireau (George Meeker), um general francês, ordena um ataque suicida e como nem todos os seus soldados puderam se lançar ao ataque ele exige que sua artilharia ataque as próprias trincheiras. Mas não é obedecido neste pedido absurdo, então resolve pedir o julgamento e a execução de todo o regimento por se comportar covardemente no campo de batalha e assim justificar o fracasso de sua estratégia militar.

O Último Rei da Escócia (2006) – Direção: Kevin Macdonald
O filme mostra os acontecimentos reais na Uganda durante os anos 70, quando o ditador Idi Amin (Forest Whitaker, ganhador do Globo de Ouro e ganhado Oscar por este papel) exercia seu poder. A história é narrada por meio do ponto de vista de seu médico pessoal.

Valsa com Bashir (2009) – Direção: Ari Folman
Numa noite num bar, um homem conta ao velho amigo Ari sobre um pesadelo recorrente no qual é perseguido por 26 cães alucinados. Toda noite é o mesmo número de bestas. Ambos concluem que o pesadelo tem a ver com a missão deles no exército israelense contra o Líbano, décadas atrás. Ari, no entanto, fica surpreso ao perceber que não consegue mais se lembrar de nada sobre aquele período da sua vida. Intrigado com o enígma, Ari decide se encontrar e entrevistar velhos camaradas pelo mundo. Ele tem necessidade de descobrir toda a verdade sobre aquele tempo e sobre si mesmo. E quanto mais ele se aprofunda no mistério, mais suas lembranças se tornam aterrorizantes e surreais.

A Queda – As Últimas Horas de Hitler (2004) – Direção: Oliver Hirschbiegel
Traudl Junge (Alexandra Maria Lara) trabalhava como secretária de Adolf Hitler (Bruno Ganz) durante a 2ª Guerra Mundial. Ela narra os últimos dias do líder alemão, que estava confinado em um quarto de segurança máxima.

A Culpa é do Fidel! (2006) – Direção: Julie Gavras
Anna de la Mesa (Nina Kervel-Bey) tem 9 anos, mora em Paris e leva uma vida regrada e tranqüila, dividida entre a  escola católica e o entorno familiar. O ano é 1970 e a prisão e morte do seu tio espanhol, um comunista convicto, balança a família. Ao voltar de uma viagem ao Chile, logo após a eleição de Salvador Allende, os pais de Anna estão diferentes e a vida familiar muda por completo: engajamento político, mudança para um apartamento menor, trocas constantes de babás, visitas inesperadas de amigos estranhos e barbudos. Assustada com essa nova realidade, Anna resiste à sua maneira. Aos poucos, porém, realiza uma nova compreensão do mundo.

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A Infância de Ivan (1962) – Direção: Andrei Tarkovsky
Durante a segunda Grade Guerra, os russos tentavam combater a investida nazista em seu território. Nas frentes soviéticas, Ivan, um garoto órfão de 12 anos, trabalha como um espião, podendo atravessar as fronteiras alemãs para coletar informação sem ser visto, e vive sob os cuidados de três oficiais russos. Mas, após inumeras missões, e com um desgaste físico cada vez maior, os oficiais resolvem poupar Ivan, mandando-o para a escola militar. Ganhador do Leão de Ouro em Veneza.

O Que é Isso, Companheiro? (1997) – Direção: Bruno Barreto
Em 1964, um golpe militar derruba o governo democrático brasileiro e, após alguns anos de manifestações políticas, é promulgado em dezembro de 1968 o Ato Constitucional nº 5, que nada mais era que o golpe dentro do golpe, pois acabava com a liberdade de imprensa e os direitos civis. Neste período vários estudantes abraçam a luta armada, entrando na clandestinidade, e em 1969 militantes do MR-8 elaboram um plano para sequestrar o embaixador dos Estados Unidos (Alan Arkin) para trocá-lo por prisioneiros políticos, que eram torturados nos porões da ditadura.

Narradores de Javé (2003) – Direção: Eliane Caffé
Somente uma ameaça à própria existência pode mudar a rotina dos habitantes do pequeno vilarejo de Javé. É aí que eles se deparam com o anúncio de que a cidade pode desaparecer sob as águas de uma enorme usina hidrelétrica. Em resposta à notícia devastadora, a comunidade adota uma ousada estratégia: decide preparar um documento contando todos os grandes acontecimentos heróicos de sua história, para que Javé possa escapar da destruição. Como a maioria dos moradores são analfabetos, a primeira tarefa é encontrar alguém que possa escrever as histórias.

A Missão (1986) – Direção: Roland Joffé
No final do século XVIII Mendoza (Robert De Niro), um mercador de escravos, fica com crise de consciência por ter matado Felipe (Aidan Quinn), seu irmão, num duelo, pois Felipe se envolveu com Carlotta (Cherie Lunghi). Ela havia se apaixonado por Felipe e Mendoza não aceitou isto, pois ela tinha um relacionamento com ele. Para tentar se penitenciar Mendoza se torna um padre e se une a Gabriel (Jeremy Irons), um jesuíta bem intencionado que luta para defender os índios, mas se depara com interesses econômicos.

Danton – O Processo da Revolução (1983) – Direção: Andrzej Wajda
Na primavera de 1794, Danton (Gérard Depardieu) retorna a Paris e constata que o Comitê de Segurança, sob a incitação de Robespierre (Wojciech Pszoniak), inicia várias execuções em massa. O povo, que já passava fome, agora vive um medo constante, pois qualquer coisa que desagrade o poder é considerado um ato contra-revolucionário. Nem mesmo Danton, um dos líderes da Revolução Francesa, deixa de ser acusado.

A Rainha Margot (1994) – Direção: Patrice Chéreau
No século XVI um casamento de conveniência é celebrado com o intuito de manter a paz. A união entre a católica Marguerite de Valois, a rainha Margot (Isabelle Adjani), e o nobre protestante Henri de Navarre (Daniel Auteuil) tinha como meta unir duas tendências religiosas. O objetivo do casamento foi tão político que os noivos não são obrigados a dormirem juntos. As intrigas palacianas vão culminar com a Noite de São Bartolomeu, na qual milhares de protestantes foram mortos. Após isto Margot acaba se envolvendo com um protestante que está sendo perseguido.

Tiros em Ruanda (2005) – Direção: Michael Caton-Jones
Ruanda. Durante 30 anos, o governo de maioria Hutu perseguiu a minoria Tutsi. Pressionado pelo ocidente, o governo aceitou dividir o poder com os Tutsis, mesmo contra a vontade. Porém em 6 de abril de 1994 tem início um genocídio, que mata quase um milhão de pessoas em apenas 100 dias. Neste contexto um padre inglês e seu ajudante tentam fazer o que podem para ajudar a minoria Tutsi, mesmo tendo a opção de partirem para a Europa.

Roma, Cidade Aberta (1945) – Direção: Roberto Rossellini
Roma, 1944. Um dos líderes da Resistência, Giorgio Manfredi (Marcello Pagliero), é procurado pelo nazistas. Giorgio planeja entregar um milhão de liras para seus compatriotas. Ele se esconde no apartamento de Francesco (Francesco Grandjacquet) e pede ajuda à noiva de Francesco, Pina (Anna Magnani), que está grávida. Giorgio planeja deixar um padre católico, Don Pietro (Aldo Fabrizi), fazer a entrega do dinheiro. Quando o prédio é cercado, Francesco é preso pelos alemães e levado para um caminhão.

Julgamento em Nuremberg (1961) – Direção: Stanley Kramer
Após a 2ª Guerra Mundial um juiz americano é convocado para chefiar o julgamento de quatro juristas alemães responsáveis pela legalização dos crimes cometidos pelos nazistas durante a guerra. Dirigido por Stanley Kramer (Adivinhe Quem Vem Para Jantar) e com Spencer Tracy, Burt Lancaster, Marlene Dietrich, Maximilian Schell, Judy Garland, Montgomery Clift e William Shatner no elenco. Vencedor de 2 Oscars.

Platoon (1986) – Direção: Oliver Stone
Chris (Charlie Sheen) é um jovem recruta recém-chegado a um batalhão americano, em meio à Guerra do Vietnã. Idealista, Chris foi um voluntário para lutar na guerra pois acredita que deve defender seu país, assim como fez seu avô e seu pai em guerras anteriores. Mas aos poucos, com a convivência dos demais recrutas e dos oficiais que o cercam, ele vai perdendo sua inocência e passa a experimentar de perto toda a violência e loucura de uma carnificina sem sentido.

Sangue Negro (2007) – Direção: Paul Thomas Anderson
Virada do século XIX para o século XX, na fronteira da Califórnia. Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) é um mineiro de minas de prata derrotado, que divide seu tempo com a tarefa de ser pai solteiro. Um dia ele descobre a existência de uma pequena cidade no oeste onde um mar de petróleo está transbordando do solo.

A Língua das Mariposas (1999) – Direção: José Luis Cuerda
O mundo do pequeno Moncho estava se transformando: começando na escola, vivia em tempo de fazer amigos e descobrir novas coisas, até o início da Guerra Civil Espanhola, quando ele reconhecerá a dura realidade de seu país. Rebeldes fascistas abrem fogo contra o regime republicano e o povo se divide. O pai e o professor do menino são republicanos, mas os rebeldes ganham força, virando a vida do garoto de pernas para o ar.

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O Leopardo (1963) – Direção: Luchino Visconti
Sicília, durante o período do “Risorgimento”, o conturbado processo de unificação italiana. O príncipe Don Fabrizio Salina (Burt Lancaster) testemunha a decadência da nobreza e a ascensão da burguesia, lutando para manter seus valores em meio a fortes contradições políticas.

Napoleão (1927) – Direção: Abel Gance
Pelas suas modernas técnicas narrativas e de filmagem, o filme de Abel Gance é considerado um dos mais memoráveis filmes mudos da história. Mostrando desde a infância de Napoleão até a invasão da Itália pelo exercito francês em 1797, a cinebiografia seria a primeira de uma série de seis filmes, que não chegaram a ser realizados.

Xingu (2012) -Direção: Cao Hamburger
O filme conta a trajetória dos irmãos Vilas Bôas (Orlando, Leonardo e Cláudio) que participaram de forma decisiva na expedição Roncador-Xingu – que teve início ainda durante o governo Vargas. Os irmãos também foram figuras fundamentais na criação do parque nacional do Xingu. No filme podemos observar a relação e os primeiros contatos com tribos nativas ainda isoladas”.

Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (1975) – Direção: Terry Jones, Terry Gilliam
Aqui temos uma sátira da Idade Média e isso é o que torna este filme ilustrativo do ponto de vista histórico. Indo na linha contrária dos diversos filmes que retratam o período, o grupo inglês Monty Python satiriza reis, cavaleiros e até a caça às bruxas”.

Os relacionamentos nas redes sociais

Os relacionamentos nas redes sociais

A vida está muito corrida! Os dias estão cada vez menores para que possamos realizar todas as tarefas que precisamos ou desejamos. Muitas horas têm sido perdidas no trânsito. As refeições estão mais rápidas e temos menos tempo para dormir e descansar.

A falta de tempo é um problema que acomete a maior parte da população mundial. Com isso, a interação entre as pessoas está cada vez mais virtual. O pouco tempo que se tem livre é um dos motivos que diminui ainda mais a disponibilidade das pessoas para saírem e se encontrar.

Aproximando pessoas

O mundo virtual é mais rápido, mais direto e imediato. Além disso, a todo momento um novo dispositivo de relacionamento virtual é criado, o que facilita e estimula esse tipo de interação social. Há uma variedade grande de meios de comunicação virtual, entre eles e-mail, redes sociais, torpedos, chat, mensagem de texto, blog e tantos outros.

Tais formas de relacionamento são importantes e facilitam a vida moderna e rápida a qual estamos inseridos. São capazes de diminuir distâncias entre pessoas que vivem longe. Aceleram a comunicação tanto no trabalho, quanto no campo pessoal. Geram oportunidades de reencontros, produzem menor gasto para os usuários e para as empresas. Globalizam o acesso a informações.

O grande número de pessoas que são facilmente acessadas mediante a internet permite que haja também um movimento politizado das redes sociais, que promovem uma mobilização de multidões em prol de uma causa. Acompanhamos isso tanto em passeatas contra a corrupção no Rio de Janeiro, como quedas de ditaduras em países árabes.

Além disso, escutei uma história que exemplifica outra vantagem dos dispositivos virtuais. Trata-se de um casal de brasileiros que vivem há anos na Itália. Pelo menos três vezes por semana eles se sentam a mesa de jantar com o computador ligado e “jantam” com seus familiares que moram em São Paulo. Nesse caso, o mundo virtual foi capaz de promover um reencontro e manter o contato entre pessoas queridas, mas que, por uma imposição geográfica, estão distantes fisicamente.

Mas, então, há algum problema?

Verifica-se que o contato físico entre as pessoas está diminuindo. Cada vez mais escutamos histórias de namoros, amizades, encontros, que duram por bastante tempo até que os componentes decidam se encontrar pessoalmente.

Inúmeras são as histórias de pessoas que se aproveitam da virtualidade para mentirem a respeito das suas informações pessoais, utilizando fotos falsas ou dados inverídicos para estimular o interesse e a curiosidade do outro. Com isso podemos pensar, até onde esse tipo de relacionamento pode ser considerado real?

Outro aspecto relevante é perceber até onde alguém transfere, de forma prejudicial, seus relacionamentos pessoais para os virtuais. Há alguns sinais que podem demonstrar essa tênue diferença.

O principal comportamento observado é uma diminuição da vida social, assim como a perda do interesse de realizar atividades que não sejam mediante um computador.

Por trás dos relacionamentos virtuais podem existir pessoas com dificuldades nas relações interpessoais, como uma timidez excessiva, medo ou insegurança de se expor ao outro. Por isso, a virtualidade se torna uma forma de refúgio.

Distanciando pessoas

Uma pesquisa recentemente publicada, realizada entre diversos países, verificou que a maioria dos jovens com até 30 anos de idade, principalmente brasileiros, preferem ter acesso à internet a namorar, ouvir música ou sair com amigos.

Devemos, portanto, ter cuidado de como utilizar as ferramentas virtuais. As amizades e os relacionamentos afetivos não devem ser baseados exclusivamente na forma virtual. As pessoas precisam de contatos pessoais, como abraços, sorrisos, beijos, toques. A interação direta com o outro permite que os indivíduos se sintam pertencentes a algum grupo real. A ausência disso gera relações cada vez mais distantes, impessoais e solidão.

É dessa forma, presencial, que a nossa rede de apoio, geralmente formada pela família e amigos próximos, fornece suporte emocional para lidarmos com os problemas que surgem ao longo da vida. Assim, as pessoas sentem-se menos solitárias e sozinhas. Quem não gosta se sentir um abraço apertado de uma pessoa querida ou receber um colo quando passamos por alguma situação difícil?

A busca por um ponto de equilíbrio

Para tudo existe um equilíbrio! A vida virtual promove inúmeras recompensas, porém, não deve se tornar uma fuga para aumentar o distanciamento entre as pessoas e, consequentemente, exacerbar as dificuldades de cada um.

O importante é sabermos utilizar, a nosso favor, os benefícios que cada tipo de relacionamento promove, de modo que possamos viver mais plenamente e próximos daqueles que amamos.

O ciúme e a inveja afetam a saúde

O ciúme e a inveja afetam a saúde

A inveja e o ciúme provocam amargura e uma energia negativa, tanto para a pessoa que os sente quanto para quem é objeto deles. São sentimentos destrutivos em ambas as direções.

Ciúme é o nome dado à ansiedade e desespero da pessoa quando suspeita a traição de seu parceiro. É um sentimento muito complexo que alguém sente na possibilidade de perder algo que é “seu”. Da mesma forma, é possível sentir ciúmes ou inveja do sucesso ou das posses das outras pessoas que gostaríamos ter.

Existem dois tipos de ciúme: o “saudável”, sentido para com o parceiro, em que se reivindica uma postura equitativa, e o “patológico”, mais conhecido como ciúme doentio. Examinaremos cada um em detalhe.

O ciúme normal. É o que uma pessoa sente, preocupada ou com medo de perder um ente querido, normalmente fundamentado em fatos, mas que pode ser facilmente resolvido através do diálogo sem partir para ações drásticas, nocivas e indesejáveis.

O ciúme patológico ou doentio. Este tipo de ciúme é geralmente sentido por pessoas emocionalmente desequilibradas, muito inseguras, que acham não merecer ser amadas sinceramente, além de serem complexadas e hostis. Este ciúme é muito destrutivo e, geralmente, sempre acaba em tragédia.

Diferenças entre os dois tipos de ciúme.

Há uma grande diferença entre estes dois tipos de ciúme. O primeiro exige transparência e respeito por parte da pessoa em questão (para uma vida plena e tranquila a dois), enquanto o outro é muito intenso, exige um total confinamento da pessoa objeto, não permite que se olhe para ninguém mais e desautoriza qualquer tipo de amizade com outras pessoas, podendo até chegar a exigir da pessoa objeto relatórios minuciosos sobre absolutamente tudo o que faz durante o dia.

Essas pessoas vivem obcecadas à procura de pistas que possam levar a descobrir a traição do ser amado, procurando em bolsos e celular, e podem até chegar a contratar detetives particulares para confirmar suas suspeitas. São geralmente muito egoístas e hostis.

A maioria das pessoas que tem este tipo de ciúme e deseja se curar deve receber um tratamento especial, uma vez que este tipo de ciúme é uma doença e como tal deve ser abordada.

A inveja: outro tipo de ciúme patológico?

Inveja pode ser muitas vezes confundida com ciúme, mas são dois sentimentos muito diferentes. Por isso, é preciso saber reconhecer as diferenças e corrigir estes comportamentos bastante prejudiciais para a saúde mental e emocional.

A diferença está principalmente em que a inveja se sente por algo ou alguém que se deseja ter, enquanto ciúme é quando se teme perder algo ou alguém que já se tem. No ambiente de trabalho, é comum ter uma combinação de ciúme patológico e inveja, o que prejudica bastante, talvez até mais que o próprio ciúme para com o parceiro.

Inveja e ciúme causam apenas amargura e uma atmosfera negativa, tanto para o emissor como para o receptor do sentimento.

As características das “pessoas invejosas” são descritas a seguir:

-Apresentam mudança no trato se temos sucessos.
-Sempre tentam destruir a nossa reputação.
-Procuram defeitos e nos criticam por tudo.
-Usam ironia e muito sarcasmo em seus comentários.
-Mostram-se indiferentes quando temos alguns êxitos.
-Consequências do ciúme e da inveja para a saúde
-Ciúme e inveja são sentimentos e emoções e, portanto, arraigados no âmago de cada pessoa que os sente, e estas pessoas nunca terão paz e muito menos serão felizes.

São sentimentos totalmente destrutivos para todos os envolvidos, afetando igualmente homens e mulheres, podendo existir casos tão aberrantes como os de agressão sem justa causa pelo invejoso.

Como evitar a inveja e o ciúme patológico?

A infância é a oportunidade de educarmos as nossas crianças, principalmente para que essas possam aprender a respeitar o próximo. Assim fazendo, elas nunca albergarão em sua alma e seu coração sentimentos de inveja ou egoísmo contra alguém.

O ciúme patológico é uma doença e um especialista deve ser consultado. Se a pessoa reconhecer que está doente, será muito mais fácil tratá-la o quanto antes, para evitar que ela cometa erros, por vezes, irreparáveis.

Fonte indicada: Melhor com Saúde

A hora de lavar os próprios pés…

A hora de lavar os próprios pés…

“…pois o sol agora eu cubro, com borboletas negras…”

Deste trecho de um poema de Ingrid Jonker, foi inspirado o título para o filme que conta a história da sua vida. Poeta sul-africana viveu, com inquietação e sensibilidade, os anos de treva da política de segregação racial do apartheid em seus país. Só por estar inserida neste contexto hostil, o retrato da sua obra e dos seus pensamentos já daria assunto de conversa pra mais de metro… Mas eu vou tomar como foco um dos pontos de angústia grande: o sentimento de culpa que, vez por outra, acompanha os seres de bom coração.

Como é difícil, tantas vezes, a gente se perdoar…

Motivados por abortos espontâneos ou não de vida ou de sonho, partos induzidos para terras de além dor e além mar de rosas – que tem muitos espinhos… Por uma questão de circunstância inscrita ou de decisão possível, do imediato e do imponderável, muitas horas  acabamos por acreditar em uma perspectiva distorcida de nós mesmos. E seguimos carregando penas pesadas demais. Nem sempre nossas.

Existem situações nesta vida em que podemos até parecer os autores, mas na verdade somos personagens, vítimas do meio ou perdidos ao acaso. Humanos… Momentos que podem nos levar a duvidar se somos pessoas boas o suficiente para merecer o amor. E o pior é que partimos para a ação, carrascos de nós mesmos, sabotando qualquer sombra de qualquer  gozo. Atropelamento e fuga de toda possibilidade de ser feliz.

Na prática, vamos magoando os que mais gostamos, minamos os afetos, disfarçamos o querer bem. Passamos a acreditar que crianças más não vão para o céu, quiçá para lua de mel!…  A idéia de que ser amado não é para nós se torna tão obvia, que chega a assustar se assim não for . Vamos nos  enredando em um ciclo de outras mágoas e novas culpas… até que chega um dia em que ou a gente se liberta, ou os nossos abismos nos consomem.  Aí já era… sem nem ter sido!

Certa vez em um encontro de um grupo de jovens, foi feita uma dinâmica do lava pés… Entraram todos em uma sala onde, no centro, haviam bacias com água… a proposta era que cada um pegasse uma bacia e fosse até alguém que o tivesse magoado de alguma maneira e lhe oferecesse o perdão,  lavando-lhe os pés… a certa altura uma moça foi até o meio da sala, assentou ao lado de uma das bacias e começou a lavar os próprios pés… A força daquela imagem foi transformadora praqueles meninos, e se prestou mais a reflexão do que qualquer ensinamento dito.

Ninguém disse que viver não machuca. Todo mundo em algum momento, ora felizmente fugaz para uns ora dolorosamente arrastado para outros, é o vilão da própria existência e desacredita de si. É preciso estar atento e forte e nessas horas marcar um encontro consigo, por algumas cartas na mesa do escritório, da sala ou do bar e se perguntar de onde vem o vício  de não se permitir, se auto sabotar ou simplesmente fugir… e perdoar.

Perdão é sempre a palavra, o caminho e o recomeço. Se perdoar o outro já deixa mais leve, perdoar a si mesmo pode fazer voar!

Vamos com zelo e olhar doce. E que antes de tudo a gente tem que se empodere da gente mesmo…

Eu fico aqui com o Caetano que me diz que tudo é perigoso, mas é divino e maravilhoso.

::: Borboletas Negras é um filme de 2011 dirigido pela holandesa  Paula Van der Oest contando a história de uma mulher, poeta maldita e libertária, que teve um poema lido em voz alta por Nelson Mandela no seu discurso de posse durante o primeiro parlamento democrático da África do Sul. Ingrid Jonker, interpretada com muita verdade por Carice van Houten, passeia entre as paixões laceradas, o sexo compulsivo, as lutas sociais, a rejeição paterna, o caos amoroso, as opiniões vigorosas… enfim uma mulher daquelas que orgulham em gênero, acrescentam em número e com um grau de tortura transfigurada em palavras escritas na alma, na carne e pelas paredes. Loucura da melhor qualidade. :::

Não se contente com migalhas!

Não se contente com migalhas!

Por Cristina Souza

Assim como Cazuza, queremos a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida, queremos sempre todo amor que tiver nessa vida. Essa fome de amar faz o coração clamar todos, todos os dias, faminto. Por vezes austero, o pobre sofre nesse mundo de sabores amargos escondidos em frutas que parecem doces. No meio de tanta fome, alguém oferece migalhas – e nessa de não ter nada para se abastecer, por que, então, não pegamos dessa vez só um pouquinho do sentimento que está ali no prato, de canto?

As migalhas dormidas do teu pão, raspas e restos para o poeta, interessam. Mas não! Por mais que a gente esteja faminto, por mais que cutuque no âmago do coração, não devemos aceitar as migalhas que diversas vezes nos são oferecidas. Elas não matam a fome: é bem pior, você sente o sabor, acha que pode ter mais e mais, exige isso, quer se alimentar, quer ser farto, quer se encher de amor até transbordar, mas isso não acontece – e veja só, de quem é a culpa da frustração que vem logo depois? Sua, que sabia que tinham somente raspas e restos e foi no embalo. Fome tem dessas coisas.

Ah, mas a gente só se vê quando já se fez faminto desse vazio que a gente mesmo escolheu comer – como diz a música do Castello Branco – então, de que vale ficar se alimentando de nada? Ninguém mata a sede com um pingo de água, ninguém sobrevive com um pingo de amor, mas eu vejo tanto por aí quem tenta, insiste em tirar mais dessa fonte seca, só porque acha que merece isso. Vejo gente aceitando mentiras (que nunca são sinceras), aceitando o que outrora enchia a boca pra falar que era inaceitável, fazendo dieta forçada só para estar na moda de não estar sozinho, gente minguando todos os dias porque não vai atrás de um sentimento que faça crescer. Porque tem medo, medo de ficar sozinho, medo de esperar para alimentar-se fartamente.

Quantas pessoas você conhece que dizem que está tudo, tudo bem, que não querem nada sério também, que entendem que se deve esperar, quando na verdade querem sim algo concreto, completo, querem abraços, beijos, querem o sim, querem o agora? Eu conheço várias. Até quando você terá que anular as suas vontades por conta do medo de perder o outro que, veja só, nem está lá? Você quer prato, prato cheio, quer comida fresca, quer se embriagar, quer se jogar, mas diz que não – prato cheio anda meio deselegante, dizem que é feio comer até matar a fome. Feio é passar fome, feio é dizer não quando se quer dizer sim, feio é aceitar migalhas dormidas, secas e vazias.

Eu, que tenho fome – sou faminta e como muito, muito mesmo – já aceitei migalhas. E no fim do dia me restava o ronco vazio do meu estômago misturado com o coração seco do amor que não me preencheu. Eu já não posso mais, já não aceito mais. E você?

Fonte indicada: Obvious

Por que em casa de ferreiro o espeto é de pau?

Por que em casa de ferreiro o espeto é de pau?

Todos nós já ouvimos esses velhos e conhecidos ditados: “em casa de ferreiro o espeto é de pau” ou “santo de casa não faz milagre”. Tais ditos populares deixam claro o pensamento do senso comum de que dificilmente as habilidades profissionais que uma pessoa dispõe conseguem ser colocadas em prática de maneira eficiente quando levadas para dentro do círculo familiar ou até mesmo quando estão diretamente envolvidos nos próprios problemas.

Entre psicólogos, por exemplo, é comum termos dificuldade de ajudar nossos próprios familiares quando estes estão passando por problemas psíquicos e comportamentais diversos. Todo nosso conhecimento não surte o menor efeito, ou então, não somos levados à sério pelos membros da família.

Em relação a nossa própria personalidade também possuímos pontos cegos, cometemos erros e precisamos igualmente de ajuda quando não conseguimos avançar sozinhos no nosso caminho de realização pessoal. Isto é, até mesmo os profissionais que são especializados no comportamento humano, precisam compreender a sua própria humanidade!

Outra questão que é bastante comum ouvirmos no consultório é de que a mudança só começou a acontecer depois que a pessoa começou a fazer terapia, mesmo que outras pessoas já tivessem trazido o problema à tona ou dado conselhos úteis a quem apresentava-se em sofrimento e sem saber o que fazer.

O senso comum traz uma sabedoria que, muitas vezes, remete a uma questão de ordem psicológica e comportamental que merece a nossa atenção. Pois, afinal de contas, pode haver alguma explicação para não sermos ferreiros ou milagreiros em nossos próprios territórios?

Quando abordamos esse fenômeno por meio dos conhecimentos da psicologia junguiana conseguimos encontrar alguns elementos que nos ajudam a compreender esse efeito.

Primeiramente, precisamos entender como se processam os relacionamentos. Neste sentido, qualquer relação que construímos envolverá uma complexa dinâmica afetiva e emocional, que advém de conteúdos conscientes e inconscientes que acabam sendo projetados sobre a outra pessoa. Este podem ser pensamentos, ideias, sentimentos, imagens que fazemos do outro e que pode ter uma base “pessoal” ou “coletiva”. Ou seja, há àqueles conteúdos que foram construídos a partir da nossa história e experiência, mas há também os que são produtos da nossa natureza humana, sendo comuns em todos os indivíduos. Estes últimos são chamados de arquétipos.

Como afirma Jung, “há tantos arquétipos quantas situações típicas na vida”. Toda a psique repousa numa base arquetípica da qual emergem os mais diversos comportamentos humanos. Apesar do arquétipo em si não ser algo visível, sua manifestação pode ser evidenciada através das repetições de padrões e semelhanças que encontramos nas vivências humanas.

Nos relacionamentos em geral é comum que nos comportemos conforme a manifestação de determinados padrões arquetípicos. E mesmo podendo haver uma variedade de relações arquetípicas ocorrendo numa mesma relação, há sempre uma dinâmica que irá prevalecer.

Numa situação familiar, por exemplo, iremos ter relações marcadas por situações bastantes típicas entre pai / filho (a); mãe / filha (o); irmão (ã) / irmã (o); avô (ó) / neto (a); esposa / esposo.

Fora do ambiente familiar teremos outras como: bem-amado / bem-amada; amigo (a) / amigo (a); mestre / discípulo; profeta / adepto; divindade / ser humano; médico / paciente; curador / ferido; etc.

Esses padrões, vão, portanto, se modelando conforme as características da relação que se estabelece. E, quando estamos no berço da nossa família, os padrões de relacionamento que irão se sobrepor são aqueles que fazem parte das próprias dinâmicas familiares.

Um filho, por exemplo, se relacionará com sua mãe dentro desta base de relacionamento familiar e projetará sobre ela suas idealizações, que podem estar ligadas a proteção e cuidado. Por outro lado, a mãe, quando olhar para o rapaz, também o verá através da imagem de filho, cabendo ali toda a gama das representações que ele tiver para ela.

Tal padrão dará o tom do relacionamento para ambos, conforme a história de vida de cada um e do desenrolar dos acontecimentos. Um dia esse filho cresce, se desenvolve a partir das relações com o ambiente escolar, profissional e social. Se forma numa profissão e ganha reconhecimento dentro da sua carreira específica. Em outras relações, conseguirá ser bem-sucedido, pois nela estabelecerá outros padrões de relacionamento que contribuirão para tal. Ou seja, se ele for um professor, quando em sala de aula, estabelecerá com seus alunos um padrão de relacionamento que ativará a dinâmica do mestre e aprendiz. A relação fluirá na direção da garantia do aprendizado e na troca no que equivale a esse modelo de relação.

Mas quando estiver em sua casa, continuará a ser visto por sua mãe através da lente de “filho” e esta dinâmica irá se sobrepor a imagem do mestre que funciona naturalmente na sala de aula. E como a relação mestre-aprendiz não consegue ser ativada dentro da relação mãe e filho, o seu espeto torna-se irremediavelmente de pau. Ele não conseguirá sucesso, se a dinâmica da relação não for ajustada. Se ambos os pares da relação não ampliarem seu olhar sobre o outro. Se o filho não conseguir ver em sua mãe uma aprendiz e se a mãe não conseguir enxergar no filho um mestre.

O exemplo citado acima é válido para qualquer outro padrão de relacionamento familiar que se estabelece e que, muitas vezes, permanece fixado e idealizado apesar da passagem do tempo e dos processos de crescimento e amadurecimento que cada membro da família conquista fora do ambiente familiar.

Portanto, a grande questão é: o ferreiro não terá sucesso se não for visto e reconhecido como tal!

Sobre a aversão à diferença, o racismo e a xenofobia

Sobre a aversão à diferença, o racismo e a xenofobia

Por João Carlos Viegas

Por estranho que pareça abordar o racismo e a xenofobia a partir do momento do nascimento, é assim que farei. O nascimento biológico e o nascimento psicológico, como é sabido, são processos de natureza imbricada mas distinta, sendo que o primeiro não coincide temporalmente com o segundo.

Efetivamente, o corte do cordão umbilical, que assinala o momento da separação biológica total, não coincide com o sentimento de existir em estado separado dos objetos do meio externo circundante, no seio do qual se destaca necessariamente o objeto materno, em relação ao qual a separação biológica acabou de suceder.

De facto, o nascimento biológico introduz uma fase de relação simbiótica inaugurada por um estado inicial e transitório de indiferenciação sujeito-objeto. Funda-se aqui, neste ambiente indiferenciado, a omnipotência narcísica primária, bem ilustrada no sentimento de que o seio se encontra sob o controle mágico e omnipotente do sujeito, pois surge sempre que ele o quer, sempre que dele necessita, na sua continuidade psíquica, indiferenciado da sua vontade.

Contudo, rumo a um estado de diferenciação para o qual aponta, como se sabe, o desenvolvimento dito normal, esta omnipotência narcísica de base será permanentemente perturbada e questionada por pequenas ameaças de perda, gradualmente introduzidas em proporções toleráveis, no contexto de uma relação de amor que propiciará a segurança necessária para aceitar, sem tensões excessivamente perturbadoras, o impacto dessas frustrações e o almejado estado se separação ulterior.

Na verdade, certo é que nenhum de nós aceita de animo leve o culminar deste processo de perda, ainda que lento e gradual, da omnipotência narcísica primária. A já tardia angustia do oitavo mês, também chamada angústia do estranho, momento em que a criança começa a reagir mal a todos os objetos estranhos, recusando o contacto com eles, assinala bem a força das resistências com que aceitamos tal perda.

Esta angústia coincide pois com a aquisição da capacidade de perceber o objeto (a mãe) como separado de si e claramente distinto dos restantes objetos do meio, que então passam a ser sentidos como diferentes, estranhos e ameaçadores, prenúncio de não-mãe, prenuncio de perda-separação, qual omnipotência narcísica. Emerge aqui, portanto, pela primeira vez no mundo psíquico da criança, a aversão ao diferente (ao estranho), sentido como inquietante e mesmo ameaçador.

O que é estranho e diferente é mau, eis aqui o protótipo ou substrato precoce e fundamental dos sentimentos de aversão à diferença e, portanto, dos sentimentos rácicos e xenofóbicos. A educação aliada aos condimentos culturais de cada sociedade, permitirá depois a reorganização mental desta posição, que pode percorrer um espectro que vai desde a sua neutralização, até às configurações mais radicais e fundamentalistas, que então atribuem ao maniqueísmo inicial (do diferente vem o mal, do familiar vem o bem), um carácter verdadeiramente moral, quase sempre religioso.

Mas compreendemos também que a neutralização deste medo (ou aversão) e a integração desta visão clivada e maniqueísta do mundo, pressuposta na equação simbólica diferente = mau, depende fundamentalmente da possibilidade de, paralelamente à percepção da diferença, sempre sentida como inquietante e em algum grau ameaçadora, o amor do objeto poder ser sentido e interiorizado como absolutamente seguro e incondicional, portanto, persistente, resistente, nunca estando ameaçado; venha então o diferente, o estranho e o desconhecido, com os quais o sujeito poderá vir a ter uma relação tranquila, pacífica, saudável e prazerosa.

Mas, pela parte que nos toca, para falarmos de nós ocidentais, vivemos presentemente em sociedades sustidas em berçários traumatizantes e embutidas de objetos de amor estafados, acorrentados a tarefas ingratas, emocionalmente desgastados e marcadamente indisponíveis, qual incondicionaldade do investimento do objeto de amor.

Neste contexto geral, aqui superficialmente abordado, o processo de perda-separação e diferenciação a que anteriormente aludi, tende então a ser perturbado, não por pequenos sentimentos de perda, gradualmente introduzidos em proporções toleráveis, mas sim por verdadeiros atentados traumáticos à necessária homeoestase psíquica, que deveria ser propiciada pela estabilidade da relação e pela disponibilidade incondicional do investimento amoroso.

Portanto, o processo em questão passa a ser perturbado por verdadeiros atentados à omnipotência narcísica de base, então sentida como perdida de modo abrupto e destrutivo. Eis que a aversão à diferença assume agora as repercussões do ódio — O ódio ao outro, ameaçador porque diferente, estranho e desconhecido (não familiar), prenúncio de separação, de não-objeto, presença que teimará em reativar no futuro a revivescência projetiva dos traços mnésicos da perda vivida como uma rutura brusca e destrutiva.

Efetivamente, uma grande parte de nós sai do colo em muito más condições para aceitar e integrar pacificamente o mundo de diferenças em que todos vivemos. Mal preparados, para muitos entre nós o diferente (o estranho) será sempre sentido como uma presença intrusiva que ameaça e atenta contra a integridade psíquica.

Os grupos fundamentalistas que recrutam entre nós e tanto nos preocupam hoje, cujo fanatismo religioso é cultivado em torno do substrato inicial desta aversão à diferença, não encontram na miséria social o seu nincho de recrutamento, como por vezes se diz, encontram-no sim na vulnerabilidade narcísica traduzida ainda na ânsia do reencontro com o igual, o duplo indiferenciado, a omnipotência narcísica perdida: a religiosidade intrínseca, a conexão ao sublime-divino. Omnipotência narcísica esta, perdida mas nunca aceite como tal, dado o embate destrutivo, sobre a imaturidade funcional e afetiva do psiquismo do sujeito, do modo como foi proposta.

Quando o assunto é amor, um bom começo pode impedir o fim

Quando o assunto é amor, um bom começo pode impedir o fim

Hoje em dia tudo é muito rápido, tudo é pra já. “Não temos tempo pra mistérios”, dizem uns. “A vida passa ligeiro demais pra ficar se demorando na escolha”, alegam outros. E é por conta dessa velocidade vertiginosa que os piores acidentes envolvendo o miocárdio acabam acontecendo. Cuidado com os amores velozes.

Atualmente, basta uma fuçada rápida em qualquer rede social para temos o perfil completo: quem são, o que comem e onde vivem. Dessa forma, metade do caminho acaba sendo percorrido de maneira preguiçosa e desleixada e vamos pulando etapas que são importantes.

Durante uma conversa recente que tive com Fabrício Carpinejar, uma coisa ficou clara: é preciso cuidar. Eu sei, parece papo óbvio de poeta aluado, mas não é. O cuidado é e sempre será um elemento importante.

Cuidar do outro é ao mesmo tempo cuidar de si. É dar abertura para que outra pessoa te conheça para além da superficialidade desses tempos onde se pretende resumir a vida em míseros 140 caracteres. Ouvir, descobrir coisas mínimas a cada dia. Um segredo de cada vez. Evite a síndrome do comprador que recorre às prateleiras em busca do melhor preço em detrimento à qualidade.

Melhor: evite tratar as pessoas como se fossem produtos expostos numa prateleira de supermercado. Ao invés disso, tente lançar um olhar mais demorado sobre aquilo que te interessa, que te acende, que te toca. Não busque atalhos, busque caminhos que levem sempre mais a fundo, sempre mais adentro.

O amante velocista, espécie de Usain Bolt sem linha de chegada, não tem tempo pra conversas longas. Ele precisa correr, mesmo sem saber direito pra onde, ele corre. E a gente fica lá, com cara de paisagem, se sentindo a tartaruga reumática da relação.

A coisa é que a gente desaprendeu a esperar. Não temos mais paciência para construir alicerces e por isso a casa sempre acaba caindo. Saber esperar é virtude que anda em falta. Não estou falando de ser um Jó pós-moderno que fica com a bunda colada “no trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar”.

Também não estou falando de se guardar. Pelo amor de Jeová dos Desertos, não é isso! A gente tem é que se dar mesmo, desde que isso não implique obrigatoriamente em um acordo pré-nupcial, juras de amor eterno e coisa e tal. Calma lá, coração.

Entender que cuidar é bem mais que juras e promessas, já é um começo. Um bom começo pode impedir o fim.

Aprenda a rir de si mesmo para cantar e dançar mesmo sob a chuva

Aprenda a rir de si mesmo para cantar e dançar mesmo sob a chuva

A vida é mesmo cheia de vicissitudes, de problemas, de pedras no caminho, parafraseando Drummond. Ao nos depararmos com essas dificuldades, muitas vezes tendemos a desistir de nossos objetivos ou acabamos nos torturando pelos fracassos. Todavia, os fracassos fazem parte da vida, bem como as dificuldades e os problemas que parecem não ser passíveis do nosso controle, de modo que uma dose de humor parece-me fundamental para permanecer na caminhada.

É preciso aprender a rir de si mesmo e levar-se menos a sério para conseguir atravessar o mar de tormentas que é a vida. Ficar preso a acontecimentos passados, assim como, guardar sentimentos negativos e feridas, somente retira a energia que nos mantêm firmes. Não se trata de estar o tempo inteiro feliz e sorrindo ou desconsiderar a importância da tristeza, como faz a ditadura da felicidade, mas antes, perceber que não existe o botão pause na vida e, assim, devemos continuar apesar das quedas que sofremos.

Em uma sociedade que cobra demais de nós, torna-se mais difícil rir de si mesmo e dos erros e fracassos que cometemos. Entretanto, devemos lembrar que somos humanos e não autômatos, de maneira que, inevitavelmente, por mais precavidos que sejamos, iremos errar e fracassar, pois a maior parte das coisas não depende unicamente dos nossos desígnios. Existem coisas que acontecem e que estão fora do nosso alcance, portanto, levar-se a sério, a ponto de culpar-se por acontecimentos para os quais nada concorremos é negativo e traz serias conseqüências para nós mesmos.

Errar é um traço da nossa humanidade e demonstra a nossa fragilidade. Podemos encará-la como algo trágico e insuperável, ou com humor, permitindo-nos rir de nós mesmo, até para que possamos digerir a situação com inteligência e retirar aprendizagens para situações futuras. Mais uma vez, não se trata de não ficar triste ou chateado com uma situação, mas de permitir-se ao erro, pois somos humanos, não perfeitos. Ademais, o crescimento emocional depende da superação das frustrações. Ficar parado no tempo sofrendo não resolve situação alguma, do mesmo modo que não nos permite crescer enquanto pessoa.

Ainda sob esse prisma, o riso também possibilita o crescimento emocional, pois ele permite que sentimentos negativos, como o ódio e o rancor, se transformem em amor e perdão e isso faz qualquer indivíduo se tornar maior, assim como nos permite prosseguir sem o peso de energias negativas que diminuem a nossa potência de ser.

Contudo, para que se possa rir do mundo, dos outros e de suas tragédias, é necessário aprender a rir de si próprio e das suas próprias tempestades. Para tanto, deve-se encarar a vida com certa leveza, a fim de que, embora continuemos conseguindo sentir o chão, aprendamos a caminhar de forma mais leve e paciente, uma vez que nem sempre o mar nos dá as ondas que queremos e, acima de tudo, quando queremos.

Aceitar-se, bem como permitir-se, são atitudes indissociáveis ao riso e ao crescimento emocional, o que nos permite continuar na estrada, ainda que nela existam pedras. Sempre que a dor pareça insuportável e o fardo pese demais, é preciso parar e descarregar as lágrimas que encharcam nosso peito. Mas, em seguida, é necessário rir para aliviar a cólera e fazer da tragédia da vida algo mais palatável e lúdico, pois a vida é uma grande incerteza, cheia de ruídos que nos amedrontam e tiram o nosso fôlego, e o riso, diante disso, é o que nos permite ter graça para demonstrar que, mesmo sob tempestades, sabemos cantar e dançar na chuva.

O que os outros vão pensar?

O que os outros vão pensar?

Desde que aprendi o que foi a inquisição passei a acreditar que tenha vindo daí o pavor que algumas pessoas têm do que o outro possa pensar ou achar ou dizer sobre si. Pequenos vilarejos desde o século XII eram visitados pelo inquisidor – autoridade da igreja católica – com o intuito de combater qualquer prática comportamental que estivesse fora dos dogmas católicos. O medo de ser condenado por qualquer deslize, má interpretação ou conduta mal vista perseguia a todos. Os vizinhos poderiam delatar qualquer coisa sob qualquer razão.

O tempo passou e as pessoas por vezes repetem formas de agir aprendidas sem questionar as razões e a real utilidade delas. Algumas mantém o mesmo pavor dos olhares da sociedade.

Eu nasci com a alma livre e desde que aprendi a falar eu questionava tudo. Meus pais não são como eu e vejo que devem ter passado maus bocados comigo. Lembro-me de minha mãe me ensinar coisas como andar sempre depilada, com as unhas feitas e vestindo uma lingerie adequada, pois, eu poderia ter um mal súbito e ser levada ao hospital ás pressas, inconsciente e os outros poderiam reparar. Sinceramente? Eu nunca me importei com isso, apesar de andar até hoje nestes moldes motivada por minha vaidade.

Minha mãe me ensinou o que aprendeu com minha avó materna: uma filha de espanhol com espírito de liderança e um poder enorme de persuasão. Elas sempre me alertavam de que deveríamos arrumar as camas imediatamente após nos levantarmos, manter sempre os banheiros em ordem e a pia da cozinha impecável porque poderia chegar uma visita, ou poderíamos ter que chamar um médico de urgência. Eu nem sequer pensava nestas catástrofes. Elas se preocupavam muito com o que os outros pudessem pensar ou dizer sobre elas. Minha mãe teve apenas uma irmã, a tia Deize; que se foi há quase vinte anos e de quem me lembro não obedecendo muita às ordens da vó Hortência e de quem quer que fosse porque a tia Deize não se importava muito com o que diziam a respeito dela. Ás vezes quando daquela mulher tão pacata e submissa, acho que no fundo o que ela tinha era a alma livre também e apesar de ser tão diferente de mim, ela não parecia se importar nada com o que dissessem sobre ela.

Da minha mãe eu herdei a vaidade, mas briguei com ela a vida toda por não dar a mínima para o que pudessem achar de mim. Se os inquisidores ainda estivessem por aí eu seria queimada na fogueira, sem sombra de dúvidas. Acredito que não vivemos sem nossa relação com o mundo. Nossa autoimagem se forma também pelo olhar da sociedade que nos rodeia visto que, até o nosso nome nós aprendemos ouvindo-o vindo da voz do outro, entretanto, o medo exacerbado da opinião alheia é escravizador. Eu percebi isso quando vi minha mãe trocar um sapato porque eu disse que não havia gostado. Com o passar dos tempos ela ganhou uma filha psicóloga que insistia para que ela escolhesse tudo sozinha e que desse “uma banana” para o que os outros dissessem. Esta técnica é um importante treino de segurança sobre nossas escolhas e de libertação do peso da opinião do outro. Nossa vontade deve ser magnânima e as nossas escolhas devem seguir o nosso comando e não o do outro. É nossa a responsabilidade de manter nas mãos as rédeas da nossa vida e conduzir a carruagem da nossa existência. Os desvios, as desistências, as escolhas por lavar ou não a louça e a decisão de trocar o sapato, a namorada ou o emprego é nossa. O nome disso é liberdade.

O outro vai continuar falando, temos o péssimo hábito de falar mais do que ouvir apesar de termos uma boca e dois ouvidos. O medo da opinião alheia talvez venha da projeção das nossas opiniões sobre os outros. Se libertar dos algozes está intimamente ligado a deixar de ser o algoz das outras pessoas. Quem tem medo do julgamento do outro é porque também julga e porque tem medo de não agradar aos olhos da sociedade. Agradar? Impossível. Acredito que o que podemos conseguir, no máximo, é agradar a nós mesmos e aos que nos tem afeto. Quando a tia Deize morreu – em 1997 – era o dia do meu aniversário e nos vinte e três anos que convivi com ela, não me lembro – nunca mesmo – de tê-la ouvido julgar alguém. Ela não tinha vaidade, não se preocupava com o que os outros pensavam apesar de ter tanto medo da minha avó quanto a minha mãe tinha, acho que tia Deize tinha mesmo a alma livre.

No mais o que pensam de mim não é problema meu.

PS; o nome da tia Deize era escrito assim mesmo, com Z.

Nem tudo que é seu está guardado

Nem tudo que é seu está guardado

Sempre estamos ansiando por obter novas conquistas e avançar nos degraus da vida, pois é assim que se obtêm avanços, é assim que o mundo se moderniza e se ressignifica continuamente. Da mesma forma, vamos então nos aprimorando, oxigenando nossas ideias, tornando-nos seres humanos mais realizados e, consequentemente, mais felizes – e é de gente feliz que o mundo anda carente, para falar a verdade.

Ensinam-nos, desde crianças, que temos que lutar por aquilo que queremos, uma vez que nada cai do céu, nada é fácil, ou seja, é preciso adotar uma postura ativa diante da vida. Ao mesmo tempo, conforme acumulamos experiências, vamos percebendo que certas conquistas parecem ter sido a nós destinadas, como se a vida generosamente nos predestinasse o que seria nosso.

Na verdade, tanto a postura extremamente competitiva, no sentido de alcançar o que se quer custe o que custar, quanto a atitude exageradamente utópica de crer que nosso destino já está traçado por forças maiores e o que tiver de ser será,virá até nós, são nocivas. Correr atrás do que se quer cegamente e aguardar sentado por generosidades do universo acabarão por nos trazer tristeza, desilusões e frustração, de uma ou de outra forma.

No afã de conquistar posições elevadas, status social, bens materiais, popularidade midiática, colocando aquilo tudo como única prioridade de vida, extrapolará as dimensões saudáveis da obstinação desejável, levando-nos, muitas vezes, a comportamentos antiéticos. Olhar somente para cima nos desvia a atenção de tudo o que já temos em nossas vidas, a ponto de negligenciarmos o amor de nossas vidas, a família, os amigos verdadeiros – e então eles se vão.

Por outro lado, adotar uma postura passiva e conformista diante da vida, agarrando-se tão somente a esperanças e expectativas de que as coisas acontecerão por si só, como se tivéssemos um destino irrevogável descortinado diante de nós, fará com que percamos chances e desperdicemos tudo o que podemos ter e ser. É preciso querer e agir para que nossos sonhos possam se concretizar, ou continuaremos no mundo dos sonhos, mesmo com os olhos abertos.

Se há um amor reservado para nós, temos que correr ao seu encontro. Se existe um emprego perfeito nos aguardando, temos que desenvolver nosso potencial interior. Se a felicidade nos quer, temos que querê-la na mesma intensidade, na mesma medida. Nós é que temos que nos dispor a ir ao encontro de tudo aquilo que nos completa, que nos define, ou nossas verdades acabarão sufocadas sob o peso da passividade, do conformismo, da espera cômoda e vazia do que poderia ter sido, mas não encontrou coragem para sê-lo.

 

Permita-se um tempo só para você

Permita-se um tempo só para você

Existe dentro de nós um lugar doce e sereno onde podemos tocar nossas mais tenras alegrias. Nele nos deixamos ouvir, nos fazemos entender, nos permitimos refletir. Nele dedilhamos as páginas dos livros que nos encantaram, as lembranças mais queridas, aquelas que marcaram a pele e o sentir. Nele voltamos para os momentos vividos no amor, na alegria de boas descobertas, na candura de canções que nos embalaram enquanto chorávamos calados nossas decepções.

Nas janelas desse nosso recôndito particular estão as paisagens mais lindas que nossos olhos tocaram, os melhores gestos, os olhares mais doces que ganhamos na vida. Está tudo que um dia teve valor para nós e que ainda tem. Estão pensamentos, canções, entes amados e bichos da infância, com suas belezas e despidos da fragilidade do tempo. Nesse reduto está tudo de bom que nos fez o que somos hoje. Em nosso mundo interior, está o nosso coração. E sempre que possível nos convém voltar a ele.

Muitas vezes, nos esquecemos quão importante é nos permitir um pouquinho de uma solidão mansa e produtiva. Quão importante são as palavras de um livro estimado, as cenas de um filme querido, a comida de um restaurante conhecido, a lembrança de um amigo. Quão tocante é passear por um museu silencioso em companhia dos próprios pensamentos. Quão confortante é reviver na memória o melhor do amor e tirar de lá forças para novamente amar.

Ter-nos como objeto do nosso amor mais cuidadoso é uma benção e não nos convém dar ouvidos aos que dizem ser egoísmo nosso separar um pedaço de tempo só para nós. Sem esses momentos particulares corremos o risco de morrermos de fome. E essa fome não é aquela que míngua o corpo, não. Essa fome é uma outra, estranha e triste, que nos permite viver até os cem anos, mas que antes disso suga, de canudinho, toda nossa animação para com a vida.

Sempre que me encontro com pessoas que sorriem com os dentes, mas que efetivamente não expressam qualquer emoção, fico sentida, pois em minha frente vejo aqueles que efetivamente já se foram. E ao lado de pessoas assim, aos poucos, também morremos.

A nossa expectativa de vida aumentou muito nas últimas décadas mas, bem poucos chegam efetivamente vivos até o final. E eu ouso dizer que esses poucos são aqueles que protegeram, com afinco, o direito de voltarem a eles sempre que possível. São os que não se deixaram apagar pelas obrigações e desventuras do viver, são os que souberam da importância desse espaço interior tão belo e particular, mantendo-o sempre arejado e bem cuidado, iluminado pelas melhores ideias e vivências, repleto de sonhos, destrancado e sedento por mais daquilo que faz o coração bater mais forte.

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